Madonn Maldonado é o nome profissional que eu peguei do meu sobrenome, Maldonado, e abreviei. Meu nome mesmo é Hamilton Maldonado da Silva, nascido em 31 de julho de 1974, em Fernandópolis. Meu pai é Orlando Borges da Silva, e minha mãe, Jerônima Aparecida Maldonado da Silva. Os dois eram lavradores, trabalhavam na roça no interior do estado de São Paulo, em Indiaporã. Toda família já morava ali, a do meu pai e a da minha mãe. E eles se conheceram lá numa regiãozinha de Indiaporã, no distrito que a gente morava, que se chama Tupinambá. É uma vilinha, um distrito.
Eu fiquei nessa vilinha até os meus 14 anos. Dos sete aos 14 anos, eu trabalhei na roça também. Ia com a minha mãe pra roça, onde a gente catava algodão, capinava, arrancava feijão. Aí, com meus 14 anos, eu já comecei essa questão de fazer alguns rabiscos, porque eu ficava desenhando na areia lá das estradas de terra. O que eu mais gostava era de desenhar noiva, por incrível que pareça. E na areia é muito prático, porque você desenhava, não gostou, você só passava a mão, apagava e refazia.
Aí, a partir daí eu comecei a estudar, e as minhas amigas de classe falavam: “Nossa, desenha um vestidinho pra mim assim, assim”. Aí eu fui mudando os riscos. E então, um dia a tesoureira da prefeitura, que era a Neuzinha, falou: “O que é isso?” Aí eu disse: “São uns rabiscos que eu tenho”. E ela: “Nossa, menino, mas isso é um dom! Como você faz isso?” Eu falei: “Faço brincando”. Ela falou: “Não, mas isso é um dom, você desenha roupa, isso é uma profissão”. E ela foi pesquisar pra ver se tinha faculdade aqui na região, mas não tinha. Na época, era só São Paulo. Aí ela ficou sabendo que, em Fernandópolis, tinha um estilista que desenhava numa loja que vendia tecidos pra cliente, o Lelo. E o motorista da cidadezinha passou a me levar a Fernandópolis, duas ou três...
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Madonn Maldonado é o nome profissional que eu peguei do meu sobrenome, Maldonado, e abreviei. Meu nome mesmo é Hamilton Maldonado da Silva, nascido em 31 de julho de 1974, em Fernandópolis. Meu pai é Orlando Borges da Silva, e minha mãe, Jerônima Aparecida Maldonado da Silva. Os dois eram lavradores, trabalhavam na roça no interior do estado de São Paulo, em Indiaporã. Toda família já morava ali, a do meu pai e a da minha mãe. E eles se conheceram lá numa regiãozinha de Indiaporã, no distrito que a gente morava, que se chama Tupinambá. É uma vilinha, um distrito.
Eu fiquei nessa vilinha até os meus 14 anos. Dos sete aos 14 anos, eu trabalhei na roça também. Ia com a minha mãe pra roça, onde a gente catava algodão, capinava, arrancava feijão. Aí, com meus 14 anos, eu já comecei essa questão de fazer alguns rabiscos, porque eu ficava desenhando na areia lá das estradas de terra. O que eu mais gostava era de desenhar noiva, por incrível que pareça. E na areia é muito prático, porque você desenhava, não gostou, você só passava a mão, apagava e refazia.
Aí, a partir daí eu comecei a estudar, e as minhas amigas de classe falavam: “Nossa, desenha um vestidinho pra mim assim, assim”. Aí eu fui mudando os riscos. E então, um dia a tesoureira da prefeitura, que era a Neuzinha, falou: “O que é isso?” Aí eu disse: “São uns rabiscos que eu tenho”. E ela: “Nossa, menino, mas isso é um dom! Como você faz isso?” Eu falei: “Faço brincando”. Ela falou: “Não, mas isso é um dom, você desenha roupa, isso é uma profissão”. E ela foi pesquisar pra ver se tinha faculdade aqui na região, mas não tinha. Na época, era só São Paulo. Aí ela ficou sabendo que, em Fernandópolis, tinha um estilista que desenhava numa loja que vendia tecidos pra cliente, o Lelo. E o motorista da cidadezinha passou a me levar a Fernandópolis, duas ou três vezes por semana, e eu ficava lá com o estilista.
Depois de um tempo, eu saí da roça e fui morar em Fernandópolis e fiquei lá mais tempo com ele, e dali ele já me arrumou um emprego. Fui em frente e sempre gostei dessa questão {do desenho}. Eu trabalhei na Real há um bom tempo atrás, depois eu saí e fui trabalhar com confecção. Eu trabalhava num balcão, atendendo a cliente que vai comprar o tecido, mas aí você vende o tecido, desenha a roupa pra ela – de peças de roupa, em grande parte. Aí eu fui trabalhar com confecção. Tive sempre o privilégio de conhecer pessoas que foram anjos na minha vida, tive patroas maravilhosas no meio da moda.
Então eu entrei no meio dessa moda que é pronta, esse fast fashion, mesmo. E aqui em São José do Rio Preto é um polo confeccionista que abastece o megapolo: o Bom Retiro, o Brás, Maringá. Aí eu passei a trabalhar com várias confecções, um dia uma, um dia outra, como freelancer, e viajava muito pra São Paulo, pra ir com a dona apresentar a coleção ou pra vender. Eu tive a oportunidade de conhecer tudo: a malharia, o plano, a modinha, o extremamente modismo, o mais tradicional, o casual. Hoje, a minha roupa - eu tenho atualmente a minha marca, Madoon Maldonado - é sob medida, e ela é uma roupa casual, pra mulher que trabalha, mas que já sai do trabalho e está pronta pra um happy hour, pra uma balada. Essa é a minha roupa hoje. Faço festa também, eu amo fazer roupa de madrinha, mas o que eu gosto de fazer é a roupa que a mulher vai trabalhar, uma roupa com a qual ela vai se sentir livre, confortável, ela vai se sair bem pra ir a um evento - com um pequeno acessório, uma mudança.
Então, além da marca que eu tenho hoje, eu trabalho paralelamente na Real - eu fui trabalhar como assistente de vendas, e o Kadu, que era o estilista oficial da loja, teve uma oportunidade e se desligou, bem na época que começou a pandemia.
Eu também fui convidado pra fazer editorial de uma revista, um trabalho editorial muito bom. Peguei uma equipe, fazia catálogos de competição e produzia os catálogos em parceria com uma agência de modelo. Eu gosto muito dessa parte de produção, pois é algo que me deixa muito satisfeito. A produção editorial pra revista é diferente de você fazer um editorial de confecção. Na revista, você trabalha com o lúdico, com liberdade. No catálogo de confecção você tem que mostrar a roupa em si.
Mas foi uma trajetória muito difícil. Inclusive, eu fiz uma live com uma amiga de Portugal, com ela perguntando da minha trajetória. E foi exatamente isso: aquela funcionária da prefeitura deu esse empurrão, esse meu amigo me ajudou, arrumou um trabalho de uma confecção em Fernandópolis. Depois me chamaram para Santa Fé do Sul, onde em cima da loja tinha uma casinha, assim, meio que em ruínas. Aí eu fiquei nessa casa, que tinha só um colchonetezinho, mais nada. Foi um perrengue meio complicado, porque eu não tinha como comer - pois até então, em Fernandópolis, eles pagavam o almoço num restaurante, e eu jantava na minha vó. Eu não tinha como comer, mas também não podia falar na loja, tinha medo de perder o emprego, eu era muito novo e tal. E aí, com um dinheiro que minha mãe me deu, eu peguei e falei: “Eu vou comprar leite e bolacha”. Estava passando a leite e bolacha. Eu saía pra hora do almoço, subia lá pra casinha e descia rapidinho. A gerente começou a prestar atenção e percebeu que eu não estava comendo. Aí ela me levava marmita todo dia no almoço e pro jantar. Então, assim, foi um perrengue bem feio, e eu tive que ter muita determinação pra aguentar firme, mas aguentei.
Só que vieram os problemas financeiros da loja, e eles me dispensaram. Então o Lelo, que é esse amigo que estava em Fernandópolis, falou: “Madoon, liga pra Lu” – uma amiga dele que trabalhava aqui em São José do Rio Preto, na loja de tecidos do shopping. Ela disse que na loja dela já havia dois estilistas, mas tinha um amigo de outra loja que estava precisando. Ela falou com ele e me ligou: “Ele disse que você pode vir amanhã pra começar, já pode vir de mala e tudo”. Aí eu vim com a mala e tudo.
Mas os donos brigavam na loja, era aquele rolo, e então eu fui trabalhar em uma loja do shopping, que precisava de estilista. Eu fiquei lá acho que mais ou menos por uns oito meses, até que o dono falou: “Não vou ficar com a loja aqui, vou voltar pra Campo Grande, porque a Fátima não se acostumou aqui”. Ele queria que eu fosse pra Campo Grande com ele, pra loja de lá, mas eu não quis. Depois disso, fui para a Casa Real, no Calçadão de Rio Preto. Então, foi assim: uma trajetória bem picadinha, bem complicada e que precisou de muita determinação.
Depois da Casa Real, eu passei para o meio de confecção, com vários nomes daqui de Rio Preto que trabalhavam pra São Paulo, pra Maringá, pra Londrina, pra Cianorte, pra Belo Horizonte. Eu ia pra todos esses lugares com as confecções. Foi quando eu comecei a abrir o leque mesmo, conhecer mais as coisas.
Olha, eu sempre fui autodidata, mesmo. Quando chegou essa fase dos editoriais, eu já tinha um conhecimento bem grande aqui em São José do Rio Preto. E se eu fosse buscar alguma fonte, eu ainda buscaria na Madonna, que foi a inspiração pro nome da minha marca - com o meu nome também. Acho que por ela quebrar tabus em várias situações, então eu ainda me inspiraria nela.
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