IDENTIFICAÇÃO Nome, data e local de nascimento Meu nome é José Adilson Miguel. Nasci em 13 de julho de 1941, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
FAMÍLIA Nome, atividade e descrição dos pais Meus pais chamam-se Emílio Miguel e Florinda Guimarães Miguel. Eles também são de Juiz de Fora, Minas Gerais. Primeiro meu pai trabalhou num escritório de um atacadista, em Juiz de Fora, e depois passou a ser comerciante. Ele teve um pequeno armazém, depois teve um bar e restaurante, e depois teve um restaurante na estrada.
FAMÍLIA Nome, atividade e descrição dos avós paternos e maternos O nome da minha avó paterna era Adelaide, o do meu avô paterno era Miguel Antônio, o da minha avó materna era Joana, e o do meu avô materno era João. Eu não cheguei a conhecer meus avós. Quando eu nasci, todos já tinham morrido. Eu só tinha as referências, fotografias e lembranças que meu pai falavam deles. Eu não tive nenhuma convivência com eles, infelizmente. O meu avô por parte de pai era sírio e a minha avó por parte de pai era brasileira. O meu avô por parte de mãe era português e a avó também.
TRABALHO/ ADOLESCÊNCIA Restaurante do pai/ Entrada na adolescência, exército Eu ajudava meu pai. Quando eu estudava no colégio, estudava na parte da manhã, e na parte da tarde eu dava uma ajuda, no bar, no balcão. Mais tarde eu ajudei num restaurante que ele teve na estrada, numa estrada que ligava Juiz de Fora ao Rio de Janeiro. Era um restaurante 24 horas, então eu fazia um turno de 8 horas. Eu pegava às 10 da noite e largava às 6 da manhã. Eu tinha 16, 17 anos. Era um restaurante de beira de estrada. Basicamente tinha uma parte de bar, que servia café da manhã e tal, e uma parte de restaurante, que era almoço e jantar. O meu trabalho era menos movimentado, porque na madrugada era mais motorista de caminhão que parava. O restaurante era num posto de gasolina. Os motoristas paravam para descansar e dormiam ali e quando...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Nome, data e local de nascimento Meu nome é José Adilson Miguel. Nasci em 13 de julho de 1941, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
FAMÍLIA Nome, atividade e descrição dos pais Meus pais chamam-se Emílio Miguel e Florinda Guimarães Miguel. Eles também são de Juiz de Fora, Minas Gerais. Primeiro meu pai trabalhou num escritório de um atacadista, em Juiz de Fora, e depois passou a ser comerciante. Ele teve um pequeno armazém, depois teve um bar e restaurante, e depois teve um restaurante na estrada.
FAMÍLIA Nome, atividade e descrição dos avós paternos e maternos O nome da minha avó paterna era Adelaide, o do meu avô paterno era Miguel Antônio, o da minha avó materna era Joana, e o do meu avô materno era João. Eu não cheguei a conhecer meus avós. Quando eu nasci, todos já tinham morrido. Eu só tinha as referências, fotografias e lembranças que meu pai falavam deles. Eu não tive nenhuma convivência com eles, infelizmente. O meu avô por parte de pai era sírio e a minha avó por parte de pai era brasileira. O meu avô por parte de mãe era português e a avó também.
TRABALHO/ ADOLESCÊNCIA Restaurante do pai/ Entrada na adolescência, exército Eu ajudava meu pai. Quando eu estudava no colégio, estudava na parte da manhã, e na parte da tarde eu dava uma ajuda, no bar, no balcão. Mais tarde eu ajudei num restaurante que ele teve na estrada, numa estrada que ligava Juiz de Fora ao Rio de Janeiro. Era um restaurante 24 horas, então eu fazia um turno de 8 horas. Eu pegava às 10 da noite e largava às 6 da manhã. Eu tinha 16, 17 anos. Era um restaurante de beira de estrada. Basicamente tinha uma parte de bar, que servia café da manhã e tal, e uma parte de restaurante, que era almoço e jantar. O meu trabalho era menos movimentado, porque na madrugada era mais motorista de caminhão que parava. O restaurante era num posto de gasolina. Os motoristas paravam para descansar e dormiam ali e quando acordavam tomavam café. Eu trabalhava ali, servia café, pão com manteiga... E se um ou outro motorista desejasse comer, eu também preparava alguma coisa lá na cozinha, coisas elementares, porque tinha arroz pronto. Era preparar uma salada, um bife, alguma coisa assim. Nós morávamos perto do restaurante. Quer dizer, meu pai e minha mãe moravam numa casa anexa a esse restaurante na estrada. Eu morava em uma república, em Juiz de Fora, porque nessa época eu estava indo para servir o Exército.
MORADIA/ ADOLESCÊNCIA República/ Exército Nessa época, na república, eu já estava no Exército. Eu ia para o quartel cedo, pois a atividade do quartel começa cedo, das 7 até às 18 horas. Era o dia todo no quartel. E depois eu pegava um ônibus e ia para o restaurante na estrada. Quer dizer, na república eu tinha só um ponto mesmo, porque dormir eu dormia muito pouco. Eu chegava lá, às vezes, nas folgas que eu tinha no quartel, e dormia nessa república, mas era uma vida apertada.
LOCALIDADE/ COSTUMES CULTURAIS Juiz de Fora/ Cultura carioca Juiz de Fora é uma cidade típica de Minas Gerais, uma cidade de montanha. Hoje ela tem uma população de 500 mil habitantes. Na época que eu vivi lá eram talvez 200, 250 mil habitantes. Uma cidade tranqüila, boa, que faz calor no verão, faz frio, muito frio no inverno, chove muito. Uma cidade boa, bem agradável, bem residencial, baixa violência até hoje... E tem uma característica: é uma cidade muito perto do Rio de Janeiro, então é uma cidade de hábitos mais cariocas do que mineiros. As pessoas vão muito mais ao Rio do que a Belo Horizonte. O mineiro tem uma frustração natural de não ter praia, ter mar, e o juizforano está muito perto do mar. Em uma hora e meia, 2 horas, ele está na praia. O pessoal de Juiz de Fora é Botafogo, ou Flamengo, porque mora muito perto do Maracanã e das disputas do futebol carioca.
EDUCAÇÃO Instituto Santos Anjos, Academia de Comércio, Colégio Machado Sobrinho, educação religiosa No primário eu estudei num colégio, no Instituto Santos Anjos. É um colégio de irmãs de caridade. Depois eu fiz o ginásio num colégio de padres, no Academia de Comércio. Hoje chama Colégio Cristo Redentor. E fiz o científico no Colégio Machado Sobrinho. Tanto no primário quanto no ginásio eu tive uma forte educação católica. E muito provavelmente é por isso que hoje eu não sou católico. Não que eu tenha me decepcionado, mas não me convenceram a ser católico, e, apesar de eu ficar todo o tempo com irmãs e padres... Não me decepcionaram, mas também não me convenceram. A rigor eu também não sou nada. Eu não sou católico, mas não pratico nenhum tipo de religião.
FAMÍLIA Irmãos Eu tinha dois irmãos. Um faleceu. O outro é dois anos mais novo que eu. Sempre fomos muito ligados. A única discussão que nós tínhamos é que eu jogava futebol, e jogava razoavelmente bem, e ele não conseguia jogar futebol nem mais ou menos. Então tinha um pouco de frustração por causa disso, mas sempre nos demos muito bem. Até hoje ele é muito amigo meu. Chama-se Alcir.
LAZER Futebol Em Juiz de Fora eu joguei quase todas as fases, desde criança, desde a Academia de Comércio. Eu estive em todos os times da Academia, e cheguei a ser juvenil de times profissionais de Juiz de Fora. Cheguei à seleção mineira de amadores. E só parei de jogar futebol porque fui para a Brahma. Mas era para ter continuado. Eu não jogava mal, não.
LOGRADOURO Rua Osório de Almeida Nós morávamos numa rua de um bairro chamado Poço Rico, lá de Juiz de Fora. Rua Osório de Almeida. Tinha uma... hoje se chama uma vila, mas era chamado de beco. Tinha sete casas e eu morava na casa 7. Morava na última casa. Era uma casa bastante agradável, interessante. Eu tive uma infância muito alegre, muito descontraída. Tenho muito boas lembranças da minha infância, lá em Juiz de Fora. Fiz tudo que tive vontade, fui muito levado...
INFÂNCIA/ CAUSOS Nadar no rio/ “Nadar no rio de pijama” Eu costumo contar uma traquinagem que é interessante. Minha mãe tinha pavor que eu saísse de casa e fosse nadar no rio. Tem um rio lá, o rio Paraibuna, que a maior travessura que tinha era ir lá nadar no rio e atravessá-lo, porque era razoavelmente perigoso esse negócio, com a correnteza e tudo. E eu lembro uma vez que a minha mãe, para evitar que eu fugisse de casa para nadar no rio, ou coisa assim, ela me deixou de pijama, ela me obrigou a ficar de pijama. Então, eu fui com certeza o primeiro cara no mundo que nadou no rio de pijama. Eu fugi e fui nadar de pijama. A minha mãe inclusive dizia um negócio interessante. Ela dizia assim: “Você não vai dar em nada na vida”. De vez em quando eu cobro dela isso hoje, e ela fala assim: “É, eu estava enganada, mas era difícil você dar alguma coisa mesmo”. Eu só pensava em futebol e fazer travessura, e não pensava em... Mas era bom de estudar também, não era ruim no colégio, não.
FAMÍLIA/ LAZER Nome, atividade e descrição dos pais/ Pescaria A minha mãe era uma filha de portugueses muito brava. Ela era uma educadora por excelência. Eu me lembro até hoje, quando vejo as minhas netas comerem com os dois braços em cima da mesa, eu me lembro que a minha mãe obrigava a gente... Ela botava uma revista aqui, e outra aqui, pra gente aprender a comer com o braço fechado. E não podia botar o cotovelo na mesa... Então ela era assim... ela era muito brava. Daí eu, como dava muito trabalho... De vez em quando ela jogava a toalha. E o meu pai ele foi muito amigo meu. Ele foi exageradamente protetor para mim. Porque ele gostava de duas coisas na vida. Ele gostava muito de futebol, e eu desde criancinha joguei futebol e joguei bem, então era muito orgulho para ele eu estar sempre jogando nos times de Juiz de Fora, e coisas desse tipo. E ele gostava muito de pescar, e ele me colocou para pescar com 3 anos de idade na canoa. Quer dizer, ele passou para mim um negócio que hoje é o maior vício que eu tenho. Se eu não pescar no mínimo quatro vezes por ano... E eu já pesquei no mundo inteiro. E eu gosto de pescar até hoje, e é uma coisa que eu sempre faço. É uma referência muito ao meu pai. E sempre que eu estou metido numa pescaria muito maravilhosa, eu me lembro dele, eu gostaria muito que ele estivesse ali para desfrutar daquilo, porque ele gostava muito de pescar. Era um cara bom. E eu gostava muito dele e ele gostava muito de mim, me protegia muito. Então era uma relação muito... Ele endossava minhas bagunças... Ele era muito meu amigo. E ele foi o contrário com o meu irmão mais novo. Com o meu irmão ele era duro para burro, e até houve muita reclamação, porque ele demonstrava uma preferência muito grande por mim.
PERSONALIDADES Nilton Santos, Zico EU tinha um ídolo no futebol que eu admirava muito. O meu grade ídolo foi Nilton Santos. Foi um zagueiro, um lateral esquerdo do Botafogo, da seleção brasileira. E foi meu ídolo não porque ele fosse o maior jogador que eu vi jogar. Quer dizer, claro que dentro das características de um zagueiro. Porque o maior jogador que eu vi jogar foi o Pelé. Eu cheguei a ver Zizinho, tudo, mas eu vi o Pelé. O Pelé com certeza é uma coisa fora do comum, mas o meu ídolo mesmo foi o Nilton Santos, mesmo porque foi um grande jogador, um grande zagueiro. Nunca vi dar um pontapé em ninguém, sempre desarmou na bola. Sempre fez as coisas com muita categoria, e sempre foi uma pessoa de muito bom caráter. Sempre foi muito bom marido, sempre foi muito boa pessoa em geral. E o segundo, que acabou sendo, que acabou sendo mais ou menos essa linha, que eu tive até o privilégio de ter como amizade pessoal mesmo, foi o Zico. Eu tive amizade com o Zico por causa de patrocínios e coisas que nós fizemos com ele. Acabei convivendo na intimidade da família do Zico. Essa também é uma pessoa que eu tenho muita admiração, um cara muito legal. Foi um grande atleta, um grande jogador de futebol, um grande pai, uma pessoa de bom caráter, muito fiel.
COSTUMES CULTURAIS/ ADOLESCÊNCIA/ NAMORO/ FAMÍLIA Rock´n roll/ Entrada na adolescência/ Início de namoro/ Netos A minha época basicamente era uma época de transição na música, com o surgimento do rock n’roll. Era uma novidade muito grande na época, bastante discutida pelas pessoas. Mas é um movimento que me marcou muito, porque eu, até hoje, apesar de ter hoje 60 anos, se você ouvir música no meu carro você vai ouvir sempre música pop, vai ser rock, vai ser música jovem. Eu não tenho nenhuma nostalgia, eu gosto de música jovem e gosto muito de jovem. Então na época... Eu nunca fui muito de turma. Eu tinha um amigo com quem saía muito. Mas a noite de Juiz de Fora é uma noite que não tinha muita coisa a fazer. Era sempre um cinema, um barzinho... Não o barzinho como é hoje. Hoje barzinho é moda total. Hoje qualquer lugar que você vai, aqui na Vila Madalena, tá todo mundo aí, a garotada toda aí. Isso não era uma coisa da época. Mas tinha cinema, um bar, e tentar namorar, porque antigamente era difícil. Hoje é fácil para caramba, hoje eu fico impressionado como as mulheres ficaram fáceis, porque antigamente, no meu tempo, era uma pedreira... Era uma pedreira desgraçada para se aproximar de alguém, para pegar na mão e tal. Tinha um negócio de pegar na mão, e depois aí para o primeiro beijo... Isso era um negócio complicado para caramba. Tinha tapas, permissões... Hoje em dia é muito mais fácil. Hoje em dia as pessoas, quer dizer... Hoje tem a escala de ficar. Ficar pode ser um selinho até sexo total. Ficar pode ser qualquer coisa. Então é muito mais simples. E é interessante ver como isso evolui. Eu tenho uma neta que tem 11 anos. Quer dizer, 11 anos não deveria... 11 anos no meu tempo era criança, criança mesmo. Agora ela, com 11 anos, eu estive agora no Rio, fui jantar com ela e com os pais dela, ela já chegou com uma sandália de salto vermelha, com uma bolsa vermelha, batom, cabelo preso, olho, cílio... falando: “Fala sério” Cheia de gíria. Quer dizer, as coisas agora são mais rápidas. Na minha época de juventude era assim, era jogar futebol, ir ao cinema... Eu jogava futebol de salão à noite. Quer dizer, eu praticava esportes, ia ao cinema e barzinho. Não tinha muita coisa. E namoro era, como eu disse, correr atrás das meninas.
TRABALHO/ MODALIDADE DE COMÉRCIO/ PRODUTO Primeiro emprego/ Loja de fogões/ Fogão Semmer a gás Eu comecei a trabalhar muito cedo, porque era uma necessidade de ter uma vida própria, de ter algum dinheiro. Apesar do meu pai não ter grandes dificuldades, ele me dava uma mesada muito pequena, então com 14 anos eu fui trabalhar numa loja que vendia fogões a gás, que era Gasbras na época, e depois virou Supergasbras. A Gasbras tinha uma loja na rua principal de Juiz de Fora, e tinha um gerente que, basicamente, vendia fogões lá. Na época tinha um boom de vender fogão a gás. E eu fui para lá e me contrataram. Recebia um salário mínimo para ser um auxiliar de escritório. Eu fazia o controle do cadastro, batia a máquinas duplicatas... Tinha uma importância que eu batia lá, 776 cruzeiros, que eu fiquei tão rápido naquilo que hoje, às vezes, eu brinco no computador de bater aquilo: 776 cruzeiros. Tanto que eu bati promissória, duplicatas nesse valor... 776 cruzeiros era um fogão Semmer de seis bocas, vendido em 12 prestações de 776... Aí, eu trabalhei uns dois ou três anos e depois fui trabalhar com meu pai no restaurante, na estrada. Depois então eu fui para o Exército, onde fiquei dois anos.
ADOLESCÊNCIA/ PERSONALIDADES/ TRABALHO/ MUNDO DO TRABALHO Exército/ Jânio Quadros/ Trajetória profissional, ingresso na empresa/ Cotidiano de trabalho Eu achei que valia a pena fazer carreira no Exército. Aí fiz um concurso de cabo, passei a cabo; aí fiz um concurso para sargento e fui promovido a terceiro sargento. Aí, quando eu fui receber a divisa, foi quando entrou o Jânio Quadros, que dispensou 75% do efetivo de cabos aptos à promoção. E nessa que eu saí do Exército. Aí eu tive uma experiência bem breve com um laboratório farmacêutico. Acho que eu nem botei no registro. Um laboratório farmacêutico lá em Juiz de Fora, que era de um amigo também. É sempre, sempre, coisa ligada ao futebol. Era um amigo meu, que jogava futebol comigo, e que o pai tinha um laboratório. Mas aí eu fui sem carteira, sem nada. Fui fazer uma experiência como viajante para esse laboratório. Mas foi durante muito pouco tempo, e durante esse tempo eu jogava futebol no juvenil do Tupinambás. É um time lá de Juiz de Fora, e um dos seus dirigentes era revendedor da Brahma na cidade. Então um dia eu perguntei: “O senhor tem uma distribuidora aqui. Não arranjaria um emprego para mim?” Ele falou: “Mas não tem vaga lá, não tem vaga de nada”. E eu: “Me coloca lá para aprender alguma coisa, não precisa me pagar nada, ou paga qualquer coisa só para eu ter um estágio, para tentar aprender alguma coisa.” E aí ele me colocou lá nessa revenda de Juiz de Fora, me registrou como office boy, e me colocou lá para atender as pessoas. Aí, como não tinha muito o que fazer, eu fui lá para a expedição. Isso eu me lembro bem. Eu fui lá para a expedição e encontrei um rapaz que era o Gerente da Expedição, e eu perguntei a ele: “Escuta, como é que funciona isso aqui?” Daí comecei a aprender o que era um carregamento, o que era uma cinta de carregamento, o que era uma nota de entrada, o que era um romaneio, como se carregava um caminhão, porque que se carregava, o que era um portfólio, o que era um mix de carga... Aprendi tudo aquilo na expedição. Depois de aprender como o produto saía, eu quis aprender como o produto era vendido. E eu pedi para aprender também com vendedores. Eu saí com vendedores, com supervisores... Aí eu comecei a aprender aquele negócio. Quando eu julguei que já sabia alguma coisa, eu propus à empresa que eu fosse fazer alguma coisa na área de vendas, alguma coisa assim. Na época eles estavam abrindo uma filial em Barbacena, e queriam que eu fosse para Barbacena para tocar a filial. Eu achei o negócio meio arriscado. Eu tinha aprendido, mas ainda não sabia se tinha condições de tocar e coisa e tal... E enquanto nós estávamos discutindo isso, apareceu lá em Juiz de Fora um Gerente Geral da Brahma, da companhia mesmo, que era o seu Núbio Flores, me lembro bem. O Núbio Flores chegou e começou a conversar comigo ali, enquanto os sócios não estavam. Ele só encontrou a mim lá. Eu estava no balcão e ele começou a conversar comigo. E no final ele perguntou para uma pessoa: “Quem é esse rapaz aqui?”. “Ele trabalha conosco aqui”. “Puxa, mas eu gostei dele. Gostaria que ele fizesse um teste na companhia”. Aí eu fui fazer esse teste... Eu relutei um pouco, porque tinha que ir para o Rio. Falei: “Poxa, vou largar tudo aqui em Juiz de Fora? Futebol, minha família toda aí...” Mas eu fui fazer o teste, e aí... Mas a decisão mesmo é sempre assim, você tem um momento na sua vida que você toma uma decisão baseada em algum fato, às vezes até em um fato isolado. Mas esse foi um fato bastante concreto. Eu fiz o teste lá, passei muito bem no teste, e eles me convidaram então para ser o que na época era viajante. Acho que tem até escrito na minha ficha “viajante”. Ele me chamou para ser viajante e eu mesmo não estava assim muito entusiasmado não, mas perguntei: “Quanto é que vocês pagam?” Aí ele falou que era 35 mil cruzeiros. Eu repeti: “Quanto?” Ele respondeu: “35 mil cruzeiros”. Eu ganhava 11 mil cruzeiros lá na revenda. Quer dizer, era um negócio de ganhar três vezes o que eu ganhava. Ainda tinha ajuda de custo, mais... Quer dizer, no final era um negócio que virava - tinha umas diárias - 70 mil cruzeiros que era seis, sete vezes mais do que eu ganhava. Aí eu falei: “Eu acho que isso aqui é um negócio que vale a pena".
ÁREAS DA EMPRESA Distribuição A companhia, naquela época, tinha mais de mil distribuidores. Mais de mil? Tinha muito mais de mil distribuidores. Os viajantes tinham um setor que era escolhido. Quer dizer, o primeiro setor que eu fui era um setor no estado do Rio. Eu pegava Nova Friburgo, Campos, Itaperuna, Macaé, Cabo Frio e Araruama. Eram cinco cidades que eu formavam a zona que eu visitava. Eu visitava o distribuidor para ver como é que estava o desempenho dele, para ver o que é que faltava... Quer dizer, é um trabalho que hoje é muito mais sofisticado, e hoje essa função chama-se Gerente de Vendas e Marketing - GVM. O GVM da época era o viajante. Depois o nome virou inspetor, depois veio a ser GO, GVO, GGVM... Depois, em algum momento, eu até acabei coordenando esse projeto, de GVO. Então eu comecei a fazer esse trabalho e mudei para o Rio de Janeiro.
MIGRAÇÃO/ MORADIA Chegada no Rio de Janeiro/ Kitnet Fui morar junto com dois amigos na Rua Riachuelo, no Rio de Janeiro, numa kitnet. Só tinha um sofá-cama, então... Eram três pessoas, dois dormiam no sofá-cama e um dormia num colchonete, no chão. Eu, claro, que cheguei por último, dormia no colchonete. E a função na kitnet era interessante. Quando eu cheguei, disseram: “Bom, quero avisar a você o seguinte: você é muito bem-vindo, mas aqui é tudo dividido em termos de custos e tarefas; quer dizer, você tem que decidir se você quer cozinhar, arrumar a casa ou arrumar a cozinha.” Eu falei: “Poxa, eu prefiro cozinhar.” Eu sempre gostei mais de cozinhar. Eu preferi cozinhar porque eu já tinha a experiência do restaurante e sabia fazer um monte de comida. E até hoje eu gosto de cozinhar. Então eu falei: “Eu prefiro cozinhar.” E todo mundo: “Opa, agora nós vamos comer bem.” Porque ninguém sabia cozinhar. Então nós vivemos juntos ali uns... Foi de 62 a sessenta e... Ficamos uns três anos nessa kitnet. Depois nós mudamos para o Catumbi e aí eu já tinha uma cama. Foi bem mais fácil... Ali já tinha um quarto também, mas era um quarto bem amplo, com uma varandinha. Então colocamos três camas boas. Foi um lugar onde eu passei mais dois anos. Isso foi em 62. Em 64 eu me casei, lá em Juiz de Fora, e aí eu tinha uma casa, um apartamento em Juiz de Fora, e morava no Rio com eles. Então só de fim-de-semana que eu ia para Juiz de Fora. Durante a semana eu trabalhava, ou viajava, ou estava no Rio. O ponto de referência meu no Rio era com esses amigos. São muito queridos...
LOCALIDADE/ LOGRADOURO Rio de Janeiro/ Maracanã Eu já tinha ido muitas vezes ao Rio. Até porque meu pai gostava muito de futebol e toda vez que ele ia ao Maracanã ele me levava, desde criança. Eu ia sempre ao Rio, mas dessa vez que eu fui ao Rio, tinha sido a primeira vez que eu não tinha ido a passeio. Eu tinha ido tentar um emprego, e acabei ficando lá 32 anos. O Rio de Janeiro sempre me encantou, porque mineiro sempre tem aquela ligação romântica com o mar, acha o mar um negócio extraordinário... Eu não escapei disso, embora eu goste mais do mar para pescar. Não gosto de praia. Mas o Rio de Janeiro sempre foi para mim uma cidade encantadora sobre todos os aspectos. Hoje moro há sete anos em São Paulo e gosto muito de São Paulo. Mas eu tenho um apartamento no Rio e o dia em que eu me aposentar aqui eu vou morar no Rio. O Rio está para mim na questão do movimento musical, da vida noturna, do entretenimento. O Rio de Janeiro está para mim como restaurante em São Paulo. Eu estou aqui há sete anos e não conheço nem 3% dos restaurantes maravilhosos que têm em São Paulo e eu gosto de restaurantes. O Rio também. Quando eu fui para o Rio, eu tinha uma agenda lotadíssima de correr atrás, de ir no teatro... O Rio é uma cidade muito... O Rio era a capital do lazer, a capital da luxúria. O Rio era um negócio entusiasmante para um jovem como eu e que estava recentemente ganhando um pouco mais de dinheiro. Aquele período lá no Rio de Janeiro foi muito bom.
COSTUMES CULTURAIS Guardar dinheiro Com o primeiro salário que eu ganhei, eu abri uma conta no Banco Nacional. Botei meu salário lá e deixei quieto, não fiz nada. Falei: “Não sei quanto tempo isso vai durar, então eu vou deixar esse dinheiro aqui.” Eu me lembro bem disso. Eu não fiz muita loucura, não. Eu fui lá, botei o dinheiro, tudo que eu não gastava eu botava no Banco Nacional. Isso eu me lembro bem.
MUNDO DO TRABALHO Cotidiano de trabalho Logo que eu entrei na Brahma, a companhia mandou eu me encontrar com um viajante antigo, de nome Aristo Saliab. Me lembro bem. Era um cara que morava em Barra do Piraí. Então o meu primeiro dia foi me encontrar com o Aristo Saliab, lá em Barra do Piraí, e sair viajando. Dali, o primeiro lugar que eu me lembro que nós fomos, foi Volta Redonda, Barra Mansa. E aí fomos para um hotel. Era um negócio curioso, porque nós chegávamos numa cidade... A ferramenta do viajante é o seguinte: eu tinha uma máquina de escrever, uma Olivetti, uma Lettere 22. Eu carregava aquilo pra todo lado. E o ponto nós marcávamos no correio. Nós íamos ao correio e passávamos um telegrama: “Cheguei, hotel tal.” Então era onde eu estava na cidade. Então eu visitava todos os pontos de venda, fazia visitas noturnas... E um dia fazíamos no hotel um relatório daquela visita. Fazíamos uma ficha, batíamos essa ficha, botávamos numa correspondência e enviávamos para a companhia, para a Brahma, lá no Rio de Janeiro, lá na Marquês de Sapucaí. E lá as pessoas liam os relatórios. Nós entrávamos em contato por telefone. E fazíamos reuniões muito, muito raramente. Nós tínhamos reuniões com a gerência duas ou três vezes por ano só. Basicamente nós checávamos atendimento, disponibilidade... Hoje chamamos disponibilidade, naquela época ninguém falava... Disponibilidade de produto, falta de algum produto, preços praticados... E fazíamos uma análise, uma amostragem da participação do mercado. Todo mundo mede share, os institutos todos medem o share. Antigamente nós fazíamos isso na base da pesquisa visual, de amostragem. E ainda havia uma característica no nosso trabalho que era completamente diferente de hoje, que era o trabalho que nós chamávamos de propaganda viva, que era ir nos bares e pagar rodada de cerveja para as pessoas. Nós tínhamos que ir nas boates... Quer dizer, tratar bem aquelas donas de bordel e tal. Eles não sabiam que nós éramos da Brahma. Nós íamos lá e dávamos brindes e cortesias, pagávamos um rodada para todo mundo... Para elas trabalharem com Brahma. Era um negócio mais romântico do que hoje. Hoje é mais arco e flecha. Hoje as coisas são muito diferentes. Hoje a tecnologia disponível para venda é completamente diferente. Hoje um camarada chega com palmtop, acessa, tem 19 informações sobre Ponto de Venda, sobre as dez últimas compras, sobre o que o cara quer, o que não quer, o que ele tem no estoque... É completamente diferente. Antigamente isso era mais romântico. Eu fazia todas as viagens de ônibus. A maioria esmagadora em estrada de terra. Então era uma loucura completa. Eu comi muita poeira. Durante sete anos mais ou menos, eu viajei literalmente de ônibus e na poeira. Depois eu vim para a companhia para ser como um Encarregado de Vendas, que era um cargo interno. Saí do campo e fui para o escritório.
TRABALHO Trajetória profissional No escritório eu passei a fazer o cálculo de remuneração das revendas. Quer dizer, era um trabalho que nós fazíamos de cálculo do frete, e fazíamos uma planilha, pois na época o preço era controlado pelo CIPE e pela SUNAB. Os revendedores tinham uma planilha que era montada por mim na época. Eu fazia planilha do Brasil inteiro calculando fretes e montando o que chamávamos de processinho, que era o preço de venda recomendado para todas as revendas do Brasil. Fiz isso durante tanto tempo que a remuneração de revenda continua comigo até hoje. Está comigo há uns 30 anos. E aí vim para o escritório e passei esse tempo como auxiliar de encarregado. Fazia não só preço, mas marcação, previsão de vendas... Eu fazia uma série de coisas que eram coisas que eu tinha aprendido lá no campo. Eram necessidades que eu via que os revendedores tinham e que eu acabei trazendo para dentro do escritório. E aí eu realmente consegui me destacar dentro do trabalho interno, e num determinado momento fui convidado para ser Gerente Comercial da nossa filial de Curitiba. Isso foi em 1970. Em 1970 então eu topei ir para Curitiba. Eu me mudei com mulher e filha, que tinha 6 anos. Ela nasceu em 64. Fiquei dois anos lá em Curitiba.
UNIDADES DE PRODUÇÃO/ PESSOAS Filial Curitiba/ Paulo Künning Nesse trabalho, eu o reputo como o mais importante que eu fiz antes da troca de controle da Brahma. Porque depois eu acho que fiz trabalhos mais importantes, mas até então o trabalho mais importante foi esse de Curitiba, porque a recomendação que a empresa tinha era que era uma filial deficitária e que deveria ser fechada. Então eu fui para Curitiba com uma missão... Era até meio estranho. Eu ia para lá para organizar, para fechar a filial. E chegando em Curitiba eu comecei a fazer uma análise do que deveríamos fazer e comecei a ver que aquilo ali, muito antes de fechar, precisava corrigir alguns defeitos que pareciam muito óbvios na organização. E provavelmente não tinha nem que fechar, tinha só que organizar. E aí foi interessante a participação de uma pessoa. Nós tínhamos aqui o nosso Diretor de Marketing, que era o Paulo Künning. O Paulo Künning me conhecia daqui do Rio de Janeiro e foi uma das pessoas que me indicou para ir para Curitiba. Aí um dia eu liguei para ele e falei: “Olha, eu gostaria que você viesse um dia a Curitiba, porque eu queria mostrar algumas coisas que eu vi aqui”. E aí ele foi. Eu mostrei a ele o que seria um plano de recuperação. Em vez de ser um plano de fechamento da filial, seria um plano de recuperação, que era uma filial... Faltava cerveja no verão e sobrava, parava a fábrica no inverno. Então dois anos depois eu saí de Curitiba deixando a unidade com um aumento de 150% na capacidade fabril. A fábrica foi triplicada praticamente. Ela teve um aumento considerável e passou a ser rentável. Foi uma mudança radical. Aquilo com certeza foi bom para a companhia, mas foi ótimo para mim, porque me colocou na ribalta, me colocou no palco: “Esse camarada foi lá e mudou.”
PESSOAS Hubert Gregg Nessa época, quem dirigia a companhia era o senhor Hubert Gregg. Ele era o presidente, mas eu também peguei o senhor Künning também. Peguei três presidentes na companhia.
TRABALHO/ EVENTOS Trajetória profissional/ Rock in Rio E o Paulo Künning, diante desse resultado da filial, resolveu fazer um negócio um pouco mais ousado. Foi um convite que me deu muito medo na época. Ele me chamou para a Administração Central, para eu fazer nas outras filiais o que eu tinha feito em Curitiba. Nessa altura já era um negócio que eu não sabia se era possível ou não. Aí eu pensei: “Bom, também nessa altura não tem muito jeito”. Aí eu voltei para o Rio e fui morar na Ilha do Governador. Comecei na Administração Central um trabalho que... Uma coisa curiosa é que o Paulo Künning era Diretor de Marketing, mas mandou botar uma mesa na sala dele. Quer dizer, hoje todos nós trabalhamos juntos, mas naquela época era uma novidade. Ele botou uma mesa do lado da mesa dele, e falou: “Olha, você vai fazer isso, mas eu quero aprender, eu quero fazer junto para aprender.” E começamos um trabalho ali que foi extraordinário. Viramos amigos e somos amigos até hoje, apesar dele já não estar na companhia há muito tempo. Mas ali fizemos um trabalho que foi exponencial mesmo para mim na época, porque aí sim o Brasil abriu para mim. Comecei a mexer com Recife, Porto Alegre, Passo Fundo, com Cuiabá, com Belo Horizonte... Comecei a mexer com todo mundo. Montamos uma equipe de restruturação e foi um trabalho que deu muito certo. E dali, o que aconteceu, é que eu acabei substituindo ele como Diretor de Marketing. Eu fui Gerente de Marketing, depois eu fui Gerente Geral de Marketing e depois eu passei a Diretor de Marketing no lugar dele. Ele foi para uma diretoria adjunta à presidência e eu assumi a Diretoria de Marketing. E na Diretoria de Marketing eu fiquei um período grande. Fiquei até a hora que trocou o controle com o pessoal do Garantia. E na Diretoria de Marketing eu fiz coisas interessantes. Mas uma das coisas mais ousadas que eu fiz mesmo foi o Rock in Rio. O Rock in Rio foi feito durante a minha gestão na Diretoria de Marketing. Eu fiquei envolvido com isso durante quatro meses. Foi uma coisa interessante que fizemos ali. O Rock in Rio foi um marco no Brasil. Embora o resultado não tenha sido grande coisa, nós fizemos coisas interessantes no Rock in Rio. Nós criamos dois pontos de venda de chopp - que eu diria que até hoje devem ser recordes mundiais -, que eram tanques de pressão de 25 mil litros, que ficavam a 200 metros da... Num lugar que chamamos de Beer Garden. Nós fizemos um tanque de pressão que só perdia 1 grau em 24 horas. Nós fizemos um choppduto por baixo da terra, isolado, com injeção de pressão, e saía numa fonte dentro do Beer Garden. Nós podíamos atender até 400 copos de chopp por minuto. Isso foi o primeiro Rock in Rio. E nós montamos isso tudo. Outra coisa que nós lançamos no Rock in Rio, e que era novidade no Brasil, foi o refrigerante em backpack. Backpack era um negócio... parecia um astronauta, o cara tinha um tanque, como um tubo... Depois isso teve na praia, mas acabou não dando certo, por causa de perda de gás. Mas nós lançamos o backpack no Rock in Rio. Fizemos o lançamento da Malt 90 também, que foi um grande sucesso na época.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA Incorporação pelo Garantia Mas nada disso pode ser comparado à fase depois do Garantia. Essa sim é uma fase que eu tenho uma admiração extraordinária, profunda, porque o que foi feito com essa companhia foi uma transformação tão grande, tão grande, que valeu a pena ter vivido, e vale a pena mais ainda porque eu continuo vivendo. Como eles não me deixam me aposentar, então eu continuo vivendo o sucesso que é esse turn around que foi feito pelas pessoas, principalmente pelo Marcel, que mudou totalmente essa empresa. Mudou uma empresa que ganhava 20 milhões de dólares por ano para outra que ganha 450 milhões de dólares por ano. E não só transformou no aspecto de ganho. Transformou em tudo: a parte filosófica, a parte de gente, a parte de tecnologia, a parte de produtividade... Enfim, de excelência, de grandiosidade... Essa mudança toda, hoje, que nós estamos vivendo, a Brahma se fundindo com a Antarctica, e chegando na AmBev, que hoje é a quarta, quinta maior empresa de bebida do mundo. Terceira ou quarta maior cervejaria do mundo. Esse período que começa em 89 e vem até hoje é um período muito rico de transformações. Isso foi realmente marcante para mim. Eu vivi as duas companhias: eu vivi a Brahma antiga e a Brahma nova.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA Fusão A AmBev é uma terceira companhia, com certeza. Embora eu tenha que admitir que a AmBev tem muito da Brahma, pois os processos escolhidos acabaram sendo os da Brahma. A Brahma e a Antarctica eram companhias muito semelhantes. Mas até por essa transformação feita pelo Garantia, a Brahma num determinado momento se distanciou da Antarctica. Eu me lembro que eu, na fusão, fui o responsável pela integração das companhias. Eu chefiei o War Room, que fez o trabalho lá na Antarctica, que fez a fusão da AmBev. E eu, que conhecia a Brahma antes do Garantia, vi como as duas empresas eram semelhantes.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA Incorporação A transformação que a Brahma sofreu acabou colocando a companhia um pouco à frente da Antarctica em termos de tecnologia, em termos de estrutura de controle, tecnologia de vendas e algumas coisas de marketing. E, principalmente, em termos de relacionamento com a revenda, eu achei que a Brahma se distanciou um pouco da Antarctica. E uma das características que nós tivemos lá no War Room foi que o processo a ser escolhido seria o melhor, independente de que companhia viesse; o funcionário que ficasse seria o melhor, independente de que companhia viesse. Então eu acredito que conduzi esse processo com muita sorte, com muito sucesso, porque no final era absolutamente transparente para todo mundo qual era o processo que iria ficar, porque analisados os dois processos, dava para ver claramente qual que era o melhor, e era possível medir os resultados. Ou então, quando eles eram muito parecidos, nós pegávamos partes e fazíamos então um processo AmBev, que não era nem um, nem outro. Mas foram poucos casos assim. A maioria foram processos da Brahma. O faturamento, por exemplo, é um processo. O recrutamento é um processo. Venda é um processo. Entrega é um processo. Então, para fazer uma empresa como essa... Nós estamos fazendo uma fusão. Qual é o processo de faturamento que vai ser usado? Temos que ver qual é o da Brahma, qual é o da Antarctica, qual é o melhor, e usar um dos dois. Ou juntar os dois, fazer as melhores práticas dos dois para fazer um melhor ainda. Por exemplo, no caso do faturamento, o processo escolhido foi o da Antarctica, porque a Antarctica já tinha um sistema mais próprio para expansão internacional. E nós tínhamos o Magnus, que estava super customizado, era muito bom para a Brahma, mas ele não tinha muito futuro não só para a AmBev, como também na parte internacional.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA/ PESSOAS Fusão/ Marcel Telles, Victorio de Marchi, João Castro Neves Para mim a idéia da fusão foi interessante. No primeiro momento em que houve o contato dos dois presidentes, do Marcel e o Victorio, eles tiveram um almoço - isso saiu em todas as revistas – e cogitaram a fusão. E por muita sorte minha, nessa altura, eu fui um dos primeiros a saber dessa possibilidade, porque o Marcel me chamou. Quando ele me disse que nós iríamos estudar uma fusão da Brahma com a Antarctica, eu falei: “Calma, passamos a vida toda dando porrada nesses caras, tentando matar eles... Como é que nós vamos nos fundir com eles?” Aí ele disse: “Mas de qualquer maneira a idéia era revolucionar”. E eu falei: “Então nós vamos ter um negócio extraordinário para fazer.” “Pois é, eu queria que você trabalhasse nesse projeto, mas ele é absolutamente secreto. Você não pode dizer para ninguém.” Nós trabalhamos muito tempo escondidos. E o sucesso do segredo foi exatamente porque muito pouca gente sabia e participou. Para nós foi fácil, porque nós estávamos negociando a compra da cervejaria Bavária, lá na Colômbia. Então a companhia esperava que comprássemos a Bavária. E eu ia ser o executivo da companhia que ia para a Colômbia para tocar a Bavária lá. Já estava tudo certo. Então a minha sumida da companhia foi entendida como a compra da Bavária. As pessoas entraram no edifício da seguinte maneira: o Marcel fazia os contatos dele ali na AGP, que era ali na Faria Lima. Nunca era na Brahma. Fazia os contatos com o Vitório, tal. E tinha o João Castro Neves, que era o... O Marcel fez o seguinte, ele escolheu um jovem, que ele chama sempre jovem brilhante, um MBA, um cara forte de negociação, um cabeça de banco de investimento, que foi o João Castro Neves, e a mim. Quer dizer, ele me colocou mais na base do Executivo Sênior, que tem muitos anos de companhia. Eu já tinha passado por algumas incorporações... Muito provavelmente ele me chamou mais na base do: “Vamos botar um velho aqui para contrapor a esse garoto”. Além do mais, ele conhecia bastante do que eu sabia fazer em termos de revenda. Um dos problemas que nós iráimos ter com certeza seria a incorporação de uma rede de revendas. Então o time ficou. Quer dizer, era um garoto, um jovem, e um cara mais velho como eu. E no time da Antarctica também. Tinha um rapaz e tinha um cara mais velho, que era o Edson, o de Marchi e o Vivan. Então todas essas pessoas trabalhavam em estudos da fusão. E eu fui para a Sales, que é uma agência que não era de nenhuma das companhias e que cedeu para a gente um andar. Aí eu fiquei escondido meses, trabalhando com o Paulo Pereira, que era o Diretor de Marketing e Diretor de Vendas da Antarctica. Lá nós fizemos todos os levantamentos possíveis, já visando a aprovação no Cade, apresentação para o SEAE, para o SDE, para o Cade, procuramos entender como as companhias trabalhavam... Então eu levantei tudo o que a companhia fazia, ele levantou tudo que a Antarctica fazia, e nós ficamos lá escondidos uns 45 dias mais ou menos. E como eu saía de casa sete horas da manhã e chegava duas horas da manhã todo dia, a minha mulher tinha certeza absoluta que eu tinha arranjado uma namorada, uma amante. Eu não tinha aberto nem pra minha mulher. Porque ela não sabia a importância de um segredo desse. Toda essa idéia da AmBev podia se perder numa informação mal colocada sobre o assunto. Eu só dizia para ela: “Olha, eu estou fazendo um negócio tão importante que o dia que eu disser para você, você vai cair sentada aí, mas eu não posso dizer a você o que é”. “Mas como você não pode dizer?”. “Não posso dizer a você o que é. Não posso.” Foi interessante para caramba, porque todo dia eu chegava, tomava um banho assim, e... Estava morto. Morto. Aí ela falava assim: “Não é possível O que você está fazendo que todo dia você chega aqui e parece que vai morrer? Caramba” “É muita coisa e nós temos que fazer rápido”. “Mas onde você está, fisicamente? Onde você está?” Se ela quisesse falar comigo, ligava no celular. E, de vez em quando, ela ligava e dizia assim: “Escuta, só estou ligando para você para saber se você está vivo.” E aconteceu a mesma coisa com o Paulo Pereira também. A mulher dele também queria saber o que estava havendo. Mas uma coisa curiosa é que quando eu disse para a minha mulher “Estamos fazendo uma fusão com a Antarctica”, ela falou: “Meu deus Ah, bom, então é por isso.” Eu disse para ela no dia que nós anunciamos para a empresa. Eu dei para ela o privilégio de saber meia hora antes de sair na televisão. Então aquilo ali foi um negócio extraordinário, porque nós conseguimos manter o segredo. Fizemos todo o trabalho, e depois do anúncio nós fizemos uma reunião onde acertamos quem era quem nas companhias. Montamos esse War Room lá na Mooca, que foi uma sala onde trabalhamos com executivos da Brahma e da Antarctica. Eu tive o privilégio de coordenar isso. Foi uma experiência extraordinária, muito bonita, onde eu revi todos os processos das companhias, acabei participando da escolha dos processos da AmBev. Foi muito legal. Isso foi uma coisa que me gratificou muito, além da própria aprovação da AmBev, que transformou nosso negócio anterior num mega negócio completamente diferente, com um poder extraordinário, com uma capacidade de gerar resultados fantásticos. Então a AmBev é um negócio muito legal, e muito tem a ver até com a própria filosofia, com a cara do Marcel, que quando veio para esta companhia nós não o conhecíamos direito, mas toda vez que eu me refiro a ele... Eu nunca vou encontrar adjetivos que possam qualificar um cara como esse, porque ele é realmente uma pessoa fora de série. Eu costumo brincar com as pessoas, dizendo o seguinte: quando olha para a frente, você vê uma parede, todo mundo vê uma parede. O Marcel olha para lá e normalmente vê depois da parede. Então é uma pessoa que tem uma relação incrível com o futuro, ele tem uma capacidade extraordinária de fazer prognóstico, análises... E geralmente acerta.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA/ CULTURA DA EMPRESA Incorporação, processos de gestão/ Valores, metas O Marcel, quando entrou na Brahma em 89, fez o seguinte. Em 1990, ele passou o ano reformulando a companhia em todos os aspectos. Quer dizer, quebrando paradigmas. A primeira coisa que ele falou quando chegou na companhia é que ele não entendia porque cada pessoa trabalhava em uma sala, quando achava que todo mundo tinha que trabalhar junto. Então ele pegou a diretoria toda... Primeiro ele não teve rodeios, fez uma análise das pessoas e achou quem deveria ficar, quem devia sair, e às que deviam ficar ele falou: “Olha, vocês vão ficar aqui e vão ser donas do negócio de vocês; em compensação, vocês vão ganhar muito dinheiro.” E isso acabou se tornando verdade mesmo, porque quem ficou acabou ganhando muito dinheiro mesmo. E ele fez o conselho, botou em prática algumas idéias que ele trazia lá do Garantia, ou coisa desse tipo, onde ele acha que as coisas têm que ser resolvidas na hora, numa mesa, e não há necessidade de sala de reunião, de formalidade, e nem de coisa nenhuma... Ele tem coisas incríveis. Então ele botou todo mundo junto. Num primeiro momento, foi um constrangimento louco. Eu tenho uma história sobre isso interessante, porque eu tinha uma sala... Eu, como Diretor de Marketing, tinha uma sala de 30 metros quadrados, toda forrada de lambri, de madeira de lei, um tapete enorme, tinha um grupo estofado, uma mesa de reunião, três telefones... Eu tinha um carro da companhia que era trocado de dois em dois anos, full time com motorista. Tinha poder, tinha muito... Mas não ganhava dinheiro, não. O negócio era meio só de status. O Marcel chegou e disse: “Olha, não tem sala, é todo mundo na mesa, sentado, um de frente para o outro, um telefone e meia secretária... uma secretária para cada dois... Essa sala foi no sétimo andar, lá na Marquês de Sapucaí. Ele acabou com carro, motorista... Nem vaga tinha. Quem chegar primeiro, pega a vaga, quem não chegar não pega... Aí reformulou salário... Eu não estava entendendo direito o que ia acontecer, porque tudo o que eu tinha ele tirou, e ainda deu uma reduzida no salário. E disse ainda que a gente ia ganhar muito dinheiro. “Então tá bom.” Mas foi interessante, porque dali para a frente ele começou a fazer uma revolução mesmo no aspecto de... Você, dono do seu negócio, você tem a responsabilidade de fazer, e nós vamos te cobrar para caramba, mas se você for bom você fica, se você for ruim, você sai. Tem muita gente que acha que é selvagem, mas eu diria o seguinte: a filosofia que ele implantou nessa companhia é que a transformou numa companhia peculiar. Se você gosta dessa companhia, se você se adapta a ela, você vai ficar nela a vida toda e vai ser muito feliz. Não é muita gente que se adapta a ela, não. Tem muita gente que chega e não gosta. Gente que quer privilegiar padrão de vida, qualidade de vida, antes de ter feito alguma coisa importante dentro da companhia, vai ter dificuldade. Até nós mesmos. Eu digo nós porque acho que fiz grandes coisas nessa companhia. Ainda não consegui partir para ter uma qualidade muito grande de vida, porque a gente está lá e não tem muito tempo. Tem que escapar nos feriados para pescar, mas... Mas é um negócio filosófico. Quer dizer, se você se adapta bem a essa companhia, você, com certeza, você vai ser muito feliz nela, porque você vai gostar dela, vai se apaixonar por ela, e vai trabalhar com alegria. Porque uma das coisas que me mantém nessa companhia há 40 anos é que eu trabalho o tempo todo com muita alegria. Eu estou sempre brincando com as pessoas, embora seja um cara rígido, bravo para caramba. Quem trabalha comigo sabe que eu sou bravo para caramba, mas eu faço sempre do trabalho um negócio que seja também o meu motivo de viver. Eu não posso ficar aborrecido o tempo todo. A gente já não tem tempo para tirar férias, se você ficar aborrecido ali também é melhor fazer outra coisa. Então o que eu acho legal no Marcel, antes da fusão, é que ele criou regras, ele quebrou paradigmas na companhia e a transformou numa companhia dinâmica, voltada para o mercado, marketing orientada, disposta a buscar resultados, desafios de toda ordem. Metas difíceis de serem atingidas, mas que sempre são perseguidas e atingidas. Então ele criou na companhia uma filosofia de gente que gosta de desafio, gente que bate meta, gente que consegue resultado. A visão dele sempre foi essa. Ele quer ser o maior do mundo, sempre. Não que seja um megalomaníaco. Não é, não. Ele acha que nós temos possibilidade, gente, força, equipe para ser sempre maior do que somos hoje, sempre melhores do que fomos até agora. Ele é um sonhador constante, ele não se acomoda fácil. E a AmBev foi, com certeza, naquele primeiro momento, uma idéia... Tanto é que, se vocês acompanharam, viram como foi difícil aprovar essa fusão. Porque é difícil mesmo aprovar uma fusão dessas. Mas pode ter certeza que uma grande parte dessa aprovação se deveu ao espírito da gente, da Brahma, que hoje a gente é AmBev, que é gente de muita briga, de muita luta, de correr em cima, de querer fazer de qualquer maneira. E foi o que acabou acontecendo. Com a aprovação da AmBev, realmente hoje nós temos um gigante extraordinário, que eu creio que ainda não é o final do sonho dele não. Ainda pretende crescer mais aí.
PESSOAS Magim Rodrigues Júnior O Magim também foi um executivo extraordinário, que tocou essa companhia nos últimos 12 anos com uma força fantástica. Tem executivo muito bom na diretoria. A cabeça das pessoas é querer crescer. Quer dizer, se der chance nós queremos ir em frente, adquirir outras empresas, ou se associar. Então nós queremos estar nesse negócio de cervejas e refrigerantes, e queremos ser o primeiro do mundo. Se deixarem, nós vamos chegar.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA/ CULTURA DA EMPRESA/ ÁREAS DA EMPRESA/ PROGRAMAS DE QUALIDADE/ Incorporação, processos de gestão/ Metas, valores/ Ibrahma/ Programa de Excelência A Brahma, até antes do Marcel, fez grandes aquisições. A Brahma em 1980 comprou a Skol. Isso foi um lance de muita audácia na época, e de muita sorte também, porque a Skol acabou se transformando no maior negócio da companhia. A companhia comprou a CIBEB, que era a Carlsberg, comprou a Fratelli Vita, que era uma companhia de refrigerantes de muito prestígio lá na Bahia e hoje é água mineral, se associou à Astra, cervejaria do Ceará, fez uma parceria, agora de 30 anos, com a Pepsi Cola. A companhia sempre foi muito dinâmica, sempre esteve aí querendo crescer. Pode ter certeza de que o Marcel deve estar pensando assim: “Nós somos o quê? Terceiro do mundo? Estou a fim de ser primeiro.” Ele pode até não conseguir, mas ele vai... E também não vai fazer nenhuma coisa louca para chegar lá, mas se tiver alguma chance, razoável, se for uma boa oportunidade, com certeza ele vai estar correndo para tentar conseguir, porque é da cabeça dele. É da cabeça dele e de todos da AmBev. Nós estamos querendo saber como é que se vai para frente. Não tem esse negócio de achar que está bom, não. Eu acho que uma das coisas que faziam a diferença entre as companhias - a Brahma pós Marcel contra a Antarctica - é que a Antarctica continuou no sistema de privilegiar as pessoas de carreira dentro da companhia independente de qualquer coisa. Então as pessoas tinham 20, 30, 40, 50 anos na companhia, independente se eram boas ou se não eram tão boas assim. Eu não estou dizendo isso como crítica, porque a Brahma era exatamente assim. O Marcel chegou e partiu para uma filosofia um pouco diferente. Ele partiu para apostar no jovem. E apostar no jovem não só de talento, mas no jovem muito bem formado. Então ele fez dois ou três programas na companhia, em que eu participei de pelo menos dois, que foram de grande sucesso em relação a isso, ao tipo de estilo de administração da companhia. O primeiro deles foi o projeto trainee. Quando chegou na companhia, ele foi para as faculdades para falar qual era a idéia dele, qual era o sonho dele, e para recrutar pessoas recém-formadas, ou prontas a se formar, para ir para a Brahma. E na Brahma ele fez um projeto que era assim: ele dava um ano... Nós fizemos um recrutamento extraordinário. O primeiro programa de trainee... o nosso Diretor de Vendas hoje é desse programa, o Luís Fernando Edimar. Ele fez um programa de trainee em que nós pegamos um time de garotos extraordinários, fantásticos, e recheou com meia dúzia de MBAs contratados a peso de ouro naquela época, recém saídos dos cursos nos Estados Unidos, e de uma área que ele tem hoje - no Garantia tinha -, a Fundação Estudar. Eles tem um trabalho em que eles patrocinam o pessoal a estudar no Brasil e no exterior, e com o compromisso de analisar uma proposta das empresas da AGP. Então ele fez o Projeto Trainee, que aí baixou drasticamente a média de idade dos executivos da companhia. Por quê? Porque ele jogava o cara numa função, independente se achasse que o cara estava bom ou não. Quer dizer, ele arriscou muito. Era o que nós chamamos na época de promoções malucas. A gente colocava o cara independente de achar se ele ia dar certo ou não. O Marcel fez muito disso na companhia. O segundo projeto que eu participei ativamente, e foi idéia dele, foi fazer nas revendas, como se fosse o Projeto Trainee, o Projeto Sucessores. Nós pegamos os filhos de revendedores e trouxemos para uma universidade interna nossa, que criamos em 91, chamada Ibrahma - e hoje chama-se Universidade AmBev -, onde nós treinamo o distribuidor, treinamos o titular e treinamos o filho dele. Então eu fui encarregado de fazer esse projeto. Todo ano nós fazemos uma turma de sucessores, com dois, três módulos, sendo que um módulo desses é básico, outro é de treinamento na operação e um outro é no exterior. E nós começamos a levar os garotos para os Estados Unidos, para ver como é que as revendas funcionaram, como é que eram as coisas... O Trainee tornou a administração da companhia mais jovem. E o Sucessor tornou a administração das revendas também mais jovem. E os programas importantes da companhia nós ancoramos nos sucessores. O maior projeto que nós fizemos pós-Marcel, pós-Garantia, foi o Programa de Excelência que criamos em 92, que é um programa extraordinário. Nós ancoramos esse programa - está fazendo agora dez anos - no Sucessores. Depois fizemos várias coisas. Fizemos também o PPR, que é um programa de produtividade extraordinário. Nós ancoramos também nas revendas dos Sucessores, assim como qualquer idéia boa que nós temos na companhia nós procuramos ancorar nos trainees. Então a diferença básica que eu vejo é que ele teve a visão de apostar no jovem e transformar... Porque o jovem é muito mais audacioso, ele não tem muito compromisso com nada. Ele não tem compromisso nem com ele mesmo. Então ele vem, o que ele está errado ele fala e assume... E ele sempre apostou nisso, e sempre deu certo. Então por isso é que a mentalidade Brahma, a chamada mentalidade Brahma, após Garantia, vem muito desses programas que ele criou, de treinamento, de acreditar no jovem, no dono. E vem também de uma coisa que ele também criou que é super agressivo, que funciona extraordinariamente bem na companhia, que é o sistema de remuneração variável e o plano de ações. Se você fizer o seu trabalho de forma extraordinária, você está arriscado a, nos primeiros dias de março, receber um ano de salário na tua mão, de bônus Além disso, você está arriscado a receber... Desse ano de salário, você pode pagar ate 70% de ações que têm um preço mais baixo do que o do mercado, que são bloqueadas por cinco anos. Então você começa a engatar uma coisa na outra: performance, com bônus, com as ações, com seu trabalho, com as metas... Então isso é um negócio envolvente e matador. A garotada se mata mesmo. Então o espírito que se fala da Brahma é mais ou menos um negócio desse: jovem, muito bem preparado, gosta de desafio, bem estimulado, tem um plano de ações que pode transformar ele num cara rico a curto prazo. É a fórmula do espírito da companhia, muito ligada nesse matador. Como isso não tinha na Antarctica... Quer dizer, a Antarctica continuava vivendo como a Brahma era, então não tinha esse tipo de coisa. Então o que foi para a AmBev evidentemente, como melhor prática, foi o espírito da Brahma, e não o espírito da Antarctica. Isso não tem muita dúvida. Acho que o espírito que está na AmBev é o espírito Brahma, só que agora mais reciclado para o desafio, que agora é muito maior. Porque agora você tem que defender uma posição dessa, que é muito grande no mercado. Os analistas, os acionistas esperam de nós sempre um resultado crescente a cada ano. Isso torna a empresa cada dia mais pressionada, cada dia mais competitiva, então tem que ter gente cada dia mais brava. A fusão está totalmente consolidada. Absolutamente consolidada. Eu diria até que em tempo recorde. Nós temos um case mundial. Eu acho impossível alguém fazer uma mega fusão como essa e fazer uma transição em dois anos, que foi o que nós fizemos.
PRODUTOS Brahma Chopp, Bohemia Eu passei a minha vida toda bebendo Brahma, Brahma Chopp, e continuo achando Brahma Chopp uma cerveja... Se eu tiver que pedir, chegar no bar e pedir, eu vou sempre pedir Brahma Chopp. Mas eu diria que ultimamente eu tenho me pego bebendo muita Bohemia. É um projeto novo; é uma cerveja que esteve muito tempo aí, mas que agora foi relançada com um trabalho magnífico que está sendo feito no ponto de venda. Mas se eu tiver que preferir, prefiro Brahma Chopp, mas tenho tomado Bohemia. A cerveja tem que ser absolutamente igual, porque hoje a nossa fábrica não é para atender uma área, é para atender diversas áreas de acordo com uma malha que é montada de distribuição. Quer dizer, você pode estar aqui e buscar em Curitiba, como pode buscar estar no Rio... A cerveja então tem que ser muito, muito, semelhante, não pode ter nenhum tipo de diferença.
PROJETO MEMÓRIA VIVA AmBev Organização dos acervos e importância da história Eu acho extraordinária essa idéia de resgate da história das empresas e de organização dos acervos. Até porque companhias que têm mais de 100 anos, empresas que têm suas histórias ligadas com a alegria... Você tem que ter registro disso. Se você pensar bem, toda vez que você falar em Brahma, você está falando de carnaval, está falando de futebol, está falando de reuniões, está falando em festa, está falando em alegria... Existem registros incríveis desse negócio, de estar ligada ao carnaval, ao futebol, aos principais acontecimentos do país. Então seria um absurdo uma companhia dessas não preservar suas origens, não homenagear o seu passado. Todas as vezes que alguém elogiava a Brahma nova, que falava: “a Brahma depois do Garantia...” Pois nós temos que reverenciar a Brahma nova, mas temos que ter cuidado de não se esquecer da Brahma antiga, porque a nova só existe porque a antiga deixou ela vir até aqui. Houve um trabalho lá que nos trouxe até aqui. Acho que é extraordinário, e acho que vale a pena. Isso é preservar a cultura das empresas. Eu acho que vai ser muito interessante porque Brahma e Antarctica têm coisas muito semelhantes.
ENTREVISTA Avaliação Achei ótimo dar meu depoimento. Eu passei a minha vida inteira toda nisso. Falar nisso me agrada. Eu gosto muito de lembrar as coisas que eu fiz. Quer dizer, com certeza você não me ouviu falar das besteiras que eu já fiz. Eu fiz muitas também. Eu fiz muita coisa boa, mas também fiz muita besteira. Fiz muita coisa que deu errado. Mas é sempre muito bom lembrar disso, acho que é sempre uma alegria.
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