Lembro da minha primeira expectativa. Estava escrevendo no quadro negro, perto do fogão de lenha da varanda da casa da minha avó paterna, Leonor ( vó Nora) e por alguma provocação que ela me fez eu mostrei a minha mão e disse: não falta muito, daqui a pouco terei cinco anos!
Ela riu e continuou as tarefas. Desde que me lembro, sempre tive certa pressa para as coisas. Aquela expectativa de ficar mais velha, de escrever mais no quadro negro e de explorar tudo que eu pudesse. Parecia, lá no meu íntimo, que o meu tempo ia acabar, embora tivesse acabado de chegar ao mundo. A Matemática sempre me fascinou e eu gostava da harmonia que minha data de nascimento apresentava, apesar disso nada ter a ver com a Matemática em si: 07/08/78. No entanto, era outra expectativa, a segunda mais remota em minhas lembranças, que eu criava. Vou resolver esse problema da minha data de nascimento. Foi um problema até eu descobrir que não era. Sobrou a afeição mesmo pelo conjunto de números e o que ele representava pra mim. Ao amadurecer, percebi que o raciocínio é lógico, portantanto não deixa de ser matemático, mas a questão era filosófica, do viés existencial: a minha data de aniversário e antes a expectativa de fazer logo cinco anos era a revelação da minha existência e da consciência, mesmo que inconsciente ainda naquela época, da finitude humana.
É! Eu não estava com a minha mãe. Ou ela não estava comigo. Era a minha avó a referência feminina. E ela era bruta. Brutalmente amorosa.