Meu avô foi para mim uma figura marcante. Sua história de vida e as histórias que ele me contava quando eu ainda era pequeno sempre me impressionaram muito. Uma delas, dentre tantas outras, quero compartilhar aqui porque, passados tantos anos, ela continua dizendo muito sobre o mundo contemporân...Continuar leitura
Meu avô foi para mim uma figura marcante. Sua história de vida e as histórias que ele me contava quando eu ainda era pequeno sempre me impressionaram muito. Uma delas, dentre tantas outras, quero compartilhar aqui porque, passados tantos anos, ela continua dizendo muito sobre o mundo contemporâneo e hoje eu consigo entendê-la numa dimensão ainda maior.
Meu avô lutou na primeira grande guerra mundial. Nascido na Áustria, ele foi recrutado para lutar ao lado dos alemães contra os Aliados (Reino Unido, França, Itália e Império Russo). Logo no princípio da batalha, ele caiu prisioneiro e foi levado a um campo de concentração na Sibéria, onde ficou quase até o fim do conflito.
Na verdade, quando conseguiu fugir do campo de prisioneiros e rumar a pé de volta ao território alemão, o armistício já estava sendo negociado. Ao chegar à fronteira, deparou-se com uma grande movimentação militar. De um lado os prisioneiros russos, de outro os alemães e austríacos, todos aguardavam o salvo-conduto para a repatriação. Sobre uma ponte que delimitava a fronteira entre os dois domínios, era a feita a troca de prisioneiros. Enquanto um germânico ia pra lá, um russo vinha pra cá.
Meu avô contava que, ao cruzar com seu equivalente, entreolharam-se profundamente e ele jamais esqueceria-se de seu semblante. Mais do que a comoção que me provocava a narrativa desta cena, hoje entendo que ela traduz um sentimento muito valioso de se considerar. Ali não estavam sendo trocados um russo e um germânico, eram dois seres humanos. Dois indivíduos que haviam sobrevivido aos horrores de uma guerra sangrenta e iriam carregar para os restos de seus dias as amargas lembranças que por certo gostariam de não tê-las vivido.Recolher