P1 - Bom, agora sim, a gente vai pedir para o senhor falar o nome completo, o local e data de nascimento.
R - Meu nome completo é José Luis Rezende Pimenta, sou natural de São Sebastião do Paraíso, sudoeste de Minas. Ano 1934.
P1 - E que dia?
R - 28 de julho de 1934.
P1 - E seu José Luis, o no...Continuar leitura
P1 - Bom, agora sim, a gente vai pedir para o senhor falar o nome completo, o local e data de nascimento.
R - Meu nome completo é José Luis Rezende Pimenta, sou natural de São Sebastião do Paraíso, sudoeste de Minas. Ano 1934.
P1 - E que dia?
R - 28 de julho de 1934.
P1 - E seu José Luis, o nome dos seus pais?
R - Meu pai Luis Pimenta Neves, minha mãe Maria de Lourdes Rezende Pimenta.
P1 - E me fala uma coisa, senhor José Luis, qual que era a atividade profissional do seu pai?
R - Meu pai era químico industrial. Trabalhou durante bastante tempo na área de agricultura, plantador de café. Como nasceu numa fazenda de café. Eu também fui criado em fazenda de café. São Sebastião do Paraíso é a região do café. Da alta qualidade do café no Brasil. E por tradição ele trabalhou algum tempo e por conveniência também. Na área política, ele foi prefeito de São Sebastião do Paraíso, em 1947. Na época que o governador era o Milton Campos. E depois ele permaneceu na política mais 15 anos, liderando o partido que ele foi eleito, né?
E como presidente da câmara durante 15 anos. Daí também foi professor na escola técnica de comércio, escola técnica do colégio industrial também. E depois, quando ele foi para Ouro Preto, ele foi professor na cadeira de química analítica, dentro da especialidade dele e trabalhava também no Instituto de Pesquisas de Ouro Preto. Tem até um detalhe interessante, que o primeiro microscópio eletrônico da história de Minas, ele é que montou e pôs para funcionar.
P1 - E isso mais ou menos foi em que época?
R
- Essa época é em 1960 até 1974, quando minha mãe faleceu. Ele ficou em Ouro Preto nessa época. Ele permaneceu em Ouro Preto.
P1 - Mas a infância do senhor, o senhor passou em São Sebastião do Paraíso.
R - A minha infância, até o ginásio, ou seja, hoje em dia até a oitava série, eu cursei lá no ginásio de São Sebastião do Paraíso, no Ginásio Paraisense. Aí depois eu fui fazer o curso científico. Os três anos científicos em São Paulo. Era no Colégio Pan-Americano da Escola Paulista de Medicina. De lá então que eu mudei de idéia e fui para Ouro Preto prestar vestibular na Escola de Minas. E ingressei na Escola de Minas. Como eu tinha uma base mais para vestibular de medicina, eu tive que fazer um curso, tinha um curso preparatório da Escola de Minas e mais um ano lá na escola de Minas para fazer o vestibular em 1955. Eu ingressei na Escola de Minas em 1955 e me formei em 1960 na área de Engenharia de Minas e Metalurgia.
P1 - Mas o senhor está falando que tem assim toda uma tradição na família voltada para engenharia, né?
R - Eu tenho dados referente ao meu bisavô, lá no século XVIII para XIX e ele era engenheiro agrimensor e isso transmitiu muito essa formação. Aí depois veio o meu avô, seria no caso o genro dele, desse meu bisavô que era engenheiro e ele não frequentou nenhuma escola, mas ele tinha uma característica de autodidata e aprendeu muito com o sogro dele, que é esse meu bisavô, né? Ele era engenheiro e o meu avô era ávido para conhecimento, ele nunca tinha ido à escola mas ele dominava todas essas técnicas, essas filosofias, sem nunca ter ido à escola. Ele foi líder também, lá em São Sebastião do Paraíso, o último prefeito do império e o primeiro da república. Ele promoveu lá em São Sebastião do Paraíso, a imigração italiana. Você vai hoje em dia lá em São Sebastião do Paraíso e aquela imigração italiana toda ele é que promoveu. E também, como prefeito ele teve que ajudar os escravos recém-libertos. Porque eles caíram numa situação de saber, "e agora, o que é que eu vou fazer? " Então ele teve que fazer preparatórios, arrumações para poder readaptar os escravos ali dentro. E fez aquela miscigenação na fazenda e dentro dessas condições, né? E depois, com o desenvolvimento de São Sebastião do Paraíso, ele também quando atingiu a idade de 70 anos, filhos vivos que ele tinha. Tinha 18 filhos, 16 mulheres e dois homens. Um no primeiro casamento e outro do segundo. O meu pai é filho do segundo casamento. O meu avô já tinha 60 anos quando ele nasceu. De maneira que ele carecia um pouco mais de orientação porque o pai dele já estava mais, né? Então esse é meu tio em São Paulo, o João Caetano Alves Junior, né? Inclusive é fundador da Service Engenharia. Me influenciou muito. Ele era engenheiro civil, né? Aí eu disse: "para quê que eu vou fazer medicina? Eu vou fazer engenharia em Ouro Perto, né?" Então, nessas condições, nessa orientação que ele nos dava, ele era muito profundo nesses assuntos, e acabamos indo lá para Ouro Preto. Meu pai também, nessa época, o cunhado era engenheiro e por isso é que ele foi para São Paulo e formou-se na Politécnica em 1931. E a tese dele é interessante porque ele desenvolveu uma tese sobre a produção do álcool a partir do amido da mandioca. Isso é recente o assunto e é tese dele.
P1 - Lá naquela época já...
R - Naquela época ele já desenvolveu essa tese como químico industrial. Então quando nós mudamos para Ouro Preto, fomos estudar em Ouro Preto, ele sentiu que os filhos todos tinham vocação para ir para Ouro Preto, eu e meus irmãos. Por isso é que ele comprou aquela casa dele na Rua Paraná, 12 e minha mãe se sentiu só. Minha irmã tinha casado. Aí resolveu mudar para Ouro Preto. Aí é que ele ingressou na profissão dele como químico e professor de química analítica da Escola de Minas. E lá permaneceu até, foi 1975 que ele se aposentou lá.
P1 - Ele trabalhou lá até 1975.
R - Depois então, como minha mãe tinha falecido lá em Ouro Preto, em 1974, ele foi morar comigo na Acesita e na Acesita ele continuou dando aula de química na Escola Técnica de Metalurgia na Acesita.
P1 - É mesmo (risos).
P2 - Mas como é que era Ouro Preto nessa época?
R - Ouro Preto era uma cidade universitária. Que a gente sentia aquele ambiente, não tinha aquele ambiente de hoje em dia, tumultuado, com aquele turismo, aquelas coisas, né? Até o acesso para Ouro Preto, no início, quando nós fomos lá, foi em 1953, o acesso era ainda ou de estrada de ferro, por trem, passava embaixo, gastava umas quatro horas de trem, ou então estrada de terra. É essa ligação. Depois, com Juscelino Kubitschek é que teve o asfaltamento da estrada ligando então para Ouro Preto. Então Ouro Preto naquele tempo era uma cidade que era uma verdadeira família. Você tinha as duas escolas da faculdade. Você tem Escola de Minas e a Escola de Farmácia. A Escola de Farmácia é ainda mais antiga do que a Escola de Minas. Então aquele ambiente que existia lá dentro, todo mundo conhecia. Professor conhecia os alunos, aluno conhecia professor. Aí quando de repente eles roubavam umas galinhas lá da casa do professor, convidava os professores para ir comer as galinhas lá na casa dele. Então era aquele ambiente assim, muito acolhedor. E aquele clima típico de Ouro Preto, que forma nessa época aquele nevoeiro, com aquele frio. E isso era propício porque a turma de Ouro Preto era seresteira e gostava também de tomar umas cachaças para poder esquentar. (Risos) Mas a escola era muito severa para admitir. Principalmente na admissão e depois para formar, né? A Escola de Minas tinha prova escrita e prova oral, nota mínima, né? E normalmente a quantidade de vagas, minha turma foi uma das maiores que entrou. Com esse cursinho preparatório, que foi muito bem preparado. Quem dirigia isso aí era o professor Tibiriçá e o professor Calais, que eram catedráticos das áreas de matemática da Escola de Minas e profundos conhecedores do assunto. Então a minha turma foi uma turma que ingressou na escola com 40. 40 vagas. Porque antes passava aí 15, no máximo 15, 12. Cada série tinha mais ou menos essa quantidade. Que é relativamente pequena. Era extremamente exigido o conhecimento. Os professores eram gente de capacidade assumida lá dentro. Doutores mesmo, profundos no assunto. Chegou ao ponto, que teve uma época que o Dr. Augusto, agora eu vou entrar na área de siderurgia, o Dr. Augusto Barbosa. Que tem lá o Parque Metalúrgico Augusto Barbosa, não tem, lá em Ouro Preto? Que foi projeto dele, né? E o Dr. Augusto Barbosa era uma capacidade. Como engenheiro na área dele, ele foi aluno do Henri Gorceix, Fundador da Escola de Minas. E lá ele se aprofundou muito e ele tinha uma capacidade, como diretor também da escola, ele substituía qualquer professor em qualquer matéria. Então ele gostava muito nessa área aí de siderurgia, na parte de física, na parte de química. E desenvolveu uma pesquisa, uma pesquisa de ponta naquela época, sobre a eletro-siderurgia. Quer dizer, a fabricação de aço utilizando o arco elétrico na fusão de carga, umas coisas assim. E desenvolveu um protótipo, um modelo. Tem lá na escola até hoje. E esse modelo é um forno com a capacidade de, durante a guerra ele chegou a produzir, o cadinho dele, 100 quilos por cada corrida. Corrida é cada operação que se fala. Com uma duração aí de duas, três horas aí fazer uma corrida de aço. Produzindo aço lá nesse forno. Então existia na França também, essa moda dessa tecnologia de ponta de eletro-siderurgia e arranjou para ele uma bolsa para ir para a França. Chegou na Escola de Minas de Paris, foi recebido lá pelos pesquisadores e ele expôs então que tinha já desenvolvido, né, a teoria dele. A tese nessa área de eletro-siderurgia. Aí, continuando, então o meu protótipo já desenvolvido. Os franceses viraram para ele e: "você já fez o protótipo? Porque nós não temos ainda não." Você vê a capacidade dele, em vez de ser aluno lá, ele passou a ser professor da Escola de Paris. Então como ele era bem moreno, careca, moreno, tipo assim exótico, que chegou na França lá. E as francesas gostavam muito daquele lado dele. Acabou que a filha de um professor lá se interessou por ele, e ele casou lá na França, né? Como é que ela chamava? Joana d´Arc. E retornou. Quando ele retornou para o Brasil, ele voltou casado, né? E os filhos dele todos são professores da Escola de Minas. O mais velho o Alberto Barbosa. Alberto foi meu professor, era aquele professor de química analítica lá na escola. Depois o José Barbosa que foi professor de siderurgia e tinha também o Bicho-Papão da escola, que era o Cristiano Barbosa, de químico-física, né?
P1 - Por quê? Ele era muito bravo?
R - Porque quem conseguir passar com ele era, era uma proeza. E a filha dele também se casou também até com um cearense na área de engenharia civil. Porque a Escola Civil tinha os cursos dela, os cursos de engenharia de Minas, depois vem a parte de metalurgia, a área de geologia, né? Esse foi o objetivo básico da fundação da Escola de Minas. O imperador Pedro II trouxe então o Henri Gorceix da França para fazer uma escola, porque Minas Gerais, pelas características dela precisava ter uma escola que o pessoal pudesse aproveitar as riquezas naturais da extração dos minérios e elaboração dos metais, né? Isso então é que deu. Então o Augusto Barbosa, depois então ele até projetou o Parque Metalúrgico, né? Que era esse onde a gente fazia estágio. Servia como base. E por motivos outros, outras idéias lá dentro acabaram fechando. Mas o meu sogro era o defensor que punha a funcionar o Parque Metalúrgico. O meu sogro, o Washington Andrade.
P1 - Além do professor Augusto Barbosa, tinha algum outro professor assim que influenciou a carreira do senhor, que tenha sido assim um expoente para o senhor, que tenha...
R - É, o que também me levou. Quer dizer, o meu sogro, que era também professor da cadeira de metalurgia geral, ele me influenciou muito. Ele me arranjou para trabalhar lá no estágio do Parque dos Metalúrgicos, ele gostava então muito dessa área, e eu também fui adquirindo esse padrão. Depois na outra cadeira, na outra matéria, que o professor de siderurgia nessa época, que foi o professor contratado lá, é o professor Gil Guatimosim. O Gil Guatimosim é um dos líderes de projeto desses alto fornos do Brasil lá fora aí, antigamente, né. E eu enveredei nesse assunto e passava a discutir tanto com ele as coisas. Aí quando eu fui fazer estágio na Acesita, ele era assessor da diretoria da Acesita nessa área de Metalurgia. Ele dava assistência, fazia assessoria. Então me encontrei com ele lá aquelas coisas também, né? E como fui um assunto muito interessado pelo assunto, daí é que houve esse interesse. E também um ex-aluno da Escola de Minas, o Marturo Viano, que era o chefe lá do alto forno junto com ele e gostaram. Eu fiz um relatório que eles acharam interessante aí que eles me chamaram para ir trabalhar na Acesita. Esse foi o ponto que me levou então a interessar. E nessa época, a Escola de Minas, ela tinha montado um convênio com o Wilcid na França, instituto de pesquisas metalúrgicas da França. E o Wilcid então mandava os professores também. Eu tive dois professores, na área de metalurgia, do Wilcid. Eu tive aula de francês, né, então dava para entender razoável. Mas eles me deram bastante informações a respeito das matérias e não deixou nada por me dar, tinha lá o professor Roger ____, o outro Pierre ______, tinha o Daniel ____. Era um curso que a escola tinha estruturado, e esse convênio era de desenvolver as primeiras áreas de pós-graduação, de mestrado e depois de doutorado na França, né? Através desse convênio, né? Mas até meu irmão, ele se candidatou como engenheiro da Usiminas. A Usiminas fez um convênio para esse pessoal ser orientado pelos franceses do Wilcid. Eles desenvolveram as teses lá. Mas tinha um diretor da escola que tinha tanta burocracia, que no fim da apresentação da tese ele não deu aprovação porque eles esqueceram de fazer o requerimento de entrada no curso. Acabaram com o curso da escola por quê? Porque eles esqueceram. E os franceses falaram: "não, assim também a gente não vai ficar aqui." Desse jeito. Mas isso foi muito importante para mim. Então essa base, a Escola de Minas com essa base francesa. Você lembra que o Augusto Barbosa trouxe daquele convênio lá da França o próprio _______ que era francês também. Então todo esse fundamento, a base da Escola de Minas era francesa, né? E essa parte na área de metalurgia, principalmente essas áreas de siderurgia foi muito importante essa influência que tinha lá dentro. Eu tinha curso de francês desde o ginásio, mas deu para gente absorver bastante coisa assim, né, e quando então formamos, fizemos esses fundamentos mais dentro desses conhecimentos aí dentro, né?
P1 - No panorama geral, aqui dentro do Brasil, qual era a perspectiva de trabalho em termos de siderurgia?
R - Era grande. Nessa época a Usiminas estava sendo fundada, porque o Dr. Amaro Lamário Junior, naquela época ele era presidente da Acesita. Foi aí que o Juscelino Kubitschek o convidou para criar a Usiminas. E quando ele iniciou, ainda como presidente, a Usiminas era para ficar naquela extensão onde é a laminação a quente e a laminação de inoxidável e silício da Acesita. Era para ser lá. Mas depois ele teve outras informações, e viu que os japoneses tinham desenvolvido muito bem a siderurgia no Japão. Então ele resolveu contratar assistência técnica. Naquela época a Nippon Steel ainda não tinha sido estabelecida. Depois é que elas conseguiram se aglutinar e formou-se a Nippon Steel, né? Mas a usina básica, nessa época que ele contratou, foi a Usina de Awata lá do Japão. De maneira que os japoneses aceitaram e passaram então a montar aquele projeto. Acesita então, ele deixou de ser presidente da Acesita e trouxe para o lugar dele o professor Paulo ________ também ex-aluno de Ouro Preto lá. Era professor também na Politécnica de São Paulo. E o Paulo ________ passou a ser o presidente da Acesita e cuidar de montar lá a Usiminas com os japoneses. E a Acesita entrou então com a parte dela fornecendo uma área para a construção da Usiminas. Como a Acesita tinha muita terra, o Dr. Derico é que sabe, ele já comprou uma quantidade, para todo lado naquela região o Dr. Derico ia comprando tudo para poder plantar eucalipto, né e fazer as plantações de eucalipto, né? E tinha a fazenda daquela área da Usiminas que era da Acesita. Então a Acesita entrou como acionista na construção da Usiminas fornecendo
o terreno. Você sabe que a Usiminas tem uma légua de comprimento. Aquilo tudo a Acesita que forneceu. E deu suporte, da infra-estrutura. Naquela época Cemig ainda não tinha mandado energia para lá. Então quem supria energia ali para aquela região, era a Usina de Sá Carvalho, que é da Acesita. Porque
a
Acesita começou com a Usina de Sá Carvalho. Porque a origem da Acesita... A Acesita começou, privado né, o Percival Farquhar e Jacques de Morais. E depois o chegou aqui o, como é que chama?
P1 - Amynthas?
R - O americano lá, o Percival Farquhar era judeu, né? Ele dava assistência ali em modelos industriais, construção de empresas essas coisas assim.E deu suporte a eles e falou: "já que vocês têm essas jazidas em Itabira." Porque são donos daquelas jazidas, metade daquelas jazidas eram deles. "Então vocês podem, seria interessante que vocês construíssem uma usina de fabricação de aços especiais." Você sabe o que é que é aço especial?
P1 - Eu até já li alguma coisa, mas eu gostaria que o senhor me explicasse.
R - Então, aço especial, muita gente diz assim: "aço especial é aquele que tem níquel, que tem cromo, que tem aquele negócio todo, inoxidável." O inoxidável é um aço especial. Mas chama-se aço especial, aqueles aços que são fabricados e que tem uma garantia de atendimento daquelas propriedades que se exige dele, né? Física, químicas, aquelas coisas todas, né? Se nós queremos propriedades de resistência à corrosão, então nós podemos fazer um aço resistente à corrosão. Que é o tal do aço da Acesita, que é o aço inoxidável. Mas se nós queremos um aço que trabalha com cargas alternadas, suscetível à fadiga e esforços muito grandes. Isso aí por exemplo, tem até uma história que na Alemanha, na época da Alemanha nazista, né? Que ela queria bombardear Paris com um canhão tão grande, dando um tiro da Alemanha acertava Paris. Naquela época, foi justamente na época que o Titanic afundou. Por que é que o Titanic afundou? Porque bateu num iceberg, não é? E por que é que batendo no iceberg ele quebrou? Porque naquela temperatura aquele aço fragilizou. Por isso é que ele quebrou, rachou e desceu. Então, se ele fosse um aço especial ele ia aguentar. Então, aí no caso, por exemplo nesse caso da Alemanha que eles queriam dar um tiro lá da Alemanha até Paris, né? Aí é que eles verificaram que tinha um projeto de desenvolvimento dos explosivos, para a carga do canhão e tinha do próprio material do canhão. E eles foram desenvolvendo tanto os explosivos que chegou num ponto que o canhão dava um tiro e explodia para trás. Então eles questionaram,
por que é que o canhão não aguenta essa carga. Porque tinha que aguentar. Então tem que fazer um aço especial que aguente essa carga, essas condições aí dentro. Por isso é que vem esse nome Aço Especial. Aí que o alemão passou a chamar o chamado _______. O alemão o _________. E esse projeto todo foi desenvolvido ali.
(pausa)
P1 - O senhor estava falando o que é que são aços especiais.
R - É porque aço especial é aquele aço em que ele cumpre com rigor aquelas propriedades exigidas dele. Então é por isso que chama aço especial. Então o que é que os alemães fizeram? Projeto e falaram: "nós vamos produzir aço especial." Começaram a investigar por quê é que o aço não acontecia aquelas coisas. Então descobriram uma série de propriedades que o aço deveria ter e que tem para cumprir para que ele atenda àquelas condições. Isso então desde o processo de fabricação, a escolha da matéria-prima, o processamento, as propriedades que tem que tomar durante o processo, os acabamentos e o controle de qualidade. Tem que ser, de uma maneira, extremamente rigorosa e fornecer o certificado de qualidade. Daí é que vem a garantia da qualidade.
P2 - Por que é que o senhor acha que foram os alemães que desenvolveram isso?
R - Por que eles é que começaram com isso. Com o projeto deles nessas funções. Por causas dessas conversas todas que tem aí, que queria acertar Paris lá, que o canhão explodia. O outro lá, o Titanic lá arrebentou por causa daquelas coisas. Então tinha que ter aquelas condições. Por isso é que tinha que desenvolver um processo e que daria a condição de garantia da qualidade que o aço vai cumprir aquilo. Então, isso é aço especial. O Percival Farquhar então, recomendou que a Acesita fosse produtora de aço especial.
P1 - No Brasil ninguém produzia aço especial?
R - Ninguém produzia aço especial. Só importava da Alemanha, da Suécia principalmente. Porque o americano também não tinha essa fabricação assim lá. Era muito falado na Europa, Alemanha, França, Suécia, essas regiões aí dentro, na Rússia. E que tinha então esses fabricantes e que detinham essa tecnologia, essas características. Mas então o Percival Farquhar era um sujeito que conhecia o mundo inteiro. E falou: "Então fazer aqui no Brasil", como o minério do Brasil é muito bom, de alta concentração em ferro e baixa concentração de impurezas, tais como enxofre, fósforo, que tem elementos nocivos que perturbam as condições do aço. É isso aí que faz com que o aço deteriore ou, à vezes pode até melhorar, se você adicionar determinadas outras coisas nele, em vez de melhorar ele piora. Então era para se montar uma usina em Itabira. Mas naquela época, Itabira não tinha energia suficiente para se fazer uma usina de aço especial lá. Então para fazer aço especial nós precisamos de energia. Energia nós não tempos. Então nós temos o Rio Piracicaba aqui que desce aqui nessa região. E desceu. Saiu e desceu o Rio Piracicaba afora.
P1 - Mas a idéia de ser em Itabira anteriormente era por quê?
R - Era por causa da jazida. Da jazida de minério de ferro de altíssima qualidade, aquele minério de ferro e que permitia o acesso ali, de se fazer uma usina ali. Mas a infra-estrutura, principalmente a parte de energética, principalmente a parte elétrica, não dava condição. Aí eles desceram o Rio Piracicaba abaixo até chegar em Sá Carvalho. Aí acharam que em Sá Carvalho dava condição de se fazer uma usina hidrelétrica com capacidade suficiente para montar uma usina siderúrgica de aço especial. E também utilizando o carvão vegetal, porque em abundância das matas ali. (pausa) Então, para se fazer uma hidrelétrica, demandava um investimento muito grande a Sá Carvalho tem um túnel, fazer um desvio do rio, represamento ali em Antônio Dias. Antônio Dias era a sede principal daquela região, dali para frente tinha praticamente para mais nada. Então, fazer um túnel para ser o suprimento da hidrelétrica ali de Sá Carvalho. Um túnel de dois quilômetros. Eles até contrataram uma firma americana e pegaram o pessoal que tinha lá dentro com o sistema de furação e desenvolveram. Mas os recursos financeiros iam cada vez diminuindo porque montar uma empresa desse porte aí dentro ia sobrar muito pouco para outra. Tem até uma cena interessante, que tinha o chefe do laboratório metalográfico, que depois trabalhou comigo. Era um sujeito autodidata, sabe? Também nunca foi à escola, mas ele de tanto ler e para poder a aprender as coisas, ele desenvolveu inglês, literatura, etc. Era o Geraldo Peixoto. E ele era especialista nessa área de furação de mineração, essas coisas. Ele trabalhava lá com o americano e me contava lá as histórias. Tem um lance interessante. Chegou num ponto que o dinheiro estava tão curto que não tinha mais combustível para o compressores lá para furação. E a sede da Acesita naquela época era o Rio de Janeiro. Aí ele informou lá que os compressores estavam sem combustível. Aí, lá do Rio de Janeiro informaram para ele: "infelizmente o dinheiro está curto, não está dando para mandar o combustível, dá um jeito aí". Aí ele chamou o Geraldo, esse que foi dar essa informação. Ele falou: "então você vai lá, pega esse rádio aqui - naquela época era radiograma que passava -, e vai lá, enfia lá no compressor e vê se ele liga com esse rádio com essas informações que você está me passando." "Mas..." "Vai lá e faz isso". Aí ele foi lá e voltou. "Ele ligou?" " Não." "Então informa. Responda o rádio agora. Infelizmente eu coloquei o rádio nos compressores e eles não querem funcionar. Mande combustível, nós precisamos combustível." Aí eles ficaram meio bravos. Chamaram ele lá no Rio. Aí no Rio de Janeiro lá, o presidente fez a maior exposição para ele, que a situação essa, aquilo lá dentro era essa. Acabou a história e ele acabou de falar, fez a exposição toda, aí ele virou para o presidente: "Você sabe que eu furo túnel? Tem 30 anos que eu furo túnel. O senhor sabe por que é que eu nunca furei um túnel para mim?" Ele falou: "não." "Porque eu não tenho dinheiro. Manda combustível." Aí que a Acesita começou a pegar dinheiro do Banco do Brasil e o Banco do Brasil acabou assumindo. Quando ele assumiu a Acesita, parece que ela ficou com seis por cento só do capital e o Banco do Brasil com 94%. E aí ela passou a ser uma empresa controlada pelo Banco do Brasil. Mas o Branco do Brasil como é um banco agrícola né. Se fosse um desses bancos de características industriais ele teria interesse. Mas caiu aquela batata quente nas mãos do Banco do Brasil. Aí é que o Banco do Brasil começou a ver umas pessoas então, a nomear os presidentes da Acesita e conduzir o restante do, os financiamentos. Mas segurando, né, de vez em quando ele dava, o que sobrava e dava para Acesita. E a Acesita teve então que comprar naquela época da fundação, os equipamentos, equipamentos nos Estados Unidos, aquelas coisas todas. Equipamento usado, né, para baratear. A não ser o alto-forno. Até o projeto inicial do alto-forno foi um projeto que veio dos Estados Unidos. Foi um projeto para trabalhar a coque, ele teve que ser adaptado àquelas condições. Então esse foi o primeiro estágio. E depois, para transformar a produção do ferro gusa em aço, eles optaram por um conversor que é mais barato. Chamado conversor Bessemer. E o conversor Bessemer nunca fabricou aço especial. Então a Acesita, desviando da linha dela de como fabricar. Então montaram a forjaria, também usando martelo também usado, que eles compraram de segunda mão, aquelas coisas todas e passou a fazer uma linha primeiro de fabricação de ferramentas agrícolas. Essa é a linha da chamadas ferramentas, enxada, pá, picareta, facão então isso aí...
P2 - E não era feito de aço especial então?
R - Aí é para fazer de aço especial que exige todo um estudo. (pausa) Então a Acesita nessas condições era uma situação meio precária. A mão-de-obra também que a Acesita tinha naquelas épocas, o nível do pessoal era muito precário. Então o nível que ela conseguia no máximo é pessoal que tinha curso primário. Então era gente assim, pego, como se dizia, a laço. E levavam lá para fazer um trabalho, o chefe mandou fazer assim dentro daquelas condições. E os próprios chefes também naquelas condições. E aí, como é que ia fazer para desenvolver essa parte chamada aço especial. Nisso, essa época vem a entrada da indústria automobilística.
P1- Década de 1950, mais ou menos?
R- Nessa época então que entra a indústria automobilística fazendo simplesmente montagem. Agora a indústria automobilística como a Acesita se propõe a fazer aço especial, nessa família de aços especiais, vem os aços para a fabricação dos componentes de máquina. Ou seja, num carro, quais são os componentes de máquina que tem? São as engrenagens, o virabrequim, tem a manivela, biela, semi-eixo, peão, coroa, essa parte do motor tem essas áreas do equipamento. E isso exige então aço de qualidade extremamente importante. Eles são às vezes, simplesmente aço carbono. Porque o aço é uma liga que é um carbono. Depois você começa a adicionar outros elementos e ele passa a ser chamado o aço pode ser ligado, né? E vai adicionando ligas aí dentro em concentrações diferentes. Então são chamados com um nível até me torno de 5% de adição de outros elementos, são chamados baixa liga. Agora então, a aplicação do aço é aço para a construção mecânica. Você tem os aços que trabalham da maneira estática, para construções, por exemplo em prédio, um coisa assim, ele é simplesmente para a construção civil. É um tipo de aço. Esse não é chamado de especial. Agora, um aço para a construção de peças mecânicas, então é chamado aço para construção mecânica para a fabricação de peças. E são chamados baixa até média liga, que eles tem elementos ligados, e satisfazem aquelas condições de uso. Então para se produzir isso aí, lá o conversor, simplesmente o conversor Bessemer até dava. Mas tinha que melhorar aquelas condições. Foi aí que o general Macedo Soares, que naquela época era presidente da Volta Redonda, ele passou a ser presidente da Acesita também, porque o general Macedo Soares tinha, além de uma formação de general, ele era engenheiro metalurgista com especialização na Alemanha. Então ele tinha um grande conhecimento dentro dessa área. O Banco do Brasil pediu então que ele desse uma entrada ali dentro. Ele daria uma orientação básica. Foi nesse caso que ele fez então um convênio com a Alemanha, lá em Krefeld, a DEV, Deutsch Edelstahl Werke. DEV é lá em Krefeld na Alemanha. Que é a usina, que na época é uma das melhores usinas de aço especial que tinha no mundo. Que apesar da Segunda Guerra, ela foi simplesmente protegida porque inclusive tinha interesse dos americanos de assimilar aquela parte. E não caiu nenhuma bomba em cima dela.
P1 - Era estratégico continuar de pé.
R - Continuar de pé. Então ele recomendou que se fizesse um convênio com a DEV e também na França, com marca do, agora me fugiu o nome do desbastador de barra da Acesita e que é francês. O Sessim (?). Então, com esse pessoal, que pediram então para fazer um plano de expansão, porque a Acesita já tinha o alto forno, o conversor Bessemer e tinha uns laminadores de segunda mão que era o chamado Trem 24 e o Trem 12. Que laminava o 24 laminava lingote pequeno, de 600 quilos, e o laminador de 14, 12 laminava barras menores ali dentro.
P1 - E era manual?
R- Era praticamente tudo manual. O pessoal tinha que pegar a barra na tenaz mesmo para chegar. O 24 que tinha uma mesa depois mais para adiante mais mecanizada. E aí foi que nessa época fornecia matéria-prima para a Forjaria e que ele forjava essas peças agrícolas lá dentro que era a parte inicial da Acesita. A Acesita começou dentro dessa linha. Então para se equipar a fornecer material para autopeça, inclusive a própria Forjaria da Acesita depois mais para adiante, mas tinha gente bastante boa ali dentro, com esse tipo de enfoque aí com o general Macedo Soares. Foi feito então um convênio na Europa e foi contratando gente. Uma parte do projeto da Sessim (?) outra parte da Alemanha e muito da laminação na Itália. Então tem os laminadores especiais lá dentro. Aí dentro desse projeto, seria interessante também que a Acesita partisse por linhas de materiais bastante específicos, tais como o aço silício, para fazer um núcleo de motor e transformador.
P2 - Foi daí que surgiu então a idéia do silício.
R - O silício desde essa época. Mas um outro processo, nesse é um processo que tinha chamado de laminação a quente. É o chamado laminação em pacote. Então é uma situação assim mais precária. Mas ao mesmo tempo, os laminadores para fornecimento de barras de aço, para as forjarias forjarem as peças dos aços especiais de construção mecânica, é que o, eles tiveram que adquirir novos laminadores. Lingotes maiores. E também para a produção desse aços seria necessário. Naquela época, para fabricar aço especial, quem fabrica aço especial seria naquela época então, o forno elétrico a arco. Lembra que eu falei para você o professor Augusto Barbosa? Baseado naquele protótipo dele. Mas aí ele já tinham desenvolvido na França. Passou aquelas tecnologias todas e desenvolveram na França. Então você tinha os monofásicos, trifásicos, aquelas coisas todas, então mais complexos lá dentro. Então eles projetaram e compram lá na Aciaria o Forno 1, que era um forno menos, de dez tonelada, e depois o Forno 2, que ia a 20 toneladas e depois mais para adiante o
Forno 3 que foi de 30 toneladas. Forno elétrico para a fabricação de aço especial. Aí com assistência da Alemanha naquela época. Como é que se poderia fabricar, se partia do ferro gusa. O ferro gusa é uma liga de ferro carbono, porque o teor de carbono é 4%. É muito carbono. O gusa transforma em aço quando você baixa o teor de carbono para menor do que 2%. Então a fronteira está aí. De zero até dois é aço, para cima é chamado gusa ou ferro fundido.
P1 - Aí ele tem uma outra utilização, o gusa?
R - É, tem essas outras aplicações que você vai desenvolvendo aí dentro. Cada vez que a tecnologia vai evoluindo e isso aí vai avançando. Então, nessas condições, como é que nós poderíamos a partir do ferro gusa produzido no alto-forno, queimar todo esse carbono, jogar no forno elétrico. Naquela época o processo para queimar teria que ser na base de jogar minério de ferro. Porque o minério de ferro tem óxido, tem oxigênio, então queima o carbono lá dentro. Mas isso exige muito esforço. Imagina você na boca do forno jogando minério de ferro lá dentro. Aquilo tudo é uma operação chamada de oxidação e gastava muito. Então seria melhor que primeiro esse carvão fosse queimado de outra maneira. Então usa o Bessemer. O Bessemer tem um sopro por baixo do ar que queima essa parte...
P2 - Conversor, é que é o nome dele?
R - Conversor Bessemer. O Bessemer é o nome do inventor. É interessante porque esse negócio de tecnologia, às vezes para ser aplicada demora muito tempo. O Bessemer, em 1867, bolou que se jogasse oxigênio no ferro gusa fazia aço. O pessoal gozava ele: "ah não, é uma reação exógena que produz calor e não deixa esfriar. Então pode fabricar." Então fizeram os testes e deu certo. Mas só que naquela época, em mil oitocentos e sessenta e tantos não tinha fábrica de oxigênio, para fornecer oxigênio puro, para poder usar nessas condições. Então como não tinha oxigênio, ele então deu um ajeitamento naquela solução. Então vai o ar mesmo. Mas com ar não dava aquilo que se objetivava só com oxigênio lá dentro. Então a primeira solução foi o conversor Bessemer. Só depois da Segunda Grande Guerra é que a tecnologia permitiu fábricas de oxigênio com custo barato. Aí é que veio o conversor básico a oxigênio que foi chamado LD. Aquele que faz a fumaça vermelha. Então esse daí, lá na Acesita tem lá. Então você pode utilizar fazendo essa queima. Mas naquela época então queimavam-se o carbono, primeiro só o carbono e o silício também, e os outros elementos, a remoção do fósforo, enxofre, lá dentro, seria feito no forno elétrico. Então a operação duplex, sopra no Bessemer e transfere para o forno elétrico. Aí do forno elétrico ficou mais fácil fazer então a fabricação. E a Acesita passou então a fabricar esses aços nessas condições. Para isso ela teve que trazer da Alemanha muito pessoal da área operacional, muito mestre. Na Aciaria vieram muitos alemães e os alemães. Eles ainda tinham aquela raça de "SS" e não admitia, o olho deles é que funcionava. Tem até um caso interessante o chefe do laboratório Bayard Nunes Peixoto. Ele arrumou o laboratório e tudo padrão, a queima exata, toda lá. E está lá o mestre alemão fazendo a operação dele lá. Calculava as adições lá e o negócio, "tem que dar tanto. E o que eu falo é." O sujeito não admite. Ia lá no laboratório e o analista: "não lá deu tanto?" "Não, corrige aí e põe isso aqui." Aí o Bayard chegou lá. O Bayard tinha um estopim curto. "Deu isso aqui e está sob padrão e eu não vou corrigir não." E ele virou para o Bayard "Eu te torço o pescoço". Bayard enfiou a mão na gaveta e ele tinha um 38 daquele da vigilância. Falou com o negão: "vou te queimar agora aqui" Ele abriu os braços. "Não, não," Aí quando ele viu que o Bayard espiou assim de lado ele fugiu saiu correndo ali ao lado da Aciaria, né? E o Dr. Rossi que na época era o diretor industrial e foi parar lá na secretaria. A Dona Diva que era a secretária do doutor, de repente o alemão passou correndo, abriu a porta do doutor Rossi pulou debaixo da mesa dele, ficou lá escondido lá. E passado uns instantes veio o Bayard "Cadê o gringo? Vou passar fogo nele." Então isso aí é para você ver o ambiente.
P2- Hostil.
R - Hostil.
P1 - Pós Segunda Guerra.
R - O outro italiano lá no laminador tinha o Evandro Caetano. O Evandro Caetano era chefe da laminação. Um engenheiro formado na Escola de Minas. Ele gostava de brigar. Jogou no Atlético aí. Ele então passou uma vez a chegar lá e, italiano daqueles típicos chorão que fala, e não sei o quê e brigando. O Evandro chegou um dia e virou lá para ele e disse: "você tem que fazer descer." "Não, não sei o quê." Lá perto do homens lá, e ele virou pro Evandro: "eu te quebro." E o Evandro não admitia um negócio desse, foi na casa dele, voltou no escritório, chamou lá esse italiano, era o Roveretti, Chamou o Roveretti e disse: "agora você vai falar se você me quebra, porque eu vou te dar um couro é agora." E desceu o pau. Teve um outro lá em frente ao Trem de Chapa. E um baiano, um desses alemães que chegava e ia impondo com o sujeito: "você vai fazer isso aqui." E o baiano disse: "Não faço!" "Não faz?" Puxou a garrucha e pá, no meio da testa do mestre alemão. Ainda bem que a cabeça dele é bem dura, que a bala resvalou aqui, e ele só desmaiou. A hora que ele ficou bom, já arrumaram um outro emprego para ele lá em João Monlevade. (Risos) esse era o ambiente, para você ver como a Acesita era, chegava, puxava aquela coisa. Tinha gente que, ali em Coronel Fabriciano foi preciso ir o capitão Pedro porque era um bang-bang danado. O capitão Pedro é que impôs a moral dele lá dentro. Ele pegava essa turma toda lá dentro, não tinha jeito de segurar e aí ele mandava a turma correr. Mas se você escapar, se não escapar vocês, estão fritos. Aí eles começaram...
P2 - E com os japoneses? Como é que era a convivência?
R - Japonês daqui a pouco eu vou chegar lá. (Risos)
P1- Vamos aproveitar, deixa eu mudar agora o disquete.
(troca de fita)
P1- Espera aí, como é que é, o bispo? Ele recebia um salário?
R- É, ele armou um sistema lá, depois eu vou falar. Um sistema de suprimento de carvão. O pessoal para trabalhar na mata, né? Então precisava de muita mão-de-obra. A Acesita passa a desenvolver aquela região toda. Cria escola, farmácia, hospital, atendimento. O pessoal não tinha nada daquilo. Em contrapartida ali naquela região. Doutor Alderico com o bispo lá de Mariana.
Resolveram criar, fazer uma terceirização, criaram a chamada Benepol, Beneficência Popular. Aquele pessoal, analfabeto quase, aquelas coisas todas. Então arranjava emprego para todo mundo lá. Mas pagava meio salário mínimo só. Então assim foi feita a operação do...
(pausa)
P1-
E me fala uma coisa, doutor José Luis, essas histórias todas com alemães e italianos. Assim, em que língua vocês conversavam? Eles aprendiam o português, era confuso?
R- A questão desses técnicos que vinham da Europa. O alemão era muito difícil ele se adaptar nas condições. Assim que terminava o contrato ele logo retornava.
P1- Não ficavam no Brasil?
R- Ele não ficava não. Mas os italianos perfeitamente, eles se adaptavam. Até hoje na Acesita tem esse pessoal por aqui. Eles ficaram aqui, não voltaram, mas os alemães retornaram. Eles permaneciam aquele período deles lá, terminava, aquele rigor deles lá da SS, né? Tinha até um deles lá. Era o Meneghini. O Meneghini era um híbrido de alemão, de italiano. Durante a guerra, diz que, acho que o pai era italiano, a
mãe, alemã. Mas ele era, ele era educado mais na Alemanha, né? E diz ele que era batedor do exército alemão daquela época. Então ele gostava de andar de moto. E andava com a moto, todo fazendo aquele estardalhaço, né? Naquela época o aeroporto da Acesita era do lado da Laminação. A gente ia para Acesita de teco-teco. Então tinha o aeroporto, o avião descia. E o Meneghini então um dia disse que ele era mais rápido que o teco-teco, na moto dele. O Meneghini, ele não falava nem português nem italiano nem brasileiro nem coisa nenhuma. Então era para entender naquelas coisas. “Meneghini sabe, a moto dele é mais forte que qualquer coisa”. Ele apostou com o piloto do teco-teco fazer uma corrida lá na pista de pouso. Então puseram lá o Meneghini e o teco-teco para decolar. E o Meneghini saindo na pista desenvolvendo, o avião quando atinge o fim da pista, ele puxou e saiu, né? E o Meneghini de fato ele estava na frente,
lá embaixo, né? Só que tem que a pista acabou e lá embaixo tinha a passagem da estrada de ferro. Ele caiu lá no meio daqueles buracos, passou mal lá naquele negócio, lá. Ficou com problema na coluna, aquelas coisas.(Riso)
P2- E ele foi mais rápido, né?
R- E ele foi mais rápido, né? Então você vê, o patrão do Meneghini, quando não falava direito, né? Tinha uma vez que ele lá na forjaria da Acesita, fabricava enxada, né? Então ele precisava de uma enxada na casa dele, ele pegou uma enxada, botou aqui debaixo da camisa. "Mas você vai passar na portaria com essa enxada?" "Pode deixar comigo, ninguém sabe." Chegou lá na portaria o guarda espiou para ele. Ele: "é, Meneghini barriga inchada." Aí o guarda da portaria: "Barriga inchada, você tem que tomar uns remédios para resolver isso aí. Aí você sara." O Meneghini está falando: "barriga inchada ó, barriga inchada." Aí: "não, você vai para casa, então cuida desse negócio." Meneghini falou, hem. Então Meneghini passou com a barriga, com a enxada na barriga." (Riso)
P1 e P2- Barriga inchada. (Risos)
R- Então, você, era um padrão, mas ele era muito bom, a área dele era Trem de chapa. Esse do silício. Aquilo era um verdadeiro sacrifício. O pessoal trabalhar a 60 graus de temperatura. e trabalhava 20 minutos e descansava 40 para fazer revezamento, né?
P1- Por causa da temperatura?
R- A temperatura do laminador do aço silício, você tinha que fazer essa laminação e tinha que ficar perto do forno e do laminador.
P1- Deixa eu entender uma coisa, laminar é esticar ele até ele virar uma chapa?
R- É, por exemplo, isso aqui ó, está laminado redondo ó, tá? Você produzir um material em bloco, quadrado, seção quadrada, você transforma, pode transformar em redonda, pode transformar em chato.
P11- Isso tudo é o laminador que faz?
R- É, tudo é o laminador que faz. Sem fundir, sem fusão, né? Apenas o aquecimento onde cada um tem uma determinada temperatura para se fazer essa operação, certo? Aí então você... o tipo das pessoas que a Acesita convivia aí dentro. Até os engenheiros, o pessoal que vinha também do exterior, esse pessoal era mais assim, sofisticado a situação. Até falei o tipo da casa que a Acesita colocava pro pessoal vir da Alemanha com a família, né? Essa casa que quando nós usamos lá quando casamos é uma das casas aí que tinha dois quartos e um banheiro no meio, essa posição. E na convergência podia botar dois casais. O pessoal todo. Então o pessoal permanecia um certo tempo e fazer então essa, esse tipo de assistência.
P1- Esse bairro, como que chamava, era o Bairro dos Engenheiros?
R- Era o Bairro dos Técnicos. Aquele que fica próximo da usina. Ali é o bairro dos técnicos. Depois tinha separado o bairro dos funcionários, o pessoal do escritório, aquela coisa toda, os médicos. É o pessoal que dava o outro suporte, aquela assistência. Isso aí até aquela igreja construída da Acesita, aquela matriz, grande.
P2- Aquela grande lá do alto?
R- Aquilo é o centro geométrico ali dos terrenos da Acesita, que aquilo tudo era fechado. O domínio ali dentro quem mandava era a Acesita. Não tinha abertura naquela época. Então o pessoal ficava, principalmente os europeus que iam para lá, eles ficavam todos ali no bairro dos técnicos. Os italianos, os alemães, o pessoal. E eles gostavam muito, tinham uns alemães lá dentro, que vibravam porque ali na proximidade daquelas lagoas. Aquelas pescarias, pegar jacaré, aquelas coisas. O Meneghini inclusive, esse que eu falei, a casa dele, ele montou um zoológico. Pôs uma onça lá dentro, e dava diploma de domador pros meninos que iam lá visitar a onça e entrava na jaula. Então ele tinha a onça, um macaco. Era um verdadeiro, na casa dele. Eles vibravam com isso. Tinha um deles lá que até hoje a pouco tempo ele voltou da Alemanha, que erra o Schultz. O Albim Schultz e ele vibrava com uma pescaria. E quando ele voltou falou: "ah, eu quero rever aqueles tempos que eu passava." Para ele era uma maravilha. Ele sentia que aquilo era um ambiente muito interessante para ele. Então esse era o tipo do contato que tinha lá dentro. E o nosso pessoal assim com aquele nível de, pessoal pego na mata. Muito rude aqui dentro da mata. Isso quando eu fui para Acesita o ambiente era esse. Que estava na época dessa expansão, que o Macedo Soares providenciou, que estava, inclusive a nova laminação, com os fornos elétricos, a vinda desse pessoal. Até quando eu fui para lá. Como eu gostava do alto-forno, me deixaram lá no alto-forno. Agora quando eu cheguei lá, nessa época fiquei uns dois, três meses. Mas tinha uma parte desse contrato que a Acesita já tinha um certo número de equipamentos para funcionar, ela precisava implantar o controle de qualidade. Então para poder implantar o controle de qualidade precisa ter o pessoal especializado dentro daquele assunto. Foi aí que eles acharam que o meu perfil servia para essa área de controle de qualidade. E passaram me conversando uns três meses lá, e o chefe da produção. Ah, o general Macedo Soares, tem esse detalhe, ele como sendo um bom general leva a companhia dele inteira. (Riso) Então tinha major, coronel, tenente, tinha todo esse staff lá dentro. Mas o coronel Moreira na época era chefe da usina. Ele a função dele era professor de metalurgia na Escola Técnica do Exército lá no Rio de Janeiro. Então ele tinha bons conhecimentos. Ele me passou muitas informações aí.
P1- Que ano que é mais ou menos isso assim?
R- Isso aí agora é 1961. Então nesse tempo, eles passaram. Eu ia pro alto-forno, ele me levava lá para sala do coronel Moreira lá dentro."Não, você vai trabalhar na Qualidade." Eu falei: "Eu não vou mexer com esse negócio aí. O que eu sei de qualidade, tem lá dentro lá. Eles ficam brigando lá, acha que o inspetor é o cara de dedo duro que quer afundar todo mundo. Eles brigam lá dentro. Até porrete eles têm lá dentro. Eu não vou entrar nesse negócio. O laboratório lá dentro, ninguém vai aceitar essas condições aí, né?" Foi então passaram algum tempo. "Não, você vai mostrar ao coronel Moreira. Eu vou te dar uma série de aulas aí dentro, lá." Que ele era professor, um bom professor, então fui aprendendo aquelas coisas lá. Tinha lá o assistente dele que era da laminação, ele era russo.
(pausa)
P1- Bom, então vamos continuar.
R- Mas então nessa época eles me disseram que nesse contrato com a DEV, com a Deutsche Edelstahlwerke na Alemanha, tinha sido contratado um profissional especializado em qualidade, que então eu como engenheiro recém formado eu deveria ser treinado por ele. Aí eu aceitei.
P1- Aí o senhor foi para Alemanha?
R- Não, ele que veio pro Brasil. E ele era de nacionalidade Iugoslava, mas formado em Berlim e trabalhava nas empresas lá da Alemanha, né? E como ele era iugoslavo ele tinha uma facilidade boa de aprender português. Ele falava iugoslavo, russo, italiano também, uma parte italiano e logo ele pegou, passou então a falar português. No começo a gente falava em inglês com ele, né. Três meses depois ele começava até a redigir. E tinha condições de fazer redação. Ele era muito competente. Então foi nessa época em que ele passou a nos orientar e professor e dando informações práticas para gente também, a parte teórica e a parte prática, como é que a gente devia estruturar e nós fomos fazendo essa estruturação, essa mudança. Arrumamos, rearrumamos todos os laboratórios metalúrgicos. Os sistemas de acompanhamento de material, porque aí exige, como é um aço especial vai exigir a garantia da qualidade. Você tem que fornecer o certificado de qualidade e tem que assinar. Eu tinha que assinar depois embaixo que estava garantindo aquelas propriedades todas. Tanto a composição química como as propriedades físicas, resistência, dureza, e todas as características do material que saía, porque a Acesita já tinha e começou a estabelecer o contato com os fabricantes de autopeças aqui no Brasil. Por exemplo, a Crupe lá em Jundiaí era a principal ali dentro. Que a Crupe, a Volkswagen se instalando, e Crupe é que fornece peça para Volkswagen, né? Então nós tínhamos que mostrar que nós tínhamos que produzir aquele padrão de qualidade. E nosso concorrente aqui é o nosso amigo aqui de Belo Horizonte aqui, alemães, que é a Mannesmann, né?
P1- A Mannesman.
R- É, o pessoal da Mannesmann aqui que também fornecia material para Crupe, né?
P1- A aço silício?
R- Não, isso aí é o aço de construção mecânica.
P1- Aço de?
R- Os aços para construção mecânica. São os aços, podia ser simplesmente aço carbono, pode ser baixa liga e média liga, mas com propriedade bastante definida lá dentro. São os aços especiais destinados à construção mecânica. Ou seja, construção mecânica é aquela destinada à fabricação de peças e equipamentos mecânicos. Por exemplo aí, uma peça do carro aí, não sei quê. O virabrequim, tem a biela, tem a engrenagem, tem pião, você tem eixo, semi-eixo, mola, a barra de torção do Volkswagen aquilo era um desespero a gente fornecer aquilo lá. Que aquilo é um dos piores para se garantir, tinha que aguentar 300 mil ciclos por segundo de carga para poder então. Por isso que o Fusca ganhou o mercado assim, porque a filosofia do pessoal era garantir um produto nessas condições. Nós chegamos a, nessa época, fornecer para Volkswagen e para Crupe, as exigências deles eram tão grandes que atingiam o nível do chamado americano o Aircraft Qualit, que era a qualidade de aviação. Até falei para ela, o Fusca é só botar a asinha nele que ele voa.
P2- Não tem perigo, né?
R- É, não tem perigo. Então passa então a garantir o material nessas condições. E aí conseguimos, mas custou para gente poder ajustar todas essas condições. Para fazer isso aí, nós tivemos que preparar o pessoal, aqui o meu currículo aqui ó, tem um curso de treinamento em inspetor. Aqui, Curso de Controle de Qualidade para Inspetor. Depois de eu ter aprendido aqui com o Madonique. Eu tive que digerir aquelas condições e transformar, colocar sob
a forma de um curso para treinar o pessoal, todo pessoal na sequência que estava acompanhando durante o processo, nós tivemos que fazer isso aí. Tive que escrever o curso aí para ele, aí dentro dessas condições. Por isso é que nesse período aí eu tinha adquirido uma quantidade suficiente de conhecimento, que aí na escola de Minas, de Ouro Preto estava precisando de um professor dentro dessa área também. Aí que eles me pediram que eu fosse dar aula lá em Ouro Preto lá, 1964, 1965. Então é um caso estranho, né, que eu tinha aluno que antes era meu colega, né?
P1- Fazendo o curso do senhor.
R- Que sempre foi meu colega, eu passei a ser professor dele depois lá. Então eu permaneci uns dois anos, nós saímos todo fim de semana lá da Acesita, a estrada ainda era meio precária, não tinha asfalto ainda até naquela época, né? Nós tínhamos que, até Nova Era não tinha asfalto. Só a partir de João Monlevade aí para diante é que tinha asfalto. E era uma verdadeira epopéia fim de semana. De vez em quando a gente perdia no meio do caminho, né? Era nós procurando o caminho para Ouro Preto, ele dizia que eu estava feito o Vasco da Gama. Procurando o caminho mais curto da Acesita para ir para Ouro Preto. Então chegava, uma noite nós perdemos lá dentro, tive que entrar dentro de um rio.
O meu carro era um Fusca. Bati no barranco, subi, até chegar do outro lado ali, saía lá em Mariana, já. A situação. Aí eu fiquei dois anos nesse esquema, a Acesita me permitiu. Depois o meu tempo foi ficando mais escasso lá, aí ela não deixou mais eu dar continuidade. Daí que eu só voltei a dar aula depois que me aposentei. Aí eu voltei a passar lá dentro para poder trazer aquelas informações. Aí, nesse período, até junto com o meu instrutor, o Madonique. É que é esse trabalho aqui “As inclusões não metálicas nos aços”. Eu tenho ele aqui.
P1- Depois o senhor pega que a gente vai fazer uma catalogação também de algumas coisas e aí é um outro, é o trabalho que o senhor fez?
R- Na apresentação da Acesita, aí nós já tínhamos condições de apresentar a nível nacional na Associação Brasileira de Metais, lá em São Paulo no Congresso da ABM, apresentamos o primeiro trabalho sobre esses problemas que tinham aqui na fabricação dos aços. Nessa época foi considerado um dos bons trabalhos. Ele é citado até em bibliografias, esse trabalho aí, né?
P1- Depois da gestão do general Macedo vem a gestão do?
R- Agora depois do general...
P1- O doutor Wilker?
R- Não, aí vem o Demerval, vem o Demerval Pimenta. Aí foi na época, daquela época do João Goulart. E o Demerval Pimenta tinha, aí vem os problemas políticos, né? Aí o Demerval Pimenta é que veio e o levou como diretor industrial o, Amintas, o Jacques de Moraes, né? O Emílio Jacques de Moraes. Ele até já é falecido. Ele era novo, mas trazendo um pessoal assim, precisava então ter um pessoal mesmo dentro dessas condições. Aí foi um período que nós ficamos sobre aquela ação aquele processo da renúncia do Jânio, que o João Goulart e o movimento grevista da época do João Goulart. Foi uma época muito crítica que nós tivemos na Acesita em que o pessoal parava a usina no grito. Não se programava nem parar numa greve não. Eu tinha até um auxiliar do meu secretário, que aí eu já estava aqui na minha função como chefe da qualidade, né? Tinha lá o meu, o auxiliar do meu secretário, que era um agente subversivo daqueles, né? Que fazia aqueles movimentos todos de promover greve, aquelas coisas todas. "Ah, se você não parar." Porque aquela época, eu acho que a estratégia daquele governo foi anarquizar com a ordem do país, né? Aquilo tudo, quer dizer, que eles podiam ter as razões dele, aquelas coisas, mas não era fazer aquela anarquia toda que tinha lá dentro. O rapaz, quando chegava assim, ele era secretário do sindicato, chegava lá e pedia o telefone lá do meu secretário e ligava lá pro diretor industrial. "Ô Emílio, vamos fechar essa geringonça aqui para balanço? Amanhã nós paramos isso aqui." Aí começava assim no oba-oba, né, partia o pessoal. Quer dizer, parar duas mil pessoas assim naquela sequência. E parava mesmo. E punha gente para fora mesmo, punha piquete lá na frente. O meu irmão, esse que é casado com a irmã dela, que era o chefe da Aciaria. Eles não deixavam ele entrar lá dentro, ele tinha que parar a Aciaria. Você não podia parar com o metal líquido no forno, com o metal líquido lá dentro.
P1- O quê que acontecia com o forno?
R- Virava um bode daquele, isso, era um monumento lá dentro, aquela situação, né? E aquilo era um problema sério. E isto nós tivemos que conviver durante aquele período inteiro. Até que houve a revolução.
P1- Mas chegou a ter prejuízo sério lá dentro com as paradas?
R- Teve, teve. A Acesita teve muito prejuízo com isso aí. Uma parada dessas lá era coisa que você, no fim a gente mesmo tinha que pegar na massa lá dentro. E providenciar para poder conseguir os faturamentos que, a Acesita, a situação financeira dela era muito precária. O Banco do Brasil não abria mão, que tinha a gente para poder sobreviver lá dentro, quantas vezes nós ficamos lá fazendo serviço manual lá dentro. Amarrando pacote de aço. Agora tinha uns que gostavam de operar a ponte rolante. A turma que brigava para ser operador de ponte.
P1- Por quê?
R- Ah, porque andar na ponte é bom. É lá em cima. Você já viu uma ponte rolar na esteira? (Riso) Então, conduzida pelos engenheiros lá dentro.
P2- É a ponte pinça, esta que você falou?
R- É aquela ponte, ela desliza na parte superior do teto do galpão. E ela tem os guindastes, o sistema para poder pegar a carga lá embaixo, levantar e levar, carregar, né? Então para fazer isso, era acionada por motor elétrico, aquele negócio todo, né? Então quando acontecia isso lá dentro, tinha a turma ia ficar disputando quem vai ser operador de ponte. E um outro lá vai ser o amarrador, eu vou ajudar a amarrar os pacotes. O outro era o pintor. Tinha o sujeito fazendo o, o Elídio _____ Neto, ele era engenheiro, hoje em dia ele mexe nessa parte de, como é que é, de fiscalização, essa parte...
P3-Assessor de Fiscalização.
R- É, então, até o irmão dele era envolvido com esses terroristas naquela época. E ele era muito parecido com o irmão. Teve uma época que ele veio aqui a Belo Horizonte, eles confundiram ele com o irmão lá e prenderam ele, né? (Riso) Nós tivemos que achar o Elídio aqui para levar ele, pedir o pessoal com influência aí dentro. "Esse aí não é o que vocês estão pensando não." Então traz ele.
P2- Trocar um irmão pelo outro.
R- É, trocar um irmão pelo outro ali dentro, né? Mas aquele ambiente naquelas condições. Até tinha alguns engenheiros lá dentro que ficavam envolvidos com o sindicato rural, querendo montar esquema de sindicato rural. Eram sindicatos assim mais subversivos, rural, que tinha naquela época.
P1- A Liga Camponesa.
R- Era, as Ligas Camponesas. Tinha também o outro que era, tinha uns bolivianos, tinha uns peruanos também muito envolvidos dentro desse assunto. Então quando houve aquele, a revolução, em 1931, que o pessoal assumiu, foi uma debandada geral. Tinha gente que sumia para todo lado aí dentro aí. E inclusive também aqueles engenheiros que trabalhavam com a gente. Nós tínhamos uma equipe de engenheiros que trabalhavam com a gente, eles voltaram pro Peru, foram lá para terra deles nunca mais apareceram por aqui. Outros eram filhos até de magnatas aqui de Belo Horizonte, dasapareceram, nunca mais voltaram lá. Só sei que de repente só fiquei eu e mais um ou dois só lá. Então não tinha mais gente, teve que refazer o time todo. Eu tive que voltar lá na escola, achar mais gente para poder ir trabalhar, montar outra vez a nossa equipe e dar continuidade. E tinha ainda reminiscência daqueles grupos que fazia agitação dentro da usina. Quando menos você esperava o negócio estava sendo sabotado. Tinha área lá dentro lá que eles sabotavam mesmo.
P1- Como que sabotavam assim?
R- Em vez de fazer o trabalho de um jeito, fazia do outro para poder não, ou prejudicar a produção ou mandar material fora de especificação, não cumprir o compromisso daquela situação.
P2- E o seu setor que cuida da qualidade.
R- Eu tinha que dar a garantia. Tinha que estabelecer essa garantia dar essas condições. Mas foi uma...
P1- Complicado. (riso)
R- Foi muito complicado.
A gente tinha que fazer essa tensão aí dentro aí e selecionar o pessoal, verificar que é que podia e quem que não podia. Nessa época aí então é que houve a modificação da diretoria. Nesse tempo, depois do Demerval, aí foi o, aí é que foi o Wilker.
P3-__________
R- Não, o _________ foi primeiro, depois foi o Demerval primeiro. Aí depois do Demerval, tem uma seqUência.
P2- Posso pegar o livro ali?
R- Pode.
P1- Depois tem o doutor Wilker.
R- É, tem o Wilker Moreira Barbosa, mas antes dessa finalização, aí tem o, já a situação da usina começou a regularizar, a funcionar de uma maneira mais decente. É nesse aí que tem. Então foi quando no Rio de Janeiro teve. É foi, o José Brás Ventura entrou, o doutor Ventura. Depois do Demerval foi o doutor Ventura, O Wilker vem depois do Demerval, por isso é que estava confundido achei. Então o doutor Ventura. Ele então, nesse período aqui, no Rio de Janeiro houve uma reunião da Associação Brasileira de Metais, um congresso da ABM, em que o pessoal pretendia trazer um especialista para se fazer uma exposição sobre a possibilidade de se fabricar aço inoxidável no Brasil. Então daí é que vem a idéia da fabricação do aço inoxidável no Brasil.
P1- Que época que foi isso? Só para gente registrar.
R- Foi na época do...
P1- Do senhor José Brás Ventura.
R- José Brás Ventura.
P1- Entre 1964 e 1966 mais ou menos?
R- Nesse período. Um congresso da ABM, desse congresso anual, veio um conferencista da Alemanha, lá da DEV desses especialistas e que ele ia fazer uma palestra sobre quais seriam as possibilidades de se estabelecer aqui no Brasil, uma produção de aço inoxidável. Porque na Alemanha já tinha se desenvolvido bastante isso aí. Ao mesmo tempo a Armco nos Estados Unidos, também tinha desenvolvido. E na França, a Armco na França eles estão associados aí dentro, né? Na produção desses materiais. E veio então, como é que ela chama, alemão?
P3- Heinrich Hellbrugge.
R- Heinrich Hellbrugge. Ele já tinha trabalhado no Brasil, aqui na época da Belgo-Mineira, porque ele era, ele participou da patente do conversor LD. E ele era especialista também nessa área. E ele já esteve aqui no Brasil, trabalhou na Belgo-Mineira e depois trabalhou na Villares. Esse aí estava ótimo.
P1- Vida boa, né?
R- Mas ele trabalhou na Villares, quando ele trabalhou na Villares, ele gostou muito da secretária dele e casou com a secretária. Ela era pernambucana. Então, mas ele voltou para Alemanha para ser diretor lá da DEV. E levou a família também, levou para lá. De maneira que ele tinha facilidade também de fazer a exposição em português. Nesse período aqui, aqui não tem o nome do diretor financeiro, ele que estava substituindo nessa época o José Brás Ventura. E ele assistiu a palestra do doutor Hellbrugge lá na ABM. E o doutor Hellbrugge ele disse, depois de fazer a exposição completa sobre aço inoxidável, ele achava que a Acesita seria a usina ideal para poder então desenvolver essa parte do aço inoxidável.
P2- De que ano que foi esse congresso?
R- Esse congresso foi aqui nessa época, se não me engano foi em 1965, eu tenho quase certeza em 1965.
P1- E por quê que ele achou que a Acesita seria o ideal?
R- Porque a Acesita tinha
uma infra-estrutura estabelecida. Que permitia uma certa facilidade adaptar para, porque ela era uma usina de aço especial.
P2- Já era uma usina...
R- É, porque seria as duas usinas de aços especiais que tem no Brasil seria a Acesita ou a Villares, mas a situação da Villares, ela não tinha uma condição tão mais estabelecida do que a Acesita. E achava então que na Acesita seria melhor. E isso o diretor financeiro da Acesita ficou tão entusiasmado que fez um convite para ele. "Você quer deixar lá e vir ser o nosso, trabalhar com a gente aqui?" Ele aceitou, fizeram um contrato com ele meio mirabolante. Naquela época eles pagavam para ele cinco mil dólares por mês e mais despesa completa de casa, etcétera, transporte, aquela coisa toda. E quando, a Acesita tinha uma produção de duas mil toneladas de barras na expedição por mês, se atingisse o valor de três mil, se não me engano acho que eram três mil toneladas por mês, ele passaria a participar também do faturamento da Acesita, com meio 1%. Se atingisse sete mil, ele passaria a receber um por cento. Então o Hellbrugge chegou na Acesita, a gente sempre ficava naquela ansiedade, quando a gente estudava aqueles assuntos, como a direção da Acesita era mais política. Em que os dirigentes e junto com o Banco do Brasil, o Banco do Brasil lhes interessava só a parte financeira. Então não se enxergava aqueles caminhos. A gente queria as coisas, mas eles não deixavam.
P2- Vocês já falavam em fazer inoxidável?
R- Já, o, aço inoxidável nós começamos a fazer até nesse período no forno elétrico. Nós já tínhamos, eu vou te mostrar até um facão que eu tenho aqui.
P1- (Pausa) Bom então, o senhor estava falando que a Acesita já tinha feito algumas experimentações para fabricar?
R- Já, experiência nossa de, como se fosse
num esquema mais relativamente piloto. Mas nós já tínhamos produzido e laminado naquele laminador de chapa, mesmo tipo manual, nós já tínhamos fabricado chapas, principalmente aí para fabricação de nessa parte de cutelaria, sabe? Esse, dos aços inoxidáveis de mais alta dureza. Para certas aplicações nós já tínhamos feito. E tinha obtido um resultado até satisfatório. Mas não estava com um acabamento de superfície. Por exemplo, para barras a gente podia fazer, você tem a barra aqui.
P1- Isso já em que ano, que você já?
R- Esse aqui a partir dessa época a gente fabricava.
P1- Já 1965?
R- É, a partir dessa época a gente já tinha um processo de fabricar barras e conseguia laminar e dar o acabamento na descascadeira com polimento aqui, está vendo? Em forma de barra. Isso aqui é produzido nesse período. E aí então como ele trouxe, fez o contrato com o doutor Hellbrugge nessa época, nessas condições. Mas ele ainda exigiu mais, falou: "Eu vou ser a pessoa, a autoridade máxima lá dentro da usina, ninguém vai interferir lá, não quero saber nem de diretor lá dentro.” Todo mundo que tem diretor, sai daqui e vai tudo para sede lá pro Rio de Janeiro e não vem me perturbar aqui não. Isso aí que ele exigiu.
P1- Carta branca.
R- Carta branca. Eu quero carta branca. E foi para usina, chegou na usina ele só tinha um conhecido dele, um engenheiro conhecido que era da Villares, o Carlos Passergi que ele tinha que ter uma pessoa só do apoio, mas só um, ele levou lá e depois ele reuniu a equipe toda dos técnicos que ele tinha na Acesita, conversou com cada um, como ele tinha um conhecimento muito grande de siderurgia no mundo inteiro, né? Ele sabia o que era certo o que era errado, né? Quais as dificuldades que a gente tinha. Tinha problema da superfície das barras, tinha que montar equipamento de limpeza de superfície para melhoria, tinha a operação do forno, o pessoal ainda carregava minério lá dentro do forno. Tinha a produção do ferro gusa, lá no alto-forno. E a capacidade de produção dele, ele considerava ainda baixa. Então ele reuniu todo esse pessoal, a equipe técnica, todos os departamentos, discutiu com cada um e para cada um disse: "bom, isso daqui pode, isso não pode, você vai ter isso, aquilo e aquilo," Forneceu as condições todas. Chegou até a dar bônus também de produção no final do faturamento, o pessoal podia participar também. Então a turma pegou aquele. Isso aí foi em dezembro.
P2- Dezembro de 1965?
R- É, foi em dezembro. Quando foi em março ele teve que ir para Europa para buscar a família dele. Ele deixou até o Passergi lá com a gente. "ó, vamos ver se vocês atingem essas duas mil e quinhentas toneladas lá no final desse período aí, vocês já estão livres para poder fazer." E foi para Europa buscar a família. Quando ele voltou, nós já tínhamos atingido aquela meta, dentro daquelas condições. Ele simplesmente comandou e deixou o pessoal fazer o que tinha que ser feito, né? Esse é o trabalho de equipe que ele desenvolveu lá dentro, e o fulano de tal pode fazer com o sicrano. Ele conhecia todo mundo lá. Então aquele jeito dele assim mais austero, aquelas coisas, mas era um sujeito até fácil da gente lidar com ele, né? Eu me lembro que eu pedia para ele, ele que pedia aquelas condições. Ele me chamava de Luis, né? "Ô Luís, eu preciso fazer isso aqui. Dentro daquelas condições, né? E no alto-forno, o alto-forno, como ele foi um projeto para forno a coque antigo. Ele tinha só, porque o alto-forno tem o sistema de soco de injeção de ar na base, no cadinho, em redor do cadinho, é o que são as chamadas ventaneiras, que sopra, são as soprantes que saem lá. Então a potência de sopro que faz o forno, aquele sistema você pode acelerar, né? Então chegou no alto-forno."Esse cadinho está muito estreito aqui. Vamos dobrar esse cadinho, em vez de seis bota doze ventaneiras aqui." Bota mais um compressor soprando lá na frente, para gente aumentar essa quantidade. Então vamos melhorar. O alto-forno estava produzindo em torno aí de 200 toneladas por dia, dentro da capacidade do inox, precisamos botar pelo menos umas 400 toneladas por dia. Fazer isso aqui nós precisamos ter a gusa para produzir mais aço aqui. Então deixa, olha. Lá na Aciaria como eles trabalhavam naquele sistema do Bessemer soprava o primeiro, depois passava pro forno elétrico. Falou: "não, mas esse negócio hoje em dia, não tem mais nada disso não." O Bessemer vai fazer os aços dele e o forno elétrico não precisa mais passar o gusa lá no Bessemer, porque hoje em dia, em vez da gente estar jogando pá de minério lá dentro, a gente enfia uma lança de oxigênio dentro do forno aí. E isso aqui a gente duplica a produção dele lá dentro. E ele como participava da patente da LD, que foi desenvolvido, sabia do que estava falando. Então vamos montar a lança de oxigênio. Lá na laminação ele melhorou a qualidade do sistema da escarpagem da superfície para remoção dos defeitos, produzir as barras em melhor condição, né? Então daquele negócio todo, né? Aí o alto-forno passou a produzir 400 toneladas por dia, a Aciaria dobrou a produção dela. E o material lá na frente saía. Então o negócio lá na frente era uma beleza. Todo dia de manhã ele estava lá embaixo na expedição para saber quanto é que tinha saído, do negócio lá dentro lá. E a turma naquele ritmo, né? E o negócio funcionando, uma beleza. Um diretor aparecia lá! Ó lugar de vocês é lá no escritório. Não vem aqui dar palpite não." Então tinha lá o, então depois mais para adiante, quando chegou o fim do ano, quando chegou mais ou menos lá para setembro a produção
tinha sete mil toneladas. Aí a Acesita falou assim: "como é que nós vamos pagar o homem agora?" (Riso) Não tem mais dinheiro. Nessa época trocou a diretoria. Saiu o diretoria do doutor Ventura e entrou o Wilker. Até o vice-presidente, o Jardel, quando o Jardel chegou lá ele expulsou ele lá de lá, disse que o Jardel não tinha nada que dar palpite. Aí o Jardel começou a fazer um campanha falando, "nós temos que tirar esse homem daí, porque não...".
P1- O alemão.
R- É, o alemão daí, "porque não tem jeito não, como é que nós vamos pagar ele aí? Então, aí ele já mostrou o que tinha que ser feito aqui dentro, já deu a situação a gente pode rescindir o contrato dele." Aí perguntaram para ele se ele tinha a carteira do Crea. Ele não tinha carteira do Crea, nada, naquela época. Entram com essa conversa mas essa conversa não pegou não que eles tiveram que indenizar o homem lá. Ele recebeu mais de uns 500 mil na época lá de indenização. Aí ele mudou, foi lá para São Paulo. Aí o pessoal ficou muito sentido lá. Mas aí o Wilke entrou, ele manteve as condições estabelecidas lá naquelas condições. Foi aí que a Acesita deixou de ficar no vermelho e começou a apresentar resultados. Aí o Banco do Brasil viu que era um empreendimento rentável. Ele demonstrou dentro dessas condições. E passou então a aprovar o plano de expansão, esse plano de expansão da Acesita para produção de aço inoxidável, expansão nessas condições. Foi então, nessa época em que aí o plano foi aprovado, mas aí houve uma mudança política, foi então o Wilke saiu e entrou a Amaro Lanari Guatimozim, que é um mais técnico ai dentro ele que entrou com um novo pessoal. Só ficou aqui o doutor Jardel, que era o vice-presidente dele e o doutor Frederico Albuquerque.
P1- E aí na gestão do doutor Amaro é que vai se implantar a expansão?
R- Na gestão do doutor Amaro que vai implantar a expansão. Aí ele fez uma série de modificações, estruturação. Levou um pessoal com outras áreas de conceitos de administração. Levou lá, o diretor administrativo dele era o Domingos Mouchon. Que chegou lá para implantar lá a filosofia de administração por objetivos. Essas condições todas, encheu lá as áreas lá dentro de seleção, de treinamento. E que ficou então reestruturado. Mudou gente de lugar, aquela situação. Foi aqui nessa época aqui. Então que eu estava pensando, se nós vamos fazer uma expansão, nós temos que, uma expansão ainda mais essa de produzir aço inoxidável e aço silício de grão orientado. Sendo que o aço silício de grão orientado é muito mais complicado que o inoxidável de fazer.
P2- A expansão previa a produção os dois?
R- Dos dois, então foram fazer um contrato, aí foi feito a contratação da empresa foi junto na França, a Suferit (?) na França. Era o, não me lembro lá que ia fazer o contato com a gente o monsieur Varrir (?) e o outro era o irmão do ____, eu me lembro que tivemos que andar com eles. Depois nós estivemos lá na Europa com eles para poder então acertar, mas então houve o projeto e quem seria o fornecedor dessa tecnologia. Aí a Suferit (?) achou interessante acertar a Armco no Estados Unidos. Que a Armco tinha essa parte mais desenvolvida, inclusive, além do inoxidável o silício de grão orientado.
P1- Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor, no começo o senhor me explicou o quê que eram aços especiais e depois o aço silício, né? Queria que o senhor me explicasse assim, o quê que é o aço inoxidável, qual é o processo que leva ao aço inoxidável.
R- A característica do aço ficar inoxidável a formação de uma película de óxido sobre a superfície do ácido que impede que o processo de corrosão progrida. Então como forma essa película, você já viu por exemplo aí esse revólveres de cano escuro, preto? Quando eles escurecem faz aquela oxidação na superfície, forma aquele filme preto na superfície, impede ele de enferrujar. Bom, aí completando mais, colocando uma substância melhor para formar um filme protetor na superfície, o elemento principal, o principal desses elementos aí dentro é o cromo. Então quando você associa o cromo na ordem aí, no mínimo aí de dez por cento, acima de dez por cento de cromo na composição do aço, quando há uma tendência de oxidar, forma o óxido de cromo na superfície e ele impede que essa oxidação continue. Esse é o mecanismo do aço inoxidável. Por isso que o aço inoxidável você não pode estar se esfregando nele aqui, imediatamente o contato, você está removendo aquela película que está aqui em cima. Aqui em cima tem uma película que está impedindo. A mesma coisa acontece ao alumínio, a alumínio também acontece isso com ele, por quê que o alumínio não enferruja? Porque cria uma camada de óxido de alumínio na superfície dele que impede que a corrosão continue. Agora os outros não, por exemplo só o ferro, o óxido de ferro, depende do meio também. O tipo do meio, não precisa só meio atmosférico, se é por exemplo ácido orgânico, por exemplo vinagre, etcétera. Se é ácido químico, ácido sulfúrico, clorídrico, cada um desses tipos aí dentro. Nós temos um livreto separado, da Acesita, tem isso aí, ela explica direitinho. Isso pode. Tem esses detalhes aí dentro e mostra justamente o tipo de característica e no aço inoxidável tem também a presença de outros elementos, tais aí, por exemplo, como o níquel. Quando a gente quer que o material tenha uma deformação mais pronunciada, mais profunda, então é o caso da gente utilizar o níquel. Por exemplo, você tem essas, tipo desses copos aí, cadê os copos?
P1- As baixelas, essas?
R- Isso aqui é um pouco profundo, profundo nós chamamos, profundo nós chamamos um copo de aço inoxidável. Você tem então aí então se você adiciona o níquel, que o níquel ele faz com que o material fique mais plástico.
P1- Mais maleável?
R- É, ele é mais plástico, você consegue fazer naquela dimensão toda, naquela profundidade que exige. Mas a característica mesmo do inoxidável é o cromo, é que vai dar isso daí. Então tem a chamada dos aços inoxidáveis com cromo e tem os aços inoxidáveis com cromo e níquel. Isso é uma repuxada profunda, está vendo? Esse aí você pode verificar, você tem um imã aí? Esse aqui é não magnético, porque a presença do níquel faz com que a estrutura cristalina dele, a presença de determinados elementos na estrutura cristalina ele será magnético ou não magnético. E não quando é só com o cromo você vê que o imã pega, esse aqui o imã não pega. Então você sabe a diferença que tem existe aí dentro. E ele tem essas características de tipo de aplicação que você vai utilizar e tem também a ocorrência dos outros elementos menores, por exemplo o teor de carbono, você tem... (pausa) Ele tem essas características e aço inoxidável também a superfície dele é muito importante, o tipo de acabamento de superfície. Então tem diversos tipos de acabamento de superfície, né? Quer ver?
P1- Queria que o senhor me falasse. Dependendo do tipo de acabamento tem um uso diferente?
R- É, uso diferente, ele pode ter a superfície simplesmente tipo um brilhante fosco, pode ser um brilhante escovado, pode ser um brilhante espelhado. Então depende do quê que você vai fazer com ele que você tem esse tipo de acabamento. E isso durante o próprio processo dele lá dentro. Então é extremamente...
P2- Ele já nasce com um destino, então, de acabamento?
R- Quando você vai produzir, você programa com aquelas características de qualidade, porque quando você vai fazer um produto, você expia lá no final como é que aquele produto tem que ser, daí que você trás para adiante para estabelecer o processo. E durante o processo você garante que ele vai ter aquelas condições.
P1- Agora, nessa época, 1966, 1972, qual que era o mercado no Brasil de aço inoxidável, o quê que se vislumbrava?
R- Existia um, justificou, então o estudo de mercado justificou, que aquela quantidade e podia a partir da entrada, como se a Acesita fosse fabricar aqui no país, você começar, o marketing começa a ser feito e ampliar a utilização. Você vê nessa parte de cutelarias. Você tem na parte na fábrica de produtos de laticínios, de alimentos, tudo aí é inoxidável, material cirúrgicos. Então hoje em dia vem até nas estruturas de construção hoje aí, você tem cada vez maior aí dentro aí. Depende aí do custo, o pessoal pensa e dessas aplicações, mais a questão da estética, essas coisas de... A necessidade de utilizar mesmo, você aí fábrica de alimentos, fábricas de produtos químicos. Destilarias, etcétera, essas coisas todas. Então hoje em dia você em uma destilaria de petróleo essas coisas todas. Você tem essas fábricas de produtos de laticínio, você tem de alimentos, toda essa, e a parte das estruturas de construção aí dentro, elevador, tem pia, você usa muito a utilização para pia é muito grande.
P1- Qual que foi o desafio assim para, quais foram os desafios na estruturação da usina para passar a fabricar nessa escala maior. Porque parece que você tem um marco que eles sempre falam, que é 1977, que é a laminação a frio. O quê que mudou?
R- A laminação a frio, o que vai mudar, o processo de fabricar o inoxidável é bastante específico para se obter isso aí. Então, se você quiser vê isso aí, depois que eu saí da Acesita teve aí umas variações aí dentro aí da nova direção. Eu não falei ainda como é que vai preparar o pessoal, tem que ter um pessoal preparado, extremamente complexa o processo dessa produção do metal líquido, depois transformar. Porque você produz o metal líquido, transforma ele, primeiro solidifica numa placa, essa placa depois é laminada a quente. Da laminação a quente é que ele entra num processo de remoção da camada de óxido da decapagem, aí ele entra num laminador a frio, o laminador a frio é que vai dar as características finais do material que ele vai sair como produto lá na frente. Então toda essa linha é muito específica, do inoxidável. Então depois que eu saí da Acesita, passado uns três ou quatro anos, deu uma série de problemas, porque o pessoal mudou o sistema de administração e o negócio baixou, né?
P1- Deu uma queda?
R- É, então aí, quê que é que aconteceu? O pessoal está desaprendendo aquela situação. Aí eles me pediram que eu voltasse lá, para fazer, que aí entra inclusive uma nova unidade em operação, para preparar, repreparar o pessoal lá dentro. Eu fiz até um trabalho lá, foi até montado em áudio, a linha da produção a frio do aço inoxidável. Fiquei um ano inteiro lá na rede de montagem. O negócio que você tinha que preparar o indivíduo que ia ter que fazer a gravação lá, tem que ser a áudio, para poder tem que falar, tem que saber o que está falando, porque não vai botar na cabeça dele para poder acertar, passar. E a turma o conjunto todo e o pessoal também que tinha lá dentro para poder acertar isso aí dentro. Montei isso aí tudo outra vez lá. Então aí passado esse tempo, daí para diante acho que eles retomaram naqueles itens e depois mudaram a propriedade, entraram os franceses, que os franceses têm especialização lá da França, usina e também enxergam e enfocam de outra maneira. Não é ficar aqui de leigo, igual aconteceu aí dentro, que o cara achou que simplesmente era falar, ir na prateleira e tirar o negócio, não sai não.
P1- Agora nessa época dessa expansão de 1966, 1972, o quê que mudou assim na fábrica mesmo. Quais foram as melhorias da fábrica para produzir esse inox?
R- Então aconteceu o seguinte, o inoxidável, ele não precisa de alto-forno. Ele pode carregar, preparar o metal líquido no forno elétrico e joga no conversor. E o próprio conversor, é um conversor especial que trabalha com dois tipos de sopro, um com oxigênio, nitrogênio, aquele negócio e produz, que era o tipo AOD, hoje em dia tem outros aí dentro também mais evoluídos. Então ele produz o material com teores, por exemplo, de carbono. Que é muito importante nesses casos o teor de carbono ser muito baixo. Baixíssimo valor para evitar o problema da corrosão intercristalina, da precipitação de carbono no controle de grão. Então isso faz com que esses equipamentos têm que... Então a Aciaria teve que ser toda implementada. Então o alto-forno para a Aciaria, aí vem, e o conversor LD. Aí a Acesita tem uma outra linha também de produção, de fabricação. Ela tem uma produção de chapa de alto-carbono, que nós tivemos que desenvolver essa linha e produzir dentro desse esquema, você tem que usar do conversor. A aço silício também no conversor. Agora o inoxidável é que você prepara a carga, pode ser só no forno elétrico trabalhando em conjunto com um conversor específico do inoxidável, certo? Então essas condições aí. Então aí tem um ponto interessante que nesse período o pessoal da ______ e o pessoal da Armco, quando se falava na produção de aço especial em conversor LD, ainda não tinha sido desenvolvido que produzia aço especial no LD. O LD só era produzido aqui na Belgo-Mineira, material comum, aço comum. E no mundo inteiro o conhecimento que o pessoal tinha, inclusive o pessoal da, os franceses, os americanos também, desconheciam como é que se fabricava esses aços especiais no conversor LD. E mesmo esses também de construção mecânica, esse material de barra para fazer peças, essas coisas todas, também, não se conhecia uma, ter esse conhecimento. Então nós tivemos que questionar, como é que nós vamos fabricar aço especial no conversor? Aí então que a nossa investigação que a Nippon Steel, na usina de Nagoya, tinha um conversor pequeno. Esse conversor pequeno dela é do tamanho do grande da Acesita, agora você imagina o grande lá. (Riso) Só a usina de Nagoya dá dez milhões de toneladas por ano. Uma usina só, dez milhões de toneladas por ano. E o conversor dela grande é 300 toneladas por vez na usina. E o nosso grande da Acesita era de 80, né? E pe igual, esse de 80 é equivalente a esse valor. Aí então é que houve. Isso aí foi nessa época de 1973 o pessoal estava projetando. Então primeiro ia fazer o seguinte, ia no projeto primeiro que tinha, era aumentar, construir o alto-forno 2, que é o maior forno de carvão vegetal do mundo, né? Para 1200 toneladas, produção de 1200 toneladas. Ele é todo moderno. Então foi projetado aquele forno. E a Aciaria, como é que ela ia oxidar esse carbono desse gusa toda lá dentro? E o forno elétrico, mesmo com aquela lança de oxigênio que o Hellbrugge ensinou a colocar lá. A Aciaria ia virar um verdadeiro tumulto de fumaça vermelha lá dentro. Aquele negócio ia complicar, né? Precisava ter um material, LD não podia fazer esse aço no forno elétrico. Aí que descobrimos que a Nippon Steel tinha na usina em Nagoya já desenvolvido esse processo de fazer os aços especiais no conversor LD, usar forno elétrico.
Então como eles tinham projetado, nessa expansão colocar na Aciaria mais dois fornos elétricos de 70 toneladas de ultra high power. Então eles resolveram primeiro checar se não tinha outra possibilidade de só fazer na LD. Aí descobriu-se que a Nippon Steel tinha essa tecnologia desenvolvida. Então vamos produzir no LD, transferir essa tecnologia para cá. Agora para transferir essa tecnologia para cá, nós tínhamos que preparar uma situação toda complexa aí dentro. Então para se fazer, para se desenvolver essa capacidade do pessoal, eu tenho até um pedaço do meu trabalho lá, nós colocamos, quais são as áreas críticas do fluxo de processo que nós temos que preparar as bases do nosso pessoal aqui dentro. Então tinha que fazer um programa de desenvolver o pessoal a nível de pós-graduação, para fazer as bases para depois pegar a parte operacional. E ao mesmo tempo a gente fazer um contrato de assistência técnica. Em 1973 eu fui parar lá no Japão, com a cara e a coragem, aquele negócio todo. (Riso) Aí levou um pessoal lá para ver, tem até uns retratos meus lá no Japão. Então verificamos que...
P2- Foi a primeira missão japonesa?
R- Foi a primeira missão.
P2- Eram três?
R- Nós fizemos durante 18 anos um bando de missões.
P1- Quem que estava nessa primeira missão, foi o senhor, quem mais?
R- Tinha eu, o Décio Xavier, tinha o Valtencir - se não me engano acho que o Valtencir até morreu -, tinha o Geraldo Ênio e o Jeremias. Quem sobrou aí dentro foi, tinha aí nessa missão. Chegamos lá nós não sabíamos nada como era o Japão, né? Então: "nijon, mo wakarimashita", né? Eu não entendo de japonês, né?
P1- Foi a primeira coisa que o senhor aprendeu?
R- Primeira coisa, que eu era surdo, mudo e analfabeto. Coisa que eu não podia nem entender o que eles falavam, porque tudo escrito em japonês, falado em japonês.
P2- Escrito em japonês.
R- Escrita que não entendia nada. Aí quando eu cheguei eu tive esse primeiro contato. Nós ficamos lá, fomos em outubro, voltamos no início de dezembro. Aí pegamos aquele frio danado lá em Nagoya, né? Porque aquele negócio lá. Aí, junto com essa missão. Aí o japonês nos mostrou, se prontificou. Todo japonês é muito atento a essas condições todas, para se montar. E principalmente, aí a Nippon Steel já tinha se instalado. Já era Nippon Steel. Então eles me mostrando lá dentro. E junto com Nippon Steel para se fazer, a Nippon Steel lá de Nagoya, ela não tem na fábrica de Nagoya não tem a fábrica de aço inoxidável. Agora, quem fabrica aço inoxidável lá em Nagoya é a outra subsidiária da Nippon Steel que é a Daido Steel. É lá na usina de Shibukara, da Tichita. Hoshizaki, na usina Hoshizaki e na usina Tichita. E tem a outra de aço ferramenta mais ao norte do Japão, daqui a pouco eu lembro. Então nós tínhamos que ver isso aí, mas a base seria conseguir a transferir a tecnologia da fabricação do aço especial no LD, para confirmar. Aí nós verificamos que constava dessa possibilidade. Aí o projeto mudou então para situação de fazer o LD. Eliminar aqueles fornos elétricos, ia fazer aquela coisa meio incoerente. E deixar só essa parte para fazer essa produção. Foi então que nós tivemos o contato a primeira vez - aí é interessante -, a Acesita estava com a filosofia de administração por objetivo OPO, ninguém podia falar em outra filosofia a não ser isso, que ele que tinha que ditar essa parte administrativa. Aí chegamos lá e verificamos que os japoneses estavam muito entusiasmados. Que o Ishikawa ficava na garantia da qualidade já tinha desenvolvido com eles lá o processo do sistema do CCQ lá no Japão.
P1- Naquela época?
R- Naquela época, em 1973, o CCQ. Então para desenvolver um CCQ lá no Japão, qual seria a, como é que seria a filosofia disso aí. Eles já tinham conseguido em quatro anos, duplicar a produtividade. Obter todos aqueles objetivos, eles estavam vibrando com aquilo. Só que lá, esse CCQ deles lá, eles tinham associado todo aqueles valores, aquela filosofia base que tinha lá dentro, né? Primeiro, o homem é um ser pensante. Alguém já falou isso há muito mais tempo, que homem é um ser pensante. E se ele pensa, ele deve ser aproveitado aquilo que ele pode render. Ele não fica enfastiado numa filosofia de um taylorismo, onde o cara sai da fábrica apertando parafuso igual o Carlitos fazia, né, naquele negócio todo. Então se ele participa, se põe ele para pensar melhora muita coisa lá dentro. Então essa é a filosofia. Os movimentos da, a filosofia do indivíduo tem que ser centrada em três pontos básicos. Qualidade, a qualidade do produto só não, qualidade dele, qualidade do ambiente dele, qualidade da natureza do trabalho que ele faz. Se ele está cumprindo toda aquela parte lá dentro, aquela filosofia. A outra, ele tem que, ele teria que garantir que aquilo que ele propôs ele vai fazer, ele vai cumprir. E a produtividade é uma consequência dessa situação toda. E que as pessoas passem a analisar o seu ambiente de trabalho fazendo todas as arrumações possíveis dentro desses pontos aí dentro. Então você perguntava pro japonês: "como é que é, onde é que a gente começa aí." "Começa catando toco de cigarro no chão." Começa por aí.
P2- Quando eles vieram para cá?
R- Lá com eles lá. Arrumando primeiro, catando os tocos no chão. Aí você encosta na máquina, você vai, será que eu estou entendendo o que eu estou fazendo aqui? Senão vai acontecer igual tinha um sujeito lá na desempenadeira, pegava uma barra, a barra às vezes está assim. Você tem que passar na desempenadeira entre rolos e transformar ela retinha lá do outro lado. Uma vez eu cheguei na desempenadeira, estava um sujeito enfiando a barra. Aqui, ela saía mais emperrada do lado de lá do estava do lado de cá. Perguntei para ele: "Por quê que você está fazendo isso daí?" "Porque o chefe mandou eu chuchar isso aqui, ó." (Riso) Não sei o que está pensando. (Risos) Mas e a cabeça você tem aí para quê? É para pensar, né? E Decartes já falava sobre isso daí, né? Penso, eu logo existo, né? No discurso dele ele falava: "se você vai resolver algum problema em qualquer lugar, não é um problema só que tem lá dentro não. Tem uma série de problemas, você tem que levantar tudo que, os problemas que tem lá dentro, arrumar ele lá, estabelecer as prioridades, como é que você vai fazer para depois então, aí você aplica um sistema de trabalho para resolver e atingir aqueles valores aí dentro.” Isso tudo é que chama esse sistema desse CCQ que eles montaram. Que em japonês significa, no sistema participativo significa auto-desenvolvimento. Em japonês significa jisu kani ou seja, abreviação JK, é o sistema JK. (Riso) Então o sistema JK, então eles vibravam com esse sistema. Aí eu trouxe, passei a, eu achei muito interessante aquele negócio, participamos deles lá, eles mostraram como é que era. Aí quando chegamos aqui de volta aqui, as missões. Então a estrutura é assim, manda uma missão nossa lá vem outra de lá para cá todo ano. Fazer aquele sistema, aquela conversão lá dentro, não é? Aí quando eu cheguei aqui no Brasil, contei lá pro pessoal. O pessoal estava muito assim animado lá com. Aí eu falei, vou conversar com o pessoal lá. Falei com o doutor Jardel, que é o vice-presidente, doutor Jardel é muito enciumado, aquele negócio todo, aquelas coisas assim. Aí cheguei lá com o Muchon, mostrei para ele. "É, o sistema deles, isso aí parece um sistema de administração diferente do meu sistema por objetivo." Mas não é, isso ajuda até se você estabelece objetivo, então a gente monta isso aqui. Qual é a ferramenta base que o pessoal junta aqui dentro da, como é que eles fazem isso aqui? Como é que se monta isso aqui? Eles juntam, analisam aquilo lá, faz o brainstorm todo mundo gera idéia, depois seleciona, remonta aquilo lá dentro, monta o diagrama de Ishikawa, que é a espinha de peixe. Eles até começaram a me gozar na Acesita. "Ah, o dono da espinha de peixe lá." Aquele que fica naquele. Aí o ____ falou assim: "você que você não vai mexer com isso aqui agora não." "que posso fazer, é o senhor que está mandando. Mas vamos ver." Aí veio a primeira missão, chegou a primeira missão o japonês veio, foi lá na LD e fabricou os aços todos lá, né, nas condições que tinham que ser feitas.
P1- O inox?
R- Não.
P1- Todos?
R- Os aços de construção mecânica especiail. E ao mesmo tempo, como nós tínhamos contratado a Daido Steel, a Daido Steel tinha um forno para fazer o aço inoxidável o AOD, né, a ____ tinha aquele lá. Então são os dois conversores dentro daquelas condições. Bom, o japonês fez, todo mundo fez, todo mundo deslumbrado, aplaudiram eles, aquele negócio. Eles foram embora, o pessoal foi fazer não conseguiu fazer não. (Riso)
P1- Por quê?
R- Porque aí, teve até uma, na outra missão eles fizeram uma reunião. Aí o doutor Jardel perguntou lá: "como é que está o rendimento da transferência de tecnologia?" Aí o japonês virou para ele: "Dez por cento." (Riso) Ele falou: "ah, quê que é?" "não, porque tudo que a gente ensina, o pessoal, mania de vocês, aprende os negócios guarda na gaveta e fica lá guardado aquele negócio, ninguém aprende os mecanismos que tem lá dentro." Eu não podia também o _______ disse que eu não devia usar o sistema do JK, que podia perturbar o OPO dele, agora criou uma polêmica, não dá, né? Eu falei: "doutor Jardel eu sinto muito mas eu vou ficar desobediente aqui dentro." (Riso) Comecei a usar _____. Falei: "vamos montar o nosso modelo?" "Você tem então que fazer isso aí. Agora você tem que aprender que nós temos uma filosofia, a nossa filosofia de brasileiro a filosofia é diferente da filosofia do japonês. O japonês é kamikaze e nós não somos, né? Até eu contei até, contava pros japoneses, vibraram de saber, que quando o Kaiser na Alemanha convidou o Hermes da Fonseca para visitá-lo na Alemanha e estava tudo perfeito. Na saída, o exemplo da disciplina alemã, aquele negócio todo. O Hermes da Fonseca chegou, o Kaiser demonstrou e chamou: "soldado Hans, um passo à frente.” O soldado Hans deu um passo. "Puxa a pistola." Puxou. "Dá um tiro na cabeça.” Pá, caiu lá. Daí o Hermes da Fonseca chegou no Rio de Janeiro num navio, né? Chegou lá pro ajudante de ordens dele, falou: "quem é o mais disciplinado dos brasileiros?" "Ah, tem o João ali, um baiano.” Então soldado João, um passo à frente. Ele estava perfeito, impecável. "Puxe a pistola.” Puxou. "Dá um tiro na cabeça.” "Tu tá é besta!" Então tem que aprender que o brasileiro tem.
P2- Obedece mas não é assim.
R- Ele não é Kamikaze não. (Riso) Ele fala: "é, não dá tiro na cabeça." Não dá tiro na cabeça, mas o pessoal tem que aprender. Então nós tivemos que montar, remontar e montar um modelo, depois eu mostro para vocês aí esse esquema aí que é, eu consegui juntar. Aí tem o sistema da montagem e a dos grupos de trabalho. Aí o pessoal todo passa a analisar. Aí vem também o chamado PDC, que nós chamamos aí, o ciclo do aprendizado, o Cop. O Cop é uma tese dele que ele estudou no mundo inteiro. Porque o pessoal obtinha resultado, né, e outro não, verificou que o pessoal sabia, trabalhava de uma maneira organizada para poder então analisar, para poder então resolver o problema. Aí que você vem, o pessoal chega na área, que você faz primeiro quando chega na área para resolver o problema? Você tem que coletar dados, né? Pega os dados, em função dos dados, você vai fazer um diagnóstico. Quais são os problemas que você tem, né? Sabendo esses problemas, os problemas, você estabelece as prioridades. Você está vendo a filosofia do Descartes sendo usada aí. Você faz as prioridades aí dentro, aí você vai dar, então você resolver um primeiro problema, a primeira coisa que você faz é o quê? Formula uma teoria, né? Uma ou duas, diversas delas aí dentro aí para ver como é que é que resolve. Se você resolver, depois verifica qual delas aí que funciona, você tem que fazer um teste, né? Está vendo o _____, né? Então faz o teste, depois dela verifica a que é mais viável, aquela história que eu contei do Bessemer lá em 1867 ele bolou uma perfeita mas naquela época não era viável, só um século depois é que ela ficou viável, não é, porque ele teve que fazer uma solução intermediária que foi Bessemer, né?
P1- Para tá...
R - Então essa daí que ele deu aquela solução, aí depois que ele decide, implementa e aplica ao ciclo total. Quer melhorar? Roda mais, agora evita desse processo de ficar, então o pessoal tem que trabalhar com essa maneira, a equipe inteira tem que montar e fazer essas verificações, identifica e separa os problemas, aqueles problemas em que o grupo, o próprio grupo reunir que eles não tem nenhuma solução, nenhuma teoria sobre aquele assunto é o ponto que nós estamos querendo buscar lá na ciência técnica ó, é esse é o ponto, porque os outros que o pessoal traz para cá as vezes o pessoal fala. "Eu tô careca de saber como é que é esse negócio aqui, eu não quero saber disso aqui" então esse aqui, então saber separar aquelas áreas para poder receber a assistência técnica e fazer com que o pessoal fique preparado para receber aqueles conhecimentos que ele tá precisando, depois decidir, aí que o negócio funciona, tá?
P1- Então a mudança de mentalidade aí.
R - É, aí a filosofia toda está modificada.
P2 - E o senhor continuava no controle de qualidade ou já tinha passado para pesquisa?
R - Aí o negócio do controle de qualidade desde que o... (pausa). Aquele momento, o sistema lá da Acesita lá do COSIS é o simpósio interno, sabe aquele simpósio interno já tinha lá mas ele tava meio assim desanimado né, então eles me elegeram presidente lá, eu resolvi implantar isso aqui eu peguei o João Pinto lá que é o desenhista chefe de lá, desenha um negócio nessa ordem aqui, ele montou um, esse aqui ó, está vendo esse aqui.
P1 – Muito bacana.
R – Tá vendo, aqui é teoria com aplicação, ó a alavanca aqui ó, a roldana, tá vendo?
P1 – É, dados, teoria, teste, aplicação.
R – É.
Px – Da maçonaria, ao compasso, Deus é o arquiteto do universo, né?
R – Você sabe que eles removeram isso aí do COSIS?
P1 – Por quê?
R – Porque eles não entenderam. (Risos)
R – Fizeram concurso depois botaram “asinho”, na qualquer, né?
P1 – É, deixa eu perguntar uma coisa pro senhor: as missões todas ao longo desses 18 anos, elas visaram implantar essas questões de qualidade voltadas pro mercado externo também, tanto pro aço inox como pro aço silício.
R – Aí o que acontece depois é uma conversa que a gente vai falar mais depois aí, porque o que existia nesta, a usina nessa época ela ficou dividida em duas gerências, uma gerência que é ficou essa de produção dos aços, de consumo mecânico, de barras, etcétera, a outra ficou com a Armco, a outra ficou com a Armco, pessoal da Armco, foi sendo treinado nos Estados Unidos, e tinha uma sendo treinada no Japão.
P1 – Tá.
R – Então eu fiquei dentro daquela situação aí dentro porque eu tinha, primeiro eu fui treinado por alemão, depois então eu fui pro Japão, aí depois tinha o americano e um pouco francês no meio, né, tinha lá na França também aí, dentro dessas condições ficaram duas gerências, uma ficou, naquela época o gerente era o Frederico Meyer e na outra o Ruy Heinisch, nesse da Armco, né? Então durante muito tempo ficou assim, separado, só depois quando o Doutor Amaro saiu é que eles voltaram a fechar, então para poder fechar, então tinha uma filosofia do, esse sistema do japonês montada nessa equipe de cá, e tinha o outro sistema lá do com o americano, naquela época o americano ainda não tinha verificado que ele ia perder muito com a coisa com o japonês né, depois o americano passou para isso aí, né? Então quando ele chegou na, nesse, nessa época, o pessoal treinado na Armco simplesmente naquele processo recebe a receita e faça o que eu mandei, esse era o mecanismo que tinha lá dentro, agora ao mesmo tempo nós estávamos formando um pessoal, pessoal a nível de mestrado, a equipe, aí conseguimos estruturar o que o sistema da chamada metalurgia que nós unificamos e colocamos num padrão só.
P1 – Ah, tá.
R – Aí quando nós colocamos num padrão é que o mecanismo começou a deslanchar mais, foi uma coisa que aconteceu com o silício, o silício estava um negócio lá.
P1 – Mas eu queria perguntar uma outra coisa que volta a pegar o outro lado da, do trabalho na Acesita, né, que é quando vocês se casam e vão morar lá é...
R – Lá junto, né?
P1 – Lá junto, é, eu queria que você falasse o nome da sua esposa, para gente tá registrando aqui.
R – A minha esposa é a Leila de Andrade Pimenta.
Px – Muito querida.
R – Muito querida, casamos no fim de 1961.
P1 – O senhor já trabalhava na Acesita.
R – Nessa época tava trabalhando na Acesita, meu irmão também o Antônio, também...
P1 – Pimenta...
R – Pimenta, estava trabalhando na Acesita, de maneira que casamos os dois irmãos com duas irmãs e fomos morar juntos lá na Mula Manca, né?
P1 – Mas como que vocês se conheceram, os quatro aí?
R – Era vizinhança lá, como eu mostrei que morava naquela casa lá na Rua Paraná e ela na segunda casa ali para baixo, né?
P1 – Em Ouro Preto.
R – É, em Ouro Preto. Aí eu comecei a namorar e ele também achou interessante passar para lá dentro da família.
P1 – Mas, por quê que vocês foram parar na mesma casa?
R – Fomos morar na mesma casa porque a Acesita tinha essas casas de receber o pessoal da assistência técnica, que era casa construída com tipo de dois apartamentos, é como se fossem dois apartamentos, essa que chamavam de mula manca né, lá perto da casa de diretoria ela era construída assim, um apartamento para cá, o outro para lá, convergia na sala, depois na copa, depois a parte aquele ambiente. Aí como a assistência técnica da Alemanha não estava
vindo mais ninguém, a casa tava disponível, Doutor Alderico então achou a solução interessante, dois irmãos com duas irmãs, a gente tinha casado, então vamos propor para eles a venda das duas casas, arranjar duas casas para eles lá, arranjar uma só e resolvemos o assunto, e aí então começou, nós ficamos lá desse jeito durante sete anos. Aí os meninos do Antônio nasceram primeiro, né, dois homens e uma mulher, depois então, só quando nós separamos, quando nós tínhamos separado é que vieram os nossos, sete anos depois, aí vieram dois homens e uma mulher.
P1 – Agora vocês não falam Timóteo, a cidade, vocês falam Acesita.
R – É, porque o local é Acesita, o Timóteo era nome de um lugarejo, um lugarejo de passagem da estrada, né, passagem da estrada fica um tipo de uma região, então praticamente não existia, então o conjunto ali dentro como aquela área ela pertenceu a Acesita, todo mundo chamava Acesita, e de repente quando houve, depois da revolução que o… Como é que chama? O Magalhães Pinto resolveu separar de Fabriciano, Ipatinga de um lado, Fabriciano no centro e Acesita passar então a chamar Timóteo, houve então essa separação. Então o Fabriciano que ficou perdendo, ele tinha o rendimento das duas e ficou sozinho, né? Ele deixou a situação parada ali, e o Acesita mais para adiante é seria então Timóteo, houve até um plebiscito, o deputado ali Emílio Garbo naquela época que era o representante da região, o plebiscito votou a favor de transformar o nome para Acesita, mas ele com interesses outros ali dentro, ele deu um jeito de vetar isso aí, né? Uma decisão de plebiscito, nunca mais ele foi eleito.
P1 – E me fala uma coisa, os outros bairros tinham nomes engraçados, “Vai quem pode”...
P3 – Vai quem quer.
P1 – Vai quem quer, como é que era essa dinâmica dos bairros, das pessoas?
R – Não, porque a Acesita tinha os bairros construídos, montados estruturados formalizados por ela, os técnicos e os funcionários, e depois tinha o outro lá mais no fundo que tinha a olaria, a fabricação de refratários que chamavam então o bairro de Olaria e tinha o outro chamado também onde fica o cemitério do Limoeiro.
P3 – O Arataca.
R – É, o também chamado Arataca, então porque o cara morria “por ataca” né, e tinha Bromélias também.
P3 – Caixotes.
R – Não, esses eram os bairros montados, estruturados.
P3 – Alvorada.
R – Agora, como havia um excedente é do pessoal ainda ali ao redor ali dentro tem gente que saía, voltava começou haver necessidade de ampliar mais né, mas como para fazer uma, um atendimento assim, mais ou menos na base da quase de uma improvisação, é que montaram esses bairros com chão de madeira...
Px – Caixotes.
R – É, caixotes, era caixote, madeira com fabricação assim quebra galho pro pessoal lá, então não tinha rede d’água direito, esgoto ali, né? Então por isso que apareceu um lá, ah não tenho lugar, se você quiser vai para lá, vai quem quer, não é, então outro na entrada também, e o outro montado nos caixotes lá na frente.
P3 – Logo no início da Acesita.
R – É.
P1 – E vocês moraram lá quanto tempo?
R - Eu fiquei lá trinta anos.
P3 – Você ficou lá trinta e um ou trinta.
R – É.
P1 – Aí as crianças cresceram lá?
R – Meus meninos nasceram todos lá no hospital de Acesita e fizeram até o curso, completaram até para fazer o vestibular, aí o curso na, curso da Escola Técnica da Universidade lá do Caladinho, lá de Fabriciano, o atendimento muito bom, né? Eles fizeram o vestibular e passaram todos.
P3 – Algum deles é engenheiro?
R – Os dois, eu só pedi para eles não seguirem a engenharia do pai para ter mais opções, né? Porque se eu sou um engenheiro metalurgista não vou ter uma, arranjar uma usina para eu montar uma usina depois, né, agora ser engenheiro de uma outra formação é mais fácil, né?
P1 – Essa oportunidade que o senhor teve de participar da montagem.
R – É, mas aí essa oportunidade é muito boa, essas coisas todas, mas depois você aposenta, agora eu pergunto assim, o quê que eu faço, né, eu não posso comprar uma usina para mim. (Risos)
P1 – Agora o senhor comentou comigo a hora que a gente chegou que parece que isso é genético na família do senhor, eu queria que o senhor...
R – É, eu tenho uma herança aí dentro aí, desde o meu bisavô lá do fim do século XVIII, né? Ele era agrimensor, é o pai da minha avó, aí depois vem o meu pai também que resolveu fazer engenharia e o cunhado, tenho dois cunhados também eram engenheiros, né? Isso do meu lado, agora do lado da Leila a turma é ainda mais forte ainda, o avô dela, o Doutor Fausto lá da Escola de Minas, o professor lá de topografia, mecânica celeste, é o cara vivia no espaço sideral, então montou aquela, o pai dela é professor de metalurgia, né? Aí depois aí junta de um lado, aí junta do outro só acaba dando engenheiro aí dentro.
P1 – O senhor ia contar mais uma coisa que ficou faltando, eu não lembro direito o quê que era.
R – Isso aqui é para continuar, esse processo, esse sistema de trabalho pessoal aí dentro, né, que resultou aí sobre, para se fazer então a transferência, esse aí é para finalizar, a transferência de tecnologia é que nós então resolvemos, é, montar esse modelo da preparação do pessoal para esse sistema da transferência de tecnologia. E foi demonstrado logo, logo com os resultados que nós obtivemos, o próprio pessoal da diretoria admitiu que esse processo deveria ser inclusive até divulgado nas outras áreas da usina dessa filosofia do sistema do trabalho de preparar todos os departamentos todo mundo lá dentro para modificar então a filosofia de trabalho do pessoal, né? Os valores deles lá dentro e montar um sistema da estruturação de montagem de projetos, as carteiras de projetos dentro dessa arrumação, aí então cada departamento associado e associação também do das áreas da, de produção com as áreas de metalurgia.
P1 – Ah tá.
(pausa)
P1 – Do controle de projeto?
R – Essa é a síntese geral do controle de projeto, não é, aqui você tem o Q né, que resultado que se pretende obter, a equipe que trabalho no projeto relacionada aqui, depois quem faz o brainstorm estrutura então quais são as fases que tem que ser resolvido, programado, quem é o responsável é normalmente quem sugeriu aquela idéia, agora que você sugeriu você que faz, né? Isso tem que cumprir dentro daquele , então e o acompanhamento, então cada departamento
e cada uma dessas áreas a equipe, monta sua carteira de projeto porque toda essa estrutura é, faz a estruturação do, de uma área para colocar em operação você tem que entregar com os problemas todos resolvidos, né? Mas não para aí não, né? Você sempre tem que ter alguém nas áreas de solução do problema, então isso é prá, como mostra aqui o ciclo do aprendizado, é para vida inteira, né?
P1 – Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor, quando o senhor aposenta é mais ou menos na época da privatização.
R – Foi, depois que houve a privatização, eu aposentei foi em 1993, privatização foi em 1992.
P1 – 1992.
R – É.
P1 – E aí o senhor aposentou.
R – Foi nessa época, eu já estava aqui em Belo Horizonte, essa época que eu estava aqui em Belo Horizonte foi é, dois anos aqui em Belo Horizonte junto naquele convênio que a Acesita tinha com CETEC, o Centro Tecnológico. Então tinha é, a necessidade pessoal aqui a gente não tava combinando muito com a turma lá da usina não, então eles tinham montado para cá, então vamos procurar caminhos mais interessantes que eles estão com outra filosofia aí dentro então é, deixa a gente vir para cá, então tinha uma equipe aqui trabalhando...
P1 – Trabalhando no CETEC.
R – É.
P1 – Mas aí chamaram o senhor depois?
R – Não, isso depois, né?
P1 – É.
R – Agora é o seguinte, só mostrar aqui que esse processo que nós desenvolvemos eu tinha até uma apresentação que eu fiz lá em São Paulo, na Federação de Indústria, lá em São Paulo, mostrando o quê que a Acesita fez, quais são as áreas que ela teve que desenvolver, é, desenvolveu, e a partir dela quê que resultou mais alguma coisa, eu tenho até o trabalho aí, não tô achando.
P1 – Ah, depois...
R – Então você vai ver quantas áreas que nós resolvemos, quanta gente formada e quanto foi desenvolvido dentro desse valor e culminou, inclusive que lá na Coréia, lá em (Shon?), em __ lá em (Shon?), ela precisava dar startup na linha cidadão, ela nos contratou para dar assistência técnica para fazer a montagem e nós ganhamos a concorrência e faturamos, só nos gastos que nós tivemos para preparar o pessoal nosso aqui, na época ficou calculado mais ou menos em dois milhões e poucos de dólares, não é? Só nessa assistência nós cobramos deles três milhões de dólares.
P1 – Aí foi uma tecnologia, uma passagem de tecnologia às avessas, vocês foram pro Japão.
R – Aí nós passamos a fornecer a tecnologia
P1 – O know-how.
R - E demos startup lá.
P1 – Que bárbaro.
R – Aí depois com esse sistema que eles mudaram de dirigente aí dentro, foi aí que eu perdi um pouco os interesses lá nas coisas porque o pessoal tava com outras idéias, né? Ficou, então passado aí, eu já estava até já dando aula na Escola de Minas em 1996, eu aposentei em 1993, é, estava dando aula na Escola de Minas em 1996, 1997 já tinha decorrido aí dentro 5 anos, mais de 5 anos que a situação começou a dar para trás lá, né?
P1 – E aí chamaram de novo o senhor.
R – E aí me pediram para dar uma, refazer lá a, essa área do, essa área de treinamento dentro do inoxidável, aí tive que juntar e montar esse sistema todo, agora está gravado lá, se não usam ...
P1 – Eu tenho a impressão que eu vi na internet, inclusive.
R – Pode ver lá com o, quem é o que eu deixei, o Frederico Salles lá no treinamento que eu deixei o curso pronto lá.
P2 – Tem um curso gravado.
R – O curso é todo gravado com áudio.
P2 – Sales que ele chama?
R – É, o Sales atualmente está lá na fundação.
P1 – Deixa eu só, vamos só acabar a pergunta, porque aí a gente já vê isso, é, a gente está, o senhor hoje retomou aí toda sua trajetória, né, com engenharia dentro da Acesita, né?
Px – E pode estar certo que está emocionado.
P1 – É, a gente também fica.
R – Mas eu não te falei ainda sobre o serviço lá… (Risos)
P1 – Acho que eu vou ter que voltar aqui um dia.
R – Eu só vou te dar uma informação.
P1 – Pode falar então.
R – Então com aquela filosofia da Armco e a filosofia que nós tínhamos desenvolvido com o sistema japonês que é um sistema japonês é garantia total da qualidade, né, esse aqui, né? Então aí então se a gente vai obter aquele, esse tipo de produto né, aí ó, então, a proposta total da qualidade é isso tudo aí ó, né, então essa, esse aí, mas então quando o serviço da, for o último a ser formado, o Rui Heinisch então, não, a Armco decide que vai mandar toda receita da produção do aço silício orientado, é um aço muito complicado, eles tentaram passar essa transferência de tecnologia para na Suécia, e não conseguiram. Não é, aí eu falei para eles, o quê que vocês estão querendo, na Suécia não deu, o quê que vocês estão querendo aqui, né, então o pessoal pegou um sistema que a Arco tinha mandado que é uma da receita e executa daquele jeito, fazendo serviço de grão orientado, não deu.
P1 – Não?
R – Não. Não funcionou nada lá. O Rui Heinisch estava desesperado falava com a gente, “mas vocês estão enrolando a gente”, eu não falei para vocês, na Suécia não deu, o que vocês estão querendo, aí foi que o Rui Heinisch falou “ah vou”, já tinha feito seis campanhas, quando ele ia para sétima campanha aí eu falei “o Rui não vai nisso não que você não vai fazer não”, então ele falou, “então pega”, você vai ter que ter um pouco de paciência que nós vamos mudar a filosofia de trabalho desse negócio aqui, aí o peguei como gerente do projeto lá o Marco Antônio Cunha, ele é, fez doutorado em aço silício na Inglaterra, tá lá na usina, foi o Marco Antônio, foi aí que nós vamos montar o projeto total aí dentro usando essa equipe, não é, estruturamos, gastamos um ano e meio, pegamos toda aquela gente aí eu falei, “o Rui agora pode mandar a sétima campanha”, mandou, aí 70% do grão saiu grão orientado.
P1- Aí deu.
R – Aí nós avisamos a Armco, a Armco até assustou, né? Ué, será que vocês erraram em alguma coisa que deu certo? O quê que a Armco fez, a Armco mandou o cara que desenvolveu o aço dele lá, lá no laboratório de pesquisa lá no ___, então __, ele veio, e veio acompanhar com a gente, ficou três meses com a gente, nós fazíamos campanha sucessiva lá dentro, cada uma que fazia ia melhorando até a gente atingir os níveis lá, aí ele tinha um relatório, a Acesita desenvolveu o processo aí dentro aí, e passou então o contrato em vez de, passou a entrar então num sistema mútuo, né? Mudou o sistema de contrato e Acesita hoje depende da patente dessa área dela, tem só seis no mundo que fabrica esse aço.
P1 – E a Acesita é uma delas.
R – E Acesita é uma delas.
P1 – Nossa que bárbaro.
R – Quando deu aqui o problema do inoxidável lá dentro também, naquele período, que a turma tava meio assim né, aí se errou um pouquinho já tinha
também, né? Depois voltou aí com os franceses, eles deram suporte para eles, eles voltaram a, mas a Acesita fabrica isso aí, então essa, e é essa, e aí vai.
P1 – E me fala uma coisa para gente finalizar, a última pergunta assim, gravando, é, o quê que o senhor achou de ter revisado a carreira do senhor dentro da Acesita e essa experiência assim de ter trabalhado para Acesita esses anos
todos e agora está sendo chamado pro livro de 60 anos para contar essa história?
R – É muito bom.
P1 – É bom, né? Obrigada pela entrevista.Recolher