Projeto Associação Desportiva Cultural Eletropaulo
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Alberto Takeo Shimabukuro
Entrevistado por Luís André do Prado e Liliana Schnaider
São Paulo, 08 de Novembro de 1994
Código: ADC_HV020
Revisado por Brígida Veiga Batista
P - Ok, Takeo, então eu gostaria de começar assim com você se identificando pra gente, dizendo seu nome, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Alberto Takeo Shimabukuro, eu tenho 41 anos, nasci em 2 de abril de 1953 em Regente Feijó, estado de São Paulo, Brasil.
P - Certo, e como que era sua vida nesta cidade, como que foi a sua infância? Recorda um pouco pra gente.
R - Eu não tenho muito assim que recordar da infância, porque a infância na minha geração foi um tanto quanto... Um pouco triste, primeiro porque perdi minha mãe com 10 anos, acredito que é a idade que a gente tem muita energia pra queimar, né? Isso aconteceu em 1963. Aí viemos pra São Paulo. Em 1965, isso em março de 65. Aí viemos...Entrei... Morei um mês na Vila Santa Maria em São Caetano do Sul. E posteriormente, em abril eu vim para o Parque São Lucas. E iniciei o ginásio no Colégio Estadual Professor Mário Casassanta. E infelizmente nesse ano, eu repeti de ano, repeti de ano, por incrível que pareça em inglês [riso]. E por questões econômicas se eu pudesse teria pedido transferência para um colégio particular, né? Aliás poderia entrar na segunda série, aliás minto, repeti em francês. Naquela época, primeira e segunda série ginasial nós tínhamos o francês e o inglês na terceira, justamente em função disto que eu poderia transferir, mas não foi possível. Então já em função de eu ter repetido, meu pai nesse aspecto era um tanto quanto exigente, né? Então, me preparei pra quando chegar aos 14 anos, começar a trabalhar. E foi isso que aconteceu [riso], mas estudando à noite posteriormente.
P - Ok. Takeo, você perdeu sua mãe cedo, como você...
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Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Alberto Takeo Shimabukuro
Entrevistado por Luís André do Prado e Liliana Schnaider
São Paulo, 08 de Novembro de 1994
Código: ADC_HV020
Revisado por Brígida Veiga Batista
P - Ok, Takeo, então eu gostaria de começar assim com você se identificando pra gente, dizendo seu nome, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Alberto Takeo Shimabukuro, eu tenho 41 anos, nasci em 2 de abril de 1953 em Regente Feijó, estado de São Paulo, Brasil.
P - Certo, e como que era sua vida nesta cidade, como que foi a sua infância? Recorda um pouco pra gente.
R - Eu não tenho muito assim que recordar da infância, porque a infância na minha geração foi um tanto quanto... Um pouco triste, primeiro porque perdi minha mãe com 10 anos, acredito que é a idade que a gente tem muita energia pra queimar, né? Isso aconteceu em 1963. Aí viemos pra São Paulo. Em 1965, isso em março de 65. Aí viemos...Entrei... Morei um mês na Vila Santa Maria em São Caetano do Sul. E posteriormente, em abril eu vim para o Parque São Lucas. E iniciei o ginásio no Colégio Estadual Professor Mário Casassanta. E infelizmente nesse ano, eu repeti de ano, repeti de ano, por incrível que pareça em inglês [riso]. E por questões econômicas se eu pudesse teria pedido transferência para um colégio particular, né? Aliás poderia entrar na segunda série, aliás minto, repeti em francês. Naquela época, primeira e segunda série ginasial nós tínhamos o francês e o inglês na terceira, justamente em função disto que eu poderia transferir, mas não foi possível. Então já em função de eu ter repetido, meu pai nesse aspecto era um tanto quanto exigente, né? Então, me preparei pra quando chegar aos 14 anos, começar a trabalhar. E foi isso que aconteceu [riso], mas estudando à noite posteriormente.
P - Ok. Takeo, você perdeu sua mãe cedo, como você estava dizendo, como é que era a sua família, você morava com seu pai, quantos irmãos, tinha irmãs, como era?
R - É, nós morávamos... Meu pai, minha mãe, a família. E isso aconteceu, como é que fala? Morávamos com a família, com o falecimento da minha mãe, meu pai enviuvou cedo com sete filhos.
P - Sete filhos?
R - Então obviamente foi difícil de casar novamente, né? Então, tivemos que nos virar mesmo, se virar mesmo para a questão de sobrevivência, certo? Viemos para São Paulo com uma mão na frente atrás e outra atrás [riso]. Pra vir...
P - E seu pai fazia o quê, qual era o trabalho dele?
R - Meu pai era comerciante. Tinha uma fábrica de bebidas, em sociedade com outras pessoas em Regente Feijó. Mas daí truncou a sociedade e depois ele saiu dessa sociedade com um caminhão perua e começou a tocar a vida como comerciante e como caminhoneiro também, para a sobrevivência.
P - Você tem alguma lembrança assim mais forte com sua mãe, né, até os 14 anos deu pra ter uma relação com ela.
R - Não, eu tinha 11 anos quando do falecimento. Então estava começando aí o ginásio, né? E teve esse baque todo praticamente... Lembrança a gente não tem, o fato do falecimento dela é que fez com que a gente amadurecesse muito rapidamente. Então eu já... Essa passagem vamos dizer que todo mundo tem da... Dessa parte de infanto, infanto juvenil, a gente praticamente eliminou-se, né?
P - Mas até os 11 anos assim você lembra de brincadeiras que vocês faziam?
R - Ah, muito pouco viu, jogava bola. Ia mais em função dos irmãos mais velhos. Com eles junto, então, que eu me lembro assim era "Você quer jogar, então você joga no gol". Se não jogar no gol, não jogava, não participava, nem ia com eles, vamos dizer assim, nos locais onde havia esporte.
P - Ok, e... Você... Nesta fase de Regente Feijó [SP], você tem alguma memória forte da cidade?
R - Não, Regente Feijó eu só nasci viu?
P - Você não se lembra...
R - Porque os irmãos mais velhos são nascidos em Prudente [SP]. Eu e minha irmã que somos do meio nascemos em Regente, e os mais novos em Prudente. Acho que foi só um hiato da vida de meu pai que a gente morou em Regente e voltamos pra Prudente. Eu me considero, vamos dizer, bastante prudentino, vamos dizer assim, mas em função de morar bastante tempo em Prudente. Regente eu só sei que eu nasci, está no registro.
P - De Prudente quais são as memórias que você traz, esse seu tempo de vida lá.
R - Ah, muito pouco, essas coisas de infância, só, né? Depois de muito tempo, eu estive em Prudente, reviver um amigo, vamos dizer assim da época dos 5, 6 anos. Que a minha mãe ainda está enterrada lá. Então todo ano nós vamos época de finados. Japonês é muito rigoroso com relação aos mortos, então a gente vai todo ano. E não sei o que deu nesse dia. Me deu o estalo de rever a rua que eu morava lá. E que eu acabei achando, isso foi bastante importante, marcante pra mim ver esse amigo naquela mesma situação, tranquilo, seguindo o pai dele, trabalhando no posto de saúde lá. E eu em função de uma série de coisas, eu... Minha vida foi bastante oscilante, vamos dizer, assim, altos e baixos, coisa que eu vejo bastante em amigos na mesma de 20 anos atrás. Então isso pra mim foi marcante.
P - Você disse que o seu pai... Que japonês é bastante rigoroso, como que foi a sua educação familiar, Takeo? Seu pai era muito rigoroso, como que você vê esse relacionamento assim de família?
R - Não, meu pai foi um... É o que eu digo sempre pra todos que eu posso colocar, né, eu posso falar mais de meu pai do que minha mãe, porque a gente conviveu mais. Mas ele foi um cara que preservou bastante o aspecto de educação. Isso eu entendo também que foi fundamental para o progresso da nossa família. Que quando a minha mãe faleceu em função de brigas, de família, de herança, essa coisa toda, e ele sendo o filho mais velho, obviamente no fim teve que vender as coisas, dividir, né? E acabamos vindo com uma mão na frente e outra atrás, mas o fato que levantou a nossa família foi a união dos irmãos. Isso foi fundamental, meu pai também ele teve um senso de responsabilidade bastante grande em ter que trabalhar, criar sete filhos, não separar os filhos, um fica com a tia A, outro com a B, outra com a C. Manteve os irmãos todos juntos, isso foi fundamental, e investiu na escola de todos os filhos. Então a gente hoje todos os irmãos são formados, né? Entrou no mercado com bastante tranquilidade. E todos estavam vivendo não bem, bem, mas não estão passando dificuldade nenhuma. Então a gente está bastante satisfeito nesse aspecto, de levantamento. Foi então um cara que não deixou herança nenhuma, mas deixou uma coisa que fundamental, a união da família, isso ele foi um cara bastante persistente, né? E também no aspecto de cultura, de educação que faz com que a gente possa se virar, vamos dizer assim, principalmente aqui no Brasil que tem tanta diferenças. Principalmente a nível econômico, mas a nível intelectual, cultural, de educação, minha família não deve a ninguém não [riso]. Pelo menos nesse aspecto nós estamos iguais a todos. Nós deixamos nada pra trás não.
P - E sobre a sua ascendência como que você conhece a história dos seus pais, a origem deles no Japão, o que quê você sabe sobre isso que você poderia contar pra gente?
R - O que eu posso contar é que meus pais em função da guerra, né, vieram cedo para o Brasil e tiveram que se adaptar à nova vida aqui brasileira. Um fato que marca, por exemplo, é minha mãe, que ela é japonesa e ela para minha tia mais velha, tem uma diferença de 12 anos, entendeu? Então foi quando meu avô, né, veio para o Brasil, acertar, vamos dizer a casa aqui e minha mãe e minha avó estavam no Japão. Depois ele voltou para buscá-las e teve mais 6 filhos aqui no Brasil. Quer dizer, não sei se nos tempos de hoje aconteceria isso [riso], mas é uma fato que marca, né? O homem veio... 12 anos, 12 anos a gente falando assim é rápido mas mais de uma década. É...
P - E você sabe porque eles escolheram o Brasil?
R - Acho que não tiveram opção, em função da guerra, os japoneses vieram pra cá, como os italianos, né?
P - E outros familiares aqui no Brasil, você chegou a ter um relacionamento grande com eles?
R - Tenho... Tenho relacionamento com todos eles, ainda tenho...
P - Além dos irmãos eu quero dizer, tios...
R - Ah, meus tios, meus primos, temos né.
P - São muitos?
R - Tenho vários. Mas da parte do meu pai tenho poucos, vamos dizer, parentes, né? Tenho alguns primos, e da minha mãe a gente mantém contato também. Acho importante continuar dando seguimento, desse aspecto familiar, acho muito importante isso. A gente não demonstra, mas a gente preserva.
P - E o fato de você descender de uma família de imigrante, isso... Como que é isso no contexto da sua vida, você sente que isso cria uma proximidade maior com as colônias, com as famílias também de imigrantes, há uma agregação e há dificuldades também resultante disso?
a
R - Na minha.... No meu caso específico, eu tive pouca convivência com... Vamos dizer, com o pessoal oriundo da minha raça, né, da origem nipônica, eu morei em São Caetano do Sul, depois fui parar no Parque São Lucas [riso]. Então a gente vai se adaptando às condições, ao passo que meu irmão mais velho que já trabalhava, frequentava mais a Liberdade, essa coisa toda, ele teve mais convivência com o pessoal nissei do que eu propriamente dito.
P - Ok. Bom, vocês então vem pra São Caetano?
R - Viemos pra São Caetano.
P - E vamos recordar um pouco esse período, assim, você teve muitos amigos, teve uma convivência grande em São Caetano, como que foi?
R - Não, em São Caetano eu morei praticamente um mês.
P - Um mês?
R - Faltava muita água lá e nós fomos morar no Parque São Lucas.
P - O Parque São Lucas então foi o período que você fixou logo mais depois...
R - É, é...
P - Então eu acho que seria esse período pra gente recordar.
R - Eu acho que um bairro periférico de São Paulo, não tem assim coisas, muitas coisas assim pra guardar, né? Ah, uma coisa que me ajudou bastante foi nesse... Quando eu fui para São Caetano, logo depois comecei a trabalhar, e até foi uma coisa bastante... Que a gente está recordando. Porque eu não sabia nem andar na cidade. Então eu vim com 2 colegas lá da rua, vizinhos da minha casa, pra procurarmos emprego. Então, a rotina lá era nós sempre pegarmos ônibus pra Móoca. Mas lá na época, pra acharmos emprego lá era fábrica, fábricas, SENAI, aquela coisa toda. Tinha me fixado em vir pra cidade para procurar emprego, aí eu não sabia andar na cidade, essa é que é a verdade. Então andando na cidade, ali no Mappin então me deu vontade de ir ao banheiro, [riso] aí eu falei: E agora? O que fazer? Entramos no prédio da Light, na Xavier de Toledo, e fomos parar lá no andar intermediário, naquela época, o Departamento Pessoal era no andar intermediário, da Xavier de Toledo. Eu muito bobão, fui lá, né : "Ah, eu estou procurando emprego, assim, assado. "Aí me deram uma ficha pra preencher. Preenchi, aquela coisa toda, falei: "Mas, não...", "Depois a gente vai chamar pra fazer o teste". Nisso eu vim, fui embora. Depois eu comecei a trabalhar, o meu irmão trabalhava lá na zona cerealista da Santa Rosa, Cantareira, aquela coisa toda. Ele era o contador daqueles armazéns, então ele me arrumou para que eu fosse faturista, de um desses armazéns. Depois de 6 meses, sem saber de nada...Aí me chamaram para eu fazer o teste na Light. Fiz o teste, passei, ficou mais 6 meses pra chamar. Coisa que eu nem sabia mais, me chamaram pra entrar na Light. E entre ser registrado e não ser registrado, eu optei em ir pra Light porque era registrado. Inclusive no armazém, quando eu falei que eu ia sair, eu estava ganhando mais do que quando eu entrei na Light. Era 100, não sei se era 100 cruzeiros, só sei que era 100 e eu entrei ganhando 84. Mas aí foi o início da minha vida profissional propriamente dita, né? Aí as amizades, o desenvolvimento da... Vamos dizer da vida da gente assim, seguiu na Light. Em paralelo, como eu estudava na Vila Alpina, criei uma amizade com o pessoal da Vila Califórnia e fixamos mais o aspecto da amizade, né, o aspecto de estudo, de amizade com a família Moura lá, o pessoal lá da Vila Califórnia e tocando a vida até hoje.
P - Takeo, você... São 7 irmãos, né?
R - Somos em 6 agora, que um é falecido.
P - Certo. Você, qual... Na ordem... Qual...
R - Eu sou mais sacrificado, eu sou do meio
P - Do meio?
R - É. O mais sacrificado, né. Porque o mais velho é o mais querido. O caçula é o mais adulado. E eu sou o sacrificado [riso].
P - E como é a sua relação com seus irmãos, vocês são muito ligados?
R - Somos muito ligados, inclusive a gente...Eu sou tachado como mandão. Então, me falam que na família sempre tem que ter um mandão. E no caso da nossa sou eu... Que eu não penso muito, decido e depois vou correr atrás do prejuízo. Isso no caso da nossa casa.
P - São quantos homens?
R - Nós somos em quatro hoje, né, e duas mulheres.
P - Duas mulheres.
R - Mas é gostoso, porque...Eu também... Vamos dizer, da adolescência que eu digo que a gente não teve muito. Mas eu fui Beatnik [risos], né, em 1968, eu tinha muito, como é que fala, a gente não tinha grana, porque na nossa época... Hoje eu vejo os meus sobrinhos, eu vejo o pessoal mais novo da Eletropaulo, que ganha praticamente pra eles, pra sobrevivência. Nós não, na minha época tinha que trabalhar, dar o dinheiro em casa, e o que sobrava tinha que pagar condução, mais o lanche porque nós íamos direto pra escola, né? E pra divertir se sobrasse alguma coisa. Então a diversão nossa era acampar. Aprendi a acampar. Isso em 1968, 1969, né? Pegar a mochila nas costas e vamos que vamos, acampamento selvagem. Mas naquela época dava condições. A gente podia levar a barraca, vamos dizer, tranquilo, passear, sair, que a gente voltava e tinha barraca, né? E os cabelos compridos que a gente vê hoje, a última geração em 1968, 1970, né, que a gente tinha. Então, isso foi muito importante para o meu amadurecimento, acampar, quem não trabalhava não comia. Isso era regra entre os campistas. Isso foi bastante importante pra gente também, fazer alguma coisa, cada um fazia alguma coisa. Depois comíamos todo mundo junto. Então isso para o amadurecimento fort... Para fortalecer o aspecto dos amigos da... Que todos ajudando que a gente chegasse... O acampamento realmente foi fundamental assim... Como lazer, como desenvolvimento da gente. O caráter nosso, né? Isso também foi bastante importante.
P - Onde é que vocês costumavam acampar?
R - Olha, acampei muito em Iporanga.. Hoje lá é área nobre. Na Prainha Branca, na Barra do Una, lá pela...Litoral norte, né? Chegamos até Parati.
P - Ok. Bom, vamos falar um pouco da sua formação educacional... Estudos... Quer dizer que você...Como é que foi o seu desenvolvimento na escola, você falou de uma dificuldade com o francês, e posteriormente como é que foi...Na sua formação universitária também.
R - É, na escola eu ia bem, na... Eu sou um engenheiro frustrado hoje, né? Porque quando eu fazia o primeiro e o segundo grau, na minha época, matemática, química, física, vamos dizer as matérias mais relacionadas que nós íamos pra exatas iam muito bem, né. Tirava nove, dez. Mas em função de ter a necessidade de trabalhar acabei não... Não fazendo engenharia. Mas hoje também sou um contador satisfeito e um administrador de empresa também satisfeito. Não tenho nada a me queixar, né? Não nasci em berço esplêndido, tem que estar satisfeito, não posso chorar não... Foi ótimo apenas, tudo a gente tem que ter determinação, e a gente não faz sempre aquilo que a gente gosta não. A maioria das vezes a gente faz a coisa por necessidade e mesmo estando descontente a gente tem que fazer bem. Isso tenho certeza absoluta que fiz bem.
P- Você estudou contabilidade onde?
R - Eu fiz na...Em Guarulhos, na Faculdades Integradas de Guarulhos.
P - Guarulhos...Como é que era o seu relacionamento na escola tem alguma memória interessante nesse período?
R - Ah, eu já fiz...Eu tenho porque eu participei dos grupos de trabalho lá que o pessoal era meio folgado, né? Trabalhos em grupos ultimamente, se quer que uma coisa, não saia formando grupos [risos]. Eu, pelo menos, tenho essa visão, mas isso vem da faculdade, que no fim eu acabava fazendo trabalhos que era para o conjunto fazer, mas enchia tanto o saco ficar jogando conversa fora que nesse aspecto eu sou mais pragmático, eu gosto de rapidez. Mas assim, a nível de amizade foi muito bom, aprendi bastante, lá a gente...Como Guarulhos é longe, então o aspecto mais de estreitamento era bastante complicado porque a gente ia mais a escola e nos reuníamos quando tinha trabalho, que a maioria do pessoal meu... Que participava, vamos dizer, da minha classe era um pessoal mais adulto. Eu era muito.... Eu era mais novo e eles já senhores pais de família na época, então não dava pra fortalecer assim esse aspecto de amizade.
P - Bom, você falou desse aspecto da... De pragmatismo, dá pra perceber que você tem uma tendência a ser uma pessoa bastante organizada e pré-determinada. Você tem um lado meio místico, como que é o seu lado mais religioso? Você teve uma formação religiosa de família?
R - Não, nesse aspecto meu pai foi bastante liberal, ele seguia os seus... Acho que nem ele seguia porque ele acompanhava a evolução da família, como até hoje a gente tem lá a igrejinha do meu pai no quarto, aquela coisa toda que é de pai pra filho, né? Isso a gente mantém a tradição de acender o incenso, ter a igrejinha lá, mas assim a nível de religião, o lado místico, eu sou católico mesmo, eu não tenho problema nenhum, sou mais católico, mas a gente assim dá continuidade, porque eu acho importante essa tradição. Ela deve ter um significado. E pra mim... Mesmo o meu pai tendo falecido, hoje a gente mantém essa tradição. Eu acho que acrescenta não incomoda, né?
P - Acender um incenso tem um significado?
R - Tem um significado, eu acho que...
P - O senhor sabe qual?
R - Eu não sei muito, então, mas a gente, eu acho que a crença dele, né, da religião antiga dele, a gente mantém essa tradição toda.
P - Vamos voltar a Light, como que foi depois dessa entrada sua, você foi chamado e a partir daí como que foi o seu desenvolvimento dentro da empresa?
R - Olha, foi complicado viu? Foi complicado porque eu acabei entrando justamente no andar da diretoria. Eu comecei a trabalhar no escritório da administração, e a gente trabalhava de gravata. Então um calor tremendo carregar envelope do quinto ao térreo. A gente entregava de mesa em mesa e usando a gravata. Mas naquela época eu já comecei a fazer os meus protestos, né, então eu passava... Eu tinha um cabelo comprido e passei a vestir a jardineira. Jardineira, tênis aquele de couro preto, mas a jardineira e uma camisa, camisa normal, assim que a gente colocava por dentro e botava a gravata, então ficava bonito. De gravata, que a gente botava meia gravata, de jardineira e de tênis, que é uma coisa... Aí o pessoal passou a me observar, mas que caramba, o cara trabalha aqui no segundo andar. Aqueles tradicionais ingleses, canadenses e vai um oriental lá, de cabelo comprido, ficava uma coisa meio... Até que um dia lá o diretor me chamou, ele me chamou, era o Crocker, William James Crocker, esse foi um que veio substituir o Antônio de Almeida Neves, que era o diretor superintendente geral, ele era do Rio. Então ele veio um mês substituí-lo e aí ele me chamou "Mas você, você é um rapazinho inteligente pelo que tenho notado, a secretária te elogia aquela coisa toda, mas você precisa se vestir um pouco melhor, né? Andando essa...". Eu era muito... Sempre fui muito direto, aí eu virei pra ele e disse, “Bom se o senhor me pagar mais eu vou ter condições de me vestir como o senhor. Eu não tenho dinheiro pra vestir e de mais a mais, aqui a gente anda pra cima e pra baixo nesse calor, não dá pra gente ficar tudo engravatado, né?" Eu não usava gravata, eu comprei uma borboleta, sabe aquela borboleta que dois fiozinhos assim, que tem duas pernas. Então passei, aí no fim... não sei quantos anos depois aboliram a gravata. Tanto é que hoje não se usa mais gravata, mas na época que entrei nós éramos obrigados a trabalhar de gravata, quer dizer, ganhando 84, tirava 5 para o INPS [Instituto Nacional de Previdência Social], mais 9 pro vale refeição, mas não sei o quê, mas não sei quê, não dava pra comprar mesmo. Então, a gente usava mesmo uma calça Lee, como até hoje usamos a semana inteira, aí no sábado você lava, na segunda está impecável pra você ir trabalhar novamente. Então isso a gente começou, e a gente também desenvolveu paralelamente ao trabalho, já esse trabalho que até hoje eu desenvolvo que é o lazer, que eu acho que é uma coisa importante. Eu fui...Fiz campeonato, assim de futebol essa coisa toda, então pra mim acho que foi uma forma de me manter ocupado, fugir dos problemas, entendeu, das dificuldades financeiras. Então eu fui um cara que sempre me mantive, vamos dizer, bastante ativo nessas atividades. Eu acho que era um forma de ocupar o tempo. Não ficar bravo, essa coisa toda, isso fez com que eu acabasse sendo diretor sindical. Acho que na época nós fomos enfrentar a eleição, eu era bastante conhecido na Light, isso em 1977, acabei sendo diretor do Sindicato dos Eletricitários, que fomos até 1989.
P - Você entrou na empresa em que ano?
R - 1968.
P - 1968. Você entra com o quê, Takeo. Qual a sua..
R - Aprendiz de arquivista, office-boy, mensageiro.
P - E você ficou quanto tempo nesse cargo, como que é o desenvolvimento seu dentro do trabalho. Antes da gente falar desta parte mais sindical.
R - Como assim?
P - O que você foi fazendo, como que foi sendo o seu desenvolvimento de cargos dentro da empresa?
R - Ah, foi sempre dessa forma, eu fui office boy, depois fui promovido pra praticante de escritório. Depois eu fui auxiliar de escrita, datilógrafo, operador de telex, depois eu fui escriturário, programador, analista de sistemas e hoje especialista, mas não foi assim automaticamente acontecendo, não, né? Foi sempre com luta, pra mim eu acho que tudo é difícil, não sei. Porque na época quando eu quis sair do escritório para área de sistema, foi difícil pra mim porque eu já trabalhava dentro da empresa. Aí naquela época, isso em 1973, mais ou menos, que estava se iniciando mesmo o processo de informatização das empresas, quer dizer, eu pleitei pra ir pra informática, né? Pra antes... Era o setor de processamento de dados, mas foi muito difícil porque eu já era funcionário, eu falei: “Bom, então, quem é de fora, é mais fácil ser da área do que nós que já estamos aqui, quer dizer então eu vou morrer aqui na área burocratizada”, até falei pro meu chefe na época, “Como que é que fica? Obrigado pelo elogio, mas agora que eu preciso de uma ajuda sua como é que fica”, e na Light é aquele negócio, de todas as empresas grandes, né, dos chefes, então eu digo não são chefes, são chefetas, “Ah, não posso você é um bom funcionário mas eu não posso te liberar porque senão vou perder a vaga”. E adianta eu ficar com a vaga e com o cara não produzindo nada, sendo que ele pode produzir em outro setor, e produzindo em outro setor é pra empresa, essa é a minha mentalidade. Então eu acho que dentro desse aspecto foi difícil a minha transferência de escriturário para programador de sistema. Se eu contar a minha história aqui pra vocês, vocês vão ficar malucos. A minha saída na Light nessa época foi mandar uma carta para o diretor superintendente geral, como eu não podia falar com ele eu mandei uma carta, aí depois ele me chamou, foi daí que desenrolou todo esse processo. Então, desde aquela época eu era cheio de mutretinha, sempre de estratégia para alcançar os objetivos, né, e foi indo dessa forma, não sei, não foi nada fácil não.
P - Certo, e com que era o relacionamento entre colegas dentro da Light nesses vários períodos, teve algum departamento, algum setor que você se deu melhor, que você gostava mais?
R - Ah, eu dentro da empresa eu praticamente vivi dois setores, né? O escritório da administração que me deu todo o meu conhecimento, a nível de estrutura, hoje, de empresa que me deu uma grande condição para eu presidir a ADC [Associação Desportiva Cultural] hoje, porque a gente precisa conhecer a empresa. O que faz cada setor. Isso foi pra mim de fundamental importância e na área salarial mesmo, vamos dizer, de técnicas específicas mesmo, pra mim foi área de informática né, o antigo Processamento de Dados. Foram duas áreas que eu trabalhei propriamente dentro da empresa.
P - Nesse estilo de relacionamento pessoal assim, nos departamentos, como você vê a empresa?
R - Como?
P - É muito unida, os funcionários são muito ligados, são amigos, como é o cotidiano da empresa?
R - Ah, hoje está muito diferente, né? Hoje na empresa, vamos dizer, eu que tenho 26 anos de empresa, quando eu vou em determinados setores eu me sinto um peixe fora d'água [riso], hoje nós que somos mais antigos, a gente se sente mais estranho do que o pessoal mais novo hoje, por incrível que pareça, na nossa época nós éramos muito unidos, vamos dizer assim...
P - Eram mais unidos?
R - Era, mas era uma união acho que mais... Não sei, não era tão falsa como a gente sente hoje. Hoje eu sinto as pessoas batendo nas costas, você virando... Vira a cara, daqui a pouco está falando mal da gente, sabe. Não, eu acho que não...Não sei, essa é a minha sensibilidade hoje, né? Não estou generalizando não, mas na minha época era diferente. As secretárias... Fizemos excursões, viagens, datilógrafas... Os times de futebol jogavam, né? O pessoal era muito mais unido, hoje a gente sente o pessoal mais individual. Eu acho que não é só a Eletropaulo hoje não, acho que o país inteiro. Está todo mundo achando que dá solução... E no fim a gente está nessa, todo mundo lutando, cada um isoladamente, isso não leva a nada. Pelo menos a gente sente, naquela época a gente acreditava mais em prata da casa. Hoje santo da casa não faz milagre, naquela época a gente fazia.
P - As pessoas acreditavam mais no que estavam fazendo.
R - Ah, sem dúvida nenhuma, e era mais fácil também fazer... Era difícil as pessoas entrarem, mas quando entravam você podia ficar com tranquilidade, que você ia obter os resultados... Mais união.
P - O orgulho da empresa...
R - Mais orgulho em vestir a camisa. Hoje eu não sei ainda sinto muito orgulho daquela época da Light, Eletropaulo. Hoje vejo as pessoas não dão valor a isso. Eu que estou em contato com bastante gente, nossa senhora, tantas pessoas gostariam de estar trabalhando na Eletropaulo, participando e não tem essa condição. E o pessoal da casa hoje acho que não valoriza muito, acho que tem que valorizar esse aspecto de vestir a camisa mesmo.
P - Bom, Takeo, você falou da sua entrada de atuação para o mundo mais trabalhista, você começou na área sindical, é isso, antes da ADC.
R - Não eu comecei na área da ADC.
P - Na ADC mesmo.
R - Na área de lazer...
P - Como que foi, você participou de grêmios, como que foi a sua...
R - Eu sempre participei de grêmios, sempre participei dos grêmios internos.
P - Quais grêmios que você participou?
R - Eu fui do Grêmio Recreativo da Administração, antes da ADC, aí eu fui...Isso no escritório da administração, por isso ele tem o nome [GRA] Grêmio Recreativo Administração.
P - É o GRA?
R - Nessa época eu era menor... É o GRA. Nessa época eu era menor, então pra mim ter condições de desenvolver meu trabalho eu fui ser o vice-presidente, e o presidente era o chefe de escritório [riso], porque ele sendo presidente obviamente ele não ia fazer o meu trabalho. Aí ele deixaria campo livre para o vice-presidente desenvolver o trabalho, né? E ele sendo chefe, então o subchefe, chefe de seção não ia chiar com o chefe geral. Então nós colocamos ele taticamente como presidente do GRA. E aí deu condições para que a gente pudesse desenvolver esse trabalho. Aí depois em 1977, em função justamente do GRA, dos campeonatos, essa coisa toda, aí eu acabei praticamente sendo diretor do sindicato, isso muito novo, que naquela época nossa, ser diretor do sindicato é atravancar a carreira, e eu era uma pessoa que estava em desenvolvimento de carreira. Mas na hora que me toquei eu já era diretor, eu já estava eleito. Você entendeu? E aí eu tive que sobreviver, né? E tive que me aprofundar em conhecimentos trabalhistas tal, pra gente poder desenvolver a contento esse trabalho. Isso, graças a Deus, aconteceu. Que na nossa gestão, vamos dizer, que eu participei, nós tivemos diversas conquistas, principalmente no campo dos benefícios. Agora conquista política mesmo é a periculosidade, né, que é 30% de adicional sobre o salário que os eletricitários recebem, e que não é o meu caso, infelizmente eu não recebo, eu sendo analista de sistema não recebo...
P - Não tem periculosidade.
R - É. Isso foi um conquista que partiu do nosso sindicato e hoje se estende ao Brasil inteiro.
P - De que gestão você participou, quem era o presidente... Porque você encarou essa luta, e como que foi esse trabalho assim no dia a dia em termos de organização, porque era uma época de política difícil né, época de repressão, sindicatos, e tudo mais, né?
R - Então, por isso que foi muito difícil né? Em 1977 começou a época das greves, aquela coisa toda, Elis Regina no Vera Cruz, Saquinho no Viaduto do Chá, pra receber como é que fala, as contribuições, né, o pessoal em greve, mas foi uma coisa que pra mim foi fora de série. Eu acho que quando eu me ative mesmo, que eu era diretor sindical, me posicionei, procurei me aprofundar e desenvolver esse trabalho com a maior convicção, foi muito difícil pra gente desenvolver esse trabalho paralelo com a empresa, mas nós, tivemos que dar continuidade, né, a esse trabalho. Você me perguntou...
P- Qual a era a gestão...
R - A gestão foi o Magri que foi o presidente do sindicato. Não eu entrei com o Sylvio Guimarães, depois o Sylvio Guimarães se aposentou e o Magri assumiu a presidência, isso acho que em 1978, 1979...
P - Isso num período de mudanças...Grandes mudanças na vida sindical.
R - Grandes mudanças. Foi na época inclusive que o Aranha estava em Paris, ia ter o blackout... Ele teve que vir para o Brasil pra negociar, aquelas coisas todas, quer dizer, foi uma participação muito boa, a gente aprendeu bastante, mas a coisa...Foi onde que começou a mudar o processo Light de negociação, depois veio a divisão, né? A Light para o Rio, Eletropaulo em São Paulo.
P - E na fase anterior você falou do GRA, eu queria que você lembrasse um pouco, se possível, essas atividades que vocês desenvolveram com ela, porque o GRA foi parte da história que hoje é a ADC, né? Então, antes de entrar na ADC eu queria que você falasse um pouquinho mais do GRA. Como era, o que quê vocês faziam, que tipo de atividade que vocês desenvolviam?
R - O GRA foi formado mais por nós que éramos office-boys, vamos dizer assim, então formou-se o GRA, sempre tem um motivo, né? Então nós éramos em cinco a dez que atendíamos os diretores, superintendentes, aquela coisa toda, e as secretárias também. Então, nós não fazíamos somente a entrega do envelope que era a mensagem propriamente dita, a gente ia comprar lanche para os diretores, nós íamos... Lanche para as secretárias, íamos comprar...Pagarmos contas, nós que íamos a farmácia etc. Então, a gente reuniu os mensageiros lá. E a gente falava: "Puxa, mas a gente faz todo tipo de serviço para esse pessoal. Temos um time aqui que não tem nem camisa. Como é que nós vamos fazer? A gente vai ter que fazer um grêmio aqui e botar os diretores, as secretárias de sócios para eles pagarem uma mensalidade pra gente ter um dinheiro pra lavar as camisas. E isso foi feito, aconteceu o grêmio dessa forma. A gente reivindicando, porque quebravámos o galho pra todo mundo e não tínhamos nem camisa de futebol, nem condições de lavar as camisas. Então o grêmio surgiu disso. E depois eu trabalhando no escritório da administração, eu trabalhava no controle de expediente, vamos dizer, dos diretores. A gente estava mais perto deles, né? E comecei a conhecer as regras, aquela coisa toda e a gente desenvolveu esse aspecto do grêmio. Aí tivemos o time de futebol, depois fizemos festas. Foi aquela escala toda, excursões, fazíamos muitas confraternizações entre os funcionários do Rio de Janeiro e São Paulo, né, e aí foi onde foi surgindo o desenvolvimento do GRA.
P - Certo, bom, posteriormente o GRA forma a ACEL [Associação Cultural Esportiva Light] .
R - É.
P - E esse período todo você deve ter acompanhado e participado ativamente pelo que eu tenho de informação. Como é que foi essas etapas todas que geram até a ADC?
R - É, foram bastante complicadas, né?
P - Por quê?
R - Surgiram vários clubes e depois tinha que unir, que a própria empresa nos colocou. "Olha, olha, a gente não pode atender a todos os clubes. Então nós vamos ter que ter um clube só, que fica mais fácil a empresa atender..."
P - Quer dizer que a iniciativa surgiu da própria empresa de sugerir a união?
R - Olha, aí é que está, eu acho que foi dos funcionários e a empresa ela colocou a questão que ela não dava pra atender os clubes, que tinha da Administração, do Projeto de Obras, tinha dos Serviços Gerais, do Faísca, das Relações Comerciais, Pesca, tinha vários clubes. Então ficava humanamente impossível a empresa atender, ela jogou o problema, né? Aí nós que tivemos que conversar, ceder e unificar todos os grêmios num clube. Aí que surgiu todos os grêmios e clubes na associação. Associação Cultural Esportiva Light. Você entendeu, ou não?
P - Sim, entendi.
R - Então foi esse o desenvolvimento que acabou acontecendo.
P - Você participou dessa fase de unificação.
R - Participei.
P - Como membro do GRA?
R - Como membro.
P - Você participava da diretoria do GRA, desse período todo até a ACEL?
R - ACEL, aí depois formou-se a ACEL, né? E eu não fui o primeiro presidente. Não, foi mais uma diretoria de entendimento, vamos dizer assim. Eu sempre fui um pouquinho meio radical, né? Aí depois eu vim, como... Em função das eleições, eu concorri as eleições e ganhei em 1980.
P - Ainda como ACEL.
R - Como ACEL.
P - Como é que foi essa sua primeira gestão?
R - Ah, minha primeira gestão foi que eu comecei dar corpo a associação, né? Comecei a fazer mudanças que eu tinha na minha mente. Foi o que aconteceu, vamos dizer, assim nos esportes. A gente começou a implantar as seleções representativas da empresa, porque não poderíamos ficar só no parâmetro interno. Levar a empresa para os setores. A gente começou a implantar... E isso em... Até 1982. Em 1982 eu perdi a eleição, perdi a eleição e voltei em 1984 e de 1984 pra cá, já estou no quarto mandato consecutivo como presidente. Mas foi uma fase bastante conturbada esse período de 1980, 1982. 1982 eu perdi as eleições porque eu era muito briguento. E justamente a minha área de atuação, vamos dizer que era no processamento de dados, o pessoal não foi votar e acabei perdendo a eleição por dois votos. É uma marca que a gente guarda até hoje. Porque eu era... Como eu era também sindicalista, então você contestava bastante, né? Mas eu tenho certeza absoluta que eu diferenciava, quando eu estava negociando como diretor sindical, como presidente de clube, ou quando eu era funcionário. Tanto é que diversas vezes fui convocado pra trabalhar aos sábados e domingos e sabia que pra que eu pudesse desenvolver esses trabalhos, teria que desenvolver esse trabalho de programador e isso eu fiz, com maior tranquilidade. Agora, quando eu sento numa mesa pra negociar é complicado. Não é...eu não gosto de sentar numa reunião e não sair com uma decisão ou com um resultado, sabe. E isso acabei perdendo uma eleição. Eu achava que estava ganha, mas aí que eu vi como é que existem estratégias. Aí me ferraram proibindo o pessoal da Xavier de ir votar, né? Que a sede nossa era na Brigadeiro, mas aí com bastante esforço a gente votou em 1984 pra 1985 e estamos até hoje. Mas com bastante convicção de que, a base, a gente trabalhando direitinho não dá resultado errado não. Então, uma coisa que fico bastante contente que todos os cargos que tenho ocupado no parâmetro interno é, nada, nunca fui nomeado a nada, sempre fui eleito. Então isso me envaidece bastante. Aí eu não fico a mercê de ninguém, e não fico devendo favor a ninguém, devo satisfação a quem me elegeu, e quem me elegeu são os associados. Isso eu sempre falo de cabeça erguida.
P - Takeo, fazendo um balanço desses anos todos da gestão da ADC, quais foram as realizações mais importantes, como é que você avalia esse período de realizações, quer dizer, você conseguiu atingir todas as metas, há coisas que ficaram ainda, que estão ainda, você acha importante serem realizadas?
R - Olha, hoje a associação tem 200 funcionários. Ela está descentralizada em mais de 50 locais, né? A associação hoje tem vamos dizer assim, atletas de nível internacional, a associação, ela cresceu vegetando, quatro vezes, a nível de associados, quando eu retornei em 1985, né? O patrimônio dela é significativo. O patrimônio histórico hoje, se você for na nossa comunicação os negativos de foto, os expedientes, os livros de patrimônio. Tudo isso dá a prova daquilo que eu estou falando hoje pra vocês. Então é com bastante tranquilidade que a gente fala isso, tá. E falta muito, né? Hoje, por exemplo, pessoal de fora, a gente fala em ADC Eletropaulo, eles acham que nós somos a Eletropaulo. Quando na realidade nós somos um clube de funcionários da Eletropaulo, né? Então, não tem o gabarito que tem a empresa, mas nós estamos lutando pra isso. Isso para mim, como vocês podem ver, eu comecei com isso, passei pelo sindicato e voltei à ADC. Não sei se vocês observaram. Então o lazer dentro da Eletropaulo pra mim é como um filho, né? E como, a gente está vendo o seu desenvolvimento, a gente vê o nascedouro, está vendo o desenvolvimento e a gente espera um pouquinho só de mais dinâmica pra que possa acontecer o clube como um todo. A Praia do Sol eu brigo desde 1970, né? E hoje nós estamos tudo lá em barracos, tá certo? Mas que a gente está desenvolvendo lá, mas está dando um trabalho enorme. E a gente tem convicção também que não foi um trabalho, isso é que não é um trabalho a curto prazo, mas também não pode ser tão a longo prazo, né, que hoje eu já estou com o peito aqui, que estou safenado, estou com 2 mamárias, né? Estou com 41 anos e ainda não vi o meu grande sonho ser concretizado, estou vendo, vamos dizer, ser concretizado.
P - É a Praia do Sol?
R - É a Praia do Sol, o clube. Ver um local, talvez eu não vá mais sentir, vamos dizer, eu me divertir, você está entendendo. Mas eu me realizo em ver as pessoas mais simples, mais humilde, estando desenvolvendo um lazer, né? Então, eu espero ainda em vida ver meu clube concluído, né?
P - Takeo, e quais os sonhos assim de... O quê que você espera além da realização da Praia do Sol, outras coisas que são importantes também pra ADC. No interior, o trabalho foi...Significativo, houve muitos ganhos.
R - Ah, ele foi descentralizado. O fato é que tem muitas dificuldades. O pessoal não...Talvez não dê muito valor ao lazer, né? Eu acho que a gente tem que exigir do trabalhador, mas a gente também tem que procurar diagnosticar a importância do lazer, retroagindo um pouco a gente estava falando de vestir a camisa, né? Agora o que quê é vestir a camisa, é eu estar mais junto de você. Você precisando, você precisando de mim eu vou lá dou uma força. Amanhã eu preciso, você dá uma força, quer dizer, eu acho que essa união, entre os funcionários, entre os familiares, esse laço que se cria é que é fundamental para o desenvolvimento das atividades, né? A gente não vai conseguir nada individualmente, sempre em conjunto, eu entendo que aí sim seria fundamental. Isso aí acho que é uma coisa que a gente precisa pra aprender. Nós aqui no Brasil, nós precisamos aprender que a grande maioria é pessoa da classe média pra baixo. E esse pessoal só vai sair dessa posição incômoda que nós estamos vivendo através de educação e de união, não é? Não pode ser levado como manada, você entendeu? Eu acho que precisamos hoje um pouquinho mais de patriotismo, né? Ter orgulho da empresa que a gente trabalha, ter orgulho do país, você está entendendo? A gente vê hoje todo mundo só mete o pau, mas tem que apresentar, eu sempre digo isso. Quando a gente quer criticar, a gente tem que criticar mas com proposições, isso eu posso de cabeça erguida falar pra todo mundo. Posso dizer que sou presidente da associação. Fui diretor do sindicato, tentei ser candidato a deputado federal, que é o meu perfil ideal, o pessoal saiu falando "Mas você não quer dá um pulo maior do que a perna". Não, pessoal, porque se eu for... Eu sou um cara que conheço o processo trabalhista. Sou uma cara que luto pelos trabalhadores, um cara que tenho formação, apenas que eu não tenho dinheiro. Vocês concordam comigo? Apenas não tenho dinheiro, mas tenho todos os pré-requisitos, está correto, pra ser um grande deputado federal e defender os eletricitários, né? Porque hoje nós estamos aí nesse processo de privatização complicado. Não estou querendo colocar se a privatização é pior ou melhor do que continuarmos como estatal, o fato que o problema existe e nós os eletricitários não temos representantes nosso que conheça os nossos problemas, que conheçam os detalhes em profundidade pra que a gente possa estar sendo defendido lá em Brasília. Então, isso é uma coisa que gente marca. Mas de qualquer maneira eu tenho a minha consciência tranquila. E me apresentei, eu não me omiti, recebi as críticas por ser candidato, etc, etc, mas eu fui à luta, e com bastante tranquilidade eu estou aí, né? Amanhã eu posso dizer de cabeça erguida: “Eu não me omiti da luta. Enfrentei todos os problemas com a maior tranquilidade, está certo?” E estou muito satisfeito porque não adianta a gente ser eleito com o poder econômico, né, porque aí eu já vou estar amarrado, não vou ter liberdade nenhuma de defender os ideais da gente, né. E eu acho que campanha política, nós ainda vamos apanhar muito, mas vamos chegar lá. Eu tenho plena convicção que o povo brasileiro ainda vai ter essa visão, né, ver de fato, não dá pra decidir hoje, tem que ver o passado, né? Eu estou super contente com relação a isso, então acho que a multimídia também é um fator muito importante para que a gente resgate um pouco, né, da labuta, do trabalho, do desenvolvimento, de todas essas pessoas que tem contribuindo pra a categoria dos eletricitários.
P - Muito bom, seu Takeo, se o senhor tiver alguma declaração, senão eu agradeço, pra nós o depoimento está considerado completo.
R - Eu espero que essa fala nossa não tenha sido muito enfadonha, né, mas o fato que a coisa foi surgindo e alguma coisa que a gente porventura, errou, pecou, né? A gente espera ter contribuído pra esse trabalho e que agradeço bastante a oportunidade que foi me dada hoje, obrigado.
P - Obrigado.
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