P/1 - Senhor Benedito, nós gostaríamos que o senhor nos dissesse o seu nome completo.
R - Benedito Vicente dos Santos Júnior. Natural de Caraguatatuba, cidade que agora foi elevada a nomeação de Bispado, Diocese, acaba de ser declarado pela... Estou em Santos a cerca de 55 anos.
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P/1 - Senhor Benedito, nós gostaríamos que o senhor nos dissesse o seu nome completo.
R - Benedito Vicente dos Santos Júnior.
Natural de Caraguatatuba, cidade que agora foi elevada a nomeação de Bispado, Diocese, acaba de ser declarado pela... Estou em Santos a cerca de 55 anos.
P/1 - A gente vai chegar nessa vinda do senhor à Santos. Antes disso, só pra continuar essa ordem cronológica, qual é a data do nascimento do senhor?
R - Quinze de março de 1914.
P/1 - E o nome do pai do senhor?
R - Benedito Vicente dos Santos.
P/1 - Ele nasceu quando?
R - Ele morreu com 94 anos, foi durante muitos anos negociante em Caraguatatuba.
P/1 - Ele era comerciante?
R - Comerciante. Na casa dele se hospedavam os padres que lá iam cuidar da paróquia.
P/1 - Ele nasceu em Caraguatatuba?
R - Caraguatatuba.
P/1 - E o nome da mãe do senhor?
R - Maria Duarte dos Santos.
P/2 - O senhor se recorda da data de nascimento dele?
R - Do meu pai? Não, eu só sei que morreu com 94 anos.
P/1 - Da mãe do senhor o senhor lembraria?
R - Não.
P/1 - Não tem problema. Ela nasceu em Caraguatatuba também?
R - Também.
P/1 - E ela era? Qual a atividade que ela exercia? Ele exercia alguma atividade ou era dona de casa?
R - Ela morreu, ela tinha, mas, foi mãe de 13 filhos. Desses 13 filhos, três foram ser padres, duas moças foram ser freiras, o restante...
P/1 - Treze filhos, incluindo o senhor, o senhor tem 12 irmãos?
R - É. São três irmãos, um foi vigário de... durante 13 anos foi vigário de Cubatão. Padre Nivaldo José dos Santos.
P/1 - Essa vocação religiosa da família do senhor, o senhor atribui a algum motivo especial?
R - Assistência que a nossa família dava aos padres que iam à Caraguatatuba celebrar, fazer movimento religioso, que não tinha vigário fixo. Então eles se hospedavam na minha casa. Padre, bispo...
P/1 - Como foi a sua ida, a sua entrada para aquela igreja? Eu queria que o senhor contasse um pouquinho pra gente.
R - Depois, com esse contato com os padres, um deles me encaminhou para a Diocese de Santos, então, fui fazer 5 anos em Botucatu, chamava-se Seminário Menor Original, e depois, 5 anos em Mariana, Minas.
P/1 - Que idade o senhor tinha?
R - Eu fui com 14 anos.
P/1 - E aí o senhor vai para Botucatu...
R - E depois para Mariana, vim para Santos e aqui estou esse tempo todo. Fui exercer uma porção de cargos na Diocese. Eu fui o primeiro quajutor, padre quajutor de São José do Macuco. Fui capelão da Igreja São Benedito, 9 anos. Fui capelão da Beneficência Portuguesa, depois fui o primeiro reitor do Seminário Preparatório de Santos.
P/2 - Essa daí poderia se dizer que é a sua vinda dentro da igreja? Desde o princípio?
R – É, desde o princípio.
P/2 - Então, com quantos anos o senhor entrou no Seminário?
R - Com 14 anos.
P/2 - O senhor nasceu em?
R - Nasci em Caraguatatuba.
P/2 - Mas em que ano?
R - Nasci no dia 15 de março de 1914.
P/2 - Em 28 então, em 1928 o senhor ingressa no Seminário em Botucatu?
R - Botucatu, 5 anos. Depois, Seminário Superior, em Mariana, Minas.
P/2 - É, porque a gente precisa fazer o seu histórico.
R - E se alguém perguntar porque é que eu fui para Mariana, e não fiquei em São Paulo. Porque indo para Mariana. Aqui, eu ganhava um ano a mais. Lá em Mariana, o curso superior eram 5 anos, e aqui eram 6 anos, indo pra lá ganhei 1 ano.
P/1 - Certo, e como é que foram essas mudanças? Primeiro o senhor saiu da casa dos pais, veio para o interior de São Paulo, depois veio para o interior de Minas... como é que foram todas essas trajetórias?
R - Eu tive muito apoio da família e dos padres da igreja, deram apoio. Na Diocese aqui, como padre, eu fui o primeiro reitor do Seminário. Fui 7 anos chanceler - secretário dos bispos, e depois eu fui 50 anos professor em várias escolas, 9 anos Colégio Canadá, Tarqüinio Silva, duas universidades, duas faculdades de Guarujá e 30 anos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 30 anos. Dei aula no jornalismo e na filosofia, 30 anos.
P/1 - Então, quer dizer que além da igreja, além da atividade paroquial propriamente, exerceu o magistério?
R - Depois, fui o primeiro diretor do Jornal Católico de Santos. Do Santos Jornal, fui o primeiro diretor. Colaborei na Tribuna, escrevia na Tribuna, Diário, e dava aula na Escola de Jornalismo aqui na faculdade, 30 anos.
P/2 - E como é que é dar aula, é uma atividade muito diferente da função do pároco?
R - Não, era porque eu nunca tive dificuldade com os alunos, nem eles comigo, então, ia para dar aula, então pronto, e como a minha matéria não era be a ba, era filosofia, então, era meio sério. E depois do Seminário, depois de ter sido... ido para o Seminário, eu fui nomeado aqui, vigário de Pompéia, onde eu estou há 49 anos, só. (riso) Quarenta e nove anos nesta igreja.
P/1 - Nesses 49 anos nessa igreja, quais os fatos mais marcantes?
R - Quando eu cheguei aqui, eu tive que acabar a igreja,
não estava terminada, fiz a torre e coloquei sete sinos lá na torre, agora, tocam automaticamente aqui, as sete notas musicais. Construí 12 altares em mármore, fiz o piso de granitina, coloquei ventiladores, depois, vitrais, depois que mais que tem? Ah! Construí a casa paroquial e o salão de festas. Depois fiz o ginásio esportivo.
P/2 - Sempre com o apoio da comunidade?
R - Apoio da comunidade. Sempre me apoiaram. Nunca faltou dinheiro, nunca faltou apoio. E aqui tem uma casa velha, que então, agora, aproveitaram para fazer a casa nova, e continua lá o salão de festas.
P/2 - Então o senhor vem pra cá, vem pra Santos, depois...
R - Entrevista Santos Futebol Clube, viu?
P/1 - Pra ver se ganha hoje?
R - É. (riso) Se ganha, não. Ganha.
P/1 - Então o senhor veio pra Santos, onde entra já que o senhor puxou o Santos Futebol Clube. Onde entra o Santos Futebol Clube na vida do senhor, como se dá essa relação?
R - O Santos... eu fui muito amigo do Roma, Modesto Roma. Todas as festas de Iguape, todo ano tinha uma festa em Iguape, e a caravana... eu ia sempre na caravana do Modesto Roma. Conhecia muito a família dele, então, ia, né, com esse familiar, a gente ia assistir o jogo do Santos, sempre quando podia.
P/2 - E como se iniciou essa amizade, aqui na Igreja ou lá no Santos?
R - Não, a amizade foi com a família dele, com esse contato que ia a Iguape, a família toda ia. Ele levava a orquestra sinfônica, então, a orquestra ia tocar lá em Iguape, então, todo ano formava-se caravana e então nós íamos lá.
P/2 - E como é que eram essas viagens para Iguape?
R - Era, naturalmente uma caravana, nós íamos de trem até Juquiá, de lá pegava uma condução, um navio, um naviozinho,
nos levava até lá em Iguape. Ia a festa, depois voltava também, cantando, tocando dentro do naviozinho.
P/1 - E quando foi isso, a última vez que o senhor fez essa caravana?
R - Não, faz tempo, Modesto morreu, então eu deixei de ter contato com a família e depois estou mais preso aqui na igreja, então, estou preso aqui, não podia estar saindo assim pra ir até lá. Porque lá ficava-se a semana toda.
P/1 - Essa festa de Iguape era uma festa religiosa?
R - Religiosa. A orquestra ia daqui. Uma porção de gente.
P/2 - E como que era o Modesto Roma?
R - Era um homem muito...
eu vou dar uma definição... muito simples, muito inteligente e muito bondoso, de coração aberto. A gente se sentia bem quando estava conversando, ele foi durante muitos anos o chefe. Ele tinha jeito para lidar com as pessoas.
P/1 - Então o senhor se aproximou do Santos por esse proximidade
com Modesto Roma?
R - Com Modesto Roma e depois vieram os outros porque o Pelé, com o time já morava aqui em frente a igreja. Tinha uma pensão aqui, de vez enquanto eles vinham aqui assistir o jogo, às vezes a criançada nossa vinha aqui, então tinha... o Lima também está sempre por aqui, quem mais...
P/2 - E como que era o contato com esses jogadores, com o Pelé, com o Manga, com o Manga não, com o Mengalvio?
R - Era conversa simples.
P/2 - Eles vinham assistir a missa aqui?
R - Não, não vinham. Assistiam a missa aqui, mas não tinham contato, assim, religioso com eles não. Pelé veio assistir uma vez...
ser padrinho de batizado aqui, etc., mas não... é casualmente.
P/1 - Mas agora, mesmo antes desse contato com os jogadores, mesmo antes de se aproximar do Modesto Roma, o senhor já era santista, torcedor santista?
R - Claro, desde que... porque eu fui jogador de futebol, lá na minha terra.
P/2 - Como que foi isso?
R - Jogava futebol lá com os homens, com meus 12 anos.
P/1 - Que posição que o senhor jogava?
R - Eu era ou o meia direito ou o meia esquerdo e sabe por que? Porque eu corria muito, então mandava que chutasse a bola bem na frente e eu corria bastante, chegava e chutava, era a técnica que tinha. Então, eu joguei no time principal.
P/2 - Tinha principal no clube, que time era esse?
R - Era um clube, clube de Caraguatatuba. Ia jogar fora.
P/1 - O senhor jogou muito, fez muitas viagens?
R - O time era bom, tinha bons jogadores. Eu era mocinho, então, eu jogava lá, mas, eles tinham bons jogadores, jogavam contra a cidade, Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião, time bom.
P/1 - E já torcendo pelo Santos?
R - E já torcendo pelo Santos, fora de...Engraçado, que em casa tinha um padre que era torcedor do São Paulo, um outro que era torcedor do Corinthians e eu que era do Santos. (risos)
P/2 - Quase todos os times representados. (riso)
R - É, depois, vinham aqui, estavam sempre em contato aí um com o outro, né, conheciam o pessoal, o Mengalgio, o Pelé. O Pelé veio muitas vezes porque morava aqui pertinho, vinha aqui, às vezes vinham em outras casas, alguma festa aí, encontravam com ele, Pelé... via sempre.
P/1 - Mas o senhor nos disse, por conta de gente começar a gravar, o senhor nos disse há quanto tempo o senhor é torcedor do Santos, eu gostaria que o senhor repetisse?
R - A vida toda.(risos)
P/2 - Sempre torceu pro Santos?
R - É, desde que fui jogador de futebol, a partir dos 12 anos, torcedor de futebol.
P/2 - E com 12 anos o senhor conheceu o Santos como, aqui em Santos, lá em Ubatuba, em jornal?
R - Não, lá em Caraguatatuba. Por jornal, pelo rádio, referencias de jogadores, depois vim para aqui, estive conhecendo o pessoal mais de perto,
descia lá, ia lá conversar com os jogadores.
P/2 - Algum jogador já pediu para o senhor rezar uma missa pra ganhar um jogo, uma vitória, pra oferecer, alguma coisa assim, alguém, já fez alguma promessa ou alguma coisa assim?
R - Não, aqui, só o único que veio aqui foi o Pelé, fazer o batismo só, fora disso... Ah, sim, agora estou me lembrando... agora, o treinador do Santos, veio aqui umas duas vezes, trouxe jogadores aqui para assistir a missa, quando ia jogar contra um time do interior.
P/1 - Qual era o treinador, fez isso?
R - Não sei qual o nome dele, eu sei que ele é nortista, paraense.
P/1 - O Lula?
R - Não, era outro, ele era treinador dos jovens, mas quando é pra sair, assim, levar o time, ele vinha então... reza aí pra ganhar. (risos) Vieram aqui umas duas vezes.
P/1 - E como o time se deu depois dessas rezas?
R - Sumiu. (risos) Nem perguntei aqui se ganhou ou se perdeu, sumiu.
P/2 - O senhor chegou a assistir muitos jogos lá no Santos?
R - Muitos.
P/2 - Algum que o senhor se lembra, de uma maneira mais...
R - Ah! Eu me lembro dos jogos, dos principais jogos a gente ia lá e torcia.
P/1 - E todas essas vezes em que o senhor chegou aqui o senhor começou a freqüentar o estádio?
R - Sempre. Em geral quando tinha um amigo, alguém aqui... “Ah! tem jogo?”
P/1 - Tanto nos finais de semana como meio de semana...
R - É quando era possível a gente ia. E lá se sentia bem, era bem tratado.
P/1 - O senhor viu, certamente viu, claro, grandes jogadores, né?
R - Ah! Sim, via lá, depois entrava no campo lá, e entrava lá, falava com todos eles...
P/1 - Como eram essas conversas?
R - Eu contei a história do Zito, né? Eu levei um sobrinho meu, com 12 anos, ele ia muito ver lá os jogadores, então fomos lá, entramos lá, e conversando com o Zito. Eu trouxe aqui o meu sobrinho, quer conhecer os jogadores...”
Só conhece Pelé, ele disse: “Não, mas eu conheço o senhor, é Zito.” (risos)
P/2 - Ficou surpreso o Zito?
R - É, pensou que só conhecesse o Pelé, né?
P/1 - Os jogadores eram mais acessíveis?
R - Eram. Eu também tive mais lá, mais vezes lá, e entrava lá... Ano passado veio um vice-prefeito de Apiaí, e veio com o padre, o vice-prefeito queria ir ao Santos, pra ver lá o museu, as taças, o Pelé, né? Aí levei o pessoal, fomos lá pra ver a...
P/2 - Isso o ano passado?
R - Ano passado. Agora que reformaram o museu ficou mais fácil, acessível...
P/1 - Também, nesse período, o senhor se encontrou bastante com o Modesto Roma. Além do Modesto Roma, que outros dirigentes o senhor teve contato, se é que teve algum contato maior?
R - Tem o... Eu sei que tinha
o dr. Garcia, esteve aqui, tinha uma porção de gente que a gente não se lembra agora... Uma porção de gente, de velhos conhecidos. A gente ia lá, conversava, e saía.
P/1 - Mesmo fora, sem tem algum motivo especial, algum jogo, por exemplo, o senhor freqüentava Vila Belmiro, por exemplo, para fazer uma visita para os dirigentes?
R - Só quando tinha alguma coisa, sei lá, alguma coisa, posse importante, recebia convite e a gente ia lá. Eleição e tudo.
P/1 - Sempre havia o interesse deles, sempre fizeram questão de que o senhor tomasse conhecimento?
R - É, conhecimento lá, tinha uma porção de gente que eu não me lembro. Tinha uma porção de gente lá, né?
P/1 - E, assim, as emoções que o senhor viveu com o futebol do Santos?
R - Ah! Isso sempre muito agradável quando ganha, né? (risos) Desagradável quando, qualquer coisa assim, espera o Vasco, por exemplo, que pelo menos empatasse, como hoje, né? A gente espera que pelo menos empate, né? Você quer que ele ganha?
P/2 - O Santos?
R - É.
P/2 - Bom, no Rio de Janeiro eu sou vascanhense. (risos)
R - No Rio de Janeiro pode ser qualquer outra coisa.
P/2 - Mas não pode empatar, tem que ganhar de dois gols de diferença.
R - Disseram que se empatasse já estaria bom. O Santos hoje?
P/2 - Não, semana passada.
R - Hoje tem que ganhar?
P/2 - Hoje tem que ganhar.
R - Então vamos torcer.
P/1 - Vamos torcer pra que ganhe. Agora, o senhor disse que as vitórias são sempre muito agradáveis, e quais foram as maiores vitórias que o senhor viu, assim, no Santos?
R - No Santos? São tantas, tantos jogos que eu já assisti.
P//1 - Eu vou tentar ser mais específico, então, qual a emoção de ser campeão do mundo?
R - Ah, sim, aí é outra coisa, aí o Santos campeão do mundo, é extraordinário, né?
P/1 - O senhor se lembra bem dos campeonatos, do bi campeonato?
R - Lembro, ouvia o rádio tudo, jornal, ia seguindo aí em todo lugar.
P/2 - Eu vou insistir mais uma vez, mas agora, de uma forma diferente. Nunca nesses 49 anos que o senhor está aqui nessa paróquia, o senhor tomou conhecimento de algum torcedor fanático, ter oferecido uma missa em agradecimento, pelo bi campeonato mundial, pelo título?
R - Não, não sei, porque aqui quando vinha, quando alguém tratava de coisa, era alguém responsável, um jogo, iam jogar no interior, trouxeram aqui, etc. e tal. A gente fazia a missa aí e desejava sucesso. Particularmente, assim, não.
P/2 - Imaginei que, de repente, um... vai cumprir uma promessa?
R - É, aqui não.
P/2 - No campeonato de 55, que foi 20 anos, 20 anos na fila, o senhor já estava em Santos, em 55?
R - Eu já estava aqui.
P/2 - O senhor chegou a acompanhar aquele campeonato de perto, o senhor era santista?
R - Eu sou de Caraguatatuba.
P/2 - Santista, de coração.
R - De coração eu sou desde que estava lá.
P/2 - Então, o time.
R - É o time, pertencia ao time.
P/2 - Exato, como é que o senhor.
R - Participava, sentia, falava, conversava, torcia, brigava. (risos)
P/1 - Brigava? Como é que era isso? Como assim?
R - É, não sei, a pessoa falava alto e precisa rebater, né? (risos) Aí depois, praticamente, eu vi muito o jogo aqui, era Santos, Santos, Santos...
P/1 - E os fiéis, como eram os fiéis, também torcedores?
R - Tem de tudo, a começar lá em casa, um irmão era corintiano, o outro era são paulino e eu santista.
P/1 - Mas, por exemplo, quando o Santos perde, algum fiel corintiano brinca com o senhor?
R - É, brinca... (risos)
P/2 - E o senhor já se irritou com alguma brincadeira dessa, meio que, assim, preocupado com alguma coisa, alguém chegou e disse?
R - Não, não.
P/2 - Fazer pouco do Santos?
R - Não. Graças a Deus, tudo em paz, com o Santos. Engraçado que eu conheci aquele pessoal todo, desde o tempo do Formiga, desde o tempo de São Vicente, quando era.... tem uma porção deles, a gente conhecia e tal, depois muda os jogadores, a gente acaba conhecendo o Viola, que briga. (risos)
P/2 - Algum jogador desses novos, depois da década de 70, agora, nos últimos anos, vem aqui, o senhor tem algum tipo de contato com eles ou não?
R - Não, não tenho, só tenho contato com esse que trabalha lá, o Lima, ele trabalha lá no Santos. A gente não vai sozinho porque, às vezes,
está com a garganta seca, eu preciso tomar qualquer coisa, uma cerveja. (risos) Então tem que participar e viver uma vida, interessante.
P/1 - Mas, é só distração mesmo, ou no momento que o senhor está assistindo o jogo, o senhor se deixa envolver completamente?
R - A gente participa, sente.
P/2 - O senhor estava dizendo, que o senhor também vibra. Quando tem um lance feio ou o sujeito deixa de fazer um gol...
R - A gente censura, lastima, que o sujeito perdesse aquela bola que a gente... “Nem eu perderia!”
P/1 - Mas, com essa calma, ou um pouco mais...
R - É com calma.
P/2 - E quando é um golaço, alguma coisa que...
R - A gente vibra,
está bem feito o gol.
P/1 - Dá pulo?
R - Dá pulo também, vibra, sente, está participando também. Que todos os participantes, participam também do jogo de certo modo, vibrando, lastimando e alguns chingando.
P/2 - O senhor teria uma mensagem pra passar para essas torcidas que são violentas, que brigam, causam até mortes em estádio. O senhor como padre, como monsenhor santista de coração, nascido em Caraguatatuba, acompanhou o Santos aí tanto tempo, o senhor teria alguma mensagem pra passar para esses torcedores?
R - A mensagem seria esta: “Saber vibrar com o Santos e entender as dificuldades por que pode passar um clube, mas, estar sempre desejando que o clube realize o seu ideal, que é ganhar e fazendo bonito sempre.”
P/1 - Ainda com relação a torcida, o senhor que acompanha, que sempre acompanhou o time, muita diferença entre a torcida dos anos 60, por exemplo, e a torcida de hoje? Quais seriam essas diferenças?
R - Parece que a torcida de hoje tem mais compreensão do futebol, parece que tem mais, pelo menos certas coisas que aconteciam antigamente, hoje é muito raro.
P/2 - Como o que, por exemplo?
R - Como um crime, alguma coisa, polícia entrar, tudo isso, agora é muito mais raro, a vibração.... pode haver um desentendimento, uma coisa o outra, mas é entre uma pessoa e outra, um mal entendido, mas em geral, os que vão para lá, torcem vibrando, sentindo que estão acompanhando o jogo, no desejo que o seu time ganhe.
P/1 - Qual a sensação que o senhor tem quando vai ao estádio, e participar ao lado de milhares de pessoas, vibrando com 11 jogadores em campo?
R - Aí, participa-se, vibra-se, sente-se, e forma-se um só coração naquela alegria de ver o time da gente ganhando, pelo menos, não perdendo. (risos)
P/1 - Ainda, com relação a torcida, vamos tentar cobrir bem esse ponto, já que o senhor é um torcedor ilustre, o senhor pensa que a torcida pode estimular, influi no desempenho do time?
R - Influi muito, a torcida tem muita força, muita influência, sobretudo quando começa a apoiar os jogadores, então, eles ficam entusiasmados, e todo torcedor devia fazer isso, vibrar com a torcida porque o próprio jogador no campo sente esse desejo de trabalhar, mas apoiado, então, esse apoio da torcida dá muita força para o jogador.
P/2 - O senhor assistia os jogos do Santos só aqui, ou o senhor chegou a viajar alguma vez e de repente numa cidade...
R - Só pela televisão.
P/2 - Nunca assistiu em outras cidades?
R - Em outras cidades não, só pela televisão.
P/2 - E quando o senhor foi para o Seminário em Mariana, o senhor já era santista?
R - Era santista, e lá jogava futebol também como seminarista. Uma vez fomos para uma cidade, Viçosa, e demos uma surra no time de lá de Viçosa. Eles disseram: “Padre joga bola?” “Joga e ganha.” (risos)
P/2 - E o Santos era conhecido lá já, ou as pessoas não conheciam o Santos?
R - Conheciam, o Santos era conhecido no mundo inteiro, até na África, o Santos era respeitado em toda parte do mundo. Padre joga e ganha.
P/2 - O senhor lembra quando foi esse jogo, que os padres ganharam?
R - Ah, faz tempo, faz muito tempo.
P/2 - E o placar o senhor lembra quanto foi, foi uma goleada ou foi...
R - Não, o time da cidade, e nós éramos estudantes seminaristas, e naquele tempo jogava de batina.
P/1 - Por que os padres jogavam de batina?
R - Era costume. Eu vou contar o seguinte: eu fui reitor do seminário, também fui jogador, jogava de batina, e lá em Roma eu fui secretário do bispo, e lá fui hospedado num colégio chamado Pio Brasileiro de Roma, e lá
tinha futebol, fui assistir o futebol, todos eles sem batina, é, digo: “Ah, eu vou levar essa nova pra lá, para o meu seminário jogar sem batina.” Colocava um pedaço da batina, assim, no bolso e jogava de batina e lá não jogava... Aqui que é Roma aqui, os mocinhos jogam todos sem batina, de calção, eu vou levar pra lá...
P/2 - Aí o senhor veio pra cá...
R - Aí todos jogavam sem batina. Foi abolida a batina. (risos) E dificultava correr.
P/1 - E ainda assim, o time dos padres jogava bem?
R - Ganhamos lá em Viçosa, cidade de Viçosa. “Mas padre joga?” Eu digo: “Joga e ganha.” (risos)
P/1 - E o senhor jogou futebol, assim, até quando o senhor continuou a jogar futebol?
R - Eu joguei futebol durante muitos anos, depois lá para o seminário eu jogava, e meu apelido era paulistinha. Quando eu cheguei em Mariana depois de 10 anos, eu voltei a Minas, Mariana, e lá onde está o seminário, então está lá o diretor: “Ah, o senhor estudou aqui, qual é o seu nome?” É fulano de tal, depois aqui era conhecido como paulistinha, “Ah! Você que é o paulistinha?” (risos) Ele me conheceu por causa do jogo. “Ah! Você que é o paulistinha?” Eu digo, “É.”
P/2 - Paulistinha, porque, o senhor marcava muitos gols?
R - Ah, porque eu corria bastante, e só me reconheceu depois que eu disse que era paulistinha.
P/2 - Pelo apelido? (risos)
P/2 - Fez história?
P/1 - Em algum momento, assim, antes de ingressar no seminário até, quando o senhor jogava futebol ainda em Caraguatatuba, ainda menino, passou pela cabeça do senhor de ser um jogador de futebol?
R - Eu fui jogador de futebol desde criança, depois de mocinho e depois, naturalmente, na minha casa hospedava-se os padres, e esses padres me convidaram para vir estudar.
P/1 - Mas, assim, ser jogador de futebol profissional o senhor nunca pensou?
R - Não, porque eu era moço e pra ser profissional tomava bastante tempo, então, fui pra outro lado.
P/1 - Mas o amor pelo jogo sempre conservou?
R - Ah, sim, e depois no seminário eles me colocaram lá, é que eu corria muito, tinha vantagem, corria muito.
P/1 - O paulistinha fez o seu nome?
R - É, corria bastante. E porque corria, ensinava para os outros como fazer para eu poder fazer o gol, né?
P/1 - Ah! Além de jogador o senhor era também o técnico? (risos)
R - É, jogue com força bem na frente porque eu posso correr pra chegar antes do..., senão estava impedido, né?
P/1 - Toda uma técnica, uma tática.
R - É, correr, a tática.
P/1 - E o time se adaptava bem, os outros jogadores?
R - É.
P/2 - O senhor chegou a ver os jogos do Antoninho Fernandez? Antoninho, jogador do Santos?
R - Antoninho... eu assisti jogo de todo mundo.
P/2 - Pagão?
R - Pagão. Pagão... é, aquele de São Vicente, como é, gostam dele lá?
P/2 - Pepe?
R - Pepe, o homem do chute forte. Engraçado que lá em Paris, o... não sei se foi o Santos, foi o Santos, jogando em Paris lá, os franceses quando tinha uma falta contra a França, a torcida gritava, queria o Pepe, pra ver o Pepe chutar contra o gol deles, incrível, “Pepe, Pepe...” E ele ia. (risos)
P/1 - Você chegou a ver ele derrubar algum jogador adversário com um chute? (risos)
R - É, tantas vezes ele... que coisa, é tinha chute forte. O Pepe. Mas, lá na França, num jogo que eu assisti pela televisão, os franceses gritando “Pepe, Pepe, Pepe...” Deixa que o Pepe chuta.
P/2 - E ele chutou?
R - Chutou, é o Pepe... o Pepe...
P/2 - Bom, então a gente vai fazer uma última pergunta agora para o senhor, que a gente faz para todo mundo. Qual a sensação que o senhor está experimentando, podendo estar colaborando para a história do Santos Futebol Clube, que é o time do seu coração?
R - Claro, eu desejo que esse movimento se torne um movimento sadio, que incentive mais ainda os torcedores, mais toda a comunidade que vive com o Santos. O Santos até merece isso.
P/1 - Obrigado, então, a gente agradece muito ao senhor pela entrevista.
R - Muito bem.
P/2 - Muito obrigado.Recolher