P - Queria que você começasse dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento. R - Meu nome é Paulo Argemiro Marques, tenho 20, 48 anos e sou de Uruguaiana, Rio Grande do Sul. P - E qual que a data de nascimento? R - 28 do 6 de 57. P - E você ficou em Uruguaiana até que idade? ...Continuar leitura
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Queria que você começasse dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R - Meu nome é Paulo Argemiro Marques, tenho 20, 48 anos e sou de Uruguaiana, Rio Grande do Sul.
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E qual que a data de nascimento?
R - 28 do 6 de 57.
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E você ficou em Uruguaiana até que idade?
R - Eu fiquei em Uruguaiana até 16 anos de idade.
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16 anos de idade?
R - 16 anos de idade.
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E aí você veio, você saiu de lá pra onde?
R - Eu fui trabalhar pra uma empresa do governo em Porto Alegre.
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Em Porto Alegre.
R - Eu fui trabalhar pra uma, a maior empresa urbana de ônibus que existe no Brasil que é a Carris.
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E você fazia o que lá?
R - Eu comecei na Carris como cobrador de ônibus e aí eu tive um desempenho bom dentro da empresa e trabalhei meus últimos tempos na Carris como comprador da empresa.
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E como que era ser cobrador de ônibus? Qual que era...?
R - Era o máximo, porque eu estava chegando em Porto Alegre, eu não tinha como conseguir um emprego do tipo e jeito que eu queria. Então eu comecei como cobrador de ônibus, que aí eu podia me relacionar melhor com as pessoas e a ter um conhecimento melhor da cidade de Porto Alegre, que é uma capital do Rio Grande do Sul.
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E que linha você fazia, assim, você lembra qual foi a primeira?
R - Todas, né? Eu trabalhava em tudo que era linha. Eu trabalhei na realidade uma semana como cobrador de ônibus, e depois de uma semana é que eu fui descoberto, dentro da empresa, como um cara que já tinha trabalhado em área financeira, um cara que já tinha sido responsável por uma empresa em Uruguaiana, me convidaram pra trabalhar na área financeira da empresa, da Carris, né? E eu continuei trabalhando na área financeira e continuei como cobrador, porque eu queria conhecer a cidade. E pra ti conhecer uma cidade, nada melhor do que ser cobrador de um ônibus, que tu pode pegar qualquer linha pra trabalhar e tu passa a conhecer a cidade gratuitamente. E eu não perdi a minha chance de conhecer Porto Alegre, tanto que eu conheço Porto Alegre de todos os lados. Pra mim, indiferente ir a Porto Alegre, eu conheço todo ele, né, a capital.
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Você vivenciou alguma ocasião sendo cobrador, assim, dentro do ônibus, algum caos aconteceu enquanto você era cobrador?
R - Ah, sim. Eu, como eu sempre fui uma pessoa, que eu sempre gostei de jovens, de dar palestra pra jovens, eu tinha praticamente uma sala de aula dentro do ônibus que eu trabalhava, que era o ônibus da Mostardeiro. Então, como o ônibus começava no centro da capital, perto do hospital... é, poxa, agora não sei como dizer o nome do hospital que faz tanto tempo que eu saí da linha. E no fim da linha tinha uma escola, que as pessoas saiam na escola a hora que o ônibus estava lá. E quando eles vinham, a gente vinha recordando coisas de geografia, português... Então aquilo se tornou uma coisa assim bem esquisita, e ao mesmo tempo gostoso, porque a gente fez uma amizade muito grande, né? E como eu tinha conhecimentos, aqueles conhecimentos que eles não tinham. E tudo começou porque uma pessoa perguntou pra outra, dentro do ônibus o que que era H2O. E a pessoa não soube responder e eu disse que era água. E eles acharam esquisito um cobrador de ônibus saber que H2O era água, que cobrador de ônibus, naquela época, não sabia nada, era uma pessoa analfabeta, era uma pessoa bem comum, né? E graças a Deus, a gente sempre se esforçou pra fazer alguma coisa bem feita, então foi aí que foi até engraçado, que a gente formou uma sala de aula dentro do ônibus, que todo mundo queria pegar aquele ônibus, os alunos, pra poder...
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Ir estudando.
R - ...estudar dentro do ônibus.
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E você continuou fazendo como cobrador e trabalhando na empresa?
R - E trabalhando na empresa. Daí eu conheci uma pessoa, que foi uma casualidade, assim, da minha vida, que foi um 7 de setembro. Eu ia viajar pra minha terra, Uruguaiana. Então eu peguei o ônibus na rodoviária de Porto Alegre e sentei do lado de uma pessoa, um banco ao lado. E essa pessoa viajou até minha terra, que é Uruguaiana. E me chamou muita atenção dentro do ônibus. E chegando lá em Uruguaiana, eu desci do ônibus e fui pegar minha mala atrás do ônibus, que eu tinha colocado no final do ônibus e vi a minha irmã, a minha família recepcionando aquela pessoa, lá em Uruguaiana. E me chamou a atenção. Eu digo: "É, será que vieram me...? Nunca vieram me recepcionar na rodoviária, primeira vez, né?" E aí quando eu vi estavam recepcionando aquela pessoa, que estava indo pra minha casa. E aí a gente começou um namorico, um namoro pequeno, entendeu? E só de olhares, né, aquela pessoa que eu nunca tinha visto, mas que tinha me chamado a atenção foi pra minha casa. Então ali a gente começou tipo uma relação. Assim uma relação muito distante, mas que a gente sabia que ia acontecer alguma coisa. Aí eu fiquei aquele final de semana do 7 de setembro em Uruguaiana, aí eu voltei porque eu tinha que trabalhar na segunda-feira. Daí 30 dias, essa pessoa me ligou perguntando se eu não queria conhecer Caxias do Sul. E aí eu fui conhecer Caxias do Sul, dali 30 dias, né? E foi aí que a gente se conheceu mesmo, conversando, num final de semana. E na segunda-feira a gente marcou o casamento
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Nossa.
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Nossa. Nossa.
R - Só pra vocês terem uma idéia. É. Então, a gente marcou, a gente foi no tabelião da cidade, naquela época, em 1979.
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Como ela chama?
R - E marcamos casamento pra daí 20 dias. Porque ou tu casa daí 20 dias, ou tu casa daí três mês. E a gente marcou o casamento. Eu fui, e disse bom: "Eu acho que é a minha alma gêmea.". E fiz isso. Eu tinha 20 anos de idade. E essa pessoa tinha 29, né, que é a minha esposa. Então nós casamos, faz em outubro desse ano que passou agora, a gente completou 25 anos de casado. Então, a gente se conheceu mesmo, casado. Todos os meses e os dias da nossa vida foram os namoros, né? E deu tudo certo a nossa vida, que até hoje a gente é caso e se ama, né?
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Como que ela chama, sua esposa?
R - É Dalita, d de dado. Dalita Ana Melara Marques.
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E qual foi a reação da sua família, quando...?
R - Bom, a minha família não queria aceitar o fato de eu casar com uma pessoa que eles sabiam que era 9 anos mais velha que eu, pra começo de assunto. Uma pessoa que eles não conheciam. Eles conheciam só por intermédio de ela ter ido passar as férias na minha casa, na casa da minha mãe, no caso, lá em Uruguaiana. Eles não aceitavam esse tipo de coisa. Não aceitaram. Tanto que só quem foi no meu casamento foi a minha mãe. Só minha mãe. E por parte da família dela, ninguém opinou em nada porque ela já era uma pessoa de 29 anos. E seja o que Deus quiser. E realmente deu tudo certinho, né? Não teve problema nenhum. Claro que eu tive problemas por eu ser moreno, tá? E na época que eu morava em Porto Alegre, Porto Alegre é uma cidade muito quente, eu era mais moreno ainda. Teve um fator racismo, lá em Caxias do Sul. Em Caxias do Sul em 79 era cidade colonizada só por italianos, entende? E teve esse choque de raças, né? Só que eu superei isso, superando eles, na realidade. Eu fui fazer o mesmo esporte que eles faziam, que era jogar bocha. E eu era o campeão de bocha. Então, eles viraram meus amigos. E começaram a gostar de mim. E como eu estava muito envolvido com eles, eu aprendi a falar a língua deles, aí ficou melhor ainda, entendeu?
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Que língua?
R - Italiano.
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Ah, eles falavam...
R - Língua italiana, né?
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Eles falavam italiano?
R - Falavam italiano certas palavras, né? Então que é aquele italiano de colônia, né? De colônia italiana e eu consegui aprender, então ficou muito, eles me chamavam de negron, né? Então, negri, negri e negri e ficou aquela coisa e todo mundo começou a gostar da gente. Todo esporte que a gente sempre praticou, eu e meu filho, como eu sempre disse pro meu filho, a gente sempre é o primeiro. Nós jogamos tênis, tá? Pela Federação Gaúcha. E a gente, meu filho era o primeiro tenista do estado, eu era o número 16 da minha idade. Então tudo que a gente fez, a gente se dedica muito pra poder crescer dentro daquilo que faz. Então, a nossa vida, a minha vida. Eu digo nossa porque sou eu, meu filho e a minha esposa, né? A gente é uma família que é muito unida. A gente não está sozinho nunca. Sempre tem ou meu filho ou minha esposa junto comigo, ou eu junto com meu filho ou junto com minha esposa. A gente sempre está junto pra nunca ficar um sozinho, perdido, né?
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E a sua família se reaproximou depois ou não?
R - Sim. A minha mãe, hoje, mora em Uruguaiana. Mora em Uruguaiana a minha mãe, a minha irmã e três sobrinhas minhas. Sendo que uma sobrinha minha é casada. E outras duas sobrinhas são... tem namorados, né? A minha irmã ficou viúva de um capitão do exército, que ela era casada. E a minha mãe é uma pessoa, é argentina. A nacionalidade da minha mãe é argentina. Então a minha mãe hoje tem 82 anos, né? E eles moram tudo em Porto Alegre. Então a gente vem, claro. Eu acho que família é aquela briga momentânea. E eu acho que família não é ódio e sim amor, né? Então não pode existir o fato de que tu tenha feito alguma coisa e que tu vai ser excluído da família. Eu acho que não, eu acho que a família tem que te acolher, né? Tu errando ou não errando, tu tem que ser acolhido pela família. E a minha família me acolheu. A minha mãe me trata como filho, a minha irmã como irmão e a gente se ama como irmão, né? Se respeitando o espaço de cada um, que eu moro em Caxias, eles moram em Porto Alegre.
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Me diz uma coisa, como é que você se tornou músico, depois?
R - Isso. Eu vim, na realidade, eu vim de uma família muito pobre, né? Uma família pobre, pobre, paupérrima. A minha irmã, hoje ela tem cinco faculdades. Ela é formada em cinco faculdades, tá. Ela tem tem mestrado e doutorado. Em todas as faculdades que ela fez. E eu sempre tive o dom que Deus me deu, que foi cantar. Mas eu nunca tinha posto em prática esse dom. Quando eu vim morar em Caxias do Sul, que eu era, eu fui trabalhar na Agrale, uma firma muito grande, na época. E eu fui comprador dessa firma. E trabalhei 11 anos nessa empresa. Aí eu saí dessa empresa e fui ser representante comercial de três usinas, em Caxias. Mas eu fazia parte da música, mas não, assim, música total. Eu era assim, um músico de momentos. Mas, todo mundo dizia: "Pô, mas tu canta bem.", "Bah, mas tu canta bem", "Bah, mas tu canta bem.". Só que eu nunca achei que eu cantasse bem. Aí, quando teve uma pessoa que falou pra mim que eu cantava bem. Aí, eu olhei pro meu lado de músico e pensei: "Bom, primeiro eu vou gravar um demo e vou mandar pra São Paulo; se der certo, eu realmente canto bem, se não der certo, eu fico fazendo o que eu sei fazer, que é ser representante comercial.". É vender e comprar uma das coisas que eu sei fazer. Muito bem. Eu na minha casa, eu tinha tempo, eu era representante, eu fiz uma fita demo de música sacra. Música gospel de igreja católica. Aí eu digo vou fazer um disco que seja ecumênico, que todas as igrejas possam ter o meu disco. Fiz uma fita e mandei pra São Paulo pra gravadora Paulus, que é uma das maiores gravadoras de música sacra do país. Aí, simplesmente, não pensei mais nada disso. E um belo dia eu estou na minha casa, um recesso, assim, muito grande, de governo e o Brasil tumultuado, que nada dava certo e era crise econômica. E aconteceu de que me tocou o telefone na minha casa e era a gravadora Paulus dizendo que queria que eu gravasse um CD com eles, pá, e aí começou o primeiro CD, né?
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E isso foi quando?
R - Isso foi há cinco anos atrás. Aí eu gravei meu primeiro CD com a Paulus, que foi pra toda América Latina e que, graças a Deus, deu certo.
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Como é que foi, você foi pra lá?
R - É, aí eu fui pra... Não. Eu gravei todo em Caxias do Sul, né? Veio os técnicos todos pra Caxias do Sul. A gente alugou uma gravadora, pra mim não me deslocar, né? Porque senão o custo seria muito grande. E aí depois de tudo pronto, aí sim eu fui pra lá, eu fiz um especial de Natal da Rede Vida, tá? Eu fui a Valinhos, também, numa outra televisão. E fiz vários shows em São Paulo e rádios e todo o tipo de órgão que pudesse, no caso, levar esse nome todo. E fiz horrores de shows. Tanto que esse disco veio a me trazer trabalhos, né? Eu trabalhei 9 anos pra APAE [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais], em Caxias do Sul, gratuitamente. Eu trabalhei 8 anos no Lar da Velhice, também gratuitamente. Eu trabalhei 4 anos no Paulo Guedes, que é um instituto de pessoas alcoólicas, drogados, loucos... é um órgão que, que cuida de pessoas com problemas. E dou palestra nas escolas pra jovens, dou formação de jovens nas escolas, que eu falo de amor e de família. E sou amigo da Brigada, que é um órgão de governo, lá em Caxias do Sul. A gente é amigo da Brigada, a gente ajuda a Brigada e, além disso, eu faço um trabalho contra as drogas, junto com a sargento Maria, dentro das escolas de Caxias do Sul. E sou amigo do Exército Brasileiro, que a gente é condecorado dentro do exército como amigo há 15 anos. Então a gente ajuda o Exército, tanto o Exército como a Brigada na parte de som. Aí como eu sou músico profissional, eu tinha que ter um som. E aí eu comecei a adquirir esse som. Só que com o passar do tempo, esse som ficou tão grande, que eu não tenho porque deixar um som tão grande em casa, que eu poderia alugar, que eu poderia emprestar, que eu poderia fazer qualquer coisa, tanto pra ajudar os outros, como para sobreviver. E é o que eu faço hoje, né? Hoje eu sou músico profissional. Meu filho está se formando em arquitetura. Falta só meio semestre pra ele se formar arquiteto. Ele também é músico profissional. Ele é formado em piano clássico. E eu, a minha formação é canto e instrumentos de cordas
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Legal. E você já conhecia o Movimento dos Catadores?
R - Em Caxias do Sul teve o Primeiro Movimento dos Catadores, eu não fiquei sabendo que tinha o Primeiro Movimento dos Catadores de Caxias do Sul porque foi uma coisa assim, acho que como foi a primeira vez, foi uma coisa, assim, meio abafada. Não foi aquela coisa que explodiu pra América Latina, como está sendo o Segundo Encontro dos Catadores. Eu não conhecia, me contrataram. O Sergio, que é o responsável pelo que está acontecendo aqui, o Serginho, ele me ligou e queria um som de qualidade. E como nós trabalhamos só com qualidade, não trabalhamos com quantidade, a gente veio até aqui, na semana passada, num domingo, ver o ambiente que ia ser feito. E a gente chegou à conclusão que era esse o som que tinha que ser, que a gente tinha que trazer pra cá, pro Segundo Encontro dos Catadores, né? E eu estou achando, assim, pra minha pessoa, pra minha formação, muito boa. Ótimo. Porque eu estou conversando com pessoas de todos os níveis. Desde intelectuais que estão aí dentro, que nem o ministro que veio. Até pessoas analfabetas, né? Isso são coisas assim que estão me deixando impressionado, a sabedoria do ser humano. Eu ontem, conversando com uma pessoa, ali na fila da comida. Uma senhora, analfabeta, pessoa sem estudo, sem nada desse tipo de coisa, me contando pra mim que ela começou a ser catadora numa, num núcleo, depois ela largou de ser catadora naquele núcleo, comprou um carrinho pra ela, um carrinho de catador, e depois desse carrinho, o marido se envolveu catando lixo com ela. Que não é lixo, que são papelões e latinhas e plásticos, que eles compram pra reciclar. E hoje, ela sustenta cinco filhos, com os netos. Todos moram juntos, feliz e ninguém passa fome. E ela tem três carrinhos de catar, né? E ela entrega todo esse papelão todo acondicionado pras empresas que já vão buscar na casa dela. E aqui, ela está tirando um proveito muito grande. Então, isso me chamou muita atenção. Uma pessoa semi-analfabeta falar isso, né? E se sente honrada de estar aqui, de estar ouvindo o que está acontecendo, e estar sendo, como é que eu vou dizer? Organizando as idéias dela pra quando ela voltar pro espaço dela, ela consiga fazer com que esse espaço dela melhore, né? Então, isso é muito importante, que pra mim também é, porque o ser humano quando chega numa certa parte da vida dele, ele acha que está por cima, né? Então, o fato de eu ter vindo aqui, que que aconteceu? Até emociona. Me emociona porque tu está no meio de pessoas pobres, né? De pessoas de todos os níveis. E isso aqui é muito lindo. Por que? Porque tu acha que, assim, tipo, falta tudo pra ti, né? E tu tem tudo. E quando tu vê essas pessoas lutando, que é assim, como eu vou dizer? Por uma vida melhor, né? Por um, que nem hoje de manhã a gente estava vendo, por um, um prefeito lá do Uruguai, que manipula o lixo. Isso, tu fica, poxa, tu não é nada. Tu vive uma vida que tu acha que tu está vivendo, mas não é aquilo, entende? Cada um vive uma vida diferente. Isso pra mim está me servindo como lição. Eu acho que tinha que ter vindo aqui, fazer esse evento pra chegar a essas conclusões, que a vida da gente é uma passagem, né? E que tem pessoas que lutam. Se tu te envolve como eu estou envolvido, ali no meio deles, tu sente os problemas. Tu sente o que está acontecendo dentro do Congresso, né, Latino Americano. Claro que tem certas pessoas que vêm aproveitar, mas tem outras pessoas que vêm realmente pra sobreviver daquilo que está acontecendo. Então, pra mim, foi, está sendo uma lição muito grande de vida. Porque realmente a gente trabalha, a gente tem uma outra atividade, eu me esforço pra fazer o que eu faço, então eu posso ter lucros maiores. Só que nesse meio tempo a gente ajuda outras coisas, né? Porque que nem a gente foi contratado pra fazer o som aqui. Mas a gente se envolve com o telão, a gente se envolve até com as próprias palestras, porque a gente não consegue ficar no mesmo lugar, vendo todo esse sofrimento que tem aqui dentro. Ontem, vendo a palestra do Uruguai, num vídeo, o uruguaio falou na palestra dele, num vídeo que a gente viu a policia a cavalo cuidando do lixão. Daí, eu fiquei pensando: "Mas por que, né?". E ele complementou: "Por que polícia cuidando de lixão, se lixão não tem dinheiro?". Isso que me chama atenção. Então quer dizer que lixo dá dinheiro. Lixo faz as pessoas sobreviverem. E pra mim está sendo muito bom porque eu estou vendo o sofrimento de outras pessoas, eu estou me envolvendo com pessoas que estão sofrendo, né? E uma lição de vida isso aqui.
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Muito bonito.
R - Isso aí.
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Muito bonito.
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Muito obrigada, Paulo. Lindo seu depoimento, obrigada, mesmo.
R - Obrigado.
P -
Quer dizer mais alguma coisa?
R - Não.Recolher