Em 1950 no dia 12 de março, em São Leopoldo, nascia o penúltimo filho de Norberto Hartmann e Celita Hartmann. Ele foi batizado de Jaime José Hartmann, e nasceu com uma peculiaridade: Seu braço direito não se desenvolveu por completo.Sua mãe sempre foi dona de casa, e seu pai tinha uma pequena indústria de refrigerantes lá, chamada de Gasosa. Como o negócio não ia pra frente, ele e sua família se mudaram para Canoas, onde seus pais abriram um armazém que vendia mantimentos “Eu me lembro muito pouco dessa fase, cheguei a ver no google que ainda existe alguma construção naquele local, mas não recordo muito” diz Jaime.
Um tempo depois a família se mudou de novo, dessa vez para Porto Alegre onde se estabeleceram numa rua que não existe mais, entre a avenida Princesa Isabel e a avenida Ipiranga onde é o DMAE hoje em dia “É a partir daí que eu lembro mais claramente de algum brinquedo que eu tive,tipo um fusca vermelho,todo de lata, de um jipe de pedalinho que eu tinha, do cheiro de gasolina do Ford modelo A do meu pai. Quando a gente ia pra algum lugar era uma aventura”lembra Jaime com carinho. Em Porto Alegre, Norberto começou a trabalhar com reparte de pão. Ele pegava os pães na padaria Cruzeiro, que ficava na rua Protásio Alves em Porto Alegre e entregava para os clientes “O pai acordava todo dia as 3:30 da manhã por 15 anos da vida dele. Ele tinha que acordar com frio, com chuva, com o clima que fosse e isso eu admiro. Era um sacrifício tremendo. Ele não podia ficar doente, pois poderia perder a freguesia que esperava que o pão tivesse na porta de casa de manhã. Ele começou com uma carroça puxada por um burro, e depois comprou a caminhonete.
Com aquela pouca idade eu não conhecia nada no sentido de dar algum apoio tipo manter uma bateria em carga ou coisa assim, então por vezes acontecia de não ter bateria e eu e meus irmãos levantarmos de manhã a frio e empurrar a caminhonete pra funcionar....
Continuar leitura
Em 1950 no dia 12 de março, em São Leopoldo, nascia o penúltimo filho de Norberto Hartmann e Celita Hartmann. Ele foi batizado de Jaime José Hartmann, e nasceu com uma peculiaridade: Seu braço direito não se desenvolveu por completo.Sua mãe sempre foi dona de casa, e seu pai tinha uma pequena indústria de refrigerantes lá, chamada de Gasosa. Como o negócio não ia pra frente, ele e sua família se mudaram para Canoas, onde seus pais abriram um armazém que vendia mantimentos “Eu me lembro muito pouco dessa fase, cheguei a ver no google que ainda existe alguma construção naquele local, mas não recordo muito” diz Jaime.
Um tempo depois a família se mudou de novo, dessa vez para Porto Alegre onde se estabeleceram numa rua que não existe mais, entre a avenida Princesa Isabel e a avenida Ipiranga onde é o DMAE hoje em dia “É a partir daí que eu lembro mais claramente de algum brinquedo que eu tive,tipo um fusca vermelho,todo de lata, de um jipe de pedalinho que eu tinha, do cheiro de gasolina do Ford modelo A do meu pai. Quando a gente ia pra algum lugar era uma aventura”lembra Jaime com carinho. Em Porto Alegre, Norberto começou a trabalhar com reparte de pão. Ele pegava os pães na padaria Cruzeiro, que ficava na rua Protásio Alves em Porto Alegre e entregava para os clientes “O pai acordava todo dia as 3:30 da manhã por 15 anos da vida dele. Ele tinha que acordar com frio, com chuva, com o clima que fosse e isso eu admiro. Era um sacrifício tremendo. Ele não podia ficar doente, pois poderia perder a freguesia que esperava que o pão tivesse na porta de casa de manhã. Ele começou com uma carroça puxada por um burro, e depois comprou a caminhonete.
Com aquela pouca idade eu não conhecia nada no sentido de dar algum apoio tipo manter uma bateria em carga ou coisa assim, então por vezes acontecia de não ter bateria e eu e meus irmãos levantarmos de manhã a frio e empurrar a caminhonete pra funcionar. Era sacrificante.” A economia era fundamental para a família, eles poupavam em tudo que era possível pois os recursos eram muito limitados “Quando eu tinha 18 anos eu lembro de perceber a dificuldade dos meus pais em criar a gente, eu comecei a sentir muito isso. Isso de certa forma foi bom pois me fez aprender a dar valor ao que eu tinha. Mas ainda assim eu pensava ‘meu deus, isso é muito peso pra uma pessoa ter filhos, eu não quero isso pra mim’ “diz Jaime. Porém mesmo com esses poucos recursos, com muito sacrifício, eles formaram 4 filhos em universidades. Uma se formou como médica e se especializou em pediatria pela PUCRS, e os outros três todos pela UFRGS, onde Jaime se formou em engenharia elétrica
.A INFÂNCIA
Jaime estudou em um colégio de freiras, onde a educação era bastante rígida. Ele entrou na escola direto pro primário, e relata que foi muito duro “Me lembro de uma professora que, quando tinha muito barulho na aula, batia com uma régua na mesa e aquilo era apavorante. Partir direto pra uma coisa que eu não conhecia foi muito apavorante, e resultou em eu ter repetido o primeiro ano. Depois nos anos em diante por eu estar mais acostumado a coisa andou tranquilo”lembra Jaime. A escola de freiras tinha só o primário, que era equivalente até a quarta série atual. No ginásio (da quinta série até a oitava) ele estudou no colégio Júlio de Castilhos e seguiu lá até o colegial, onde se identificou com as matérias que envolviam eletricidade. Mais ou menos por esse tempo, Norberto começou um curso de eletrônica por correspondências, e Jaime começou a estudar junto através das cartilhas recebidas. Seu pai acabou não conseguindo continuar por falta de tempo, mas aquele material só ajudou a incentivar Jaime a escolher seu curso de faculdade. Ele logo começou a fazer experimentos em casa, fazendo seus próprios transmissores de rádio amador. “Eu tinha uma professora chamada Nancy, que dava as cadeiras de física. Ela me cativou a fazer seguir esse caminho. No final do terceiro ano, em 1970, prestei o vestibular na UFRGS e passei em engenharia eletrônica”conta Jaime. Quando entrou para a faculdade, logo conseguiu uma bolsa do governo, que cobria as passagens e um almoço por dia que ajudou bastante.
O BRAÇO
Na infância, Jaime conta que todas as crianças eram super compreensivas e que nunca sentiu discriminação da parte de delas. Porém mesmo assim, ele acabou desenvolvendo um complexo. “Eu não gosto muito de ficar sem camisa na frente dos outros porque eu acho que não é uma figura que todo mundo gosta de ver ou encare naturalmente. Isso me retrai muito até hoje, mas muito mais por mim do que pelas outras pessoas. Na questão de dançar, eu acho que não seria uma figura muito interessante porque dançar é uma questão de tu te expor e por isso eu não ia muito pra festas” conta. Contudo, a falta do braço nunca impediu que ele fizesse as coisas. Ele faz tudo pra mostrar pra todo mundo que é capaz, mesmo encarando como um desafio. Quando criança, aprendeu a andar de bicicleta sozinho.
Logo no começo dos 22 anos, Jaime decidiu que queria dirigir. Ele já tinha aprendido a dirigir com o carro do pai. Então sugeriram que ele tentasse fazer a auto escola em uma cidade menor, onde seria menos rigoroso. Jaime então foi pra Osório, no Rio Grande do Sul onde foi reprovado no exame médico. “O cara não demorou 5 minutos, simplesmente olhou pra mim e disse que eu era inapto. Foi pesado. Eu sinto muito isso, foi muito frustrante, eu tinha condições, eu sabia que era capaz” diz. Quando voltou pra Porto Alegre, Jaime conheceu um homem que tinha o mesmo problema no braço e ele me mostrou uma adaptação que ele havia feito no câmbio, que era uma espécie de cálice no câmbio. Jaime então fez a adaptação em um Fusca que ele comprou e prestou o exame em Porto Alegre, mostrando a adaptação que ele tinha feito, e dessa vez, foi aprovado. Mais tarde, sofreu discriminação novamente quando fez o concurso para a CGTEE, a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica, passou e foi preterido no exame médico, mesmo que o concurso suprisse vagas para deficiente físico.Eles alegaram área de risco, e isso não constava a palavra risco no edital nenhuma vez. Jaime entrou na justiça contra o caso e ganhou o direito de exercer a profissão, mas perdeu o interesse em trabalhar em um lugar assim.
UFRGS E EMPREGOS
Depois de 2 anos na faculdade, ao ver um anuncio no jornal, Jaime decidiu trabalhar de técnico. Mesmo com apenas o conhecimento de dois anos de curso e o das cartilhas ele foi admitido pela K Jojima, uma empresa japonesa de eletrônica que representava a Panasonic que na época era conhecida como National do Brasil. Por não conseguir conciliar os horários de serviço com o das aulas ele optou por trancar o curso na UFRGS. Ele começou a trabalhar na parte de gravadores de som, e depois em câmeras fotográficas. A empresa liberou para Jaime diversos cursos em São Paulo. Ele aprendeu muito lá e começou a admirar o método de serviço japonês e os produtos que eram muito bem feitos. Porém, mesmo sendo produtos bem feitos, os gravadores de som costumavam dar defeito nos motores. Jaime conseguiu identificar esse defeito e fez uma sugestão para a matriz de São Paulo sobre como corrigir. A matriz conduziu para a Panasonic no Japão, e um dia de repente, Jaime recebeu uma carta dizendo que sua sugestão tinha sido aprovada e implementada na produção dos motores no Japão. Em 1975 ele saiu da Panasonic e foi trabalhar na Gradiente, que fabricava equipamentos de som de alta potência para uso comercial e doméstico. Ele trabalhou lá até 1977, quando a empresa fechou e ele retomou o curso na UFRGS, terminando o curso em 1980. Durante esses 3 anos ele usou uma reserva que tinha guardado desde que começou a trabalhar para ajudar a família e pagar os próprios custos, tirando um peso das costas dos pais Depois da UFRGS ele foi trabalhar com um ex-colega de faculdade que tinha uma assistência técnica onde conheceu Dione de Castro Mendonça que trabalhava na parte de atendimento ao público. Eles se apaixonaram e começaram a viver juntos 6 meses depois e casaram logo em seguida.
FAMÍLIA
A mãe de Jaime não aprovou a união, pois Dione já fora casada antes e tinha três filhas desse outro casamento. As filhas eram Karen que tinha 9 anos, Karla que tinha 7 e Clarissa, que tinha 5 anos. “ Eu tinha um fusca na época, e eu me lembro perfeitamente de um dia sairmos nós 5 num sábado, primeira vez que nos conhecemos. Eu olhei pelo retrovisor e vi 3 cabecinhas, cheias de perguntas, cheias de expectativas. Eu senti um senso de responsabilidade muito grande, e todo o meu medo de antes se perdeu. Eu vi que o futuro poderia ser mais tranquilo do que eu imaginava. Já não tinha mais volta.”lembra. A mãe de Dione que morava junto restringiu também, pois achou que talvez Jaime quisesse só se aproveitar e tirar vantagens de uma mulher frágil. Porém, os dois não se abalaram e a decisão já estava tomada: Eles não iam ceder, e eles iam ficar juntos. As meninas amaram muito o novo pai e um dia, as três se juntaram e fizeram um pedido a Jaime: Elas pediram para ter o sobrenome dele. Eles fizeram o registro em cartório e tudo estava certo. Ele era oficialmente o pai das três.
Nem tudo eram flores, no começo a família teve dificuldades financeiras em função de Jaime e Dione trabalharem em um lugar pequeno “Naquela época eu ainda trabalhava numa empresa pequena que não era futuro, não havia crescimento depois de 2 anos. Isso era preocupante, então comecei a procurar um futuro melhor. Em 1984 eu consegui uma vaga na Parks, que era uma empresa de alarmes bancários através de um engenheiro de projetos que havia sido meu professor na UFRGS” conta. Nesse período eles compraram um terreno onde construíram uma casa, que eles mesmos fizeram a planta e Jaime sozinho fez os alicerces. Depois das três pequenas eles tiveram mais três filhos. A vizinha do lado tinha uma neta de 5 anos que tinha uma família desestruturada onde o pai era alcoólatra e a mãe sofria de problemas psiquiátricos. Jaime e Dione se tomaram de amores pela criança, e assim eles adotaram a Aline, que chegou na família com 5 anos. O segundo, Daniel, eles conheceram 3 anos depois visitando o pai de Dione em São Jerônimo “Eu me lembro de dizer pra ela que isso não era que nem cachorro, isso é muita responsabilidade. Acabou que ele veio morar com a gente também”. Em seguida, eles descobriram que Aline tinha uma irmã bebê de um ano que estava internada na Santa Casa, os pais ainda não tinham condições de criá-la. Então, eles a adotaram a Bruna. Jaime e Dione sempre incentivaram o estudo dos filhos, sempre dizendo que os filhos poderiam ficar em casa o quanto quisessem enquanto continuarem estudando. Hoje em dia, Jaime é avô de 10 crianças e é muito amado por seus netos.
Recolher