Entrevista de Rejane Pitanga
Entrevistada por Luiz Egypto
18/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV004
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Bom dia Regiane! Obrigado por ter aceitado nosso convite! Eu queria que você começasse dizendo seu nome comp...Continuar leitura
Entrevista de Rejane Pitanga
Entrevistada por Luiz Egypto
18/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV004
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Bom dia Regiane! Obrigado por ter aceitado nosso convite! Eu queria que você começasse dizendo seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R – Meu nome é Rejane Guimarães Pitanga, eu nasci em Salvador na Bahia, dia 1º de outubro de 1956.
0:41
P/1 - O nome dos seus pais, por favor?
R -
Minha mãe, Maria José Guimarães Pitanga e meu pai Reinaldo Aladio Pitanga Filho.
0:59
P/1 - Qual era a atividade do seu pai?
R - Meu pai foi assistente social, professor e a última profissão que ele exerceu, ele era advogado criminalista.
1:15
P/1 – E a sua mãe?
R - Minha mãe era do lar, trabalhava muito, mas em casa.
1:28
P/1 - Você chegou a conhecer os seus avós?
R - Só as duas avós, materna e paterna. Os dois vôs já tinham morrido, um eu tinha 3 anos e meio e o outro eu não conheci.
2:02 - Você sabe o nome dos seus avós?
R - Reinaldo Pitanga Filho, meu avô paterno e meu avô materno José Alves Guimarães.
2:20
P/1 - As avós?
R - Beatriz Pitanga e Júlia Alves Guimarães, materna.
2:34
P/1 – Rejane havia na família histórias sobre os avós, de onde vieram, que faziam, tinha histórias sobre eles na família?
R – Tinha sim! Todos eles são baianos, mas do meu avô materno que era um grande músico, que veio do pai também, meu bisavô, que era músico. A música é uma marca forte na minha família por parte da minha mãe. A música e o preconceito contra música também, as duas coisas conviviam juntas. Foi isso assim, mas as histórias que eu ouvia sempre muito era essas, as histórias do meu avô, meu avô era ferreiro e era músico, afinador de instrumento, tocava piano, violão, violino. Era um personagem muito interessante que eu não conheci, mas tinha muita vontade de conhecer, até porque eu gosto muito de música.
3:43
P/1 - Você nasceu em Salvador. Os seus pais e avós sempre viveram em Salvador ou vieram para Salvador?
R – Não, meus avós viveram em Salvador, meu pai veio para Brasília em 1959, portanto eu me criei em Brasília, eu vim muito pequenininha para Brasília, e aí a gente morou aqui a vida toda. Ia sempre para Salvador, tenho uma relação muito forte, mas meu pai veio logo no início para Brasília.
4:23
P/1 - Antes de chegar em Brasília, ainda em Salvador, como é que era a sua casa, aonde é que vocês moravam?
R - Olha eu vou ser bem sincera, eu me lembro só de idas em Salvador em férias, eu não me lembro, não tenho essa recordação de morar, porque eu era muito pequena, entendeu? Vim para cá, para Brasília com 3 anos de idade, então eu não lembro.
4:59
P/1 - Você tem irmãos?
R – Tenho mais quatro irmãos, eu tenho mais 4 irmãos por parte do meu pai e minha mãe, e tenho mais quatro irmãs por parte de pai.
5:14
P/1 – E a sua posição nessa escadinha de irmãos ai onde é que fica?
R - Eu sou a mais velha de todos, eu sou a primeira filha é a primeira neta.
5:29
P/1 -
E como é que foi a Brasília da sua infância? Seu pai é um pioneiro, ele veio para fazer o que na construção?
R – Meu pai, ele quando veio para cá, trabalhava na Caixa Econômica, então era motorista na Caixa Econômica. E aí depois ele foi, terminou o ensino médio, contabilidade e tal, e aí depois fez serviço social. Ele veio para Brasília nessa época e aí foi estudando enfim. Depois fez serviço social e trabalhou aqui na Fundação de Serviço Social e depois fez direito, e aí tinha um escritório. E era professor também, da Secretária de Educação de Brasília.
6:55
P/1 - Quando vieram para Brasília veio a família inteira de mala e cuia, todo mundo?
R -
Todo mundo.
7:03
P/1 - E aonde vocês foram morar?
R - Nós fomos morar na Asa Sul, 413 Sul, era um apartamento funcional da Caixa Econômica, porque o meu pai era funcionário.
7:18 – Como é que eram as sua brincadeiras de infância? Como é que essa garota se virava aí nessa cidade nova?
R – Era muito legal, muita brincadeira na rua, eu gostava muito de brincar na rua, e tinha muitos amigos no prédio. Eu gostava mais de brincar com os meninos do que com as meninas, então jogava biloca, jogava queimada, brincava de pic. A gente brincava o tempo todo, porque não tinha violência, então era uma coisa muito boa, Brasília era muito interessante, muito espaço, enfim! Foi bem legal a minha infância, nessa coisa de brincar.
8:03
P/1 - As crianças tinham obrigações em casa, sua mãe dividia as tarefas com seus irmãos e você?
R - Enquanto criança não, mas mais na adolescência sim, todo mundo tinha tarefa definida.
8:20
P/1 - Você como primogênita tinha lá uma certa ascendência sobre a meninada?
R - Mais ou menos, não era tanto assim não, não tinha essa moral toda também não, porque aprontava muito, então ia perdendo a autoridade, mas era bem legal, bem tranquilo.
8:44
P/1 – Rejane, fala um pouquinho mais sobre essas brincadeiras, essa infância no Planalto Central absolutamente inóspito, liberado, com o cerrado a sua frente.
R - Quando nós chegamos essa quadra em que a gente morava era perto da L2 Sul, portanto as outras quadras – as 400, depois vêm as 200, depois as 300, enfim, que vai subindo para o Eixo [Monumental] – todas essas quadras ainda estavam em construção. Brasília então era um grande canteiro de obras, aqueles acampamentos, eu não entendia muito bem. Mas era muito bom, porque a gente tinha um monte de lugar para brincar, tinha córrego ali para baixo da L2, meu pai levava a gente, soltava pipa, enfim! Então assim foi uma infância muito livre, muito interessante. A escola ficava quase de frente para o prédio em que eu morava, dentro da quadra que é concepção de Brasília, então estudava na Escola Classe 403 Sul. Então assim, era muito bom, muito livre, tudo muito aberto, mas começando, aquela coisa bem difícil. Eu lembro da minha mãe, não tinha máquina de lavar, aquele monte de menino, então não era muito fácil essas coisas, estava bem no início de Brasília.
10:22
P/1 – Rejane, conta um pouco sobre essa primeira escola, que era uma escola integrada à quadra onde você morava, como é que era o esquema da sua escola?
R – Era uma escola onde estudavam praticamente os meus amigos da quadra. Não me lembro muito das professoras, eu estou com problema de memória passada, às vezes eu me esqueço de um monte de coisas. Mas assim, me lembro da minha mãe me levando, eu era a única que estudava na época, por conta da idade, minha mãe me levando com todos os meus irmãos, me levava para escola, depois me buscava. Então assim, como era uma escola dentro da quadra, os meus colegas eram os colegas que eu brincava também na rua, então era bem interessante, pertinho.
11:14
P/1 - Você teria alguma reflexão sobre a estrutura pedagógica dessa escola, como é que ela funcionava?
R – Não! Não me lembro não, não lembro mesmo! Assim como é que era o funcionamento. Lembro que eu estudava à tarde, a maioria do tempo eu estudei à tarde, foi à época da minha alfabetização, enfim, lembro que um pouco rígido, aí eu não conseguia aprender o negócio da cartilha da escola, ficava estressada, aquela coisa. Mas assim, em geral não me lembro muito não.
12:00
P/1 – Essa foi a escola em que você cumpriu então o curso primário?
R - Não todo, uma parte dele.
12:12
P/1 – Você se transferiu para outra escola?
R – Não, é porque eles eu acho que tinham só até a quarta série, uma coisa assim. Depois meu pai mudou para Taguatinga, vendeu o apartamento que a gente morava e comprou uma casa em Taguatinga. Aí a gente mudou, que é uma cidade satélite onde eu vivi a minha vida inteira. É uma cidade que tem uma relação forte com ela, que aí eu fiz o restante do curso primário, ginásio, o cientifico.
12:48
P/1 - Alguma professora ou professor que tivesse marcado essa tua fase de Taguatinga?
R – Vários professores, vários mesmo, primeira escola que eu estudei foi na Escola Classe 19, que eu terminei o primário, nessa época tinha exame de admissão para você ir para o ginásio, é coisa de velho negócio de exame de admissão. Aí eu fui estudar na Escola Industrial de Taguatinga, que era uma escola muito interessante, muito legal, e assim vários professores, inclusive depois professores que trabalharam comigo, quando eu virei professora. Tinha a professora Claudete, professora de Matemática, uma baita professora; Maria José que é hoje é uma professora aposentada da secretaria, foi minha professora de Educação Moral e Cívica; uma outra professora, acho que era Magda, foi professora de Português, assim que eu me lembro que me marcaram bastante.
14:02
P/1 – O que essa garota baiana, moradora de Taguatinga queria ser quando crescesse?
R – Eu no começo da minha vida eu era louca para ser motorista de táxi, olha só, eu achava muito interessante, mas aí eu sempre fui muito estudiosa, lá em casa era difícil, porque meu pai professor, cinco filhos e tal, então era uma vida difícil, bem apertada e tal, não era fácil não, vida financeira, como todo professor é difícil. E eu sempre fui muito responsável com a coisa de estudar, mas ao mesmo tempo eu gostava muito de música, eu gostava muito de cantar, coisa que eu comecei a fazer depois de muito tempo na minha vida. Como era um período já de ditadura, a minha relação [com a] política começou muito cedo. Eu já tinha muita noção do que estava acontecendo, e isso me deixava meio que não tão integrada com o grupo. Eu achava um absurdo, a gente vivendo aquelas coisas todas que a gente vivia e um monte de adolescente, não estava nem aí, não sei o quê. Mas mesmo assim eu gostava de jogar vôlei, tinhas as minhas amigas que a gente saía, mas eu fui muito adulta cedo, sabe, acho que isso não foi muito legal, não. Porque você amadurece muito antes do tempo, eu acho que talvez até pela contingência política. Eu ouvia muito o meu pai, que era professor, quer dizer, uma cara que tinha, não era um cara de esquerda, mas um cara que tinha uma baita consciência do que estava acontecendo no Brasil, e eu já tinha meus 13 para 14 anos, então já tinha um bom discernimento.
16:35
P/1 – Como é que você se aproximou dos movimentos sociais, como é que se deu essa primeira aproximação?
R – Eu entrei na universidade muito cedo, eu fiz vestibular, eu não sabia muito o que eu queria, na verdade eu queria assim, tinha uma vontade grande de fazer Sociologia, e meu pai: “Não é o momento, não sei o quê...” Eu fiz vestibular para Química, e entrei em 1975, eu era muito jovem ainda na universidade. Então assim, foi meu primeiro contato com o movimento. No [curso] científico eu tive um pouco, mas ainda muito incipiente; na universidade foi que eu peguei mesmo já pesado. Então foi para mim um grande choque cultural a universidade, eu tinha uma expectativa muito maior, apesar da Universidade de Brasília naquela época ser um celeiro cultural, de movimentos. Mas foi o meu primeiro contato, foi no diretório dos estudantes de Química, nos movimentos que começaram acontecer, e dois anos depois que eu entrei, em 1977, veio a primeira grande greve, depois da ocupação da UnB em 1978, então foi barra muito pesada. Então aí a gente, não tinha jeito, tinha que ter contato mesmo e nessa época eu já participei muito do movimento de greve. E me filiei ao Partido Comunista Brasileiro, que já tinha uma boa militância nos estudantes, o PT nem existia nessa época ainda. Então foi na universidade que eu tive esse contato com os movimentos, movimento estudantil basicamente. Depois é que eu entrei na Secretaria de Educação em 1978, fiz um concurso e tal, passei super bem colocada e entrei. Em 1979 teve a primeira greve dos professores, então eu muito menina, grávida do primeiro filho, estava esperando gêmeos, uma greve complicada, muito complicada. Então eu entrei e não saí mais dessa coisa da militância política, foi um pouco isso. Então minha vida foi muito marcada pela atuação política, desde muito cedo.
19:48
P/1 - A tendência do PC no movimento estudantil era Refazendo, não era isso?
R – Não era Unidade.
20:03
P/1 - E como é que foi essa sua inserção no movimento estudantil, grávida?
R - Na verdade eu já estava dando aula, grávida, e estava na greve dos professores da Secretaria de Educação. Não era fácil não, era bem difícil, e assim, eu estava, eles não chamavam nem de estágio probatório, era período de experiência, e uma pressão muito grande para poder retornar ao trabalho. Fiz a greve inteira. Foi meu primeiro contato, não existia ainda o Sindicato dos Professores, era a Associação e logo depois da greve eu fui convidada para participar da primeira direção do SINPRO, como suplente. Não tinha muita experiência, não sabia direito o que era, mas tinha um pique bom de saber que o caminho era por aí. Que a gente ia ter que ir trilhar esses caminhos, então foi aí que começou a minha militância no movimento da Educação.
21:22
P/1 – A tua relação com o SINPRO começa ainda no tempo da Associação, pré-sindicato.
R – É, mas não tanto de militância, porque foi logo que eu entrei: eu entrei em 1978, logo veio a greve, a primeira greve dos professores. Mas aí já tinha um pessoal mais antigo, eu era muito jovem ainda, então tinha mais militância, foi quando eu conheci o movimento, foi participando da greve. E depois que eu fui para a direção do sindicato, que também era suplente, não tinha uma participação tão grande assim do ponto de vista das decisões, mas foi importante para eu poder conhecer. Eu literalmente participei de todos os movimentos que teve na Educação desde que eu entrei: fui dirigente do SINPRO por cinco mandatos depois, eu nem conto esse primeiro porque estava na suplência, mas fui dirigente do sindicato durante um bom período, intercalando com a volta para a escola, vai para o sindicato, enfim. Mas tive uma vivência muito forte da luta dos trabalhadores da Educação, e da construção desse sindicato. Que é uma experiência fantástica, que é uma entidade de vanguarda.
23:10
P/1 - Eu queria que você falasse de uma pessoa que não está mais entre nós, mas eu queria traçar um perfil dela que é Olímpio Gonçalves Mendes. Como é que era Olímpio? Quem ele era? Como é que ele agia? Como é que foi sua relação com ele?
R – Na verdade eu convivi assim na primeira greve, muito distante, ele era um cara muito atuante, foi presidente da Associação dos Professores, teve um papel importante na organização do movimento dos professores, depois a associação virou sindicato. E aí foi assim, distanciando mais, mas era um cara muito sério, e que tinha um envolvimento muito grande com o movimento. Agora eu pessoalmente, assim de muito perto, eu não tive uma convivência tão próxima com ele, porque foi muito no momento que eu entrei, que também foi essa transição da associação para o sindicato.
25:10
P/1 – Rejane nos falávamos do Olímpio, eu queria que você, por favor, dissesse um pouco dessa pessoa, traçasse um perfil desse militante sindical.
R – Olha, pelo assim... pelo o pouco que eu convivi, uma pessoa muito serena, muito tranquila, muito envolvimento no movimento dos professores, num momento difícil, num momento de ditadura. Mas como eu entrei logo nessa época da greve foi no momento da transição da associação para o sindicato, então eu não tive uma convivência muito próxima, como eu tive com outros companheiros e companheiras dirigentes do SINPRO. Mas era uma pessoa extremamente calorosa, que tem um papel importantíssimo na nossa organização, e no início no momento de ausência de liberdade, ausência de democracia. Então ele teve um papel muito fundamental em toda a base da estruturação da nossa entidade sindical e da organização do nosso movimento.
26:24
P/1 – Tão logo o Sindicato foi constituído já sofreu uma intervenção, o ministério do trabalho interveio no Sindicato logo na primeira greve meses depois dele ser constituído como sindicato. Como é que a militância recebeu essa?
R – Foi uma pancada. Era o que estava na verdade acontecendo no Brasil como um todo, mas foi uma pancada bem pesada – e eu ainda muito no início, muito no começo. Mas foi pesado para o movimento, bem pesado. Depois nós fizemos o segundo movimento em 1985, não é isso? Eu não estou muito boa de data não, mas que foi o... depois de 79 foi a primeira greve dos professores.
27:30
P/1 - Você anteriormente ao se referir ao SINPRO se referiu como um Sindicato de vanguarda, por que essa caracterização? O que o qualifica ser um Sindicado de vanguarda? Explica melhor isso, por favor!
R – O SINPRO, primeiro, ele tem todas as lutas democráticas dessa cidade, em defesa direitos dos trabalhadores, trabalhadoras, em defesa movimento contra a carestia, movimento pela moradia, enfim, todas as lutas do DF têm a marca do SINPRO. É um Sindicato que tinha, que sempre teve, mesmo quando não era da CUT, e sempre teve uma visão muito mais abrangente, não era uma luta meramente corporativa; tinha uma visão da necessidade da solidariedade de classe, de entrar nos movimentos gerais, e assim o sindicato teve algumas ações importantes. Por exemplo, como o primeiro sindicato no Distrito Federal que tem uma direção colegiada – se é bom ou se não é bom, aí é outra história, mas foi vanguarda em relação ao movimento. Uma série de debates, a gente pode até conversar um pouquinho mais na frente, mas foi um sindicato que começou a enxergar a luta sindical além da luta meramente corporativa, e financeira, então começou a pensar, isso muito no compasso do movimento da CUT, eu fui presidente da CUT aqui no Distrito Federal, fui a primeira professora, agora o companheiro que está na presidência é professor também, mas fui a primeira professora a assumir a presidência da CUT. O SINPRO começou a fazer um debate muito mais abrangente da questão da mulher, da questão do negro, da questão de violência nas escolas, da questão da saúde que o meio ambiente trabalha, ou seja, começa a abrir um leque de ações que nos leva a avançar em direitos sociais – isso é importante – e começar a fazer esse debate com os trabalhadores. E [o SINPRO] sempre teve lado na história; me lembro nos processos eleitorais, enfim, a gente sempre fez o debate político de que lado que a gente estava, qual era a posição da entidade, na orientação à categoria. Então sim, uma posição política muito vanguardista, muito à frente daquela luta meramente econômica, que sempre foi um grande peso para a gente, porque a gente sempre teve muita dificuldade. Cada coisa que a gente tem no contracheque foi resultado de muita luta. Então o SINPRO tem essa marca, de uma de uma visão mais cosmopolita, vamos falar assim, no movimento sindical.
31:00
P/1 - Essas cinco gestões de que você participou você estava sempre na mesma função, ou fez um circuito por entre as atribuições?
R – Eu fiz um circuito, eu participei já como direção colegiada, fui da Secretaria de Informática, tempo em que eu voltei para o sindicato na primeira gestão, me parece que foi de 1989 a 1992, foi uma gestão marcada por muitas conquistas, uma direção muito boa, e depois eu fiquei na Secretaria de Gênero Raça e Orientação Sexual, e depois na Secretaria de Mulheres.
Porque cada gestão eram três anos, então foi isso, sempre nessa área aí, então tinha muito interesse pela organização e discussão da luta das mulheres. Nós criamos primeiro essa Secretaria de Gênero Raça e Orientação Sexual, que depois se desmembrou em Secretaria de Mulheres, acho que foi o primeiro sindicato em criar especificamente essa secretaria, criou a Secretaria Contra Discriminação Racial. E aí foi trabalhando esses debates, então depois que criou a Secretaria de Mulheres, eu fui no outro mandato e fiquei um, dois, sei lá, não me lembro exatamente a temporalidade não, mas já na Secretária de Mulheres eu já estava na CUT, então era pesado. Eu fui secretário-geral da CUT-DF, de Políticas Sociais, secretário de Política Sindical; ao mesmo tempo em que eu estava no SINPRO, eu fiquei um tempo como dirigente da CUT, e fui eleita presidente [da CUT-DF] em 2006: tive a honra de ser eleita presidente no mandato do presidente Lula.
34:13
P/1 – Rejane podia contar, por favor, como é que se deu essa transição de uma diretoria clássica para uma diretoria colegiada com todo esse avanço que você relatou?
R – Olha só, não me lembro exatamente, me parece que foi em 1988, você tem as datas aí né. Me lembro assim Luiz, foi um momento de muita efervescência política no movimento dos professores e no movimento sindical em Brasília, em 1986 foi a primeira direção cutista que foi eleita, e era uma mulher, a Lúcia Carvalho, que foi eleita presidente, e logo depois se começou a discutir essa mudança, essa mudança no estatuto, muito nessa coisa do novo sindicalismo, de uma nova estrutura, enfim. Eu vou ser bem sincera para você, eu hoje não votaria, eu pessoalmente não concordaria com essa mudança, é mais democrática enfim, mas ela é bem complicada do ponto de vista interno da organização. Porque você pode ter presidencialismo, que a estrutura da maioria das entidades, com democracia. Eu fui presidente de uma central e tivemos uma atuação coletiva muito grande, então assim, foi um momento, acho que foi um momento importante, um momento histórico importante, mas que a própria prática do dia a dia do trabalho, o SINPRO é um sindicato muito grande, tem muitos locais de trabalho, é muito pesado. Então assim, eu acho que o colegiado ele meio que dilui um pouco as responsabilidades, e acaba algumas pessoas representando efetivamente, você acaba tendo alguns presidentes, certo, porque em cima, dependendo da formação, da experiência, enfim, as pessoas se destacam umas mais que as outras, entendeu? Então assim, eu acho que inclusive a categoria ela até hoje não conseguiu compreender muito bem essa história do colegiado. Mas enfim, acho que foi importante no momento, no momento histórico, e a gente foi meio que aprimorando a estrutura, criando algumas mudanças estatutárias, inserindo cota de mulheres, hoje tem paridade, inserimos a cota de mulheres na comissão de negociação, que apesar da gente ser maioria na base, efetivamente não era a maioria nas instâncias de decisão no sindicato, então criamos alguns mecanismos do estatuto para garantir a renovação que é uma coisa, uma coisa importante. Então assim, sindicato que tem uma visão, uma visão de futuro, de você ir trabalhando as mudanças, mas sempre no sentido do fortalecimento da entidade e no fortalecimento da luta da categoria.
37:44
P/1 – Isso se alinha com aquela ideia que você me passou a respeito do SINPRO como transcendendo a pauta corporativa.
R - Com certeza!
37:55
P/1 – Buscando outro tipo de atuação política.
R – O SINPRO foi, foi não, ele é um sindicato que teve, que produziu muitos quadros políticos para o Distrito Federal, para mim foi a maior escola da minha vida, me ensinou muita coisa, me deu muita experiência, hoje eu estou aposentada presto assessoria, enfim, mas foi uma escola muito grande, até porque eu posso um pouco falar isso, porque eu passei por todas...eu fui dirigente do SINPRO, fui presidente da CUT, depois eu fui deputada distrital, minha primeira disputa eleitoral em 2010, eu fiquei na primeira suplência do PT, nós ganhamos o governo do Distrito Federal, eu fiquei um ano como deputada distrital e depois eu fui Secretária de Estado. Então eu pude viver todos esses espaços institucionais, e com certeza o sindicato para mim foi a maior escola, por exemplo, quando você chega no executivo que é um espaço bem complicado, e eu fui para uma área muito difícil, que era criança e
adolescente, dificílima, talvez foi um dos maiores desafios da minha vida, a experiência do SINPRO me deu muita, sabe, muita base de atuação, porque você sai do espaço, tanto o espaço legislativo, quanto espaço do executivo, você sai de uma ação coletiva que é o sindicato, para uma ação muito mais individual, um voo muito solo. Então assim, você sente, eu senti muita falta, tinha hora que me dava muita nostalgia, saudade do meus companheiros, eu ia no sindicato conversar, essas coisas assim, mas é uma escola impressionante, muito grande, até porque você vive uma relação de conflito, de resolução de conflitos, uma coisa bem permanente. O SINPRO é um sindicato onde a maioria das forças políticas que atuam na esquerda, atuam no movimento, então também isso é uma grande escola, e te ensina a conviver com as diferenças, trabalhar na diversidade, então isso é uma coisa importante. É uma baita de uma escola, que tem grandes quadros políticos, sei que o movimento sindical hoje passa por um momento bem difícil, por essa conjuntura horrorosa que nós estamos vivendo, nesse ambiente de fascismo, com esse governo de extrema-direita. Um sindicato que se mantém em pé, firme, vivo, que é referência na base, na luta da educação aqui no DF e no Brasil inteiro. Então tenho orgulho muito grande, mas muito grande, de ter feito parte dessa história, ela se mistura um pouco com a história da minha vida. Eu saí do movimento sindical em 2010, e já tinha cumprido o meu papel, e assim nunca tive muito fascínio Luiz, dessa história de ser deputada, e hoje eu tenho mais certeza disso ainda, porque é um ambiente muito... é importante que a gente tenha representação, mas um ambiente muito difícil de você conseguir avançar, é um espaço bem inóspito para os trabalhadores.
41:49
P/1 - De todo modo Regiane você deve ter tirado boas lições dessa sua ação do outro lado do balcão, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Quais são as grandes lições que você teve disso?
R – Olha só, primeiro assim, todas as minhas lições e todas as minhas ações, tanto nesse espaço do legislativo cuja minha dedicação nesse ano que fiquei, era em defesa da pauta dos trabalhadores, da educação, do avanço dos direitos sociais, que é uma pauta difícil pra caramba, porque é uma Câmara extremamente conservadora, enfim. Mas assim, no Executivo trabalhar com adolescente em conflito com a lei, não é fácil, Conselho Tutelar e tal, toda essa pauta. E eu coordenei um processo de desativação do CAJE, que era uma das piores unidades de internação do país, e a estruturação do novo sistema socioeducativo. Então foi um desafio, não conhecia muito essa área, mas o embasamento como educadora e como militante sindical, então tudo eu fazia o paralelo com o sindicato. O sindicato me deu um embasamento muito grande no processo de aprender a negociar, a CUT também, porque na CUT você não trabalha com um sindicato só, você atende a vários, então essa coisa de lidar com a diversidade eu aprendi muito, no movimento sindical, então essa... Lidei com aspectos diferentes diversidade, tanto no espaço do parlamento, quanto no executivo, no executivo e muito mais duro ainda, mais difícil. Então essa escola que a gente pensava, que a gente articulava, que a gente trabalhava caminho sempre para tentar avançar o máximo que a gente podia, nos direitos, isso para mim foi uma escola fundamental. Porque depois nos outros espaços também você vai viver isso, você vai, é um processo permanente de resolução de conflitos, que quando você vem do ambiente onde você passou anos trabalhando nessa seara, fica mais fácil. Eu fiz um trabalho muito interessante no espaço do executivo, muito mesmo, foi marcado por grandes avanços, é numa área difícil demais, meio que, uma área que você enxuga gelo o tempo todo. A Câmara Distrital eu sempre fiquei meio... Porque é um ambiente, é tão difícil de você avançar, de você aprovar um projeto, sabe, de você, é bem complicado, mas muito interessante eu acho que os professores precisam pensar na importância de você ter representação no parlamento, é bem importante.
45:17
P/1 – O que dizer da ação sindical, da militância sindical em momentos em que o governo era supostamente aliado, governo Cristovam Buarque, governo Agnelo Queiroz, o que muda nessas situações em que são os nossos que estão lá?
R - Luiz é difícil viu, ao mesmo tempo que... Eu não fui do sindicato no governo Agnelo, eu estava no governo, fui auxiliar meus companheiros do sindicato no sentido de intervenção junto ao governador, fiz isso todas as vezes que foi necessário para poder ajudar. Agora, no governo Cristovam eu fui da direção do sindicato, nós tivemos profundos conflitos, foi uma relação marcada por disputas assim terríveis. Avançamos sim, um monte de coisas, principalmente pedagogicamente, tivemos alguns avanços salariais, mas foi... Acho que teve erros dos dois lados, tanto do sindicato, quanto do governo, agora um governo que tinha uma incompreensão grande dessa coisa da relação, e tinha algumas confusões também dentro do movimento sindical. Tem um conflito nessa relação, que é a relação partido e sindicato, o papel do sindicato é lutar pelos interesses dos trabalhadores em qualquer governo que seja, obviamente a gente vai ter mais facilidade em avançar quando você tem um governo que tem uma visão de respeito aos direitos, das necessidades de avanços de conquistas. Mas eu quero ser bem franca, foi uma relação bem difícil, bem difícil, fez a gente a pensar bastante o quanto que a gente tem que aprofundar esse debate dentro do partido e dentro do sindicato, essa coisa da independência, autonomia, ela fica meio complicada nos momentos em que a gente é governo. E no governo Agnelo o sindicato também teve, numa escala bem menor de conflitos, até porque o Cristovam era um cara bem, bem complicado, e a gente... A história mostra, melhor coisa do mundo é o tempo, e a história, onde é que ele está hoje? Onde é que ele esteve no impeachment e no golpe de 2016? É isso, então o tempo ele mostra, agora foi uma relação diferente do ponto de vista de conflito que teve com o governo Agnelo e teve vários, o sindicato fez o papel que ele tinha que fazer, tivemos várias greves, momentos difíceis enfim, do governo nosso. Mas não é fácil, e principalmente para quem está na direção do sindicato e quem é militante partidário. Normalmente quando a gente está no sindicato, é uma luta tão imediatista, e uma luta tão cruel, dia a dia, é um monte de coisas para resolver, e dificuldade, é só apagando incêndio o tempo todo, que a gente deixa um pouco de atuar partidariamente, você fica mais focado no movimento sindical, eu acho até que hoje o pessoal está melhorando mais nisso, mas na minha geração tinha mais dificuldade com isso: você se dedicava mais ao movimento sindical. E sou filiada ao PT desde 1983, e tem gente do sindicato que vem... Que foram meus companheiros de diretoria que estão desde o início, antes do início do PT. Mas a gente ainda tem muito que amadurecer nessa relação. Relação extremamente conflituosa, e que causa para gente pessoalmente situações de constrangimento, de sofrimento, enfim. Apesar de ter a clareza da importância, da independência e da autonomia, isso é o discurso. E que a gente tem muito mais facilidade se você tem um governo que te respeita, e tem a ótica voltada para a construção de um novo modelo de estado, cidade, enfim. Mas não é fácil a relação, não, bem difícil. Eu não sei se já está resolvido, eu acho que não!
51:23
P/1 - Rejane, como é que você avalia a atuação do SINPRO nessa conjuntura difícil que nós estamos vivendo agora, atuação atual nesse momento do SINPRO?
R – Nós temos uma direção, eu tenho orgulho de ter participado na coordenação de campanha, na chapa eleita para essa diretoria, eu tenho uma relação muito próxima com o sindicato, sempre tive, nunca me afastei, já tivemos conflitos. Então essas coisas naturais do movimento, mas assim, eu achei a condução extremamente competente, principalmente nessa questão da pandemia. O sindicato teve uma postura de luta em defesa da vida, questionado esse negacionismo do Governo Federal, as dificuldades da relação com o governo do Distrito Federal, que iniciou o processo com ações interessantes, depois foi se se aliando com o governo Bolsonaro. Se a gente pensar bem, é uma diretoria que tem muita gente nova, que teve uma renovação muito grande, os quadros têm gente experiente, nós fomos construindo essa combinação ao longo da história. Então eu acho que o pessoal teve muita maturidade política para lidar e fazer esse debate, esclarecer a categoria no momento que você não tinha condições de se reunir, o momento que a gente vem sofrendo retirada de direitos desde o golpe de 2016. Num cenário totalmente adverso do ponto de vista de avanço e de conquista, ao contrário, é um cenário de perda, um cenário de refluxo, um cenário de desmobilização, que muitas vezes a culpa ao em vez de recair no governo, recai no sindicato. Eu me acostumei com isso, no tempo todo de dirigente sindical. Acho que o SINPRO ele teve uma sutileza e uma inteligência, a diretoria, no encaminhamento das lutas e no enfrentamento da pandemia. É muito difícil você enfrentar o novo e o desconhecido, e principalmente num cenário como esse, quase que... É uma guerra, o que a gente está vivendo é uma guerra, é um cenário de filme de terror, que a gente... Imagina você tem que repensar sua relação, desde o cotidiano da relação aluno professor que sempre foi aquela na sala de aula, da nossa relação de visitar escola, de discutir, das grandes assembleias e tal, para relação virtual. Esse novo, ele não vai embora, ele veio para ficar, então o sindicato teve que repensar como as novas práticas pedagógicas no cenário de pandemia, como organizar a luta com cenário de pandemia, como enfrentar as investidas do setor empresarial, de que a economia era mais importante que a vida. Achei que foi uma condução muito sensata, uma condução inteligente, uma condução calcada na ciência, no debate com os anseios dos professores e professoras, num cenário muito difícil, muito difícil, muito difícil, que ainda tem muita coisa, muita coisa nova pela frente. Primeiro a gente precisa começar a sair desse cenário de horror que a gente está vivendo, de isolamento, muito difícil, essa coisa do isolamento é complicada demais. Você vê que a gente tem mais de um ano nisso né, foi em março do ano passado, e agora num cenário de muito mais aprofundamento dessa doença.
56:00
P/1 – Você meio que antecipou a pergunta que eu te faria em seguida, que seria quais são os grandes desafios que se colocam para o SINPRO hoje, talvez você queira acrescentar mais algum?
R – Olha Luiz, eu acho que eu até já falei, já falei quase tudo. Mas eu acho que são desafios para o SINPRO e desafios para o movimento sindical em geral, as pessoas costumam fazer comparações, por exemplo, eu fui dirigente do SINPRO em alguns momentos de grandes conquistas, de grandes mobilizações. Como fui presidente da CUT num momento que a gente foi Governo Federal, fizemos muitas coisas, e avançamos num monte de coisas. O cenário hoje é diferente, a conjuntura é outra. Você não pode utilizar uma prática do início do século, para um momento como esse que a gente está vivendo, então essa coisa de pensar novas práticas, dentro da realidade que a gente vive e do cenário totalmente desconhecido, do ponto de vista eu falo da saúde, do ponto de vista político a gente já sabia o que ia dar, quando o Brasil sofreu o golpe que sofreu em 2016. O que as elites desse país querem fazer e fizeram com ele, nós estamos no fundo do poço, literalmente. Essa coisa da organização, da reação nossa, e da responsabilidade da população desse país o ano que vem, nas eleições gerais é muito grande. Então o sindicato tem um papel determinante nisso, e tem que realmente pensar novas práticas políticas, e acho que o SINPRO acertou muito na condução desse processo até aqui, talvez, óbvio que não vai agradar todo mundo. Tem algumas pessoas que acham que independente de qualquer coisa, tem que ir para rua, enfim. É mais o cenário era bem difícil. Então acho que esse é o desafio dos trabalhadores da educação, de pensar educação nesse novo cenário, de aprofundamento absurdo da exclusão social. É você ver o que são as aulas remotas, a diferença dos alunos da escola particular, que têm mais poder aquisitivo, e de alunos que têm um celular em casa, para 4, 5 meninos. E tem que assistir à aula ao mesmo tempo, os professores preparando material para entregar, enfim. É um cenário que ficou muito claro a diferença de classe, nesse país, aprofundamento do desemprego, dá miséria, da fome. É um cenário muito, muito difícil, e que exige mudança e exige coragem. E eu acho que esse desafio está colocado para população brasileira e principalmente para os trabalhadores e os dirigentes.
1:01:54
P/1 – Rejane, você havia antecipado alguns desafios importantes que o SINPRO deve encarar nessa conjuntara adversa que nós vivemos, essa era uma pergunta que eu iria te fazer e que você já meio respondeu, a não ser que você queira acrescentar mais alguma coisa.
R – Os desafios são muitos, até porque a gente está diante de uma conjuntura do ponto de vista da pandemia, uma conjuntura nova, a gente não conhecia, nunca viveu isso, então nessa parte o sindicato teve uma competência, enfim, uma forma bem interessante de conduzir, até por conta de muitas pressões que aconteceram pela volta às aulas presenciais aqui. É um novo cenário, um novo cenário de pensar ação sindical, de mobilização, de participação, cenário que a gente está fazendo praticamente tudo virtualmente. De pensar as práticas pedagógicas, essa relação professor e aluno, num cenário também virtual, aonde você tem profundas desigualdades sociais e o enfrentamento do cenário político e econômico que a gente já sabia que ia ser tão difícil, mas às vezes não tão difícil quanto ele está apresentando. É um governo tão... É um governo tão grotesco, eu vou usar até esse nome, é uma coisa tão medíocre, tão grotesca, tem hora que é inimaginável que você tenha a frente do Brasil um cara tão desqualificado quanto esse presidente. E um congresso também, tão reacionário e tão descomprometido, quanto a gente tem. É uma parcela pequena de parlamentares que tem compromisso com a luta dos trabalhadores. E todo esse processo do golpe ele foi referendado pelo Judiciário, então esse é o cenário do Brasil, profundo retrocesso do ponto de vista do emprego de aprofundamento da crise econômica, da exclusão social, enfim, da retirada de direitos e direitos importantes, importantes direitos sociais, importantes direitos trabalhistas. Então assim, tem hora que você fala: não vai ficar pedra sobre pedra. Então a responsabilidade dos dirigentes sindicais da população dos trabalhadores, é muito grande né, porque você não pode... Você tem que saber exatamente de onde é que vem e como que a gente vai enfrentar. Então acho que são muitos desafios diante de muita coisa nova, muita coisa desconhecida, e um cenário de aprofundamento de crise. Então não é fácil não, a gente tem que ter em mente a responsabilidade da população brasileira em 2022, que é eleger um projeto que retorne o Brasil para mão dos brasileiros e brasileiras. Da gente derrotar esse fascismo, essa política de extrema-direita que foi implantada no Brasil com a eleição do Bolsonaro.
1:06:00
P/1 – Rejane, sem te pedir nem um exercício de futurologia, mas como é que você avalia o futuro da educação no Brasil?
R – Olha Luiz, depende, vai depender muito do que virá em 2022, a continuar esse cenário que nós estamos vivendo, é a destruição total da educação pública, é a destruição de direitos. É muito difícil, por isso que a nossa responsabilidade é muito grande, é preciso que tenha mudança, é necessário que tenha mudança no Brasil pela sobrevivência do país e do povo brasileiro e das políticas fundamentais, como educação, saúde, segurança, emprego, enfim. E essa responsabilidade está nas nossas mãos, portanto eu acho que esse é o grande desafio que a gente tem pela frente, se teve uma área nesse governo que foi totalmente dizimada, foi a educação, nunca teve um ministro que entendesse alguma coisa de educação. Então assim, o compromisso era de destruir as políticas que foram construídas do governo Lula para cá, um cenário que foi construído muitas políticas na área de educação, inclusive políticas anteriores, de outros governos. O compromisso dos caras era destruir, destruir nessa concepção conservadora, medíocre, de desvalorização total da educação. Educadores, artistas, intelectuais, são os principais inimigos num governo fascista, então eles elegeram a gente logo no início, para fazer parte do processo da destruição. Portanto a gente tem uma responsabilidade muito grande pela frente, pra tentar mudar esse país.
1:08:27
P/1 - Eu queria que você pensasse no seguinte, um garoto ou uma garota que acaba de decidir ser professor ou professora, o que você diria para ela?
R – Se prepare, porque a vida é dura é difícil, mas você escolheu uma das profissões das mais importantes na sociedade, mas ao mesmo tempo das mais desvalorizada. É preciso ter essa consciência, que ser professor no Brasil não é uma tarefa fácil, não é mesmo.
1:09:13
P/1 - Para começar encaminhar o final da entrevista, eu queria voltar para o plano pessoal. Você é casada? Tem filhos?
R - Eu tenho dois filhos, tenho três netos. Tem uma filha que é professora de geografia e tem um filho que é bancário, eu estou no meu quarto casamento Luiz! Já casei um monte de vezes.
1:09:40
P/1 – Como é o nome dos seus filhos?
R – Marcelo que é funcionário da Caixa e Janaina que é professora de geografia. E meus netos, eu tenho o Arthur, 14 anos, tem a Beatriz de 9 e tem a Bárbara de 9.
1:10:05
P/1 - Rejane alguma coisa nessa conversa que você gostaria de ter dito e não disse?
R – ALGUM ACRÉSCIMO?=>Primeiro agradecer o espaço para falar um pouco dessa luta... Até porque a minha vida, a história da minha vida, se confunde muito com o movimento, com a construção do SINPRO. Meus filhos eram bem pequenininhos quando eu fui pro sindicato, depois as vezes a gente nem acompanha muito o crescimento, porque a luta é muito dura, mas assim, ter oportunidade de falar do meu orgulho que eu tenho de ter participado dessa história tão bonita e de tanta luta, então vida longa para o SINPRO, vida muito longa que a gente precisa continuar unidos, firmes e fortes nessa luta em defesa da Educação.
1:11:05
P/1 - E como é que você se sentiu participando dessa entrevista?
R - Eu achei muito bom, fiquei muito à vontade, achei interessante porque tem um perfil bem diferente das outras, que cobravam data, e aí o que aconteceu na greve tal, na greve tal, e às vezes a gente ficava agoniada, ai meu Deus eu não me lembro mais como é que foi. Eu estou com 64 anos Luiz, então a gente vai perdendo um pouco a memória, a bagagem da memória passada, mas eu fiquei muito feliz de participar, certo! Qualquer coisa estou à disposição.
1:11:55
P/1 – Eu também fiz curso de admissão ao ginásio.
R – (rs..)
P/1 – Para finalizar Rejane, quais são os seus sonhos?
R – Luiz, eu vou te falar, eu estou num momento da minha vida... Eu não tenho mais nenhum interesse em ter nenhuma função pública, não quero mais! Eu quero... Viver com mais tranquilidade, ter um momento mais de tranquilidade, porque assim, eu tive uma vida muito tumultuada, sempre com muita coisa, com muito pouco tempo para mim, com muito pouco tempo para minha casa, para a minha vida pessoal, para os meus filhos. Eu quero ter isso agora, continuo militando, continuo ajudando e participando no que eu posso participar, mas eu quero um pouco também... de um tempo para mim, então é isso, eu nunca fui uma mulher de grandes aspirações, de sonhos. Eu quero ficar mais comigo, um pouco mais tranquila, então esse é o momento da vida que eu estou vivendo, pode até não ser, pode até daqui para o ano que vem eu mudar, mas eu acho que eu já me doei muito, um bom tempo da minha vida para a luta. Continuo participando, pode continuar contando comigo, eu acho que a experiência sempre é uma coisa importante, mas eu quero um pouquinho mais de tranquilidade, nesse momento tão difícil, é de tentar compreender essa loucura toda do mundo. Eu estou tendo muita dificuldade com essa coisa do isolamento, eu não tenho muito a ver com isso, eu gosto de gente, gosto de conversar, me reunir com as pessoas, essa foi a minha vida a vida inteira, imagina ficar um ano dentro de casa, não é fácil não, é difícil demais.
1:14:22
P/1 - Muito bom Rejane, te agradeço muitíssimo pelo seu tempo, uma bela entrevista e muito obrigado, viu!
R - Obrigada você, adorei conhecer vocês viu, um grande beijo!Recolher