P/1 – Cláudio, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Queria começar com você me dizendo nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Cláudio Campos Pimentel Tostes. Eu nasci no Rio de Janeiro no dia 24 de junho de 1970. Dia de São João.
P/1 – Comemorar três dias. Cláudio, o nome dos seus pais e atividade deles.
R – Meu pai se chama Ivan Pimentel Tostes, é projetista da Fundação Oswaldo Cruz. Quer dizer, ele é aposentado hoje em dia, mas ele era projetista de lá. Minha mãe se chama _____ Campos Pimentel Tostes, foi professora de enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro na escola Anna Nery. Hoje é aposentada também.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho quatro irmãos. Vou dizer por ordem de nascimento: a Virgínia, a Renata, o Ivan, depois nasci eu, depois de mim veio a Daniele.
P/1 – Turminha grande, né?
R – Grande.
P/1 – Cláudio, diga-me qual é a sua formação. Você tem duas faculdades, conta o que você escolheu primeiro, o que te motivou a sua escolha.
R – Eu estudei Serviço Social primeiro. Na verdade eu queria fazer a faculdade de Jornalismo. Na verdade mesmo o meu sonho era ser ator, porque foi a coisa que eu fiz melhor na minha vida até hoje. Mas eu acabei optando em fazer Jornalismo porque existia uma pressão muito grande dentro da minha família, principalmente por parte da minha mãe, pra que eu fizesse uma faculdade que tivesse um reconhecimento e tal. O sonho dela era que eu fosse médico. Ela dizia que o meu pai sonhava que eu fosse engenheiro. Eu queria fazer faculdade de Jornalismo, mas aí não passei no vestibular de primeira e aí com os pontos que eu tinha, na época existia um programa do Governo Federal de aproveitamento das vagas da universidade. Ela falou: “Ah, faz Serviço Social então que não tem que estudar”. Quebrei a cara porque eu estudei muito, foram quatro anos... Não. Eu estudei mais tempo. A...
Continuar leituraP/1 – Cláudio, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Queria começar com você me dizendo nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Cláudio Campos Pimentel Tostes. Eu nasci no Rio de Janeiro no dia 24 de junho de 1970. Dia de São João.
P/1 – Comemorar três dias. Cláudio, o nome dos seus pais e atividade deles.
R – Meu pai se chama Ivan Pimentel Tostes, é projetista da Fundação Oswaldo Cruz. Quer dizer, ele é aposentado hoje em dia, mas ele era projetista de lá. Minha mãe se chama _____ Campos Pimentel Tostes, foi professora de enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro na escola Anna Nery. Hoje é aposentada também.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho quatro irmãos. Vou dizer por ordem de nascimento: a Virgínia, a Renata, o Ivan, depois nasci eu, depois de mim veio a Daniele.
P/1 – Turminha grande, né?
R – Grande.
P/1 – Cláudio, diga-me qual é a sua formação. Você tem duas faculdades, conta o que você escolheu primeiro, o que te motivou a sua escolha.
R – Eu estudei Serviço Social primeiro. Na verdade eu queria fazer a faculdade de Jornalismo. Na verdade mesmo o meu sonho era ser ator, porque foi a coisa que eu fiz melhor na minha vida até hoje. Mas eu acabei optando em fazer Jornalismo porque existia uma pressão muito grande dentro da minha família, principalmente por parte da minha mãe, pra que eu fizesse uma faculdade que tivesse um reconhecimento e tal. O sonho dela era que eu fosse médico. Ela dizia que o meu pai sonhava que eu fosse engenheiro. Eu queria fazer faculdade de Jornalismo, mas aí não passei no vestibular de primeira e aí com os pontos que eu tinha, na época existia um programa do Governo Federal de aproveitamento das vagas da universidade. Ela falou: “Ah, faz Serviço Social então que não tem que estudar”. Quebrei a cara porque eu estudei muito, foram quatro anos... Não. Eu estudei mais tempo. A faculdade era de quatro anos, eu estudei cinco anos e meio. Eu fiz muita coisa, aproveitei bastante a graduação em Serviço Social. Fiz parte do movimento estudantil, fiz intercâmbio, fui bolsista de iniciação científica. Depois de formado ainda fui bolsista de aperfeiçoamento, tudo pelo CNPQ. Então assim, a minha estada dentro da universidade foi muito bem aproveitada e eu acabei ficando mais tempo.
P/1 – Fez aonde?
R – Fiz na UFRJ. Fiz na Escola de Serviço Social da UFRJ. Acabou que eu estudei muito. Muito mais do que quando eu fui estudar Jornalismo. Dez anos depois de formado em Serviço Social eu fui estudar Jornalismo. E assim, é claro que boa parte do que foi estudado naquele curso eu já sabia da outra formação, mas foram dez anos de diferença, então aprendi muita coisa ainda assim. Agora, na parte de jornalismo mesmo não vi muita novidade.
P/1 – Você fez onde?
R – Fiz na Facha. E aí eu fiz na particular. Faculdades Integradas Hélio Alonso.
P/1 – Mas isso só dez anos depois. Você trabalhou como Assistente Social?
R – Eu trabalhei... Assim que eu me formei em Serviço Social eu comecei uma especialização em Saúde Mental, que era uma área que eu tinha muita curiosidade de conhecer. Terminando essa especialização eu continuei trabalhando no próprio hospital psiquiátrico onde eu fiz a especialização, que era o Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Depois eu fui pra Jurujuba. Trabalhei no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói, onde eu atuei como Acompanhante Terapêutico. Eu já tinha uma noção de alguns outros campos que informam a saúde mental, aí eu consegui um trabalho de Acompanhante Terapêutico no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba. Trabalhei lá por bastante tempo e aí houve uma situação difícil lá que eu sofri um sequestro relâmpago na porta do hospital. Aí resolvi saí, eu já tava trabalhando em outro lugar também, com educação especial, tava trabalhando no Criarte. Comecei a trabalhar só com educação especial.
P/1 – E qual desses momentos você voltou a pensar em fazer Jornalismo, ou nunca deixou de pensar?
R – Na verdade eu nunca deixei de pensar. Assim que eu me formei em Jornalismo eu me formei também em Fotografia, estudei na Abaf.
P/1 – Mas você foi o quê? Depois do Hospital de Jurujuba ou você fez ainda trabalhando?
R – Eu fiz tudo ao mesmo tempo. Fiz concomitantemente. Eu, além de trabalhar com essas coisas todas que eu acabei de dizer, eu trabalhava com fotografia também. Meu interesse no jornalismo foi sendo nutrido pela fotografia. Fiz bastante coisa em fotografia. Quando eu me senti com a oportunidade de estudar Jornalismo, aí sim eu investi nisso.
P/1 – Fala da sua ida pro Canadá. Você foi a trabalho? Como foi?
R – Eu fui pra trabalhar como jornalista, não deu muito certo. Eu fui numa época de crise financeira mundial e não deu certo. A experiência não deu certo. Eles não tinham condição de me acomodar dentro da empresa, mas eles tentaram, tentaram bastante, eu reconheço isso. Eu tive que voltar pro Brasil por questões de visto e tal. Foi uma experiência muito boa. Foi uma experiência que me rendeu bastantes frutos, mas que durou pouco. Durou pouco tempo.
P/1 – Mas você tinha escolhido Canadá por alguma razão especial?
R – Foi por causa da minha ex-esposa. Na época eu era casado com uma mulher chamada Simone, ela era da minha idade e a gente sofreu esse sequestro relâmpago juntos. Desde que a gente sofreu esse sequestro relâmpago a vida dela se tornou uma coisa muito difícil aqui no Brasil. Qualquer lugar que a gente fosse a gente não se sentia seguro, às vezes ela chegava em casa chorando muito. Eu me senti muito mexido com aquilo, aquilo tava afetando o casamento também. Eu percebi que eu poderia fazer alguma coisa pra contribuir com a melhora desse quadro. Foi quando eu tentei ir pro Canadá, consegui a vaga de trabalho.
P/1 – Mas você escolheu Canadá por quê?
R – Porque ela tinha estado lá, ela é professora de inglês. Ela não gosta de dizer, mas ela é militar, hoje em dia ela é Major do Exército. Ela esteve em missão no Canadá em 2006, gostou muito. Quando ela voltou, já voltou cheia de ideias e articulações pra que a gente morasse um dia lá. Aí eu fui aproveitando essas articulações pra tentar uma oportunidade de trabalho. Consegui. Acreditei que indo pro Canadá ela ia ter uma oportunidade de viver uma vida num cenário diferente daquela violência toda que a gente tinha experimentado no Rio de Janeiro, que foi uma coisa muito difícil o sequestro relâmpago. Principalmente pra ela.
P/1 – E aí seu contato com a BrazilFoundation chega em que momento?
R – Dia primeiro de janeiro de 2010 eu cheguei ao Brasil lá pelo...
P/1 – De volta?
R – De volta do Canadá. Lá pelo mês de abril, o Pedro, Pedro Toledo que trabalha aqui no setor financeiro há muitos anos, ele falou comigo: “Olha, tem uma vaga lá no setor de monitoramento. Eu posso te indicar. Você me manda seu currículo, currículo de Assistente Social, porque eu não tenho vaga em Jornalismo. Você manda seu currículo de Assistente Social que eu posso conversar lá com a Susane e ver o que eu posso fazer por você”. Eu falei: “Tá ótimo”. Eu tinha trazido um dinheiro do Canadá, tava vivendo uma situação um pouco confortável, mas eu queria trabalhar, queria fazer alguma coisa. Aí vim, tive uma entrevista com a Susane, a Susane... Isso foi mais ou menos em maio de 2010, a Susane: “Eu não faço a menor ideia de onde eu posso alocar você”. Eu nunca tinha tido experiência com marco lógico, nenhuma das metodologias que eram usadas aqui, mas eu já tinha trabalhado em ONG, tinha alguma noção, conhecia o outro lado da mesa. Conhecia como se desenvolvia projeto do lado de lá. Ela: “Olha, isso não é suficiente. Eu acho que não tenho como te aproveitar”. Mas aí acho que pela necessidade mesmo de ter alguém no monitoramento eu fui contratado, quer dizer, eu tive um período de experiência, eu tive uns quinze dias. Depois disso eu fui contratado e estou apaixonado pelo trabalho do monitoramento até hoje. Apaixonado pela equipe que a gente tem no monitoramento, eu acho que é uma equipe muito legal. Tô aí até hoje.
P/1 – Cláudio, o que você sabia da fundação? Não sei se você já conhecia alguma coisa...
R – Nada. Quando o Pedro me falou ele me mandou o link do site. Aí eu estudei o site todinho, achei interessante, achei muito rico. Mas talvez por causa dessa falta de interação de como é atuar apoiando projetos eu não entendia assim, completamente a proposta, não. As minhas experiências foram em hospitais psiquiátricos, em instituições da iniciativa pública ou da iniciativa privada. Então meu contato com o terceiro setor se deu através de uma experiência curta, muito curta, com crianças vítimas de violência doméstica lá em 95. Não, 94. Não, 95. Então assim, eu tinha muito pouca familiaridade com o terceiro setor.
P/1 – E aí como que foi, você também... Como estava o monitoramento quando você chegou e como foi a sua interação com esse trabalho?
R – Bom, eu cheguei e encontrei a Clarissa sozinha no monitoramento. Ela tinha tanta coisa pra fazer que a gente mal tinha tempo de conversar. Aí a Susane falou pra mim assim: “Lê aí uns projetos. Pega, abre aquele arquivo ali” mostrou onde tinha as pastas, aí eu comecei a ler projetos a meu bel prazer. Eu escolhia qual era o projeto que eu ia ler e aquilo me passava algumas informações, mas hoje em dia eu sei que não me passava nem metade do que eu precisava saber. A Clarissa, eu vivia vendo a Clarissa, conversando com a Clarissa algumas coisas mais superficiais, mas a Clarissa não tinha tempo de lidar comigo, treinamento, nem nada disso. Aí eu fui entrando meio na cara e na coragem, entrando de peito aberto, tava muito disposto a aprender. Coisa assim de uns dez dias depois que eu estava aqui chegou o Vitor, que era um estagiário que marcou muito a equipe nesse período. O Vítor entrou e eu conheci o Vítor numa reunião de equipe, de seleção e tal. Nem sabia quem era o Vítor, ninguém tinha me apresentado, depois que a gente viu que tava trabalhando no mesmo setor. A gente, com o tempo, foi percebendo que a orientação da Susane era que eu olhasse um pouco pra frente, pro futuro da BrazilFoundation e que o Vítor olhasse um pouco pra trás, resgatasse contatos e tal. Aí a gente começou a trocar figurinha. Eu virei pra ele e falei: “Olha Vítor, eu to percebendo aqui que tem uma tendência de te apontar pra trás e uma tendência a me apontar pra frente. Vamos fazer o seguinte, a gente troca informação e a gente acaba se inteirando das coisas como elas estão acontecendo”. Foi muito bom porque o Vítor era um cara muito sagaz, muito inteligente, muito criativo e que me ajudou bastante nesse trabalho. A gente trocou muita figurinha, a gente trocava muita ideia, a gente sugeria muita coisa pro outro. Ele me passava todas as informações que ele colhia, eu passava pra ele todas as que eu colhia. Foi um bate-bola muito gostoso, porque o Vítor é uma pessoa fantástica de se lidar. A gente conseguiu trazer a Clarissa pra essa relação e estabeleceu uma parceria de equipe mesmo. A gente conseguiu estabelecer um vínculo de equipe. Depois eu fui descobrir que eu entrei uma entressafra de bombas atômicas. Tinha caído uma bomba atômica no monitoramento antes de eu chegar, antes de nós chegarmos, eu e o Vítor, e caiu uma assim que a gente chegou, que foi uma questão que eu nem me inteirei direito. Até hoje eu procuro não me inteirar direito sobre o que aconteceu, não, porque eu conhecia as pessoas mais diretamente, tive um envolvimento um pouco mais próximo com a Graciela e tal. O que eu sei é que ficou uma situação muito esquisita entre a Graciela e a Susane depois que elas se desentenderam, a Graciela foi embora. Então foram duas bombas atômicas que me pegaram antes de eu chegar e assim que eu cheguei.
P/1 – A anterior era o quê? A saída da equipe?
R – A anterior era a situação do Gláucio, porque assim, o Gláucio trabalhou bastante tempo com monitoramento, foi uma das pessoas responsáveis pelo desenvolvimento do monitoramento. Quando a gente chegou ele tinha levado embora muita informação, então a gente trabalhava basicamente com desinformação. Não havia relatórios dos projetos, não havia registros no computador. Eu e o Vítor criamos isso, muito mais o Vítor porque ele tava voltado pro passado, mas a gente trabalhou muito isso juntos, trocando as figurinhas, trocando as informações, decidindo ali, às vezes na emergência do ato o que ia fazer. A gente ralou muito pra reaver as informações. Foi um trabalho bem difícil.
P/1 – E atualizar...
R – Atualizar tudo. Colocar em dia. A gente trabalhou prioritariamente de 2009 pra cá, mas algumas informações de antes disso a gente percebeu que ia “dar murro em ponta de faca” pra recuperar. E assim, foi muito difícil porque faltava muita informação, muita informação não foi registrada. Assim, a gente conseguiu adiantar bastante. Até hoje a gente tem alguns projetos de 2009 que precisam ser fechados, concluídos. Nós estamos em junho de 2011 e eles eram pra ter terminado no máximo até dezembro de 2010. Como o nosso monitoramento tem um caráter didático também, didático pedagógico, a gente não tem uma cobrança muito firme, muito exagerada sobre o projeto. A gente cobra, obviamente, mas não tem aquela coisa de mão de ferro. Então a gente tem uma relação mais aproximada, a gente tem um jeito diferente de falar com os gestores, a gente tem a ideia de que eles monitorem, aprendam conosco a monitorar os seus projetos. Então tudo é muito negociado, sabe? Na hora de cobrar um projeto não é simplesmente uma cobrança, a gente procura saber o porquê o relatório está demorando, quais são as dificuldades, a gente se coloca a disposição pros esclarecimentos.
P/1 – Cláudio, explica antes de você, até de você falar isso, pra quem não conhece, não é da área, quais são as etapas do monitoramento e quais são os propósitos, os objetivos desse monitoramento?
R – Bom, o monitoramento evolui ano a ano. Cada ano tem etapas que são diferentes. Por exemplo, 2010 tem menos etapas do que 2009 (interrupção).
P/1 – Cláudio, você tava falando da evolução, que cada ano muda o monitoramento.
R – É. Só pra citar um exemplo, no ano de 2009 eram quatro relatórios de projeto e um relatório de avaliação final. 2010 a gente já fez diferente, são quatro relatórios contendo o relatório de avaliação final. O último relatório é um relatório técnico que vem uma parte que é de avaliação. A pergunta inicial sua é como é esse monitoramento.
P/1 – É. Como é a proposta do...
R – O monitoramento começa a atuar já antes da capacitação, que a gente manda pra eles um plano de trabalho e um cronograma de despesas onde eles vão fazer ali algumas reflexões, já vão começar a se acostumar a nossa metodologia, que é a metodologia do marco lógico. Então esse plano de trabalho tem um quadro lógico em que o sujeito vai traçar ali os objetivos específicos do projeto. A gente fala pra ele listar no máximo três e aí pra cada objetivo específico ele vai traçar um indicador de medida daquela evolução até atingir o objetivo específico. Vai dizer pra gente qual é o marco zero, como é a situação do projeto antes do apoio. Vai falar de alguns objetivos que são algumas metas que ele quer atingir. Vai traçar alguns produtos, ou seja, algumas coisas que ele vai construir através de atividades e vai dizer quais as atividades que ele vai elaborar. Depois nesse plano de trabalho tem um segundo quadro que ele estabelece as atividades por tempo, por trimestre. Como os nossos relatórios são trimestrais, a gente pede pra ele estabelecer por trimestre o que ele vai fazer de atividade. Então as mesmas atividades que ele elaborou pro primeiro quadro, ele vai transpor pro segundo de acordo com a temporalidade do que ele vai fazer. Então vai alocar aquelas atividades no trimestre correspondente. O último é um quadro de risco, riscos que ele calcula que ele terá, os motivos daqueles riscos e quais as estratégias que ele pode traçar já de antemão pra ele... Então ele já chega na capacitação pensando no projeto dele dentro de certa lógica que é a nossa metodologia. Também faz o cronograma de despesas, que é onde entra o trabalho do Pedro também. Cronograma de despesas precisa estar ajustado com esse plano de trabalho. Quando a gente compara os dois documentos eles precisam estar alinhados no sentido da execução do projeto de acordo com o dinheiro que ele tem. Como a gente tem vários repasses, a gente tem que estar ligado se ele planejou dentro do primeiro repasse, dentro do segundo. No caso de 2010, dentro do terceiro.
P/1 – Onde eles sentem mais dificuldade? Onde acaba sendo problema? Tem alguma parte específica ou...
R – Nessa primeira etapa eles chegam aqui, geralmente, com total desconhecimento do que são os indicadores. E o objetivo específico geralmente ele coloca assim o objetivo geral, ou então um objetivo magnífico que ele quer atingir. Ele domina bem as atividades que ele quer desenvolver, às vezes ele tem alguma dúvida sobre o produto. Marco zero, alguns têm alguma dificuldade e as metas são algumas coisas que de vez em quando a gente tem que retrabalhar, mas que eles já têm algum conhecimento. Cronograma de despesas é uma coisa assim que normalmente a gente tem que mexer depois. Ele chega pra essa capacitação com esses dois documentos em mãos, a gente pede pra ele trazer impresso e digital. A gente tenta fazer com que... Na capacitação a gente tem um tempo pra rever esses documentos. Geralmente a gente tem dificuldade de rever todos, mas a gente pelo menos pega os mais graves, dá uma olhada, modifica, mas depois que termina a capacitação, a gente sai da capacitação com o contrato deles assinado. Depois que termina a capacitação a gente tem quinze dias pra trabalhar esse cronograma de despesas de acordo com o plano de trabalho e vice-versa. Então é o momento em que a gente pode sentar, e à distância, através de internet e eventualmente um telefonema ou outro, a gente ajustar o plano de trabalho de acordo com o marco lógico. Aí a gente começa uma etapa do trabalho que é muito importante, que é de simplificação de todo aquele brainstorm que ele fez ali naquele plano de trabalho. A gente vai pegar aquelas ideias, vai buscar a essência das ideias sem modificar o espírito do que ele pretende fazer, a gente vai adequar aquilo ali ao marco lógico. Aí é muito interessante essa etapa, que é uma etapa muito eu diria até bonitinha, porque a gente pega, simplifica aquilo tudo, quando a gente devolve pra eles a gente tem o cuidado de dizer que são sugestões, que tá aberto a ele fazer qualquer modificação que ele queira. Na verdade a gente não mexeu em nada, a gente só simplificou. Aí a devolução geralmente é assim: “Nossa, mas agora sim eu entendi qual é a proposta”. É muito legal isso assim, como que a gente consegue estabelecer essa comunicação, porque a gente lida com público muito diferenciado, vem gente do Brasil inteiro, de realidades muito distintas. Ao mesmo tempo em que numa capacitação a gente tem um PhD, a gente tem uma pessoa que não tem nem o primário, entendeu? Então é um público muito diverso que chega na mão da gente, é um público muito bonito também, porque são pessoas maravilhosas querendo dar o melhor de si pra mudar a realidade das suas localidades ou do público que atendem. Então assim, é uma etapa muito gostosa de interação e de certa maneira fica um contrato estabelecido ali de relacionamento com os projetos. É nesse momento que o gestor percebe que a gente tá ali pra ajudar, que aquilo ali é um apoio, não é uma cobrança pura e simplesmente, tem um caráter de troca, que a gente aprende muito com eles também. Muito.
P/1 – Você falou ali que tem desde um PhD até uma pessoa que mal sabe ler. Então você não consegue dar um perfil desses gestores, porque são muito...
R – O perfil é o perfil do brasileiro. Brasileiro, numa medida em que muito brasileiro não conhece. É o brasileiro que realmente conforma o tipo do brasileiro, que é o brasileiro com muita boa vontade, muitas boas ideias e muito bom coração, acima de tudo. E que conhece a sua realidade mais do que ninguém, capaz de fazer propostas que nos surpreendem e que trabalha com muito afinco, muita dedicação, muita paixão, independente da sua formação escolar, da sua formação da maneira clássica como a gente já conhece. Formação de muitos desses gestores é no lido prático com as suas dificuldades de vida, e aí sim a gente começa a perceber, a gente que vive em centros urbanos, a gente começa a perceber como é essa sensibilidade de reconhecer a sua prática como alguma coisa muito especial, tem uma beleza sim.
P/1 – Cláudio, mas esse contrato do monitoramento é sempre por internet ou tem visita?
R – Infelizmente a gente não tem recurso pra depois que o projeto é aprovado, a gente voltar a visitá-lo. Porque esse projeto é visitado quando é finalista. A gente tenta ter uma média de vinte projetos pra apoiar por ano, mas antes da gente decidir quais são esses vinte, a última etapa do processo de seleção é uma reunião de mais ou menos quarenta projetos e esses quarenta são todos visitados. Então assim, vinte deles, uma média de vinte deles são apoiados e essa é a única oportunidade que a gente tem de visitar projetos que não estão aqui no Rio e grande Rio. Depois essa relação é toda estabelecida através de internet. Muitos deles não têm... Muitos não. Tem um percentual alto deles que não tem familiaridade com internet. Em 2010 a gente teve que colocar no cronograma de despesas do plano de trabalho aquisição de computador, contratação de serviços de internet pra um dos projetos. É um projeto que até hoje tem um pouco de dificuldade de se comunicar com a gente, mas que numa certa medida desenvolve um trabalho muito interessante.
P/1 – Cláudio, o que é um projeto de risco? Vocês ainda estão trabalhando com essa ideia do projeto de risco?
R – Estamos. Projeto de risco é um projeto que ainda não tem um amadurecimento sobre a realidade que o cerca, sobre a proposta que ele tem que apresentar, mas a gente percebe de alguma maneira - a Susane é muito boa nisso - percebe de alguma maneira que ele tem um potencial de desenvolvimento, ele vai se beneficiar do que a gente tem pra oferecer. Então a gente o separa numa categoria que chama Prêmio Incentivo, destina a ele metade do recurso, a gente tenta ter pelo menos um projeto de risco por ano, é uma responsabilidade que a gente assume. Aí a gente repassa metade da verba, a gente tradicionalmente repassa... Tradicionalmente não. Hoje em dia a gente tem um repasse de trinta mil, a gente repassa quinze e aí o que acontece? A gente trabalha ali pra que ele tenha um período menor de execução e se ele for bem a gente estuda a possibilidade de depois repassar a outra metade.
P/1 – O seu trabalho de monitoramento que você acompanhou e retomou o trabalho desde 2009, esses projetos de risco têm mais ou menos uma mesma... Tem respondido da mesma forma dos demais?
R – Tem. A maior parte, eu diria que a esmagadora maioria dos nossos projetos, independente deles serem de risco, são muito bem sucedidos.
P/1 – Têm cumprido o seu cronograma direitinho.
R – É. Não só o cronograma como tem realizado todas as atividades, atingido o seu público alvo e conquistado seus produtos e em alguma medida atingido seus objetivos específicos.
P/1 – Cláudio, você chegou a fazer visita aos projetos?
R – Na época do processo seletivo de 2010 eu visitei alguns projetos no Rio de Janeiro. Eu tinha acabado de chegar na equipe, eu participei do processo seletivo por uma questão de necessidade de pessoal nessa equipe de seleção. Não era pra eu trabalhar porque eu tava muito fresco ainda na organização. Então eu fui visitar por uma questão de necessidade da BrazilFoundation. Então eu comecei visitando projetos que eram finalistas, mas que ficavam no Rio, no grande Rio. Fiz algumas visitas acompanhado, principalmente da Carlinha que foi maravilhosa comigo no começo, nesse aspecto. A gente trocou muita figurinha, a gente visitou umas três organizações aqui no Rio e depois das visitas a gente trocava muita ideia e tal, ela me ajudou muito. Depois eu parti pra visitas no Recife, na Paraíba eu visitei projeto... Esqueci o nome.
P/1 – Conta onde foi uma que você gostou.
R – Uma que eu gostei? Eu visitei também um projeto em Sorocaba chamado Lua Nova, que é um projeto maravilhoso que tem aqui na BrazilFoundation.
P/1 – Conta sua experiência da visita.
R – A Lua Nova foi uma experiência muito marcante, porque eles trabalham com meninas adolescentes em situação de risco pelo fato de serem usuárias de crack, pelo fato de serem pobres, muito pobres, algumas miseráveis e estarem grávidas, muitas delas, às vezes, têm que se prostituir pra sobreviver. O Lua Nova é uma instituição já de certa idade que resgata essas meninas do risco, acolhe neste período de maternidade, faz um trabalho de maternagem, tenta colaborar pra um conforto psíquico dessa adolescente. Aí a coisa começa a ter desdobramentos, se você conhecer a história da Lua Nova você vai entender que desdobramentos são esses, são muito complexos. A gente começa a perceber que as meninas precisam ter algum tipo de fonte de renda, aí elas têm a ideia de fazer uma padaria através do pedido, da solicitação de um sonho de uma das usuárias. Tem a questão da moradia que elas moram em lugares muito difíceis, questão da higiene e tal. O pessoal do Lua Nova tem a ideia de fazer uma parceria com a Ação Moradia, que é outro projeto BrazilFoundation, que a BrazilFoundation apoia, pra construir casas. E aí elas passam a construir as casas, elas passam a produzir o próprio tijolo, que é um tijolo ecológico que o Ação Moradia desenvolveu lá uma experiência em relação à construção de casas populares. Aí repassa a tecnologia pro Lua Nova e o Lua Nova começa a promover mudanças em vários níveis dessas meninas, é um projeto que hoje tá sendo aplicado em onze ou treze estados brasileiros, tamanho o sucesso do Lua Nova. É uma iniciativa que dá muito orgulho pra gente aqui na BrazilFoundation.
P/1 – Cláudio, a gente vai terminando aqui, eu queria perguntar também, você participou do encontro de Itatiaia?
R – Participei do encontro de Itatiaia, participei na parte de sistematização.
P/1 – Do conteúdo lá do encontro?
R – Foi.
P/1 – E aí como foi? Como foi participar também desse momento?
R – Assim, pelo fato de eu já ter tido uma passagem pelo serviço social, por uma universidade pública e depois por jornalismo, acaba que eu tenho uma familiaridade com cada um dos três eixos do trabalho de dez anos. Tem o eixo de memória que o Museu da Pessoa desenvolve, tem o eixo de sistematização, que a gente tem um consultor externo, e o eixo de avaliação. Eu tenho um pouco de experiência com cada uma dessas frentes de trabalho, cada um desses eixos. Então foi um casamento pra mim, porque no meio de todo esse trabalho de resgatar o que não tá registrado na BrazilFoundation, chegou um edital que era um edital com o qual eu tinha bastante familiaridade. Pra mim foi muito bom.
P/1 – Cláudio, a gente vai terminando, queria perguntar também como você avalia, como jornalista, o trabalho da BrazilFoundation?
R – Como jornalista? Eu adoraria a chegada de um dia em que a gente tivesse várias organizações no Brasil que tivessem a seriedade, a competência e a ideologia da BrazilFoundation, pra que a gente pudesse fazer com que essa iniciativa tomasse conta da sociedade civil brasileira.
P/1 - _______ terminando, você tá casado?
R – Eu não. Eu comecei muito recentemente um relacionamento com uma mulher espetacular, a Cecília, jornalista como eu, trabalha também no terceiro setor, a gente tem uma história de vida muito parecida. To muito apaixonado por ela.
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não conversou que você gostaria de deixar registrado também?
R – O trabalho na BrazilFoundation é muito difícil, mas eu amo. Foi identificação assim, profunda, ampla e larga com a minha vida.
P/1 – Cláudio, eu queria agradecer você ter participado, colaborado com a gente.
R – Obrigado a vocês.
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