O convívio na pós-graduação do IUPERJ me proporcionou algumas oportunidades de trabalho bastante interessantes. Em 1978 fui convidada a lecionar na Faculdade de Direito Cândido Mendes na disciplina de Introdução à Ciência Política, de onde só sai em 1987. A partir do meu ingresso numa instituição de ensino superior passei a frequenter congressos, debates e seminários (Ciclo de estudos sobre Assembléia Constituinte, Programa Sábado Forte na TV Educativa, etc.).Em 1979 estive no Maranhão prestando assistência técnica a equipe de Estudos Sociais da TV Educativa local.De 1979 a 1981 trabalhei como assessora-chefe de projetos da coordenação de Bem-Estar Social da Secretaria de Desenvolvimento Social do Município do Rio de Janeiro.
A tarefa de elaborar, acompanhar e avaliar projetos para a população favelada da cidade do Rio de Janeiro me permitiu vivenciar com certo grau de profundidade a realidade da população favelada carioca. Importante também foi poder dimensionar a escassez de recursos alocados para o atendimento dos problemas da população, bem como sentir a reação dos favelados face ao uso e abuso que deles têm feito os acadêmicos quando costumam tomá-los por objeto de estudo.
Entre os projetos desenvolvidos na Secretaria de Desenvolvimento Social destaco o das "escolas comunitárias" iniciado no período em que lá trabalhei em conjunto com a UNICEF. Atuamos, inicialmente, na Rocinha onde foram criadas três escolas, com professores selecionados pela comunidade e treinados pelos técnicos da UNICEF.A história da inserção do programa na SMD foi registrada por Luiz Antônio Cunha: (...) Para enfrentar o grande e sistemático fracasso das crianças na 1a.série primária, muitas famílias faveladas procuravam as "explicadoras", moradoras da localidade, sem preparo pedagógico , que utilizavam um comodo de sua casa para repassar as lições da escola mediante o pagamento de uma mensalidade.(...) Essas "ëxplicadoras" são a...
Continuar leituraO convívio na pós-graduação do IUPERJ me proporcionou algumas oportunidades de trabalho bastante interessantes. Em 1978 fui convidada a lecionar na Faculdade de Direito Cândido Mendes na disciplina de Introdução à Ciência Política, de onde só sai em 1987. A partir do meu ingresso numa instituição de ensino superior passei a frequenter congressos, debates e seminários (Ciclo de estudos sobre Assembléia Constituinte, Programa Sábado Forte na TV Educativa, etc.).Em 1979 estive no Maranhão prestando assistência técnica a equipe de Estudos Sociais da TV Educativa local.De 1979 a 1981 trabalhei como assessora-chefe de projetos da coordenação de Bem-Estar Social da Secretaria de Desenvolvimento Social do Município do Rio de Janeiro.
A tarefa de elaborar, acompanhar e avaliar projetos para a população favelada da cidade do Rio de Janeiro me permitiu vivenciar com certo grau de profundidade a realidade da população favelada carioca. Importante também foi poder dimensionar a escassez de recursos alocados para o atendimento dos problemas da população, bem como sentir a reação dos favelados face ao uso e abuso que deles têm feito os acadêmicos quando costumam tomá-los por objeto de estudo.
Entre os projetos desenvolvidos na Secretaria de Desenvolvimento Social destaco o das "escolas comunitárias" iniciado no período em que lá trabalhei em conjunto com a UNICEF. Atuamos, inicialmente, na Rocinha onde foram criadas três escolas, com professores selecionados pela comunidade e treinados pelos técnicos da UNICEF.A história da inserção do programa na SMD foi registrada por Luiz Antônio Cunha: (...) Para enfrentar o grande e sistemático fracasso das crianças na 1a.série primária, muitas famílias faveladas procuravam as "explicadoras", moradoras da localidade, sem preparo pedagógico , que utilizavam um comodo de sua casa para repassar as lições da escola mediante o pagamento de uma mensalidade.(...) Essas "ëxplicadoras" são a origem das "escolas comunitárias" da Rocinha..(...) Nesse contexto , a Prefeitura do Rio de Janeiro, criou a Secretaria de Desenvolvimento Social que, a partir de 1979, começou a apoiar tais iniciativas solicitando a ajuda do UNICEF, entidade da Organização das Nações Unidas para a infância.(...) Em 1980 , a SMDS e o UNICEF firmaram um acordo visando a promoção da educação , da saúde e do saneamento na Rocinha. No que dizia respeito às "escolas comunitárias", o convênio previa a remuneração e o treinamento das "educadoras", o fornecimento de material didático e escolar, bem como o acompanhamento do trabalho por meio de assessores. Em continuidade, as "escolas comunitárias" foram levadas a adotar personalidade jurídica, a fim de que pudessem receber recursos de outras fontes. Já em 1982, a atuação do projeto SMDS/UNICEF tinha como prioridade a educação pré-escolar, visando a preparação das crianças para ingressarem nas escolas públicas em condições de obterem melhor desempenho na alfabetização .(1991:403)
O processo de implantação e administração do programa das "escolas comunitárias" foi intensamente discutido com os representantes da comunidade e com o grupo de "educadores" selecionados e treinados pelo UNICEF. Vivíamos e discutíamos à época as propostas de pesquisa na ação /pesquisa participante que encontravam nestes tipos de programas um campo favorável de disseminação.
Como parte das questões tratadas em conjunto pela SMD / UNICEF na gestão das comunidades faveladas, realizei também dois cursos na área de saneamento. Os dois foram realizados através de um convênio firmado entre a SMD/UNICEF/FLACSO. No primeiro , "curso de capacitação para gestão de serviços de saneamento básico em favelas", fiquei responsável juntamente com Nanci Valadares, Sheila Maria Guimarães e Paulo Hime pela elaboração do documento base do curso. O documento reuniu informações essenciais sobre a favela da Rocinha , selecionada como estudo de caso por reunir volume considerável de ação governamental nela realizada. Do documento consta a definição do problema do saneamento básico nas favelas da cidade; a descrição das políticas de saneamento até então realizadas, bem como as metodologias de saneamento aplicadas na área.
Somente em 1982 , quando ainda trabalhava na SMD pude concluir e defender a dissertação de mestrado que versou sobre o processo de implementação da política nuclear brasileira no período 1945/1958. Descrevo nela a história da política nuclear a partir de sua emergência até o momento em que foram traçadas algumas diretrizes políticas, com a finalidade de se executar um programa nuclear no país.
O exame da política nuclear no período 1945/1958 considerou os seguintes aspectos: o caráter relativamente aberto do regime político, o nacionalismo, as relações entre conjunturas doméstica e internacional, as consequências dessas relações para a emergência e transformação de uma questão em política pública; a pressão norte-americana boicotando os esforços brasileiros no sentido de desenvolver um programa nuclear e, finalmente, a natureza da questão, determinando um processo decisório centralizado. O estudo conduziu a conclusão de que o tipo de questão em exame, dado o seu caráter altamente técnico e intimamente relacionado à segurança do Estado, dificultou a influência e participação de diferentes segmentos sociais no seu processo decisório. Demonstrou, também, que as dimensões complexas do tema foram captadas por uma pequena minoria de atores que integravam as agências governamentais envolvidas no caso (Itamarati, CNPq, CNEN) e discutida por alguns setores sociais (Imprensa, comunidade científica, empresariado).Destaco desta experiência a garimpagem e o acesso a arquivos e fontes de consulta instigantes. Dentre elas rememoro a conversa com um coronel que me passou fontes importantes sobre o processo de armazenamento dos minérios atômicos . Lembro-me também das negociações para obter autorização para leitura das entrevistas dos físicos de uma pesquisa ,a época, realizada pela FINEP.
Como sub-produto desta tese publiquei um artigo na Revista de Direito Nuclear da CNEN a respeito da atuação dos militares nacionalistas no episódio.
Após sair do cargo da SMD retornei à Secretaria Estadual de Educação e continuei trabalhando na rede pública ( ensino supletivo e 2o. grau depois que prestei mais um concurso para o Estado). Concomitantemente mantive minhas aulas na Faculdade Cândido Mendes .Vale aqui alguns comentários sobre a experiência de se atuar em sala de aula com clientelas tão diversas. De um lado, os alunos da rede pública , a grande maioria de jovens com poucas esperanças de concluirem os cursos de 1o. e 2o. graus e já vivendo a realidade do mundo do trabalho. De outro, jovens universitários oriundos da classe média e alta da cidade , convivendo com senhoras que frequentavam a faculdade por lazer e homens já maduros que buscavam nos estudos oportunidades de promoção nos empregos. Para este últimos, com raras exceções , a faculdade funcionava como verdadeira agência de credenciamento para legitimar o espaço já conquistado no mercado de trabalho.
Decorridos alguns anos de dedicação exclusiva ao Magistério decidi fazer o doutorado em Educação. Em 1984, ingressei no doutorado da UFRJ, na área de estudos politicos e econômicos. Desta fase rememoro a importância que representou para mim cursar a disciplina de Sociologia da Educação , quando identifiquei um campo de conhecimento bastante fecundo para fundamentar as análises sobre a questão educacional. Da fase de realização de trabalhos finais nas disciplinas obrigatórias registro especialmente o que desenvolvi sobre as relações raciais nas escolas públicas do Município do Rio de Janeiro (realizado em conjunto com Lina Cardoso Nunes e Marília de Araújo Pimentel).No trabalho fizemos uma revisão da literatura que discute a questão racial no contexto escolar brasileiro e realizamos algumas observações em três escolas do Município do Rio de Janeiro sobre as interações entre professores/alunos brancos e não-brancos. O trabalho rendeu dois subprodutos. O primeiro foi a apresentação de seus resultados na sessão de comunicação da SBPC e o segundo foi a publicação de um artigo elaborado sob a coordenação da professora Alda Judith, na revista Forum Educacional .
Em 1990, defendi minha tese de doutorado , dissertando sobre o impacto das práticas clientelísticas na manipulação dos recursos alocados na educação de 1o. e 2o. graus. O estudo buscou demonstrar que a política educacional para esses graus de ensino , na medida em que tem um padrão de demanda e de decisão fragmentados, apresenta resposta tópica aos seus problemas e torna-se predominantemente clientelística. As conclusões acenturaram algumas das razões do fracasso da política educacional para o 1o e 2o. graus onde os parcos recusros disponíveis atendem prioritariamente os interesses políticos-eleitorais e de corretagem. Apresentam uma critica ao planejamento tradicional e acentuam a necessidade de se ampliar o espaço de participação dos segmentos sociais no processo de discussão, implementação e avaliação da política educacional.
Na fase de redação do projeto de tese para o doutorado vivi uma experiência muito rica para o fenômeno que estava analisando : o clientelismo na educação. O tema foi inspirado na leitura de um artigo de Celso de Rui Beisiegel sobre a ação de políticos na criação da rede de ginásios do Estado de São Paulo no período populista. À época da redação do projeto ocupava o cargo de coordenadora do supletivo do Estado do Rio de Janeiro (equipe de Zaia Brandão). Desse modo, pude observar e conviver de perto com as ingerencias dos políticos sobre a máquina da Secretaria. Sofri muitas pressões para manter professoras sem trabalhar, em cargos comissionados ou desviadas de função. Entrei em contato com processos que solicitavam abertura de escolas em locais inapropiados e sem possibilidade de obtenção de professores para atender, de imediato ,às demandas políticas. Recebia, com frequência , a visita dos dirigentes dos núcleos de educação, acompanhados de vereadores e deputados, ou trazendo bilhetes com solicitação de seus padrinhados. Também ocorria, com muita frequência ,telefonemas de políticos recomendando "seus funcionários". O jogo de pressão e interesses e a falta de recursos para realizar um trabalho razoável foi de tal ordem, que terminei solicitando o meu desligamento do cargo, nove meses após ter assumido. Considerei que seria melhor retornar à sala de aula , onde teria mais independência para atuar junto a clientela da rede pública. O espaço da sala de aula ainda pode ser visto como privilegiado , na medida em que funciona com razoável grau de liberdade, resistência e crítica dos que defendem a educação pública neste país.
Destaco desta fase de trabalho a produção de um seminários sobre as escolas de supletivo sediadas nas penitenciárias do Rio, palestras sobre a educação pública do Estado do Rio de Janeiro e a elaboração de documentos sobre a realidade do supletivo neste Estado da federação. Nessa época trabalhei , também, na Faculdade de Economia da UERJ, dando aulas de métodos e técnicas de pesquisa para alunos de graduação.
O ponto comum entre as dissertações de mestrado e de doutorado foi dado pela tônica nas temáticas do processo decisório e das políticas públicas. A definição do objeto de estudo da dissertação do doutorado foi extraída da minha experiência no campo da educação . Esta dissertação eu considero o meu ritual de passagem definitava para a área da educação. A sua conclusão foi garantida por uma bolsa de pesquisa financiada pela FAPERJ(1989/1990)
Da dissertação de doutorado extraí um texto apresentado na 6a. CBE (1991), onde discorro sobre o fenômeno do clientelismo à luz da dicotomia público/privado.
Quando já havia praticamente concluído a dissertação de doutorado, fui convidada para trabalhar na Universidade Estacio de Sá. Lecionei nesta instituição Fundamentos da Educação, Epistemologia das Ciências Sociais e Métodos e Técnicas de Pesquisa (graduação). Na pós-graduação "lato sensu" lecionei Metodologia de Pesquisa. Nesta ocasião teve início a primeira pesquisa realizada com apoio institucional da UNESA , coordenada pela professora Aglael Borges, especialista em Psicologia da Educação (UNESA/UFRJ).A pesquisa tratou de levantar considerações sobre as dificuldades de aprendizagem de crianças em fase de alfabetização. Os seus resultados foram apresentados em dois encontros: um Congresso em Psicopedagogia em São Paulo e em um Seminário de Pesquisas na UFF.
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