Projeto Memória Votorantim 85 Anos - Nossa Gente Faz História
Depoimento de Noboru Okamoto
Entrevistado por Charles Silva e Juliano Lima
São Paulo, 29 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoimento: MV_HV018
Transcrito por Anabela Almeida Costa e Santos
Revisada por Juliano d...Continuar leitura
Projeto Memória Votorantim 85 Anos - Nossa Gente Faz História
Depoimento de Noboru Okamoto
Entrevistado por Charles Silva e Juliano Lima
São Paulo, 29 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoimento: MV_HV018
Transcrito por Anabela Almeida Costa e Santos
Revisada por Juliano de Lima e Teresa de Carvalho Magalhães
P/1- Bom dia, Seu Noboru.
R- Bom dia.
P/1- Eu gostaria de pedir, inicialmente, que o senhor disse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R- Meu nome é Noboru Okamoto, nasci no dia 18 de outubro de 1938, em São Paulo, capital.
P/1- Qual é o nome dos seus pais?
R- Shiguero Okamoto e Yatio Okamoto.
P/1- E a origem da sua família, o senhor poderia retomar um pouquinho para gente?
R- Meus pais vieram do Japão em 1930, como imigrantes. Se instalaram lá perto de Birigui, local chamado... Brejo Alegre. E tomaram a atividade, como imigrantes, tinha um contrato que tinha que trabalhar naquele local lá, por quatro anos eles trabalharam no cafezal. Depois, posteriormente vieram para a região de Mogi das Cruzes para aprender as plantações de hortigranjeiro tudo, plantação de batata, tomate e tratar das galinhas poedeiras. Depois eles compraram as terras ali em Suzano, estado de São Paulo, e se instalaram em 1935 e esse sítio ainda permanece até hoje. E de lá, era uma dificuldade porque era interior do... Não tinha condução, tinha poucas estradas, dificuldade. E até agora, eles estão continuando, quer dizer, meus pais são falecidos, mas tem um irmão que mora lá e que cuida do sítio ainda. E eu vivi até os 14 anos junto, ajudando a lavoura e foi a dificuldade também a escola. Porque não tinha escola próxima, aquilo era tudo mato lá. (risos) Aos nove anos, comecei a estudar aos nove anos, mas tinha que andar sete quilômetros. São 14 quilômetros ida e volta para poder estudar. Depois no ano seguinte, eles criaram uma escola mista lá perto da casa mesmo e continuei o estudo. Formei o primário com 12 anos. Depois continuei lá, parei de estudar. Depois meu pai achava que hoje em dia tinha que estudar, nem que seja naquela época lá. Aí vim para São Paulo com 14 anos. Comecei a estudar, fiz o ginásio. Primeiramente entrei num colégio particular. E a 3a e 4a série fiz no ginásio do Estado. Bairro do Ipiranga, propriamente dito, a escola era Alexandre Gusmão. Me formei lá. Já nessa época comecei a trabalhar também, que meus pais tinham 10 filhos. Então era a dificuldade de manter uma pessoa aqui em São Paulo pagando a pensão, pagando a escola, tudo. Era dificuldade, então já logo em seguida comecei a trabalhar, com 15 anos já ingressei numa agência de turismo. E trabalhei durante quatro anos e depois formei em Agrimensura em 1961, quando ingressei no Grupo Votorantim - para ser o exato momento, no dia 16 de novembro de 1961 ingressei no Grupo Votorantim.
P/1- Está ótimo. Mas para gente conhecer um pouco mais a história dos seus pais, eles já vieram casados para o Brasil?
R- É meus pais, que eles vieram em cinco da família. Minha mãe e meu pai já vieram casados, vieram até passar a lua-de-mel aqui.
P/1- É mesmo?
R- É. Pois, é. Foi lua-de-mel foi na viagem de navio de lá pra cá. Vieram dois tios solteiros, uma tia que era irmã da minha mãe e... Posteriormente, casou com o meu tio, irmão do meu pai. E os cinco se instalaram na... Onde eu falei, perto de Birigui, Brejo Alegre.
P/1- Brejo Alegre?
R- É. Brejo Alegre.
P/1- Qual era a atividade dos seus pais lá no Japão?
R- No Japão... Eram agricultores mesmo, também na família, provenientes de Hiroshima. Naquela época ainda tinha terra para poder cultivar, hoje em dia que está meio difícil. Inclusive... Em visita recente, não. Em 1995, estive lá e visitei os meus parentes. Tenho tios, primos, tanto da parte da mãe, como da parte do pai. Conheci o pessoal. Tem uma família que ainda continua, por parte da minha mãe, que ainda continua com a lavoura. Mas plantações tudo pequena, mas não tem, não tem jeito, quer dizer, mesmo que seja pequena a produção, qualquer produto dá para viver. Agora os filhos dele, que são segundo primo, tudo aí, são, já estudaram e trabalham no centro de Tóquio, Hiroshima. Cada um com atividade formada. E aqui no Brasil foi... No começo foi duro porque tinha que derrubar mato para fazer a plantação de café. Por quatro anos, quatro anos e meio, mais ou menos, eles plantaram café. Depois, o contrato era, se não me engano, de imigração era de quatro anos para trabalhar em alguma fazenda, depois ficava livre. Aí, quando veio para região de Mogi, primeiro para aprender, trabalhou um ano com uma pessoa que já executava essa produção, alguns anos atrás. Então aprendeu lá, depois eles compraram um sítio todos, meu pai, meu tio, tios, compraram as terras lá em Suzano e começou a cultivar. Plantação de hortifrutigranjeiro, depois... Ultimamente estavam plantando a uva Itália, depois uns 10 anos eles ficaram plantando a uva Itália. Depois em 1982, meu pai veio a falecer e ficou um irmão tomando conta, um dos irmãos, eram em 10, e ele continuou com esse cultivo de plantação de uva Itália. E posteriormente ele já... A produção, sempre a agricultura é a parte mais chata, quer dizer, planta, os insumos são caríssimos, não sei o que lá, começa a cair os lucros, então ele achou bem melhor não sei o que lá, ele abriu uma quitanda, cortou todos os pés de uva e abriu a quitanda e hoje eles estão continuando com quitanda.
P/1- E o senhor guarda alguma lembrança do que seus pais contavam dos seus avós?
R- Ah, lembro. Inclusive meus avós vieram para o Brasil, quando eu trabalhava na agência, inclusive trabalhava na agência, em 1950 e... 1957, acho, eles vieram para conhecer aqui, o Brasil. Então, você tinha, ele ficou três meses aqui, então deu, mais ou menos, para esclarecer a vida deles como é que era. Então, quanto a essa parte a gente está bem informado.
P/1- E o senhor é o filho mais velho?
R- Filho, sou. Sou de 10 filhos, sou o quarto. Sou o primogênito, mas as três acima são tudo do sexo feminino. (risos)
P/1- Mas os seus irmãos nasceram, foram nascendo...
R- Foram nascendo... A mais velha ainda nasceu lá em Birigui, mesmo.
P/1- Lá mesmo?
R- Em Birigui. Depois, depois o resto uma nasceu em Mogi. Depois foi indo. Depois foi tudo em Suzano, mas eu... Quer dizer, morava em Suzano, mas a minha mãe veio, mas eu sou paulistano por que nasci em São Paulo, mesmo. Morava lá em Suzano, mas veio fazer parto aqui em São Paulo, então... Acho que eu, único paulistano da família, acho que...
P/1- O que você lembra da sua infância lá em Suzano?
R- Lembro muita coisa. Tempo de... Não tinha carro, não tinha dificuldade, negócio lá, mas a gente se divertia muito, porque viver no sítio assim é gostoso. Tem rio onde pode nadar, pescar e praticava esporte, que é o beisebol, desde pequeno, desde os 7 anos comecei a praticar o beisebol.
P/1- Com os amigos?
R- Não, não. No clube. Eles fundaram um clube, então tinha... Eu praticava esporte com o pessoal aí. Inclusive tinha algumas coisas de atletismo, também, para participar, para vir para... Espécie de seleção do Suzano. No beisebol tive uma passagem muito boa, quando tinha 13 anos, eu fui convocado para seleção de Suzano, disputamos aqui no Bom Retiro, nos sagramos campeões, essa passagem foi muito boa. Inclusive, tive um mérito muito grande, que na final, eu não estava jogando, mas é que dá para trocar com o futebol, e tem reposição de pessoal, aí - inclusive estava jogando com o time de Bastos. Aí chegou no último
tempo que eles falam, nós estávamos perdendo de 3 a 1, o Suzano estava perdendo de 3 a 1. Aí, surgiu já com dois eliminados, todas as bases cheias. Aí o técnico me chamou assim, ou tudo ou nada. Mas eu consegui um êxito aí, e deu para fazer três tento. (risos)
P/1- E o senhor continuou jogando, depois?
R- Não depois eu continuei jogando, até... É, porque depois vim para cá. Mas eu voltava sempre lá e jogava lá no outro time, time lá de clube, lá. E depois, os dois últimos anos, quando tinha 18 anos, comecei a jogar aqui em São Paulo. E aos 22 anos parei por causa do estudo, não sei o que lá, série de coisas. Então parei e retornei depois, quando tinha 39 anos, como veterano, comecei no veterano e joguei uns 10 anos nos veteranos.
P/2- Em algum momento o senhor pensou em seguir carreira profissional no beisebol?
R- Bem que podia. (risos) Pensar, pensei, na época que está no auge, assim. Mas sempre, meu pai sempre, quer dizer, quando ia ser convocado, não sei o que lá, se perde muito tempo. Tem que fazer concentração, viajar, então meu pai não queria que eu, quer dizer, interrompesse o estudo. Às vezes perde 15 dias, negócio lá, você perde o ano. Então a gente às vezes era convocado na seleção, mas desistia. Só fazia jogo local e... Mas pensar, na cabeça tinha pensamento, querer ser profissional. Mas não aqui, porque aqui não tem, seria no Japão, qualquer coisa, fazer estágio lá.
P/1- E a escola o senhor começa a frequentar quando?
R- A escola, comecei a frequentar aos 9 anos. Porque a dificuldade, interior não tinha nenhuma escola, depois acho que com sete anos, andar sete quilômetros, assim, sete só para ir. Ida e volta eram 14 quilômetros. Achava, quer dizer, minha irmã, eu tinha irmã que ia. Mas depois, no ano seguinte já... Inclusive meu pai era bem esforçado nessa parte de relacionamento com o clube, fez reunião e conseguiu uma escola, fundar uma escola lá, fazer construção. Começou a funcionar e depois mais tarde foi melhorando. O governo já começou a incentivar tudo o negócio aí. Já abriu escola estadual, tudo.
P/1- Foi através do clube, então, que surgiu essa escola?
R- O esforço foi bastante do meu pai, meu pai era um dos mais antigos moradores de lá. Então sempre pensava no futuro, tudo, mesmo na fundação do clube, trazer a escola, trazer energia. Quer dizer, ele lutou bastante, sabe? Eu admiro muito a competência dele, sabe?
P/1- Até então na região não havia muita coisa?
R- Não, não havia era quase nada. Hoje em dia, estrada asfaltada, tudo até lá, para ir visitar é questão de uma hora, a gente vai aqui de São Paulo.
P/1- E o senhor guarda lembranças de vizinhos, de amigos, das brincadeiras que ocorriam por ali?
R- Ah sim, era muito... A cada dois anos ainda se reúne o pessoal, antigos moradores, quer dizer, fazem uma churrascada ou qualquer coisa parecida assim. Cada dois anos eles reúnem, pessoa que morou lá... A pessoa que mora lá que organiza. Inclusive esse ano teve, esse ano eu estive presente lá. Passar o dia inteiro lá, comendo, bebendo. (risos)
P/1- Suzano foi uma região onde se concentraram muitos imigrantes japoneses...
R- Ah, é. Até agora, ainda tem muito. Até agora. Na época, no auge, tinha nesse clube tinha 50 famílias. Hoje se resume a menos da metade, 20 famílias.
P/2- Sr. Noboru, eu tenho uma curiosidade em relação ao idioma. Na sua casa falava-se japonês e português?
R- É, com os meus pais falava em japonês, mesmo. Até agora, até eles falecerem tudo, conversavam. Entre irmãs, também. Às vezes, entre os cunhados. Pratico ainda falando em idioma japonês.
P/2- Então, as primeiras palavras que o senhor falou foi em japonês?
R- É japonês, mesmo.
P/2- E como é que o senhor aprendeu o português? Onde é que o senhor aprendeu?
R- Frequentando a escola, mesmo. Com essa... Até lá a gente só falava em japonês. Inclusive antes de ingressar na escola português, a gente frequentava. Inclusive meu pai já era, lá em Brejo Alegre, além de Birigui, em época que ele estava à noite, ele lecionava a língua japonesa. Depois aqui em Suzano também, no começo, inclusive reunia em casa, a escola era em casa, quer dizer, reunia as pessoas, vizinhos, pessoa que queria estudar. E meu pai era mestre, professor de língua japonesa. Depois também fundaram o clube e tinha escola japonesa, também, além da escola primária que eles fundaram lá, tinha a escola japonesa também. Foi colocando todo mundo, os dois lados.
P/2- E foi difícil para o senhor aprender o português ou o senhor teve uma facilidade?
R- No começo tive. (risos) Só falava japonês, no começo, achei uma dificuldade, mas... Aos poucos foi tornando mais fácil.
P/2- E existe uma diferença muito grande do japonês para o português?
R- Ah, existe, muito grande. Inclusive a parte escrita. O idioma tem caracteres muito grandes, de letra, para aprender tudo isso aí. Apesar que o chinês é muito mais. Chinês, coreano também, os caracteres deles são maiores que o japonês.
P/1- Vocês faziam as festas, como é que era, tinha encontros nesse clube? Como que isso acontecia?
R- Todo mês tinha encontro assim, quer dizer, tinha festa. Anualmente fazia também, assim, espécie de teatro. No clube não cabia, então arrumava cada barraca bem enorme, fazia palco, tudo. Isso era o dia inteiro fazer teatro.
P/1- Teatro japonês?
R- Teatro japonês. Tinha música, também, cantorias, danças, típicas de japonês. E o teatro em si, aqueles teatros de tempo de samurai, eles faziam aquele teatro com vestimenta, tudo, isso fazia anualmente no começo. Depois foi acabando, porque... Ultimamente parece que não tem feito, não. Acho que quando tiver festa, assim, eles fazem karaokê, videokê. (risos) Quando junta, quando tem alguma festa de fundação do clube, continua tendo, ainda.
P/1- Como foi a educação que o senhor recebeu dos seus pais? O senhor sentiu bastante esse choque de culturas quando o senhor entrou na escola?
R- Não, até que não, meus pais eram bem compreensíveis, então não tive choque nenhum, não. Quer dizer, choque, a única coisa é que quando vim para cá menor, em São Paulo, enfrentar esse... Depois foi adaptando, até agora estou firme aí. (risos)
P/1- Mas eles passaram valores da cultura japonesa, a pessoa sentia...?
R- Ah, sim. Lia muito, também, lia muita literatura japonesa, tudo. Mas de lá para cá foi tudo... Depois quando eu vim para São Paulo, eu até, eu larguei. Quer dizer, enquanto eu trabalhava na agência de turismo, era agência de formação japonesa, tudo, ainda usava muito porque vinha pessoa do Japão, para acompanhar a pessoa para o Consulado ou para negócio de imigração, tudo. Então a gente usava muito. Depois que ingressei na Votorantim parei completamente o idioma. Quer dizer, só falar eu ainda consigo falar, porque ia visitar os meus pais, conversava, mas atualmente cada vez mais, assim... Esquece até de ler, que é importante, mas difícil. Acaba esquecendo, tem que usar constantemente senão acaba esquecendo. Na minha família tem pessoa, por exemplo, meu irmão mais novo aí, que trabalhou aqui no... Que é o Rei do Brasil, Seguradora. Ele atualmente é presidente aqui no Brasil. Ele é fluente no japonês, escreve, que eu não tenho essa habilidade. Falar eu sei, mas, agora, habilidade de escrever, de ler, é só com ele. (risos)
P/1- E nessa escola de Suzano o senhor vai até, então, que idade? Até que ano o senhor estuda lá?
R- Estudei lá em Suzano, lá no sítio mesmo, foi até o primário, terminar o primário. Quer dizer, como eu entrei com nove anos, formei só com 12 anos. Quando deveria ser com 10, não era 10? Sete, oito, nove, dez. Atrasei um pouco. Depois fiquei mais um tempo lá. Meus pais achavam que eu precisava estudar, senão... Criar tudo os filhos lá no sítio é ruim, então achou por bem mandar aqui para São Paulo. Aí para não dar muito trabalho, comecei a trabalhar já. (risos) Achei um emprego aqui.
P/1- O senhor vem para São Paulo e passou a morar onde?
R- Eu morava, não uma república, era uma pensão que... Era um colega do meu pai, do mesmo local lá no Japão, ele tinha uma pensão, então ele... Fiquei 12 anos morando aí, até casar. (risos) Doze anos morei nessa pensão, aí.
P/1- O senhor veio sozinho?
R- Eu vim sozinho. No começo eu estudava de manhã, dois primeiros, acho, que eu estudei de manhã e trabalhava à tarde. Depois passei para o noturno para poder trabalhar o dia inteiro. Então eu fiquei até 21 anos trabalhando nessa agência e depois ingressei na Votorantim. Até agora, já faz quase, dia 16 de novembro desse ano vai fazer 42 anos na Votorantim. (risos)
P/1- Mas os seus estudos, o senhor concluiu o segundo grau, fez algum outro curso, curso técnico? Como é que foi? Sua formação, mesmo...
R- Formação é Agrimensura. Quatro anos de Agrimensura.
P/1- O senhor fez onde?
R- Aqui em São Paulo, mesmo.
P/1- Foi em alguma faculdade?
R- Não, em uma escola técnica.
P/1- Escola técnica?
R- Depois teve conclusão lá em Araraquara, não é bem... Era um exame só para poder receber o título.
P/2- Sr. Noboru, por que o senhor escolheu Agrimensura?
R- No começo não estava pensando em Agrimensura, nada. É dificuldade de, estudava à noite, em dificuldade, queria... No começo, antes de ingressar em Agrimensura estava fazendo a... Antes a gente chamava, segundo grau, era científico. Científico e como é que chama o outro? Tinha dois cursos.
P/2- Científico e Clássico.
R- Clássico. Eu estava fazendo científico, mas trabalhava o dia inteiro, quer dizer, estudava à noite, achava muita dificuldade de concluir. Aí surgiu, tinha um colega que morava nessa pensão e que estava fazendo Agrimensura. Ele falou assim: “Por que você não faz Agrimensura?” A maioria estava tentando a faculdade, tinha 10 pessoas, mais ou menos, na pensão. A maioria estava tentando faculdade, fazendo exame na Poli, não sei o que lá, era difícil, a turma ficava, não conseguia passar, quer dizer, era... Antigamente, até agora é difícil ingressar numa faculdade de governo. Aí ele falou assim: “Estou fazendo Agrimensura, por que você não faz lá?” Aí, tentei, fui lá, fazer um vestibulinho, tinha acho que um exame para ingressar. Acho que era português, matemática, história e ciências, acho que só. Aí passei, então, comecei a frequentar. (risos) Aí gostei, porque gostava de
desenho, porque Agrimensura tem muito desenho técnico. Me adaptei bem, gostava muito do curso, então formei. Aí quando fui chamado pela Votorantim, que já estava abrindo esse Departamento de Geologia que agora tem – estava iniciando em 1961, acho que foi em setembro de 1961. O Dr. Antônio acho que abriu uma nova visão, precisa ter um Departamento de Pesquisa em Geologia, para matéria prima. Então aí surgiu a oportunidade. Eu fui lá como desenhista, como desenhista técnico, depois eu formei e comecei a viajar, quer dizer, fazer levantamento. Inicialmente fui lá em Niquelândia, fazer levantamento de um... Pesquisa que ia ser feito para demarcar o local onde tinha que fazer o furo, o poço, para pesquisa. Lá era mato, hoje em dia a cidade de Niquelândia deve ter crescido bastante. Nunca mais fui. Fui uma vez e fiquei uns 20 dias, mais ou menos, fazendo levantamento da área onde ia construir a usina, usina de beneficiamento, que não foi lá, onde eu levantei, não. (risos) Eles mudaram depois.
P/2- Isso ainda foi nos anos 1960?
R- Anos... Foi em 1962.
P/2- E assim, voltando um pouco nessa trajetória da Votorantim. O senhor entrou em 1961 num recém-criado Departamento de Geologia.
R- Recém-criado Departamento de Geologia.
P/2- Quais eram as maiores dificuldades, nesse momento, nesse departamento?
R- Acho que como era princípio não tinha muitos processos, porque a CBA ainda era pequena. Tinha algumas concessões que o vice-presidente, que é o Dr. Miguel Carvalho Dias, que eu admiro muito. Agora está com 80, chegando quase aos 90, arrastando pé, mas ele vem. Admiro muito aquele homem lá, como... Ele deu muito apoio, também. E naquela época, ele acho que tinha a jazida de minério de alumínio, lá em Poços de Caldas. Eu acho que... Esse episódio, eu não conheço bem como é que foi feito, mas acho que o Dr. Antônio convidou ele lá para entrar de acionista da CBA, como ele tinha jazida. Então essa parte aí já estava tudo, antigamente o regime de mineração era bem diferente do atual. Atualmente é cheio de... Para conseguir uma concessão de lavra, aí que chama, lavra é retirada do minério, leva no mínimo 10 anos, desde o início do processo.
P/2- Antes era menos tempo?
R- Antes tinha jazidas manifestadas, que chama assim, no próprio terreno, só registrava. Não fazia pesquisa, nada. Tudo que existia lá dentro podia explorar normalmente com registro manifesto. Isso no começo de 1930 e... Anos 1940 até 1946, mais ou menos. Depois que mudou o regime, aí tinha que solicitar pesquisa, depois fazer pesquisa. Mas nesse tempo também não era tão difícil, era mais maleável para aprovar as coisas. Hoje em dia, como eu estava falando sobre negócios, se barra muito no sistema de meio ambiente. Quer dizer, tem que apresentar um monte de relatório, pesquisa. Só essas pesquisas de meio ambiente levam praticamente um ano. Porque tem que fazer uma pesquisa das quatro estações, porque muda a flora, a fauna muda nessa época. Cada estação tem diferentes tipos de animais que vivem no local. A fauna, a flora também, a mudança. E parte de mina de água, principalmente água corrente que tem lá, que não pode ser poluído. Tem que medir tudo, a vazão, para onde vai, tudo, tem que fazer tudo essas pesquisas para liberar a área para lavra. Então, quer dizer, nesse ponto, hoje em dia é mais difícil de conseguir uma lavra. Apesar que nós temos um monte.
P/2- E essas mudanças em relação ao meio ambiente, elas começaram há muitos anos ou há pouco tempo?
R- A questão de, não faz nem 10 anos, acho. Que eles estão exigindo até para as concessões antigas. Quer dizer, reformular, fazer, aos poucos. As que tinha, não dá muito problema, mas sempre tem, porque a gente vai pedindo a área vizinha, tudo essas coisas aí, então há certa necessidade de recompor de novo o processo.
P/2- O senhor acredita... O senhor começou em 1961 no Grupo Votorantim, no recém-criado Departamento de Geologia. Houve muitas mudanças técnicas na área do senhor nesse 42 anos de trabalho?
R- Ah, sim, muito.
P/2- Quais o senhor indicaria como fundamental?
R- A mudança técnica, tanto técnica de estudo, sondagem, técnica de estudo e mais... Aparecem novos equipamentos, vai mudando, sistematicamente, vai mudando. Só que nesses cinco, seis anos para cá, quer dizer, na era da computação já tem sistema para fazer cálculo. Essa parte de informática foi mudança mais considerada.
P/2- E Sr. Noboru, eu tenho uma questão que é a seguinte: o Grupo Votorantim tem alguma técnica específica que seria do Grupo Votorantim, por exemplo, em termos de pesquisas, que seja uma característica do Grupo Votorantim, que acaba sendo reconhecido por outras empresas? O estilo como ele explora os terrenos...?
R- Parte técnica mesmo, quer dizer, estou um pouquinho fora, mas deve existir e a importância que atualmente estão exigindo muito sobre esse aspecto, que seja feito pela própria unidade essa formulação para ser reconhecido não só aqui no Brasil, como para fora. Quer dizer, parte de cimento deve ter um know how todo especial só nosso que é reconhecido lá fora, também. Nós temos uma fábrica lá em Canadá, que é recém-adquirida, e outra em Califórnia e está entrando no sistema de concreto, adquirindo empresa. Acho que Concremix. Concremix é um deles. Quer dizer, isso é para escoar melhor o produto que eles produz. Mesmo lá em Canadá, em quase toda, não sei como chama, município, estado. Em cada estado deve ter a unidade de concreto.
P/2- E qual foi a maior dificuldade que o senhor encontrou para a realização do seu trabalho dentro do Departamento de Geologia?
R- Ah, no começo foi, quer dizer, quando estava trabalhando como agrimensor, os aparelhos, aparelho de medição. Atualmente é tudo sofisticado, GPS, estação total, não há dificuldade nenhum, já faz cálculo na hora. E naqueles tempos, quando eu comecei a realizar esse serviço, cada vez que ia num local diferente, como esse em Niquelândia, depois fui três vezes em Vazante, fui na Bahia, Pernambuco, outro em Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Cada vez que ia num local, tinha que usar o aparelho que tinha no local, ou levar daqui, quer dizer, nunca trabalhei com o mesmo aparelho. Quer dizer, foi uma dificuldade, porque, caramba, no começo tem dificuldade, porque na escola a gente usa um tipo só de aparelho. Depois chega no Grupo, lá... “Em Tocantins tem aparelho assim, a Mineira de Metais tem assim”. No começo a gente estava engatinhando para (riso) fazer levantamento, a dificuldade desse tempo do campo seria isso, diversos tipos de aparelhos, mesmo. Hoje em dia a facilidade é enorme, quer dizer, com pouco ajudante, pouca coisa, você realiza um serviço bem rápido e preciso.
P/2- Mas nesses anos de trabalho, qual foi a pesquisa que o senhor realizou que deu a maior satisfação? Que o senhor acredita que foi um grande projeto que o senhor tenha realizado?
R- Quer dizer, esses serviço são todos rotineiro, mas vai... Vai melhorando, o négocio... A organização do próprio trabalho dentro da própria sessão, que atualmente eu sou coordenador. Mas aí vai colocando um monte de novas técnicas, novos meios de controlar o processo, implantação de software dentro do Grupo, isso aí... Inclusive agora vai mudar também. A Rio Branco comprou um software bem sofisticado, que tem capacidade muito grande de absorção de serviço, então está tendo... Já tive três reuniões sobre esse assunto, inclusive semana passada fui para Brasília, também, para implantar lá. Um software para controle de processos. Apesar que o nosso, que temos, já era segundo. O primeiro que foi desenvolvido foi satisfatório, mas depois vai ultrapassando. E agora, nessa parte de desenvolvimento, acho que tem feito... E aprender muita legislação mineral, é tudo lei e decreto, então tem que estar bem aprimorado com essa parte aí, porque não sabe que bomba que aparece nessa exigência, constantemente está tendo mudança, inclusive nessa mudança de governo teve muita coisa que estão... Então tem que estar aparelhado bem, tudo compatível para esses assuntos. A gente sempre está tentando modernizar e diminuir o excesso de caminho para... Quer dizer, tem feito muito estudo nesse sentido. É, aí pessoal acha que está tudo bom, que está melhorando. Realização que fiz é isso aí, de agrado que...
P/2- Dr. Noboru, um Departamento de Geologia, creio eu, ser um departamento bastante estratégico para uma empresa, por exemplo, como o Grupo Votorantim que tem como um dos seus principais elementos de ação a exploração de matéria prima. Então, a minha pergunta é: o Grupo Votorantim foi pioneiro em vários setores, por exemplo, zinco, níquel...
R- Níquel.
P/2- Como que isso é tratado dentro do Departamento de Geologia? Como essas novas descobertas, como que essas pesquisas são tratadas? São pesquisas sigilosas, elas são...? Como que se realiza?
R- A pesquisa em si é sigilosa. Quer dizer, a parte, por exemplo, de estudo final tem que ser feita dentro do Grupo, de pessoa fechada. Tanto nós, quanto pessoal do local... Cada unidade, por exemplo, a CBA tem unidade em Poços de Caldas, parte de exploração, em Cataguazes, quer dizer, Itamarati de Minas. E a Mineira tem em Vazante, tem tudo equipe de geologia, mineração, pessoal engenheiro de minas. Em Níquel Tocantins também tem seu grupo. O único serviço que faz o negócio lá, é parte de sondagem, por exemplo. Mas aí eles não são técnicos, são funcionários braçais, que furam lá para retirar a amostra para ser analisada. Essas análises, é tudo sigiloso, tem que fazer tudo dentro do Grupo. Com exceção alguns produtos que não são muito visíveis que pode mandar fazer análise fora do Grupo. Mas o restante, a maioria dos negócios lá, são feito tudo no laboratório própria empresa.
P/2- Quem vai primeiro a campo em busca de novos materiais é o pessoal da sondagem?
R- Não. Primeiro a gente tem que fazer o requerimento para área a ser pesquisada, isso tem norma, tudo, formulário para preencher, fazer a planta. A gente investe muito porque agora não dá para ficar perdendo tempo. Primeiro ir no campo lá para ver se existe realmente o material ou não. Você tem que se basear em cima das plantas geológicas existentes. Então a gente requere, conforme o material, você pode requerer até dois mil hectares, ou mil hectares, é limitado, e 50 hectares. Quer dizer, minerais, metais, por exemplo, já pode ser feito até dois mil. Agora calcário, esses produtos para cimento, argila, são tudo mil hectares. E areia, essas coisas de uso in natura, é de 50 hectares cada requerimento. Aí primeiro faz, para ver se você consegue a licença, que chama alvará. Alvará de pesquisa. Ver se consegue primeiro a licença, depois que foi a licença, aí tem que entrar em contato com os proprietários, têm que... Uma série de dificuldades, não é só requereu, conseguiu e vai entrando. Você tem que entrar com os proprietários do solo. Apesar que o solo pertence à União, não é dos proprietários, mas é... Subsolo. Solo sim é de propriedade, mas é... Quando faz pesquisa, faz buraco, às vezes tem pesquisa feita com poços, então ocupa uma área. Pegar uma pastagem, qualquer coisa, tem que cercar tudo, a pessoa fica sem poder utilizar essa pastagem. Aí tem que indenizar, quanto dessa área que você está ocupando. Isso é tudo feito no juízo. Naturalmente tem pessoal que é compreensível, quer dizer, eles dão autorização para poder entrar mediante uma indenização que porventura combina antes. “Não, nós vamos ocupar tantas áreas, tantos hectares de área nesse período aí do seu terreno...”. Eles não podem, enquanto está pesquisando não dá para utilizar para nada, então tem que indenizar de acordo com o que tem. Às vezes tem plantação, aí então que indenizar sob forma de plantações, ocupação, praticamente ocupação do terreno. Depois, terminado isso aí, se der positivo, aí faz o contrato, às vezes compra terreno. Para não dificultar, já entra em contato: “Vocês vendem terreno?” Que fica mais fácil depois para operar. Porque mesmo depois que começou a operar, também você tem que pagar o dízimo para o proprietário. Às vezes tem terreno que é encravado em várias propriedades. Não só um, porque mil hectares, são mil hectares. Então você tem que dividir as áreas, quando está ocupando do fulanos de tal, quando... Aí fica a dificuldade, então o melhor é comprar, às vezes. (risos)
P/2- E nessas pesquisas que são feitas para exploração, existem muitos erros? Por exemplo, acredita-se que ali há uma jazida e com as pesquisas acaba se descobrindo que não existe nada?
R- Depende do material também, material que existe e a profundidade, em que profundidade está, e inclinação. Quer dizer, todo material assim tem inclinação, às vezes é vertical, às vezes é inclinada - a maioria são inclinadas. E tem coisa que é superficial, que chama sedimentar, por exemplo, é superficial. Aí pode ocorrer. Às vezes acha que tem e depois de feito a pesquisa não tem. Ou o teor não é
compatível, teor de minério.
P/2- Sério? Existe também essa questão?
R- Ah, tem essas questões. Mesmo para calcário, que é para cimento, existe a porcentagem de tal material, assim. Até às vezes é mais alto, magnésio é mais alto. Depende, porque se vai para cal pode ter magnésio alto, quer dizer, seria melhor com magnésio alto para cal. Para cimento, não, porque tem que ser carbonato de cálcio mais alto, e menos, com menor quantidade de magnésio. Tem outros elementos, aí sim, que atrapalham, às vezes.
P/2- Existe uma questão no Grupo que é a questão das minas internas. Por exemplo, se o material a ser explorado estiver numa profundidade muito grande, compensa ainda continuar ali explorando?
R- No caso de calcário, que nem você chegou a ver lá em Santa Helena, eu acho que não compensa, porque o calcário é um produto que tem em abundância. A questão é só da distância. Ele ganha só na questão de distância, porque de lá já transporta direto, vai para estocagem direta, sem custo, praticamente sem custo de transporte. Agora para calcário, se fosse num lugar que não tem muito calcário, pode ser que compense. Enquanto, agora que está tendo em abundância em várias partes do Rio Grande, então... É necessário fazer a pesquisa primeiro, encontrar a jazida em grande quantidade e instalar a fábrica. Que nem o que foi feito em Capão Bonito, já tem decreto, tem estudo, estudo do meio ambiente, tudo. Já tem concessão, mas só que estava barrado em questão ambiental. Mesmo que tivesse aquele negócio lá, posteriormente eles pediram, porque ia instalar a fábrica, não sei se vão instalar, ainda. Tem estudo de instalação, tudo. Agora no caso de outros minerais, minério de zinco, por exemplo, nem que seja profundidade grande, é vantagem. Se tiver um minério de boa qualidade na profundidade. Como lá em Vazante tem mina subterrânea muito grande. E tem, não há problema de profundidade, se encontrar um minério bom, é válido.
P/2- Sr. Noboru, a gente agora vai entrar agora num processo de avaliação. A minha pergunta é: nesses 42 anos de trabalho no Grupo Votorantim, quais os valores do Grupo que o senhor trouxe para sua vida? O que o senhor aprendeu no Grupo Votorantim que o senhor acabou colocando no cotidiano de trabalho, na sua relação com as pessoas dentro e fora do Grupo Votorantim?
R- Ah, foi bem. No começo, tive muito relacionamento com o pessoal da família, mesmo, Dr. Antônio, Dr... Principalmente, Dr. Ermírio Pereira de Moraes que acompanhava a gente. E cheguei a conhecer também o senador, José Ermírio de Moraes, o pai. E de lá para cá, quer dizer, em suma tenho um bom entendimento com... E o Grupo Votorantim foi adquirindo várias unidades, outras cimenteiras, por exemplo. Com a experiência que ela tem, quer dizer... Estou entrando em contato quase que diário com as pessoas de fora e tem bom entendimento, e estou passando meus conhecimentos para eles, eles estão achando, bem satisfeitos com o meu trabalho, sabe? Quer dizer, amanhã mesmo vem pessoa da Itaú, relacionado com o processo lá. E tenho viajado muito nas fábricas, principalmente fábrica da Itaú para integralizar, como é que é feito... Geralmente esse pessoal vai mudando, fica sem aquele pessoal para organizar o processo, porque na jazida tem que ter todos os processos, tudo deles lá. Mas aí, quando fui a primeira vez, não tinha nada. Quer dizer, aos poucos, estou com a nova técnica, que a gente tem, tentando reorganizar tudo, que são várias unidades. Então ainda até consegui três unidades. Agora falta ainda do Corumbá e Nobres, que é Mato Grosso do Sul, quer dizer, mas estou tentando organizar e entrosar com esses pessoal tudo, direitinho, passando a experiência que a gente tem para esse pessoal aí. Mas quando eles aprendem, parece que muda de pessoal, tem que começar tudo de novo.
P/2- Sr. Noboru, o senhor falou um pouco da relação do senhor com a família, existe alguém da família Ermírio de Moraes, que o senhor tenha mantido amizade, que o senhor se lembre sempre?
R- Ah, mas principalmente não tenho encontrado muito. Quer dizer, a última pessoa que tinha mais contato era o Dr. Mário, que é filho do Dr. Antônio, que era antes de quanto nós entramos para a Mineira de Metais, ele que estava, quer dizer, era ele praticamente que chefiava nossa equipe. Então tinha alguns contatos. E o pessoal que mais assimilou assim o negócio, foi o Dr. Ermírio Pereira de Moraes.
P/2- O Dr. Ermírio também era ligado à área de geologia?
R- Não, uma época era amigado com a gente, ano de 1967, por aí.
P/2- Ele é o mais novo dos irmãos?
R- É, ele é o mais novo dos irmãos. Teve uma época que teve contato quase que direto com ele. Inclusive, teve... A geologia teve uma época de muito... Ah, tentou, o pessoal que trabalhava no Grupo, que quando a Mineira de Metais começou a expandir, a equipe nossa, pegaram tudo lá e levaram tudo para Vazante. Na verdade eles pertenciam à sessão, no começo, e servia lá em Vazante e de vez em quando voltava para fazer relatório. Depois foi mudando a equipe. Para ser mais exato momento, em 1967, mais ou menos, que eu fiquei sozinho - que o chefe era o Dr. Luís Oliveira Costa, ele foi para a diretoria da Mineira lá em Belo Horizonte. Depois a equipe que nós tínhamos, pessoal aí, foram tudo parar em Vazante. Se contratou nova equipe, tudo. Aí depois teve alguma desavença com algumas coisas, porque grupo é grande, tinha que viajar lá para cima. E foi diminuindo o quadro, chegou a um caos, mas pouco tempo, questão de três meses, mais ou menos. Quer dizer, fiquei sozinho no departamento. (risos) Fiquei sozinho no departamento.
P/2- Como se resolviam essas questões?
R- Aí nessa época já tinha adquirido certa experiência na parte de geologia, mesmo. Apesar que não sou geólogo, mas... Então o chefe que estava na Mineira, Luís Oliveira Costa, falou com Dr. Ermírio se dava para fazer algum serviço de campo, parte de geologia, não topografia. Aí tive que enfrentar com certa dificuldade. (risos) Mas é... Fui até Pinheiro Machado, lá em Rio Grande do Sul, numa jazida de calcário, tive que fazer prospecção e fazer o relatório. Depois ele assinou, eu não podia assinar, quer dizer, ele assinou. E outra área lá em Santa Catarina, Vidal Ramos. E terceira foi lá em Itapeva, jazida de quartzito. Quer dizer, consegui fazer o relatório, apresentou no departamento, para mim todos esses processos estão ativos. Tive dificuldade, mas a questão é incentivo do Dr. Ermírio, assim, achou muito bem. Até agora recordo bem a dificuldade que passei, mas ele me apoiou muito bem, o Dr. Ermírio. Antigamente, nessa época, tinha contato muito direto, inclusive com o Dr. Antônio, na compra dessas peças de sondagem. Passava para a gente, a Mineira estava em franca atividade de sondagem e gastava-se muito. Então ele que tinha que aprovar o orçamento das brocas que ia comprar, tudo. Então nessa época também tive muito contato com o Dr. Antônio, também. Que às vezes comprava material mais caro, tinha vários fornecedores e às vezes tive que escolher o mais caro. Aí ele me chamava, assim: “Por que você está escolhendo o mais caro?” Aí tinha que fazer um relatório dizendo que com os materiais utilizados o rendimento é maior, bem maior, uns 30% a mais de rendimento. Aí o custo por metro ia ficar mais baixo do que as brocas... Essas coisas que ele me chamava para inquirir. Mas aí explicava, fazia relatório, relatório de recuperação do que foi feito com aquele lá, quantos furos, quantos metros de furo foi com aquele lá. Então ele avaliava e aprovava as novas compras. Agora, com o Dr. José tive pouco contato. Outro que é falecido, o Dr. Clóvis, que é o genro do... Também quando as pesquisas eram no Ceará e estava se desenvolvendo, tinha muito contato com ele. Hoje em dia eles estão todos mais separados, eles estão tudo no VPAR, difícil de encontrar, também. Raramente encontra com o pessoal agora, só na ocasião de, às vezes tem jantar de confraternização do fim do ano. Mas não são todos que vão, vão algumas pessoas, só. É só, para mim.
P/2- Se o senhor fosse fazer um balanço da sua carreira dentro do Grupo Votorantim, nesses 42 anos, por onde o senhor começaria, o que o senhor falaria do seu trabalho?
R- De onde começaria?
P/2- Isso, como o senhor começaria a falar um pouco de tudo que o senhor realizou, fazer um balanço de toda a sua trajetória profissional...
R- É que lá dentro, já fiz de tudo lá dentro. Então, não sei, só a experiência que eu tive dá para transmitir para os outros, mas... Foi o convívio normal, o desenvolvimento foi normal, também, não tenho, especificamente como... Só agora, na hora, mudança mais na parte de informática, aí muda muito. Quer dizer, até agora, até cinco anos atrás, vinha vindo de uma forma geral, depois... Agora que, a aceleração é muito grande, parte aí, dá a impressão de que as coisas estão indo na frente da gente. Tem que alcançar ele, para alcançar um objetivo.
P/2- Certo. Sr. Noboru, o que o senhor acha, por exemplo, desse projeto de 85 anos da Votorantim, de estar chamando seus funcionários para falar um pouco da suas histórias de vida? O que o senhor acha dessa idéia de preservação da memória?
R- Isso aí é muito importante, porque essas memórias da organização tão conceituada, quer dizer, de família tão conceituada, acho que tem que prevalecer até para muitas gerações atrás, possam ter uma idéia. Uma ótima idéia, não há dúvida que essa família merece, merece esse evento aí para memorizar daqui a centenas de anos. (risos) Meu entender é só isso.
P/2- O que o senhor achou do seu depoimento?
R- Achei ótimo. Colocar as coisa para fora. (risos) O que a gente, muitas vezes, deixa guardado. E muita gente não sabe o que gente passou, tudo. Então essa entrevista foi maravilhosa.
P/2- E o senhor gostaria de deixar uma mensagem para o Grupo Votorantim?
R- É, tantos anos que eu trabalho já, são 42 anos que trabalho nesse Grupo. Deixo uma boa mensagem para a família do Ermírio de Moraes, que tanto estimo, inclusive começando com o Dr. Antônio, que é um homem de trabalho. Gostaria que continue assim toda a família, herdeiros, continuassem com o pensamento dele. E estimo daqui para frente melhorar cada vez mais. Obrigado.
P/1- A gente que agradece. Eu quero agradecer o senhor em nome do Grupo Votorantim, por o senhor ter vindo até aqui, em nome do Instituto Museu da Pessoa, e em nome da nossa equipe, muito obrigado.
[Fim da entrevista]Recolher