IDENTIFICAÇÃO
Elisabeth D’Angelo Serra, nascida no Rio de Janeiro no dia cinco de julho de 1946.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A minha trajetória profissional começa um pouco mais tarde do que o habitual, porque eu me casei muito cedo. Então, toda a minha formação foi voltada para o casamento...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Elisabeth D’Angelo Serra, nascida no Rio de Janeiro no dia cinco de julho de 1946.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A minha trajetória profissional começa um pouco mais tarde do que o habitual, porque eu me casei muito cedo. Então, toda a minha formação foi voltada para o casamento, eu me casei ainda necessitando da autorização dos pais. Depois do casamento é que, com o estímulo do meu marido, eu comecei a me dedicar a um trabalho profissional, que foi ter uma loja de roupas, e isso pela dimensão que ele sempre teve e tem da questão da participação da mulher na produção. Tive uma loja de roupas que logo depois se transformou em uma loja de arte popular brasileira depois de uma viagem que fizemos ao Chile no período em que o Allende era presidente. Fomos de carro até o Chile com o desejo de ver o país naquele momento. Ao voltar, – eu e mais uma amiga, nós trabalhamos durante um período – transformamos a loja em uma loja de arte popular brasileira.
Eu tive cinco filhos, sempre gostei muito de educação e, paralelamente, militando no movimento feminista. Quer dizer, por contraditório que pareça, acabei chegando ao movimento feminista. Participei também do partido comunista com o movimento de mulheres durante a ditadura. Esse conjunto de coisas, artes, ser mãe, filhos, educação, cultura, meio que se mesclavam na busca de uma coisa que não estava muito clara ainda, até que eu encontrei uma escola que me identifiquei muito, o Instituto Nazaré, da Regina Yolanda Werneck, educadora bastante conhecida pelo trabalho de arte e educação. Comecei a me envolver, coloquei filho pequeno nessa escola, depois coloquei o que estava no São Vicente, tirei para colocar lá, e fui me envolvendo de tal maneira com esse lado que depois as filhas mais velhas acabaram sendo professoras. Eu fui me encaminhando por essa mistura entre educação, cultura e formação de professores. Era uma escola muito especial.
Depois acabei terminando a loja, que era no Largo do Machado, aqui no Rio de Janeiro, intitulada “O Artesão”, que teve muito de influência do Chile. Então eu resolvi entrar para a escola. Resolvi fazer pedagogia. Voltando um pouco atrás, eu fiz o que era na época o exame de madureza. Quando me casei, estava fazendo o curso de secretária no segundo grau, e interrompi esse curso para casar – como era comum do meu grupo sócio-econômico-cultural. Tive esse movimento e sempre fui muito apoiada pelo meu marido. Quando eu fiz pedagogia, enveredei por esse caminho com esse projeto bastante arrojado dessa educadora, Regina Yolanda Werneck, que trabalhava com literatura, com arte de maneira integrada sem ter uma postura de lessais faire, que era muito comum na época, quer dizer, a arte pela arte sem disciplina, sem correlação. E a proposta dela, sempre combinou as duas coisas até porque, ao contrário do que tenta se passar, o artista tem uma disciplina também, só que é diferente da tradicional, não existe a criação do nada, existe a criação por meio de muito esforço, de muito contato com a arte, com a literatura, com as notícias. Enfim, e isso foi se desenhando lentamente e através do Instituto Nazaré que era essa escola, onde passei a conhecer a Fundação Nacional do Livro Infantil Juvenil e que eu fui me envolvendo com esse outro lado. É uma longa história. Teve um momento em que eu trabalhei na Funabem, como secretária de educação. E isso também foi muito importante para mim, porque eu passei a ver um outro lado: eu vivi dentro de uma instituição como essa e pude ver o absurdo que é e que continua sendo até hoje. Isso não se conseguiu mudar ainda. Acho que é um lado muito hipócrita da sociedade de marginalizar essas crianças e de criar soluções que não oferecem o que elas têm direito. O Estatuto da Criança foi uma coisa muito importante. Inclusive, no artigo 58, que fala do direito à educação e cultura – há uma publicação do Unicef em que um jurista fala sobre o artigo e eu faço comentário sobre esse direito à educação e cultura. Aí eu me envolvo com a Fundação do Livro Infantil Juvenil, isso foi em 87, estou lá até hoje. A Fundação, em um determinado momento, apresentou ao governo federal, em 91, na época do Collor, um projeto de que tinha que se criar uma política de leitura para o país. Isso a partir de uma pesquisa feita pela Fundação do Livro, sob a coordenação da professora Eliana Yunes, que foi quem me convidou para ir para a Fundação do Livro Infantil. Então, o Afonso Romano de Santana estava como presidente da Biblioteca Nacional, e conhecia bem o trabalho da Fundação do Livro Infantil, era amigo de Eliana, e nós conseguimos mostrar a importância de se criar uma política nacional de leitura baseada na pesquisa financiada pela Finep e desenvolvida pela Fundação do Livro Infantil Juvenil, sob a coordenação dela. O que acabou criando uma situação política em 1992, por um decreto do presidente foi criado o Programa Nacional de Incentivo à Leitura, sugerido pela Fundação. Depois o projeto continuou, a Fundação se afastou ligeiramente. Em 1996, quando o professor Eduardo Portela assumiu a presidência da Biblioteca Nacional, ele nos convidou para fazer parte de uma outra coordenação do programa. Então éramos cinco representantes de trabalhos e ele, com a experiência que teve como ministro da educação e cultura – na época educação e cultura eram juntos. Quando ele era ministro, e com a experiência da Unesco, ele entendeu que esse programa tinha que ter uma coordenação variada entre a cultura e a educação. Convidou o Ministério da Educação para fazer parte também dessa coordenação, e ficou a meu encargo a coordenação da coordenação. Eu fiquei desde setembro de 1996 até o final do governo Fernando Henrique, 2002. O Pró-Ler tem na verdade uma importância enorme, porque se constituiu como uma rede. Até hoje, é uma rede basicamente de voluntários, porque ninguém recebe para trabalhar. Tem 80 comitês ou um pouco mais, em todo o país, contando com a participação de bibliotecários, professores da rede pública e da universidade, além de outras pessoas que aderem à proposta e incorporam essa tarefa desse projeto que sempre teve muito pouco recurso. Nesse governo agora, na reforma do Ministério da Cultura, se consolidou não mais como um programa, mas como departamento dentro da Biblioteca Nacional, o que é um ganho muito grande. A gente já vinha batalhando no outro governo, mas não foi possível, e o atual governo consolidou, o que é uma coisa muito importante. Então, durante seis anos, eu mantive as duas funções, porque eu nunca deixei de ser secretária geral da Fundação do Livro Infantil Juvenil. A Fundação é uma instituição privada, sem fins lucrativos, tem um conselho curador, tem um conselho diretor e eu exerço a função executiva, sou contratada. As coisas foram se desenhando para esse caminho de pensar soluções para essa instituição que vive com muita dificuldade. O apoio que a gente tem de governo é muito importante, mas não é suficiente para dar conta do recado todo porque, desde a sua criação em 1968, a Fundação do Livro sempre esteve abrigada em uma casa do governo federal; no início era na rua Voluntários da Pátria onde era o antigo Inep, e desde 74 no prédio do antigo Ministério da Educação, hoje Palácio Gustavo Capanema.
Evidentemente, isso nos desobriga de uma série de responsabilidades como aluguel e água. Isso é possível porque não existe no governo na área da educação nem na área da cultura ninguém que exerça o papel da Fundação, mas nós não temos nenhuma subvenção. Então é por meio de projetos, por meio de algumas contribuições bastante pequenas dos editores, que possibilitam a manutenção do trabalho. Então a minha trajetória profissional, eu diria que começa com um respeito muito grande pelo futuro e, principalmente, acreditando nas crianças. Começa até como uma questão pessoal, de querer muitos filhos – tinha o nome de todos os filhos antes de casar – e, por essa dedicação, a questão da educação dos pequenos, depois a própria Funabem, a questão sempre voltada para a criança, e nesse universo, considerando a educação e a cultura como duas coisas, como verso e reverso da mesma medalha, culminando então com a questão da literatura e do livro para as crianças como um bem cultural de valor inestimável e fundamental numa sociedade como a de hoje.
PATROCÍNIO PETROBRAS
O apoio da Petrobras surge em 2001 e é interessante, porque foi um presidente da BR Distribuidora, funcionário da Petrobrás, o Júlio Bueno – que eu conheço por intermédio de um amigo, – e nós conversamos muito sobre Monteiro Lobato – e uma das coisas que ele atribui pelo sucesso da carreira dele é ter sido leitor de Monteiro Lobato. Ele e muitos que muitas vezes não se explicitam, mas como é importante esse background do leitor. Se eu não me engano, ele não foi um menino rico, na verdade batalhou muito, mas pôde ler Monteiro Lobato. E nós nos encontramos em Brasília e ele soube do projeto do Salão e das nossas dificuldades. Nós iniciamos o Salão meio na cara e na coragem, escolhemos o Museu de Arte Moderna. Tivemos um apoio importante da Maria Regina Nascimento Brito, na época presidente do MAM. O Museu estava numa fase, em 99, até difícil e ela nos fez um aluguel muito barato, nos ofereceu o Galpão das Artes. O aluguel que até hoje é barato comparativamente ao que se cobra a qualquer evento e um crédito muito importante das editoras de literatura infantil que se dispuseram a pagar mais caro durante um período para investir na idéia. E assim a gente fez o primeiro Salão, que não tinha ar-condicionado, era em novembro, para coincidir com o Dia da Cultura e com a “Paixão de Ler” prjeto do Governo do Rio de Janeiro. Havia muita determinação e muita clareza do que a gente queria enquanto projeto: a questão do livro, a questão da leitura. Isso ocorreu em 99 e 2000. Em 2001 – eu havia tido esse contato durante o ano de 2000 com Júlio Bueno – então nós trouxemos o projeto para a Petrobras. E aí, claro, teve que passar pelos trâmites normais. Na época havia o comitê que selecionou o projeto, enfim, e foi assim fundamental para nós, porque ele pôde, primeiro desafogar essa contribuição que os editores davam, inteiramente atípica, muito maior do que uma bienal, durante dois anos eles investiram, e é claro que a atividade dos editores é uma atividade comercial, há também a Prefeitura do Rio de Janeiro. Desde o primeiro momento a Prefeitura do Rio de Janeiro, por intermédio da Secretaria de Educação principalmente, acreditou muito no projeto, porque há um trabalho na Secretaria Municipal de Educação voltado para a questão da leitura que a gente já conhece e trabalha junto. Então, entrada da Petrobrás possibilitou inúmeras coisas, possibilitou um conforto maior, possibilitou nós fazermos móveis para a biblioteca, tanto que a biblioteca que a gente apresenta no salão é Biblioteca Fundação do Livro/Petrobrás porque, aliás, é uma novidade, em feiras de livros você não tem biblioteca. É uma batalha antiga nossa de dizer, as feiras de livro oferecem um dos caminhos para chegar ao livro que é a compra, mas o outro caminho, o democrático, é a biblioteca, que atende a maioria das pessoas porque embora as Bienais sejam um sucesso, o público que pode comprar livro ainda é muito pequeno, então a grande compra tem que ser, ainda não é, mas cada vez mais se torna, está ainda muito aquém daquilo que deveria ser, é a compra do governo para as bibliotecas, seja no nível municipal, estadual ou federal ainda não há uma política para isso, lentamente a gente por exemplo na Fundação é muito contra a campanha de doação porque, na verdade, o governo é que tem que assumir isso, a doação tem um valor simbólico, mas ela não constitui bibliotecas porque sempre dá um trabalho danado, no geral os livros são velhos, você tem que tratar isso. Então o correto é comprar livros e eu aliás, na minha trajetória, tive uma experiência no passado de dirigir a Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro e pude comprovar a tragédia que é o sistema de bibliotecas do país. Se você imaginar que no Rio de Janeiro, o maior cartão de visitas, que nos temos a Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro, é na verdade, na minha opinião, uma vergonha, isso está escrito nos documento que eu deixei porque não há um sistema, isso reflete mais ou menos o Brasil inteiro, com algumas diferenças pequenas, você não tem concurso há 30 anos de bibliotecários, é uma carreira que não se investe para a biblioteca pública, porque o salário é muito baixo, então ao próprio profissional não interessa, ele é só por amor mesmo à arte, não se comprava livros já há 14 anos, o setor de empréstimos que nós tivemos a possibilidade de conseguir a informatização porque eu conhecia a pessoa da W. A Corpi, a Walda Antunes, que tem o sistema de software e que pedi para ela vir dar o fecho, não houve nenhum investimento do governo, então os livros que estão à disposição dos usuários da biblioteca pública que, na verdade, tem povo sim, o povo quer ler, só é composto de livros de doação das editoras que se dispõem – porque não há uma obrigação – a colocar
livro lá, então não é uma coisa, do ponto de vista democrático, porque você para ser democrático tem que oferecer a totalidade ou pelo menos uma representação dessa totalidade, no fundo, o que se tem é uma parcela porque só são aqueles editores, em geral do Rio de Janeiro, que dispõem o seu acervo para empréstimo, então a situação de acesso democrático é muito ainda, está muito aquém, se tentou fazer muito no governo Fernando Henrique, eu participei disso, abri o Programa “Uma Biblioteca Por Município”. Agora esse governo está tentando fazer mas, quer dizer, deveria ser uma prioridade absoluta.
Cada ano que se perde, cada ano que se discute... Agora mesmo se interrompeu o programa de compra de livros no MEC por uma discordância e não se colocou nada. Espero que ano que vem se resolva. Enfim, como a gente considera que o acesso à leitura, e principalmente a bons livros, é básico e essa é a grande diferença, diferença de oportunidade que existe entre o que se chama de educação de qualidade e a falta de qualidade, você tem um professor que atende a maioria da população que não tem um entorno cultural tão rico quanto um professor, rico no sentido da oferta, dança, música, livro, literatura, arte, viagem, que é o professor que na verdade vai trabalhar na escola da elite. Eu agora estou indo para a Espanha, participar de um simpósio sobre programas de leitura, a convite da Fundação Sanchez Rui Perez, que é uma fundação, um simpósio híbrido latino-americano e o título da minha palestra, que eu escolhi, é “Ser leitor no Brasil ainda é um privilégio da elite”, porque ainda é, embora tenha mudado.
FUNDAÇÃO DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL
A Fundação embora tenha no seu conselho alguns editores, ela tem uma autonomia, ela não tem nenhuma interferência direta no mercado, mas indireta tem. Há 30 anos, foi criado um prêmio da Fundação, por exemplo, a história da Fundação, quando ela se constitui, ela faz na época, as três fundadoras, Maria Luiza de Oliveira, Laura Sandroni e dona Ruth Vilela, que faleceu recentemente, bibliotecária. Elas se organizam a partir de uma sugestão de um órgão internacional que a Fundação faz parte, o IBB, o International Board on Books for Young People, que é o bureau do livro para crianças e jovens e é consultor da Unesco. Essa organização já tem 50 e tantos anos, 53 anos. E naquela época em 64, 65 começa a vir uma demanda, uma sugestão para que o Brasil se organizasse nesse sentido. Tinha que ser uma instituição, não podia ser do governo, tinha que ser uma instituição privada. Em 68 se constitui essa organização com o apoio dos editores, com o apoio dos gráficos e com o apoio do governo federal, que deu a casa para morar. O primeiro trabalho foi um levantamento bibliográfico do que havia de produção cultural para crianças no período. Essa bibliografia foi feita durante alguns anos através de trabalho voluntário. Em 73, a Fundação propõe ao então Instituto Nacional do Livro a criação de um prêmio para estimular a produção, porque àquela altura, ou você tinha Monteiro Lobato, que é o nosso grande orgulho, ou você tinha alguns autores, um ou outro, mas não uma coisa que quebrasse um certo padrão conservador, e sem muita novidade.
Tinha Monteiro Lobato e um conjunto mais ou menos estabelecido sem nenhuma expressão de originalidade. Então o que acontece? Naquele momento foi feita a sugestão, porque a nossa instituição internacional visa exatamente à questão da qualidade – e se tem um padrão sobre isso, alguns conceitos internacionais. Então, em 73 se sugere a criação de um prêmio para a literatura infantil. Em 74, a própria Fundação começa a criar o seu prêmio –são 30 anos de prêmio da Fundação, que até hoje não remunera, lamentavelmente não pode oferecer nenhum prêmio em dinheiro. A gente, inclusive, vem buscando, talvez a Petrobrás, ter o prêmio Fundação Petrobrás. Já apresentamos há alguns anos atrás um aporte nesse sentido, os votantes não são remunerados, tem todo um trabalho voluntário em que a Fundação oferece a estrutura de organização disso, é o nosso maior trabalho, o mais importante, que é receber os livros dos editores ano a ano. Hoje a gente tem quase 40 mil livros, é o maior acervo da América Latina nesse setor, porque também tem internacional,
uns 10 mil. Então o prêmio da Fundação começa com o livro para crianças. Foi definindo um conceito do que é o livro de qualidade. Laura Sandroni, criadora da Fundação, sempre diz, de uma maneira didática, que você dividiria em três grandes décadas sobre o livro infantil: você tem o momento da aparição do texto de qualidade – e aí são todos os nossos grandes autores –, depois nos anos 80, aparece uma preocupação com a ilustração e nos anos 90, o cuidado com o projeto gráfico. Hoje nós temos um produto indiscutivelmente de excelente qualidade, com algumas coisas a serem melhoradas sem dúvida nenhuma em comparação com o mercado internacional: capa dura para todos os livros, isso encarece muito o livro, mas para a criança a durabilidade é muito maior. No primeiro mundo você só tem livros de capa dura e alguns outros detalhes que não caberiam aqui ficar explicando. Então a Fundação tem sim uma interferência, na medida em que ela prestigia um determinado tipo de livro. Todos os autores e editores esperam essa seleção, hoje nós temos 12 categorias, porque também fomos adequando. Ao mesmo tempo que estimulávamos o mercado também adequávamos ao que vinha surgindo com a globalização. Nos anos 90, começa a surgir a questão da tradução, que é fundamental. Nós não tínhamos boas traduções e para ser democrático o acervo tem que ter livro traduzido e ainda com a ditadura, durante todos os anos 70, basicamente só se tinha livro de autor brasileiro – que aí também daria uma outra entrevista sobre isso. Então a tradução começou a entrar nos anos 90. Em 98 nós fizemos uma seleção para o MEC e foi a primeira vez que se introduziu livros traduzidos na lista de compra do ministério. Então nós sugerimos que numa representação de 100, 20% teria obrigatoriamente que ser os clássicos: [os Irmãos] Green, [Charles] Perrault e todos os outros. Aí estimulamos o prêmio de teatro, há até uma ou duas pesquisas nesse sentido de como é que o prêmio da Fundação, que repito, não tem nada em dinheiro, só é o papel e o carimbo da Fundação, interferindo no mercado editorial e é toda uma conjuntura muito complexa. Você vai ver que tem momentos da ditadura que se proíbe os livros estrangeiros. O mercado brasileiro – e há uma prioridade para levar livros para as escolas – passa a ter esse apoio, que na verdade, não foi nada positivo, porque foi uma certa censura, né? Mas, de certa forma, estimulou o mercado e os autores brasileiros, Ziraldo, Ana Maria, Ruth Rocha começaram a escrever para crianças, até porque a censura realmente existia com o livro para adulto. Encontrava-se um mercado que não tinha o olhar, na época, da ditadura e que começava a crescer. Se você pegar toda a faixa do período de 70 a 80, encontra histórias com reis, rainhas e animais contestando a autoridade, que vai refletir exatamente aquele momento que a gente vivia, em que as coisas estavam represadas e que tinham que ser questionadas. Mas abertamente não se podia questionar, então a arte nesse momento de maneira não-didática pôde. O incrível é que não se vê o que a gente fez em um outro país ditatorial. A Ana Maria Machado, quando ganhou o prêmio Andersen,
citou isso em Bolonha, que é uma feira que a gente vai sempre. O primeiro agradecimento que ela fez foi aos editores, porque no mundo em geral os editores dirigem a produção para crianças e no Brasil os editores respeitam a criação do artista e nossos artistas, todos leitores do Lobato, tiveram essa capacidade de poder, que é o trabalho do artista, vai pegar o trabalho dos adultos, dos grandes escritores, eles estão sempre questionando a realidade, mas por intermédio da linguagem, da arte que não é didática. Esse é o grande patrimônio que nós temos, Monteiro Lobato e os seus filhos, como se diz, que agora já tem até outra geração.
PATROCÍNIO PETROBRAS
Olha, eu acho que a gente está prestando depoimento em relação à memória da Petrobrás, a gente tem que ressaltar primeiro a importância dessa Empresa que na verdade acreditou e acredita no país. A história já é longa, mas é importante a questão da cultura ter um suporte, isso em qualquer país de primeiro, mundo você tem tanto o apoio de empresas, sejam públicas ou privadas e muito da privada, que aqui até tem muito pouco, começa agora com as leis de incentivo, mas a importância desse entendimento da cultura, porque não se vai ter uma educação de qualidade nesse país para a maioria – nossa preocupação não é a minoria, é a maioria – sem a oportunidade de acesso a cultura de maneira democrática e a base disso é a leitura e nós que tentamos convencer a várias empresas, a várias outras, enfim, órgãos de governo, da importância de se investir em acervos de qualidade, não se trata só de dar livro, de investir em biblioteca, e tem sido a trajetória da Fundação do Livro, não é muito fácil perceber a importância de um trabalho desse. Então eu atribuo à Petrobrás esse pioneirismo de acreditar em um trabalho que não é imediato, porque a grande diferença nesse investimento na cultura é que, em geral, o investidor quer um resultado imediato. Investir em espetáculo de música, um espetáculo de teatro, você vê retorno; investir em formação de leitores não é para uma geração. Nós temos, enfim, que recuperar o tempo perdido gravíssimo, de exclusão e que ainda tem que ter mais, tem que ter muito mais e acho que a Petrobrás teve esse pioneirismo de acreditar nisso e investir. E é interessante que se registre o perfil de um leitor que na época dirigia a Petrobrás Distribuidora e eu tenho encontrado isso, momento que ela é uma holding agora nas pessoas que têm um carinho enorme aqui da Petrobrás, funcionários da Petrobrás, pelo salão porque eles visitam o Salão do Livro Infantil com seus filhos, não são só os funcionários. Então, sem dúvida, a gente tem o maior agradecimento por esse apoio e sabe do carinho que a Petrobrás tem com o projeto do Salão e o nosso sonho é que esse projeto possa se reproduzir em vários locais do Brasil com esse modelo de ênfase da literatura, porque no salão não tem livro didático, só tem livro de literatura e livro informativo. Quero registrar o nosso agradecimento realmente por esse apoio que é fundamental.Recolher