Em 1976, por volta ali de 1977, estava sendo criada a Associação dos Professores [do Distrito Federal] e as reuniões eram feitas na casa do professor Adolfo José Cabral, que foi um dos professores fundadores da associação, posteriormente transformada em sindicato. Eu morava na casa dele ...Continuar leitura
Em 1976, por volta ali de 1977, estava sendo criada a Associação dos Professores [do Distrito Federal] e as reuniões eram feitas na casa do professor Adolfo José Cabral, que foi um dos professores fundadores da associação, posteriormente transformada em sindicato. Eu morava na casa dele desde criança, e lá na casa do Cabral, por falta de espaço na associação, que era uma salinha bem pequenininha, guardava-se todo o material: eram caixas de som, microfones, papéis, panfletos e outros materiais de propaganda. Os professores estavam lá o tempo todo, fui convivendo com eles e eles viram em mim capacidade para trabalhar. Em fevereiro de 1981, já como sindicato, o professor Cabral me contratou para trabalhar na limpeza e, após a limpeza, completava o dia nos serviços de secretaria. Eu já tinha na época o curso de segundo grau, curso de datilografia, e isso me ajudou muito a desempenhar o serviço. Na época éramos quatro funcionários para atender os professores da rede pública e também da rede particular, e todos faziam tudo, exceto limpeza, que limpeza era só comigo. Trabalhei em todas as áreas, atendendo o professor por telefone e presencial, envio de correspondências, serviços de office girl, registro de associados, carteirinhas dos associados, leituras e recortes de jornais, datilografia e arquivos de documentos e outras coisas que apareciam ao longo do dia. A jornada era exaustiva devido aos poucos funcionários que éramos para muita demanda. Ele não saía lá de casa. O professor Olímpio foi fundador do Sindicato dos Professores, era um profundo conhecedor das necessidades da categoria. Sofreu na própria pele quando foi demitido da Fundação Educacional na primeira greve da categoria, em 1979 – ele, o professor Márcio Baiocchi e a professora Lúcia Iwanow. Aí ele foi trabalhar na rede particular, portanto ele conhecia a realidade dos dois lados. E lutava pela sua melhoria. Em 1985 ele foi reconduzido ao cargo, através de um acordo coletivo de trabalho firmado entre o SINPRO e o [então] governador do DF, José Aparecido [de Oliveira]. Ele era uma pessoa de personalidade extremamente equilibrada, muito inteligente, muito observador, corajoso, muito bonito por fora e por dentro. Ele tinha um faro para dialogar e negociar como ninguém. Lembrando que o sindicato foi fundado na ditadura militar, num regime opressor e autoritário, ele sabia conduzir a categoria com muito cuidado, ciente dos riscos e perigos que podiam ocorrer, num regime onde tudo era proibido e nada era permitido. [Acreditava] que só através da luta dos professores as melhorias nas condições de trabalho poderiam ser alcançadas. O ambiente no sindicato costuma ser uma panela de pressão, onde as discussões por vezes ficam acaloradas. Ele chegava com aquele sorriso apaziguador, com aquela serenidade e discernimento, e assim ele desarmava todo aquele estresse dos diretores e apontava soluções eficientes com o intuito de diluir o conflito. Conviver com a pessoa assim ensina que precisamos ter tolerância, persistência, coragem, sabedoria e inteligência. O que mais me chamava a atenção nele era seu equilíbrio, sua coragem, humildade, sabedoria e resiliência.
O SINPRO não tinha um olhar voltado somente para a categoria, ele sempre ajudou, foi referência e o polo irradiador de criação de várias outras categorias de luta. Na época o sindicato ajudou a criar a Associação dos Professores da Universidade de Brasília, dos Auxiliares de Administração Escolar, a Associação dos Orientadores Educacionais, Associação dos Instrutores de Autoescolas, Associação dos Escritores, Associação de Asseio e Conservação e Associação dos Mutuários. Nós trabalhávamos para o sindicato e também na ajuda a essas associações que eram criadas com ajuda do SINPRO, praticamente lá dentro: a gente convivia com eles o tempo todo. Era uma mesa de professor e outra mesa para atender esse outro pessoal. Era bem cansativo, bem desgastante, mas a gente dava conta de tudo porque era muito prazeroso. Todo mundo se ajudava, a diretoria também ajudava, todo mundo fazia de tudo. A gente saía e ia embora para casa com aquela sensação de dever cumprido.
Com essa pandemia os desafios são muitos, a começar pela vacina, que tem que ser para todos. Isso num governo totalmente sem compromisso com a gestão pública para o qual foi eleito, sem responsabilidade e empatia para com o próximo. Não sei quando o SINPRO vai poder restabelecer polos de discussão com a categoria de forma presencial, que seria a volta das assembleias, seminários, visitas às escolas e os debates que são essenciais. Esse contato olho no olho impulsiona mais do que a comunicação feita de forma virtual. A tecnologia sem dúvida é uma ferramenta importante para acelerar qualquer tipo de mobilização, mas tem suas limitações – as fake news, por exemplo, são um problema recorrente nas mídias sociais. No toque de um dedo a comunicação chega falsa a mais de 30 mil associados, e desfazer isso às vezes é quase impossível, gerando insegurança e perda da credibilidade, criando um desgaste desnecessário. As fake news estão presentes nas mídias e não tem como a gente viver sem elas, infelizmente.Recolher