No meu aniversário de 27 anos, o dia estava lindo. Após uma semana de chuvas, o sol voltara a brilhar. No céu límpido e azul não se viam nuvens. Um vento calmo e fresco soprava pelas janelas. Acordei entre beijos e abraços do meu marido, Fernando, com quem havia me casado há poucos dias. A at...Continuar leitura
No meu aniversário de 27 anos, o dia estava lindo. Após uma semana de chuvas, o sol voltara a brilhar. No céu límpido e azul não se viam nuvens. Um vento calmo e fresco soprava pelas janelas. Acordei entre beijos e abraços do meu marido, Fernando, com quem havia me casado há poucos dias. A atmosfera mágica fez-me lembrar de uma crença que tinha quando criança e por muito tempo sustentei: “Nada de ruim acontece no dia do meu aniversário”.
Meu otimismo era baseado em fatos reais. Em meus aniversários, não chovia. Os dias eram perfeitamente ensolarados, alegremente comemorados e eu sentia que, de fato, era a pessoa mais especial do mundo. E o meu aniversário de 27 anos não foi diferente. Preparei, com muito carinho, um almoço para a minha família, e servi uma sobremesa que já havia feito no dia anterior (receita de uma amiga querida), com uvas, creme de baunilha e cobertura de chocolate meio amargo. À tarde, chorei e ri com o filme “Maluca Paixão”, protagonizado pela atriz Sandra Bullock, enquanto provava os biscoitos natalinos que ganhei de presente do meu pai.
Ao entardecer, minha grande amiga Caroline veio me visitar e trouxe um buquê de flores de jardim e um bolo integral que ela mesma fez e estava quentinho, ainda na forma. À noite, assistimos a uma peça de teatro na qual nosso amigo Marco Antônio, namorado da Carol, atuou no papel de Tenente João. Após o teatro, jantamos em uma pizzaria e conversamos mais um tanto.
Mais um aniversário ensolarado e alegremente comemorado. Mas enquanto eu almoçava com a minha família, chorava e ria com a Sandra Bullock, cheirava as flores de jardim e provava o bolo da Carol, recebi a notícia de que uma pessoa com a minha idade havia falecido. Eu não o conhecia, apenas meu marido. Ele, sabendo da minha crença inabalável no poder do dia 8 de novembro, esperou a meia-noite chegar para então irmos ao velório deste menino, chamado Fábio, quando a magia do meu aniversário teria acabado.
Sua morte foi trágica, em um acidente de automóvel na estrada de Garuva, em Santa Catarina. Encontraram-no vivo, porém com grande parte do corpo queimado, e ele estava internado em estado grave em um hospital de Joinville. Eu olhava para as suas fotos sobre o caixão e nada entendia. Por que a Dona Rosa, sua mãe, enterrava seu filho? Por que a magia do meu aniversário não funcionou?
Eu, que não o conheci, ali estava, olhando para suas fotos, desejando que seus dias tivessem sido ensolarados e alegres, suas tardes risonhas e emocionadas, com sabor de uva, creme de baunilha e chocolate, para que agora repousasse entre flores de jardim.Recolher