História da Farma Brasil
Depoimento de Heimar Ximenes (entrevista de vídeo)
Entrevistado por Cláudia Leonor Oliveira e Márcia Ruiz
Estúdio Telecentro
Rua Fiandeiras, 465
São Paulo, 20 de outubro de 1995
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: FR_HV013
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por: Nataniel Torres
P/1 - Boa tarde, senhor Ximenes.
R - Boa tarde.
P/1 - Eu queria que o senhor falasse inicialmente o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - O meu nome é Heimar com agá, Ximenes, você já conhece o nome bem. Eu nasci no Rio, nasci no centro da cidade, por isso é que eu digo que sou carioca da gema, em 4 de maio de 1927.
P/1 - Eu queria que o senhor falasse agora o nome dos seus pais, local e data de nascimento.
R - Minha mãe chamava-se Maria Rizzo Ximenes, mas ela não adotou o nome de Rizzo no casamento ficou Maria Ximenes, o meu pai chamava-se Heitor Ximenes, também só dois nomes como eu.
P/1 - E data de nascimento.
R - Ah, data de nascimento. O meu pai nasceu no dia 3 de janeiro de 1902 e a minha mãe nasceu no dia 30 de novembro de 1902.
P/1 - Em que cidade?
R - Ambos em Petrópolis, no estado do Rio.
P/1 - Senhor Ximenes, eu gostaria que o senhor falasse de algum fato marcante na sua infância, que marcou muito a sua fase de infância e adolescência, se o senhor tem algum fato interessante pra nos contar.
R - É, assim que eu me lembre a minha infância não foi assim uma infância de grandes acontecimentos. Eu era um garoto, filho de pais humildes. O meu pai era um artesão e a infância que me lembro não é a infância da região onde nasci, ou do bairro em que nasci, a infância é de lembrança eu tenho, é o subúrbio. Eu me lembro de um fato, não é nada pitoresco, mas que ficou marcado, eu tinha, acho que não tinha 3 anos na Revolução de 1930, eu nasci em 27, e os meus pais estavam questionando se ele ia ou não ia pra revolução, só que ele já estava fardado, mas brigaram porque sobrou...
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Depoimento de Heimar Ximenes (entrevista de vídeo)
Entrevistado por Cláudia Leonor Oliveira e Márcia Ruiz
Estúdio Telecentro
Rua Fiandeiras, 465
São Paulo, 20 de outubro de 1995
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: FR_HV013
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por: Nataniel Torres
P/1 - Boa tarde, senhor Ximenes.
R - Boa tarde.
P/1 - Eu queria que o senhor falasse inicialmente o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - O meu nome é Heimar com agá, Ximenes, você já conhece o nome bem. Eu nasci no Rio, nasci no centro da cidade, por isso é que eu digo que sou carioca da gema, em 4 de maio de 1927.
P/1 - Eu queria que o senhor falasse agora o nome dos seus pais, local e data de nascimento.
R - Minha mãe chamava-se Maria Rizzo Ximenes, mas ela não adotou o nome de Rizzo no casamento ficou Maria Ximenes, o meu pai chamava-se Heitor Ximenes, também só dois nomes como eu.
P/1 - E data de nascimento.
R - Ah, data de nascimento. O meu pai nasceu no dia 3 de janeiro de 1902 e a minha mãe nasceu no dia 30 de novembro de 1902.
P/1 - Em que cidade?
R - Ambos em Petrópolis, no estado do Rio.
P/1 - Senhor Ximenes, eu gostaria que o senhor falasse de algum fato marcante na sua infância, que marcou muito a sua fase de infância e adolescência, se o senhor tem algum fato interessante pra nos contar.
R - É, assim que eu me lembre a minha infância não foi assim uma infância de grandes acontecimentos. Eu era um garoto, filho de pais humildes. O meu pai era um artesão e a infância que me lembro não é a infância da região onde nasci, ou do bairro em que nasci, a infância é de lembrança eu tenho, é o subúrbio. Eu me lembro de um fato, não é nada pitoresco, mas que ficou marcado, eu tinha, acho que não tinha 3 anos na Revolução de 1930, eu nasci em 27, e os meus pais estavam questionando se ele ia ou não ia pra revolução, só que ele já estava fardado, mas brigaram porque sobrou pra mim, meu pai passou por cima com pressa e me deu chute, mas sem querer, não foi por querer, mas eu era um guri, botei a boca no mundo pra acabar com a briga, deve ter sido, pra acabar com a briga. (risos) Mas foi um fato que me lembro. O outro fato já contei, deve sair no livro, isso corta depois, deixa eu pegar bem o que eu quero dizer. (pausa) Meu pai pagava, eu estava no ginásio, estava fazendo o terceiro ano do ginásio que iria acabar. Então, eu estudava de dia, tinha tempo pra... estudava na escola, tinha tempo pra estudar em casa e até pra brincar. Nessa época eu tinha 15 anos, o meu pai me chamou numa noite e disse: "Olha, você vai ter que trabalhar, a situação apertou". Ele de fato perdeu o negócio porque acabou a guerra o que o que ele fazia aqui não era importado durante a guerra, depois voltou a ser importado porque era mais barato, então ele começou a ter prejuízos. Então eu ia fazer o quê? E fui trabalhar. Comecei a trabalhar no mês de junho de 1942, eu não sei aí o dia. No primeiro dia estranhei muito. Me lembro, estava no ponto do ônibus, passei a estudar a noite. Eu estava no ponto do bonde, não era ônibus, estava no ponto pra pegar o bonde pra ir pra escola. Eu trabalhava na cidade e a escola também era na cidade. Naquele tempo não tinha ginásio no subúrbio, então eu estudava na cidade, na Esplanada do Castelo, uma escola muito conhecida, Instituto Superior de Preparatórios. Então, estava esperando o bonde e pensei comigo assim, “é, agora é pra sempre, não vou mais ter chance de driblar o tempo pra ganhar um pouco mais de conhecimento porque eu vou ter que me sustentar” e que não foi o caso, mas vou ter que pagar a minha escola que era muito mais caro e que pesava mais, eu ganhava 150 mil reais e logo, logo passou a cruzeiros, né, pagava 75 de escola com condução, ou eu almoçava e não jantava, ou eu jantava e não almoçava. Tinha que comer na rua. De vez em quando levava de casa, mas não gostava muito. Então dali é que eu tomei uma decisão e disse: "Eu não vou ficar nessa vida não, eu vou, vai acontecer que eu vou arranjar um jeito de ganhar dinheiro pra poder estudar". Lamentavelmente ganhei dinheiro, mas não estudei. Tenho muito conhecimento, graças a Deus, estudava muito por minha conta, tenho uma cultura muito boa, me julgo com uma cultura muito boa, leio muito, absorvo muito, me interesso muito por coisas novas. Essa foi mais ou menos a minha infância, ela não foi uma infância difícil, mas também não foi uma infância fácil. Eu tinha uma casa boa, morava bem, comida não faltava, nunca faltou, fartura também, mas faltou o essencial que não deu. Ainda tentei fazer, arranjar um emprego pra trabalhar à noite e estudar de dia, eu queria fazer medicina. Meu primo conseguiu, o pai era da polícia, naquela época, a polícia civil, e conseguiu pra ele um lugar de revisor na imprensa nacional, pra revisar particularmente o Diário Oficial. Isso favoreceu muito a ele porque ele conseguiu com isso, mas eu não consegui infelizmente não tive sorte. Não é um fato assim pitoresco, mas que você não esquece, nunca que é uma coisa que talvez na hora da morte você ainda vai lembrar, né?
P/1 - Senhor Ximenes, eu queria agora que o senhor falasse um pouco, o senhor falou desse seu primeiro emprego, que emprego era esse, o senhor foi trabalhar de quê?
R - Boy.
P/1 - E depois como é que se deu esse desenvolvimento profissional até o senhor conseguir chegar na Johnson & Johnson?
R - Você quer todo ele?
P/1 - Não, quero que o senhor fale meio resumidamente mas...
R - É, eu arranjei um emprego que era perto da minha casa só que depois a minha mãe mudou pro subúrbio. Eu fui trabalhar numa firma que era de um grupo americano, família americana, eu não sei se o filho que foi deputado estadual aqui por São Paulo Alberto Byngton Júnior, vocês já ouviram falar? Ele dirigia a firma, ele era o presidente mas tinha um diretor que era um brasileiro e esse homem era difícil pra burro de trabalhar com ele e eu dei sorte porque um determinado tempo, eu sempre fui muito expedido, então fazia as coisas com muita rapidez, trabalhava no departamento de compras, eu era...eu entregava pedidos na rua, nos fornecedores. E numa ocasião, o escritório desse Alberto Byngton Júnior era na Rua Araújo Porto Alegre, é no centro da cidade, ali na Esplanada do Castelo. E ele precisou de uma pessoa que tivesse condição de fazer as coisas pra ele, porque ele tinha secretária, mas não podia mandar a secretária toda hora na rua e tal, então me indicaram e eu fui. Fui pra lá, agradei, fiquei trabalhando com ele algum tempo e uma época ele queria vir pra São Paulo, era véspera de carnaval, ele queria, era ele e, se não me engano, um tenor que era cunhado dele, não sei se é Barbosa Andrada.
P/1 - Não tem problema.
R - Isso eu não me lembro. E então ele disse: "Olha, nós somos em oito pessoas, Ximenes, desce..." A Vasp estava começando e a agência dela era no edifício onde nós trabalhávamos embaixo. "Desce e vê se você arranja lá oito lugares, todo mundo junto". Fui lá, falei com o rapaz, tudo lotado, eu disse: "Puxa, rapaz, o meu emprego, rapaz, você tenha pena de mim. Se você vai, está aí, vai brincar o carnaval. Eu vou brincar o carnaval na rua mesmo". (risos) Aí ele falou: "Olha, eu posso arranjar um negócio pra você porque está chegando um avião aí mas não vai entrar no tráfego comum mas só todo avião, aluga o avião". "Quanto é que fica?" Eu não me lembro mais o valor. Só que o avião tinha doze lugares, acho que eram 12 lugares e aí sobravam quatro lugares. Eu cocei a cabeça e disse: "Meu Deus do céu, o que é que eu faço aqui, se me mandarem embora, eu arranjo outro". "Está fechado, eu vou lá em cima buscar o dinheiro e tal". Aí subi e falou: "Opa, Ximenes arranjou?" "Como não arranjou rapaz?". Eu disse: "Olha, passagem individual não tem, eu consegui arrumar um avião, (risos) só tem 12 lugares, o senhor pode dividir, o senhor alugar pra quem está querendo, se o senhor quiser, pra todo efeito vão ficar só oito passagens". Veio na hora em que eu estava falando com ele, sabe? "Mas vai lá, paga. Vou ficar com os quatro lugares pra mim mesmo, pode aparecer algum convidado aí que queira ir". Então, com aquilo e mais outras coisas que eu andei fazendo pra ele, com bons resultados, me valeu um aumento de 100, ainda era mil réis, de 100 mil réis, eu ganhava 150 e fui crescendo na firma, fui pra escritório, fiquei com responsabilidade de pagamento de operários e distribuir bônus de guerra, era tudo contava, preencher carteira, o chefão só assinava, dar assistência ao pessoal de obras. Por exemplo, naquela época, eles estavam construindo o cais do porto, o armazém frigorífico pra frutas e etc. Então, eu ia muito lá também. Aí saí de lá, me desentendi com o meu chefe, que eu estava no escritório, era o contador mas ele mandava em tudo, pessoal e tudo. Me desentendi com ele, me disse uma palavra que eu não gostei, eu aí retruquei, ele me mandou embora. Fui pro Ministério do Trabalho mas perdi, não ganhei. Aí saí, estava próximo de ir pro exército nessa época já, e fui trabalhar, minha tia tinha uma empresa de compra e venda de casas comerciais, fiquei lá uns três meses até fazer tempo pra poder me integrar ao exército. Em 1947 fui pro exército. Passei sete meses no exército, graças a Deus. Eu estava até dispensado, sabe? Dois sargentos escolheram a companhia que ia ser, o capitão chegou e ele perguntou: "Como é, arrumou todo o pessoal?" "Está tudo certinho, está tudo certinho". Ele olhou e falou: "Tem muito escuro aí rapaz, vamos fazer essa bandeira mais clara, não saí vocês, foram dispensados. Você, você, o outro". O outro, era eu. Aí fiquei. Aprendi muito, sete meses de exército, mas aprendi muito, é uma escola pra homem, pelo menos naquela época. E logo que fui integrado, me matriculei no curso de cabo porque não ia carregar fuzil não, isso de marchar, tirar plantão com fuzil nas costas, tudo duro, né? E passei em primeiro lugar, inclusive, e aí eles me deram até um benefício maior, fiz uns 15 dias de cabo e eles começaram a me dar serviço de sargento. Me dei muito bem. E quando me formei em cabo, o capitão me chamou pra me oferecer curso de sargento: "Você nem tira o serviço, vai pro curso de sargento e tal e de lá pode fazer carreira no exército". O nome do capitão era, ele foi uma pessoa muito conhecida, daqui a pouco eu lembro. Eu disse: "Olha, capitão, o senhor é um homem espetacular, todo mundo gosta do senhor aqui, o senhor é gente, o senhor impõe respeito, exige respeito, mas sabe como fazer, então todo mundo respeita o senhor sem o senhor dizer: 'Vocês que tem respeito a mim'". Mais ou menos isso, não sei as palavras. "Mas tem uma coisa no exército que não gosto, capitão". "O que é que é?" "A gente só pode dizer sim, nunca não, e eu não sou desse espírito, eu sou um camarada muito rebelde, sou muito negativo a um não, então não quero exército". Eu tinha visto uma situação delicada, difícil de um rapaz que era da minha companhia e era nortista, ele, às quartas-feiras a tropa é liberada mais cedo, mas aqueles chamados percevejos, percevejo de quartel eles moram lá, eles não têm onde morar, foram para o exército perderam o emprego, ficam no quartel. Então, estava o coronel comandante vendo, fazendo uma, olhando, de vez em quando chamava um, tal, o pessoal estava indo embora e ele estava na frente da casa da ordem. Não sei quem lá, não sei, eu acho que já tinha até saído, era a história que me contaram. O coronel chamou, quando o rapaz deu continência, alguém fez fiu-fiu e o coronel levantou, interrompeu tudo: "Quem foi, quem foi?" Não sei quem lá apontou esse rapaz, ele pegou 30 e mais 30 dias de solitária, era uma jóia, botou de lado, um desordeiro. Bom, isso... essa fase de sair do exército. Saindo do exército fui trabalhar numa empresa, uma até bem grande talvez pro mercado naquela época pequeno, era uma distribuidora da pasta Kolynos. Eu fui ser faturista, escrevia à máquina muito bem, no tempo que fiquei na Byngton com tempo ocioso no escritório lá dele, eu não saía muito, tinha que estar lá na hora em que ele queria, que precisasse. Então, fui fazer um curso à noite de datilografia e durante o dia eu pedia a ele se podia treinar. Então, escrevia muito bem, muito bem mesmo. Aí eu fui como datilógrafo para essa firma, fiquei três dias lá, eu tinha escrito uma carta pra GE e eles me chamaram, eles lá me pagavam salário mínimo que era 800 cruzeiros já na época e na GE eu tinha pedido 1.200, aí eu saí e fui pra GE. Eu tinha tanta certeza que eu como datilógrafo eu ia me dar bem lá. Aí fui, fui aprovado e eles só exigiram uma coisa de mim, eu precisava ficar seis meses lá com o compromisso de não sair, porque não parava ninguém lá. Eu falei: "Olha, tudo bem, posso ficar mais tempo, mas depende da GE também, não é só de mim". Aí eles me deram 1.500 cruzeiros, eu tinha pedido 1.200 eles, me deram 1.500. E fiquei na GE, houve uma vaga, num outro departamento, de secretário. Pedi ao chefe que era comum às duas áreas, era o mesmo chefe, se ele não poderia me passar pra secretário lá, eu estava indo bem. Eles me passaram aqui pra tomar conta do almoxarifado: "Olha, Ximenes..." O gringo: "Se você me escrever, eu não vou botar ninguém no lugar, me escreve uma carta bem feita em inglês que eu te dou o lugar". Era o fim do dia, me mandei pra Cultura Inglesa, e lá fiz o curso, que depois continuei, fiz dois meses. depois fiz uma cartinha pra ele. Ele olhou e disse: "Olha, não está muito boa, não tudo bem, você vai continuar estudando?" "Vou". E me deu o lugar. De lá eu fiz coisas muito boas dentro da GE do ponto de vista de resolver muitos problemas, ausências de pessoas pra tomar decisões, eu tomava decisão, já tocava pra frente e depois quando a pessoa chegava eu ia lá: "Agora é o seguinte, ou o senhor me permite tomar decisão onde eu achar que posso ou então eu vou ficar de mãos amarradas". "Não, aquilo que você puder fazer, como fez agora, pode tomar". Aí fui promovido pra comprador. Fui fazer curso de desenho industrial, estava se importando muito material pra montar uma fábrica de tungstênio que é esse fio incandescente que tem na lâmpada incandescente. Então fui fazer esse curso, aprendi desenho, fazia desenho e tudo direitinho, mas eu queria, não era fazer desenho, era conhecer, saber ler o desenho. Olha, se está muita coisa, ao mesmo tempo, fala porque se não a gente não vai fazer isso em meia hora não. (risos) É bom vocês cortarem. Vê se vale porque depois disso vocês vão fazer chegar a meia hora, não, naturalmente cortar aquilo que não tem...
P/1 - Não, a gente vai falando. Eu queria assim que o senhor já fizesse um resumo de como é que se deu a sua entrada na Johnson, como é que dentro desse trabalho todo...
R - A entrada na Johnson, eu trabalhava na General Electric e saí. A General Electric estava com um problema, ela tinha razão de estabilidade, o pessoal ganhava estabilidade e depois parava tudo, ficava: "Agora eu não saio mais daqui". Quando eu fiz nove anos e 15...não, nove anos e três meses, fui chamado lá e eles me fizeram certas acusações, eu me defendi e disse: "Vamos saber o seguinte: eu até aceito que vocês tomem essas medidas, mas não dessas formas, porque eu disser não você não vão me botar pra rua, eu vou na justiça e vocês não vão me botar na rua, sejam mais coerentes, respeite pelos menos aquilo que eu já fiz". Aí pedi demissão. Fui pra Johnson, porquê e como eu fui pra Johnson? Eu fui pra Johnson porque quando eu trabalhava na GE era comprador e evidentemente tinha muito vendedor na firma, nós éramos uma firma enorme, então tinha muito o que comprar e eles tinham bastante pra vender. E eu via todo mundo de carro, tudo bem vestido, gravata, paletó e tal. Eu disse: "Um dia que eu sair da GE, vou ser vendedor". Acabei saindo, a primeira coisa que fiz, foi jornal. Abri um anúncio da Johnson, não procurei nenhum outro laboratório, o primeiro que apareceu foi a Johnson, era grande, então parei ali e mandei um, não sei se mandei uma carta ou telefonei. E me chamaram, fiz uma entrevista, fui muito bem, nessa entrevista que fiz, fui muito ajudado pelo meu cunhado, que era médico e que também tinha trabalhado como propagandista, então ele me deu dicas, como é que você faz, o que você tem que estudar e tal. Peguei todos os folhetos que a Johnson tinha me dado, não fui aprovado na primeira entrevista, também não fui desaprovado. (risos) Eles deram preferência pra algumas pessoas que eles achavam que tinham mais capacidade talvez, só que eu fui insistente, eu achava que ali ia me dar bem, o salário era bom. Mas não era o salário... Eu não estava só atrás do salário, eu estava atrás de um lugar que pudesse crescer, que pudesse construir a minha vida. Então o supervisor, que ele ainda não era regional naquela ocasião, ele estava em Valinhos aqui numa reunião de supervisores, numa convenção de supervisores. Aí eu passei uma conversa no chefe do escritório e ele me deu o telefone do hotel. Eu liguei aqui pra Valinhos, era uma nota pra mim. Liguei aqui pra Valinhos e conversei: "Mas, senhor Matinhos, o senhor disse que em uma semana o senhor me chamava, o senhor vai acabar até esquecendo do meu nome, já vai pra terceira semana". "Não rapaz, você é chato, hein !" "Ah, tudo bom. O senhor não vai gostar que eu seja assim com médicos e tal". (risos) Aí quando ele voltou, me chamou de volta, me chamou lá e eu fui admitido. Eu me acertei muito bem com a área, isso é a verdade. Eu não acho que tenha feito algum milagre nem que... pode ser que Deus pode ter me ajudado, mas milagre não foi. Eu fiquei um ano e quatro meses como vendedor. Entrei no mês de agosto na Johnson e no fim do ano o Sanches foi dar prêmios, ele tinha um concurso premiava quem mais vendia, o que excedesse da cota você tinha um prêmio de 5%, 2% e ia acumulando pro final do ano. Mas, a cada mês se você conseguisse manter o prêmio em crescimento, eles te davam uma antecipação de 2%. Aí o Sanches chamou: "Ximenes, e o prêmio. Como é que você ganhou isso tudo em quatro meses?" "Da forma que o senhor está vendo no boletim, vendendo, né, está no boletim quanto é que eu vendi". Dali eu fui à supervisão, um ano e quatro meses. Fiquei cinco anos na supervisão, cinco ou seis, teria que ser, seria lógico eu assumir o cargo de regente regional, mas não houve chance pra mim porque o gerente regional de lá era muito bom e não estava em idade de se afastar, por outro lado, eu não queria vir pra São Paulo. Mas ele me indicou pra gerente de vendas, me orientou muito, eu agradeço muito, sempre agradeci, eu penso nele, já teve alguém que também foi um ex-funcionário da Johnson que chegou perto de mim, disse: "Olha, eu estive no centro aí, falei com o Martins e ele disse pra você não falar mais nele que ele sofre muito". Hoje ele que está sofrendo. Então, fui pra São Paulo, não vim como gerente e era um diferença muito grande entre supervisor de equipe comandando 12 homens pra você vir comandar 130 homens, então eu vim como supervisor geral de vendas. Falei: "Bom", foi um desafio, eu me dei bem, fui muito bem orientado, a Johnson é uma escola fabulosa. A área Farmacêutica, que é a que eu conheço mais, não tenho nada, nada que dizer que não me foi dado, quem faz a chance é você, é você que tem que trabalhar, é você que tem que mexer com os seus pauzinhos, é você que tem que dar mais do que os outros dão. A Johnson reconhece, isso aí eu não tenho dúvida, então fiquei na Johnson 28 anos. Foi, dirigi vários departamentos, ajudei a lançar não sei quantos produtos, perdi a conta. Fiquei na Johnson 28 anos.
P/1 - Senhor Ximenes, desse tempo todo, desses 28 anos que o senhor ficou na Johnson, qual foi o fato mais marcante que o senhor acha que deu pra Johnson e a Johnson deu pro senhor a nível do seu trabalho, o seu desenvolvimento profissional?
R - Reconhecimento, reconhecimento. Não tenho dúvida nenhuma, se não tivesse reconhecimento, não daria a Johnson aquilo que dei, dei porque sabia que vinha de volta, dei porque sabia que a Johnson olhava pra nós não como máquina, mas como gente e olha até hoje. Você dentro da Johnson não é uma máquina pra produzir, você é um ser humano que precisa trabalhar e que deve trabalhar pra ser reconhecido também, se você quiser tirar da Johnson sem dar de volta, ninguém dá nada sem receber alguma coisa, né? Então o reconhecimento da Johnson sempre deu confiança pra gente fazer força pra crescer, pra gente trazer esforço pra crescer. Eu cansei de trabalhar até meia noite.
[fim da fita 013-A]
P/1 - Mais 10 minutinhos. Aí eu vou pedir só pro senhor amarrar e depois fecha com uma última... Se a Cláudia quiser fazer alguma pergunta.
R - Já vai acabar?
P/1 - Senhor Ximenes, eu queria que o senhor falasse agora, que o senhor desse continuidade assim, contasse algum fato pitoresco que o senhor acha que teve marcante dentro dessa sua trajetória da Johnson?
R - Pitoresco. Que acha que tenha sido marcante, pitoresco. Bom, eu não sei se o chefe vai gostar, o big chefe, que respeito muito, pra mim ele deu muito na Johnson, me deu, passou muito da sua experiência pra mim, pra mim e pros outros, eu fui um dos beneficiados. Eu tinha sido promovido, a gerente de vendas e eu estava numa semana talvez em São Paulo, um desses dias fui almoçar, nem morava em São Paulo ainda, fui almoçar no restaurante da firma, todo mundo podia. E eu cheguei lá, estava, acho que estava o Pinto, o Pinto era o meu chefe, na época, na época que eu vim pra cá, e o senhor Sanches. Apertou e ele me apresentou e tal, ele já me conhecia, eu já tinha saído com ele várias vezes quando ele ia ao Rio. Ele virou: "Ximenes, a lá o que você vai fazer hein, isso aqui está andando muito corretinho, não faça bobagem". (risos) E isso marcou muito, muito mesmo, né? Eu disse: "Não se preocupe, senhor Sanches, a única coisa que pode acontecer é o senhor me mandar embora". Mas isso pra mim, o que ele falou foi um desafio, aceitei como desafio: você tem que fazer melhor do que está, eu acho que não decepcionei a ninguém, entendeu?
P/1 - Senhor Sanches, eu queria que agora que o senhor falasse pra estar encerrando, eu queria que o senhor falasse se tem algum sonho ainda a realizar, qual é o seu maior sonho ainda hoje?
R - Eu gostaria de continuar trabalhando que não é fácil. Eu ainda não cheguei naquele ponto de dizer: "Não, eu vou parar, não dá pra continuar", ainda não cheguei, pode ser que até amanhã, daqui a 24 horas eu chego, mas acho, intimamente acho que não. Então, gostaria de continuar trabalhando, trabalhar com bons resultados e com bom retorno, não estou falando de dinheiro, dinheiro me motiva como todo mundo, claro, se você tem, mais você quer. Porque o mais é gostoso, porque você pode fazer uma porção de coisas com mais, mas com mais coisas gostosas você pode fazer, então o que interessa é isso a mim. Eu vou dizer que é objetivo meu desejo era poder continuar trabalhando mas com reconhecimento, trabalhando de verdade, acho que ainda tenho. Tentei, abri um negócio no Rio, lamentavelmente não foi avante, o país passava por uma crise muito grande na época, todo mundo perdeu dinheiro no tempo do Collor. Até o Collor a firma ia bem depois que chegou o Collor e aquela lavada de sequestrar dinheiro, todo mundo com dívida pra pagar e depois outra bobagem do Collor que ele aumentou os preços dos produtos de indústria farmacêutica parece que 50%, houve uma grita tremenda na imprensa, nos sindicatos de farmácias e eles voltaram atrás, só que os laboratórios já tinham faturado uma boa parte de mercadoria e não deram crédito, pelo menos eu não tive. Depois andei fazendo algumas coisas pra amigos, fui trabalhar como, como é? Como corretor de imóveis, eu não preciso trabalhar mas dentro de casa, sou um desastre. Então fui trabalhar no mercado de imóveis, comecei bem, logo nas primeiras semanas consegui vender um imóvel até muito caro, depois vendi mais três ou quatro só que depois o mercado começou uma retração muito grande, aí fiquei um, dois, agüentei uns seis meses, não vendi, quase ninguém vendia lá na firma onde estava. Aí falei com esse homem: "Não dá, estou pagando pra trabalhar". O cliente quer ver o imóvel ele vai no seu carro, não vai no dele e tudo isso custa dinheiro. Aí de lá pra cá estou parado, mas gostaria de ter uma chance não que eu não esteja procurando não. Estou, mas não tem aparecido. Apesar também porque está tudo difícil, o negócio está muito difícil, a pessoa está encostando gente haja visto aqui em São Paulo o número de pessoas que foram demitidas, não é só operários, teve gente boa, de cargos bons, de capacidade boa que também saíram, eu pelo menos conheço um. Então isso aí, talvez seja até o que me motive, é essa esperança que me motiva a estar indo atento de olho bem aberto, né?
P/1 - Está bom então, gostaria de agradecer a sua participação e foi muito bom tê-lo com a gente.
R - Muito Obrigado.
P/2 - Obrigada.
R - Espero que não dê muito cansaço pra vocês depois que tiverem de cortar isso aí.
P/1 - Não. (risos).
R - Está bom?
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