P/1 – Boa tarde! Gostaria de antes de, começar nossa entrevista agradecer sua presença, a sua colaboração no projeto Memória AFS Intercultura Brasil 60 anos. Então, vou já iniciando a entrevista propriamente, perguntando seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Eu que agradeço...Continuar leitura
P/1 – Boa tarde! Gostaria de antes de, começar nossa entrevista agradecer sua presença, a sua colaboração no projeto Memória AFS Intercultura Brasil 60 anos. Então, vou já iniciando a entrevista propriamente, perguntando seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Eu que agradeço o convite. Meu nome é Rangel Rodrigues de Amorim, data de nascimento é 21 de outubro de 1995. O que mais?
P/1 – Em qual lugar?
R – Nasci em Aracaju, Sergipe.
P/1 – Qual é o nome do seus pais e fale um pouco sobre eles, por favor.
R – O nome do meu pai é Raimundo José de Amorim, o da minha mãe é Lusineide Rodrigues de Amorim. Bom, eles são agricultores lá em Lagarto, uma cidade do interior do Sergipe, uma cidade de cem mil habitantes, trabalhamos... Quer dizer, eu não agora porque estou morando no Rio [de Janeiro] mas sempre trabalhamos na produção de farinha de mandioca e de tapioca. Eles sempre trabalharam nisso e ainda trabalham. Também criávamos gado, um pouco, não em grande número, mas alguns.
P/1 – Você poderia falar o nome dos seus avós? E qual a atividade deles?
R – Olha, eu conheci só as minhas duas avós, então eu não sei o nome completo de todos eles mas os meus avós paternos são: Maria de Menezes e – deixe-me ver se eu me lembro do nome dele, era – Erasmo de Menezes Amorim – o meu avô, eles também trabalhavam na produção de farinha e, principalmente, de fumo, de tabaco, que era uma coisa muito forte principalmente naquela região, no centro sul de Sergipe. Por parte de mãe, o nome do meu avô era Misael, já morreu e da minha avó é Irineria e eles trabalhavam também com produção de mandioca, de fumo e de tabaco.
P/1 – E como era a sua infância em Sergipe ou Lagartas? O que te vem na memória, as brincadeiras?
R – (risos) A infância é uma coisa que marcou muito pra mim porque eu não morava exatamente na cidade de Lagarto, eu morava em uma área rural, um povoado chamado Povoado Nobre, que tem pouquíssimas casas então praticamente todos que moram lá são da minha família. Nós brincávamos muito. A minha vó tem um pasto, uma roça, onde ficam umas vacas e tem uma ladeira muito íngreme e a gente brincava de ficar subindo e descendo essa ladeira o tempo inteiro. Tem um tanque lá que a gente tomava banho e ia muita criança lá pra tomar banho nesse tanque, mas também tinha algumas outras coisas como queimada. A gente ficava na estrada brincando de queimada durante a noite com os meus primos, minha irmã. Foi uma infância muito saudável em todos os sentidos porque eu cresci e não conhecia muita gente na minha infância, não tinha muitos amigos. Eram meus primos, minha irmã e basicamente isso, mas é uma coisa que eu sempre lembro muito, porque era muito saudável, muito gostoso.
P/1 – Você nasce em Aracaju e vai pra Lagarto?
R – Eu apenas nasci em Aracaju porque minha mãe teve algumas complicações no parto e então ela teve que ser transferida para uma maternidade em Aracaju. Todos os meus documentos estão Aracaju, mas eu apenas nasci lá, sempre morei em Lagarto.
P/1 – Me fala um pouquinho da sua época na escola, essa primeira infância.
R – Primeiro, eu comecei a estudar em um colégio dentro de um povoado Nobre, que é o Monsenhor José Barbosa Coelho e lá eu fiquei até a terceira série e, quando eu estava na segunda serie, teve uma reforma na escola e a gente teve que mudar de lugar, então a gente foi pra um galpão perto de onde era a escola mesmo. Nesse galpão, não tinha espaço suficiente pra todo mundo então teve uma parte do galpão que foi divido pra duas turmas. Uma parte era a segunda e outra era a terceira, então a professora era a mesma para as duas turmas, ela sempre passava um exercício pra minha turma e outro pra terceira série, pra turma seguinte. Eu fazia o meu exercício e o da turma que estava um nível a cima de mim. No final do ano, eu tinha nota das duas turmas, então no final do ano, a professora queria que eu pulasse uma série. Só que o Centro de Educação não aprovou por causa da idade, então eu fiquei com muita raiva, eu me lembro disso, quando ela falou: “Olha, você não vai poder passar de série”, fiquei com muita raiva. Eu gostava muito de estudar na escola, só que essa escola era uma escola de periferia, da zona rural mas de periferia então tinham pessoas muito diferentes de mim, pessoas que, por exemplo, não queriam nada com estudar e eu tinha que me adaptar a isso. Eu lembro que eu tinha aos oito anos chegou uma conhecida minha que tinha uns 12, 13 anos e chegou com preservativos, mostrando pra todo mundo e dizendo que ia usar, e eu não sabia o que era aquilo então eu lembro disso hoje e é muito estranho pra mim. Depois, eu passei pra uma escola muito pequena, acho que a menor da cidade, porque eu queria sair daquela escola já que não pude passar de série, tudo que eu queria era sair daquela escola. Fui pra uma escola muito de periferia e lá, realmente, ninguém queria nada com a vida, não queria estudar mesmo então foi um período em que eu era muito criancinha, muito pequeno mas eu sabia basicamente que eu tinha que estudar. Estudar era uma saída de vida e lá tinham traficantes, meninas que aos 12 anos estavam grávidas e foi uma realidade um pouco chocante pra mim porque eu ainda não tinha tido contato com coisas daquele tipo tão extremas. Depois, eu fui para uma escola um pouco maior, uma escola boa, pública também, nunca estudei em escola particular, aí começou a melhorar. Comecei a fazer muito mais amigos, as pessoas lá se interessavam mais em estudar, em falar de futuro, daí eu comecei a me situar mais. Fiquei nessa escola da quarta até a oitava série, do Ensino Fundamental. Depois, fiz o vestibular pro Instituto Federal de Sergipe e passei,
fui fazer Edificações, então fiz o Ensino Médio junto com o Técnico, integrado, com foco em Edificações. Eu comecei a abrir os horizontes, comecei a ver possibilidades, coisas que eu podia fazer e não estava fazendo, por exemplo, eu me apliquei pra um programa que se chama Jovens Embaixadores que é um programa no departamento do Estado Americano e fui selecionado mas, antes, eu tive que fazer um ano de voluntariado e fiz esse um ano em um asilo da minha cidade. Foi um período em que eu entrei no Ifis [Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe], um período que me maravilhou, que tinha mil coisas, possibilidades que eu não conhecia, estava saindo de um lugar que tinha que ir pra escola, voltar pra casa, ajudar meus pais e dormir – era isso. Aí eu fui pra essa escola que tinha mil possibilidades, me maravilhei, queria fazer tudo que tivesse ao meu alcance! Fui fazer voluntariado em um asilo, fui fazer projetos sobre votos, sobre meio ambiente com uma amiga minha, estudava no Ifis, aplicava programas então passei nesse programa, Jovens Embaixadores, daí fui representar o Brasil nos Estados Unidos nesse programa em 2013, voltei e já tinha conseguido uma bolsa pelo AFS para a República Tcheca. Tinha me aplicado pra essa bolsa um ano antes e eu voltei dos Estados Unidos, fiquei acho que seis meses, terminei o terceiro ano do Ensino Médio, só que lá como era integrado com o Ensino Técnico, eu ia graduar o técnico eram quatro anos, então me restava ainda um ano para concluir o Médio Técnico que eram só matérias técnicas na área de Edificações. Fui pra República Tcheca, fiquei um ano lá, fiz o equivalente ao segundo ano aqui no Brasil e não precisava validar porque já tinha terminado o médio.
P/1 – Antes que você continue essa história sobre a sua participação na República Tcheca, sua viagem, eu queria ainda aprofundar um pouco a sua atuação nos Jovens Embaixadores. Você tinha quantos anos? Como isso surge na sua vida? Você recebeu alguma formação nesse sentido vinda de casa?
R – Claro, com certeza. Você fala de formação prévia aos Jovens Embaixadores ou durante?
P/1 – Formação prévia, no sentido de alguma orientação. Você sempre recebeu orientação que era importante estudar, você colocou que na periferia ninguém queria nada, era uma coisa que já valorizava dentro da sua casa e, segundo, os Jovens Embaixadores têm alguma ligação com essa sua formação que vem de casa?
R – Vamos lá: sim, meus pais sempre me incentivaram a estudar, dizendo aquela frase que já é um pouco histórica que: “só é alguém na vida se estudar”. Então, tinha sempre muito isso, eles me cobravam um pouco mas eu sempre tive muita força de vontade, por exemplo, descobri o Jovens Embaixadores através de uma amiga e não teve nada a ver com os meus pais – claro que eles não iam ter como descobrir um programa que me levava ao exterior, até porque eles não tinham acesso à internet, mas eles sempre me incentivaram, a minha irmã também. Então, eu tive essa orientação de querer estudar vindo de casa. Mas a minha família como um todo, quando eu comecei a querer viajar, querer sair daquele meu mundo, eles começaram a estranhar e, hoje, talvez, eles entendam bem mais mas no início eles estranhavam: “Porque você tem que sair daqui? Porque você querer viajar?” Durante os Jovens Embaixadores, eu aprendi muito, foi um programa muito intenso de um mês nos Estados Unidos em que eu conheci pessoas de todos os Estados do Brasil e que eu aprendi muito mais sobre o Brasil, ainda hoje são muito meus amigos, alguns deles meus melhores amigos. Hoje, eu vejo eles seguindo outros trilhos, diferentes dos meus, mas eu aprendi bastante sobre o Brasil, bastante sobre mim mesmo, aprendi alguns dos meus limites, vivendo com 36 jovens brasileiros nos Estados Unidos [da América]. Foi um pouco difícil porque eu tinha acabado de fazer 17 anos, então eu não tinha maturidade que eu tenho hoje, eu não tinha. Eu comecei a me formar como cidadão global, a perceber o mundo de uma forma diferente a partir dos Jovens Embaixadores, foi um divisor de águas na minha vida de fato e era a minha primeira viagem internacional, eu estava assim maravilhado, estava saindo do Brasil. E eu não estava pagando nada que é a melhor parte, enfim, foi muito legal. Também fiquei em uma família hospedeira nos Estados Unidos, inclusive até hoje ainda tenho muito contato com eles que me ajudou a ver a diferença entre a minha família hospedeira, da minha família natural aqui no Brasil. Eu via a mãe realmente reclamava com o filho quando ele fazia alguma coisa errada, então eu começava a fazer as relações, as conexões: minha mãe não reclama comigo, mais por um capricho, mas são coisas não necessárias. Eu aprendi a viver mais em família depois dos Jovens Embaixadores, pra mim foi muito interessante nesse sentido.
P/1 – E como você conhece o AFS? Você já tinha visto o programa antes dos Jovens Embaixadores, não é isso?
R – Já! Eu conheci o AFS por um amigo que estudava na mesma escola que eu. Ele já era voluntário da AFS, não lembro como, e ele colocou um pôster na porta da escola sobre uma bolsa da República Tcheca direcionada a pessoas da Bahia e de Sergipe. Eu pensei: “Nossa, legal! República Tcheca é um país muito legal, tem uma arquitetura e natureza muito bonitas, só que as pessoas lá parecem um pouco frias e o idioma não parece ser tão fácil”, mas queria muito ir pra República Tcheca, então eu apliquei, passei pelo processo de seleção com provas e entrevistas. Consegui, fiquei muito feliz! Durante esse processo, eu não poderia ser voluntário, mas depois do processo eu me voluntariei, conversando com alguns voluntários da região Axé, que é Bahia e Sergipe. Eles me incentivaram a voluntariar depois do processo seletivo e eu não pensei duas vezes. Eu sabia que eu queria voluntariar no AFS porque eu me identifiquei muito com a missão da organização, eu gostava de ver as pessoas voluntariando, fazendo aquilo de forma voluntária, isso me enxia os olhos, então eu decidi que seria voluntário do AFS. Ainda não existia um comitê em Sergipe, tinha apenas um voluntário que fazia algumas coisas na cidade, então juntamos quatro amigos, Richardson, Jumário, Cassiano e eu, e demos início a representação Lagarto. Começamos a receber estudantes e a enviar, principalmente bolsistas porque a maioria de estudantes que saíram de Lagarto é de bolsistas, eu fui pra República Tcheca, Cassiano foi para os Estados Unidos, Luciano foi pro Paraguai, Mel que está agora na Sérvia, então a maioria das pessoas que saíram de lá só bolsistas.
P/1 – Então, seu trabalho como voluntário começa em Lagarto que era uma representação do comitê de Sergipe?
R – Começa em Lagarto que era uma representação. No AFS, nós temos comitês e representações. Representação é quando se inicia, ainda não tem o titulo de comitê porque tem que esperar no mínimo dois anos. São alguns processos burocráticos entre aspas. Então, começou aí, na representação de Lagarto, em 2012, em julho provavelmente, não lembro bem, depois que eu consegui a bolsa para o intercâmbio para a República Tcheca, foi aí que começou.
P/1 – E como que foi ir pra República Tcheca? Você já falava alguma outra língua estrangeira?
R – Eu fui pra República Tcheca depois de voltar dos Estados Unidos, cinco meses depois. Eu já falava inglês, sabia algumas coisas de espanhol porque eu fazia um curso, então eu tinha o espanhol um pouco arranhado, um pouco ruim. Lá na República Tcheca, eu conheci muita gente da América do Sul, então já pensava: “Nossa, eu quero praticar meu espanhol aqui, não quero saber de inglês, quero praticar meu espanhol e aprender tcheco!” Eu fiz muitos amigos da América do Sul, não apenas por isso, mas porque na região em que eu estava, tinham muitas pessoas de lá, eu fiz várias amizades, inclusive meu melhor amigo do intercâmbio é do Chile. Ele me ensinou muito do espanhol. Pra você ter uma ideia, quando eu voltei, sem brincadeira, eu estava entendendo mais espanhol do que português, foi estranho porque eu falava espanhol 24 horas por dia durante o intercâmbio por causa dos meus amigos, então esse meu amigo chileno me ensinou o dialeto do Chile que tem várias palavras diferentes do resto dos que falam espanhol. Ele falava por Skype e uma amiga minha da Costa Rica não entendia o que eles falavam mas eu entendia tudo, eu achava isso muito legal. E quanto ao tcheco foi muito difícil porque é um idioma extremamente complicado, eles têm sete casas e demorou muito pra que eu aprendesse, para que eu começasse a entender de fato o que as pessoas queriam dizer. Me custou bastante, eu estudava muito quando eu cheguei lá, eu não entendia o que as professoras e os professores diziam, alguns colegas meus me ajudavam, traduziam pra mim ou eu ficava estudando tcheco no meu livro durante a aula porque pra mim fazia mais sentido, porque eu realmente ficava estudando e estudava a matéria em casa, fazia isso quando eu voltava. Esse tempo que eu estava na aula estudando tcheco me ajudou bastante.
P/1 – Você foi por qual programa?
R – Eram algumas bolsas regionais, não das regiões geográficas do Brasil mas das regiões do AFS, nós temos 10 regiões e a minha região é a Axé, que é Bahia e Sergipe, então essas regiões tinham uma bolsa a cada ano que vinham do fundo nacional de bolsas do AFS e os países eram selecionados e distribuídos para essas regiões. Esse ano a minha região Axé ficou com a República Tcheca, que foi a bolsa que eu ganhei.
P/1 – Você não tinha que pagar nada por essa bolsa?
R – Não.
P/1 – Era o Fundo Nacional funciona?
R – Eu não lembro bem como funciona porque eu não tive muito contato com isso na época, mas o que eu sei é que existe um fundo que algumas verbas vão para lá e essas verbas são revertidas em bolsas para pessoas que não tinham condições financeiras de participar de um intercâmbio, mas tinham capacidades acadêmicas suficientes, comprometimento acadêmico, demonstravam interesse em se tornar um cidadão global – digamos assim – que tinham interesse em progredir e que demonstravam também que tinham identificação com os valores do AFS.
P/1 – E quando você chega na República Tcheca, você fica quanto tempo?
R – Eu fiquei um ano. Um ano escolar que eu acho que são 11 meses por aí. Eu cheguei em agosto de 2013 e voltei em julho de 2014. De início, eu fiquei um vilarejo de 5 mil habitantes chamado Rušinov que fica ao sul da República Tcheca. Depois, eu mudei de família hospedeira e fui morar em uma cidade ao lado que se chamava Vyškov, é um pouco maior, tem 25 mil habitantes e é a cidade a onde eu estudava, onde ficava a minha escola. Enfim, fiquei 11 meses lá na República Tcheca e foi um período muito legal onde eu pude conhecer muito mais de mim mesmo, pude testar vários limites meus, ver como as coisas funcionam em outros países, tive a chance de visitar outros países da Europa, e fiz muitos amigos, e muito amigos que hoje são os meus melhores amigos. Eu tenho um lugar pra ir em todas as partes do mundo, isso é muito legal. O AFS me ajudou a enxergar o mundo. O AFS sempre me ajudando a dar um passo a mais, a me inspirar a me aplicar a outros programas.
P/1 – Você mudou de família hospedeira porquê?
R – Eu tive alguns conflitos com a minha família hospedeira, porque eles eram um pouco rígido mas não foi exatamente por isso, porque eu tentei me adaptar ao máximo a eles, tentava ser o melhor intercambista possível. Eles já tinham recebido 11 intercambistas antes de mim e alguns deles do Brasil, um deles foi visitar a gente na República Tcheca e foi muito legal. A mãe dele do Brasil foi também no mesmo período e ela era voluntária do AFS, a gente conversou bastante, viajamos juntos, matei a vontade do português, foi muito legal mas essa família me comparava muito aos outros, isso me chateava um pouco e eles eram rígidos no sentido de se eu fosse pra outra cidade, eu devia dizer com três dias de antecedência e dar o número da pessoa com que eu ia estar, então eram coisas que me deixavam desconfortável. Eu sabia que tinha que me adaptar porque era a realidade da família hospedeira que eu tava, eu me esforcei mas para eles não foi o suficiente. Chegou um momento que não deu, eu decidi trocar de família porque foi aconteceu que uma amiga minha da Costa Rica, que era minha vizinha, filha hospedeira da melhor amiga da minha mãe hospedeira na República Tcheca, foi visitar a gente e tinha alguma coisa na garganta, estava um pouco inflamada e ela estava um pouco rouca, ela bateu na porta, tocou a campainha, eu abri a porta e deixei ela entrar. Quando minha mãe percebeu que ela estava rouca, ela expulsou, simplesmente, expulsou a guria de casa e disse que era por causa da garganta e, quando ela saiu, disse que eu não tinha responsabilidade que deixei ela entrar na casa, se eu fiz isso era porque eu não me importava que se eles iam trazer o dinheiro da semana seguinte e eu já não entendia mais nada e foi uma coisa muito complicada, eu realmente já não entendi mais nada. Decidi mudar de família hospedeira porque já não estava me sentindo bem na família e eu sabia que a nossa relação já não ia mais para lugar nenhum, só iria regredir se eu continuasse nessa família hospedeira em que eu estava Daí eu decidi mudar de família hospedeira e eu avisei a eles: “Olha eu quero mudar mas por esses e esse motivos e porque eu sei que se eu ficar a nossa relação não ia mais melhorar, vai ficar apenas onde está ou vai regredir e eu não quero que isso acontecesse porque a gente tem uma ótima relação” e, de fato, eu tinha um relacionamento muito bom, eu conversava muito com eles, eles eram muito, muito, solícitos para mim e eu para eles, explicava muito do que era o Brasil pra eles apesar de eles já terem vindo aqui visitado mas a gente falava de como era o Nordeste, como era minha cidade, meu Estado, e eles ficavam maravilhados mas por outras questões não deu pra ficar nessa família. Eu mudei pra uma família aonde eu tinha dois irmãos e uma mãe, separada, médica. Nessa casa, se na primeira que eu não tinha liberdade, por exemplo,
de ir a festas e dormir fora, nessa segunda casa, eu podia ir para festa, eu podia dormir fora, contanto que eu avisasse com quem eu estava – claro! – e foi muito diferente então eu tinha uma visão limitada de como era a República Tcheca, de como eram os tchecos pelo viés dessa família e isso mudou, essa família era totalmente diferente, era liberal, deixava eu sair, que deixava eu ficar até tarde fora de casa. Na primeira família, por exemplo, eu sempre acordava antes de todo mundo pra ir escola, fazia meu café da manhã e ia sozinho. Na segunda família, eu acordava o café já tava pronto (risos), já tinha mais mordomia – exato! – minha mãe me levava pra escola porque meu irmão estudava junto comigo, era totalmente diferente. Isso não quer dizer que eu gostei mais da segunda família do que da primeira. Eu sinto falta das duas famílias. Creio eu que eu aprendi muito mais com a primeira família com todas as adversidades porque eu testei muito mais os meus limites do que na segunda que eu tinha mais mordomia, eu não tinha que me esforçar tanto para conviver com eles. Eu também já tinha me adaptado muito a cultura tcheca, entendia muito o tcheco, então era mais fácil, não tinha aquelas dificuldades de não saber como as coisas funcionavam, de não saber como comer, como beber, já era uma outra configuração, já era diferente.
P/1 – E a entrada na escola, como você foi recebido? Como foi a sua percepção dos alunos, dos professores? Por exemplo, pelo fato de você ter ido pelo Fundo Nacional de Bolsas, fazia com que você tivesse alguma obrigatoriedade de tirar boas notas ou isso é algo geral do AFS?
R – Isso é algo geral do AFS, você tem que mostrar comprometimento acadêmico, depende da escola, quando você vai, por exemplo, para os Estados Unidos onde o idioma é mais difundido, as pessoas entendem mais, falam inglês, os estudantes têm mais obrigações acadêmicas do que quem vai para República Tcheca que de início não entende bulhufas. No início minha mãe hospedeira me levou na escola, me apresentou algumas pessoas na turma, mas logo eles se interessaram em saber de onde eu era, de como era o Brasil e tentavam me ajudar dentro da sala, traduzindo algumas coisas, apresentando amigos, me levavam pra tomar uma cerveja. Lá é o pais da cerveja, então muita gente toma o tempo inteiro, a gente fazia muito isso, saiamos um sábado à noite pra tomar cerveja e conversar, era muito divertido porque eles já eram meus amigos. Quanto ao Fundo Nacional de Bolsas, eu acho que todo AFSer, quando ele viaja, quer divulgar o pais dele, quer falar da cultura dele além de aprender a cultura da qual ele está inserido, então é muito normal que os AFSers façam por exemplo palestras nas escolas, que eles falem da cultura, da comida, que ensinem a fazer a comida brasileira por exemplo. Eu fiz isso em uma escola para crianças na República Tcheca, em uma cidade chamada___ e foi muito legal por que eu não tinha nada de comida brasileira lá, de ingredientes – eu não encontrei nada, mas eu tinha uma lata de leite condensado então encontrei chocolate e fizemos brigadeiro, as crianças gostam de doce e eles amaram os brigadeiros! Ficaram: “Nossa, isso é fácil de fazer, quero fazer na minha casa, isso é muito bom!”, falei do Brasil, o que o Brasil tem de bom, não apenas essas coisas clichês, mas o que tem bonito, de bom e também um pouco do que temos de ruim, pra situar as pessoas da realidade. Fiz palestras na escola algumas vezes falando do meu Estado. Fiz uma palestra, por exemplo, sobre o meu livro preferido, tinha que falar do autor do livro e tinha que ser um escritor brasileiro, eu não tinha bem um escritor brasileiro preferido, eu gosto muito do livro “O príncipe” de Maquiavel. Então: “Caraca! O que eu vou pensar?, eu tenho que lembrar tudo” Então eu lembrei que tinha lido o “Dom Casmurro”, adorei “Dom Casmurro” porque ele á muito complexo e eu tive que ler ele várias vezes para conseguir entender. Então, eu falei do
“Dom Casmurro” e as pessoas não entenderam bem o livro por causa da complexidade (risos) mas foi muito interessante para que eles vissem como o Brasil também é rico culturalmente, tem toda essa coisa da literatura rica porque os tchecos também tem uma literatura muito rica. Culturalmente, eles são riquíssimos, eles têm um idioma complicado, o que faz a literatura ficar ainda mais bonita. A sonância da língua é muito interessante, dava para fazer algumas conexões entre o português e o tcheco.
P/1 – O que mais te marcou? Acredito que você não imaginava que um dia você sairia de Lagarto e fosse para República Tcheca. O que passou nesse na lá? O que ficou mais marcante porque a República Tcheca não é tão falada no Brasil?
R – Bom, eu nunca achei que eu sairia do país com 16 anos. O meu primeiro contato com o internacional foi com o Jovens Embaixadores mas logo em seguida, veio o AFS que foi uma experiência muito mais duradoura que eu aprendi muito mais sobre a cultura na qual eu estava inserida. Ficou muito marcado o estilo de vida das pessoas porque eu não tinha ideia de como as pessoas poderiam ser tão diferentes em um lugar diferente do meu, eu achava que as pessoas eram como eu era, comiam como eu comia, que elas se comunicavam como eu me comunico. Eu cheguei la e eu levei um choque muito forte, não é o que eu pensei. Eu tinha contato com pessoas do Japão e eu chamava eles para comer alguma coisa, beber alguma coisa. Eu lembro que fiz isso com uma amiga minha do Japão, Mari, eu falei: “Mari, a gente esta indo em um pub comemorar um aniversário de fulano, vamos beber uma cerveja, quer ir com a gente?” e ela ficou muito assustada dizendo que não, não! Como se eu quisesse induzir ela a fazer algo. Carca, como as coisas são diferentes! Eu deveria ter tido muito mais sensibilidade cultural com ela. Depois disso, eu comecei a criar uma consciência cultural que eu carrego até hoje e melhor, porque depois dessas experiências eu percebi que as pessoas ao redor do mundo são muito diferentes e que o AFS ajuda bastante para que as pessoas se conectem e se conheçam, e aprendam que as diferenças culturais existem e isso não define o caráter de ninguém, isso marcou muito pra mim – as diferenças culturais. Não sei como falar isso: as diferenças culturais cruas, de fato diferenças. Tiveram festivais na República Tcheca em que eu fui e que os tchecos saiam nas ruas em seus vilarejos dando vinho Slivovitz, uma bebida muito forte da República Tcheca caseira, as pessoas iam na rua dando vinho Slivovitz, cerveja para as pessoas, com as roupas típicas, tocando violão, tocando violino, dançando. Era algo muito diferente pra mim, eu pensava: “Caraca, isso no Brasil não existe, e aqui é tão normal”. Enfim, foi um momento de descobertas, de descobrir como era o mundo é de fato e não apenas como eu achava que o mundo era.
P/1 - E quando você teve que retornar ao Brasil, como foi readaptar? Primeiro, quando estava chegando próximo da volta, e segundo como é a readaptação?
R – Eu acho que esse momento é para todos os intercambistas o pior. O último dia é um velório, você sai da sua casa da família hospedeira, tem que dar tchau pra todo mundo, essa preparação de dar tchau a todo mundo, começa duas semanas antes, quando você vai procurar as pessoas: “Ah, você pode escrever na minha bandeirinha da República Tcheca? Eu quero ter uma mensagem sua em algum lugar guardado”. Então você tem que, duas semanas antes, eu acho, para mim foi assim: você começa a pensar: “Caraca! Daqui duas semanas eu vou estar no Brasil, e eu não sei o que eu vou fazer da minha vida, tem o vestibular, tem que terminar Ensino Médio. O que eu vou fazer?” Passam mil coisas na sua cabeça e a gente sabe que a readaptação no pais de origem é muito mais difícil que no pais hospedeiro. É um momento muito difícil. Enquanto na República Tcheca, eu pegava um ônibus e por não entender tanto, 100% do que eles falavam, eu tinha uma seção de auto conhecimento, ficava lá, no ônibus, refletindo sobre a minha vida... Quando eu chego no Brasil, desço no aeroporto em São Paulo, fui pra casa de um amigo, pego um ônibus e a primeira coisa que eu escuto foi uma mulher falando: “Ele me traiu, aquele safado (risos), então eu pensei, estou no Brasil!” De fato, cheguei! Foi um período muito difícil, eu acho que não é assim com todos os intercambistas mas foi muito difícil pra mim porque eu tive que terminar o Ensino Técnico Médio, tive que aplicar pra universidade nos Estados Unidos, porque eu estava passando por um processo de aplicação de lá, tive que estudar pro ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio], que acabou não acontecendo e também era voluntário do meu comitê, o de Lagarto em Sergipe. Além disso, eu ainda ajudava meus pais na roça como eu podia. Era muita coisa acontecendo na volta do meu intercâmbio, eu não tive tempo de pensar em readaptação. Pra mim foi assim: as coisas foram acontecendo, mas eu acho que eu ainda não estou 100% readaptado, por exemplo, eu mudei meu sotaque involuntariamente. As pessoas falam comigo e elas ficam falando que meu sotaque era um pouco diferente, acham que eu era português, quemeu sotaque vem de Portugal, mas é que eu não consigo mais voltar a falar como eu falava, a comer o que eu comia. Quando eu cheguei, o meu professor de português falou que ele tinha sensação de que eu estava com um ovo na boca, que eu não conseguia mais falar e de fato é assim. Mas eu acho que esse processo de readaptação ainda está acontecendo. Quando eu vejo as pessoas aqui no Rio de Janeiro, no centro do Rio de Janeiro, correndo, nessa vida tão corrida, o que não acontece na República Tcheca. Eu fico refletindo, como as pessoas da República Tcheca veriam as pessoas do Rio de Janeiro, de São Paulo? A República Tcheca tem menos de 12 milhões de habitantes, enquanto São Paulo, a região metropolitana, tem 25 milhões de habitantes. A cidade é maior do que o país e as pessoas de lá são felizes, sabe? Como as pessoas de São Paulo são felizes, e o modo de vida é diferente. Você aprende a respeitar, mas você começa a se questionar como eu de Sergipe veria alguém na rua, como as pessoas de São Paulo veria alguém da República Tcheca. Você começa a se perguntar isso. Enfim, são perguntas que você se faz e não necessariamente tem resposta. Sãi interessantes, pelo menos para mim.
P/1 – Você foi em 2012 e retornou em 2013?
R – 2013 e retornei em 2014. Cheguei tem um ano e pouco... Está um pouco fresco ainda.
P/1 – Uma coisa que eu esqueci de perguntar, você já é da era digital, muitas pessoas que nós entrevistamos eram da era pré digital. As conversas eram por carta, de vez em quando, uma vez por mês, uma vez por semana no máximo. Como você se comunicava com a sua família? Era todo dia, toda semana? Qualquer coisinha era “Help, socorro mãe”? Como era esse contato?
R – (risos) No AFS, a gente instrui as pessoas que chegam aqui que elas se comuniquem com a família o mínimo possível, quando realmente necessário, uma vez por semana. Quando eu viajei eu não tinha Whatsapp, eu tinha apenas o computador que eu usava o Facebook, as pessoas no Brasil estavam começando a usar o Whatsapp e só falavam nisso. Eu não tinha e todo mundo dizia que eu tinha que ter um, e eu não tinha celular. Como eu não usava Whatsapp era só Facebook ou Skype. A minha família também não tinha computador. Minha irmã ja morava em Aracaju, já tinha casado, ela tinha computador e a gente se falava com mais frequência. Talvez uma vez por mês, duas vezes a cada três meses. Com os meus pais e minha irmã mais nova que mora com eles, eu falei no máximo cinco vezes durante o ano, no máximo cinco vezes. Isso me ajudou muito na adaptação porque eu não ficava pensando no Brasil: “Ah, como eu estaria no Brasil?”, “Como que fulano – meu vizinho ou meu amiguinho – como que ele está no Brasil, está namorando?” “Está ficando com fulana, não está ficando?” “Está indo para a universidade?”. Eu meio que me abstrai dessa vida-Brasil e tentei viver o máximo na República Tcheca. Com certeza isso me ajudou na adaptação do meu intercâmbio.
P/1 – E quando você vem pra cá, você tenta se readaptar e logo tem um monte de coisa pra fazer. Como seus pais viram você? A sua mudança era perceptiva aos olhos deles?
R – Com certeza era. Eu começava a reclamar muito com eles pra jogar lixo aonde tem que jogar, separar lixo. Eles diziam: “Você voltou desse intercâmbio muito diferente, o que aconteceu?”, (risos). Mas eles entendiam, sim, porque eu já tinha avisado e os voluntários do comitê já tinham feito uma orientação falando que eu voltaria diferente, não voltaria o mesmo: “então é bom que vocês segurem a onda aí!”. Quando eu saí de Lagarto para o intercâmbio, a minha irmã morava em Aracaju porque ela trabalhava lá e eu não iria muito pra Aracaju, pra cidade lá. Quando eu voltei ela estava casada, já tinha a filha dela que quando eu cheguei ela já tinha quase um ano, então eu comecei a ir mais pra Aracaju, isso pra mim era mais fácil e para os meus pais também porque no mesmo momento que eu voltei diferente, eles começaram a ter um estilo de vida um pouco diferente, onde eles viajavam mais, iam para uma cidade que era um pouco maior, que a filha deles já estava casada, então não era apenas eu que estava mudado, a minha irmã também estava mudada, minha irmã estava com filho, tendo a vida dela, a família dela. Acho que meus pais conseguiram conciliar isso muito bem, o filho que voltou do intercâmbio mudado e a filha que está casada e que agora tem uma filha, que eles são avôs agora. Mas o que marcou mais foi essa questão do lixo, eu criei uma consciência ambiental muito mais forte e eu reclamava muito. Hoje, por exemplo, se eu vejo alguém jogando lixo pelo vidro do carro ou do ônibus, com certeza, eu vou reclamar. Semana passada, uma mulher estava tomando refrigerante e jogou a lata dela pra fora da janela do ônibus. eu falei pra ela: “Moça, a senhora poderia ter guardado, jogado no lixo, poderia ter me dado que eu jogava. Você não precisava ter jogado na pista? Primeiro que isso pode atingir alguém, segundo que isso vai deixar a cidade mais suja e feia, terceiro, é muito ruim pro meio ambiente”. Ela me olhou e não respondeu. Eu acho que eu vou ter que ser muito mais forte, e que bom!
P/1 – E como fica o seu trabalho como voluntário? Você começa como voluntário, vai para o intercâmbio, volta como voluntário de representação de Lagarto? Me fale um pouco da sua história como voluntário em Lagarto.
R – Quando a gente iniciou a representação em Lagarto, éramos quatro amigos, depois chegaram mais dois, e era um período em que éramos jovens mas tínhamos um senso de responsabilidade. A gente sabia que estávamos lidando com uma organização mundial e que o AFS é uma organização muito responsável. A gente tinha que demonstrar uma responsabilidade também com o AFS, mas agente se divertia muito, era muito engraçado. A gente ia para as reuniões de comitê e agente ria mais do que falava da reunião. Para a gente, aquilo era novo, eu estava começando a desenvolver algumas habilidades, por exemplo, de liderança no comitê, estava começando a me comunicar mais, a ter mais facilidade em me comunicar em público. Dentro do comitê, eu desenvolvi várias funções, fui coordenador de recebimento, fui coordenador de envio, fui conselheiro, presidente de comitê, vice presidente de comitê. Isso me ajudou muito no que eu estudo, no que eu quero trabalhar no futuro. Quando eu saí do comitê de Lagarto para ir pro intercâmbio, lá, eu via como as pessoas, os voluntários, trabalhavam, não era a mesma coisa mas não era tão diferente. Isso me deu algumas ideias pra introduzir no comitê quando eu voltasse. Eles sabiam que eu já tinha sido voluntário. Eu entendia muito mais como as coisas funcionavam no meu intercâmbio, isso me ajudou muito, ter dado orientação para os intercambistas que chegavam aqui no Brasil antes de eu viajar, já tinha dado orientações de envio para pessoas que iam viajar. Por mais jovem que eu fosse e com pouca experiência que eu tinha de AFS, eu já sabia como seria meu intercâmbio, mas mesmo assim eu tive vários choques. Quando eu voltei, eu tentei introduzir algumas dessas ideias no meu comitê, eu tive ideias novas, revi alguns conceitos de como a gente trabalhava no comitê. Quando eu voltei, o comitê também estava muito diferente, era um comitê muito novo de um ano e alguns meses, eu voltei ja estava mais sólido, já estava recebendo mais intercambistas, já era uma coisa um pouco maior. Antes do intercâmbio era o comitê pequenininho que todo mundo se divertia a beça, não tinha tanto recebimento, não tinha tanto envio. Quando eu voltei, o comitê estava maior com mais recebimento e com mais envio, você ainda se diverte bastante mas tem pessoas novas que você vai aprender a conviver com elas, conhecer elas, o jeito delas... Foi outra adaptação, sair de um comitê com fulaninho X e volta com ciclano Y, pessoas diferentes, que trabalham e pensam de formas diferentes e você tem que aprender a trabalhar do jeito deles. Esse é o bom do AFS, conhecer pessoas totalmente diferente, todo instante que chega uma pessoa nova no comitê e você aprende a trabalhar com elas, a lidar com elas, e isso te ajuda na vida, você vê como as pessoas são diferentes e qual não só a sua opinião, o seu jeito de viver importa. Somos um conjunto que temos que viver harmoniosamente bem.
P/1 – Você passou por todas as etapas, todos os cargos dentro de um comitê de Lagarto até se tornar presidente, né?
R – (risos) Sim, acho que eu já fiz de tudo dentro de um comitê do AFS.
P/1 – E o que você sentiu?
R – Isso me ajudou muito a saber como que funciona aqui o escritório do AFS, o que faz um Diretor Nacional, o que faz um consultor de recebimento, um consultor de envio. Isso me ajudou a enxergar o AFS de uma forma muito maior, organizacionalmente falando, me ajudou a conhecer pessoas diferentes também , como já falei. Quando eu era responsável pelo envio, eu falava com uma pessoa quando eu estava no recebimento, falava com outra pessoa. Comecei a fazer mais conexões, a fazer mais pontes. No ano passado – ou foi nesse ano, não lembro! –, eu me tornei treinador regional lá na minha região, Sergipe Alagoas. Me tornei treinador, tive mais contato ainda com pessoas a nível nacional é o que eu mais gosto de fazer dentro do AFS, treinar voluntários, dar treinamentos. Primeiro, porque eu adoro falar (risos), e treinador falava bastante, eu gosto de ter contato com voluntários, e treinador faz exatamente isso, capacita voluntários. Eles são o futuro da organização então quanto melhor você capacita eles, melhor vai ser a organização.
P/1 – Essa capacitação, como é feita? Através de palestras, cursos?
R – Esses treinamentos que nós damos geralmente tem um dia, um dia e meio, e tem sessões, por exemplo, essa semana fiz um treinamento com Andres que é um treinador da região Sudeste, nós demos um treinamento intercultural, foram 8 sessões, cada um de nós tinha quatro sessões para dar. A gente trabalha baseado em um ciclo de Kolb, que é aonde você tem algumas etapas a serem seguidas, mas não é aquele treinamento maçante de você sentar na cadeira e começar escrever teoria seguida de teoria. O treinamento é muito dinâmico, com muitas brincadeiras, várias dinâmicas, e a partir disso as pessoas aprendem. Nós usamos várias cores, vários ambientes para que as pessoas mudem a perspectiva de aprendizado e consigam aprender de forma diferente. São treinamentos muito mais dinâmicos do que a gente está acostumado a ver. O AFS tem muito disso, o AFS é muito dinâmico, temos energizer, e essas brincadeiras de se movimentar, de mostrar cores. Esse é o AFS. Não tem muito como explicar, só vivendo pra saber. A capacitação que eu tive foi com nove pessoas em Brasília durante a convenção nacional do ano passado, que se chama Trainning for trainners, o TforT. Essas pessoas que tem o TforT são treinadoras nacionais qualificadas, elas têm a capacidade de dar treinamentos em qualquer parte do Brasil, de qualquer assunto. Tem outro nível que você pode avançar que é o treinador internacional que da treinamento em qualquer pais, no seu idioma ou em inglês. Tem vários níveis de treinadores.
P/1 – Você citou o Andres, ele é presidente do comitê Rio. Você agora atua no comitê Rio, como?
R – Eu faço parte da equipe de recebimento e da equipe de Relações Públicas do comitê Rio. Eu ajudo na medida do possível, porque minha vida aqui no Rio é um pouco mais corrida do que em Sergipe, a visitar escolas, visitar famílias que querem receber, principalmente a dar ideias, a compartilhar experiências, isso que a gente faz diariamente: compartilhar experiências. Nas Relações Públicas a dar ideias de eventos que a gente quer fazer no comitê Rio, a gente fica responsável pela página que a gente tem no Facebook, as postagens que tem lá são feitas pela equipe de Relações Públicas. Eu faço parte dessas duas equipes, Recebimento e Relações Públicas. Andres é o presidente do comitê Rio, um ótimo presidente a propósito. Como a gente é treinador, eu tenho um contato muito mais próximo com Andres do que qualquer outra pessoa dentro do comitê Rio, então eu acho que a gente ja está bem familiarizado um com outro, eu gosto do jeito de trabalhar dele. A gente se dá super bem, isso ajuda bastante, bastante.
P/1 – Você nota alguma diferença entre o comitê Rio e o comitê Sergipe de Lagartos?
R – Com certeza, como nós somos um comitê em Sergipe muito menor do que aqui para mim foi um baque. Aqui, eles trabalham com planilhas do pessoal que quer viajar, tem várias pessoas interessadas, o que não acontece em Sergipe. Então, aqui eles têm planilhas, no computador está: fulano já foi contatado, fulano quer ir pra tal país, família falou isso, falou aquilo. As pessoas vão anotando na planilha. Você fica assim: “Caraca! Aqui tem muita gente querendo viajar, é muito organizado!”. Não que Lagarto não seja, mas aqui é muito bem organizado pelo volume de pessoas que querem viajar, querem fazer um intercâmbio aqui. Eles usam planilhas pra tudo, lá em Lagarto não usamos porque não tem necessidade, é um número muito menor em pessoas interessadas em viajar, em receber. Aqui as distâncias são muito maiores, lá em Lagarto você tem que visitar uma família hospedeira que estava marcado para as 20h, eu saia de casa as 19h 40min, eu chegava lá 20h com a maior tranquilidade. Aqui, eu moro em Ramos, se eu tenho que ir na Barra da Tijuca, eu tenho que pegar um ônibus duas horas antes de chegar lá, para não fazer feio com a família hospedeira e chegar no horário certinho. Aqui, as pessoas têm mais experiências, por mais que elas sejam jovens, por exemplo, Ciça, que é uma voluntária muito mais experiente. Isso em Lagarto não existe, porque lá era uma representação que se formou como comitê a pouco tempo, então as pessoas não são tão experientes como nos comitês mais antigos, como o comitê Rio. Em Lagarto, quando eu saí, eu era o voluntário mais experiente em termos de anos de AFS, eu já era treinador, dava treinamento no meu comitê há muito tempo. Eu era o voluntário mais experiente, aí eu chego aqui e tem pessoas muito mais experientes, que tem muito mais a ensinar, isso é bom porque isso te motiva, você não está ali ensinando a fulana, tem alguém pra te ensinar algo mais. Eu, por exemplo, fui fazer uma entrevista de escola hospedeira com Ciça, Ciça Roxo. A gente foi conversando o caminho inteiro e ela foi me falando suas experiências no comitê São Paulo, no comitê Rio, no intercâmbio dela, e aquilo me motivou muito. Caramba, eu vi uma pessoa mais velha que eu, com mais experiência que eu, me ensinando, me motivou a continuar a fazer o que eu faço dentro do AFS, aprendendo algo novo, interessante. Eu sempre gosto de conversar com pessoas do AFS, não importa se mais velha ou mais nova que eu. O AFS tem essa coisa de abraçar a diversidade, o que é muito legal, muito acolhedora, eu também gosto de conversar, compartilhar experiência com todos os tipos de voluntários, de todas as regiões, e é isso. O AFS é isso (risos).
P/1 – Eai, você veio pro Rio por que? E em que ano?
R – Eu cheguei no Rio no dia 21 de outubro desse ano, faz um mês e pouco, no dia do meu aniversário, inclusive eu esqueci que era meu aniversário porque foi muito corrido, (risos) foi engraçado. Eu vim pra estudar, pra cursar Relações Internacionais na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Eu apliquei pra universidade e tinha esquecido que eu tinha aplicado pra cá. Um dia, eu acordei, liguei o celular e vi nos e-mails que tinha passado na UFRJ e que dali a três dias eu tinha que fazer a matrícula no Rio de Janeiro, eu pensei: “Caraca, como eu vou fazer isso?” Então eu ajeitei tudo, pedi para um amigo daqui fazer a matrícula e logo em seguida eu vim. Foi bem corrido, inesperado mas estou gostando bastante, apesar de ser uma cidade cara, muito cara. Eu estou gostando muito. O comitê Rio me acolheu muito bem e já me sinto parte da família comitê AFS Rio de Janeiro. Está sendo uma experiência muito bacana. Eu nunca tinha morado em uma cidade tão grande, então, pra mim, tudo é diferente aqui: as pessoas falam muito diferente, tem várias gírias aqui que eu não entendo quando eles falam e eles não entendem quando eu falo. Por exemplo, pra tudo eles falam “bizarro” ou “lek”. Enfim, em Sergipe, isso não existe, quando eu falo: “Eu vou pra casa em um instante” ninguém me entende, eu quero falar que vou pra casa daqui a pouco. É legal que são trocas interculturais, então eu vivo a AFS a todo instante aqui, é um outro intercâmbio, só que dentro do Brasil.
P/1 – E o que é mais difícil, um intercâmbio fora do país ou interno?
R – (risos) É mais difícil fora do país porque acima de tudo tem a barreira do idioma. Aqui, mesmo com as gírias, você entende o que o outro fala claramente. No intercâmbio, isso não acontece. No intercâmbio, por mais que você fale inglês ou espanhol no início, é difícil, as pessoas às vezes te perguntam as coisas e você, mesmo que não entenda, fala sim, porque é um país novo... É muito mais complicado por causa dessa barreira linguística. Mesmo que o Brasil tenha muitas diferenças culturais, a gente está muito mais a par dessas diferenças culturais do que quando você vai pro intercâmbio. Por exemplo, eu não sabia nada da cultura tcheca, eu tive que aprender tudo. Da cultura carioca, do fluminense, eu sei muito mais, eu vejo televisão, ou eu via, e você via as pessoas falando, a paisagem carioca, isso tudo ajuda. Quando você vai para um país que é pouco divulgado como a República Tcheca, é muito difícil porque ninguém fala, é muito mais difícil. Torna a coisa muito mais complexa, difícil de lidar. Você se perde! Isso acontece mesmo, você se perde e não sabe o que fazer e, literalmente, se perde. Por exemplo, um dia fui cortar o cabelo no intercâmbio e parei em outra cidade, peguei o ônibus errado. Além de você se perder dentro da sua própria experiência, você não sabe o que está fazendo, você não sabe o que está sentindo, você não sabe quem são as pessoas certas que você tem que falar, que você tem que andar, se mover, por isso, o AFS disponibiliza um conselheiro pra cada intercambista. Essa pessoa fica responsável por te situar, te guiar durante a experiência, isso é muito importante, é extremamente importante. Eu diria que no exterior é mais difícil, mais complicado.
P/1 – E Relações Públicas, como veio essa escolha?
R – Da área que eu atuo?
P/1 – Não, de você fazer Relações Públicas na universidade.
R – Ah não, eu faço Relações Internacionais.
P/1 – Ah, Relações Internacionais, desculpe, eu confundi.
R – (risos) Tudo bem. As pessoas realmente confundem um pouco, mas eu decidi fazer Relações Internacionais porque eu quero ser diplomata. Então, eu acho que Relações Internacionais é o meio mais fácil de chegar até lá, e eu gosto dessa coisa de saber como o mundo funciona, de saber como as conexões são. Isso sempre me intrigou um pouco. Relações Internacionais foi o curso que eu encontrei que me satisfaria. Eu estava conversando com um professor meu de Ciências Políticas e ele falou assim: “As pessoas sempre perguntam o que faz uma pessoa que cursa Relações Internacionais, no caso, um internacionalista. É muito difícil explicar”, e de fato é porque você tem mil coisas dentro do curso que você pode se especializar. Por exemplo, você pode ser diplomata, trabalhar em uma ONG [Organização Não Governamental], em uma empresa multinacional, pode trabalhar no governo.. Ele falou: “Um internacionalista, alguém que cursa relações internacionais, é o psicólogo do mundo, a pessoa que entende o mundo” e, de fato, é isso que eu queria ouvir, aprender. Eu quero ser o psicólogo do mundo, entender como o mundo funciona. Isso que me motiva bastante. Tudo que é internacional deixa as pessoas maravilhadas, é glamoroso, mas não tem muito disso no curso. Claro que tem pessoas que viajam o mundo, que trabalham para governos. Recentemente, eu participei de um programa na Jordânia de liderança, em que o professor do curso trabalhava pro governo russo mas também já tinha trabalhado para o governo americano. Ele tinha tido uma relação muito próxima com o [Barack] Obama [presidente dos Estados Unidos da América] e com o [Vladmir] Putin [presidente da Rússia] também. Você acaba lidando com pessoas assim, pessoas de alto escalão, mas não necessariamente isso, tem várias coisas dentro do curso e não é isso que me chama atenção. O que me chama a atençao é poder ajudar o Brasil nas relações deles com outros países, com outros estados do mundo, nessas relações amistosas.
P/1 - Você pretende continuar com a AFS, trabalhando como voluntário?
R – Com certeza, no AFS tem alguma coisa, não sei o que ainda, uma magia que te puxa, eu não quero parar nunca de ser voluntário ou de atuar no AFS de alguma forma, de fazer parte dessa organização, seja como voluntário, como funcionário, como família hospedeira, seja como for. Eu nunca quero deixar de fazer parte disso. Os voluntários têm esse espírito de engajamento, de senso de pertencimento, eu acho que isso nunca vai deixar de acontecer, de ser real, de ser tangível em mim, sabe?
P/1 - E pra você, o que é ser voluntário? Você que já passou por dois comitês, várias regiões.
R – (risos) Ser voluntário acima de tudo é se doar, por uma causa, se identificar com a missão do AFS. Os meus valores e princípios se identificam muito com a missão e os valores do AFS. Para ser voluntário, pra fazer farte, do AFS primeiro você tem que se identificar com a missão da organização. Se identificando com a missão da organização, você cria aquele senso de pertencimento, vai se maravilhando cada vez mais por ela. Eu acho que principalmente se doar, se doar por uma causa de forma abnegada e sempre lutar por ela, principalmente acreditar nela.
P/1 – Pra você, 1ual a importância do voluntário no AFS?
R – (risos) Sem os voluntários, o AFS não existe! Nós voluntários somos a base, as pessoas na central trabalham, ralam, o dia inteiro pra fazer essa comunicação entre voluntário e escritório e nós, voluntários, damos vida a organização. Quando você chega em um evento nacional do AFS, por exemplo, uma Convenção Nacional, você vê todos ali, querendo conversar um com o outro, querendo falar das experiências, querendo compartilhar, querendo aprender mais, querendo colocar o AFS sempre pra cima, melhorando a organização. É assim que o voluntário contribui, querendo o bem da organização, tentando fazer o melhor dele. Todos esses processos de encontrar uma família hospedeira, pessoas que querem viajar, são os voluntários que fazem isso. Quem mantêm o vínculo, toda a comunicação com a família hospedeira, quem faz apresentações em escolas, quem divulga, são os voluntários, então eles são de extrema importância para a organização, em qualquer país.
P/1 – No workshop que você participou, você citou o CONAV, o Congresso Nacional de Voluntários. Você pode comentar um pouco sobre ele?
R – Eu ainda estava no intercâmbio quando aconteceu o CONAV, então eu não pude participar. Todos os voluntários que foram ainda falam muito bem do CONAV que aconteceu aqui no Rio de Janeiro. Lá, as pessoas fizeram exatamente isso: as pessoas trocam experiências, apresentam ideias para os outros voluntários. Eles tiveram mais contatos uns com os outros, pessoas do Rio Grande do Norte, do extremo Nordeste, tiveram contato com o Rio Grande do Sul, isso dá uma interação muito grande, você faz vários amigos dentro do AFS, começa a aprender mais sobre a organização, começa a trocar experiências. Isso foi muito importante. Como eu comecei a voluntariar em 2012, eu conheci um AFS que o voluntário não era tão reconhecido como ele é hoje, os voluntários hoje têm um reconhecimento muito maior. Isso começou principalmente na gestão de Ann’Andreza, foi um divisor de águas para os voluntários, começamos a ser mais valorizados e políticas começaram a ser pensadas quantos aos voluntários, quanto à valorização do voluntário. Eu vi uma diferença muito grande. O CONAV foi o primeiro evento de Andreza com a AFS, e isso fez uma diferença enorme, fez com que as pessoas resgatassem aquele senso, o espírito de voluntariado, de querer da sempre o melhor. Eu creio que pra quem estava no CONAV isso foi um divisor de águas. Tem uma voluntária do meu comitê que nunca tinha ido a um evento a nível nacional e foi e se maravilhou, conheceu pessoas de outros Estados, comitês e hoje ela participa. É muito legal.
P/1 – E foi o primeiro em 2014?
R – Foi o primeiro que eu saiba. Acho que esse próximo ano vai ter de novo mas aberto a públicos que não sejam AFS, outros voluntários de outras organizações, com outros ideais, o que é muito interessante também. Você começa a não ficar apenas preso ao AFS, mas conhecer outros ideais, outros conceitos ou que lutam por outros ideais, mas que também acham que é interessante as do AFS. Isso é muito interessante
P/1 – E você ainda mantem contato com a sua família hospedeira? Com as suas duas famílias hospedeiras? (risos)
R – Eu mantenho muito mais contato com a minha segunda família hospedeira, porque como eu me mudei eles meio que cortaram relações comigo. Na verdade, eu tenho quatro famílias hospedeiras porque nos, Estados Unidos, eu tive duas famílias hospedeiras, então, às vezes, é difícil gerir esse contato com elas mas, sim, eu tenho bastante contato, principalmente com a minha família americana, a dos Jovens Embaixadores. Eu adoro meus irmãos hospedeiros, minhas famílias hospedeiras, sem distinção, eles sempre me ajudaram muito, foram muito solícitos. O intercâmbio foi bom por causa deles,, muito do que eu aprendi foi por causa deles. Eu sinto muita saudade deles e tento manter o máximo contato com eles. Claro que você não vai ficar todo dia conversando, primeiro porque eles não tem tempo, segundo porque você tem outra vida no Brasil, você está tentando se acostumar a outro estilo de vida. É impossível manter um contato tão próximo e tão constante quanto o que você tinha durante o intercâmbio, mas eu tento manter o máximo possível de contato com eles.
P/1 – E além da universidade, do trabalho voluntário, você faz estágio, trabalha em algum lugar?
R – Eu to procurando emprego e surgiu uma vaga aqui a SE [Secretaria Executiva] de consultor de recebimento, eu estou aplicando para essa vaga, espero que dê certo. Eu deixaria de ser voluntário mas ainda estaria dentro do AFS, estaria lutando por aquilo que eu acredito, trabalhando com pessoas que eu conheço, que eu adoro, que eu me sinto confortável com elas, para mim seria maravilhoso. É uma coisa que eu preciso, um emprego, com uma coisa que eu adoro, o AFS. Seria o emprego perfeito, eu espero que de certo!
P/1 – Ai você começaria uma carreira dentro do AFS.
R – Começaria uma carreira como funcionário do AFS.
P/1 – E o que você faz nas horas de lazer aqui no Rio de Janeiro?
R – Eu estou me adaptando ainda, aqui tem muita coisa pra se fazer. Eu saí de Lagarto que não tinha muita coisa, muitas opções e vim pro Rio que a todo instante alguém me convida pra um evento no Facebook, que tem uma feira literária muito interessante, que tem um museu muito interessante, tem um filme sendo divulgado em algum cinema, tem algum show que por exemplo, Nando Reis, que eu fui lá em Niterói. Então, em Lagarto lá em Sergipe, eu não tinha esse tipo de coisa, então, isso está me afogando um pouco (risos). É muita informação, muito evento ao mesmo tempo que eu não sei em qual eu vou, é difícil gerir o tempo. Mas, nas horas vagas, quando eu posso, quando dá tempo, eu vou à academia, e eu gosto muito de ler sobre Relações Internacionais e política externa, é uma coisa que me fascina, gosto de sair, de ir em um barzinho, conversar com os voluntários do AFS, sempre tem a social do comitê Rio, que inclusive vai ser essa sexta feira agora. Eu gosto de sair com eles, gosto de conversar, de falar. Nesse mundo AFS, quando você sai, vai para o Happy Hour, você está falando do AFS, você fala dos candidatos, das famílias hospedeiras, você se diverte muito, é muito bom. E eu moro com três estudantes de medicina e eles são muito engraçados, a gente se dá muito bem, a gente se diverte à beça em casa, a gente pede pizza, fica comendo a pizza, vendo filme, a gente saí pra alguma festa sábado à noite. Eu estou aprendendo a me divertir aqui no Rio, estou aprendendo a gerenciar o meu tempo, todas as festas e ambientes que tem por aqui.
P/1 – Como você avalia o desempenho do AFS na vida dos bolsistas, dos intercambistas, dos voluntários? Qual é o papel dela?
R – O AFS é muito importante porque ele vem com a visão, com os conceitos de paz, de intercultura, de conexão de pessoas, compartilhamento de vidas, e isso, de fato, é o que acontece, quando as pessoas entram no AFS, elas se maravilham, pensam: “Nossa, essa organização é muito legal” e elas vão pro acampamento por exemplo e começam a viver um dia com as outras pessoas e, simplesmente, amá-las, criar laços fortes, vão pro intercâmbio ou estão no intercâmbio e começam a aprender como as coisas acontecem em outro lugar do mundo e criam essa consciência intercultural, como a gente chama. Eu vejo que isso ajuda muito elas porque isso me ajudou muito. No momento em que eu decidi evoluir, o AFS sempre me acompanhou, decidir que eu ir morar em outro país, o AFS que me ajudou, decidi fazer um programa no Oriente Médio, o AFS que me ajudou, hoje, eu falo em público sem problemas, sem ter dificuldade de me comunicar com as pessoas, sem dúvidas foi o AFS que me ajudou. Então eu devo toda uma história de evolução ao AFS. E também eu não teria condição econômica nenhuma de fazer intercâmbio no exterior, se não fosse o AFS, então ela tem essa proposta social muito bacana de dar oportunidade a pessoas que não tem condições de viver uma experiência no exterior, com uma família diferente, de se maravilhar em outra parte do mundo, de viver o amor em outra parte do mundo. Esse é o AFS.
P/1 – Qual a história que o AFS terá pra contar nos próximos anos? Qual é a visão de futuro que você acha?
R – Eu vejo o AFS nos últimos anos muito mais inclusiva, que tem abraçado muito as diversidades de todos os tipos, hoje se debate muito mais no AFS do que quando eu entrei as questões de gênero, hoje, a gente tem mais famílias homo parentais por exemplo que hospedam intercambistas do AFS. Então eu vejo a organização debatendo muito mais esses temas que são fundamentais pra sociedade. É uma organização que está tentando sempre evoluir, avançar, com certeza daqui cinco anos ela vai ser uma organização mais inclusiva, mais democrática porque nós voluntários temos muita voz dentro da organização. Nós temos por exemplo o Conselho Diretor que é formado por voluntários que eles decidem muita coisa dentro da organização e eles são voluntários, caramba! E têm uma voz tão forte dentro de uma organização. Isso é uma coisa que eu nunca vi em nenhuma outra organização que eu conheça. Eu acho que vai ser uma organização mais democrática, mais inclusiva, que trabalhará muito mais o conceito de aprendizagem intercultural, uma coisa um tanto quanto nova dentro da AFS Brasil. Uma organização ainda mais evoluída.
P/1 – Eu lembrei que você comentou no workshop sobre um prêmio Scott Rome, fala um pouquinho sobre ele?
R – Eu não conheço a fundo o prêmio Scott Home, porque é um premio designado a funcionários internacionais do AFS que fica lá em Nova York. Esse prêmio é dado para pessoas que assim como Scott Home, que foi um intercambista do AFS na Nova Zelândia, na década de 80 se não me engano, logo depois começou a fazer parte do escritório internacional, e ele morreu aos 30 anos devido ao vírus do HIV [Vírus da imunodeficiência humana], ele e o parceiro dele, mas ele era uma pessoa muito otimista, muito pra cima, que contagiava as pessoas com o sorriso dele, que fazia muito pelo AFS, e esse prêmio depois que ele morreu foi instituído justamente para pessoas que como Scott se doam ao AFS, e divulgam as coisas que eles faziam, que se mostram tão otimistas, tão interessados a fazer uma organização cada vez melhor, como Scott. É um prêmio que eu conheci há três semanas, eu não tinha ideia que existia porque é destinada a pessoas que trabalham no internacional então eu acho que pouquíssimas pessoas aqui sabiam e foi divulgada por Carol, que é uma ex funcionária aqui do Brasil que agora está trabalhando no escritório internacional. Achei muito bacana, muito legal, mesmo porque nós temos prêmios para voluntários mas nunca tinha visto um prêmio para funcionários, e eles também trabalham muito pelo AFS, nós intercambistas, nós voluntários, devemos muito a eles porque eles fazem um trabalho muito bom, um trabalho extraordinário, então eles também merecem um reconhecimento.
P/1 – Estamos caminhando para o final da entrevista, você queria colocar alguma coisa Julia? Fazer alguma questão?
P/2 – Não, tranquilo.
P/1 – Então, eu vou te fazer duas perguntinhas. O que você achou da proposta do AFS de contar a sua história, através do projeto memória?
R – Assim que a Andreza me falou e, logo em seguida, recebi o convite, eu achei muito legal, porque nós temos uma história e quase nunca essa história é revista, contada e nós sempre vivemos os últimos dois anos, os últimos quatro anos, quando eu encontro nos encontros da AFS pessoas como a Bebel, voluntária do comitê de Vitória da Conquista que tem 25 anos de voluntariado, eu começo a querer saber mais de como eram as coisas 10 anos atrás, e quando ela conta é muito legal, você começa a perceber, a fazer essas comparações de como é hoje de como eram as coisas a 15 anos atrás. Esse projeto veio a calhar muito bem nesses 60 anos de AFS, as pessoas precisam conhecer um pouco mais, inclusive os voluntários que precisam conhecer um pouco mais da história do AFS, de como ele tem avançado, evoluído aqui no Brasil. Até de detalhes muito simples como a Renata falou no Workshop da casa de Humaitá, que era mal assombrada, as pessoas tinham medo, que é parte da história do AFS, parte da nossa história, se nós hoje fazemos parte dessa organização temos que saber como ela nasceu aqui no Brasil, como ela começou a andar sozinha e chegou até aqui, então o Museu da Pessoa tem essa proposta muito legal de não apenas contar uma história mas contar experiências, a história das pessoas. Isso pra mim fica muito, uma coisa que um bom líder faz é saber contar histórias e saber escutar as histórias, porque história é uma coisa que fica muito marcada de forma muito fácil e se as pessoas contam uma história interessante, você vai ficar interessado em escutar essa história, você vai repassar essa história. Essa proposta de contar todo o histórico do AFS é muito mais interessante do que colocar tudo dentro de um museu físico e as pessoas possam ir visitar livros de 20 anos atrás. As pessoas vão escutar as histórias e vão se identificar, aquele ali é um voluntário e está falando que ama o AFS por isso e por aquilo e, eu também sou, por isso eu amo o AFS, eles vão se identificar e essa proposta é realmente muito inovadora e muito boa.
P/1 –O que você achou de ter dado esse depoimento?
R –Foi muito legal! É sempre bom falar do AFS, é sempre bom divulgar o AFS, eu amo isso, é sempre bom compartilhar sua história dentro do AFS para que as pessoas saibam, apesar de eu ser um voluntário muito jovem comparado a Bebel que tem 25 anos, de pouca experiência. Pra mim, é muito legal poder compartilhar com essas pessoas o que eu fiz dentro do comitê, o que eu aprendi, como foi meu intercâmbio, para que elas possam perceber também que voluntários jovens também fazem muito pela organização, têm várias experiências, que querem melhorar a organização. Nós jovens somos o futuro da organização, não que os mais velhos não vão fazer mais nada mas eles já fizeram muito e agora é nossa hora de tomar as rédeas da coisa e dar continuidade ao trabalho que eles começaram.
P/1 –Eai, ficou alguma coisa que eu não falei, não perguntei, que você gostaria de deixar registrado?
R – Não sei, queria deixar registrado que eu tenho um relacionamento muito legal, tanto com os voluntários como com os funcionários da SE, do escritório. Tem a Thais que é a consultora de recebimento que eu chamo ela de mãe, e ela é a minha mãe e ela diz que eu sou filho dela. Tem Juliana que trabalha aqui, que a gente é muito amigo desde que ela era voluntaria, tem a Renata, Ann'Andreza inclusive, Bruna, enfim pessoas que eu cheguei no Rio e me acolheram muito bem, eu estou com muita frequência aqui no escritório como vocês já devem ter percebido isso
P/1 – Sim, eu já te vi várias vezes (risos)
R – Pois é, e eles me acolheram muito assim como o pessoal do comitê rio, Andres, Fabi, Helena, Thiago, Bel, Flavio, enfim, eles me acolheram de uma forma muito legal e eu já me sinto parte da família, eu não tive muita dificuldade de chegar aqui: “E, caraca, o que eu vou fazer dentro dos comitês? Como são as pessoas?” São legais, abertas, então esse é o espirito AFS, sempre ajudar alguém que está precisando. Acho que é isso, eu quero agradecer essas pessoas por terem me acolhido tão bem, por serem tão legais comigo, eu não sei se eu mereço tanto (risos). Acho que é isso.
P/1 – Merece! Então em nome do Museu da Pessoa e do AFS Intercultura Brasil eu agradeço a sua participação
R – Eu que agradeço por ter a chance de compartilhar um pouco da minha experiência dentro do AFS.
P/1 – Muito obrigada!Recolher