P/1 – Bom dia Sr. João. Eu queria que o senhor, por favor, para começar, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – João Alves de Freitas, nascimento é Santo Antônio, Rio Grande do Norte, em vinte e quatro de junho de 1928.
P/1 – Como era o nome do seu pai?
R – Avelino José de Freitas, minha mãe Josefa Camilo de Figueiredo.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai, Sr. João?
R – Meu pai tinha várias profissões, mas a que ele mais usava era marceneiro. Que ele trabalhava de marceneiro. Fazia marcenaria.
P/1 – E a sua mãe?
R – Minha mãe era doméstica, era de casa. Dona de casa. Ela não trabalhava.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci só da parte da minha mãe. Conheci o meu avô, chamava-se Antônio de Abreu e minha avó é Luzia Camilo de Figueiredo.
P/1 – O seu avô, o que é que ele fazia?
R – Meu avô ele trabalhava, ele era fazendeiro. Ele mexia com fazenda, com criação de gado.
P/1 – Em Santo Antônio?
R – Santo Antônio.
P/1 – Como é que era essa fazenda, Sr. João?
R – A fazenda dele era uma fazenda bastante grande, ele tinha muitas terras lá e tinha bastante gado, né? Bastante, lá no nordeste as pessoas usam criar muita ovelha, e ele tinha uma criação de ovelha. Animal, cavalos, eles tinham muito. A fazenda era até muito boa.
P/1 – O seu avô era mesmo da região ou...?
R – Da região. Nascido e criado lá naquela região.
P/1 – Certo. O senhor poderia descrever como é que era a sua casa, a casa da sua infância? Como que era a casa onde o senhor morava?
R – A minha casa, inclusive ela foi demolida tem pouco tempo, a casa que meu pai construiu. Era uma casa simples, né? Mas uma casinha de grande valor. Uma casa razoável. Casa bem repartida, uma casa é... Como diz, de pobre,...
Continuar leituraP/1 – Bom dia Sr. João. Eu queria que o senhor, por favor, para começar, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – João Alves de Freitas, nascimento é Santo Antônio, Rio Grande do Norte, em vinte e quatro de junho de 1928.
P/1 – Como era o nome do seu pai?
R – Avelino José de Freitas, minha mãe Josefa Camilo de Figueiredo.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai, Sr. João?
R – Meu pai tinha várias profissões, mas a que ele mais usava era marceneiro. Que ele trabalhava de marceneiro. Fazia marcenaria.
P/1 – E a sua mãe?
R – Minha mãe era doméstica, era de casa. Dona de casa. Ela não trabalhava.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci só da parte da minha mãe. Conheci o meu avô, chamava-se Antônio de Abreu e minha avó é Luzia Camilo de Figueiredo.
P/1 – O seu avô, o que é que ele fazia?
R – Meu avô ele trabalhava, ele era fazendeiro. Ele mexia com fazenda, com criação de gado.
P/1 – Em Santo Antônio?
R – Santo Antônio.
P/1 – Como é que era essa fazenda, Sr. João?
R – A fazenda dele era uma fazenda bastante grande, ele tinha muitas terras lá e tinha bastante gado, né? Bastante, lá no nordeste as pessoas usam criar muita ovelha, e ele tinha uma criação de ovelha. Animal, cavalos, eles tinham muito. A fazenda era até muito boa.
P/1 – O seu avô era mesmo da região ou...?
R – Da região. Nascido e criado lá naquela região.
P/1 – Certo. O senhor poderia descrever como é que era a sua casa, a casa da sua infância? Como que era a casa onde o senhor morava?
R – A minha casa, inclusive ela foi demolida tem pouco tempo, a casa que meu pai construiu. Era uma casa simples, né? Mas uma casinha de grande valor. Uma casa razoável. Casa bem repartida, uma casa é... Como diz, de pobre, né? Mas era uma casa simples.
P/1 – Como é que ela era? Como é que ela se dividia?
R – Ela se dividia em três... Você fala repartimento?
P/1 – Isso.
R – Três quartos, sala, cozinha, sala porque... Sala, três quartos e cozinha. Ela se dividia assim, e um corredor que tinha, que separava os quartos.
P/1 – O piso como é que era?
R – Piso era piso simples, de cimento, que era na fazenda, na roça, a gente não era... Casa simples. Piso de... Rústico, né?
P/1 – E o quintal como é que era?
R – Ah, o quintal era monstro. Muito grande. Porque na fazenda era... Era à vontade. Tinha muito quintal.
P/1 – O que tinha ali de árvores?
R – Tinha árvore, tinha... Árvore frutífera tinham várias. Tinha laranja, manga, caju, que lá no norte dá muito, né? Caju, jaca. Tinham várias frutas.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho. Nós somos dez irmãos. Comigo são dez, tem mais nove.
P/1 – O senhor é o...
R – Eu sou?
P/1 – Caçula...
R – Não. Depois de mim tem mais. Teve mais três.
P/1 – Certo. E como é que eram as brincadeiras ali dessa meninada?
R – (risos) A brincadeira era todo tipo de brincadeira. Gostava de brincar de... Correr um atrás do outro. Brincar de, porque lá no Nordeste existe a corrida de touro. Aquelas corridas, não sei se o senhor já ouviu falar? O povo gosta de montar a cavalo e correr atrás dos touro, diz que é corrida. Fazia uma festa muito bonita lá, de primeiro existia. E a gente gostava de brincar disso aí. Muitos brincavam naquelas matas, naqueles quintais. A gente corria então um atrás do outro dizendo que era corrida de touro. Era brincadeira de menino. De roça mesmo. (risos)
P/1 – Essa corrida de touro ocorria em que época do ano?
R – Ah, ocorria na época da... entre maio e junho, por aí. Eu sei que sempre tinha essa corrida. Sempre que chovia bastante que o gado estava gordo, aí era a época das corridas.
P/1 – E essas brincadeiras consistiam de um se transformar em touro e...
R – É. Um corria na frente, outro corria atrás e fazia aquela festa, né? Brincadeira de criança.
P/1 – E a escola Sr. João? O senhor chegou a freqüentar escola nessa época? Tinha escola ali na fazenda?
R – Tinha muito fraca, muito ruim. A escola era muito fraca, muito pequena. Eu consegui estudar um pouco, mas não aprendi quase nada nessa época que eu estava lá. Muito difícil. Na época que eu morava lá era difícil demais. Praticamente não tinha escola. A gente estudava era assim, que às vezes com os amigos, pedindo informa... Trabalhava junto e eles... A gente foi crescendo e a gente foi... Mas não tinha escola assim. Agora, depois que melhorou. Depois que eu saí de lá é que melhorou um pouco a situação. Mas na época em que eu morava lá era muito difícil.
P/1 – Mas o seu pai e a sua mãe faziam questão que vocês estudassem?
R – Faziam. O meu pai inclusive era bem estudado. Ele tinha um bom estudo. Minha mãe já era mais... Mas ele tinha um bom estudo e ele fazia questão. Mas é difícil, né? Aprendi mais com eles também, porque lá não existia escola naquela época. Existia na cidade, mas a cidade ficava um pouco distante e para a gente ir era difícil.
P/1 – Quanto tempo, a cidade distava quantas léguas, quantos quilômetros lá do seu lugar?
R – Lá fala légua, né? É mais ou menos, uma légua são seis quilômetros, né?
P/1 – É.
R – Mais ou menos isso. Uns seis, sete quilômetros de distância.
P/1 – A cidade era Santo Antônio?
R – Santo Antônio.
P/1 – Ahn.
R – É.
P/1 – Sr. João, e na escola, mesmo nessa escola precária tinha uma professora, um professor? O que é que tinha?
R – Tinha. Mas tudo particular. Tudo ali improvisado, né? Não tinha nada de, assim, coisa concreta, a coisa não. Era improvisada. A professora, quem sabia um pouquinho, levantava ali, dava umas aulas para as pessoas, né? Juntava umas crianças, mas não tinha nada assim de muito futuro não.
P/1 – Sei. Mas o senhor se lembra dessa professora, o nome dela?
R – Não. Essa eu não me lembro mais não.
P/1 – Sr. João, e essa marcenaria do seu pai? Como é que ela era?
R – Ele, inclusive, ele nem tinha marcenaria. Ele trabalhava era para os outros. Ele fazia, ele trabalhava na marcenaria dos outros. Ele não tinha marcenaria. Ele trabalhava de pedreiro, ele construía casa. Isso eu não falei para a Norma. Eu falei que ele tinha várias profissões, né? Ele era pedreiro, ele fazia fogos, ele trabalhava de marceneiro. Mas ele não tinha a dele, a oficina própria. Ele trabalhava para os outros.
P/1 – Ele carregava os filhos para o trabalho, assim, para ensinar?
R – Eu ajudei. Eu, principalmente, ajudei muito. Trabalhei várias vezes com ele. Ele pegava serviço eu ia trabalhar com ele.
P/1 – O que é que o senhor fazia mais com ele. Que tipo de serviço o senhor fazia com seu pai?
R – Eram só mesmo esses. Ajudar. Ajudar na marcenaria, ajudar em serviço que ele pegava, né? Mais era marcenaria mesmo. Às vezes trabalhava plantando lavoura também. Eu também ajudava ele.
P/1 – Cantando?
R – Plantando.
P/1 – Ah, plantando.
R – É. Plantando lavoura, que ele fazia lá. Porque também ele trabalhava na roça e ele tinha as lavouras. Ele trabalhava assim de marceneiro, mas ele tinha a lavoura dele. E a gente...
P/2 – Lavoura de quê?
R – Lavoura de milho, arroz. Arroz não. Arroz lá quase não existe. É milho, feijão, mandioca. Mandioca é o mais, o principal na região. (Risos). A gente plantava.
P/1 – E ele era bom de trato Sr. João, assim, para ensinar?
R – Era. Meu pai era muito legal.
P/1 – Quando é que o senhor saiu lá dessa casa, da roça?
R – Eu saí de lá, eu não lembro a data. Mas saí de lá em 1948.
P/1 – Para onde o senhor foi?
R – Eu vim direto para cá. Para Uberlândia.
P/1 – O senhor saiu com vinte anos de idade então?
R – Com vinte anos.
P/1 – O que é que levou a sua família a sair lá de Santo Antônio?
R – Não, não foi a família. A família ficou lá e por sinal moram naquela região até hoje, né? Eu vim sozinho para cá.
P/1 – Por que?
R – Eu estava, é... Eu estava contando a história para a Norma, tinha um primo que ele tinha um caminhão. E ele veio trazendo, nesse tempo era pau-de-arara que o povo usava para vir. Porque não tinha ônibus, não tinha nada, era muito difícil. Então ele vinha trazer um pessoal aqui no sul, no sudeste. Aí ele me convidou para vir com ele. Eu falei: “Então vamos”. Mas eu pensava, eu não tinha intenção de ficar aqui não. Minha intenção era de vir com ele e voltar novamente para casa, né?
P/2 – Só fazer um passeio?
R – Fazer um passeio, é. Para aproveitar a oportunidade com ele. Nesse tempo não existia estrada. Essa estrada, essa rodovia que hoje chama-se Rio-Bahia, eles estavam construindo naquela época. Foi, levou quase um mês de viagem. Pegava trechos pequenos da estrada já construída, não é, no mais era variante, era desvio, para aqui, para ali. Tinha hora que o caminhão queria subir, não dava conta, o sujeito virava para trás. (risos) A maior dificuldade que nós tivemos. Mas nós viemos. Chegamos aqui, nós levamos parece que vinte e dois dias para chegar de lá até aqui. Aí chegamos aqui, eu fui, eu não fiquei em Uberlândia. Passamos direto daqui, fomos para Capinópolis, aliás, Canápolis. Aí fiquei na fazenda, aí eu fui trabalhar lá na fazenda e comecei a gostar e não voltei. Fiquei quieto. Fiquei aqui. Passei dez anos sem voltar lá. Depois eu voltei.
P/1 – O que o motivou, quer dizer, o senhor escrevia para a sua família para dizer isso?
R – Escrevia, escrevia. Não telefonava, porque naquela época não existia telefone, né? Mas eu escrevia direto para casa. Minha mãe preocupada, chorava mais todo dia, perguntando pela gente. Preocupada demais, né? E a gente novo, achei bom. Eu falei: “Não mãe, eu vou ficar por aqui uns tempos”. E, em vez de eu ficar na cidade, procurar um emprego na cidade, ficar na cidade, procurar estudar, não. Fiquei foi para a lavoura, fui trabalhar na lavoura. Era uma influência tremenda, a lavoura naquela época era muito boa. Muito bom, dava. Não faltava chuva, chovia sempre na época certa. E existia muita fartura e eu fui ficando, fui ficando e... até que fiquei dez anos sem ir em casa.
P/1 – E que lugar foi esse? Em Capinópolis o que é que o encantou?
R – Não, Canápolis.
P/1 – Canápolis. O que é que encantou o senhor em Canápolis para ter ficado lá?
R – Exatamente a lavoura, né? Exatamente o trabalho na lavoura. Muito bom, gostei muito e fiquei. Fiquei esses anos todos.
P/2 – Era lavoura de quê?
R – Lavoura de arroz, lavoura de milho. Nessa época ainda não existia soja, porque hoje tem a lavoura de soja, naquela época não existia. Poucas pessoas plantavam soja, isso era mais para o Estado de São Paulo. Aqui em Minas Gerais quase ninguém plantava. Mais era milho, arroz e algodão. Algodão é menos. Mas o arroz e o milho eram as principais lavouras.
P/1 – E o senhor se empregou numa fazenda, é isso?
R – Eu fiquei lá na casa de um... Uma fazenda, mas esse rapaz, ele não era o dono da fazenda, ele era o arrendatário. Ele arrendou a fazenda e tinha uma lavoura muito boa lá, aí nós chegamos, aí eu fui para lá. Eu e outro rapaz, nós dois. Eu e um companheiro. Trabalhei com esse rapaz cinco anos. E morei com ele muito tempo. Nós apanhamos uma grande amizade, vivemos... Até hoje a gente tem uma grande amizade com esse... Até me parece que ouvi falar que ele faleceu em Itumbiara, quase esses dias. Mas eu fiquei lá na casa dele cinco anos. Ele foi muito bom.
P/1 – Como é que era o nome dele Sr. João?
R – Chamava Cesito, o nome dele era Cesito.
P/1 – E a casa que vocês moravam na fazenda como é que era?
R – É uma casa boa, uma casa de tijolo, bem arrumada sabe? Fazenda até bem arrumada. Curral de gado e tal.
P/1 – A jornada de trabalho como é que era?
R – A jornada...
P/1 – O senhor acordava que horas...
R – A jornada de trabalho era das seis às seis. De manhã cedo começava cedinho, no escuro já estava na lavoura. E trabalhava o dia inteirinho até seis da tarde. Isso era direto. Plantando, colhendo, quando era tempo de colheita, a gente colhia arroz. Batia o arroz nas... Não sei se o senhor já viu como é que... Hoje é só máquina, não é, hoje é só colhedeira. Mas naquela época, principalmente os lavoristas que tinham menos recursos, eles faziam tudo na mão. Eles batiam o arroz em uma banca, fazia, tinha um pano, eles compravam pano de algodão muito grande, e forravam o chão. E botavam uma banca de madeira em cima assim, e faziam aqueles molhos, aqueles feixes e batiam o arroz. Era bom, era divertido pra chuchu. (Risos)
P/1 – Tinha mais gente na fazenda, né?
R – Tinha, bastante gente. Tinha muita gente.
P/1 – E esse seu amigo, o Cesito, ele também pegava lá no breu?
R – Pegava, pegava no duro. Pegava junto. Era nosso companheiro, com os trabalhadores. Eram os “pião”, né? Porque naquela época eles pegavam junto.
P/1 – A produção era grande da fazenda?
R – Era, razoável. Não era muito grande, mas era razoável. Ele não era, assim, uma pessoa de muito poder aquisitivo, mas ele tinha um recurso que dava. Tinha bastante produção.
P/1 – No momento da colheita, se contratava mais gente? Quem é que tomava conta de tudo isso?
R – Se contratava. Às vezes contratava e às vezes ele já tinha pessoal suficiente em casa para trabalhar. Ele dava manutenção na lavoura, depois quando começava a colheita, aí às vezes ele arranjava mais gente para auxiliar, né? Porque tinha que ser colhido mais rápido, né? Quando não dava conta de bater o arroz na hora, empilhava o arroz. Empilhava, fazia aquela, uma leira de arroz com uns feixes por baixo assim, depois ia pondo um por cima do outro assim e fazia aquela pilha bem alta. E ali ficava muito tempo. Ficava muitos meses ali guardado. Podia chover, podia dar sol, não tinha problema. Depois que batia ficava normal o arroz.
P/1 – E essa produção ia para onde Sr. João?
R – A produção vinha era mais pra aqui, para Uberlândia. Tinha comprador de Uberlândia aqui, pessoal que comprava arroz. Muitas das vezes até fornecia, fazia fornecimento, tinha dinheiro, eles já compravam a produção. Máquina de arroz aqui de Uberlândia.
P/1 – Eu esqueci de perguntar uma coisa ao senhor: nesse processo de trabalho, quem é que fazia a alimentação? Quem é que fazia a comida que o pessoal comia?
R – Ah, a esposa dele. A esposa dele trabalhava muito. Às vezes ela tinha alguma auxiliar para ajudar, mas mais era ela. Fazia comida e levava para os peões na roça. Às vezes quando estava pronto, dava um sinal qualquer, porque a lavoura sempre era perto, e a pessoa ia lá para pegar a comida e levar para a lavoura. Ninguém vinha almoçar em casa não. Era na lavoura. Nove horas estávamos almoçando. (risos). Almoço da roça é cedo, né? Quem começa às seis horas da manhã trabalhando, seis e meia, por aí, quando é nove horas já está almoçando. Janta, duas horas da tarde já está jantando. O dia da lavoura é assim.
P/1 – E o que é que era que tinha na comida?
R – Ah, tinha de tudo: arroz, feijão, carne, macarrão. Comida, como diz, roceira, né?
P/1 – E por que é que o senhor saiu lá de Canápolis?
R - Ah, depois as coisas foram ficando, não foi, começou a dar uns anos de falta de chuva, começou faltar chuva no tempo da colheita, no tempo que o arroz estava começando granar, fazer, né?
P/1 – Começando o quê?
R – A ficar, a granar o grão. Fazer o grãozinho de arroz.
P/1 – Ah, granar.
R – A granação do arroz, né? Então, faltava... E ficou difícil, começou ficar ruim. Aí a gente... Eu inventei, aí eu pedi, falei para ele: “Eu vou para Capinópolis.” Aí tinha o outro rapaz que trabalhava lá, um tal de Nelson, pessoa por nome Nelson, que tinha dois filhos rapazes e a gente tinha muita amizade. Aí eles mudaram para Capinópolis aí me convidaram e eu fui com eles. Saí lá da casa desse Cesito e fui para lá. Trabalhei uns anos em Capinópolis, pouco tempo lá.
P/1 – Fazendo o quê?
R – A mesma coisa. Serviço de lavoura, né? Plantando as mesmas lavouras: arroz, feijão, milho. Mas em Capinópolis eu fiquei pouco tempo. Eu fiquei, me parece que eu fiquei só um ano lá. Aí eu fui para Itumbiara. Esse pessoal, que eu fui para Capinópolis com eles, eles abandonaram a lavoura. Aí foram para Itumbiara, botaram uma pensão, um hotelzinho. Aí eu fiquei na lavoura. Não fui para lá com eles não, fiquei na lavoura trabalhando. Aí um certo dia eu desisti da lavoura. Eu falei: “Ah, não. Eu não vou mexer com isso mais não”. Estava muito ruim. Aí eu peguei e fui para lá para Itumbiara, cheguei lá em 1959, isso. Na época em que a CTBC estava fazendo a montagem da central lá em Itumbiara. E tinha uma parte do pessoal, dos técnicos que estavam fazendo serviço de rua, serviço de instalação, serviço de rede nas ruas de Itumbiara, que estavam hospedados lá. Eu cheguei, aí um desses rapazes desse meu amigo falou: “Olha, eles estão montando a central telefônica aqui em Itumbiara, e quem sabe que você arruma um serviço lá?” Eu falei: “Se eu conseguir não vai ser ruim não. Vai ser bom.” Aí depois chegou o rapaz, era o chefe da turma que trabalhava, fazia instalações na rede, na rua, chamava-se Marciano. Aí ele chegou de tarde, aí o rapaz conversou com ele, falou: “Eu tenho esse rapaz aqui, que um pouco vocês arrumam serviço para ele aí”. Ele disse: “Ô, está precisando. Você amanhã, amanhã cedo nós vamos lá. Você vai comigo e...”; não era na turma dele não, era na central mesmo que estava precisando; “... você vai comigo para lá e nós… Vamos ver se eu consigo arrumar serviço para você”. Aí eu fui com ele e já comecei a trabalhar no mesmo dia. No dia 10 de agosto de 1959. Aí comecei trabalhar na empresa e fiquei de agosto até dezembro sem registrar. Não estava registrado não. Trabalhava sem registro. Quando foi no dia primeiro de janeiro de 1960 eles me registraram. Aí eu trabalhei até agora em 1991.
P/1 – Eu queria falar um pouco sobre isso, mas antes, uma pergunta: e a saudade de casa? O senhor não pensava na sua família, na sua mãe, no seu pai?
R – Pensava muito, vixe... Tinha dia que dava vontade de chorar. (risos) Mas era difícil, é muito longe, as condições eram difíceis, né? Que nesse tempo tudo... Hoje não, hoje tudo é fácil, né? Mas naquela época não era, tudo era difícil. A gente tinha saudade, tinha vontade de ir embora às vezes, mas não podia. E ia ficando, de repente passava aquela angústia que a gente tinha, aquela coisa, aquela saudade, a gente entretinha com outras coisas, com o trabalho. E foi passando o tempo. Foi até que a gente ficou esse tempo todo. Aí eu não morei lá mais. Desde essa época eu moro só em Uberlândia, essa região por aqui.
P/1 – Sr. João, como é que foi uma pessoa que trabalhou a vida inteira na roça, de repente chegar em uma empresa telefônica? Como é que foi o seu primeiro dia de trabalho? O senhor se lembra?
R – Foi bom. Muito bom. Eu cheguei lá eu não sabia se ia trabalhar não. Eu fui para ver se conseguia o emprego. O Marciano foi comigo e o rapaz que estava fazendo a instalação lá chamava-se Lindolfo. Inclusive ele também é do nordeste. Ele é da Paraíba. E ele estava fazendo a montagem da central. Aí o Marciano chegou, falou com ele: “Ó, Lindolfo tem esse rapaz que veio comigo aqui que veio para ver se arranja serviço”. Ele disse: “Tem serviço. Só que já começa a trabalhar agora”. Naquele tempo não tinha negócio de fazer ficha, não tinha negócio de nada, de procurar quem era. Não sabia... (risos). Era muito fácil de arrumar emprego naquela época. Não era igual hoje. Hoje tem que ter currículo, é difícil demais, né? Não, naquela época não. Eu cheguei e já comecei a trabalhar. Assim, uma coisa inexplicável. Fazia a limpeza do chão da central de manhã cedo. Era eu e um outro. Um dia era um, um dia era outro. Então a gente chegava, a gente fazia a limpeza todinha. Limpava, tirava a poeira do chão tudo certinho, depois começava a trabalhar na montagem. E fomos trabalhando. Porque tem uma central automática mais bem mecânica, né? Então ela tem os múltiplos, até hoje se vocês forem na central aqui, a 234, aqui na CTBC, 236, vocês vão ver que essa aí não é o tipo da central... Lá era uma central chamada OS, mais antiga ainda, essa é AGF. Essa central tem os múltiplos, porque aí tem as máquinas, que elas funcionam automaticamente, mas ela tem... São três, não sei se vocês já viram, são três tipos de máquina. São um grupo. Tem a máquina que chama-se buscador de linha, que você tira do gancho o telefone, a máquina procura e vai, acha a linha lá dentro no múltiplo. E esse múltiplo, são vinte linhas em cada. E tem a máquina que chama LV e a GV. A GV ela completa, quando a máquina SR, que é o buscador de linha, pega o múltiplo da linha da pessoa que está com o telefone fora do gancho, ela dá o ruído para ele discar, né? Aí a outra sai e entra, procura a outra máquina que é a LV que faz, termina a ligação. Que ela vai... Então aquela máquina GV vai e procura a máquina que está livre LV para poder ela fazer, completar a chamada. Então são três máquinas. É até interessante. E aí a máquina LV completa a ligação, procura a linha do outro assinante que ela vai chamar. Aí quando ela chega lá, ela pára naquele lugar aí completa a ligação, faz a chamada e etc. E essa central, a GV aqui, chama-se AGF. A de lá é do mesmo sistema, mas era mais antiga, chama-se OS. Mecânicos todos os registradores de chamada, tudo mecânico. E tinham aqueles múltiplos lá, e a gente tinha que botar, fazer, cortar o cabo – cabo de plástico – e fazer a ligação naquelas linhas. Mas eu achava mais interessante, eu achava, eu falei: “Meu Deus, a pessoa que fazia isso aqui é uma coisa demais”. É ser muito inteligente, né? Para meu gosto é, porque é muito difícil. E logo, logo, o Lindolfo chegou e falou: “Você vai fazer isso aqui”. Eu falei: “Gente, eu não dou conta não”. Ele disse: “Não, dá sim”. Aí me explicou umas duas vezes, né? E eu já comecei fazer, e aprendi. E foi fácil demais, aquela beleza. E eu continuei fazendo aquilo, né?
P/1 – Que era de exatamente, cortar os fios? Como é que era?
R – É, cortar. A gente descascava os fios, tinha o código certinho dos fios e ia ligando naqueles múltiplos. São uns araminhos, tem de três e tem de quatro araminhos. E a máquina, essa máquina que... lá tem um busca... Um... Só que eu esqueci agora como é que chama. Que ela, um bracinho que ela entra, ela movimenta. Ela vai, movimenta radial, e entra, quando chega na linha ela tem, na ponta daquele braço, tem três fiozinhos. E ela encaixa certinho naquilo ali é onde que dá a linha, onde fala, tudo. Então eu achei aquilo muito importante, muito bonito. E eu comecei e aprendi. Não demorou muito não. Quer dizer, para mim, que trabalhei na lavoura, nunca tinha nem visto, eu aprendi rápido, eu aprendi fácil. Não foi difícil não.
P/1 – E era uma estação de quantas linhas essa?
R – Quinhentos telefones. Quinhentas linhas. Essa estação, a CTBC quando comprou aqui, eles eram o Sr. Alexandrino Garcia e mais três pessoas. Fizeram uma sociedade. Então essa Companhia chamava-se Companhia Teixeira. Teixeirinha. O dono dela chamava-se Tito Teixeira. Então a Companhia que ele tinha chamava-se Teixeirinha. E aí ele pegou e vendeu. O Sr. Alexandrino com esses três amigos compraram essa central deles aí. Logo eles começaram a construir o prédio, aquele prédio que está lá na João Pinheiro. Aquele prédio da esquina. Por cima do predinho que tinha a central, certo? E eles começaram a fazer o prédio por cima porque era pequeno. E esse prédio que fizeram era bastante grande. E depois eles demoliram aquele prédio pequeno, tiraram a central e montaram aqui em Uberlândia duas mil linhas. Já compraram com dois mil telefones. Que foi essa primeira central essa AGF, que eu estava falando para vocês, certo? Então ele pegou, entrou lá em Itumbiara, aí entrou em uma concorrência lá para montar a central e ele ganhou. Aí foi para lá. Aí levou esses quinhentos telefones para lá, essa centralzinha que eu estou falando que eu entrei lá na montagem.
P/1 – Que era a central da Teixeirinha que foi para lá?
R – Que era a central da Teixeirinha.
P/1 – Ah. Que já tinha muitos anos de uso?
R – Muitos, depois que ele funcionou, já tinha funcionado muitos anos, nem sei quantos anos antes. Depois montou em Itumbiara e funcionou mais não sei quantos anos. Uns cinco anos, por aí. Depois tirou de lá e montou no Prata. Ainda funcionou no Prata ainda talvez uns dois ou três anos. Depois não teve mais jeito, aí tiraram.
P/1 – E lá em Itumbiara, quem era o seu líder lá, o seu coordenador? Quem era a pessoa que...
R – Na montagem era esse Lindolfo. O rapaz que era o técnico lá ele que comandava. E depois que inaugurou, o Sr. Alexandrino levou um rapaz, ele chamava-se Lindolfo, ele também tem história para contar.
P/1 – Quem?
R – Lindolfo.
P/1 – Lindolfo. Ele vive lá em Itumbiara?
R – Ele mora aqui em Uberlândia. Também é aposentado. Ele já trabalhava aqui, na central, aí o Sr. Alexandrino levou ele para lá e ele ficou sendo o responsável. Eu trabalhei com ele lá, durante o tempo que eu estava em Itumbiara eu trabalhei com ele. Ele era o responsável lá.
P/1 – Como é que era a cidade nessa época lá em Itumbiara, Sr. João?
R – Itumbiara?
P/1 – É.
R – Nessa época era uma cidade pequena, ainda... Hoje, aliás, tem muito tempo que eu não vou lá, mas hoje acredito que hoje está bem melhor do que era naquela época. É uma cidadezinha ainda bem pacata.
P/1 – E o senhor continuava morando na mesma pensão para onde o senhor foi lá, nos seus amigos?
R – Eu fiquei lá, só que eu passei a fazer só refeição lá. Aí eu logo que inaugurou a central, aí o Sr. Alexandrino conversou comigo e aí eu fiquei atendendo como telefonista à noite. Porque a telefonista tinha uma mesa interurbana, e trabalhava só durante o dia, mais ou menos até às dez da noite, nove e meia, dez horas da noite. Aí ela fechava e ia embora, eu ficava. Tinha um quarto assim, tinha a central, tinha o lugar da mesa, tinha um quartinho e eu ficava ali, eu dormia ali.
P/1 – Ah.
R – Passei a ficar lá direto na CTBC. Só fazia refeição nessa pensãozinha. Pensão Santa Helena.
P/1 – Pensão Santa Helena?
R – É.
P/1 – O senhor se lembra do primeiro encontro com o Sr. Alexandrino, como é que foi?
R – Olha, mais ou menos. Porque eu trabalhava lá e eu nem conhecia ele, e um dia ele chegou lá, bem bonitão, de terno, bem arrumadinho e eu fiquei sabendo que era ele. Mas ele nem conversou comigo. Eu vi ele já o primeiro dia, depois, eu trabalhava, eu trabalhava direitinho, eu cuidava, tinha o maior cuidado com o serviço. O pessoal gostava de brincar e eu não tinha brinquedo, eu sempre trabalhando. Toda vez que ele chegava lá eu estava trabalhando. E aquilo parece que foi criando assim uma (risos) uma certa confiança com a gente, sabe? Ele não falava nada. Mas ele observava. Até que um dia ele chamou, chegou lá, ele me chamou assim à parte e falou: “Olha, vai ser inaugurada essa central...” Eu tinha falado, ele já tinha ouvido falar que eu tinha querido sair. Naquela época salário era muito pequenininho, muito pouco, a gente ganhava pouco e tal. E a gente parece que não tinha uma certa firmeza, sabe? Aí ele chegou, me chamou à parte e falou: “Ó, você não sai não porque aqui é o seguinte: aqui faça sol, faça chuva, chova ou faça sol, o que for, você no fim do mês tem seu salário aqui”. Deu um conselho bom pra mim, sabe? Esse foi o primeiro encontro que nós conversamos. Porque eu já tinha visto ele várias vezes, mas ele não conversava comigo. Ele chegava, conversava com os outros, com os chefes lá. Mas comigo ele não conversava. Mas ele me observava, porque ele sempre que chegava eu estava trabalhando. Nunca ele chegou um dia que eu estava à toa. Sempre trabalhando. Aí ele me chamou e falou assim: “Ó, você não sai não, você fica aí, porque aqui se chover você tem o seu salário, se não chover você tem o seu salário”. Ele me deu esse conselho. Eu fui ficando. E fiquei lá. Depois passou a trabalhar, dar manutenção na central. Eu que dava manutenção mais ou menos. O Lindolfo, que era esse rapaz, que ele era responsável, ele tomava conta mais era da parte de escritório, aquela parte de venda de telefone, recebimentos, essa coisa. E a parte da central, de manutenção ficou quase só comigo.
P/1 – Como é que era esse seu trabalho de telefonista da madrugada? O senhor dava plantão toda noite?
R – Toda noite. Toda noite eu trabalhava, durante o tempo que eu morei em Itumbiara, que eu trabalhava durante o dia na central dando manutenção e à noite eu atendia.
P/1 – Como é que era o processo de completar uma ligação interurbana? Então o assinante ligava para o senhor: “Eu quero falar com São Paulo”. O que é que o senhor fazia?
R - O assinante chamava, a gente atendia. Ele falava: “Quero falar com São Paulo.” Naquela época existia um bilhete, um bilhetinho, a gente preenchia aquele bilhete, com o nome da pessoa, o local onde queria falar, o número do telefone tudo direitinho. Aí completava a ligação e tinha um relógio que chamava-se calculógrafo.
P/1 – Calculógrafo?
R – É. Aí quando ele começava a falar a gente botava o bilhete ali debaixo dele, puxava a alavanca assim e marcava o início da conversa. Quando ele terminava de falar, dava o sinal na pega, que tem uma lampadazinha que acendia, a gente sabia que acabou de falar, a gente dava o término dele. Isso funcionou muitos anos. Muitos anos mesmo.
P/1 – Uma ligação para São Paulo demorava para ser completada, né?
R – Demorava, vixe! Tinha ocasião que até nem se completava. Era muito difícil. São Paulo, Rio, Goiânia, era muito difícil. Tinha o pessoal que esperava muito, muitas horas. Às vezes conforme era o congestionamento nem funcionava. (risos) Às vezes a pessoa até desistia de fazer a ligação.
P/1 – Só para entender melhor Sr. João, o seu regime de trabalho, portanto, lá em Itumbiara era a noite toda, e depois o senhor fazia manutenção...
R – Eu trabalhava durante o dia, o dia todo, dando manutenção na central. Tirava defeito, fazia, né? E a noite eu trabalhava atendendo interurbano. Eu dormia porque não eram muitas chamadas, mas eu estava tão acostumado com aquilo que às vezes eu estava dormindo, quando chamava eu já percebia. Eu levantava e atendia a pessoa. Foi um... Durante esse tempo aí foi difícil. Mas deu para romper. (risos)
P/1 – Certo. E o senhor conheceu a sua esposa lá em Itumbiara?
R – Conheci lá.
P/1 – Como é o nome dela mesmo?
R – É Carminda. Carminda Cândida de Freitas o nome dela.
P/1 – Como é que o senhor a conheceu?
R – Ah, foi incrível. Eu conheci no telefone. Porque lá tem, até hoje nesse telefone a pessoa batendo no gancho se completa uma ligação. Eu trabalhei esses anos tudo e não sou bom nisso não. Mas tem gente que é craque nesse negócio. De bater no gancho do telefone e completar uma ligação. E lá ela trabalhava, ela era enfermeira em uma maternidade. Aí um dia o telefone tocou. O telefone lá, o número do telefone lá da central era 1111. O telefone tocou, atendi, era ela. Mas eu não sabia quem era, não conhecia. Ela falou: “Não, não chamei aí não. É porque eu bati no gancho aqui, saiu aí.” E com esse assunto, com essa conversa, nós se conhecemos. Acabamos casados. (risos)
P/1 – Como é que foi esse processo de aproximação?
R – Ah, depois eu fui lá ver um negócio de uns telefones que estavam com defeito e eu gostei, gostei do assunto, da conversa dela, né? Achei bonita a voz dela. (risos) E aí eu falei: “Eu vou procurar conhecer essa pessoa.” Aí eu fui lá e acabei conhecendo e se gostando. Casamos.
P/1 – Ah. E a família dela não estranhou, assim, uma pessoa sozinha, vindo de longe?
R – Não. A família dela, por sinal, a mãe dela, gostava demais de mim, e eu também gostava muito dela. Ela me tinha como filho, sabe? A família, o irmão dela, todo mundo gostava de mim. O irmão dela, os irmãos dela todos. Ela tinha vários irmãos. Todo mundo gostou de mim. Não sei a razão, não sei por que. Mas ninguém se opôs contra não.
P/1 – E o senhor casou lá em Itumbiara mesmo?
R – Aí eu casei em Tupaciguara.
P/1 – Tupaciguara.
R – É, eu casei em Tupaciguara.
P/1 – O senhor saiu de Itumbiara então?
R – Eu saí de Itumbiara, vim para Tupaciguara. Como eu tinha falado, que eu vim fazer uma instalação, né? Inclusive eu vim trocar, mudar umas mesas interurbanas, porque em Tupaciguara já tinham as mesas, mas Tupaciguara estava crescendo, estava aumentando o número de telefone e essa mesa estava pequena. Aí o Sr. Alexandrino comprou, não sei aonde que ele comprou, umas mesas aí, que eram semi-automáticas, mesma coisa, mas elas tinham múltiplos. Quer dizer, uma mesa que podia fazer maior sistema de serviço, que a telefonista daqui podia atender um número de telefone mais longe. Era por múltiplos, feito múltiplo. E essa foi a primeira mesa que eu instalei. Aí eles me mandaram para Tupaciguara, eu fiz a instalação dessa mesa. Fiquei lá seis meses. Aí casei e vim para Uberlândia.
P/1 – Ah, tá.
R – Aí em Uberlândia eu estou morando até hoje. Até essa época.
P/1 – E o senhor veio para Uberlândia também a pedido do Sr. Alexandrino?
R – É, transferido para cá. A pedido dele.
P/1 – Como é que ele era Sr. João? Como é que era o Sr. Alexandrino?
R – Olha, o Sr. Alexandrino para mim ele era uma pessoa especial. Não tinha, eu trabalhei com ele muitos anos, viajei junto com ele para muitos lugares. Ele era especial. Era um homem fora de sério. Agora, muita gente tinha ele como carrasco. Como ele era muito nervoso. Ele era nervoso. Ele não gostava de ver ninguém parado, tinha que estar trabalhando. E conversa ele não gostava, que a pessoa ficasse conversando muito. Ele era rígido mesmo, sabe? Mas ele era bom demais. Ele não tinha, ele era bom que era fora de sério. Uma coisa que eu senti muito foi a morte dele. Ele era muito bom.
P/1 – Como é que era o comportamento, assim, no momento do trabalho? O senhor disse que viajou muito com ele. Como é que ele se comportava, como é que ele tratava as pessoas, como é que ele decidia as coisas? Conta um pouco mais sobre isso.
R – Ele tratava as pessoas muito bem, mas também ele exigia das pessoas. Porque nós viaja... Ele brigava. Se ele chegasse no local, porque ele tinha... Nessa época duas turmas faziam linha interurbana, uma eu não sei se vocês já entrevistaram, é o Chiquinho, ele também é muito... Ele é desde a empresa Teixeirinha. Porque ele trabalhou na... É muito mais velho do que eu na empresa. Ele tinha uma turma que ele fazia linha interurbana. E tinha outro que chamava Rivalino, também era outra turma. E ele se chegasse no serviço e achasse a coisa, não tivesse do agrado dele, não tivesse, ele.... Você precisava de ver como é que ele falava. Falava e brigava e se brincasse ele queria... (risos). A pessoa não podia dar moleza não porque ele podia até querer bater nas pessoas. Ele fazia desse jeito mesmo. Dessa maneira. Mas ele era bom demais. Trabalhei com ele esses anos todos, nunca me chamou atenção num ponto algum. E o povo tinha medo dele.
P/1 – O senhor estava mais ligado à ele do que a outra pessoa dentro da Companhia?
R – Ligado à ele. Ligado à ele e ao Dr. Luiz. O Dr. Luiz também, nós viajamos muito. Porque na época que eu entrei na CTBC ele ainda era estudante. O Dr. Luiz ainda estava estudando, estava em Itajubá estudando. E depois que ele formou que ele veio para cá, aí nós trabalhamos muito juntos também. Viajamos muito. Fizemos muito serviço junto. Mas era eu, ele e Sr. Alexandrino. E o Sr. Alexandrino chegou até a falar para mim: “Olha...” É uma coisa impressionante que eles me chamavam de Sr. João, até hoje não sei por que eles tratavam de Sr. João. Até o próprio Sr. Alexandrino me chamava de Sr. João. Falava: “Olha Sr. João, se existe pessoa que tem o direito de chegar aqui, entrar no meu escritório e conversar comigo a hora que você quiser, o senhor tem esse direito”. Ele gostava muito de mim, sabe? E o Dr. Luiz também. Mas o Dr. Luiz é mais... Chegou a ocasião dele ficar meio nervoso, chamar atenção, um dia nós brigamos por causa de serviço, por causa dos outros, por causa de conversa dos outros. Mas com o Sr. Alexandrino nunca nós brigamos.
P/1 – Que história que foi essa com o Dr. Luiz?
R – Com o Dr. Luiz? Essa história foi interessante. Eu ia montar, eu ia ampliar uma mesa lá em Iturama.
P/1 – Iturama?
R – É. Pontal do Triângulo Mineiro. Eu ia fazer uma ampliação lá. E eu preparei o material todo, arrumei tudo direitinho, deixei tudo pronto. Isso no domingo, estava tudo arrumadinho. Era só pegar, passar na caminhonete e nós levar para lá. E eu, no domingo eu falei para minha esposa: “Eu vou lá em Itumbiara.” Eu tinha que resolver um negócio lá e fui. E esse rapaz que ia levar esse material lá em Iturama chamava-se Jaques, ele era funcionário da CTBC, e esse homem perturbou o Dr. Luiz o dia todo. Eu não sabia de nada não. Ele falava: “Ó Dr. Luiz, tem que sair daqui de madrugada e o João sumiu, foi para Itumbiara, não sei para onde e eu não sei dele.” E o Dr. Luiz foi enchendo a paciência com aquilo. Ficou nervoso. Quando foi que eu cheguei de tardezinha em casa, mais ou menos umas seis horas da tarde, a minha esposa falou assim: “O Dr. Luiz te chamou aqui em casa e disse que ele está nervoso com você.” Eu falei: “Uai, por quê?” “Não sei.” Aí eu fui lá. Não chamei do telefone lá de casa não. Fui lá. Aí cheguei lá, eram mais ou menos umas sete horas da noite, entrei na central. E eles moravam... Porque naquele prédio ali, o senhor conhece o prédio ali, né? Aquele prédio ali tinha dois apartamentos, eles moravam lá.
P/1 – O senhor está falando da Machado de Assis com a João Pinheiro?
R – Machado de Assis, isto. Aquele prédio ali tinha dois apartamentos. O Sr. Alexandrino morava em um e o Dr. Luiz no outro. Hoje desmancharam tudo e não tem mais apartamento. E eu cheguei lá, entrei na central. Nesse tempo não existia porteiro, não existia nada. Era tudo fácil, você chegava, entrava e saía. Aí eu peguei o telefone e chamei lá: “Dr. Luiz, o que é que o senhor está precisando?” Ah, meu amigo, ele disse, mas gritou dessa altura assim comigo no telefone. Ei, mas me xingou e falou besteira e ficou bravo demais. E eu também fiquei bravo, que eu não sou de brigar, mas eu fiquei nervoso. Que coisa terrível, não é possível. Aí aquilo me chateou demais da conta. “É, você não arrumou nada, tem que ir de madrugada para Iturama, você não arrumou nada. Não tem responsabilidade”. Falou muita bobagem. E eu peguei, fiquei muito magoado com aquilo. Fiquei triste demais. Peguei, fui embora. Quando foi de madrugada, estava tudo pronto, o Jaques sabia que estava pronto, era só pegar dentro da caminhonete, botar dentro da caminhonete e ir embora. Tudo fácil, tudo arrumadinho. Aí ele passou lá em casa. Nesse dia estava chovendo muito. Nós fomos para Iturama, eu não falei nada com ele. Cheguei lá, trabalhei a semana inteira, fiz o serviço tudo. No sábado ele me largou lá e foi embora para o Estado de São Paulo fazer um rodízio naquela região lá, eu vim me embora de tarde. Cheguei em casa, na segunda-feira fui para o serviço. Cheguei lá, mandei, tinha um rapaz lá chamava-se, acho que está até hoje trabalhando, não sei, é José não sei de quê mais. Esqueci o nome dele. Falei: “Zé, faz esse favor para mim, faz uma carta de demissão para mim. Bate uma carta de demissão agora para mim.” “Ah, mas o que é que foi?” Eu disse: “Não, faz a carta. Não pergunta nada não.” Aí ele fez a carta e me entregou. Eu fui lá, o Dr. Luiz não estava na mesa dele, eu deixei em cima da mesa dele. Aí passou, durante esse tempo... Ele leu a carta, eu não sei o que é que ele pensou, se ele... Ficou perguntando para todo mundo: “Ah, mas o que é que foi com o Sr. João?” Eu falei: “Não é possível. Tem coragem de falar uma coisa dessa? Perguntar o que é que foi?” (risos) Aí, ele conversava com todo mundo, mas comigo não falava nada. Quando estava faltando assim uns dois ou três dias já para terminar o aviso ele chamou um rapaz lá, chamado Edésio – esse Edésio hoje mora em Goiânia, ele trabalha lá na telefônica de Goiânia – para precisar servir de testemunha e me chamou: “Fala lá para o Sr. João vim cá.” Eu fui. Aí ele: “Ah, mas que é que foi que você quer ir embora? Rasga essa carta, não sei o que.” Eu falei: “Ó Dr. Luiz, o senhor tem coragem de falar isso, perguntar o que é que foi? O senhor viu. O senhor viu o que é que o senhor falou para mim.” Aí ele: “Não, mas naquele dia é porque eu já tinha subido a serra, estava até descendo de tanta raiva do Jaques.” “Mas o senhor tinha que chegar é no Jaques, não é eu não ué. O senhor tinha que falar é com ele, não era comigo não.” A gente tinha uma certa liberdade e trabalhando muitos anos junto, né? E conversamos lá, e ele: “Ah não, rasga essa carta e tal.” Aí eu aproveitei, eu fiz “santagem”... Como é que é?
P/1 – Chantagem.
R – Chantagem. Eu fiz uma chantagem com ele nessa ocasião. Eu falei: Dr. Luiz, eu posso até rasgar essa carta, mas o senhor vai aumentar meu salário.” (risos) Aproveitei a oportunidade e falei: “O senhor vai aumentar meu salário, porque tem que ter um motivo para eu rasgar a carta, porque eu estou magoado, eu estou triste demais. Eu estou muito... Trabalhei esse resto de mês aqui e o senhor nem sabe como é que está eu por dentro, meu coração.” Aí ele: “Ai, não sei o que, tal.” Aí disse: “Não, eu vou fazer um aumentozinho pra você.” E rasgou a carta. Rasguei. E ficou por isso mesmo. A briga que nós deu caso foi essa. Durante todo o tempo que nós trabalhou foi só essa também. Nunca nós discutimos. Eu me dei muito bem. E eles também, graças a Deus, nós nos demos muito bem na empresa.
P/1 – Sr. João, esse foi um tempo que a CTBC estava crescendo muito e estava se abrindo e, enfim, ocupando a área dela, né? E isso implicava muita linha física, muita expansão. O senhor acompanhava essas frentes de trabalho?
R – Olha, realmente ela estava crescendo. Ela estava crescendo um absurdo mesmo. Linhas físicas para tudo quanto que é lado, e eram muitas linhas. Aqueles postes, era linha para todo lado. Para o lado de Goiás, Goiânia, São Paulo. Para todo o lado aqui tinham muitas linhas. E me parece que até existem algumas ainda. Acho que para o lado de Uberaba ainda tem. E eu fui acompanhando aquilo ali nas... Não nas linhas interurbanas, mas no sentido de central que eles iam montando e a gente ia acompanhando aquilo ali, né? Eu vou falar: modéstia a parte, eu me orgulho até de ver a Companhia hoje que é, e eu ter ajudado essa Companhia. Eu não tenho nada. (risos) Estou na mesma coisa que era ou talvez pior, mas a Companhia cresceu. Quer dizer, modéstia à parte, eu ajudei muito essa empresa, ajudei mesmo. E eles sabem disso.
P/1 – Quer dizer, o pessoal estendia as linhas e o senhor ia cuidar das centrais?
R – Das centrais. Dar manutenção, fazer instalação. Saía de viagem, entrava aqui Capinópolis, Paranaiguara, Mato Grosso, Estado de São Paulo, e quando chegava em casa tinha feito essa rota inteira, a semana toda. Era desse jeito. Eu me lembro quando o meu filho nasceu em 1963, minha esposa fez cesariana, fez o negócio de oito horas da noite. Seis horas da manhã, ou cinco horas da manhã, viajei, fui embora. Fiquei a semana toda fora de casa. Viajei inclusive com o Dr. Luiz. Viajamos esse mundo aí de Pontal do Triângulo, Mato Grosso. A semana inteira fora de casa. E ela em casa doente. Era desse jeito assim.
P/1 – A Dona Carminda não reclamava muito do senhor, não?
R – Reclamava não. Ela, coitada, ela... Precisava trabalhar, né? Não podia ficar sem trabalhar.
P/1 – E como é que eram os equipamentos que o senhor ia dar manutenção? Eram equipamentos novos ou era como aqueles que eram antigos e reciclados?
R – Não, aqueles antigos também. Mas a maioria era novo. Centrais semi-automáticas, na época era só isso. Todas as cidades que hoje tem telefone começaram com mesas semi-automáticas. Não todas, porque São Joaquim da Barra não foi, acho que foi a única central, a única cidade que não entrou semi-automática foi São Joaquim da Barra.
P/1 – Já foi para o automático direto?
R – Já foi para o automático direto. Mas o resto, tudo era semi-automático. Mesa que a pessoa tira o telefone do gancho, acendia uma luzinha na mesa e a telefonista atendia, certo? Era desse jeito. E a gente dava manutenção naquilo e depois foi, a Companhia foi melhorando, foi crescendo, é... Porque eles eram pobres, quando eles começaram foi dificuldade mesmo. Foi muita dificuldade. Nós tivemos ocasião aí deles atrasar pagamento, pedir clemência. Falar: “Ó, ajuda a gente. Tem dó, tal.” Tinha compromisso com a Ericsson, né? Pagar as centrais que tinha comprado. E a gente ajudou nessa parte muito mesmo. Como o Gumercindo, ele já deu entrevista aqui, já falou, ele também sabe disso. Todos que trabalharam sabem disso, né? Que nós ajudamos nesse sentido muito a CTBC. (risos)
P/1 – E o que é que levava as pessoas a vestirem a camisa com essa paixão?
R – Eu não sei. Francamente eu não sei. Ah, o emprego. E eu particularmente, gostei demais. O serviço que eu mais gostei na minha vida foi de mexer com essas coisas, esse negócio de telefone. O senhor vê que eu saí, eu não tenho curso superior, o meu curso vai, eu estudei só, como eu falei para a Norma, só primeiro grau, mas eu nunca vi eu gostar desse tanto de mexer com esse tipo de serviço. Gostoso demais. Aquilo a gente tinha um prazer de trabalhar e ver a Companhia, ver eles crescerem, ver... Era muito bom. Eu não sei a razão, mas eu só sei que era bom.
P/1 – Certo.
R – Muito gostoso.
P/1 – Sr. João, como é que o senhor aprendia sobre os novos equipamentos? Por que os equipamentos iam se transformando também, e mudando. Como é que o senhor fazia para acompanhar a evolução desses equipamentos?
R – Olha, eu nunca fiz. Eu fiz um curso, um curso de quinze dias em São Paulo, só. Quando nós fomos, uma ocasião eu fui com o Dr. Luiz para o Rio de Janeiro ficar uma semana lá. Nesse tempo, as linhas, aí começou a melhorar, começou a progredir no sentido de técnica, né? Então, as linhas interurbanas eram com fio. Então surgiu um equipamento, feito pela Standard Eletric no Rio de Janeiro, que ele fazia uma linha, uma linha física, ali ela fica como portadora, e ela funcionava com mais quatro linhas por cima. Através daquela portadora funcionava mais quatro linhas. Chamava, eu esqueci agora até o nome desse equipamento. E eu fui para o Rio de Janeiro, eu fiquei lá uma semana com ele, dando umas instruções para a gente lá. E eu instalava aquilo. Eu aprendia facilmente não sei como, não sei por que. Aprendia a fazer aquilo tudo. Instalava aqueles... é... Esqueci o nome dele agora, meu Deus, passou, não me lembro como é que chamava. Eram quatro linhas. Era um equipamentozinho que funcionava uma linha como portadora mais quatro linhas. Formavam cinco linhas e ali a gente foi aprendendo trabalhar e... foi indo desse jeito.
P/1 – Certo.
R – Depois foi melhorando, passou a chamar, de quatro passou para doze. Chamava-se QR, Q12, DQ12.
P/1 – DQ12.
R – DQ12. Era uma linha só física, e funcionavam mais doze circuitos através daquela linha, como portadora.
P/1 – Ah.
R – E eu, me parece que até hoje tem esse sistema aqui ainda.
P/1 – Nessa época que se implantou esse DQ12, nós estamos falando em que ano isso aí? O senhor se lembra de que época?
R – Olha, era mais ou menos 1960... Ah, mais ou menos 1968. 1965, 1968, por aí. Eu não me lembro a data certa não, mas era... Aí começou a funcionar com esse DQ12, né? Aí foi melhorando, foi começando ficar, entrar bastante dinheiro, eles já começaram fazer sistema de... que é hoje de...
P/1 – De rádio?
R – De rádio, né?
P/1 – Esse, esse...
R – De microondas.
P/1 – Esse DQ12 significou menos tempo de espera para...
R – Menos tempo. Aí era só melhorando. Porque aí aumentou bastante o circuito e eles compraram, porque uma só linha funcionava mais doze. E eles compraram foi vários equipamentos desse. Quer dizer, eles tinham muitas linhas desse tipo de DQ12 lá. Montaram os equipamentos e eles compraram muitos. Ali foram aumentando as linhas e foi crescendo, o pessoal falando cada dia mais e eles foram melhorando até chegar onde eles estão hoje.
P/1 – Certo. Aí chegou, quer dizer, isso acabou criando rentabilidade para a Companhia, né?
R – Rentabilidade, rentabilidade...
P/1 – Certo.
R – Mas a Companhia, eles passaram um pouco de aperto assim no início, mas depois eles foram melhorando. Eles sempre falam, até hoje se você perguntar pra eles, eles falam que estão apertados, né? (risos) Isso é certeza. Mas desse tempo para cá eles foram melhorando, foram crescendo, automatizando as centrais todas, as cidades que tem aí. Construíram prédio, porque eles não tem nenhum lugar que seja prédio alugado, tudo é deles. Tudo é deles. Foram construindo nas cidades, iam montando assim a central, primeiro construía o prédio. Depois montava a central. Então eles... acredito que hoje...
P/1 – E nesse processo Sr. João, de automatização dos equipamentos, o senhor foi acompanhando, também no momento de montar as centrais, essas novas tecnologias. O senhor ia aprendendo assim por seu próprio esforço ou fazia outros cursos?
R – Não, curso eu nunca fiz. Eu só ajudei a montar, a fazer instalação de centrais, só de São Joaquim da Barra, que foi... E aqui em Uberlândia. E uma em Itapagipe e Monte Alegre de Minas. Essas cidades eu ajudei. Depois eu fui, parei. Eles me passaram para dar manutenção, fazer instalação de mesas interurbanas e dar manutenção. Aí eu parei de viajar. Aí eu não acompanhei mais não. Eu fiquei só aqui em Uberlândia. Eu fazia instalação de mesas interurbanas e dava manutenção em mesa interurbana. Aí eu parei de viajar. De um certo tempo para cá eu não viajei mais não.
P/1 – Certo. E nessas quatro cidades que o senhor se referiu, o senhor ajudou na montagem das mesas?
R – Ajudei na montagem.
P/1 – Ficava lá muito tempo?
R – Em São Joaquim da Barra fiquei seis meses, a central lá de Itapagipe foi pequena. Santa Vitória também, eu estava esquecendo de Santa Vitória. É, a gente ficou mais ou menos um mês, um mês e pouquinho só. Aí veio para Monte Alegre. Monte Alegre também foi pouquinho, era uma centralzinha pequenininha nesse lugar, nem quinhentas linhas não era. Eram trezentas linhas, duzentas e poucas linhas. Então era rapidinho que instalava. A central, era uma central que chamava-se Central da Siemens, como é que era o nome da centralzinha? Já vinha quase toda montada, tudo facinho de montar.
P/1 – Por que é que a Companhia, por que é que o senhor acha que a Companhia se preocupava em colocar telefones em cidades em que as centrais eram de poucas linhas?
R – Ah, o Sr. Alexandrino tinha a idéia que ele não podia deixar nenhuma cidadezinha para trás. Podia ser qualquer tipo de cidade. Ele montou cidade aí que nem cem linhas não tinha. Até na fazenda, vou falar para o senhor, até na fazenda ele montou os telefones. Aqui perto de Prata, tinha umas fazendas lá que eles montavam uns PBXzinho pequenininho, aquele tipo de magneto ainda, e funcionava. Tinha umas currutela que tinham duas, três casa assim, uma coisinha, ele montava telefone ali também. Ele não deixava passar nada. Ele tinha um interesse por isso. Eu não sei a razão porque, mas ele enxergava alguma coisa nisso aí. (risos)
P/1 – Ele não comentava com vocês?
R – Não comentava. Não comentava não. Ele gostava de servir, né? Ele gostava, porque as pessoas tinham vontade de ter telefone e ele tinha possibilidade. Ele falava, ele gostava de servir aquilo ali. Às vezes nem dava muito lucro, nem nada, mas ele... Eu acho que era isso.
P/1 – O senhor se referiu a esse momento em que a expansão física estava muito acelerada. E o Sr. Chiquinho foi uma pessoa que era um homem de rede, né?
R – Era de rede, isso.
P/1 – O senhor chegou a conhecer bastante ele, não? O Sr. Chiquinho?
R – Conheci, bastante. Nós trabalhamos muito tempo.
P/1 – Fala um pouco dele Sr. João. Como é que era o Sr. Chiquinho?
R – Ele não, ele já veio aqui?
P/1 – Não, ainda não.
R – Ah, o Chiquinho ele é um homem trabalhador, um homem bom, de responsabilidade, né? De confiança da empresa. O Sr. Alexandrino tinha muita confiança com ele. E ele tocava essa, ele ficava mês e mês nesse mundo, sumido aí por esse mundo, fazendo linha interurbana com a turma de gente. E ele é uma pessoa muito boa. E ele é antiquíssimo aqui. Ele trabalhava nessa empresa desde o Teixeirinha. Quando o Sr. Alexandrino comprou lá ele já era funcionário da Teixeirinha.
P/1 – Certo.
R – Ele era muito mais velho do que eu, na empresa.
P/1 – O senhores ficaram amigos?
R – Ficamos amigos. Até hoje somos amigos.
P/1 – E ele era chefe de uma turma, na verdade de...
R – Chefe de uma turma. Ele conduzia aquela turma, né? Ele que fazia as turmas dele. Ele que pegava, que arrumava o peão, que arrumava aqueles que trabalhavam na... Ele tinha turma de vinte, trinta pessoas fazendo serviço de rede. Enfrentou muita dificuldade.
P/1 – Tinha que ficar no mato?
R – É, no mato. Fazendo linha no mato. O serviço dele era esse. Ele e o Rivalino. O Rivalino também era outro que também conduzia essa turma, essas turma.
P/1 – O Rivalino, o senhor conhece ele? Ele está vivo ainda?
R – Rivalino eu também conheço. Ele está vivo ainda. Tá vivo.
P/1 – Sr. João e nesse momento em que o senhor começa a ficar mais para Uberlândia, do que, enfim, para de viajar, a transmissão também começa se sofisticar, né?
R – Sofisticar.
P/1 – Quer dizer, o senhor trabalha mais na comutação?
R – É, na comutação.
P/1 – E a transmissão começa vir rádio, depois microondas. Como é que o senhor foi acompanhando esse processo de novas formas de transmissão e no que é que isso evoluiu ali do ponto de vista da comutação?
R – Ah, evoluiu, aí a comutação também, todo esse crescimento fazia também com que a comutação crescesse, né? Fazia também que ali, exigia que ali também progredisse, desse resultado, né? Depois passou nessa época... Antes de existir o DDD era muito trabalho, muito serviço, muitas telefonistas. Elas quase não davam conta do serviço que era muito. Muitas mesas interurbanas. E depois que passou, entrou o DDD, discagem direta, aí a comutação já começou ter mais uma, ter mais uma tréguazinha de serviço, foi diminuindo, foi caindo, né? E até hoje, hoje por exemplo já não tem mais quase nada. Já está tudo modernizado, ainda existe, mas muito pouco. Quase é só o DDD quem manda, né?
P/1 – Essas centrais semi-automáticas eram muito barulhentas, né?
R – Não. Não faziam barulho não. A pessoa chamava, tinha hora que você, em uma cidade assim mais movimentada, você olhava assim as meninas ficavam doidinhas coitadas. (risos). Ficava vermelhinho de lâmpada acesa, um tirava e... E ficava assim impaciente que ninguém atendia e batia no gancho ali. A lâmpada piscava, era aquela luta. Mas não fazia muito barulho não. E a moça também puxava, ligava a pega lá, atendia ela falava: “Número.” E a outra pega do outro lado, ligava no assinante, chamava na pega ali para tocar a campainha lá no... Era uma luta terrível mesmo. Aí, depois é que nós passamos... Aí eu fiz, falaram comigo, o Cleber Garcia, que é sobrinho do Sr. Alexandrino. Ele era gerente aí na CTBC, aí me pediu, me falou e eu bolei. Bolei um esquema e fiz a chamada automática, né? Aí não precisava da moça atender número na hora. Ela só dava a linha para o assinante. A lâmpada acendia, ela botava a pega, o cara recebia a linha lá. O ruído lá e ele mesmo discava.
P/1 – Como é que era isso Sr. João? Como é que era...
R – Ah, foi simples. Um serviço simples. É, eu fiz o esquema, eu bolei o esqueminha e fiz um juntor.
P/1 – Disjuntor?
R – É, um juntorzinho. Juntor. É um circuito que chama juntor.
P/1 – Juntor.
R – Juntorzinho, é. E pegava uma linha, porque a central AGF, elas sempre tem uma linha vinte e um. E essa linha vinte e um não é usada.
P/1 – Não é usada?
R – Não é usada para o assinante não. Essa linha vinte e um sempre fica para reserva de pessoa usar internamente, qualquer coisa, né? Nós pegamos aquela linha vinte e um, trazia para a mesa através do juntorzinho, e o assinante tirava do gancho, acendia a lâmpada, ela pegava a pega botava lá, ele já recebia o ruído lá na frente e ele mesmo discava, não precisava dela. Facilitou demais. E pus contador de chamada também. Aí já tinha contador de chamada, porque era, a central 234 não existia, eles colocaram. O pessoal da Ericsson veio aí para colocar. Aí eu pus contador de chamada também nesse circuitinho, que funcionou muito tempo e deu um lucro fabuloso para a CTBC.
P/1 – O senhor inventou esse negócio então?
R – Eu que inventei. Eu que bolei. É simples, não é difícil não.
P/1 – Sim, o gênio está exatamente nas coisas simples.
R – (risos) Muito simples. Eu tenho o esquema dele lá, se vocês quiserem eu até posso arrumar.
P/1 – Ah, queremos. Certamente queremos.
R – Está na CTBC o esquema, entendeu?
P/1 – E aí quando o senhor bolou esse mecanismo, o senhor chamou alguém para mostrar, o senhor mostrou para o Sr. Alexandrino, enfim, o que é que aconteceu?
R – Mostrei, o Sr. Alexandrino não sei. Mas eu mostrei para o pessoal. Inclusive teve até repercussão. Eles foram mostrar isso até para o pessoal lá da Anatel. Tiveram uma reunião na pousada do Rio Quente. Mas eu não apresentei não, eu fiquei. Quem apresentou lá foi o Nelson Cascelli que era engenheiro lá. Ele que foi lá, não sei se o sentido que ficou foi que ele que fez. (risos) Não sei, isso aí eu não sei não. A reunião foi para lá, eu não fiquei sabendo. Mas eles reuniu com a...
P/1 – Anatel ou Embratel?
R – Embratel.
P/1 – Embratel. Anatel é mais recente.
R – O pessoal da Embratel foi lá e tal.
P/2 – E como é que era essa coisa da conta das chamadas? Essa contagem? O senhor falou que também fez a modificação? Como foi?
R – É, fiz. Porque tem um circuito de, de... Esqueci o nome agora. De uma empresa de São Paulo que ela tinha, como é que ela chama meu Deus? Esqueci agora. Eu só sei que funcionava nesse circuito lá, né? A gente fez o esqueminha e a telefonista atendia o telefone. Porque tem a pega, são três fios. A pega que a moça atende. São três fios. Chama-se A, B e C. Então esses três fios, o fio C, o A e o B é o fio de voz, de conversação. E o fio C ele operava, ele fazia operar um relé lá para poder dar sustentação. Para poder falar, para poder dar voz para a pessoa falar, dar comunicação. E eu peguei, eu fiz esse fio C, eu pus ele para fazer duas funções. Ele operava o relé, eu fiz o circuito para aquele relé ficar retido, enquanto ele estiver com a pega lá, para o fio C ficar livre, certo? Aí a chamada vinha, quando o contador de chamada mandava o pulso, passava no fio C e ia lá no contador, aí ele pulava. É simples, não é difícil não, mas assim, para a gente explicar agora (risos) é meio difícil. Mas se vocês quiserem eu tenho o esquema lá, eu vou pedir, pegar lá com a CTBC e dou para vocês.
P/1 – Sr. João, o que é que motivou o senhor a pensar nessa alternativa aí?
R – Olha, o que motivou foi o Cleber, como eu estava falando, ele que pensou nisso. Mas ele não estava dando conta. Ele: “Ah, mas nós estamos pelejando e não está dando. Isso aí está muito ruim, esse negócio desse serviço das moças fazer a chamada.” Eu falei: “Bom, eu vou tentar. Vou fazer um estudo aí e vou tentar.” E bolei. Peguei o esquema da mesa e bolei esse esqueminha. Foram eles que deram a sugestão, né? Porque eu nem pensava nisso também não.
P/1 – O Cleber Machado?
R – O Cleber Garcia.
P/1 – Cleber Garcia. Desculpa. O sobrinho, claro.
R – Ele hoje parece que mora na Itália esse rapaz. Mas foi através dele. Mas eles já tinham lutado, pelejado não sei com quem, eles não tinham dado conta de fazer. Aí veio falar comigo. Aí eu peguei e fiz. E eu fiz muitas, muitos juntores, discagem direta. Eu fiz discagem direta na CTBC de Franca para Orlândia, dessas cidadezinhas pequenas. Eu fiz vários juntores e a pessoa discava direto. A telefonista discava direto lá, daqui à Tapuirama, daqui à Martinésia. Eu fiz vários mesmo. Fiz muitos juntores aí. Além desse, eu fiz bastante. Circuito simples, mas funcionou.
P/1 – Teve um momento também que se conseguiu um tipo de montagem de linha que fazia com que cidades que não tinham DDD pudessem utilizar o DDD, mas bilhetado como serviço local, não é mesmo?
R – É isso aí.
P/1 – Ah.
R – É esse serviço aí.
P/1 – Esse também saiu da sua cabeça Sr. João?
R – Saiu. Antes disso, o primeiro que aconteceu foi esse. Eu até estava esquecendo. A central 234 tinha uma centralzinha separada que era só do interurbano. O assinante não funcionava, o assinante não pegava ela, ela ficava só por conta da telefonista. Elas entravam naquela linha dela, naquela centralzinha e ela recebia o ruído e discava para o assinante. Mas o assinante não tinha acesso à elas não. E ele tinha quarenta troncos de linha. A telefonista podia discar quarenta vezes simultaneamente, né? Mas foi ficando pouco. Foi apertando. E o Dr. Luiz, um dia ele reclamou. “Uai, eu precisava aumentar isso aí.” Mas a Ericsson nesse tempo era difícil. Precisava encomendar e ficar não sei quanto tempo, muitos meses sem... Eles não tinham assim uma pronta entrega, ia demorar muito. Aí eu pensei naquilo, eu falei: “Eu vou fazer o negócio aqui.” Aí fiz. Dez juntores. Dez circuitos. Bolei, fiz o esquema tudo direitinho. E peguei essa linha vinte e um que estava lá, tinha muitas linhas vinte e um que não funcionavam, né? Estavam...
P/1 – Ociosas.
R – Ociosa. E peguei essa linha vinte e um e botei nesse circuito e ampliei mais dez circuitos. E as telefonistas, porque o circuito deles é assim, quando eles atendem, que atende o interurbano, que fala, quando termina de falar que põe o telefone no gancho acende a lâmpada na mesa, sinalizando que terminou a ligação, né? Eu fiz direitinho, sinalizava normalmente, tudo direitinho. Aí botei para funcionar. Aí fui lá, falei com o Dr. Luiz, mostrei para ele. Ele gostou muito, achou bom, tal. E daí para diante, daí por diante eu comecei a fazer outro circuito. Eu fazia daqui para Uberaba, daqui para Tupaciguara. Fiz até para a Embratel. A Embratel aqui, o pessoal aqui, eu fiz até circuito para eles aí. Uma ocasião que eles... E daí foi surgiu esse...
P/1 – Era preciso construir isso? O senhor precisava da oficina para fazer isso?
R – Precisava.
P/1 – O senhor trabalhava com o Sr. Sebastião?
R – Alguma coisa ele me ajudava, alguma coisa ele fazia. Por exemplo: vários que dependia de material mais... Ferragens, essas coisas, ele fazia para mim. Também ele me ajudou nesse sentido.
P/1 – E a montagem ficava por sua conta?
R – É, ficava por minha conta. Eu tinha um rapaz aí, que trabalhou comigo muito, o Alaor, também tem muito tempo que ele trabalha. Ele trabalha até hoje. Ele era bom para fazer esse circuito assim. Eu fazia o esquema, passava para ele, e ele fazia a montagem direitinho. Bem feitinho, caprichada.
P/1 – E aonde era que o senhor fazia isso? Em que local?
R – Mesmo lá na central.
P/1 – Lá na central?
R – Porque nós tínhamos cada, a oficina onde a gente trabalhava, então ali a gente já fazia esse circuitozinho.
P/1 – Sr. João, o senhor quer tomar um gole de água?
R – Não, não, obrigada.
P/1 – A transmissão foi melhorando, foi evoluindo, e os equipamentos das centrais de comutação foram também diminuindo, né? Quer dizer, com a entrada do DDD mudou muito o trabalho do senhor?
R – Mudou. Aí foi mudando. Daí por diante já foi diminuindo o serviço, o trabalho da gente. Só que aí nessa época é que começou a surgir esses circuitos que a gente bolou. Porque até então não tinha. Depois do DDD, que começou a entrar o DDD, que nós começamos a fazer, programar esse circuito, que nós fizemos vários. Bastante mesmo. Muitos juntores, muitas coisas que, ajudaram bastante a Companhia. Creio que ajudaram.
P/1 – E isso também era instalado em outras cidades?
R – Instalado em outras cidades também.
P/1 – Aí o senhor voltou a viajar?
R – Não, eu fazia, aí eu não viajei mais não. Eu fazia aqui, mandava para eles e lá eles instalavam, né?
P/1 - Certo. agora, nessa evolução Sr. João, o tamanho das centrais começou a diminuir também, né? Quer dizer, não precisava aqueles equipamentos grandes, ou tão grandes quanto eram usados, né?
R – Realmente.
P/1 – E aí como é que o senhor acompanhou esse processo?
R – Não, aí esse processo aí eu já fiquei mais fora, sabe? Porque eu fiquei por conta da manutenção de mesas interurbanas, aí eu fui ficando mais, como diz, foi me largando pro lado, (risos) foi me apagando, certo? Foi me deixando só na manutenção e foi... Aí eu não fiz curso. Nessa central, nessas centrais, que hoje são muito sofisticadas, isso eu não pude, não aprendi. Não tive acesso a esse tipo de serviço, sabe?
P/1 – Ah.
R – Não tive, não. Eu fui, eu fiquei... Aí começaram a entrar muitas pessoas. Engenheiros e foi... E foi crescendo só na parte de engenharia, não é, e eu fui caindo, fui saindo, ficando fora. Fui encostando até aposentar.
P/1 – Certo. E essas pessoas novas que iam entrando, esses novos técnicos, engenheiros, eles procuravam o senhor para conhecer, para saber, para ter informações de como as coisas funcionavam?
R – Olha, um deles, que inclusive ele foi diretor aí, Nelson Cascelli, esse engenheiro ele veio para cá, acho que foi a época que estava formado recente. Ele tinha bastante teoria porque era engenheiro, mas prática mesmo não tinha nada. Eu ajudei bastante. Esse eu ajudei muito. Esse rapaz eu ajudei bastante.
P/1 – Nelson Cascelli?
R – Nelson Cascelli. Ele foi crescendo, entrou e foi diretor superintendente da empresa.
P/1 – E o grupo dos técnicos, engenheiros, era um grupo assim que pegava no pesado, que entendia do riscado, ou o senhor olhando de longe, o senhor diz que estava encostado, como é que o senhor enxergava esse pessoal novo?
R – Olha, pra falar a verdade, esse pessoal nesse sentido de bolar, programar alguma coisa, eles não faziam nada. Eles tinham... aí a Companhia já começou a ter bastante dinheiro, então eles compravam tudo pronto, já pediam da Ericsson, da Siemens e eles não faziam nada. Eles só tinham só a administração e mais nada. Não é no nosso tempo não, que a gente tinha que agarrar e fazer. Se soubesse fazer, fazia, se não soubesse tinha que lutar até que dar conta, né? O que aconteceu comigo. (risos)
P/1 – Ah, Sr. João, nessa história que o senhor está contando para nós, a gente passou de passagem por um trabalho que era muito importante nesse seu momento aí, que era esse trabalho das telefonistas, né? Quer dizer, elas eram, digamos, o elo principal de toda essa cadeia aí, eram essas telefonistas, né?
R – É, realmente.
P/1 – O senhor conheceu algumas? O senhor pode contar alguma história de telefonista, assim? Alguma pessoa que tenha impressionado o senhor nessa sua trajetória, na CTBC?
R – Não, eu conheci muitas, porque inclusive eu trabalhava a bem dizer no meio delas. Porque depois que eu passei a dar a manutenção nas linhas interurbanas, eu trabalhava praticamente junto com elas, né? Conheci várias delas. Mas não tinha assim, nesse sentido aí eu não sei falar.
P/1 – Eram muitas?
R – Eram muitas, muitas mesmo. Bastante. Tinha, eu não sei precisar quantas que era não, mas era capaz que tinha beirando cem pessoas ou mais.
P/1 – E quanto mais ia automatizando o processo elas iam sendo postas de lado.
R – Isso. Aí ia diminuindo. Hoje eu não sei quantas tem não, mas devem ter muito poucas.
P/1 – Certo. Sr. João nesse período todo, a Dona, bom o senhor parando de viajar a Dona Carminda certamente deve ter ficado um pouco mais satisfeita, né?
R – Ficou. Ela ficou mais satisfeita.
P/1 – E os seus filhos? Os seus filhos também se interessaram pela telefonia? Ou chegaram a...
R – Olha, meus dois filhos, todos os dois eu coloquei lá na CTBC. Esse que é hoje, um faleceu, um desses dois. E o outro está vivo aí mas ele não gostava. Eu não sei por que. Ele trabalhou dez anos, chegou a trabalhar dez anos na CTBC e não aprendeu nada. (risos) Não quis nem saber. Hoje ele gosta muito é de mexer com negócio. Compra, venda, com negócio de trabalhar de vendedor, ele gosta dessa coisa. Ele não gosta, ele nunca gostou de... Ele trabalhou dez anos porque ele era pequeno, o Dr. Luiz deixou ele ficar lá, ele ficou lá dez anos mas não aprendeu nada. Telefonia não. O outro trabalhou. O outro era mais inteligente. O outro ele gostava, aprendeu, fez curso, tudo. Depois deu de cabeça de sair, também saiu.
P/1 – Sr. João, me diga uma coisa: todo esse trabalho na verdade ele estava, esteve e estará, suponho, muito focado na pessoa, no cliente, no assinante. E o senhor como fez parte de tudo isso, em algum momento dessa sua trajetória o senhor certamente deve ter ouvido algum comentário de assinante, de cliente. Que tipo de satisfação a pessoa é capaz de ter quando descobre que aquilo que ele está fazendo é de fato útil para as pessoas? Como é que isso aconteceu para o senhor?
R – Olha rapaz, aconteceu... Eu fiquei, eu mesmo fiquei satisfeito, fiquei feliz! Eu era feliz em trabalhar naquele lugar ali. Porque eu gostava do serviço, né? Passei a gostar da empresa, dos proprietários que eram o Dr. Luiz e Sr. Alexandrino. Passei a gostar. E eu tinha uma amizade muito grande com eles. E aquilo, eu tinha uma satisfação muito grande em saber que eu era funcionário daquela empresa, tinha satisfação. Eu era feliz, certo? E a respeito de assinante, a empresa sempre valorizou o assinante. Agora, apesar que se encontra assinantes que são custosos, né? Difíceis. Mas eles sempre valorizaram. Sempre tinha na parede um quadrozinho assim: “Valoriza o assinante que é o maior patrimônio”. Sempre, isso aí na CTBC sempre teve. O Sr. Alexandrino e o Dr. Luiz sempre... E eles exigia que o pessoal respeitasse o assinante. E a gente respeitava. O assinante tinha o direito de falar o que ele quisesse e a pessoa não tinha o direito de falar nada para eles. Sempre foi assim.
P/1 – É, na verdade é uma pergunta um pouco subjetiva, mas o senhor quando estava ainda instalando as mesas aí o senhor deixava a cidade, olhava para trás e via aquele negócio novo funcionando. O que é que passava na cabeça do...
R – Ih, a gente chegava tudo feliz, tudo satisfeito: “Coisa boa. Agora está funcionando a central nova.” Ou quando não tinha, que a gente instalava, que botava a funcionar, aquele pessoal todo satisfeito, aquela... Era bom demais. Era muito bom. A gente ficava satisfeito de ver aquilo, né? Grande satisfação da gente trabalhar, fazer o serviço, e depois muitas pessoas se servirem daquilo e ficarem satisfeitas. Ficarem felizes, né?
P/1 – É. Está certo. E o senhor disse que continuou um pouco mais afastado, digamos, desse trabalho mais duro até se aposentar. Essa aposentadoria foi por tempo de serviço ou o senhor resolveu se aposentar? Como é que foi esse...
R – Foi por tempo de serviço. Aposentei, inclusive, só com trinta anos de serviço. Porque... Depois teve umas coisas que a gente, eu não gostaria nem de falar, que eu...
P/1 – Pode falar.
R - ... Não gostei da atitude de certas pessoas lá, né? Porque eu pensei assim: “Ora, mas eu trabalhei tantos anos, desde de bem dizer do início da CTBC.” A CTBC começou quando era a linha interurbana daqui para Itumbiara era uma linha só, o outro era terra, ligado na terra, para poder falar. Falava pessimamente, ruim demais. Os postes baixinhos. Você do chão achava, pegava na linha tanto que era desse jeito. Depois começou, começamos a trabalhar, melhorar, arrumar aquilo tudo direitinho, crescer direitinho. Depois vinham outras pessoas de fora, porque na época que a gente estava trabalhando desse tanto, trabalhando dessa maneira, tinha dia que trabalhar a noite inteirinha e a amanhecer o dia sem pregar o olho de noite. Dormir. Várias vezes aconteceu isso. Tinha que fazer aquele serviço e tinha que trabalhar. Trabalhava o dia, entrava na noite e amanhecia o dia trabalhando. Isso aconteceu várias vezes na CTBC. Eu comecei pensar: “Mas não é possível. Agora, eu trabalhando naquela época, trabalhando quase a morrer, dando a vida pela CTBC, depois vem um cara que estava dormindo, estudando, fazendo tranquilamente, chega, pisa na gente desse jeito”. E ele... Inclusive foi o Nelson Cascelli, esse rapaz que eu mais ajudei. Depois que ele passou a ser diretor ele começou a pisar. Ele queria... Um dia, eu fiquei mais triste por causa disso, porque desde o início nós tínhamos liberdade, eu e o Dr. Luiz sempre tivemos, de conversar. E deu uma vaga lá na central 234, surgiu uma vaga lá e eu queria arrumar para esse meu filho que ele já tinha trabalhado, tinha saído, mas estava querendo voltar, né? Aí eu falei com o Dr. Luiz, falei: “Dr. Luiz, tem uma vaga na central 234, que eu sei que tem, está precisando de uma pessoa e eu queria que o senhor arrumasse para o meu filho.” Ele pegou falou assim: “Tá, eu vou falar com o Nelson Cascelli.” Porque ele era, inclusive, era diretor, né? O que ele achou ruim foi isso, de eu passar por cima dele e ir falar direto com o Dr. Luiz. Eu fiz errado, foi errado na realidade, mas eu tinha esse costume de conversar com ele. Então, aí quando foi um dia ele me chamou lá no escritório. A secretária dele me telefonou, falou: “Ó, o Nelson está chamando aqui.” Aí eu fui. Cheguei lá, o homem estava bravo. Bravo demais mesmo. Ele xingou de muito: “Eu sou diretor...”, ele falou um palavrão lá que eu não posso falar, né? (risos) “...eu sou diretor disso aqui e você vai passar por cima de mim e vai falar com o Dr. Luiz”. E não arrumou o serviço para o meu filho. Não arrumou. E aquilo eu fui ficando triste, fui perdendo o entusiasmo, né? Perdendo aquele prazer que eu estava tendo. O Dr. Luiz, o Sr. Alexandrino já tinha afastado. O Dr. Luiz já estava, eu quase não via ele mais e o contato era sempre com eles. E aí aquilo foi me deixando eu, foi me deixando assim, muito sem mais prazer de trabalhar com aquilo. Aí eu peguei e saí. Peguei e fui, antes de vencer o tempo que eu podia ter trabalhado até os trinta e cinco, mas peguei e pedi aposentadoria.
P/1 – Foi na época do Sr. Mário Grossi na empresa?
R – Foi. Foi na época dele. Eu pouco vi esse homem. Pouco o conheci.
P/1 – O senhor se aposentou em 1991?
R – 1991.
P/1 – E aí, como é que...
R – Parece que em abril de 1991.
P/1 – Como foi para o senhor pessoalmente, sair de um lugar onde o senhor passou trinta anos da sua vida. Para fazer o quê?
R – Eu fiquei ocioso. Fiquei sem fazer nada. Muito ruim. E aquilo me dava tristeza. Me chegava, passava perto da CTBC tinha saudade, vontade de entrar, não podia. E assim, difícil.
P/1 – E o senhor arrumou alguma outra atividade? O senhor se dedicou a alguma outra...
R – Depois eu pus, eu mexi com oficina de conserto de telefone. Botei uma oficinazinha para mim, mas estava muito ruim, dando mais despesa do que lucro. Peguei e vendi. Parei. Aí tinha um rapaz aí, o Carlos, que também trabalhava na CTBC, tinha uma empresinha eu fui trabalhar com ele de consertar telefone. Passar o tempo, né?
P/1 – Hum, hum.
R – E passei o tempo.
P/1 – Ah. E o senhor hoje como é que é o seu cotidiano a partir da aposentadoria? O senhor, como é que é hoje a sua vida?
R – Ah, a minha vida é tranquila, quieta em casa. Sem fazer nada, bem dizer, né? Que é até uma coisa que eu não gosto. Gosto de trabalhar, sempre gostei. E a aposentadoria não é lá essas coisas. Que você sabe que aposentadoria hoje é... A gente vive aí. Dá pra viver, mas como disse, sempre apertado, né? Sempre apertado. Isso aí é sem dúvida.
P/1 – Mas o senhor conseguiu uma outra atividade? O senhor faz alguma coisa, ou tem alguma atividade...
R – Não, por enquanto, agora eu não estou fazendo nada. Agora eu estou em casa quieto.
P/1 – Sr. João, como é que é... Eu perguntei ao senhor como é que era sair de uma cidade e olhar pra trás e ver aquilo que o senhor deixou pronto. E como é que é hoje na posição que o senhor tem, com toda a história que o senhor tem, olhar essa empresa da forma como ela é, crescendo, grande? O que é que passa na cabeça do senhor?
R – Olha, eu fico feliz, né? De ver a empresa dessa maneira. Cresceu muito. Hoje não é uma empresa, é um grupo, né? (risos). Da CTBC, da Companhia Telefônica do Brasil Central, que começou pequenininha, hoje se tornou um grupo. E eu me sinto assim feliz de ter feito parte. Apesar que hoje não tenho nada. Eu não pude fazer nada. Não fiz nada, não é que eles não me ajudaram, é porque também eu fui bastante infeliz com problema de doença. Minha esposa adoeceu e foi obrigada a fazer cirurgia no seio, tirar um seio. E sempre doente, sempre problema. Acertei tempo de casa várias vezes porque eu precisava de dinheiro e eu falava com o Dr. Luiz: “Dr. Luiz eu estou com problema e eu queria mandar acertar tempo de casa.” Pegava aquela mixariazinha em dinheiro. Isso aí me atrapalhou minha vida todinha. Poderia hoje estar até bem. Estar melhor. A minha situação podia estar bem melhor hoje. Mas infelizmente não, por causa desse motivo... A minha esposa sempre foi... Depois de uns certos anos pra cá ela adoeceu e sempre anda doente. (risos). A Norma viu ela hoje. Ela ontem caiu um tombo quase morreu. (risos). Hoje eu quase não pude nem vim, porque ontem teve que ir na Medicina. Foi incrível uma coisa dessa. E a gente, eu outro dia dei uma entrevista aí, a moça, não sei... Depois voltei lá, trabalhei, não para a CTBC, mas de terceiro, né? Trabalhei um ano e seis meses na CTBC também, dando manutenção nas mesas também. Então a moça, na entrevista lá, eu falei que eu era feliz por causa disso tudo, mas que a empresa não era uma empresa, hoje era um grupo, né? E eu me sentia feliz por causa disso. Apesar que eu aproveitei, trabalhei bastante, muito. Mas por motivo de... Certamente de doença ou de... Eu não pude fazer muita coisa não. A maioria das pessoas que trabalhou lá hoje estão bem. Eu acho que eu sou o que estou mais... Lá embaixo sou eu. Mas não estou, não estou triste com isso não.
P/1 – O senhor tem algum sonho ainda que o senhor queira ver realizado?
R – Ah, rapaz. A gente já está velho, né? Agora acho que, acho que está difícil alguma coisa para se realizar assim. A época muito difícil. A gente na situação que está, acho que esse sonho a gente pode esquecer de sonhar. (risos). Acho que não vai ter muita coisa mais para a frente não. Agora também outra coisa que eu não falei. Depois que eu aposentei eu senti muita tristeza. Muita tristeza mesmo. Eu fui receber o pagamento na primeira aposentadoria quase chorei. Nossa, mas que pagamento, que eu falei: “Mas não é possível. Não dá para viver desse jeito.” Aí um dia eu peguei, telefonei lá: “Noêmia ...” A secretária do Dr. Luiz, muito amiga da gente, muito legal. Falei: “Noêmia, fala com o Dr. Luiz que precisa, marca com o Dr. Luiz , que eu preciso falar com ele.” “Ah, Sr. João, pois não. Ele está viajando, mas na hora que chegar, assim que chegar eu vou marcar para o senhor.” Aí quando ele chegou, ela marcou o dia e me chamou: “Olha, tal dia o senhor pode vir, tal hora.” Eu fui lá. Eu falei com o Dr. Luiz: “Dr. Luiz, eu aposentei, minha aposentadoria é muito ruim. Muito pouco que eu ganho. E eu queria que o senhor me desse uma chance de trabalhar mais pelo menos uns dois anos, que eu ainda estou forte, ainda posso trabalhar. A empresa tem lugar para trabalhar...” Tinha a central 234 funcionando, a central 235, que não era das central mais nova, sofisticada, digital. Ele falou: “Tá, eu vou falar com o Nelson Cascelli.” Ele era o dono da CTBC, ele era o... trabalhou comigo tantos anos, sabia. O que é que tinha que falar com o Nelson Cascelli. Tinha que falar: “Não, vamos...”, né? “Vou falar com o Nelson Cascelli, e te dou resposta.” Até hoje não deu resposta para mim, até hoje. (risos). Estou aguardando a resposta dele até hoje. E outros que aposentaram muito depois de mim estão trabalhando até hoje na empresa. Tem vários trabalhando. Continuam trabalhando. Eu não sei. Essa razão aí eu não sei agora por que.
P/1 – Tá bom Sr. João. Olha, a gente está satisfeito com a história que o senhor contou para nós. Eu queria saber do senhor se alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e a gente não estimulou o senhor a dizer. Alguma coisa que o senhor gostaria de falar e a gente não perguntou?
R – Eu acho que eu falei quase tudo, né? Porque a respeito de serviço, se eu for falar o lugar que eu fui, o lugar que eu fiz, eu acho que não tem nem jeito. Porque a CTBC tem hoje muita cidade aqui no Estado de Minas e no Estado de São Paulo e quase todas eu passei por elas, fazendo, trabalhando e a maioria das coisas eu já falei. Também acho que não tem mais.
P/1 – E como é que o senhor vê o futuro dessa empresa, o senhor tendo essa história anterior toda. Como é que o senhor vê?
R – Olha, eu tenho, eu vejo o futuro deles cada dia melhor, né? Cada dia mais, porque eles estão cada dia mais crescendo, progredindo, sofisticando cada vez mais as centrais, e os escritórios deles, são escritórios que são muito bem arrumados. Então a coisa, eu acho que o futuro deles é cada vez melhor. Cada vez mais...
P/1 – Está certo.
P/2 – E o que é que o senhor achou de ter vindo aqui contar a sua história?
R – Eu achei bom. Achei bom. Porque muitas coisas às vezes a gente tem vontade de falar e não fala, né? (risos). E hoje eu falei, acho que falei coisa até demais.
P/1 – Não. Falou o que devia ter sido dito.
R – Mas é assim. É desse jeito. As pessoas, como eu te falei, modéstia a parte, eu ajudei bastante a empresa a estar no ponto que está hoje. Dei uma mãozinha boa. Fico feliz por isso.
P/1 – Isso com certeza. Muito obrigado então.
R – De nada.
P/1 – Muito obrigado. Ô Sr. João, foi uma ótima história que o senhor contou para nós o senhor devia ter dito tudo isso que o senhor disse mesmo. É pra isso que nós estamos aqui.
R – Pois é, e...
P/1 – A gente tem que saber com vocês a visão que as pessoas têm e a gente respeita muito o que as pessoas têm a dizer. Nós não estamos aqui para...
R – É, a gente... mas realmente eu trabalhei nessa empresa, mas eu…
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