Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Intuito Museu da Pessoa
Entrevista de: José Farina Filho
Entrevistado por: Claudia Leonor
Local: Foz do Iguaçu
Data: 28 de agosto 2002
Código: ITA_CB022
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Bom, pedir de novo para o senhor falar o seu n...Continuar leitura
Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Intuito Museu da Pessoa
Entrevista de: José Farina Filho
Entrevistado por: Claudia Leonor
Local: Foz do Iguaçu
Data: 28 de agosto 2002
Código: ITA_CB022
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Bom, pedir de novo para o senhor falar o seu nome completo.
R – José Farina Filho.
P1 – E que dia que o senhor nasceu?
R – 18 de junho de 1950.
P1 – Em que cidade?
R – Foz do Iguaçu.
P1 – Seus pais já moravam em Foz do Iguaçu?
R – Sim, minha mãe é natural de Foz do Iguaçu, morava e me criei aqui em Foz do Iguaçu.
P1 – Como era Foz quando o senhor era pequeno?
R – Não tinha quase nada, habitantes era pequeno tinha uma avenida só na cidade, outra pras Cataratas, General Limeira, era as vias mais movimentadas, depois era só lavoura que tinha.
P1 – Lavoura do que?
R – Tinha mais milho, era coisa só pro uso, tinha gado também o mais forte daqui mesmo era a compra das três fronteiras, quando tava bom pra um lado o pessoal comprava pra lá e eles faziam pra outro, passava pra lá.
P1 – Quando foi a primeira vez que o senhor ouviu falar da construção da Usina?
R – Eu posso lhe contar que eu fui um alicerce na Usina também, que na época quando vieram discutir a Usina em Itaipú eu já era cozinheiro chefe então os engenheiros que vinham fazer o consórcio foi aberto lá também então eu tratei esse pessoal, acompanhei já em 70, 71, 72 do hotel.
P1 – Aonde o senhor trabalhava?
R – Hotel San Martin, das Cataratas. E fazia esse movimento também pelo iate no barco Alvorada de turismo, nós saiamos de Porto Limeira, subia de barco pela ponte da Amizade e trazia eles aqui na Usina isso aí nós fazíamos a cada 15 dias uma volta dessa aí, porque daí eles iam por terra deixavam desembarcar por água e seguiam por terra.
P1 – E quando as pessoas começaram a falar da Usina o que o senhor lembra?
R – Eu não tinha noção, só depois que eu vi o projeto que passavam eu não imaginava que ainda vinha trabalhar nela e vê que é essa gigantesca aqui.
P1 – E quando o senhor veio trabalhar nela, o que aconteceu?
R – Porque quando eles fizeram a Vila B, eles tiveram o clube Ipê e fui convidado pra fazer um reveillon, uma festa de fim de ano foi feita a comida que eu preparei aí vim servir aí no Ipê aí eu comecei a conhecer o pessoal de Itaipú, eu fui convidado pra vir trabalhar na Usina.
P1 – Mas aí pra trabalhar no...
R – Refeitório, aí me deram espaço “Não, você vai ficar no Ipê”, aí eu fiquei como chefe na cozinha do Ipê fiquei quase 2 anos ali, aí os médicos me convidaram pra eu ir pro hospital trabalhar, isso em 79 eu fiquei no Madeirinha ali.
P1 – O que mudou do restaurante pro hospital?
R – Ele mudou um pouco por cauda das dietas, era mais difícil comida com pouco sal, o preparo era outro, mudou pouca coisa, mas a geral continuou o mesmo que era para os médicos, os acompanhantes, funcionários.
P1 – E o senhor mesmo assim continuou fazendo os jantares lá do Ipê?
R – Sim, mesmo depois que eu estava no hospital aparecia evento eu continuava.
P1 – E que eventos eram esses?
R – Isso mais quando as empresas, a Unicon na época ainda batia recorde de concreto aí eles faziam churrascada e a gente tinha que tá lá trabalhando, era muito gostoso na época.
P1 – Quem que circulava, o senhor lembra assim de algumas pessoas que o senhor conheceu, que estavam sempre ali no clube.
R – Bom, o clube ali hoje a gente lembra de poucos nomes deles porque já se passaram, mas tem ali na época o Doutor Pantoja, o Doutor José Antônio, depois tinham os engenheiros Aluizio, Monteiro então tinha um pessoal que a gente se ligava muito com eles.
P1 – E tinha algum tipo de comida que fazia mais sucesso, que o senhor gostava de fazer?
R – O que eu gostava mais é quando me mandavam preparar as paejas, comidas espanholas essas eu gostava de fazer, gostava de trabalhar e a feijoada nossa era bem completa, o prato era bom.
P1 – E esses reveillon o senho enfeitava também, tem umas fotos que o senhor enfeitava, fazia os enfeites, a decoração, tudo?
R – É a decoração tudo a gente preparava, fazia os arranjos ali, fazia as cascatas de frutas, isso no fim de ano. Depois outras que a gente fazia era em São João fazia fogueira, pipoca, fazia doce nas festas.
P1 – O senhor preparava também a ceia dos funcionários que estavam de plantão no dia 24 de dezembro essas coisas?
R – Preparava, no hospital a gente fazia também essas ceias que era plantão também tinha que preparar essas ceias pra passar a meia noite.
P1 – E o senhor trabalhava também?
R – Trabalhava também.
P1 – Me fala uma coisa qual o momento mais marcante que o senhor viu em Itaipú, da construção o que o senhor viveu?
R – Como eu posso dizer aqui dentro da Usina eu pouco freqüentava, mas o que marcou na época foi quando eu passei antes do Ipê pra passar pro hospital eu fiquei 15 dias num corredor porque eu não sabia se me traziam pra Usina ou mandava pro hospital, quando eu cheguei no refeitório eram 30 mil funcionários pra preparar, aí quando eu cheguei na cozinha os caras falou; “E esse ajudante aí”, aí o outro cara falou: “Você não fala isso dele porque esse aí é o chefe, pode mandar você embora”, porque eu manejava bem a faca, trabalhava rápido e o cara me trouxe mais ou menos uns 10 quilos de tempero verde pra eu cortar “Não, pode deixar que eu vou cortar” e o cara viu que eu preparei aquela quantia porque na época eles desmanchavam uns 10, 15 sacos de batatas pra fazer batata sotê, batata frita, esses negócios...
P1- Por dia?
R – Por refeição, então quando ele me viu mexendo naquele montão de tempero, ele disse: “O cara é muito bom”, aí que ele foi saber que nós só éramos três cozinheiros chefes, era eu e mais dois na época era o Zico e o Seu Nestor, então o que me marcou mais foi quando eu cheguei aqui com o pessoal.
P1 – E o Zico e o Nestor, eles que tomavam conta do refeitório e aí você acabou não ficando?
R – Eu fiquei só uns 10 dias aqui, depois passei pro hospital porque os médicos “Não, queremos o Farina aqui”, aí eu fiquei pra lá, fiquei 13anos no hospital.
P1 – Até aposentar?
R – Não, porque aí o hospital passou a ser utilizado pra Fundação e aí me trouxeram pro quadro do transporte, aí eu fiquei como coordenador até aposentar agora o ano passado.
P1 –Aí mudou completamente.
R – Mudou “O que o Farina tá fazendo transporte, isso não é a função dele” e aí sempre tinha os meus afazeres, saía dali pegava um jantar, fazia a minhas trocas de turno com os outros “eu tenho que fazer o meu jantar”, eu queimava até um pouco os outros “Pô, o Farina tem que sair pra fazer o jantar”, quando Deus preparar e eu ter que deixar isso, então até que eu consegui.
P1 –Eu tenho uma curiosidade, como você aprendeu a cozinhar?
R – Foi um convite de um colega meu chefe de cozinha, me disse: “Farina, nós precisamos de um ajudante, um lavador de prato”, “Eu vou pegar”, como era perto de casa o Carimã, o primeiro hotel foi o Hotel Carimã, aí eu fiquei com 6 meses o cara falou: “Você é um ajudante de cozinha, na carteira ajudante de cozinha”, aí passei a ser chefe de cozinha aí eu saí dali fui pro Hotel San Martin, na época fiquei no exército também na cozinha dos oficiais, aí sai dali casei e continuei na cozinha, criei meus filhos.
P1 – E não parou até hoje.
R – Não parei.
P1 – Tem o trailer de lanche?
R – Tenho o trailer de lanche.
P1 – Tem um bom movimento?
R – To conseguindo conquistar os velhos amigos lá.
P1 – Farina, vou te fazer a ultima pergunta, o que você achou de ter vindo pra cá dado essa entrevista falando assim um pouquinho da sua vida e do trabalho que você fez aqui em Itaipú que vai tá lá no Memorial do Trabalhador?
R – Achei bacana, porque as vezes eu pegava um jornal daqui da empresa, ei trabalhei tanto em Itaipú, trabalhei na Unicon, em Itaipú como diz eu trabalhei na classe da alta e nunca saiu assim uma foto minha em papel, ai eu falei: “Um dia vai acontecer” e eu fiquei muito contente por ser convidado por essa junta aí, achei importante “Não, vou fazer isso”, agradeço porque gostei mesmo.
P1 – Faltou alguma coisa pra falar?
R – Não, tá bom.
P1 – Então tá bom, obrigada pela entrevista.
R – Obrigada vocês.Recolher