A história que vou lhes contar começa em Weelburg, um vilarejo considerado perigoso aos olhos dos que temem uma aventura. Já lhes aviso que para ler esta história, precisará de olhos infantis e mente de um adulto, pois, aqui a criatura menos estranha será um elfo rabugento que mora ao lado de ...Continuar leitura
A história que vou lhes contar começa em Weelburg, um vilarejo considerado perigoso aos olhos dos que temem uma aventura. Já lhes aviso que para ler esta história, precisará de olhos infantis e mente de um adulto, pois, aqui a criatura menos estranha será um elfo rabugento que mora ao lado de Lisa. Que é uma menina demasiado corajosa, e protagonista de nossa história. Cabelos ruivos, sardas no rosto e boca rosada são suas características mais marcantes. Lisa mora com seu pai, um ferreiro da cidade, faz varinhas para os feiticeiros, espadas para os guerreiros, gaiolas para as Fênix e casas para os elfos.
Lisa é caçadora , e para manter sua família, precisa caçar animais na floresta com seu arco senil e enferrujado feito por seu pai, e vender na feira da cidade. Ao fim das tardes ela sobe ao topo da montanha onde ao pé se encontra Weelburg e vê o sol se pôr em seus tons laranja-rosados. Onde coincidentemente, se encontra neste momento.
“Li-isa! S-sabia que a encontraria aqui sss...” – diz PJ, a cobra grande amigo de Lisa.
“Não me cansarei desta vista jamais...”
“ Sei que não Li-isa!” – PJ ajeita-se ao lado dela.
“ Você não pensa em fugir do reino?...viver na floreta, sem ter que se preocupar se amanhã estará vivo ou não.”
O reino que Lisa vivia, não era nada bondoso. Merlin o feiticeiro mais poderoso era o rei das terras, e ao contrário das histórias populares, não era nada bondoso. Frequentemente levava pessoas ao calabouço do castelo por simplesmente olharem diferente, ou não pagarem os impostos devidos.
- S-sabe que não s-sobreviveríamos um dia com aquelas criaturas! – Disse PJ, olhando fixamente para o céu que se punha atrás da linda paisagem.
Quando menos esperaram, as estrelas se juntaram ao céu imenso, e desceram de volta a cidade. No caminho, andavam rindo e conversando lembrando-se de histórias antigas como quando o gnomo Teodor, baixinho e rabugento prendeu a cabeça em um tronco de árvore e foram gastos 4 potes de gosma de lesma para tirá-lo de lá. Lisa ria incondicionalmente, mas algo que avistou desviou sua atenção para a vila.
“PJ! O que está havendo?” – Disse ela olhando fixo para a agitação da cidade.
Foi quando avistou a loja de seu pai, e em volta, vários cavalos e guardas, que eram os soldados do rei, com formato de peças de xadrez, nada amistosos.
Lisa correu o mais rápido que conseguiu, agora com o coração acelerado, com medo do que pudesse acontecer. Mas não conseguiu chegar muito perto, pois a multidão envolta cobria o que ocorria dentro da roda feita pelos cavalos.
- Eu sinto muito Elisabeth!...
- Pobre garotinha...
Diziam as pessoas em sua volta. Porém sem entender o que diziam, ela passa por baixo a multidão e ali, avista...
Seu pai estava no chão, os guardas o chicoteando forte nas costas que sangrava vermelho vivo, e gritava com a dor do couro rasgando sua pele.
- NÃO!! – disse Lisa em lagrimas passando pelos cavalos e tirando seu pai do chão.
Foi quando um soldado lhe acertou um murro no rosto, que a fez cair no chão, e conseguir avistar somente seu pai sendo levado pelos Exercito Xadrez.
*
Já era dia quando a pobre garota acordou jogada ao chão com um grande roxo nos olhos, levantou-se do piso de terra e pressionou o vermelhão de sua cabeça. PJ estava ao seu lado, passara a noite tentado acordá-la em vão.
‘’PJ!...PJ!!!’’ – Disse ela empurrando-lhe para o lado e jogando água para acordá-lo.
‘’Lisa!!’’ – exclamou a cobra espreguiçando-se.
‘’O que houve?...Meu pai, para onde o levaram?’’
PJ não respondeu. E nem precisou. O rei, Merlin, era conhecido por levar pessoas inocentes às masmorras para amedrontar àqueles que pensassem em se revoltar. PJ leu em seus olhos o que pretendia.
‘’ É perigoso demais-s! Você s-sabe que não consegue!” – PJ disse antes que Lisa pudesse dizer algo.
‘’É meu pai, eu vou atrás dele, e entenderei se não quiser...’
‘’Nunca a deixaria só!’’-
Então os dois seguiram em direção à floresta perigosa e abraçaram a aventura que se seguiria.
*
Após muito andarem, já estavam cansados e famintos estavam cegos pelo sol que rachava suas costas e de tanto chorar Lisa sentia-se a ponto de cair ali mesmo. Porém quando já haviam quase perdido as esperanças, logo ali, um rio demasiado brilhante e cheio d’ água potável. Correram cegamente para pular no mesmo e se afogar de tanto beber aquelas águas. Porém poucos metros antes, surgiu ali mesmo a sua frente, uma enorme criatura encapuzada e flutuante, cujo sua presença era horrível e gélida, suas roupas eram pretas e rasgadas, e em suas mão uma enorme foice. Era a morte.
O medo percorreu o corpo de Lisa que não acreditava sobreviver àquilo, como poderia?
‘’ Vejamos o que temos aqui...’’- Disse a morte em uma voz áspera e ranhosa.
Lisa e PJ estavam tão assustados que não conseguiram emitir um som sequer.
‘’Há tempos não tenho visitas tão... Apetitosas’’ – exclamou a morte abrindo um enorme sorriso.
‘’Deixe-nos passar, eu lhe imploro! Procuro por meu pai, levado pelo rei Merlin’’ – Lisa disse em um tom choroso.
A Morte abriu uma grotesca gargalhada e disse:
“Seu pai? Em breve o abraçarei gentilmente levando-o deste mundo...”
O desespero tomou conta do corpo da garota que tentou correr, porém a Morte agarrou sua perna para sugar sua alma aventureira. A criatura abriu sua boca para alimentar-se da garota, porém segundos depois, surge de trás das árvores, um homem arqueiro que em um piscar de olhos sacou uma fecha não comum, uma flecha diferente e acertou em cheio no peito da Morte que soltou um grito ardente e desapareceu.
Lisa ainda ofegante, tentando entender o que aconteceu, agradeceu o arqueiro que decidiu seguir viajem após
saber de sua história.
‘’A propósito, meu nome é Ben.’’ – disse o arqueiro com um sorriso suave.
‘’Elisabeth... Lisa.’’- Disse a garota rosando. – “e esse é PJ!”
PJ assentiu com a cabeça.
Os jovens seguiram viajem andando por quilômetros e quilômetros, quase perdendo as esperanças novamente. Foi quando chegaram a uma parte estranha da floresta, havia milhares de pássaros
mas não eram comuns, eram dobraduras japonesas, que sobrevoavam suas cabeças, logo a frente uma enorme porta de aço.
‘’Está trancada’’ disse Ben forçando a maçaneta.
‘’Lá em c-cima!’’- Disse PJ apontando para um dos milhões de pássaros que segurava uma chave.
Ben sacou uma flecha e derrubou o pássaro que a segurava.
‘’Fácil demais, não acha?’’ – exclamou Lisa um tanto desconfiada.
‘’Vamos-s logo!” disse PJ destrancando a enorme porta.
Mas Lisa tinha razão, ao abrirem a porta os pássaros começaram a voar com movimentos rasantes e jogar uma espécie de gosma em cima dos três. Ben empurrou Lisa, que tentou puxar Pj, para o outro lado da porta, mas, foi em vão. Ben atravessou segundos depois que Lisa, e então... a porta se fechou. PJ Havia ficado para trás.
“ Não!!!!!!!!!!!!” – Lisa gritava até suas cordas estourarem e batia na porta, mas nada adiantou, PJ estava morto, e nada poderia ser feito.
‘’Eu sinto muito Lisa’’- exclamou Ben abraçando a garota que estava jogada no chão agoniando.
E ali se observaram por um longo tempo...sem palavras, pois o medo era maior. Ela se pegou desejando nunca tê-lo buscado. Pois, a busca tem um preço. E lá estava ela, pagando por ele. Por um momento, decidiu correr. Correr e não olhar para trás, desistir de tudo que havia feito, mas sabia o quanto era forte, e sabia o quanto podia aguentar. Lembranças ocorreram, um passado obscuro onde jazia um presente lindo, mas agora nada mais importa. Olhou em seus olhos,
sem dizer uma palavra. Eles tinham de seguir viajem.
*
Dias se passaram, Lisa ainda chorava por sua perda, mas a esperança não a deixava desistir. Foi nesta hora, bem no horizonte que avistaram o castelo. Finalmente chegaram ao reino. Uma mistura de emoções percorreu o corpo dos dois, medo, alegria, tristeza, desespero...
“Obrigada por tudo Ben, mas você deve ir, esta luta é minha” – Lisa exclamou olhando em seus olhos.
‘’Não vou deixá-la aqui, você sabe que não”
‘’Foi o que PJ me disse antes de partirmos, e agora...” – A garota derrama uma lágrima.- ‘’não posso perdê-lo também.”
“ E não vai.” – Ben abre um sorriso. Os dois se abraçam e seguem em direção ao castelo.
*
Ao chegarem a grande porta os dois passam por entre as grades do enorme portão, e tomam cuidado para não serem vistos pelos elfos rabugentos servos do rei.
Ao entrarem no castelo entram em um armário minúsculo, onde vestiram-se como os empregados e foram até os aposentos reais, procurar pelas chaves do calabouço. E de costas, lá estava. Rei Merlin rodeado por elfos, gnomos e feiticeiros que usava como escravos.
A vontade de Lisa era atacar a garganta do rei e drenar cada gota de seu sangue. Mas sentiu os braços de Ben segurando-a.
E lá estava. A chave, pendurada em seu pescoço. Como pegá-la?
Eis a questão.
“ Vá atrás de seu pai, eu pego a chave’’ – Exclamou Ben empurrando-a.
Lisa correu pelos corredores até chegar a parte mais baixa do castelo, onde havia uma portinha, que estava destrancada, e desceu nos corredores onde haviam várias celas e dentro pessoas inocentes aprisionadas, sujas, magras, e desejando a morte, pois até isso era melhor do que aquele lugar.
Lisa andou por minutos até entrar em um corredor, e lá no fundo, deitado em lágrimas de dor, estava seu pai.
Ela correu e caiu a seus pés, debruçando-se na cela.
“ PAI!!! Oh, meu deus! Vou tira-lo daqui, não se preocupe” – Lisa disse com lágrimas no rosto.
Mas ele não respondeu, estendeu as mão e entregou-a um pequeno papel amassado e sujo.
‘’ Alguém talvez um dia
Nos permita entender
Por que amamos,
Por que viemos,
Por que Partimos.
Talvez um dia
Possamos compreender
Por que fomos,
Quem somos,
Onde estamos.
Por que nossos primeiros e nossos últimos passos
São tão iguais
Em direção ao abismo do desconhecido.
Por que rimos,
Por que choramos,
Por que sentimos,
E vemos sentido
No vento, na flor
No amor, no ar.
Por que quando estamos tão próximos
nos desesperamos com medo da distância.
E por que a saudade nos queima,
Nos mata,
E nos alenta
Talvez, um dia possamos ver
Aquilo que deixamos passar e por que o deixamos
Todos os encontros que por acaso, ou não, aconteceram.
Talvez um dia
Possamos compreender
O acaso
Será?
E por que será?
E como será?
O amor, e sua luz
E simplesmente isso
E por que tudo é isso?
Talvez um dia possamos entender
A luz das tardes,
Dos corações
e das mais lindas lembranças.
E talvez aí entendamos
Que talvez viver sabendo de nada valha,
O que importa
Talvez seja simplesmente
Viver.”
F.S.
*
Quem é Elizabeth? Pergunto-lhes. Liza é como eu, como você como todos nós. Talvez ela não viva em um reino, mas para ela a realidade não passa de um mundo inventado pelos não loucos.
Lisa é autista, sua realidade é sua mente, as poesias são seus esconderijos, e seu pai talvez não tenha sido raptado por um rei malvado, essa é apenas a maneira que encontra para entender porque ele é tão distante dela. Seu melhor amigo, entrou em coma um ano atrás, preso em sua mente fechada por uma enorme porta, porque seu sonho era sonhar para sempre. Outro autista.
Ben? Ben é apenas sua consciência, que a salva de não ter o mesmo fim que seu melhor amigo. Ele a deixa a parte de que ainda há realidade no mundo que vive e no que sonha. A faz entender ou ter
esperança de que um dia entenda “Por que amamos, Por que viemos,
Por que Partimos.”
Espero que não se chateie por não saber o fim de nossa história, mas como eu disse desde o começo que pra ler essa história ‘’ precisará de olhos infantis e mente de um adulto’’, esta foi a forma que encontrei para lhe contar como é o mundo real de Lisa. Torçamos para que um dia ela possa encontrar seu lugar no mundo.Recolher