CONTO DE CARNAVAL
“O dia que meu pai pegou minha mãe com outro homem...”
Foi na noite de um sábado de carnaval. Já tinha apitado as dez horas. Minha mãe queria entrar, mas estava fazendo muito calor e eu estava por ali, me divertindo com outras crianças, brincando de pega-pega. De vez em quando passava um mascarado e nós corríamos atrás gritando “Mascarado...Mascarado...Mascarado!”. Se era uma fantasia de morcego, o sujeito parava, virava para nós e abria as asas pretas com listas brancas e nós saíamos correndo e gritando. Ali na esquina das ruas Tarcísio e Albertina Nascimento era passagem obrigatória de quem ia para o centro de Votorantim, era o caminho para ir ao clube, a igreja ou ao cinema, e ainda dos operários da Fábrica de tecidos. No carnaval era aquele desfile de fantasias: passavam morcegos, Dominós, Marinheiros, Odaliscas, Bruxas, Ciganos, e até diabos. De vez em quando, um desses mascarados espirrava lança perfume em nós, que tentávamos adivinhar quem era...na certa algum conhecido.
A brincadeira estava boa, mas quando vi meu pai chegando na ponte, corri e fiquei perto da minha mãe, sentado na calçada, onde ela conversava com um homem magro, de bigodinho e chapéu, que eu não conhecia. Meu pai foi chegando, dando boa noite e já mandou minha mãe entrar comigo, demonstrando estar bravo, por ela estar ali, sentada na calçada ao lado de um estranho. Quando minha mãe percebeu que ele estava bravo, achou melhor não o contrariar, mas abriu a porta da rua e chamou alguém...Era o homem magricelo, de bigodinho, e de óculos. Meu pai veio da cozinha pronto para xingar, quando o homem falou “Calma Sêo Justino, sou eu!”. Era nossa vizinha, a saudosa Dona Natividade Berbem, ou Dona Nena, como a chamávamos, esposa do Demétrio, mãe do Álvaro, do Dore e da Alice. Tirou o chapéu, arrancou o bigodinho postiço e daí foi só risada.
___Ué Dona Nena! Virou home agora, é? --- perguntou meu pai.
Nunca vi minha mãe rir...
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CONTO DE CARNAVAL
“O dia que meu pai pegou minha mãe com outro homem...”
Foi na noite de um sábado de carnaval. Já tinha apitado as dez horas. Minha mãe queria entrar, mas estava fazendo muito calor e eu estava por ali, me divertindo com outras crianças, brincando de pega-pega. De vez em quando passava um mascarado e nós corríamos atrás gritando “Mascarado...Mascarado...Mascarado!”. Se era uma fantasia de morcego, o sujeito parava, virava para nós e abria as asas pretas com listas brancas e nós saíamos correndo e gritando. Ali na esquina das ruas Tarcísio e Albertina Nascimento era passagem obrigatória de quem ia para o centro de Votorantim, era o caminho para ir ao clube, a igreja ou ao cinema, e ainda dos operários da Fábrica de tecidos. No carnaval era aquele desfile de fantasias: passavam morcegos, Dominós, Marinheiros, Odaliscas, Bruxas, Ciganos, e até diabos. De vez em quando, um desses mascarados espirrava lança perfume em nós, que tentávamos adivinhar quem era...na certa algum conhecido.
A brincadeira estava boa, mas quando vi meu pai chegando na ponte, corri e fiquei perto da minha mãe, sentado na calçada, onde ela conversava com um homem magro, de bigodinho e chapéu, que eu não conhecia. Meu pai foi chegando, dando boa noite e já mandou minha mãe entrar comigo, demonstrando estar bravo, por ela estar ali, sentada na calçada ao lado de um estranho. Quando minha mãe percebeu que ele estava bravo, achou melhor não o contrariar, mas abriu a porta da rua e chamou alguém...Era o homem magricelo, de bigodinho, e de óculos. Meu pai veio da cozinha pronto para xingar, quando o homem falou “Calma Sêo Justino, sou eu!”. Era nossa vizinha, a saudosa Dona Natividade Berbem, ou Dona Nena, como a chamávamos, esposa do Demétrio, mãe do Álvaro, do Dore e da Alice. Tirou o chapéu, arrancou o bigodinho postiço e daí foi só risada.
___Ué Dona Nena! Virou home agora, é? --- perguntou meu pai.
Nunca vi minha mãe rir tanto. Meu pai entendeu a brincadeira, mas não achou muita graça, pois achava pecado mulher vestir roupas de homem. Mas soube se controlar e até ele sentou-se na calçada para tomar a fresca da noite, com a Dona Nena e minha mãe. Logo o Senhor Demétrio chegou, de bicicleta e ao nos ver ali, sentados, olhou bem para a Dona Nena vestida de homem, ela havia recolocado o bigodinho, e então falou para o meu pai:
___Sêo Justino, quem é esse bacalhau seco, que eu não conheço? É seu parente?
Não deu tempo do meu pai responder, pois Dona Nena, muito irritada, levantou-se e foi entrando na sua casa, mas lá da porta gritou para ele:
___Bacalhau seco é a sua mãe!
E assim, estava aqui hoje, neste sábado de carnaval, recordando desse fato, que me dá dor de barriga de tanto dar risada, mas não falta também, um pouquinho de saudades...{Diácono José da Cruz - jotacruz3051@gmail.com}
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