P/1 – Oi, Sr. Antônio, o senhor pode começar falando seu nome, local e data de nascimento? R – Meu nome é Antônio Ferri Neto. Eu sou morador do Cambuci. Nasci no Cambuci. Moro na Rua Cesário Ramalho. P/1 – É, que ano? Qual que é a data de nascimento? R – 19 de maio de 1948. P/1 – Seus pais são de São Paulo? R – São de São Paulo. P/1 – E seus avós? R – Meus avós... P/1 – Maternos? R – Paternos são italianos e da parte da minha mãe são espanhóis. P/1 – E você sabe por que eles vieram para o Brasil? R – Foi na época da guerra, né? Na época da guerra eles vieram embora. Vieram... Meus avós paternos tinham mais ou menos quinze anos quando vieram pra cá. P/1 – E você sabe o que faziam os seus avós, tanto de pai, quanto de mãe? R – Então, eles moravam lá. Moravam com os pais, né, e vieram embora pra cá. Mas no que eles trabalhavam... P/1 – Mas qual que era a atividade deles? R –No que eles trabalhavam lá eu não sei. P/1 – Aqui. R – Aqui? Meu avô por parte de mãe eu não conheci. E minha avó ela já... eu lembro dela assim com mais idade. E ela não trabalhava, ficava em casa. E minha avó também por parte do meu pai ela fazia as coisas dentro de casa, ela fazia assim, trabalhava assim pra fazer comida, ou às vezes pra fazer alguma coisa assim. Chamavam ela, por exemplo, o Sudan chamava ela, levava ela pro sítio pra ela... (Pausa) P/1 – Desculpa. R – Então, minha avó... O Sudan, dos cigarros Sudan, né, que era lá no Cambuci, eles pegavam ela no fim de semana, levavam lá pro sítio, matavam porco pra ela fazer um sanguinaccio, aquelas coisas italianas... P/1 – Ah, você vai contar. Isso é muito interessante. R – Ela fazia muito isso. P/1 – Sanguinaccio. R – Isso. P/1 – É uma comida? R – É, é feito com o sangue do porco, punha castanha, nozes, essas...
Continuar leituraP/1 – Oi, Sr. Antônio, o senhor pode começar falando seu nome, local e data de nascimento? R – Meu nome é Antônio Ferri Neto. Eu sou morador do Cambuci. Nasci no Cambuci. Moro na Rua Cesário Ramalho. P/1 – É, que ano? Qual que é a data de nascimento? R – 19 de maio de 1948. P/1 – Seus pais são de São Paulo? R – São de São Paulo. P/1 – E seus avós? R – Meus avós... P/1 – Maternos? R – Paternos são italianos e da parte da minha mãe são espanhóis. P/1 – E você sabe por que eles vieram para o Brasil? R – Foi na época da guerra, né? Na época da guerra eles vieram embora. Vieram... Meus avós paternos tinham mais ou menos quinze anos quando vieram pra cá. P/1 – E você sabe o que faziam os seus avós, tanto de pai, quanto de mãe? R – Então, eles moravam lá. Moravam com os pais, né, e vieram embora pra cá. Mas no que eles trabalhavam... P/1 – Mas qual que era a atividade deles? R –No que eles trabalhavam lá eu não sei. P/1 – Aqui. R – Aqui? Meu avô por parte de mãe eu não conheci. E minha avó ela já... eu lembro dela assim com mais idade. E ela não trabalhava, ficava em casa. E minha avó também por parte do meu pai ela fazia as coisas dentro de casa, ela fazia assim, trabalhava assim pra fazer comida, ou às vezes pra fazer alguma coisa assim. Chamavam ela, por exemplo, o Sudan chamava ela, levava ela pro sítio pra ela... (Pausa) P/1 – Desculpa. R – Então, minha avó... O Sudan, dos cigarros Sudan, né, que era lá no Cambuci, eles pegavam ela no fim de semana, levavam lá pro sítio, matavam porco pra ela fazer um sanguinaccio, aquelas coisas italianas... P/1 – Ah, você vai contar. Isso é muito interessante. R – Ela fazia muito isso. P/1 – Sanguinaccio. R – Isso. P/1 – É uma comida? R – É, é feito com o sangue do porco, punha castanha, nozes, essas coisas. P/1 – Nossa, que gostoso. R – É, essas coisas que os italianos faziam muito. Ela fazia muito essas coisas, muita comida italiana. P/1 – E morava todo mundo no Cambuci? Seus avós moravam no Cambuci? R – Moravam. P/1 – De pai ou de mãe? R – Só de pai. Da minha mãe moravam em Santo André. Ela morava com uma tia, uma tia minha. Eu tive mais convivência com... P/1 – A família do seu pai? R – É. A família do meu pai. (Pausa) P/1 – Aí você estava falando que sua avó fazia... R –A minha avó ela fazia o serviço de casa, né, e no fim de semana tinha o Sudan, que era lá perto, ali na Glicério. P/1 – Sudan o quê que é? R – Cigarro, né? Fábrica de cigarro. Não sei se era Súdan ou Sudan que falavam, mas ele, o dono, ele vinha lá, pegava ela, levava pro sítio dele pra matar o porco e lá ela fazia todas as comidas, fazia linguiça, fazia os doces, né, que era o sanguinaccio, que era feito com o sangue do porco, e tudo que ela aproveitava do porco ela fazia, fazia doces, doces e linguiça, e tudo. P/1 – E ela cozinhava bem? R – Cozinhava muito bem. P/1 – E seu avô? R –Meu avô trabalhava na Bayton, ali na Avenida do Estado, que hoje me parece que é a Continental, né? Ele trabalhava lá, trabalhava como guarda noturno. P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram? R – É, eles... Agora de lembrança, assim, não lembro... Eu sei, mas não estou lembrado direito como é que foi que eles se conheceram. Mas meu pai ele sempre foi comerciante, né? De um jeito ou de outro, sempre fazendo alguma coisa. E eles abriram um comércio ali na Luís Gama, que era o Bazar Joaninha. O Bazar da Joaninha, na Rua Luís Gama, lá eles ficaram por 20 anos. P/1 – Fica no Cambuci a Luís Gama? R – Luís Gama. Éno 847 da Luís Gama, que hoje é o Restaurante Javali. Eles lá tiveram 20 anos tiveram loja. E depois o meu avô foi trabalhar com meu pai, com a minha mãe lá na loja. P/1 – Era loja do quê? R –Era loja de tudo: eletrodomésticos, brinquedos, tudo, né? Ele tinha... Ele chegou a ter uma rede, quatro lojas, e ele tinha uma indústria de estatuetas de gesso, que era na Rua Stefano, depois ele foi lá pra Vila Prudente. E lá ele teve a indústria até ele fechar as atividades e só se dedicou na loja. E depois ele ficou com a loja, que ele ficou 20 anos, daí achou de fechar as lojas, aí nós abrimos o Javali, que é o restaurante, né, na época era um bar com nome de Javali, aí foi aumentando, aumentando, e nós chegamos a ter restaurante, pizzaria que depois nós vendemos e montamos a vidraçaria que nós temos até hoje. Ele teve também matadouro de frangos, que foi lá no Cambuci, foi na Rua Cesáreo Ramalho, também. P/1 – Vamos voltar um pouquinho pra trás. Aí seus avós paternos foram morar no Cambuci? R - Foram morar no Cambuci. Eles foram... Quando eles vieram pra cá eles foram pra... Eles moravam no Bexiga, né? Eles moraram lá no Bexiga. Depois com o casamento dos meus pais, então eles foram morar juntos e acabaram indo pro Cambuci. Foram pra... P/1 – Mas você sabe por que eles escolheram o Cambuci? R – Não sei. Porque foram primeiro pra Rua Coronel Seabra, que hoje é a Radial Leste, né? Pro lado ali do Hospital Dom Pedro. Eu nasci ali, na verdade. E ali meu pai começou a ter comércio, começou a se dedicar no comércio. Teve vários comércios. Teve ali na Mooca também pra depois de ir lá pro Cambuci. Na verdade eu não sei certo porque que eles escolheram lá no Cambuci, mas era perto também. P/1 – E você nasceu no Cambuci? R – Eu nasci... Na verdade eu nasci na Mooca, eu nasci na Coronel Seabra, que hoje é a Radial Leste hoje, mas eu saí de lá com oito anos. Aí eu fui pra Rua Luís Gama, número 410, que era um sobradinho que meu pai tinha alugado na época, nós fomos pra lá. Meu pai já tinha a loja ali na Luís Gama, né? P/1 – E com oito anos de idade você lembra como era essa sua casa lá na Mooca onde você morava? R – Lembro. P/1 – Como é que era? R – Era uma casa assim bem antiga, da época, né? E ela tinha uma amoreira no fundo e na frente tinha planta grande de... Não lembro o nome agora, mas... De arruda. Bem antiga. Não sei como te falar. Com quintal grande. E nós saímos de lá porque a casa estava caindo, estava muito ruim, estava muito velha. A casa está de pé até hoje, está de pé até hoje. Aí meu pai alugou lá na Luís Gama, que era no 410, naqueles sobradinhos que têm ali embaixo na Luís Gama, em frente hoje à igreja, antigamente era o colégio de freiras, né? E depois foi o... P/1 – E como é que era a sua infância lá? Vocês brincavam na rua? Como é que era? R – Ah, tinha os prédios ali do IAPI, tinha o clube, e a gente brincava por lá na rua, né? Porque antigamente era mais na rua, não é que nem hoje que não pode brincar na rua. Mas a gente brincava muito na rua. Jogava bola. P/1 – Que outras brincadeiras você lembra? R – Tudo. Cabra cega, (?), roda peão, bolinha, que hoje as crianças nem sabem o quê que é. P/1 – E você tinha irmãos? Tem irmãos? R –Tenho. Tenho uma irmã. P/1 – Quantos anos? R – Ela é 3 anos mais nova que eu. Tem 61. P/1 – E vocês brincavam juntos? R – Brincava junto também. Estudava no mesmo colégio. P/1 – Com quantos anos você entrou na escola? R – Com sete. P/1 – Qual que era? Depois você trocou quando você mudou da Mooca pro Cambuci de escola? R – Não, não, já ia nessa escola. P/1 – Que escola que era? R – Oscar Thompson, que tinha na Luís Gama, que hoje é a AMA, hoje é a AMA que tem lá, mas lá tinha a Oscar Thompson. P/1 – E como é que você ia pra escola? Ia a pé? Alguém te levava? R – Não. Eu ia a pé. Minha mãe me levava, né? Porque já na época eles já tinham a loja ali, e era perto, era só atravessar a rua já estava lá na escola, no grupo, né, é grupo escolar. P/1 – E você tem memória, o que você lembra desse teu período de escola? Alguma professora que tenha te marcado? R – É. Eu lembro, mas assim de nome, assim, de nome, não lembro, não lembro bem, porque eu não fiquei muito tempo lá, eu estudei alguns anos depois eu fui pro colégio da Glória, que é ali perto, Colégio Nossa Senhora da Glória. P/1 – E o que você mais gostava na escola? Qual que era a coisa que você mais gostava? R – Todo menino gosta de jogar bola, né? Menos estudar, né? Então lá na escola eles davam sopa, antigamente davam muito isso, lá no grupo, né? E a gente... Lá como era muito pequeno... O grupo era muito pequeno a gente não tinha muitas atividades lá dentro, né? Aí depois com o colégio, sim. No colégio eu tinha mais atividade, tinha os campos de futebol, tinha os passeios, né, que eles levavam a gente. Então tinha... Lá tinha o Irmão Justino, que era muito famoso na época, e os outros irmãos lá, que era tudo irmão lá no colégio, né, é um colégio católico e tinha lá os irmãos. E tinha um professor, que era professor de português, que era o único que era civil, que não era irmão marista, né? P/1 – E você teve, assim, em casa... Porque você estudou nesse colégio da Glória, mas em casa você teve formação religiosa? R –Sim. Católico. P/1 – Mas vocês eram de frequentar a missa? Como é que era? R – A gente era de frequentar, sim. Até hoje a gente frequenta, não tão assiduamente, mas a gente vai. P/1 – E como é que era o ambiente familiar na sua casa? Quem exercia mais autoridade, seu pai ou sua mãe? R – Olha, sempre, é lógico, o meu pai tinha mais autoridade, mas sempre a minha mãe também nunca nós tivemos problema. A nossa família sempre foi muito unida. Não tinha muita coisa assim difícil, de briga, essas coisas, não tinha nada disso. P/1 – E você ficava com seu pai na loja? Quem que trabalhava na loja? R – Na verdade quem ficava na loja era minha mãe. Minha mãe que comandava a loja, né? Ela que ficava. E a gente ficava com ela. Eu fui criado atrás do balcão. E depois quando... E meu avô que tinha ido pra lá também quando meu pai montou essa loja. Então era assim, era a família, era só nós que ficávamos lá e meu pai ficava na indústria, era difícil, ele vinha... Era mais difícil ele vir pra loja, ele vinha só quando era época de fim de ano, essas coisas, que era muito trabalho, então ele vinha pra ajudar. P/1 – Senão ele ficava na indústria de gesso? R – Isso. P/1 – Da onde que veio essa coisa dele fazer gesso? R – É, eles montaram ali há muitos anos atrás, isso eu nem sei quantos anos, eles montaram, ele com mais um outro sócio montaram essa indústria e faziam vaso, faziam estatuetas, que era ali na Stefano com a Silveira da Mota. Aí depois eles desmancharam a sociedade e ele foi lá pra Vila Prudente, arrumou um lugar maior e tal, e foi pra lá. P/1 – Mas você sabe por que ele decidiu fabricar gesso? R – Pra dizer a verdade eu não sei, não sei. Foi que nem nós quando fechou a loja pra abrir restaurante, que não tinha nada a ver, e depois nós vendemos o restaurante e aí montamos matadouro antes, matadouro de frango, que também não tinha nada a ver, né? Mas sempre comércio, né? E aí depois vendemos o Javali pra montar a vidraçaria, também não tem nada a ver. Tudo não tem nada a ver. Mas sempre dentro do comércio. P/1 – E você gostava de ficar lá na loja? R – Gostava, ô. Tinha bastante brinquedo, tinha bastante coisa pra fazer, ajudava bem, mais ou menos com uns 10 anos, mais ou menos, comecei a ajudar bem melhor, né, eu e minha irmã também. P/1 – E a sua mãe cozinhava? R – Cozinhava. Minha mãe cozinhava. P/1 – Cozinhava bem? Que prato você lembra bem, a comida que tenha te marcado? R – Bom, o carro chefe sempre foi o macarrão, né? E quando minha avó estava viva, ela fazia a comida porque minha mãe trabalhava, né, ficava lá na loja, então ela fazia a comida. Aí depois minha mãe foi obrigada a fazer. Mas aí já... Na época que minha avó morreu já estava com o restaurante, e no restaurante quem cozinhava era minha mãe. Ela cozinhou até a gente vender lá. P/1 – E quantos anos você tinha quando foi criado o restaurante? R – Eu tinha... Eu tinha, se não me engano. Deixa eu ver... Eu tinha dezenove anos. P/1 – Ah, você já tinha passado da adolescência. R – Eu tinha uns 20 anos mais ou menos. É porque eu casei com 21, já com 20 anos já nós montamos o restaurante. P/1 – Como é que era o Cambuci na sua infância? R – Olha, o Cambuci está mudando agora, né? Porque ele sempre foi... Umas coisas muito antigas, muitos cortiços, né, muito cortiço, muita casa velha. Então agora que está começando a mudar, a sair mais prédios. Muita indústria, na época, né? Tinha a Sinedi (?), era a Ramenzoni, tinha muitas firmas lá que foram fechando, mudando, não é? P/1 – E na sua adolescência, você estudou aonde? No Glória? R – Estudei no Glória, estudei no Liceu, Liceu Siqueira Campos, que era lá perto também. P/1 – Mas você fez ginásio no Glória? R – É. Eu fiz no Glória. Fiz o primário e fiz o ginásio, uma parte do ginásio. Eu saí do Glória eu tinha acho que na primeira série, né, na época, depois eu fui pro Liceu, mas eu não terminei até a quarta série, eu fiz até a terceira série. P/1 – Do ginásio? R – Do ginásio. P/1 - Você não chegou a fazer colegial? R – Não, não fiz. Não fiz. Na época não era colegial que chamava. P/1 – Chamava... Tinha o clássico, né, tinha científico. R – Científico. Mas eu não cheguei a terminar. P/1 – Por que você parou de estudar? R – É, uma que tinha que trabalhar e outra que não podia também. Eu não podia na época. P/1 – Não podia? Você não tinha posses financeiras? R – Também. P/1 – Vamos dar uma paradinha? R – Desculpe. P/1 – Imagina. Isso acontece, a gente vai lembrando e se emociona, é super... A gente passa por esse processo mesmo... E quê que você gostava de fazer na sua juventude? Quais eram os programas? Você tinha amigos? R – A gente, no fim de semana, saía muito, né, os amigos. Reunia, a gente saía, pegava o bonde e ia pra Santo Amaro, pra outros lugares... P/1 – Ia passear em Santo Amaro? R – Passeava em Santo Amaro, Ipiranga. Não tinha shopping, não tinha nada como hoje. P/1 – E por quê que Santo Amaro, por exemplo? O quê que tinha lá? R – Não, porque a gente gostava de pegar e ir, assim, de aventurar. Pegar assim pra ir ver algumas outras coisas, ir namorar, sei lá. P/1 – Qual foi sua primeira namorada? R – Na verdade, é a atual, que nós estamos casados há 43 anos. Que eu namorei firme foi com ela, que nós começamos a namorar com 15 anos. P/1 – Você lembra como vocês se conheceram? R – Meu pai na época tinha loja e ali no Cambuci tinha um bar, era uma sorveteria, uma sorveteria que hoje é uma papelaria, e era em frente ao Grupo, né? E o pai dela, ela morava no Brooklin, o pai dela comprou essa sorveteria que tinha, ele comprou, e eles vieram pra lá, mudaram pra lá, né? No primeiro dia que eu a vi, que nós nos vimos, já começamos a namorar. Então, foi assim. P/1 – Você viu e já pediu ela em namoro? R – É. Já começamos a namorar. Acho que foi no primeiro ou segundo dia. P/1 – Foi amor à primeira vista. R – É. Eu comecei a ir lá pra tomar Grapette, que tinha na época, que tinha Grapette, não é? Então eu tomava Grapette e a Grapetterepete, né, então eu ficava. E a gente começou a sair, começamos a namorar. Aí o pai dela pegou a gente namorando... Acho, não, uns meses depois... Ele começou a ficar desconfiado, mas aí então: “Bom, já que tem que namorar, namorar em casa”. Então começamos a namorar em casa. Foi assim. P/1 – Como é o nome dela? R – Luiza. P/1 – E os pais dela também moravam... R – Moravam lá no bar, na sorveteria, né? Que, na verdade, depois transformou num bar, restaurante, eles davam comida. P/1 – Então você começou a namorar você tinha... R – 15 anos. P/1 – 15 anos. Aí você tinha parado de estudar e só trabalhava? R – É. P/1 – E que outros programas você fazia além de namorar? R – Então, a gente saía, ia no cinema. Eu com ela? P/1 – Ou com seus amigos? R – É, já depois que eu comecei a namorar com ela já dificultava mais sair com os amigos como a gente saía, saía mais com ela. E depois, é lógico, a gente ia jogar bola, tinha os times lá embaixo, de base, nos campos lá do IAPI, né, que lá tinha vários campos, então tinha os times de futebol lá que eram Primor, Estrela, Uracam, né? Todos esses times que tinham lá embaixo, tinha um monte de campo, que hoje não tem mais nada, e a gente jogava bola. P/1 – E aí seu pai... Você trabalhava com seu pai. R – Trabalhava com meu pai, sempre trabalhei com ele. P/1 – O que você fazia lá nessa época? R – Ajudava ele na loja, né? A gente ajudava ele, minha mãe, né, era mais minha mãe que ficava. P/1 – Mas você fazia especificamente o quê? R – Ajudava no balcão, ajudava a vender, ajudava a montar a loja, arrumar, ficava com ela até tarde porque que nem na época de fim de ano fechava às dez horas da noite, e a gente ficava lá, eu e minha irmã também ficava. P/1 Sua irmã também ajudava? Aí você se casou com quantos anos? R – 21. P/1 – Resolveu casar. R – É. Nós ficamos noivos, namorado e noivo seis anos. P/1 – Ela foi a única namorada que você teve? R – Foi assim a primeira firme, né, que eu namorei mesmo pra casar. P/1 – E onde que vocês casaram? R – Na igreja lá do Cambuci, Nossa Senhora da Glória. P/1 – E aí você continuou trabalhando com seu pai depois de casado? R – Continuei. Continuamos juntos, sempre juntos eu com meu pai. P/1 – Mas aí você já tinha outras funções? Você cuidava da administração do negócio? R – Não, eu tinha... É, eu ajudava ele na loja, depois ele fechou as lojas, achou de fechar as lojas, montou o matadouro que... O matadouro na época era uma novidade, era aqueles matadouros que matava o frango na hora, então você chegava lá, escolhia o frango e matava na hora, em cinco minutos ele já saía prontinho, saía quente ainda. Então isso aí era uma novidade, então ele achou de montar esse matadouro. Aí montou o matadouro, mas a gente viu que não era aquilo que a gente queria porque era uma coisa que era muito trabalho porque tinha que buscar os frangos nas granjas, aí o frango era eu que ia buscar, e era muito trabalhoso... P/1 – Como se matava o frango? R – É, ele tinha uns funis, né? Pegava o frango, pesava, dava pra pessoa o valor, punha no funil, aí o que matava ele ia lá cortava o jugular do frango e sangrava, ia pra caldeira, da caldeira ia pra depenar, depenava ele na caldeira, era tudo rápido, aí já ia pra mesa pro corte, aí abria ele, tirava todos os pertences de dentro dele, tal, limpava e já ia pro freguês. Era bem rápido. Lá formava fila que virava a esquina pra comprar, era uma coisa que vendia muito. Aí depois achamos de montar o restaurante, né, montar um bar ali, um restaurante mesmo, mas pequeno. Aí nós começamos a montar lá. Tinha o matadouro e tinha lá. Aí foi aumentando, foi aumentando, foi aumentando, aí chegou a ser uma casa famosa aqui, até hoje, né? Já faz 26 anos que nós vendemos, já na época era uma casa muito boa, como ela é até hoje. P/1 – Que tipo de comida vocês serviam no restaurante? R – Olha, fazia tudo. Servia à la carte, fazia pratos rápidos, né? A pizzaria veio depois, primeiro foi a parte de restaurante. Aí depois nós abrimos a pizzaria, fizemos forno à lenha e começamos a vender, aí vendemos o matadouro porque não dava também pra tomar conta dos dois. Nós morávamos no fundo do restaurante, aí já começou a ficar pequeno, tivemos que aumentar a casa, aí nós mudamos. P/1 – Mas você depois de casado morava com seus pais? R – Eu morei... Quando eu casei eu morei separado. Morei num apartamento que era perto, e nós moramos um ano lá, aí nós tivemos a minha primeira filha, né, aí nós pegamos, por questão financeira na época, nós fomos morar junto com meus pais lá no restaurante, meus pais já moravam lá, meu pai e minha mãe já tinham saído da Luís Gama e já estavam morando lá quando a gente veio, aí nós ficamos lá e estamos até hoje juntos, mesmo meu pai. P/1 – Ficaram juntos do que, do restaurante? R – No restaurante, morando junto. P/1 - Com seu pai, com a sua mãe? R – É. Eu, minha esposa, meus filhos. P/1 – Quantos filhos você teve? R – Dois. Um casal. Eu tenho minha filha... P/1 – Seus pais são vivos ainda? R – Só minha mãe. Que está comigo também até hoje. P/1 – E você já foi trabalhando... Já foi cuidando da administração ou você...? R – Sim, aí eu já fui assumindo tudo, né? Já fui assumindo, já... E, na verdade, sempre fui eu e meu pai, né? Então... Mas eu sempre... Já fui tomando a frente, né? Meu pai também estava muito doente e aí nós fomos... Fui seguindo, né? Aí nós começamos... Aí mudamos lá dessa parte do restaurante, nós fomos morar em frente, num prédio em que nós estamos até hoje. Alugamos apartamento, depois nós compramos apartamento. Então foi indo, né? A coisa foi indo. P/1 – E você, nesse momento, assim, você tinha vontade de voltar a estudar? R – Sinceramente, não. P/1 – Você já tinha... R – Eu nunca gostei de estudar. Hoje me faz uma falta tremenda, né? Mas, sabe que gente acaba não gostando. Na época não era assim. Primeiro é o trabalho, depois a escola. Hoje é diferente. Hoje não, hoje a criança, o rapaz, a moça, eles querem estudar... Meus filhos são formados e tudo, né? Eles querem estudar e antigamente a gente não, era trabalhar, precisava trabalhar, não dava tanto tempo pra estudar, tinha que mais era trabalhar. P/1 – E você lembra de alguma coisa que acontecia no bairro, alguma característica, alguma festa, algum evento que era típico do Cambuci? R – Bom, tem o evento que é até hoje, Cosme e Damião, festa de Cosme e Damião, que é feita pela... Começou com a minha mãe e continua com a minha família fazendo, e moradores do bairro também que participam, né, a comunidade também que participa. São 54 anos. P/1 – É a sua mãe que começou? R – Ela que começou. P/1 – Por que ela teve essa ideia? O que ela fez? R – É. Ela não fala até hoje o motivo que ela fez. Ela não fala, não quer falar e a gente não sabe. Então começou dando pras crianças e foi aumentando e hoje são 1.500 crianças, tá? Uma festa que é feita na rua, feito barraquinhas, essas coisas, fecha a rua, é dado tudo pras crianças, tem as atividades. P/1 – Que atividades? R – Tem... Tem meu genro que ele tem uma firma de eventos. P/1 – Uma firma do quê? R – De eventos. E ele, então, ele trás os monitores, aquelas coisas lá, e faz as brincadeiras com as crianças, e a gente tem as barraquinhas de refrigerante, de algodão doce, cachorro quente, pipoca. Tem algumas coisas que as pessoas trazem, que querem dar, a gente deixa dar também. Tem a... Nós fazemos um saquinho... Depois vou mandar as fotos pra vocês verem. Nós fazemos um saquinho com doce, brinquedo, que é dado pras crianças, isso separadamente, quando termina a festa a gente dá para as crianças. Apesar de que eles comem e bebem lá à vontade. Bebem até terminar, sem problema nenhum. Comem e bebem à vontade. P/1 – E você não sabe por que ela decidiu fazer. Um belo ano ela decidiu fazer e fez? R – Fez. Não sabemos por que. Foi alguma promessa que ela fez e eu acho que promessa às vezes não fala porque, né? Então a gente não insiste com ela nesse ponto, que ela até hoje ela vai lá nas festas e tudo direitinho. Está com 90 anos. P/1 – Ela que organiza ainda? R – Não, a festa agora já é organizada por nós, mas ela participa da organização também, de tudo, ela participa de tudo sempre. P/1 – Ela está com quanto? R – 90 anos. P/1 – E que outra atividade assim que tem que é marcante no Cambuci? Que é uma marca pra você? R – Tem o Bloco da Ressaca, né, que eu sou presidente. Esse bloco ele surgiu, era bloco do Javali, ele surgiu como bloco do Javali. Então foi lá uma turma de moços, de rapazes, foi lá, que frequentavam, cismaram de fazer e fizemos. Antes de... Depois mudou pra Bloco da Ressaca porque a turma confundia muito o bloco do Javali com o Javali, então, quando o bloco saia e que voltava todo mundo achava que era tudo à vontade, então a gente também achou de tirar que era Bloco do Javali, ficou dois anos como Bloco do Javali e depois ele passou a ser como Bloco da Ressaca, e é até hoje. P/1 – Então o Bloco da Ressaca, na verdade, nasceu dentro do seu restaurante. R- Dentro de lá. É nós somos um grupo, né, que na verdade eu sou o presidente, mas o grupo é que manda nas atrações do bloco, né, aquilo que o bloco faz, o grupo que decide, nós que decidimos tudo, esse grupo que nós somos uma turma de dez, são dez diretores que decidem tudo do bloco, o que o bloco faz. P/1 – Ah, um foi que a gente entrevistou, o Gilberto. R – Inclusive o Gilberto ele faz parte do grupo. P/1 – E você foi eleito presidente como? R – Por todos eles. Eles acharam que... Eu estou com três mandatos de presidente. E depois que nós assumimos... Porque o bloco ele deu umas viradas, ele começou com uma turma, que são os fundadores, que são os que estão hoje, depois passou pra outro grupo, mais dentro dele, né? Aí depois nós assumimos porque o bloco estava saindo porum outro caminho, que é bom nem entrar em detalhes, mas nós assumimos o bloco, que já vai fazer 12 anos que nós assumimos. P/1 – E por que chama, quer dizer, vocês tiveram que trocar pra não ter confusão com o restaurante Javali, mas por que foi escolhido o nome Ressaca? R – Porque o bloco ele, na verdade, ele sai uma semana antes do Carnaval, quer dizer, a ressaca seria sempre depois, né? Mas ele sai antes. E na época foi feita uma votação de nomes lá e a turma era uma turma que gostava também de chutar bem e se reunião muito na segunda-feira. A segunda-feira era o dia da ressaca, né? Então acabou sendo assim. Começou a surgir o nome, né? Na verdade foi isso. E aí depois voltaram. O bloco tem tudo, tem ata, tem registro, tem tudo. P/1 – Qual você acha que foi o período mais marcante do Bloco da Ressaca? R – Mais marcante? P/1 – Assim, alguma história que tenha acontecido. R – Olha, o bloco tem tanta história, mas assim marcante quando o Arrelia esteve lá no Cambuci, né, que ele desceu lá, ele saiu da Lins de Vasconcelos, não lembro o ano que foi, e foi até a igreja Nossa Senhora da Glória lá, né, e nós fizemos toda a escolta dele e tal, do Arrelia, né? P/1 – Ele foi pra desfilar com o bloco? R – Não. Ele foi pra... Porque ele era do Cambuci. Então ele foi lá no Cambuci, fizeram uma homenagem pra ele, lá na frente da igreja, fizeram uma homenagem pra ele. Então ele veio no Cambuci. Então ele foi recebido... Foi uma manifestação muito grande na época. E o bloco fez toda a segurança dele pra lá. Nós temos até foto dele descendo a Luís Gama, tudo, com carro aberto, aquele negócio todo, foi uma coisa muito bonita, uma coisa que marcou muito o bloco. Mas o bloco hoje ele marcado assim pelas ações sociais, por aquilo que a gente ajuda várias entidades, sempre fazemos festa beneficente. E o bloco sai, continua saindo, que é uma coisa que o bloco gasta muito, despende muito pra sair no começo do ano, mas sai, todo ano sai. Agora vai, em 2014, vai fazer 30 anos. P/1 – Voltando um pouco pro restaurante Javali, quem eram as pessoas que frequentavam o restaurante, quem era o público? R – Olha, era de todas as idades, viu? Era de todas as idades. Porque ele é um... Ele tem mais de 40 anos esse restaurante, 40 e poucos anos... P/1 – Ele existe ainda? Alguém toca ele? R – Toca. É a mesma coisa, restaurante e pizzaria Javali. Continua a mesma coisa. Continua a mesma coisas, só que é com outra direção, né? P/1 – Mas voltando, quem que frequentava? Era o pessoal do bairro? Vinha gente de fora? R – Era o pessoal do bairro, de fora que vinha, vinha muita gente de fora. A turma vinha na sexta-feira, paravam os carros todos em cima da calçada, arrebentava as calçadas de todo mundo lá. Parava do outro lado, sabe, nas calçadas, ficava cheio de gente. Hoje mudou muito porque abriu muito mais casas, né? Então mudou muito aí o sistema, isso eu estou falando de coisa de 30 anos atrás. P/1 – E por que vocês decidiram fechar? R – Não, nós não fechamos, nós vendemos. P/1 – Por que vocês decidiram vender? R – Porque, na época, meu pai estava muito doente. Ele estava... Ele tinha tido já três enfartos e tal, e ele estava muito doente. Na cozinha quem ficava era minha mãe e ela não saía de jeito nenhum. Então, aí, falei: “Bom, eu sozinho não dava pramim tocar”, apesar que minha esposa ajudava, minha irmã ajudava e nós tínhamos mais dezoito empregados. Então, apesar disso tudo, era muito, era muito trabalho. E mais por causa disso, do problema do meu pai e da minha mãe, que não saia da cozinha de jeito nenhum, ela não saia, não deixava por ninguém, e ela também não podia ficar, vai indo, vai indo, vai indo, vai ficando com idade e é complicado. Então esse foi dos motivos o maior. Aí uns meses antes de a gente vender nós tivemos lá um problema de um assalto. E eles pegaram uma criança, seguraram ela, não fizeram nada. Nada, assim, que eu digo, não mataram ninguém, não atiraram em ninguém, mas seguraram a criança, sabe?Limparam todo mundo, fizeram uma varredura lá dentro. Depois veio a polícia logo em seguida. Eles saíram a polícia chegou, a Rota, que eles passavam sempre lá, né? E podia ter dado uma tragédia na época. E aquilo deixou a gente muito nervoso, sabe? Deixou a gente muito... Principalmente por causa do negócio da menina. Mas aí surgiu, apareceu um comprador lá. Estava na época que tinha o negócio, que a gente estava com ideia de vender, aí vendemos. Esse aí ficou um ano porque ele não aguentou a casa, eles eram dois irmãos, mas eles não aguentaram porque a casa era muito boa. Eles venderam pra esses que estão lá já há 25 anos. (Troca de fita) P/1 – A gente estava no restaurante, né? Aí você estava falando por qual motivo você venderam... Aí você já tinha filhos aí? Com quantos anos você foi pai? R – Com 22. P/1 – 22? Você tem quantos filhos? R – Tenho dois, tenho um casal. Minha filha tem 42, meu filho 38. P/1 – Qual é o nome deles? R – É Adriana e Antônio Ferri Junior. P/1 – E aí, eles nasceram e continuava nessa casa do Cambuci? No apartamento que vocês foram? R – Continuava lá, morávamos todos... P/1 – Com seus pais? R – Isso. E aí quando... Seu pai morreu em que ano? P/1 – Em 96. 1996. Nós já estávamos com a vidraçaria, né? R – Aí não tinha mais o restaurante, tinha a vidraçaria. P/1 – É. Já tinha vendido o restaurante.
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