A construção
No final de 1995, a gente começou a procurar o terreno. Na realidade, a Natura já tinha contratado uma empresa para procurar os terrenos, mas nenhum deles se encaixava naquilo que queríamos. Aí eu fui convidado a buscar uma alternativa. Existia um briefing em que a Natura dizia o...Continuar leitura
A construção
No final de 1995, a gente começou a procurar o terreno. Na realidade, a Natura já tinha contratado uma empresa para procurar os terrenos, mas nenhum deles se encaixava naquilo que queríamos. Aí eu fui convidado a buscar uma alternativa. Existia um briefing em que a Natura dizia o que queria. E assim que pus os pés em Cajamar eu tive certeza que era aquilo que procurávamos. A gente marcou com os presidentes - o Pedro, o Guilherme e o Luiz Seabra - para visitar o local e fomos numa segunda-feita de manhã. Eles olharam e disseram: “a fábrica da Natura vai ser aqui”. Era exatamente aquilo que eles esperavam com relação à natureza, à localização. Todos os quesitos do briefing estavam alocados naquele local.
O terreno tinha que ser a uma distância menor que 40 km da cidade de São Paulo, numa estrada principal, tinha que ter várias saídas e água, que era uma coisa importante. A gente foi buscar ali perto de Alphaville, mas havia um empecilho: não tinha água. Fomos buscar na Serra do Mar que tinha restrições ambientais. Esse terreno foi ofertado por um corretor lá da região de Cajamar e acabou sendo o escolhido.
Eu fui o primeiro a participar do processo, junto com o Pedro Luiz e o Ivaldo, desde a escolha do terreno até entregar o prédio funcionando. São seis, sete anos de luta, primeiro para tirar toda a terra e fazer o terreno ficar adequado à construção da fábrica. Depois, as muitas discussões em relação ao projeto, que primeiro não cabia no preço, depois não se adaptava as necessidades técnicas.
Houve participação de muita gente. Chegamos a ter mil e setecentas pessoas trabalhando. Passávamos as noites em claro, com aquele frio, aquela poeira, um barulho, uma briga enorme. Por isso, a imagem que me marca mais é a do dia em que ficou pronto. As pessoas chegarem vindas da fábrica de Itapecerica ou do CD [Centro de Distribuição] de Santo Amaro, olharem aquilo e terem a primeira impressão, um primeiro impacto, foi muito importante.
Desafios
O NEN [Novo Espaço Natura] era só desafios. A Natura estava num processo de profissionalização e de mudança. Estava implantando um sistema novo de gestão e estava indo para Cajamar. Muitas mudanças simultâneas faziam com que a empresa estivesse super aquecida, funcionando a pleno vapor. A dificuldade maior era que a Natura não tinha know-how para fazer uma fábrica. A Natura nunca tinha feito uma fábrica antes, sempre tinha alugado espaços e se adaptado àquela condição. A gente tinha que traduzir para o novo espaço todo o sonho, que era fazer uma fábrica própria com as crenças, com todos os valores que a Natura entendia que eram importantes. O desafio era justamente esse: fazer com que as coisas acontecessem dentro de um cronograma, dentro de um custo, mas que fosse o sonho.
O melhor de Cajamar
Escolher um lugar em Cajamar é como escolher entre os filhos o que mais gosto. Participei de algumas histórias interessantes, a área central do P&D [pesquisa e desenvolvimento] onde estão as jabuticabeiras. Eu acho que o lugar ficou muito agradável e tem uma história muito bacana da compra das jabuticabeiras lá no interior, que era de um senhor que não queria vender. Tem todo um folclore atrás disso.
Os prédios são muito bonitos, os reflexos da passarela ficam maravilhosos nos vidros. Gosto muito do NAN [Núcleo de Aprendizado Natura], daquelas áreas no meio da mata. Todos os lugares têm o seu lado interessante, têm a sua característica, o arquiteto foi muito feliz. Apesar de todos os ambientes se integrarem, cada um tem sua personalidade, cada um tem seu motivo.
A história das jabuticabeiras
Nos queríamos comprar 15 jabuticabeiras, e elas tinham que ser todas iguais, do mesmo tamanho, mas era uma tarefa bastante difícil. O José Flavio, que era o paisagista, acabou descobrindo num sítio um senhor que tinha plantado as jabuticabeiras, mas não queria vender. Elas tinham sido plantadas no nascimento dos filhos e havia o aspecto amoroso. Ele não queria se livrar das jabuticabeiras, mas queria o dinheiro. Nós fomos negociar com ele, que a princípio só punha dificuldades: “não posso vender, porque tenho um sentimento muito forte, porque meu filho isso, meu filho aquilo. Então eu dizia: “Já que o senhor não quer vender, eu vou embora” E ele dizia: “Calma, por que você está nervoso? Volta aqui, vamos conversar”. Eu dizia que não queria forçá-lo a vender algo que tinha todo esse aspecto afetivo, que representava os nascimentos dos filhos e que a gente não queria que fosse um motivo triste. Eu sei que entrei no carro umas cinco ou seis vezes para ir embora. Acabamos saindo com todas as jabuticabeiras, por 800 reais cada uma. Todas foram transplantadas para o NEN e estão bonitinhas. Dão frutos até hoje. São 15 grandes vasos, 3m por 3m, e achou-se que a estética das jabuticabeiras era legal, pois elas têm um formato bastante irregular, além de atrair pássaros e as pessoas poderem pegar os frutos.
O conceito do Novo Espaço Natura
O NEN foi concebido para as pessoas, quando a gente estava fazendo a avaliação do estudo houve uma oferta para a Natura, dos governos do Paraná e do Rio de Janeiro, para que ela se mudasse e recebesse enormes benefícios fiscais. Isso em dinheiro era um valor incalculável. E eu me lembro do Guilherme falar que a decisão seria tomada pelas pessoas, para que as pessoas se sentissem bem, pois eram o maior patrimônio. A partir daí, eu tive certeza que o NEN seria construído para agradar as pessoas, para que elas tivessem a melhor condição de trabalho, a melhor condição de se relacionarem e se integrarem. A Natura abriu mão de milhares de reais para criar esse espaço.
A preocupação era que as consultoras pudessem visitar, que a gente tivesse, além da competência técnica do espaço para que se produzissem os melhores produtos, a possibilidade do relacionamento, de se integrar à natureza e se comunicar no espaço de integração que é a Alameda de Serviços. Esse foi o conceito do espaço e o arquiteto soube resolver bastante bem.Recolher