P/1 – Então, Albano, em primeiro lugar, muito obrigada por você ter recebido a equipe do Memória Votorantim e eu queria começar a entrevista perguntando o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Albano Chagas Vieira. Nasci em Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, norte do Estado do Rio. E eu nasci em 27 de fevereiro de 1953.
P/1 – Carnavalesco ou não?
R – Eu nasci durante o carnaval, nasci no carnaval, nos dias de carnaval. Também não sou muito carnavalesco, prefiro o carnaval para descansar um pouco.
P/1 – Tá ótimo! E o nome dos seus pais, Albano?
R – Milton da Silva Vieira e Zulaine Chagas Vieira.
P/1 – O que faziam os seus pais?
R – Meu pai, está vivo, né, é comerciante mas já está aposentado, tinha lojas de material esportivo.
P/1 – Lá em Campos mesmo?
R – Em Campos e no Rio.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe sempre foi de casa, nunca trabalhou.
P/1 – Você conheceu seus avós?
R – Sim. Meus avós por parte de pai eu conheci só a minha avó, o meu avô já tinha falecido, um português que veio ao Brasil, fazendeiro no Estado do Rio, morreu também antes de eu nascer. E, a minha avó, sim eu conheci, ela faleceu com noventa anos, também morava em Campos e por parte de mãe meus avós, meu avô era advogado, e a minha avó também era de casa, também já morreram há muitos anos, meu avô nasceu, ele falava que nasceu em 1890, né, ele morreu com quase noventa anos também em 1980. A minha avó faleceu um pouco depois, era mais jovem que ele, mas também morreu com oitenta e tantos anos. A família vive bastante, eu tenho avós, tenho tio-avós que morreram com cem anos, cento e dois anos. Meus pais estão vivos um com oitenta e oito e outro com oitenta e seis anos, vai longe!
P/1 – Vai longe. Quer dizer, você tem uma ascendência portuguesa, outra brasileira?
R – Portuguesa. Portuguesa e...
Continuar leituraP/1 – Então, Albano, em primeiro lugar, muito obrigada por você ter recebido a equipe do Memória Votorantim e eu queria começar a entrevista perguntando o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Albano Chagas Vieira. Nasci em Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, norte do Estado do Rio. E eu nasci em 27 de fevereiro de 1953.
P/1 – Carnavalesco ou não?
R – Eu nasci durante o carnaval, nasci no carnaval, nos dias de carnaval. Também não sou muito carnavalesco, prefiro o carnaval para descansar um pouco.
P/1 – Tá ótimo! E o nome dos seus pais, Albano?
R – Milton da Silva Vieira e Zulaine Chagas Vieira.
P/1 – O que faziam os seus pais?
R – Meu pai, está vivo, né, é comerciante mas já está aposentado, tinha lojas de material esportivo.
P/1 – Lá em Campos mesmo?
R – Em Campos e no Rio.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe sempre foi de casa, nunca trabalhou.
P/1 – Você conheceu seus avós?
R – Sim. Meus avós por parte de pai eu conheci só a minha avó, o meu avô já tinha falecido, um português que veio ao Brasil, fazendeiro no Estado do Rio, morreu também antes de eu nascer. E, a minha avó, sim eu conheci, ela faleceu com noventa anos, também morava em Campos e por parte de mãe meus avós, meu avô era advogado, e a minha avó também era de casa, também já morreram há muitos anos, meu avô nasceu, ele falava que nasceu em 1890, né, ele morreu com quase noventa anos também em 1980. A minha avó faleceu um pouco depois, era mais jovem que ele, mas também morreu com oitenta e tantos anos. A família vive bastante, eu tenho avós, tenho tio-avós que morreram com cem anos, cento e dois anos. Meus pais estão vivos um com oitenta e oito e outro com oitenta e seis anos, vai longe!
P/1 – Vai longe. Quer dizer, você tem uma ascendência portuguesa, outra brasileira?
R – Portuguesa. Portuguesa e brasileira. A minha avó, a minha bisavó por parte de pai, ela é de origem dos índios goitacazes, e o meu avô era português, meu bisavô português.
P/1 – Você tem irmãos? Uma família grande?
R – Tenho um irmão, eu sou o caçula, sou o mais novo, tenho um irmão mais velho que tem três anos a mais que eu, está fazendo sessenta anos o ano que vem, está com cinquenta e nove agora, ele é engenheiro também como eu, formado na mesma escola que eu, é uma família de engenheiros na minha casa.
P/1 – E sua infância assim, quando você fala de infância qual é a primeira lembrança que lhe vem à mente?
R – Uma infância muito feliz no interior, uma vida bem tranquila, né, uma família muito harmoniosa, os meus pais estão fazendo sessenta anos de casados agora. A gente teve tudo quanto era acesso àquilo que era normal numa infância na nossa geração, que é completamente [diferente] da infância que as minhas filhas tiveram e que os meus netos vão ter. Infância mais de brincadeiras do interior, de no fim do ano ir para casa de praia passar dois meses e meio na praia, né, com aquelas brincadeiras mais infantis, andar de bicicleta, soltar pipa. Mas foi muito tranquilo, boas escolas, nós morávamos em Campos que é uma cidade do interior, mas era uma cidade que teve um ciclo de desenvolvimento muito grande no século dezenove, uma cidade muito rica por plantação de cana-de-açúcar e produção de açúcar, os meus avós eram produtores, o meu avô por parte de pai era produtor de cana-de-açúcar e também açúcar. Isso levava a cidade a ter um grau de ensino e de educação muito boa, tinha ótimas escolas e nós, eu e meu irmão, estudamos no que era a moda na época, era o colégio estadual, tinha um exame de admissão extremamente difícil e para passar era quase um vestibular na época. Então nós estudamos neste colégio estadual que era um colégio tradicional de mais de cem anos e tal. E hoje lá a dificuldade que existe até hoje, inclusive eu fui a uma solenidade dos ex-alunos há uns seis, sete anos atrás estava fazendo cento e cinquenta anos a escola. Então uma escola boa, foi um período bom, estudei lá até o segundo científico, quando eu então fui para o Rio porque era o natural de estudar, fazer o pré-vestibular para fazer uma universidade no Rio, uma vez que no interior não tinha universidades federais, ou universidades de boa qualidade. O meu irmão já estava morando no Rio nesse ano, já há três anos, já estava na faculdade, eu fui logo depois. Meu pai também tinha lojas no Rio e em Campos, acabamos mudando para o Rio e a família toda em 1970, foi o ano em que nós fomos para o Rio de Janeiro.
P/1 – Queria voltar um pouquinho, o que você gostava mais de brincar?
R – Eu sempre fui um, eu sou engenheiro mecânico, eu sempre fui, eu tenho uma habilidade mecânica muito grande. Eu sempre mexi muito com mecânica em desmontar coisas em casa, então meu pai dizia que era um inferno porque tudo, eu quebrava todos os aparelhos da casa brincando de desmontar, queria mexer nos automóveis da casa. Então eu sempre tive uma habilidade muito grande com isso, gostava muito de soltar pipa, bicicleta, coisas da infância da época da nossa geração, né? Mas muito ligado à mecânica e à habilidade manual. Sempre fui muito habilidoso, sou até hoje. Eu em casa primeiro mexo eu, depois eu chamo alguém quando eu não consigo fazer.
P/1 – Tá ótimo! E na época da escola assim, a matéria que você mais gostava?
R – Ah, eu sempre fui focado muito, muito ligado à parte de cálculos, né, eu sempre fui uma cabeça muito de engenheiro, então sempre Matemática desde garoto, desde garoto Matemática, gosto muito de História, sempre li muito mas muito focado em Ciência, Física, Química, Matemática, sempre gostei muito disso. Eu tinha muita dúvida, eu fui fazer na minha época de juventude – principalmente no ginásio, era muito na moda a Fundação Getúlio Vargas, tinha uns testes vocacionais, então a gente saía do interior e ia ao Rio para fazer nas férias o teste vocacional. Nós fomos um dos primeiros a fazer na nossa geração. Eu não tinha dúvida, mas eu falei: “Vou fazer para quê? Eu vou ser engenheiro”. E não deu nada, deu Engenharia, ponto. Se você não for engenheiro, vai cair duro no chão, não faz mais nada. Então tinha, sempre estive muito certo do que eu queria fazer desde garoto. Eu sempre fui muito habilidoso, e de novo falando, eu mexia em tudo, eu desmontava todos os aparelhos, deixava, bobeou uma máquina ela já estava desmontada, eu já via o que que acontecia, como funcionava, era muito curioso nesse aspecto.
P/1 – Isso foi natural, ou você acha que alguma coisa te influenciou?
R – Natural. A minha família, o meu pai comerciante, avô fazendeiro, por parte de mãe o avô advogado, então não tinha, foi muito acho que natural, né, curiosidade. E na minha casa, por uma, meu pai ele parou a faculdade no meio, quando o meu avô morreu e foi trabalhar, e eu e meu irmão, os dois somos engenheiros, com a cabeça muito parecida, trabalhamos a vida inteira com Engenharia. Então acho que foi algo natural, não sei. A razão clara, não sei exatamente por quê.
P/1 – Porque às vezes tem algum professor, algum parente que influência.
R – Não.
P/1 – Não?
R – Eu tenho primos engenheiros que são mais velhos, uma geração quase a minha geração, mas hoje estão com sessenta e seis, sessenta e sete anos. Um engenheiro em um lado só, só teve um engenheiro num lado da família, mais advogados, tem vários advogados, vários médicos, mas nos primos dessa minha geração, engenheiro mais velho só um. Então algo que acho que foi natural.
P/1 – Interessante, né? Interessante. E aí vocês mudam então na década de setenta para o Rio.
R – Setenta para o Rio.
P/1 – Quer dizer, você estava como adolescente...
R – Eu tinha dezesseis anos. Dezesseis, dezessete anos.
P/1 – Você lembra assim do impacto dessa mudança?
R – Foi natural, na minha geração e as pessoas da nossa classe, vamos dizer, social no interior, era algo natural aos dezesseis anos chegar no segundo Científico, ia para Capital para fazer o último ano do Científico, para preparar para o vestibular e fazer faculdade, era um caminho natural. Então já desde o Ginásio eu sabia que no momento que eu chegasse ao final do segundo Científico eu iria morar no Rio de Janeiro para fazer faculdade. O meu irmão estava acabando de ir, tinha ido também no mesmo período os meus primos, meus amigos, isso era natural, era um caminho natural.
P/1 – Vocês moravam onde, assim quer dizer, esse pessoal que ia, seu irmão, por exemplo, onde ele morava?
R – Ele morava junto com o primo, filho da irmã do meu pai, que estava fazendo faculdade de Direito no Rio, e eles compraram um apartamento juntos, meu pai e minha tia, eles moravam em Ipanema, num apartamento dos dois. Quando eu fui para lá, o meu pai falou: “Eu vou ficar longe dos meus dois filhos, eu tenho negócios no Rio e em Campos, eu fico viajando para cima e para baixo, vou morar no Rio e venho a Campos quando precisar”, e foi o que aconteceu.
P/1 – E aí vocês foram morar onde?
R – Morar no Rio, Posto 6 em Copacabana, no início de Ipanema. A minha vida toda, os meus pais moraram por lá.
P/1 – Que é completamente diferente, né? Que lembranças você tem assim dessa cidade?
R – É diferente, mas é um diferente próximo do novo, né? Nossa família, nós tínhamos apartamento no Rio de Janeiro nessa mesma região, e passávamos também férias lá, os meus avós por parte de mãe. O Estado do Rio, para lembrar, tinha dois Estados: o Estado da Guanabara e o Estado do Rio naquela época. A fusão aconteceu exatamente no momento que a gente estava indo. Então, o meu avô, ele foi, ele era advogado, e foi chefe da fiscalização da – não sei exatamente como era que chamava – Corregedoria do Estado, eu acho e era do Estado do Rio, então ele morou em Niterói até aposentar. Quando meu avô aposentou, voltou para Campos. Eu tinha avós em Niterói, que era perto do Rio, tinha uma tia que é irmã da minha mãe que morava em Niterói, e meu pai sempre teve apartamento no Rio, sempre gostou de ter um pouso para ir ao Rio de vez em quando. Íamos muito ao Rio porque gostava muito de teatro, e aquela história. Brasil mudou para algumas coisas para o lado bom e outras coisas para o lado ruim. Lembro que tinha uns musicais no Rio, no Teatro Carlos Gomes, a gente saía de Campos para ir ver My fair Lady, A Noviça Rebelde. Coisas que a gente viu garoto como o ________________, um garotinho pequenininho para ir para o teatro e tal. Orquestras, tinha concerto no Teatro Municipal, a gente ia, então a gente ia muito ao Rio. O Rio fazia parte da vida, uma vez a cada mês ou dois meses íamos passar um fim de semana, um período no Rio ou em Niterói para ver os avós. Então o Rio fazia parte da vida, não era um negócio tão distante.
P/1 – Esse transporte?
R – Eram trezentos quilômetros de uma estrada asfaltada, tinha voo, tinha na época, Campos tinha até um aeroporto que na época funcionava, tinha uma companhia aérea que chamava Real Aerovias Nacional tinha um voo de DC-3, a gente ia muito de DC-3 de Campos para o Rio. E carro, a viagem era mais longe, mas eram trezentos quilômetros, a estrada já era asfaltada, asfaltada acho que no final do, no meio dos anos sessenta, era uma viagem não muito complicada.
P/1 – Mas, quando vocês pegavam o avião, vocês iam numa boa mesmo menino?
R – Íamos, meu pai sempre foi muito corajoso (risos), ele levava a família toda num DC-3 e pousava ali no Santos Dumont.
P/1 – A sua mãe?
R – Não, sempre acostumou, não tinha problema. A mudança foi natural, o Rio de Janeiro, eu acho que a história da educação sempre esteve na frente na nossa família, meu pai sempre falava: “Eu não quero filho comerciante”. Acho que pelo fato do meu avô tinha recursos e ele estava na faculdade quando o meu avô morreu, ele era muito jovem, ele parou de estudar e foi gastar um pouco o dinheiro e depois acabou tendo que trabalhar e fazer, nada de errado, foi comerciante e se deu bem a vida inteira, mas ele queria que os filhos fossem efetivamente cumprir o que ele deixou no meio do caminho. Ele parou...
P/1 – Que curso que ele parou?
R – Ele parou Economia, estava fazendo Economia e parou no meio do caminho. Então é natural, isso foi muito natural, a família toda, todos, a nossa geração de primos, meus primos todos fomos à universidade no Rio de Janeiro, todos sem exceção. Doze, treze todos formados, vários médicos, advogados, engenheiros, todos, não ficou ninguém sem concluir o Curso Superior no Rio. Era algo natural, não só na nossa família como todo mundo que tinha relação conosco. Então ir para o Rio era assim um fluxo natural da vida, ir para um bom colégio no Ginásio, depois ir para o Rio de Janeiro. Então não foi nada que foi meio traumático, talvez tenha sido um pouco para minha mãe, que ela deixou um pouco dos amigos de lado de Campos, mas, por outro, lado acabou convivendo mais com a irmã mais velha que morava em Niterói, que acabou ficando mais fácil de conviver.
P/1 – Ah, que bacana! E aí você foi para PUC, é isso?
R – PUC, eu e meu irmão. Na época, você tinha duas faculdades, duas universidades boas no Rio de Janeiro, tinha três na verdade: tem o IME, o Instituto Militar de Engenharia, que era muito restrito, só tinha poucas vagas, tinha a Federal do Rio de Janeiro e a PUC, essas duas escolas eram, as três escolas eram muito próximas. A PUC e o IME, o corpo docente era o mesmo, os mesmos professores numa escola, que a UFRJ era mais longe. E a UFRJ era na Ilha do Fundão, não existia Linha Vermelha no Rio de Janeiro, como também não tinha tanto bandido quanto hoje, era mais fácil mas era uma viagem, você tinha que pegar através, não tinha, lembrar, o túnel Rebouças estava recém inaugurado, era algo que às vezes você tinha que passar pelo centro da cidade, ir pela Avenida Brasil, entrar na Ilha do Fundão, levava mais ou menos uma hora para sair da Zona Sul até a Ilha do Fundão. E a PUC era na Gávea, extremamente confortável, ao lado da nossa casa, e era uma faculdade tão boa quanto e tão difícil de entrar. Então nós optamos, meu irmão estudou na PUC e eu também. Na PUC pela facilidade, por ser uma boa escola, um excelente ensino e muito próximo de onde a gente morava.
P/1 – Ele também, que você fez Engenharia Mecânica, ele?
R – Ele fez Eletrônica.
P/1 – Eletrônica.
R – Engenharia Eletrônica.
P/1 – Quer dizer, ele já estava um pouquinho... Você foi calouro praticamente do seu irmão.
R – É, ele estava três anos na minha frente, dois anos. Na universidade a gente tinha dois anos e meio a mais em idade que eu, mas estava dois anos na minha frente.
P/1 – E aí de repente, como você já tinha essa relação mais natural com a engenharia, esse período de faculdade foi tranquilo?
R – Foi tranquilo, foi tranquilo.
P/1 – Correspondeu à tua expectativa assim?
R – Sim, foi bom. Acho que foi algo natural e gostava e foi um curso, fiz Mecânica, não tinha muita dúvida. Foi bom.
P/1 – Tinha campo assim para esse tipo de profissão, na época, no Brasil?
R – Ah tinha, era um Brasil, todo o início, primeira metade dos anos setenta é o Brasil grande, né, é o Brasil que crescia como a China, sete, dez por cento ao ano. Lembro quando, no terceiro ano de faculdade, eu resolvi fazer estágio e tinha, como tem hoje, o Centro de Integração Empresa-Escola, que é um órgão que eu fui lá ver estágio, tinha lá trinta oportunidades de estágio. O que não faltava era alternativa do que fazer, e eu escolhi fazer estágio em Siderurgia, desde aquela época, na Cosigua, que era uma planta que está a oitenta quilômetros na Zona Sul. Eu cheguei em casa, eu lembro que comentei com meu pai, ele falou: “Você tá ficando louco? Você vai ficar o dia inteiro no carro, né? Indo para um lado, para o outro, vai viajar uma hora e pouco”. Mas era a única empresa de Siderurgia que tinha na região do Rio e eu fui para lá, tinha estágio para tudo quanto é alternativa. E logo em seguida, quando eu me formei, já tinha cinco ou seis alternativas reais de emprego, teve a própria Cosigua, o concurso da Petrobrás que eu fiz e passei, depois tinha a Arthur Andersen, que era uma empresa não só de auditorias e de impostos, mas tinha uma área de Sistemas de Tecnologia de Informações, que eu acabei fazendo prova, acabei indo trabalhar, saí da Cosigua e fui para lá um pouco, depois a gente entra nesse capítulo. Mas era muito fácil, naquela época a única coisa que a gente não tinha preocupação era emprego, onde trabalhar não era algo preocupante.
P/1 – Você resolveu fazer estágio no terceiro por sua conta?
R – Foi.
P/1 – Porque não era exigido, né?
R – Não era, não era obrigatório, nem era para o currículo, mas de novo, eu queria mexer, ficar só na aula não funcionava muito bem, né? Então eu resolvi fazer estágio e fui, comecei a fazer estágio na Cosigua em 1970, eu tinha vinte anos, 1973, em 1974. Mas foi bom! Dava trabalho, eu saía da Zona Sul, Santa Cruz está distante, como eu falei, oitenta quilômetros, era uma hora de carro. Me lembro que eu tinha uma bolsa da Companhia que eu recebia para fazer o estágio, eu gastava quase o dobro em gasolina no carro (risos), eu pagava do meu salário mais um pouco para trabalhar. Mas valeu a pena, valeu a pena, foi bom, foi um período interessantíssimo, você entender a coisa, como aquilo funciona na vida real. Porque, o ensino do Brasil, ele é muito acadêmico, né? As minhas filhas, eu morei no total quase oito anos no exterior, e grande parte da educação das minhas duas filhas se deu no exterior, então a diferença do ensino brasileiro muito acadêmico forte, muito focado talvez no ensino francês, ele é muito diferente do ensino vamos dizer britânico, anglo-saxão, que é muito mais prático. E eu acho que sempre, talvez de uma forma meio inconsciente eu sentia falta disso, embora a PUC tivesse excepcionais laboratórios e oficinas grandes na parte de Mecânica, faltava sentir o que era aquilo no mundo real, como associar aquilo à realidade do dia a dia, então eu acho que foi por isso, foi meio inconsciente na época.
P/1 – Por que você optou por Siderurgia, Albano?
R – Aí foi um pouco do que era a moda no momento, né, o que crescia no Brasil naquela época em torno de 1970, crescia muito aqui a Siderurgia, a construção das grandes empresas siderúrgicas, crescimento, plano de expansão da década de setenta. E tinha a parte de energia, construção e eram as alternativas. Então foi um campo que me interessou muito, apesar de: eu sou engenheiro mecânico, com o que a gente chama hoje de Engenharia de Produção, na época chamava Engenharia Industrial. Mas a PUC, por uma, talvez naturalmente, foi também uma consequência do currículo da PUC. A PUC tinha uma escola de Metalurgia e Mecânica muito forte que era a turma do IME, e que os professores eram todos autores de livros, textos, dos livros que a gente estudava, eram excepcionais professores, a maioria deles do IME, generais, mas muito bons e foram pessoas que trabalharam muito fortemente na construção desse Brasil grande de forma real nas empresas. Então tinha muita influência de Metalurgia dentro do curso de Mecânica, era um curso de Engenharia Mecânica focada muito em materiais, que é a parte de material de construção mecânica que são aços e ligas de ferrosos e não-ferrosos. Então tive muito disso no curso, na parte acadêmica, e talvez isso, naturalmente com a siderurgia crescendo, foi uma alternativa. E aí de novo, tô no Rio, o que que eu vou fazer no Rio? Tem siderúrgica? Tem uma siderúrgica, o Gerdau estava começando a construir, a Cosigua crescendo, ela tinha acabado de entrar em operação e estava numa fase de expansão, então tinha muita oportunidade. Então foi o fato... E tinha a CSN perto do Rio, mas aí já não dava para ir fazer estágio, você está a cento e tantos quilômetros, cento e quarenta quilômetros da Zona Sul.
P/1 – Foi o teu primeiro emprego?
R – Foi. Na verdade emprego, emprego não. Porque eu me formei no final de 1975 e aí como tinham várias alternativas, uma delas foi a Arthur Andersen. E aí tem aquela história: vão nas universidades, fazem aquelas apresentações bonitas e aí: “Vocês vão fazer, quem for aprovado nesse teste vai morar nos Estados Unidos, em Chicago, em Saint Charles para fazer o curso de aprimoramento direto”. Só se encanta, né? Nós estamos no Brasil na década de setenta que isso era um negócio, não era tão comum quanto hoje você pega um avião e vai para um lado e para o outro. E aí eu fiz isso, eu acabei indo pra Arthur Andersen, saí da Cosigua, tinha a oportunidade de continuar como engenheiro, não fiquei e fui trabalhar de gravata na Arthur Andersen, mais chique e tal. E acabei indo para os Estados Unidos direto para Chicago, fazer um curso que chamava Systems Installations, né, com parte de Tecnologia de Informação. E fiquei lá nove semanas, voltei para o Brasil, fiz um trabalho na CBMN, na Cyanamid, que a Cyanamid na Dutra, e a CBMN em Araxá. Mas não era, aí cortou o link da habilidade de fábrica, e era um trabalho muito mais de escritório, muito mais de operar em cima de ideias já concebidas por outros, a criatividade mata um pouco. Empresa de consultoria você vai ter que olhar o arquivo, o que já foi feito, copiar e seguir muito nessa linha do que já está feito, do que já está produzido por outros, e mata um pouco aí. Foi um período talvez bom de aprendizado, mas um pouco frustrante do ponto de vista da criatividade, a pessoa... Eu sou muito impaciente, eu não consigo ficar muito parado, eu quero criar e isso foi um aborto para mim, esse período. Eu me lembro muito do Roberto Silva, que era o diretor da Arthur Andersen nessa época, eu queria fazer: “Albano, vai no file, vai lá no arquivo e olha, alguém já fez isso antes, não vamos inventar nada novo”. E isso foi mortal, foi um semestre e nesse final do primeiro semestre, por uma coincidência encontrei com o meu antigo chefe da Cosigua, e ele falava: “Vamos construir um novo laminador, tal, estamos esperando... Você está feliz lá?”. Eu falei: “Pô, mais ou menos”. “Não quer voltar?” Eu voltei. Aí foi a melhor coisa que eu fiz, porque eu fiquei na dúvida se sairia ou não, eu tinha passado nove semanas nos Estados Unidos e aí eu falei: “Eu vou sair”. Eu não tinha compromisso nenhum, não existia o link. Mas aí eu fui conversar com o Roberto, que era o meu chefe na Arthur Andersen, ele falou: “Não, você está indo agora para ficar o segundo semestre inteiro nos Estados Unidos, fazer mais um curso”. Eu falei: “Aí eu não saio nunca mais. É agora, tchau, tô indo, vou virar engenheiro de novo”. Foi talvez a melhor decisão que eu tenha feito. Voltei a trabalhar de calça jeans e como engenheiro e voltei para Cosigua, e fiquei na Cosigua. Eu tinha, era bem jovem ainda, tinha vinte e três anos, me casei no final desse ano...
P/1 – Você está indo rápido!
R – Estou indo rápido?
P/1 – Está indo rápido. Tem algumas coisas que eu quero voltar. Então vamos lá, primeiro, era muito natural nessa época as empresas irem nas universidades para recrutar, né, os estudantes?
R – Ah com certeza, com certeza. Tinha coisas marcantes no Brasil na Engenharia, tinha o prêmio Metal Leve do Mindlin, que eles instituíam os melhores abonos. Então, as empresas, nas melhores escolas, elas eram presentes todo o tempo, tinha palestras das empresas, as pessoas para buscarem os melhores alunos nas melhores escolas. Faltava gente, o Brasil estava crescendo a dez por cento e não tinha, na minha turma de engenheiro formamos vinte, então não era um negócio tão comum. Hoje em dia tem escola de Engenharia, escola de Medicina para tudo quanto é lado, na época não tinha. Então era, não era fácil. Então as empresas iam nas melhores escolas buscar as pessoas. Faltava, o que não faltava era oportunidade de trabalho.
P/1 – E vocês, esse seu grupo de amigos, por exemplo, você fez um grupo de amigos na faculdade, imagino, né? E vocês conversavam sobre essas oportunidades, um ia para cá, outro ia para lá?
R – A minha turma de escola, a gente, normalmente, você tem a turma de Engenharia quase todos viram engenheiros, né? Alguns não viraram engenheiros, viraram banqueiros já naquela época por causa do lado da Engenharia Industrial, Engenharia de Produção, né, que é muito a ver com o lado econômico do negócio. Mas a gente teve muito contato, grande maioria continua em indústria, minha turma foi uma turma muito bem sucedida, acho que quase todos chegaram a presidente de empresa, tem um que é vice-presidente do Itaú, né, foi para área financeira, mas a grande maioria indústria, indústrias de porte, algumas no Brasil, outras fora do Brasil. Mas natural, foi o caminho natural de todos, todos seguiram no processo ou de indústria, ou de empresa de Engenharia naquele momento. Alguns já naquela época, isso tem trinta, quase trinta e cinco anos, mas alguns já foram para o lado financeiro, não direto em banco, acabaram indo para o lado financeiro de empresa e acabaram caindo em banco.
P/1 – Você diz que você chegou a fazer um concurso para Petrobrás e não quis depois?
R – Era alternativa, você tinha várias alternativas, né? De novo, o momento, eu acho que o que eu tinha, eu tinha dois pontos que eram muito fortes para mim: primeiro, o lado da Siderurgia eu sempre gostei muito; e dois, o appeal que apareceu no momento de ir para os Estados Unidos fazer um curso, de novo, computador na década de setenta era um negócio que chamava-se de cérebro eletrônico. Eu me lembro o prédio do Data Centro aqui da PUC, que era um prédio de quatro ou cinco andares gigantesco, devia ter por andar dois mil metros quadrados, tinha um computador que a memória era 64K, a primeira agenda eletrônica que eu comprei da Casio, na década de 1980, final dos anos oitenta tinha 64K, a mesma memória de um computador que pegava um prédio de quatro andares, então era um negócio muito, tinha appeal muito interessante trabalhar em Tecnologia de Informação, instalação de sistemas, era algo muito moderno, muito novo. Ir para os Estados Unidos, a Arthur Andersen era uma megaempresa e nessa parte de sistema ela foi o berço da Accenture, né? A Arthur Andersen, a Accenture nasceu da Arthur Andersen era a parte de sistemas, e foi, isso foi muito empolgante do ponto de vista de estudo, de educação e eu fui. Mas a frustração se deu pelo fato de você entender depois que quem está no Brasil, ou nos países que não são os países líderes, né, do processo você copia e não cria, a criação fica, ficava muito em Chicago que era a sede da Arthur Andersen mundial. Mas isso foi, o fundamento foi esse, né? Pegar coisas onde pudesse criar e o mundo siderúrgico na época me foi interessante porque era tudo novo, tudo crescendo, sendo instalado. A Gerdau hoje é o décimo grupo produtor de aço do mundo, na época ele tinha uma usina no Rio Grande do Sul e estava fazendo a segunda usina no Brasil, produzia um milhões de toneladas por ano, nem isso, pouquinho menos. Era tudo, tudo crescia, tudo era oportunidade de crescimento, isso era muito interessante.
P/1 – E a gente está falando muito de trabalho, de estudo, mas você se divertia também, né, namorava. O que vocês faziam? Era em grupo, era sozinho, ia para o cinema?
R – Eu gostava muito de esporte, e o esporte nessa época, também não tinha, não mudou bastante: eu jogava futebol, vôlei na praia e tênis, e era basicamente o que a gente fazia de esportes, mas eu gostava muito desse tipo de esporte. Eu nunca fiz muito esporte de confronto, eu tive um acidente aos dez anos, eu fiz, tive um acidente, cortei a vista esquerda, tive um acidente grave, quase fiquei cego e foi um negócio complicado. Então eu tive uma cirurgia muito longa e fiquei um mês com as duas vistas tapadas num período de férias, eu estava de férias no Rio e foi um acidente. Daí a partir, eu já usava óculos, eu uso óculos acho que desde que, acho que quatro anos, quando eu fui para o maternal eu já tinha miopia e descobri que não conseguia, comecei a usar óculos desde garoto, e quebrou a lente e cortou a vista, e daí todo esporte que tinha confronto: futebol, basquete eu estava fora. Meu pai jogou basquete muito tempo, mas eu não podia porque eu acabava ficando um pouco receoso. Então era tênis, um bom esporte, vôlei que você não tinha confronto, futebol na praia um pouco mais com cuidado, mas eu jogava sem os óculos, não tinha mais o risco. Esse foi o lado do esporte, né? Em termos de vida...
P/1 – Tênis você jogava em clube?
R – Jogava tênis em clube.
P/1 – Em que clube lá no Rio?
R – Lá no Rio eu jogava muito no Monte Líbano, ali na Lagoa, e tinham vários amigos, às vezes jogava no Caiçara, às vezes ficava ali jogando tênis, mas era um esporte que a gente jogava bastante, na faculdade também juntava a turma da escola para jogar. O que a gente...
P/1 – Para se divertir?
R – Diversão era praia, o Rio era diferente, né, você tinha, eu tenho filha que mora no Rio hoje, a mais nova, o Rio a diversão era completamente diferente, muito mais saudável, né, ir para praia, jogar vôlei, sair. Quando eu saía, as festas além da meia noite era o carnaval, eram coisas muito mais tranquilas. A minha esposa, eu estou casado há trinta e três anos, eu namoro a minha esposa há quarenta, então eu já estava, já tinha essa namorada, comecei a namorar...
P/1 – Primeira?
R – Foi a segunda, dela eu fui o primeiro, eu a segunda. Quer dizer, eu comecei a namorar eu tinha dezesseis anos, ela tinha treze e fomos então. Então eu já estava namorando, ela não morava, ela morava em Campos, eu no Rio e aí tinha aquela viagem no fim de semana e tal uma vez por mês, era mais complicado do que é hoje em dia. Mas era uma vida, a juventude foi muito alegre, né, acho que tranquila e boa.
P/1 – Novinho você já namorava, quer dizer, na época da faculdade você já estava namorando com ela...
R – Todo o tempo, todo o tempo.
P/1 – Como ela chama?
R – Rita.
P/1 – Rita. Amor à primeira vista pelo jeito?
R – Foi, conhecia as famílias e acabou naturalmente, foi algo de se conhecer já há bastante tempo e acabamos namorando.
P/1 – Na sua época de faculdade ela continua em Campos ou ela já morava...
R – Continua em Campos, ela já estava fazendo faculdade, ela é formada em Letras, Literatura e acabou o curso em 1976, um ano depois a gente casou, logo em seguida.
P/1 – Casou também bastante jovem, né?
R – Sim, eu tinha vinte e três e ela tinha vinte, vinte e um.
P/1 – Puxa vida. Mas assim...
R – Vinte? É 1976, vinte e um. Tinha acabado de fazer vinte e um anos, hoje em dia eu fico vendo as minhas filhas, uma tem trinta e um, outra tem trinta, estão solteiras ainda, namoram, mas estão cuidando da vida profissional. A gente imagina com vinte e um anos e vinte e três casados, e a Carol, a minha filha mais velha nasceu, minha mulher tinha vinte e dois e eu tinha acabado de fazer vinte e cinco anos. Então é um negócio meio anormal, mas na época fazia parte um pouco do dia a dia, a vida era assim, né?
P/1 – Quer dizer, nesse seu tempo de faculdade ela estava junto, quer dizer, as festas...
R – Junto mas em Campos, eu estava mais no Rio, enfim, uma vez por mês ela vinha para o Rio...
P/1 – Mas vocês frequentavam lugares juntos, festas juntas, né?
R – Lógico, lógico lógico.
P/1 – Mas tinha um horáriozinho com os amigos, hora com as amigas?
R – Ah tinha, a gente sempre teve uma vida muito, vamos dizer, muito cordata e um convívio muito fácil, foi tranquilo, eu não tinha muita restrição e a gente teve uma vida boa enquanto namorado, e foi tranquilo.
P/1 – Legal. Quando você foi para os Estados Unidos, vocês já tinham casado, não? A primeira vez não?
R – Não, solteiro, não não, solteiro.
P/1 – Ela não ficou preocupada?
R – Mas era natural, essas coisas acho que ir do lado, de novo, a Rita sempre foi muito boa aluna também. Então ela, o lado acadêmico, ele justificava muitas coisas. E além disso, nós fomos, passamos todo o tempo da universidade, cinco anos, eu ia a Campos uma vez por mês, não ia toda semana, ela vinha ou eu ia uma vez por mês também. Então não era um negócio muito, você tinha uma certa distância também natural.
P/1 – Vocês se falavam por carta ou por telefone?
R – Telefone, telefone.
P/1 – Telefone. Era fácil ligar, não tinha?
R – Era fácil, não tinha. Já não era tão complicado, né? Já não era tão complicado na década de setenta.
P/1 – Mas tinha cartinhas também ou não?
R – Também, é lógico.
P/1 – Você guardou?
R – Ela guardou todas as nossas, as minhas e as delas. Mulher gosta, bem mulher sempre... E ela formada em Literatura, sempre gostou. Tinha uma relação, não era muito normal, né, era cada uma minha de umas dez dela (risos). Ela reclamava muito disso, mas não tinha muito tempo. Eu fazia estágio em Santa Cruz, eu tinha aula, a PUC era uma escola muito forte do ponto de vista acadêmico, tinha muita aula, eu tinha, meu dia era muito puxado. Então realmente eu chegava em casa à tarde cansado, realmente não era para ficar muito tempo sentado escrevendo, preferia agarrar o telefone e ligava, era mais fácil.
P/1 – Tá certo. Então a sua trajetória, você começou na, deixa eu ver se eu marquei certo o nome da sua empresa.
R – Cosigua, primeiro como estagiário...
P/1 – Primeiro a Cosigua como estagiário...
R – Arthur Andersen.
P/1 – Depois você foi para Arthur Andersen, depois você voltou para Cosigua.
R – Voltei para Cosigua e aí...
P/1 – Nesse tempo que você casou? Só para gente...
R – Casei, já tinha voltado na Cosigua, já estava. Eu casei em dezembro, 18 de dezembro de 1976, e eu já eu voltei para Cosigua em julho, eu fiquei na Arthur Andersen de dois de janeiro a julho, fiquei nos Estados Unidos dois meses e pouco, voltei para o Brasil e daí em julho eu voltei para Cosigua, já estava na Cosigua quando eu casei.
P/1 – Depois eu quero falar mais um pouquinho do casamento, mas agora eu queria pensar essa coisa da trajetória. Aí da Cosigua você...
R – Cosigua eu fiquei...
P/1 – ... foi mexer, voltou a mexer nas coisas?
R – A Siderurgia, comecei a trabalhar em manutenção. Em manutenção eu comecei, aí trabalhando como departamento de Siderurgia, eu comecei a estudar um pouco mais de Metalurgia, né? E aí fui fazer um curso, na época os nomes eram muito diferentes, né? O curso de pós-graduação que chamava era um curso de extensão em Metalurgia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que se chamava UEG, né, que na época virou UERJ. E aí eu saía do trabalho, foi um período difícil, né, esse período na época que eu estava casado, já tinha nascido filho, primeira filha, a segunda já estava vindo a caminho. E eu saía de casa, a Cosigua era em Santa Cruz, eu saía da Zona Sul seis e pouco da manhã de carro, porque eu voltava de noite, ia para universidade, chegava em casa onze horas da noite e ainda tinha mulher grávida, um filhinho pequeno, um negócio, uma filha pequena, complicado. Foi um período de quase um ano e meio difícil, né? Trabalho. Mas fiz um curso de pós-graduação em Metalurgia na UERJ, isso foi feito ainda em 1978, final de 1978, meados de 1978 e final de 1979, se eu não me engano. E aí fui trabalhando, e na Cosigua eu fui crescendo em manutenção, depois virei gerente de manutenção da área de Mecânica da usina. E no final dos anos oitenta, setenta, no início dos anos oitenta eu era jovem, eu tinha, 1981, eu estava com vinte e oito, tinha feito vinte e oito anos, mas eu já tinha muita experiência, eu tinha quase dez anos, nove anos já de trabalho em Siderurgia. E eu era absolutamente impaciente, né, eu sou muito inquieto, e muito... Acomodado é uma palavra que não faz parte do meu...
P/1 – Você não era, você é (risos), dá para perceber!
R – Acomodação não faz parte do meu vocabulário, né? Aí nesse momento a Cosigua estava crescendo, teve uma expansão grande, que era passar de um milhão de toneladas – e lembrar, a Cosigua é uma empresa controlado, no início era um joint venture de Gerdau com Thyssen alemã, era cinquenta-cinquenta, em 1979 a Thyssen sai e o Gerdau fica com cem por cento da empresa, é uma S.A. de capital fechado ainda, e o Gerdau era dono de cem por cento da empresa e as oportunidades de crescimento, de cargos mais elevados na companhia começaram a aparecer e eu me achava absolutamente capaz de assumi-los, e a frustração é que vieram vários gaúchos para o Rio de Janeiro, porque tinha, com certeza, é natural, acho que as pessoas de confiança estavam próximos dos donos em Porto Alegre, em Sapucaia na Usina da Rio Grandense e acabaram vindo, veio uma leva de gaúchos, alguns deles são meus amigos até hoje. E aquilo me deixou muito incomodado, aquilo me deixou extremamente incomodado eu vendo que algumas pessoas vieram, eu os achava menos competentes do que eu, mais velhos do que eu todos eles, tinha um pouco do lado da idade, mas eu me sentia muito mais capaz de fazer o que eles estavam fazendo e não foi, nem o argumento de explicar por que que eu não fui. Bom, nesse momento o Brasil crescendo, né, e aí surge a construtora Mendes Júnior, na época, construindo uma usina siderúrgica em Juiz de Fora, um projeto estava no início do projeto em 1981, Juiz de Fora é em Minas Gerais, mas eles são chamados de “carioca do brejo”, né, a turma está muito próxima da divisa de Estado do Rio. E aí eu já tinha duas filhas e o Rio de Janeiro já começava a ficar um pouco complicado e filhos pequenos, a Rita parou de trabalhar, ela trabalhava no Consulado da África do Sul quando nós nos casamos, e aí ela estava já em casa, eu comecei a pensar sair do Rio não poderia ser um negócio muito ruim. E esse pessoal do projeto da Mendes Júnior, fui procurado por um, na época não chamava headhunter era uma de alocação e me fizeram uma proposta de trabalho que eu achei fantástica de ser, eu fui superintende de construção dessa usina com vinte e nove anos, era um garoto e eu fui. E aí eu fui, virei diretor, era um cargo quase de direção, me lembro eu chegando na primeira reunião aqui no Promo em São Paulo na Nove de Julho, no projeto, eu fui de calça jeans, camiseta Lacoste vermelha e todo mundo de terno, eu cheguei: “Mas o que que esses caras são? E por que terno? Somos engenheiros e todo mundo de grava”, né?”. Eu cheguei absolutamente informal, mas eu tinha, eu fui em 1981, eu tinha exatamente vinte e oito anos. Eu fui para o projeto, não tinha ainda as funções, eu acabei saindo da Cosigua, indo para o projeto da siderúrgica Mendes Júnior, em junho de 1981, fui para Belo Horizonte por um período de seis meses, a família ficou no Rio nesse período, porque em 1982 iríamos todos então paro o início da usina em Juiz de Fora, eu ia me mudar com a família para lá.
P/1 – Teve uma vantagem, além do trabalho, financeira que você lembre? Foi bastante?
R – Ah sim, foi um salto, foi um salto, eu saí era gerente de manutenção, nível de chefia, e virei superintende de construção de oitenta por cento da usina, e depois ia cuidar da operação. E foi um trabalho muito bom, esse trabalho foi um período bom, foi formado um grupo muito forte de técnicos excepcionais de várias empresas, formalmente do Gerdau, gente da Belgo Mineira, que é uma empresa de aços longos, e algumas pessoas que vieram da própria Siderbrás, da CSN que estava perto no Estado do Rio, Juiz de Fora estava muito próximo dessa região. Então foi um trabalho bom, essa usina foi construída entre 1982 e final de 1983, início de 1984, entrou em operação em 1984 e eu era superintende de produção da usina. Então foi um período bom.
[pausa]
P/1 – Então vamos continuando, aí nessa época da construção.
R – A usina entrou em operação em 1984, fizemos um grupo técnico excepcional. Essa planta, é uma planta primorosa, o grupo Mendes Júnior teve problemas como construtora, inclusive quase quebrou, fechou grande parte das suas operações, tinha operações muito grandes fora do Brasil, construção no Iraque e isso complicou, mas eram dois mundos distintos: a Siderurgia não tinha muito contato com o mundo da construção da Mendes Júnior. Essa empresa, a siderúrgica Mendes Júnior, empresa de longos de um milhão de toneladas/ano, uma empresa grande para produtos longos, ela hoje é do grupo Belgo, da Arcelormittal, e ela é a melhor planta em termos de índice técnico, produtividade do grupo Arcelormittal do mundo. A planta é primorosa, ela foi construída com muito cuidado, e foi muito bem operada desde o início. Então fizemos coisas lá do tipo: não tinha nenhum operário na usina que não tivesse curso técnico. Cem por cento da mão de obra de manutenção, de operação eram jovens técnicos, com Escola Técnica de Juiz de Fora. Uma cidade tem ótimas escolas, tem uma universidade federal lá muito boa com colégio técnico da universidade muito bom, e por isso ela acabou trazendo ao lado desse Centro Técnico Universitário, boas escolas técnicas também na cidade. E era um centro de educação de toda aquela região de Zona da Mata, então tinha muita disponibilidade de boa mão de obra jovem, com bom curso técnico, né?
P/1 – É uma mão de obra regional interessante, né?
R – Regional que fica ali, sem pouca migração e que ficava na cidade. Aquilo era o melhor emprego que eles poderiam querer da vida. Então foi feita uma empresa primorosa do ponto de vista operacional, e foi bem até que o grupo Mendes Júnior foi mal, acabou indo parar na Belgo Mineira, mas a empresa continuou sempre. Fiquei lá até, fiquei de 1981 até final de 1989, porque saí. Saí por uma razão pura e simples: de novo do acomodar, né, eu cheguei num nível que eu para ser promovido, tinham três, quatro diretores estatutários, eu tinha que matar um deles, né, não tinha, a empresa não tinha mais tamanho e o que era o meu chefe é meu amigo pessoal até hoje (risos), e não era muito, era mais velho do que eu, dez anos a mais, mas também ainda estava jovem e eu tinha que matá-lo para ser promovido ou crescer ali dentro, eu estava começando a entrar em rotina, né, que é algo que para mim me deixa absolutamente louco. E olhando um Brasil começando a entrar numa recessão pesada, início dos anos oitenta, foi a recessão mundial, mas no Brasil foi muito pesada, foi a freada do crescimento, saiu de um crescimento taxa de sete, oito, dez por cento com crescimento quase zero.
P/1 – Até porque o setor siderúrgico talvez seja um dos primeiros a sentir isso, né?
R – Exatamente, indústria de base, você freia e pega forte nesse processo. Junto com isso veio o problema do grupo Mendes Júnior, quer dizer, começava a ver a empresa sangrando, o caixa da companhia por outro lado saindo de um negócio que está indo bem, indo para o um negócio que não estava indo muito bem, você começa a ficar preocupado. E aí vem as primeiras oportunidades e tudo, a conjugação vem toda a favor, né? Então, lembrando o Plano Cruzado, os mais jovens não viveram isso, mas nós vivemos, Plano Cruzado em 1986, governo Sarney, Funaro, tudo errado, entra 1988 Plano Bresser, inflação de um por cento ao dia, oitenta, noventa por cento de inflação, o mundo completamente louco. Aí é um mundo completamente artificial. Eu sempre fui muito crítico, né, e eu acompanhei muito a história do profissional, do meu pai, né, ele trabalhando, sempre loja, meu pai trabalhava sete dias da semana, tinha loja em shopping, então domingo ele descansava. O hobby do meu pai era trabalho, a vida inteira ele não sabe parar, meus pais, meu pai está parando, ele está fechando, ele tem um escritório que não faz mais nada, mas ele vai todo dia para o escritório dele de terno até hoje. Agora ele está parando, chega, porque está começando já a complicar, cai na rua, não dá mais para fazer isso. Mas sempre era o trabalho, era algo que era muito normal ver crescimento de trabalho. Aí você começa a ver naquela década de oitenta, final dos anos oitenta, com uma inflação desse tamanho, com um sistema de remuneração de poupança overnight, fundo ao portador, aí você com o teu trabalho, poupando naturalmente, eu trabalhava, a minha esposa trabalhava de volta nessa época, voltou a trabalhar. A gente tinha uma capacidade de poupança, eu acabava recebendo mais dinheiro de juros do que eu recebia como superintende de produção de uma empresa grande. Então eu tinha uma vida completamente artificial e isso criava, estava criando duas filhas, já na época com dez anos, né, num mundo diferente, muito diferente do que eu tive na forma de educar. Então tinha motorista para levar as meninas para balé, para aula de Inglês, para aula de não sei o quê, escola, porque os dois trabalhávamos. Então era uma vida muito maluca em relação à vida que eu tive como infância, e a minha mulher também. Eu falei: “Acho que tem alguma coisa que tá errada nesse Brasil”. E nesse mesmo período, em 1986, 1987, eu sempre viajei muito para o exterior, os equipamentos de Siderurgia são muito, todos eles eram importados, não tem nada de tecnologia brasileira ou eles eram europeus, ou japoneses, alguma coisa americana, mas eu tinha ido muito. Lembrar a década de oitenta, foi a década dos círculos de qualidade, dos Demings da vida, empresas japonesas. Então eu vivi grande parte da década de oitenta muito tempo no Japão, muito tempo nos Estados Unidos, muito tempo na Europa, em fabricantes de equipamentos, em produtores de aço, então tive muita exposição a esse mundo. E conheci aí por uma coincidência, no final de 1986, num encontro de Siderurgia na Alemanha, uma família australiana que estava construindo uma usina siderúrgica na Austrália. É uma família tipo, muito parecida com a história do Grupo Ermírio de Moraes, família de industriais russos que migraram para Austrália na década de vinte e estavam começando a fazer uma siderúrgica. Eu tinha apresentado um trabalho nesse congresso de Siderurgia lá na Alemanha, e por uma coincidência no jantar, num jantar de quinhentas pessoas com lugar marcado, eu estava sentado ao lado do dono desse grupo. Aí apresentado, queriam conhecer as usinas no Brasil, vieram ao Brasil logo depois da Alemanha, e aí criou, fiz um link de contato em 1986, 1987 e que ia se mantendo por Telex, na época, era Telex, um negócio complicado, fax, apareceu a máquina do fax naquele momento. Mas a gente manteve um contato, e quando chegou em 1988...
P/1 – Esse contato era o quê? Era mais do ponto de vista técnico, né?
R – Ponto de vista técnico. Eles vieram conhecer, aí visitaram a Mendes Júnior, visitaram ali a Cosigua na Gerdau, eu arrumei visita para eles na Belgo em Monlevade, eles visitaram todas as empresas do Brasil de produtos longos na época.
P/1 – E o interessante é isso, quer dizer, como é que vem um pessoal da Austrália, da Europa, do chamado Primeiro Mundo conhecer o nosso jeito...
R – A Siderurgia do Brasil sempre foi boa. A gente, essas empresas foram construídas ou modernizadas na década de setenta nesse crescimento do Brasil, e a gente sempre foi muito bom em Siderurgia, não é um negócio muito novo. Apesar das empresas, algumas delas serem estatais, o setor de longo sempre foi privado. As estatais, elas melhoraram muito, deram um impulso gerencial a partir da privatização, mas a tecnologia sempre foi muito boa. A gente tem muito minério de ferro de boa qualidade no Brasil, então isso sempre foi algo em que a gente foi bom. Excelência em Mineração e Siderurgia no Brasil sempre foi algo muito presente. Bom, então daí criou esse contato. Quando chegou em final de 1988, início de 1989 eles estavam partindo a usina que eles estavam construindo nessa época, e eles me ligaram, eu não lembro se ligaram ou foi por fax, mandaram uma carta, perguntando se eu não queria ajudá-los a partir com a assistência técnica. Falei: “Austrália, Brasil não dá pra gente pensar”. Nós fazíamos muito trabalho de assistência técnica na época da siderúrgica Mendes Júnior mais aqui na América do Sul, plantas no Peru, na Argentina, mas a Austrália estava muito longe, né? E aí a conversa foi indo até que eles sugeriram: “Você não quer passar um tempo na Austrália?”. Eles logicamente estavam acompanhando a confusão brasileira, né, a inflação, hiperinflação, uma vida complexa do ponto de vista de quem tem, a Austrália era lembrada nessa época, a Austrália tinha a inflação ao ano de um por cento, nós tínhamos um e meio ao dia. Então veio essa primeira tentação, “Bom, você não quer vir pra Austrália?”. Primeira reação foi não, depois veio, vem vindo essa confusão e toda essa educação dos filhos, você vê que está, começava, eu estava criando filhos com um pouco dos conceitos errados, né? Tudo era mais fácil, embora, despertasse, a turma lá em casa sempre foi boa alunas, minhas filhas sempre foram boas alunas, mas fica fácil de eu trabalhar, a minha mulher trabalhar, éramos dois profissionais que viviam do trabalho mas eu tinha, não podia levar as meninas, tinha um motorista, levava as meninas para escola. Elas estavam sendo criadas, acabava tendo dinheiro porque eu, a poupança, e fundo de investimento, você acabava tendo capacidade financeira e estava criando algo errado. Eu falei: “Bom, eu acho que vou passar um tempo fora do Brasil” e aceitei ir para Austrália.
P/1 – Nossa, e o que que a Rita falou disso?
R – Ela adorou!
P/1 – Ai que bom!
R – Porque, a Rita, ela deve ter um ar cigano na família dela, os avós. A família dela é de Andaluzia, da Espanha, né, os avós, então deve ter um lado cigano ali marroquino, alguma coisa no ar ali que ela adorou, e ela era formada em Literatura Inglesa, então era professora de Literatura Inglesa, então adorava. Então estava perfeito, vamos para... Bom, fui a Austrália para conhecer...
P/1 – Você foi primeiro sozinho ou já foi de vez?
R – Eu fui primeiro em 1989, em julho, em setembro eu fui com a Rita, passamos dez dias lá para conhecer a cidade, eu fui para Melbourne, eu morei em Melbourne, que fica no sul da Austrália, que é uma cidade grande, segunda maior cidade, mas é a cidade, é a São Paulo da Austrália, é a cidade industrial, a indústria automobilística está lá, grande parque siderúrgico está por perto. Aí eu fui conhecer, achei que era uma boa oportunidade e foi um salto, eu era o diretor geral dessa planta, dessa siderúrgica, dessa empresa e eu tinha trinta e seis anos. Estava jovem, então foi uma boa oportunidade, aí fui embora. Aí fui para um contrato de três anos, eu a Rita e minhas duas filhas. Chegamos lá em...
P/1 – As meninas já eram grandinhas, né?
R – Uma com onze e outra com dez.
P/1 – E elas acharam bacana?
R – Adoraram.
P/1 – Adoraram, né, porque é uma farra, né?
R – Com essa idade vai com o pai vai até para Lua, vai junto, não tem problema.
P/1 – E foi fácil? Vocês se adaptaram rápido?
R – Foi fácil. A Austrália é um lugar fabuloso, é um lugar muito interessante. Talvez seja o lugar mais fácil para se viver no mundo. Na Austrália tudo é fácil, tudo é muito simples e tudo é muito desburocratizado, a vida é muito tranquila. Mas nós fomos para lá. Quando eu fui em setembro, o ideal, o conceito era fazer um doutorado de vida, você sai um pouco daquela confusão do Brasil, ensinar às nossas filhas um pouco da qualidade, o que que a vida representa, né? Então fomos ver escola, primeiro ponto era uma escola padrão melhor que tivesse em Melbourne. E aí a família como era a família mais rica da Austrália, a família (Smorne?), eles tinham uma capacidade e são muito, eram muito benemerentes, então faziam muita, influenciavam muito no lado de Educação, de Saúde no país com doações. Então, essa escola que as minhas filhas estudaram é a melhor escola da Austrália, é um college britânico chamava Wesley College, tinha acento __________ novo, os ingleses chegaram lá para fazer a cadeia em 1788, e vinha uma escola já de cem anos, cento e vinte e cinco anos na época estava comemorando, é uma escola muito boa, dificílima de entrar, ao ponto de você, quando ficava grávida, a esposa, você tinha que fazer o booking para conseguir uma vaga no (prep ?), senão você esquece. Tinha dois campus em Melbourne e eu consegui pela influência da família que as minhas filhas fossem estudar nessa escola, é uma escola ________, que chama que é homens. Porque é muito comum lá a escola só de meninos, colégio só de meninas, e eu e minha mulher achava um mundo ter homens e mulheres, você tem que viver, conviver um com o outro no dia a dia desde pequeno. Elas foram para essa escola, e isso foi fundamental, foi excepcional, a escola é excelente, excelente escola com coisas que a gente aí nunca, eu nem sabia que existia, e pelo lado do Brasil tem um ensino muito acadêmico, eu estudei em um Liceu, eu estudei em um colégio chamado Liceu de Humanidades, era um colégio muito focado no Ginásio, no Científico, no ensino de Francês que é puramente acadêmico. E essa escola tinha campo de sobrevivência, minhas filhas fizeram camping na selva, passar dez dias sem ter comida, ter que tratar a água de rio para beber, e fizeram remo. O que você imaginar de esporte, de culinária, várias línguas, as duas falam quatro idiomas, a mais nova tem o Japonês, a mais velha fazia Inglês, Francês e Espanhol. Então foi uma educação excepcional. Fizeram quatro anos, acabamos ficando quatro anos. Eu fui ficar três anos, cortando rápido para economizar um pouco de tempo, esse processo no final de primeiro ano eles fizeram uma proposta para ficar mais tempo, eu fiz um contrato para sete anos, pensando em ficar até o final do Científico, ou seja, do Segundo Grau das minhas filhas e voltar para o Brasil. No meio do caminho, a minha sogra faleceu, apareceu com câncer, o meu sogro já havia falecido antes, a minha mulher é a filha mais velha, com irmãos mais novos, ela ficou querendo voltar. E a minha mais velha foi, o catalisador, começou a arrumar um namorado na Austrália. Minha mulher falou: “A gente não volta nunca mais!”. Ficamos aqui por um período de tempo, e aí com isso voltamos no meio do quinto ano. Fiquei quatro anos e meio, voltamos para cá em 1994, fiz um acordo lá, sou amigo deles até hoje, fui muito à Austrália logo em seguida. E voltei ao Brasil para fazer uma empresa de consultoria, porque nesse momento o Brasil estava sendo, tendo a Siderurgia toda privatizada. E aconteceu a primeira privatização da Usiminas em 1991, depois veio a Cosipa, depois a CSN em 1993, veio CST em 1993 também. Então foi um ano, foi um período da privatização do setor siderúrgico, principalmente setor de planos, a Acesita também e comprado, fundamentalmente por bancos. Os grandes compradores, alguns grupos industriais poucos, mas os grandes compradores eram os bancos porque foi um momento do Brasil muito ruim, as empresas muito desvalorizadas, não tinha, não se enxergava muito o valor que aquilo poderia criar e os bancos tinham moeda de privatização, tinham títulos do governo que eram, tinham um valor de face mais baixo e eles trocavam um para um e saía fora da desvalorização do título do governo. Então os bancos compraram e eu voltei para o Brasil, montei um escritório de consultoria no Rio. Voltei para o Rio, as minhas filhas foram estudar no colégio que eu tinha feito o cursinho pré-vestibular, no ano tinham os convênios com as escolas, era um colégio muito forte academicamente, era o Colégio Santo Agostinho lá no Leblon, então um colégio, São Bento, Santo Agostinho, Santo Inácio são os três colégios melhores do Rio de Janeiro e entra direto na universidade. A minha filha mais velha chegou no último ano do Científico, e a mais nova no segundo, acabaram de fazer o Científico lá. Fui morar no Leblon ali, montei um escritório achando que eu ia morar, trabalhar ali. Bom, a vida não (risos), funcionou bem por uns dois meses. Mas aí, logo em seguida, comecei a fazer muito contato com as empresas de consultoria grandes e o setor siderúrgico, e aí todas as empresas: McKinsey, todas elas estavam com muitos trabalhos nas empresas de porte privatizados para fazer o rearranjo gerencial. E aí eu trabalhei muito nesses dois primeiros anos com essas empresas e dentro dessas empresas privatizadas, as empresas de produtos, atuando para fazer os acertos, mudanças gerenciais. Acabei nesse período, entre 1994, isso foi o ano de 1994 quando eu cheguei, depois 1995, indo trabalhar muito próximo do corpo, presidente dessas empresas todas. E acabou que final de 1995 a Acesita, que era uma empresa privatizada, que tinha comprado uma participação na CST, Siderúrgica Tubarão em planos, e tinha comprado na Aços Villares, me chama para participar do Conselho de Administração da CST e da Aços Villares, como membro da Acesita. E aí por uma questão de estatuto não podia ficar como consultor, e aí fiquei naquele ________ e acabei indo, me convenceram, foi bom, fui ser diretor de desenvolvimento da Acesita para trabalhar no desenvolvimento dessas empresas coligadas, e trazer um sócio estratégico para o setor siderúrgico de inoxidável, para Acesita. É meio complicado porque a minha filha mais velha já estava no primeiro ano da universidade de Medicina na Federal do Rio de Janeiro, ela é médica, a minha filha mais velha é médica, e a mais nova estava fazendo o último ano do Científico para fazer Administração de Empresas, ela acabou fazendo Administração de Empresas. Eu fui para Belo Horizonte, a Rita ficou com as meninas um primeiro período no Rio, depois a Rita foi com a... Bom, aí chegou o vestibular da Alice, da mais nova, ela fez vestibular no Rio e em Belo Horizonte, passou para ambas universidades que ela queria, no Rio e em Belo Horizonte. Aí optou, a Rita falou: “Agora eu vou, vou deixar as meninas no Rio”, deixando, a gente tinha uma ótima empregada, estavam adultas já. Bom, as minhas filhas são absolutamente autônomas, o tempo de Austrália foi perfeito, o tempo de sobrevivência em casa sem empregada, tinha que arrumar a cama, tinha que fazer comida, tinha que limpar o que fazia, a vida fica mais natural e mais saudável. Então fomos para Belo Horizonte, ficou a Carol no Rio, morando no Leblon, sozinha, e a Alice veio com a gente para fazer faculdade de Administração na PUC, em Belo Horizonte, e a Rita. E fiquei em Belo Horizonte o ano de 1997, 1996 no final da segunda metade, 1997 o ano todo, 1998 a gente conseguiu concluir uma série de operações, inclusive um aumento de capital para trazer o sócio, a Usinove aí para ser acionista da Acesita, para ter, vamos dizer, um networking de aço inoxidável mundial, não dá para viver como uma empresa local. E aí, bom, acabou a minha missão porque o meu trabalho de consultor começou por aí, para trazer um sócio estratégico, integrar essas empresas que tinha, que a Acesita tinha comprado no CST e a Aços Villares. Então o processo concluiu, chegaram os franceses, eu falei: “Agora eu tô liberado”, com a filha no Rio e outra em Belo Horizonte, né, meio do caminho. E nesse período a CSN tinha acabado, tinha me chamado para ser diretor de operações da CSN no meio de 1998. “Deixa eu acabar o trabalho”. Quando acabou, eu entreguei para os franceses, chegaram os novos donos, não tinha mais muitos diretores de desenvolvimento e estratégia numa empresa que a sede é em La Défense, em Paris, não tem muito sentido fazer nada aqui pelo Brasil. Eu saí e fui para CSN direto, um dia para o outro, como diretor estatutário na época de Desenvolvimento de Novos Negócios. A CSN tinha uma, estava no Rio, o escritório ainda era no Rio, centrão. A CSN não tinha presidente, tinha uma estrutura, tinha o presidente do Conselho que era o Benjamin Steinbruch e tinha quatro diretores estatutários, um era o José Carlos Martins, que hoje está na Vale, que era o diretor do chamado Aço, superintendente de Aço. Tinha a Maria Silvia Bastos que era diretora de Centro Corporativo. Tinha o José Paulo Alves que era diretor de Infraestrutura e Energia, eu fui o quarto como diretor de Desenvolvimento em Novos Negócios. Então entrei na CSN em finalzinho de 1998, início de janeiro de 1999, na verdade entrei um pouco antes do final do ano e fui para o Rio, voltei para o Rio. Aí ficou a Alice acabando a faculdade em Belo Horizonte (risos) e a Rita ficou esse primeiro ano, em 1999, com a Alice em Belo Horizonte, eu com a Carol no Rio, a mais velha no Rio. Mas eu viajava muito, a CSN tinha operação em Volta Redonda, escritório comercial em São Paulo, aqui na Juscelino Kubistchek, ali no condomínio São Luiz, tinha, nós tínhamos uma mina em Casa de Pedra em Congonhas, em Belo Horizonte. Nós estávamos construindo uma fábrica nova em Paraná, desse projeto em Araucária, querendo internacionalizar a companhia. Então o único lugar que eu não parava muito era no Rio de Janeiro. Mas foi um período bom, e logo em seguida, isso em março foi, mudou-se a estrutura, foi criada a função então de presidente, a Maria Silvia foi promovida a presidente da Companhia e nesse período o Martins acabou saindo indo, para Latasa e eu acabei trocando e virando diretor chamado superintende da área de Aço que era comercial, era o responsável pela parte siderúrgica da CSN. Eu tinha área comercial, tinha área de Produção, área de Engenharia. A empresa tinha nove mil empregados, eu tinha sete mil e poucas pessoas.
P/1 – Deixa eu te perguntar uma coisa: a CSN foi uma empresa estatal durante milhares de anos, né?
R – Desde quarenta e um, a construção até...
P/1 – Desde quarenta e um. Quer dizer, devia ser muito... Se bem que você já tinha uma passagem pela Acesita, mas é muito diferente, né, os processos?
R – Foi, foi e foi um período interessantíssimo porque a privatização foi em 1993, mas a estrutura societária só se definiu, mais ou menos, em 1996 quando o Bamerindus saiu, o Vicunha comprou parte do Bamerindus junto com o Bradesco e com a Previ e com o Fundo de Pensão da Vale do Rio Doce, Valia, esse eram os controladores, uma pequena participação da caixa dos empregados, mas fundamentalmente você tinha Bradesco, Previ, Vicunha e Caixa, a Vale do Rio Doce num processo que não era muito normal, porque logo em seguida, no ano seguinte. Aliás, em 1997 a CSN tinha comprado o controle da Vale no Consórcio que chamava (Lepar ?) ela tinha o controle da Vale, o Benjamin, inclusive, era o presidente do Conselho da Vale do Rio Doce. Então essa empresa era uma empresa que veio vindo, ela foi privatizada em 1993, a diretoria executiva até final de 1996, início de 1997 era a mesma diretoria estatal. E em 1997, 1998 foi quando começou, a Maria Silvia chegou, o Martins chegou no início de 1998, o José Paulo logo em seguida, e eu final de 1998. Foi a diretoria executiva que não tinha vínculo com a CSN estatal, foi, a real privatização aconteceu a partir desse momento da nossa chegada. E tinha um corporativismo pesado, foi uma mudança radical, trabalho extremamente interessante, e aí para quem não é acomodado é diversão absoluta, né? E foi, compramos fábrica nos Estados Unidos, construímos uma GalvaSud em Porto Real, construímos uma ___________ em Araucária, compramos centrais de distribuição pelo Brasil inteiro, compramos a siderúrgica em Portugal. Foi um processo divertidíssimo, foram cinco anos excepcionais. E foi bom, o CSN foi um período, talvez, profissional mais interessante da minha vida, maior desafio, eu tinha que conversar com o Bispo, né, Dom Waldyr Calheiros, que é o bispo lá de Volta Redonda, era uma pessoa extremamente opositora ao mundo capitalista, então eu fazia parte da homilia dele nas missas de domingos, chamou de necrófilo várias vezes (risos), então me chamava de canguru, era canguru porque eu vinha da Austrália, eu estive muito tempo na Austrália. Era divertido mas foi muito interessante, foi um período.
P/1 – Um aprendizado também, né?
R – Aprendizado fantástico, um aprendizado fantástico, fantástico. Cada dia, a CSN é uma escola, período foi uma empresa excepcional, é uma empresa excepcional e foi um período muito bom. E fui indo, e nesse período os filhos vão crescendo, formam, as duas filhas se formam, a mais velha é médica, a Alice se forma em Administração. Alice vai para os Estados Unidos em 2000, eu fiquei na CSN no final de 1998 até dezembro, finalzinho, 31 de dezembro de 2003, cinco anos e um pouquinho. Nesse meio do caminho, a Alice se forma também em Administração, em 2000, foi para Harvard fazer pós-graduação em Finanças, foi para lá em 2001, ficou lá dois anos, volta para o Brasil em 2002, quando acaba a pós-graduação. Aí eu dei uma dívida de bola, tinha concurso do BNDES no meio do ano, ela estava nos Estados Unidos ainda, eu vi o edital do concurso, falei: “Bom, filha, vem fazer concurso para o BNDES” porque, depois do 11 de setembro, os bancos começaram, o mundo começou a dar uma balançada e ela formada em Administração, fazendo pós-graduação em Finanças em Harvard só falava em banco, né, banco de investimento, banco, investimento. Eu falei: “Bom, esses troços são bons, mas é um mundo um pouco selvagem, você vai ter, você quer um dia casar, ter filhos, você vai ter uma vida meio complicada, faz o concurso do BNDES”. “Não, não vou fazer, não quer ser funcionário público, não sei o quê”. Eu falei: “Vem, vem”. “Não, mas a passagem...” “Eu pago.” Ela veio ao Brasil, aí foi um dívida de bola, e ela, hoje, me agradece muito. Ela fez o concurso, é um concurso dificílimo, passou no concurso, lógico, estava... Tinha feito uma boa universidade, um bom Ginásio, um bom Científico, uma universidade, tinha feito pós-graduação em Harvard, em finanças, estava no finalzinho, passou direto no concurso, sem dúvida. Está felicíssima no BNDES hoje, gerente da área de Mercado de Capitais, está lá felicíssima e foi para o BNDES. Mas ela estava já, já tinha voltado para o Brasil com pós-graduação, já tinha passado no concurso, já estava trabalhando no BNDES, em 2003, a Carol tinha, que é médica, Medicina é um negócio que não para de estudar nunca, ela tinha, são seis anos, estava fazendo residência já em Oftalmologia na Federal do Rio, que é um negócio também complicado fazer a residência, outro vestibular. E aí foi um período que eu, aí eu tive um check-up anual, primeiro susto que você toma, que a gente acha que é imortal, né, eu sempre, o meu pai ficou grisalho aos sessenta e cinco anos, eu tenho pouquíssimo cabelo branco, e eu com cinquenta anos eu não tinha nenhum. Então eu olhava as minhas filhas já formadas, eu parecia um garoto perto dos meus amigos de escolas, todo mundo com cabelo branco e tal, meio careca, eu estava com a cara ainda boa, estava um pouco mais gordo, mas eu quando eu voltei da Austrália eu fazia muito, corria muito, eu fazia, acabei fazendo quase triatlo de cena. Então eu estava bem de saúde, mas estava engordando, esse negócio de viagem para tudo quanto é lado, mas eu estava me sentindo bem. Fui fazer o check-up no final de 2002, anual que deveria ser feito em julho, fui fazer em dezembro, eu descobri um nódulo no rim, e esse troço foi o primeiro susto, né, de saúde que eu tive que eu nunca tinha ficado um dia em casa fora de trabalhar por problema de saúde, eu nunca fui de tirar muitas férias, talvez um pouco errado, mas... Eu descubro que eu estou com um nódulo no rim, e esse era um câncer, um carcinoma, eu tive que fazer um cirurgia de emergência e graças a Deus deu tudo certo, tirou um pedacinho do rim e o rim está aí. Mas esse troço te bota para pensar um pouco na vida: “Pô, não sou eterno e não sou superhomem, eu vou bater de frente”. E aí começa a pressão de família, né? O nódulo começa a ter nome e sobrenome, esse troço é por isso e por aquilo tal. E aí eu falei: “Bom, acho que já chega um ponto que você tem que dar uma...”, eu estava com cinquenta anos, exatamente cinquenta anos, “Bom, agora eu não tenho mais aquela pressão, as minhas filhas estão formadas, estão começando a tocar a sua vida profissional, a minha vida patrimonial está resolvida, eu não vou ficar mais, eu vou mudar!”. E aí eu cheguei, março, abril falei com o Benjamin: “Benjamin, eu vou, fico ao final desse ano, no final de 2003 eu não vou mais trabalhar na CSN. Acho que eu já cumpri a minha missão aqui, a empresa está muito boa, estabilizada”. Ele falou: “Ah”... – não sei se vocês conhecem o Benjamin, ele é um caráter interessantíssimo –, e ele começou: “Eu não quero conversar, vá embora, eu não quero bater, esse tipo de conversa eu não quero ter contigo, vai embora!”. E o negócio foi indo e eu falei: “Benjamin, eu vou embora, final do ano vai chegar e eu vou embora”. Quando chegou em agosto, falei: “Benjamin, estou montando uma forma de ter o meu substituto, eu vou sair no final do ano”. E ele acabou acreditando em outubro, né, e em dezembro eu saí. Eu tinha mais um ano de mandato ainda como diretor executivo, mas acabei saindo e saí bem (risos). O Benjamin, eu gosto dele, ele gosta de mim, eu não tenho problema nenhum com ele, sou talvez uma das poucas pessoas que tem a relação até boa com ele. Mas fiquei, saí no final do ano e falei: “Bom, agora vou ver o que eu vou fazer da vida. “Não sei, mas, talvez”... Pensei: “Acho que eu vou mudar um pouco, vou sair fora de Siderurgia, vou fazer um trabalho mais de Conselho, vou trabalhar um pouco”. Eu estava com a minha cirurgia muito recente, foi uma cirurgia de doze horas, fiquei dois dias na UTI, foi um negócio complicado, tive que tirar uma costela, o método cirúrgico e, a cirurgia que eu fiz, ela mudou nesses últimos seis anos de uma forma assustadora, mas foi uma cirurgia, fui atropelado por um caminhão. Um negócio que você toma um susto. E daí eu saí, peguei a minha mulher em dezembro, final, saí na semana antes do natal. Peguei as minhas filhas já adultas: “Bom Natal para vocês, a gente se fala por telefone”. Peguei a mulher e fui para Europa, falei: “Eu vou passear um mês e meio, quando acabar a passagem de ficar à toa eu volto e vou ver o que eu vou fazer”. E fiz isso. Fui para Europa em 20 de dezembro, para Londres e fiquei um tempo lá, depois fui para Paris, fiquei passeando pelo interior, carro. Bom, já tinha quase trinta anos de Siderurgia, né, estávamos em 2003, estava há trinta anos e conhecia todo mundo, esse mundo siderúrgico é muito pequeno. Eu tenho alguns players, já existiam, já tinham as fusões, grandes aquisições acontecendo no mundo. Quando eu saio, em novembro, saiu uma reportagem no Valor, né, da minha saída da CSN tal. Aí um dos caras que era o presidente da Usinor, na época da Acesita lá em 1987, 88, o Guy Dollé, ele era nesse momento de 2003, ele era o presidente da Arcelor, que era o maior grupo siderúrgico do mundo, francês, mas eu trabalhei muito com ele no processo da Acesita. O Guy Dollé sabia que eu estava e através do Gilet, que veio a ser o presidente da Acesita, que era também, estava na Arcelor, francês também que trabalhava com ele, tinha o meu telefone e me acharam na Europa: “Albano, você saiu, o que vai fazer?”. Eu falei: “Tô de férias, eu tô em Londres”. “Pô, você não quer vir conversar comigo em Luxemburgo?”. Eu falei: “Não. Eu não vou para Luxemburgo, não tem nem voo”. “Não, não, vamos encontrar em Paris.” Eu acabei indo em primeiro de janeiro, estava em Paris, encontrei com o Guy, e acabei, falou: “Bom, vem trabalhar com a gente”. Falei: “Guy, deixa eu explicar o que aconteceu”. Eu contei a história toda para ele, ele me entendeu e foi entendido. Mas “Eu não quero mais tomar conta de fábrica, eu tô passando por um período que eu tenho que ver o que eu quero fazer da vida. Então me dá um tempo”. “Não, mas vem ver, quem sabe a gente tem um trabalho mais corporativo e tal. Pensa nisso”. E eu acabei as minhas férias, voltei para o Brasil no dia 15, mais ou menos, 18 de janeiro. E aí o Guy começou a ligar e acabei, bem, resumo da ópera: em fevereiro eu estava na Arcelor na Europa. Eu queria ficar no Brasil, mas o Guy falou: “Não, vem fazer uma integração, passar uns três meses aqui para entender, você não conhece, conhecia muito a Usinor, mas você não conhece a Arbed, não conhece a Aceralia”, que eram as empresas que formaram a Arcelor. E acabei indo para lá, eu virei o presidente da Arcelor Brasil, que era a holding que tinha as ações da CST e da Acesita e da Belgo Mineira, era uma empresa que era controladora dessas três operações, eu tinha então uma função corporativa, não era operacional, mas era o presidente dessa holding no Brasil, mas fui para Europa pra entender como funcionava a empresa como um todo, o lado comercial, financeiro, administrativo e industrial na Europa.
P/1 – Mas aí você já tinha claro que você estava um pouco com o pé no freio mais. Você mesmo já...
R – Não vou mais entrar no dia a dia, eu achava isso, né? Não entrar no dia a dia da fábrica (risos). Fiquei três meses na Europa, que já... Fiquei fevereiro, março e abril e nesse período a Arcelor era uma empresa, que era uma fusão de 2002 de três empresas antigas: a Usinor, francesa, a Arbed luxemburguesa alemã, e a Aceralia espanhola com culturas muito diferentes. Você achar que a Europa é um negócio, uma comunidade, a Europa é o troço mais instável que tem no mundo, né, em termos de etnia, de cultura. Então você tem espanhol mandando em flemish, em belga, flemish porque os flamencos invadiram, né, se odeiam. Então tinha, o meu chefe na época era o presidente da área de planos de carbono, que era o Guilherme (Lácio ?) era espanhol, basco e ele mandava em quase todos os alemães e flemishes que tinham na companhia. Então ele era rejeitado ao limite superior, e o Guilherme era um cara brilhante, é o presidente da General Motors na Europa, então foi uma experiência interessante. Eu acabei ficando três meses, voltei para o Brasil para criar a Arcelor Brasil e junto com o José Armando, que era presidente da CST, como Panunzio da Belgo e o Luiz Aníbal da Acesita e para formar uma empresa, uma holding em operacional e aí juntar esses artigos todos, o processo foi feito, compramos as ações da CST que eram da Vale, compramos da antiga Kawasaki [Steel?], compramos as ações do Bradesco na Belgo, e formou-se a companhia. Eu trabalhei um mês e pouco só nisso e me chamam, me telefonam, eu ia todo mês à Europa em uma reunião e acabou me travando na Europa e me transferindo para Europa. Foi feita, a Arcelor queria no setor de planos, que era o que CSN fazia, era o que é o maior é o sessenta e cinco por cento do negócio da companhia, vinte bilhões de Euros de faturamento na Europa, eram três empresas ainda: tinha a empresa francesa, tinha a empresa luxemburguesa-alemã e tinha a empresa espanhola, eles queriam fazer uma transformação e fazer uma só empresa e mudar de nove vice-presidencias executivas para cinco, fazer um processo inteiro e a McKinsey estava trabalhando nessa estrutura e queria que um vice-presidente executivo, que no caso ficou sendo eu, participasse da coordenação desse trabalho. Eu fui para Europa fazer isso, fui em julho e acabei não voltando mais, né? Acabou definindo e aprovando no Conselho em novembro, foi criada a nova estrutura e eu virei vice-presidente executivo de gestão do grupo todo na Europa. E aí eu falei: “Guy, mas e o Brasil?”. “Não, mas esse trabalho é duas vezes maior que o trabalho do Brasil”. A Arcelor tinha uma empresa de cento e quarenta mil empregados, tinha quinze executivos do Guy para baixo que chamavam management committed, eu fazia parte, era o único brasileiro desse comitê. Aí a Rita foi para Europa, porque enquanto eu estava em apart-hotel, né, eu falei: “Mas eu não vou ficar o resto da vida, as minhas filhas estão no Brasil, daqui a pouco vão casar, vai ter neto eu quero ficar por perto”. E aí completamente a rota daquilo que eu tinha definido em 2003 foi embora, né? Eu viajava, a Arcelor tinha trinta fábricas na Europa, o único lugar que eu não parava era em Luxemburgo, viajava quatro dias na semana. Bom, resumo da ópera, em 2005 me aparece um tumor no rim esquerdo agora. No ano seguinte aí é outra cirurgia, mais simples porque o método cirúrgico muda completamente, mas vim fazer a cirurgia no Brasil com o mesmo médico que fez a primeira. E aí complica, né, porque eu queria voltar, acabou a cirurgia, a cirurgia foi rápida, três, quatro horas, eu com uma semana estou andando e vou embora. “Não, não, você não pode voar, pegar avião, você tá louco?” Aí: “Não, mas eu vou”. “Não pode, vai não vai.” Com quinze dias eu fui, consegui autorização para decolar e aterrissar deitado na primeira classe no avião da TAM e fui, fretei um avião em Paris e fui embora para Luxemburgo. Mas aí o negócio começa, aí eu parei para pensar de novo da mesma forma: “Eu vou voltar para o Brasil, chega, e eu comecei a ver que na Arcelor ia ser difícil”. A forma como a vida profissional tinha se estruturado lá e aqui ia ser difícil o caminho de volta tão rápido, poderia ter um caminho de volta mas ia levar mais dois anos, pelo menos, eu estava vendo aí 2008, pelo menos, isso já era finalzinho de 2005. Eu comecei a conversar com o Guy, que era presidente da Companhia, que eu me reportava ele, e nesse meio da conversa, em janeiro, veio a oferta hostil de compra de Mittal, que acabou comprando a Arcelor, fez uma oferta para os acionistas e esse processo complicou ainda mais a minha vida profissional, porque a interlocução que eu tinha com o Guy Dollé de voltar paro Brasil, nós estávamos vendo uma forma de voltar no final do ano de 2006, eu não tinha mais nem o que falar com o Guy porque todos nós estávamos com a cabeça completamente em outra coisa. O Mittal, Lakshmi Mittal, eu o conheço bem e quando eu estive em Londres, em 2004, quando eu saí da CSN foi uma das pessoas que me ligou chamando para trabalhar com ele na Europa em 2003, no final de 2003. E eu conversei com ele, fui almoçar com ele em Londres e, bom, não era o meu dream team a trabalho. Quando eu vi que ele certamente ia comprar, eu acabei falando: “Acho que o fim da rota está por aí, acho que a minha hora de voltar para o Brasil está feita”. E são coincidências, eu tinha sido contatado por um amigo comum, tem uma empresa, é o presidente de uma empresa de headhunting aqui no Brasil, é a Heidrick & Struggles, o Darcio Crespi. O Darcio me liga na Europa: “Albano, você não quer voltar para o Brasil?”. Foi assim aquela: “O que que é?”. “Votorantim”. Aí foi que eu acabei, vim ao Brasil, tinha vindo ao Brasil no final do ano, conversei com o Raul, conversei com o Zé Roberto, conversei com o Fábio e com o Carlos. E começamos a ver o que que poderia fazer. Mas aí quando vem uma função corporativa eu falei: “Olha, eu...” [pausa] A acomodação realmente, não faz muito parte da decoração, aí eu estava e nesse momento aí tem um pouco de família. A Carol, a minha velha mais velha, tinha acabado a residência no Rio, Oftalmologia, e ela, a Carol, é absolutamente brilhante, muito boa aluna. Ela resolve fazer doutorado aqui na Unifesp, em São Paulo, se muda para São Paulo no final de 2000, “Papai, eu acho que vou continuar estudando”, eu falei: “Vai embora”. Vem para Unifesp, para o Hospital São Paulo, para fazer doutorado, fellow e doutorado aqui mais três anos, vem em dezembro de 2005, estava em São Paulo. Alice no Rio trabalhando no BNDES, a Carol em São Paulo, eu e a Rita na Europa. Bom, vamos voltar. E aí acertei com o grupo de voltar, um trabalho, uma diretoria corporativa junto com o Raul de Operações Industriais, vendo metodologia de gestão. Bom, sempre comentei, né, não era muito a minha praia – não sou, pela minha personalidade, vamos dizer, absolutamente desafiadora eu quero desafiar tudo a todo o tempo – ficar num trabalho corporativo que você sugere, que você não executiva, embora tenha uma execução de trabalho, mas é um trabalho muito mais de coordenador, sugerir, modelar do que efetivamente fazer, vender, produzir, entregar, executar, construir eu sabia que eu ia ter um pouco de impaciência, a cadeira ia ficar balançando embaixo da minha mesa, né? Mas eu falei: “Bom, vamos lá…”.
P/1 – Aí já vem um desafio, né, nessa época?
R – Sim, lógico!
P/1 – Se pensava na coisa...
R – Com certeza, com certeza. Tinha, na conversa foi muito clara com o Raul e com o Conselho, né? “Estamos crescendo, mandato de crescimento, tem oportunidade.” Veio, acreditei, foi uma boa, acho que foi uma boa aposta, estou há três anos no grupo, extremamente satisfeito, acho que as coisas acontecem numa forma boa. São pessoas que eu chamo “pessoas do bem”, e mais: pessoas que entendem como as coisas acontecem, não são banqueiros, apesar que eu não tenho nada contra banqueiro, mas eles sabem como é que se ganha dinheiro, e dinheiro se ganha com trabalho, vendendo, produzindo, tá certo? É um processo, a forma do dinheiro acaba indo num banco, mas ele se ganha com isso: construindo alguma coisa, e vendendo alguma coisa e trabalhando com margens e aí você acaba fazendo riqueza. Isso é bom, eu gosto, e aí foi...
P/1 – E quando você chega ainda era a Votorantim Metais?
R – Votorantim Metais. Eu estava no grupo, eu estava na corporativa mas aí a ideia era sempre, começamos a olhar a Siderurgia de duas formas no grupo: tinha a Usiminas, a Cosipa, que a gente tinha aumentado a participação, estava partindo para ter, buscar uma gestão via Conselho mais forte dos acionistas, e tinha a Siderúrgica Barra Mansa que era pequenininha, antiga, foi uma das primeiras no Brasil, começou em 1937, está com setenta e dois anos, talvez uma das primeiras indústrias integradas à Siderurgia do Brasil, a única planta integrada que eu tenho certeza que tinha no Brasil antes era a Siderúrgica Belga, em Sabará, que é um pouco, que é na década de vinte, depois a Barra Mansa deve ter sido a segunda integrada, antes da CSN com forno, partindo conversão de minério, mas ela ficou pequenininha, ficou pequenininha, ficou antiga, ficou defasada tecnologicamente, agora, extremamente bem localizada, no centro do mercado e podendo fazer muito melhor resultado do que fazia. E isso foi colocado muito claramente para o grupo, eu falei: “Olha, aqui a gente está no – como se chama em português –, no mata burro, né, ou cresce ou sai, ficar desse tamanho não tem muito sentido dentro de um conglomerado desse tamanho, ficar desse tamanho não faz sentido”. E aí foi tomada, já tinham sido as primeiras ações de modernizar a Barra Mansa, já haviam sido feitas desde 2004, 2005, ainda muito tímidas. E aí começa, efetivamente a partir de 2006, as ações de botar um novo laminador e começar a melhorar mesmo a planta de forma mais definitiva. O estudo de construir uma nova usina, ou seja, estava perdendo marketing que era por minuto no Brasil, o Brasil crescendo. Se pegar 2005, 6, 7, 8 foram crescimentos no mundo inteiro muito grande e a capacidade de venda e de produção da Barra Mansa limitada, e perdendo marketing a toda hora. Então decidimos construir uma nova usina em Resende, e esse projeto já teve, desde o início, a concepção dele, a construção. Começamos a olhar, comprar a aquisição por crescimento não só orgânico, mas também por aquisição na América do Sul e foi feito o primeiro estudo de compra da Acerias Paz Del Río na Colômbia, fui para lá, fiz o business premium junto com o pessoal da VM, via corporativo, mas a montagem do plano de negócio, o modelo foi feito por mim junto com a equipe da VM. Depois compramos isso no leilão, depois compramos a Acerbrag na Argentina em final de 2007. Aí já estava mais ou menos modelando a criação da área de Siderurgia, metade ferrosos por um lado, metade não ferrosos por outro, embora metais são animais diferentes, né, são completamente, a dinâmica diferente, a dinâmica de vendas é completamente diferente eles são commodities pura e simples com preços em ____ aço não é, aço não é um commodity, estão tentando já há alguns anos alguns itens estão na ____, mas pouquíssimos, é um item que você trabalha o preço no seu serviço, na qualidade e tem spreads completamente diferentes, tem uma dinâmica comercial muito particular e muito diferente dos ferrosos e não ferrosos, além de que a indústria é muito diferente, a indústria de processamento industrial é diferente. Então é uma dinâmica completamente diferente e resolveu-se já nesse momento “vamos separar e começamos a trabalhar nisso desde 2006, 2007 de forma mais clara, final de 2007 definimos”. E aí foi feito um processo phasing out , de trocar e fazer a separação durante o primeiro semestre de 2008, e quando em primeiro de julho, efetivamente, a gente iniciou, separando, operando de forma independente.
P/1 – A Votorantim Siderurgia, hoje ela tem Barra Mansa, tem a da Colômbia?
R – Colômbia, Argentina Acerbrag, né, e estamos construindo uma planta em Resende, a maior usina nossa vai ser essa nova planta em Resende, nós vamos de um milhão de toneladas, está a trinta quilômetros de Barra Mansa.
P/1 – De Barra Mansa, fica pronta quando?
R – Agora em agosto.
P/1 – Ah, já?
R – Tá quase pronta, está com setenta e quatro por cento já construída. A planta é um Greenfield, é uma área novinha, foi uma fazenda que a gente comprou. Lugar bonito, em frente a Penedo, estamos fazendo uma usina bem verde, environmentally friendly.
P/1 – Bacana. E aí então separou mesmo essa coisa da Votorantim e tal...
R – Separou, mas além disso nós temos florestas de oitenta mil hectares plantadas em Vazante fazendo carvão vegetal para produção de ferro-gusa que vem para o sul fluminense. Temos na Colômbia, além da siderúrgica nós temos minas de carvão metalúrgico e carvão térmico, e temos minas de minério de ferro. Essa usina na Colômbia é uma usina integrada, então a gente tem minas de minérios de ferro, tem minas de carvão, tem minas de calcário, produzimos aço, lá há planos longos. E temos o controle da Usiminas, né, participamos do controle da Usiminas via Conselho de Administração.
P/1 – Tem umas práticas, eu me lembro muito bem da questão da Barra Mansa, há umas práticas de trabalhar com material reciclável, quer dizer, vê se você...
R – A Siderurgia, ela tem dois tipos de siderurgia: tem a siderúrgica integrada, que ela parte de minérios e aí você tem minério de ferro, você tem carvão ou mineral vegetal, que aí no nosso caso a gente usa carvão cem por cento a partir de florestas plantadas. E tem a siderúrgica que você recicla sucata, porque aço é um liga de ferro carbono e ela perfeitamente reciclável, e é uma das primeiras indústrias de reciclagem do mundo, porque a indústria de fornos elétricos reciclando sucata começou na década de quarenta, trinta, os primeiros fornos elétricos começaram acho que mais na Itália na Brescia, e tem algo, já tem quase oitenta anos aí que se faz forno elétrico reciclando sucata. Então a reciclagem de aço já é algo muito antigo e perfeitamente dominada essa tecnologia. Então nós temos fornos elétricos em Barra Mansa, temos fornos elétricos em Resende, na nova usina, na Argentina e na Colômbia a nossa usina é integrada com forno a partir de minério de ferro.
P/1 – Isso já existia ou foi uma coisa, uma experiência que vocês...
R – Já existia, já existia.
P/1 – ... já é uma coisa natural da indústria, né?
R – Natural, a indústria processa, não é nada. A usina nova que nós estamos fazendo em Resende é uma, o estado da arte vai ser a mais moderna porque vai ser a última, a próxima que vier vai ter um pouquinho mais moderna do que essa, não tem, não dá para inventar muito nisso, fazer de forma econômica, menor custo capital e melhor custo operacional, esse é o objetivo, ponto. Estamos vendendo algo que não tem fashion, né? Quando você está num produto que tem joia ou luxo você agrega valor que não está acoplado ao custo. Em Siderurgia a gente tenta, embora saindo de ser um commodity em uma bolsa de ___, você tenta agregar valor mas tem um limite, tem um limite. Então você tem que produzir bem, o negócio é produzir barato, é produzir de forma mais econômica, melhor qualidade possível.
P/1 – Você participou dessa decisão, então dessas aquisições fora do país.
R – Todas, cem por cento.
P/1 – Você tem sempre uma questão que é recorrente quando a gente pensa no projeto Memória, quer dizer, a Votorantim sempre teve uma característica de ser um grupo brasileiro, e, a partir de 2001, ela começa então essas aquisições e tal. Assim, a tua visão a respeito dessas compras fora do país, porque isso acontece em todas, a Votorantim Cimentos, enfim. Deixar registrado assim, essa tua visão, quer dizer, por que que é importante comprar empresas na Colômbia, no caso usina de Siderurgia, ou na Argentina? E que embora não sejam commodities, né, porque commodities você tem que estar mais perto, né?
R – Primeiro são oportunidades de negócio, você, primeira ponta que você tem que olhar é onde eu posso fazer negócio, eu tenho que vender, né? O nosso negócio não é produzir aço, na Votorantim Siderurgia é vender aço, é ganhar dinheiro vendendo aço, para isso a gente produz. A primeira coisa tem que arrumar mercado, então o mercado tem limite, você não vai expandindo mercado na geografia que você quer, da forma que você quer. Então primeiro é buscar onde estão os mercados. Dois, onde estão os mercados que são fáceis de você gerenciar, estudo cultural do ponto de vista de língua, isso tudo são barreiras complicadas, na Arcelor a gente vivia muito isso, é muito difícil, certas barreiras às vezes são intransponíveis, intransponíveis, você não consegue mudar uma cultura, é muito forte. Então na América do Sul, no caso da siderurgia, um local natural, com a cultura muito parecida, a língua é muito parecida, isso facilita. E o terceiro ponto que aí acho que é crescer, hoje em dia, quem não cresce, alguém cresce e te come e estão do teu lado. Então você ficar parado não é uma alternativa, ou sai do business ou continua andando. Então esses são os três, acho, que drivers fundamentais e buscar a oportunidade de bons negócios. E você quando começa a melhorar do ponto de vista, eu estou falando de operações, não são operações só industriais, operações comerciais, financeiras, industriais, engenharia, você começa a criar um grupo de excelência, trazer pessoas de boa capacidade, de boa reputação e isso eu acabei fazendo pelo fato de estar há muito tempo trabalhando no setor, conheço todo mundo no mundo inteiro, eu conheço do Japão à China, posso me chamar um “cidadão do mundo”, eu conheço todo mundo de siderúrgica do mundo inteiro. Então eu consegui trazer para o meu time, hoje aqui eu tenho um grupo muito bom do ponto de vista de operação, qualquer que seja, comercial, industrial, engenharia e, esse grupo, ele fica com potencial de realização muito maior do que fazer só um milhão de toneladas. E aí eu começo a ter custos pesados, mas também não ter isso, não consigo bater de frente com o Gerdau e com a Belgo, porque eles são muito bons. Então para competir de igual para igual com essa turma, ter o mesmo approach ao mercado de produtos, de qualidade, de gestão eu preciso ter gente boa. E aí eu tenho gente que está com capacidade de fazer mais, capacidade de realização maior. Então isso foi uma consequência natural, e hoje a gente tem, muito do processo de gestão aqui é matricial. Temos um grupo de tecnologia que está aqui no Brasil que cuida de tecnologia de todas as plantas de qualquer lugar do mundo, meu grupo de Geologia, de Engenharia de Minas, ele está em Belo Horizonte, engenheiro de minas pareceu que é engenheiro de Minas Gerais, né, (risos) porque se eles saírem de lá eles vão embora. Embora nenhum deles, mesmo os da Vale, de qualquer, da MMX eles vivem no meio do mato, no meio das minas desde os estudos geológicos, os estudos de prospecção geológica, lavra, mas eles acham que tem que morar em Belo Horizonte. Então eu tenho um escritoriozinho pequenininho lá em BH que o pessoal nosso de Geologia e Minas fica lá, mas eles passam o ano inteiro indo à Colômbia.
P/1 – Tem, teve muita resistência assim? Você falou: “Ah, mais fácil gerenciar”, mais argentino gerenciado por brasileiro, colombiano por brasileiro?
R – Olha, a Colômbia, colombiano é o povo na América do Sul mais parecido conosco, povo mais brasileiro, ou o povo brasileiro mais colombiano. Eles são, é uma etnia muito espanhola com, tem muito poucos índios como tem os outros povos sul-americanos, né, e tem muito negro e muito espanhol, então é muito parecido com a gente em termos de etnia. Em termos de cultura também, eles são muito amigáveis, é um povo muito amigável, eles te recebem muito bem, são hospitaleiros. Então e vindo de um período muito complicado, vinte anos de desastre absoluto, o país completamente dominado por tráfico de drogas, por Farc e vindo de uma recuperação no governo do Uribe, não estava no segundo mandato quando nós chegamos. E o povo, vamos dizer, o grupo sério empresarial do país muito querendo que empresas do mundo inteiro fossem para lá. Nós fomos recebidos com tapete vermelho, polido pela presidência da República, ou seja, precisa, são muito, fomos muito bem recebidos. E aí não só por ele como pela população, como pelos empregados, pelo mercado. Então é um país que a gente tem um trabalho muito fácil do ponto de vista técnico, nós temos o nosso grupo mesclando com o grupo operacional lá tanto comercial quanto industrial, tem todo o tempo umas vinte pessoas do Brasil lá trabalhando, o nosso principal executivo lá é brasileiro, o de finanças é brasileiro, o industrial é brasileiro, o de materiais é brasileiro e o restante são todos colombianos, mas tem técnicos, esse grupo de tecnologia tem um cara de alto-fornos, o outro lá que fica volante, vai e volta, mas todo tempo tem umas vinte pessoas ali. A parte de mineração cem por cento é coordenada por brasileiros, onde é que tem mina de minério de ferro por aqui é Brasil, não é Colômbia, então são todos mineiros, geólogos e engenheiros de Minas são quatro, cinco pessoas mas são brasileiros e estão lá. Funciona muito bem. Na Argentina, a usina era uma usina mais moderninha, pequena, bem menor que a da Colômbia, do Brasil da época duzentos e cinquenta mil toneladas, era uma planta nova, quatro, cinco anos de idade e operada por argentinos que vieram num grupo siderúrgico chamado Acindar que tem boa reputação e sabem trabalhar. A Acindar hoje é uma empresa da ArcelorMittal, mas ela foi uma empresa que foi uma família argentina, então o grupo tecnicamente não era ruim. O que nós fizemos? Nós temos duas pessoas só lá em full time, eu tenho o gerente geral, é brasileiro, o Gustavo, e tem uma pessoa de Gestão, Luiz Augusto que é brasileiro, o restante cem por cento argentinos. Nós temos de novo o grupo de Tecnologia que foi lá, melhorou operacionalmente, os custos caíram, a produção aumentou, eles receberam os argentinos muito bem porque viram como são pessoas do ramo, e viram que tem benefício, eles estão ganhando o processo muito fácil também. Não temos problema, não temos problema. Eu acho que está indo bem, a adaptação cultural é boa, é fácil também, Argentina e Colômbia pega voo, duas horas está lá, eu vou muito lá, o Paulo que é o Comercial nosso vai muito lá também.
P/1 – Eu fiquei, me ocorreu por essa questão matricial, quer dizer, de repente chegar, se você está dizendo que há uma certa integração...
R – Nós temos uma reunião semanal nessa sala aqui, às quintas-feiras às duas horas por vídeo ou áudio conferência com todas as operações da Argentina, Colômbia, Barra Mansa, Resende, o escritório de Vendas aqui, o pessoal de Belo Horizonte de Minas, todo mundo, toda semana, nós nos falamos, diretores e os gerentes gerais, todos eles, e olhando tudo como está vendendo, o que está acontecendo de segurança, operação das minas. Existe uma reunião semanal, é falada em Portunhol, Português, Espanhol, várias línguas no meio do caminho, mas funciona, tem uma integração absoluta. Então esse é o grande desafio cultural, é esse: nós temos uma empresa no Brasil, a Barra Mansa, que é uma empresa de setenta anos que veio acanhada durante muitos anos, estamos construindo uma nova fábrica estado da arte absoluto, estado da arte em Resende. Temos uma planta colombiana no meio dos Andes lá também com sessenta anos, foi estatal, faliu, foi privatizada quando nós compramos. E temos uma empresa na Argentina de quarenta anos que foi também comprada por um grupo há oito anos atrás, fizeram uma fábrica nova e nós compramos deles agora. Então tem quatro culturas muito diferentes, a gente está fazendo agora é uma cultura Votorantim única. Então é um trabalho interessante, muito interessante.
P/1 – Deve ser bem gostoso, né? Deve ser um desafio bem legal. Como é que vocês estão hoje no mercado, a Votorantim Siderurgia, mundial?
R – Bom. Em termos de tamanho somos pequenos, né, e não temos muita chance de achar que vai crescer. O maior do Brasil nós temos aqui em produtos longos, é o que nós fazemos, separar um pouquinho da Usiminas, né, como a Siderurgia, a produção própria nossa. No Brasil, você tem o maior produtor mundial de aço, que é a ArcelorMittal com a Belgo, e tem o maior, o segundo aqui do Brasil é o décimo maior do mundo, mas é o maior das Américas, que é o Gerdau. Então, pensar achar que nós vamos ser o maior do Brasil esquece, nossa busca e nosso objetivo aqui é ser o melhor, quero ter a maior margem de lucratividade, quero ter o menor custo, quero ter produtos iguais aos deles. Não posso ter, ser visto como uma empresa que é menor, tem produtos de qualidade inferior. Não, tem que ser igual e temos quer ter melhor custo, e temos que ser mais ágeis por sermos menores e mais focados. Esse é o grande desafio: nós queremos ser os melhores, o maior esquece, é jogar dinheiro fora, querer buscar aí e não vamos conseguir. A diferença de dimensão é tão grande, nós temos aí três milhões de capacidade instalada em produtos longos, a ArcelorMittal do mundo, ela tem capacidade de produzir cento e quarenta milhões de toneladas. Então a dimensão é outro bicho, tá certo? É outro animal completamente diferente, mas fazemos o mesmo produto, a linha de produto é igual e podemos ter margens melhores. Então esse é o nosso desafio, esse é um (documento ?) que se posiciona dessa forma. Temos um marketing que gera hoje em torno de dez por cento do mercado, do mercado de produtos longos. Na Usiminas é um pouco diferente, mas aí a gente administra via Conselho, Conselho tem a atuação limitada pelo estatuto, por acordo de acionista, mas a Usiminas é a maior indústria de produtos planos do Brasil, tem capacidade de produção em torno de oito milhões de toneladas de produto acabado, e isso é muito grande em relação ao total de produção que é em torno de dezoito, dezenove milhões. Então um pouquinho mais com CST agora crescendo vinte, vinte e um milhões é a capacidade de produção de planos. Nós temos aí oito milhões na Usiminas. Mas aí a nossa gestão é via Conselho Administração, não é uma gestão direta do dia a dia. Bom, acho que é mais ou menos.
P/1 – Não, eu tô pensando exatamente que aquela, né, aquele ditado: “Quem não é o maior tem que ser o melhor”, né?
R – É isso aí. Mas esse é o ponto, e não tem por que a gente não ter uma... Por sermos um grupo grande com uma operação que não é grande, nós não termos por que não ter uma operação tão boa ou melhor que eles. Porque, na verdade, esse grupo é grande, mas eles são formados por empresas mais ou menos do mesmo tamanho que nós. O que que eles têm de diferente, como eu vivi dentro dessas empresas eu sei, a diferença que tem é o background tecnológico que está por trás disso, que é o que a gente vem tentando fazer aqui com uma forma ainda bem menor, mas é isso daí, isso resulta em pouco mais de dedicação, tem que ter um grupo mais disposto a viajar mais, trabalhar mais. Mas sai. Mas funciona.
P/1 – Em termos de futuro, você está com plano estratégico?
R – Nós estamos aí, tínhamos um tempo. Logicamente, tínhamos um plano estratégico, funciona, trabalha cinco anos a frente, nove, treze, esse plano foi feito, o último foi feito no ano passado antes de o mundo dar uma capotada em novembro, agora a gente está revendo. Mas, certamente, a gente está. Não podemos esquecer nunca o crescimento pela estratégia, mesmo num momento de crise, crise é uma boa oportunidade de repensar um pouco a forma de fazer as coisas, se arruma muito a casa, tira vários caminhos que estavam em excesso, você elimina os excessos, volta à base fundamental do dia a dia e com isso você prepara para crescer de novo. Eu acho que no momento do pico da crise tem que parar e olhar custo, tem que olhar resultado, mas não pode fechar a porta para o crescimento estratégico. A gente está trabalhando, tem reunião quinta e sexta-feira com todo o time de gerente geral aqui em São Paulo, amanhã e depois, para buscar, revisar o plano estratégico para os próximos cinco anos, estamos trabalhando nisso.
P/1 – Tem mercado brasileiro, é claro, mercado da América Latina e...
R – Sim, é lógico, e exportação, nós somos, o Brasil é um exportador líder de aço. O Brasil em números grosseiros, bem grandes, né, o Brasil produz trinta e três milhões, consome vinte e dois, exporta onze tradicionalmente, isso são os grandes números: um terço, dois terços, dois terços ficam no Brasil e um terço exporta. O mercado de exportação está muito ruim, o mercado está muito ofertado, está com excesso de capacidade hoje, mas temos que buscar, voltar a esse mercado de exportação, então tem que ser melhor que os outros. E de novo tem que, uma piada que eu gosto muito, né, dos anos oitenta, um pouco démodé mas mostra claramente o que que é isso, você não tem que ser... Está um japonês e um americano no meio da savana africana e de repente eles se dão, deparam com um leão faminto que vem pra cima deles e o americano começa a correr e o japonês senta, tira da mochila um tênis de corrida e começa a calçar o sapato de corrida, e o americano: “Você tá ficando louco? Você acha que vai correr mais do que o leão?”. Ele falou: “Não, eu quero correr mais do que você, só isso!”. (risos) “Não quero correr mais do que o leão.” No fundo é isso, no momento de crise desse a gente tem que ser um pouquinho melhor que a concorrência, se for melhor já ganhou o jogo. As margens são menores, mas aí você acaba saindo fora desse período e sai melhor. Uma recessão de vez em quando faz bem, não precisa ser tão grave, mas faz bem.
P/1 – Você sabe que eu concordo plenamente com você? Eu acho que...
R – Muito excesso, tem muito excesso.
P/1 – Não é? Eu acho que tem um pessoal hoje, você que está nesse mundo corporativo, que não sabia o que era crise, precisava aprender o que era (risos).
R – Minha geração vive a quinta, né, a de 1974, a de 1980, a de 1992, 2002 e agora.
P/1 – Mas tinha uma turminha que...
R – Exatamente. A turma acha que o mundo é mais simples, mais fácil.
P/1 – Albano, agora me diga uma coisa, você falou bastante, até eu ia voltar na questão da Rita, da Carol, da Alice, mas acho que está superclaro que você é um homem de família. De repente você veio parar em São Paulo pela primeira vez, ou não?
R – Não. Eu já, São Paulo, bom, é como tem uma frase que eu sempre falo, mexe com o Cláudio Ermírio, quando eu fui fazer a integração, o Cláudio falava: “Carioca? Todo carioca tem duas certezas na vida”. Eu falei: “Qual é Claudio?”. “Primeiro, é que vai morrer como qualquer outra pessoa, né, e a segunda é que vai vir morar em São Paulo”. (risos) Então eu tinha vivido o ano de, quando eu fui para Mendes Júnior, o projeto foi feito na Promoter, era na Nove de Julho perto da São Gabriel ali naqueles prédios do lado direito, eu passei o ano de 1981, de julho quando eu vim, até fevereiro, março de __ em São Paulo direto.
P/1 – Ah, você ficou direto!
R – Porque o projeto era todo feito na Promoter, estava na engenharia básica, design e concepção da usina. Depois o tempo que eu fui na CSN, no escritório da CSN, era aqui no condomínio São Luiz, na JK. Eu tinha um flex que eu ficava aqui, minha área comercial era comigo, eu tinha toda a área comercial aqui, então compras e vendas. Então eu tinha que ficar aqui também. Então eu ficava Volta Redonda-São Paulo, ia pelo menos dois dias na semana em São Paulo. Isso foram cinco anos seguidos, né, dois dias eu estava em São Paulo. Eu fui para Arcelor, em tese, eu ia ficar em São Paulo. Então eu tinha um flat, eu morava na Alameda Casa Branca aí no George V (risos), fiquei três meses só e o resto eu fui para Europa. Mas eu vinha muito à São Paulo. Acho São Paulo, eu gosto de São Paulo, eu talvez não consiga viver em cidade pequena, eu gosto muito de arte, de cultura, de ler. A Rita, minha mulher lê, é uma leitora insaciável, né, ela lê, sei lá, quatro, cinco livros por mês, eu nunca, tem tanto livro por perto e como ela abdicou daquela, com esse marido que viaja o tempo inteiro, não para em lugar nenhum, vai para o mundo de um lado para o outro, ela acabou parando de trabalhar em 1999, 98, 99, 99. Daí acaba, São Paulo é uma cidade deliciosa, eu gosto de São Paulo, eu tenho casa no Rio, que, a minha filha mais nova, ela ainda está, as duas são solteiras ainda, ela está noiva, vai casar eu acho que mais um ano, por aí. Tem, eu comprei um apartamento para ela, mas ela mora em casa, né? Porque os filhos, hoje em dia ninguém quer mais sair de casa, é mais cômodo é mais confortável. Então ainda tenho uma casa no Rio, tenho um apartamento na Lagoa no Rio, está lá. Eu tenho uma casa de praia em Búzios, que eu gosto de ir uma vez a cada mês e meio, eu passo um fim de semana lá, as minhas filhas usam muito. Eu tenho uma casa em São Paulo e casa hoje para mim é São Paulo. Então eu comprei um apartamento novo aqui, eu vou me mudar. Meus pais, eu estão trazendo meus pais esse fim de semana para vir morar em São Paulo porque não dá, o meu irmão mais velho mora em Salvador, a vida toda formou e foi para Salvador trabalhar na Braskem. Então é difícil para gente acomodar os velhos lá no Rio, como tem enfermeira, mas tá dando trabalho. Fim de semana que eu tenho que descansar, eu tenho uma rotina de trabalho puxada, o fim de semana nos últimos quatro eu fui para o Rio de Janeiro – meu pai foi internado –, para dar assistência, não dá pra largar, né? Então estou vindo, estou mudando-os para São Paulo, consegui o meu apartamento para eles morarem sozinhos pertinho de onde eu moro, apartamento menorzinho, eles vão morar lá, uma enfermeira, com empregada todo mundo, mas ficar perto da gente. Então São Paulo eu, certamente, hoje eu vou ao Rio eu me sinto, o Rio está muito bagunçado, né, a coisa mais próxima do mundo organizado no Brasil é São Paulo e eu gosto muito de São Paulo, eu me dou bem aqui. A minha filha mais velha, a que é médica, ela estava aqui em São Paulo, quando achei que ela ia acabar o doutorado aqui, ela está fazendo uma, a tese de doutorado dela é desenvolvimento de córnea, ela faz transplante de córnea, ela mexe com cirurgia, medicina externa dos olhos, córnea. Então ela está desenvolvendo um grupo de trabalho agora, foi para a Califórnia no ano passado, está na Universidade da Califórnia em Davis, Sacramento, desde abril do ano passado, está fazendo desenvolvimento de córneas sintética a partir do bicho da seda, já estão fazendo transplante, então está por lá. Eu fui, semana passada era aniversário dela, eu fui, passei a Semana Santa, semana passada lá com ela, não tinha ido lá ainda, não tive tempo de ver onde que ela morava. Mas eu fui lá para ver, está lá enfurnada lá nos laboratórios, está no décimo quarto ano de estudo, mas ela deve voltar para o Brasil no final de ano, e aí eu não sei se ela fica em São Paulo, se vai para o Rio. Ela está indo, talvez, ele chegue, o namorado dela é do Rio, não sei se ela vai querer ficar aqui ou lá. Mas por enquanto ela está nos Estados Unidos (risos).
P/1 – Você está louco para ter neto, né?
R – Tô louco, nós estamos aí, nós tínhamos um pacote de incentivo que não foi usado, não sei o que que deu.
P/1 – Albano, lições de vida até essa altura, lógico!
R – É, acho que não acomodar. Acho que isso aí é muito de... O meu pai, meu pai teve loja, está aberta, até os oitenta e um anos, mais ou menos, a gente ficou com um pouco de medo porque ele teve, não tinha mais a capacidade de mobilidade, de acompanhar por perto e teve alguns roubos nas lojas por gerentes e aí eu falei: “Pai, depois de velho, construiu uma vida, criou, fez o seu patrimônio, você vai acabar ficando velho endividado por conta de querer trabalhar. Então eu acho que chega, tem um ponto na vida que tem que parar”. Ele concordou, manteve o escritoriozinho dele aberto, né, então ele até agora, até uns três meses atrás, ele ainda ia toda de segunda à quinta, ele ia todos os dias, botava gravata, sempre gostou de trabalhar de gravata e ia para o escritório. Não tinha nada no escritório dele, não tinha mais nada no escritório, tinha um boy, que já era um sênior, né, que o boy dele, o Martim, tem sessenta anos, trabalhava com ele a vida toda (risos). Ele manteve o Martim com ele lá, ele ia para o escritório, o Martim trazia café, botava lá. ainda tinha alguns amigos vivos, trazia todos os jornais, ele lia os jornais, ia no banco, no gerente para ver a poupança, ver como é que estavam as ações, investimentos, conversava, atrapalhava um pouco o gerente porque não tem internet nessa idade, não acessava esse tipo de coisa. Mas ele saía de casa todo dia e ia lá de vez em quando, adiantava em fazer um negócio, comprar uma coisa, vender outra, sempre trabalhando. Eu acho que é uma lição de vida, acho que é não parar de trabalhar. Não dá para você achar que parar é bom, porque, a vida, ela não dá para você quebrar essa dinâmica. Acho que poder reduzir o trabalho com certeza, curtir um pouco mais a vida, os filhos, a família é sempre bom. Esse é um ponto. Outro ponto é não abdicar de fazer as coisas que você gosta, quer seja trabalho, quer seja família, tem que ter tempo, né, independente de quando, o que você faz. Ontem eu cheguei dos Estados Unidos na segunda-feira, né, o voo chegou aqui no Brasil às dez da manhã, meio dia eu estava aqui, fiquei até dez horas aqui no escritório. Ontem foi terça, vim para cá, a Rita estava, minha esposa chegou dos Estados Unidos hoje de manhã, ela veio dois dias depois de mim. Daí ontem a Alice, a minha filha mais nova que trabalha no BNDES me liga: “Pai, tem uma reunião, um seminário no Hyatt, em São Paulo amanhã, estou indo para o Rio, tô chegando aí sete horas”. Falei: “Então vamos jantar”. Cheguei, estava morto, cheguei em casa, fui jantar com ela, saímos para jantar fora. Então esse tipo de coisa tem que, não pode abrir mão disso, não pode abrir mão. Não pode deixar a vida te dar uma, cansar, né, você tem que puxar a vida pela frente. A história do, uma lição de vida importante, eu tive dois tumores gravíssimos, né, faço isso, eu faço controle a cada semestre, eu faço ressonância magnética para acompanhar. Eu tenho uma fábrica de nódulos no rim, né? Agora eu não me preocupo mais porque a tecnologia, se tiver outro, vai ser por uma máquina de ressonância magnética, tem cateter com nitrogênio e mata o nódulo lá dentro, mas eu vivo com isso aí e não tem problema nenhum, eu não tenho nada, vez em quando aparece um nódulo, faz uma cirurgia e volta e continua tocando a vida. Faço esporte, tive, engordei muito, voltei a fazer academia todo dia de manhã, estou mais disciplinado, perdi peso, o que é bom, estava meio bagunçado nessa rotina de trabalho maluca. Mas lição de vida é cuidar da saúde talvez um pouco e não deixar a família e nem o trabalho de lado.
P/1 – E Albano, para gente encerrar, você já conhecia o Projeto Memória?
R – Eu tive notícias deles há uns dois anos atrás quando eu tive uma reunião não sei, com uma pessoa, não lembro mais o nome lá na vídeo ainda, lá na Amauri. Mas acho que isso é fundamental, adoro esse tipo de coisa.
P/1 – Você acha que é bom?
R – Fundamental. A história, eu adoro história. Adoro ler, né, e adoro ler muito história, história de ciência, história eu gosto muito de história. Eu acho que você não muda o passado, a gente só tem a capacidade de mudar o futuro, mas tem que aprender com o que foi feito. A história está aí para ser lida e para ser usada, né?
P/1 – Você não tinha tempo, estamos batendo em duas horas! O que você achou de dar entrevista? Mas tudo bem, ele estava relaxado, né?
R – Foi bom.
P/1 – O que você achou?
R – Foi bom, acho que é bom.
P/1 – Acho que provavelmente muito diferente das outras entrevistas que você deu na sua vida.
R – Já fiz uma parecida com essa na CSN, mas a CSN a gente fez um projeto de resgatar um pouco a memória da companhia, foram feitos alguns livros, inclusive, e a gente participou não dessa forma, um pouco diferente mas foi feito algo parecido. Mas muito bom, meus parabéns, isto vai ficar bom.
P/1 – Albano, muito obrigada. A Memória Votorantim e o Museu, foi uma honra poder bater esse papo contigo. Obrigada.
R – Tá ótimo!
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