Memória da Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Jorge Felipe Gomes
Entrevistado por Ana Maria Bonjur
Aracaju, 15 de dezembro de 2004
Código: CB_SEAL 18
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
Revisado por Sofia Tapajós
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Eu ...Continuar leitura
Memória da Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Jorge Felipe Gomes
Entrevistado por Ana Maria Bonjur
Aracaju, 15 de dezembro de 2004
Código: CB_SEAL 18
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
Revisado por Sofia Tapajós
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Eu queria começar com você falando o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R – Meu nome é Jorge Felipe de Paula Gomes. Eu nasci em 17 de Julho 1955. Eu sou natural do Rio de Janeiro.
P/1 – Conta pra gente, Jorge, como e quando foi a sua entrada aqui na Petrobras.
R – Eu entrei na Petrobras, eu optei, quando eu terminei o curso do serial dois, o curso de Formação de Engenheiro de Instrumentação, isso no final de 1978 quando eu estava concluindo o meu curso de Engenharia na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. E houve a opção, dentro da Petrobras, por alguns órgãos da Petrobras. E eu fiquei fascinado com a opção de vir pra Aracajú. Eu tinha vontade de conhecer o Nordeste. Eu não conhecia o Nordeste e Aracajú me pareceu uma coisa bem interessante, até porque era uma unidade nova, era uma unidade que estava em fase inicial de partida onde a gente teve a oportunidade de desenvolver, de aprender. E praticamente nasci junto com
a empresa.
P/1 – E aí você fez concurso, como que foi?
R – Eu tinha feito um concurso para a área de, para prestar o curso da Petrobras. E se houvesse possibilidade nós seríamos admitidos em função do aproveitamento do curso.
P/1 – E aí você optou por Sergipe?
R – Optei por Sergipe. Não por Sergipe, mas pela Fafen [Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados], pela fábrica de fertilizantes de Sergipe.
P/1 – Aí você já entrou na Fafen. Conta como foi a sua trajetória aqui dentro.
R – A trajetória nossa aqui: 1969 eu fui pro Edise [Edifício sede da Petrobras] e trabalhei na parte de acompanhamento dos processos de compra e parte do projeto final do detalhamento. 1980 fui pra unidade industrial, pra Fafen, unidade de Camaçari. Estagiei até o final do ano de 1980. 1981 eu já vim pra Sergipe pra acompanhar a parte de obras, condicionamento de equipamentos, instrumentos, e acompanhar a partida. E a data feliz que foi a primavera de 1982, com a entrada de produção da nossa unidade aí. E de lá pra cá nunca mais saí da Fafen.
P/1 – Nunca mais saiu. Quais os cargos que você exerceu aqui dentro?
R – Eu entrei como Engenheiro de Equipamentos um, passei por umas fases. Cheguei a ser Gerente Setorial na época do setor de Instrumentação. Cheguei a ser Gerente do setor de Elétrica e Instrumentação. E hoje eu trabalho num setor que junta várias especialidades. Como eu sou o Gerente, sou o Engenheiro de acompanhamento na área de mecânica, instrumentação e elétrica.
P/1 – E como que funciona a Fafen, fala pra gente um pouquinho como que é.
R – A Fafen é uma unidade de processamento de gás natural. A gente processa na faixa de um milhão e 300 mil metros cúbicos de gás natural por dia. E a gente transforma esse gás natural em uréia
e amônia. A uréia, na realidade, é um fertilizante básico. É o nitrogênio que a gente usa pra parte da alimentação na agricultura. Ele é um fertilizante básico e é misturado a outros fertilizantes tipo potássio, tipo fósforo. Faz uma mistura que eles chamam NPK, e nós somos o N dessa mistura. É um fertilizante básico. Eu tenho até uma historinha que eu me lembrei, essa questão do fertilizante. Que a gente vê muita conversa sobre o fertilizante, a gente não usar fertilizante químico, usar o fertilizante natural, esse tipo de coisa. Em 1973 eu estava me preparando para fazer pré-vestibular. E nós estudávamos, não sei se vocês, nós estávamos estudando uma cadeira chamada, dentro da matemática, era...como é que se chama? Tava dando aula de P.A.-P.G:P.A., progressão aritmética; P.G. progressão geométrica. E nós... lá pelas tantas, o professor resolveu dar um exemplo. E o exemplo que ele deu...esse professor era um pouco assim, eu diria até... ele tem umas ideias assim que o mundo ia se acabar. Ele tinha umas ideias um pouco pessimistas quanto à vida, assim. Então ele achava o seguinte. “Olha só, eu vou dar um exemplo de P.A.. A população mundial, a população do Brasil, ela cresce em P.A.. Aliás, a população do mundo cresce numa progressão geométrica. A progressão geométrica: 2, 4, 8 , 16, 32, ou seja, ela vai sempre se multiplicando por um fator multiplicativo. E a proporção dos alimentos no mundo, eles vão crescer em PA, ou seja, dois, quatro, seis, oito, dez, ou seja, você vai sempre somando esse tipo.” E isso foi uma coisa assim que me assustou muito, essa visão apocalíptica que o meu professor tinha na época. Aí quando eu entrei com esse negócio do fertilizante, isso era uma coisa que ficava sempre por dentro, eu pensava comigo: “Puxa vida, como é que vai ser no mundo daqui a algum tempo?” Só que, na realidade, quando eu entrei numa indústria de fertilizantes eu vi que as coisas não são bem assim. O fertilizante hoje, o nosso fertilizante químico, que alguns criticam e tudo, ele é responsável hoje por grande parte da alimentação da população mundial é em cima do fertilizante químico. O fertilizante químico hoje ele aumentou realmente a produtividade muito aí. Porque você tem as fronteiras agrícolas, que hoje você, por questões de meio ambiente, você não pode mais derrubar tantas matas, você tem que preservar as nascentes, você... Então, pra você aumentar a produtividade das terras existentes, das terras agricultáveis hoje, a ideia é usar o fertilizante. E nós aqui, eu me sinto muito orgulhoso de trabalhar numa empresa como a Fafen. Eu sou Petrobras, mas antes de ser Petrobras eu sou Fafen. A Fafen dentro da Petrobras é uma empresa extremamente importante e nós aproveitamos até agora, dentro da nova égide desse nosso governo, a questão da Fome Zero. O fertilizante é fundamental nessa questão da Fome Zero. E a gente, como fertilizante, eu fico até... já eu me sinto até rejuvenescido porque hoje o fertilizante, a tendência é a gente crescer dentro de uma própria, dentro de criação de novas fábricas de fertilizantes. Isso nosso superintendente colocou recentemente, que está aprovado a âmbito de diretoria, que a Petrobras possivelmente vai criar uma outra unidade industrial de fertilizantes no Centro Oeste, naquela região ali do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, aonde a gente vai se desenvolver. Isso aí é a minha visão sobre empresa. E uma outra coisa também é a questão que nós, como vivemos o início da empresa, que começamos, que sentimos, vimos essa empresa praticamente sair do solo, você criar a montagem dos equipamentos, esse tipo de coisa, isso dá um certo, uma afinidade, uma relação até umbilical que nós temos junto à empresa. Então a empresa passa a ser pra nós como se fosse uma extensão da nossa casa, do nosso lazer, do nosso convívio, das nossas amizades. Então a gente tem um certo compromisso muito grande com essa empresa. Então, a nível de Fafen, eu me sinto muito satisfeito durante esses 25, 26 anos que eu já convivo com a Fafen, eu me sinto muito orgulhoso de estar dentro da Fafen. Eu queria até que a família Petrobras, a família do _______, conhecesse também essa área muito bonita da área do fertilizante, essa área que é uma área que, que a Petrobras a gente conhece mais como petróleo, como gás, como energia. Essa área do fertilizante que é uma área muito bonita. Eu acho que só pelo fertilizante hoje você tá diretamente ligado com a parte da alimentação das pessoas e tudo. Eu acho muito importante esse tipo de coisa.
P/1 – E, ao longo desses 25 anos que você trabalhou, tem alguma história engraçada, marcante, que você se lembra e queira deixar registrado?
R – Olha só, tem tantas histórias, durante esses anos todos aí. Você sentiu que eu sou um tanto quanto, gosto de contar casos aqui, né?
P/1 – Pois é, conta um pra gente.
R – Olha só, aquela questão da camisa cor de rosa também, da área de instrumentação. Você acha que cabe? Eu acho que cabe aquela da camisa cor de rosa. Eu to usando essa fardinha aqui. É uma fardinha Petrobras, instrumentação. Então, na realidade, nós da instrumentação, nós somos um público... como é que nós diríamos, nós somos assim um grupinho. Nós gostamos de ser identificados com o grupo. E a instrumentação, por ser uma área mais, talvez dentro da manutenção, foi uma área mais fina onde a gente trabalha com equipamentos de mais precisão, equipamentos mais delicados, equipamentos que requerem trato mais apurado. Então, a instrumentação teve sempre aquele estigma dentro das outras especialidades mais pesadas como os caldeireiros, como os mecânicos, como os eletricistas ou o pessoal da área
de isolamento. Então teve sempre aquele estigma de pontuar mais por ____ ou não do técnico de instrumentação. E nós, a algum tempo atrás, nós compramos algumas fardinhas, custo nosso da instrumentação. Cada um comprou a sua fardinha. Então nós optamos em ter a camisa cor de rosa. Então os dias de sexta feira na Fafen todos que forem da instrumentação usam uma camisa cor de rosa. E eu tava comentando com a nossa Ana Maria que ano que vem nós vamos comprar mais camisas. E o que já apareceu de simpatizantes pra comprar a camisa cor de rosa ano que vem. “Quando vocês forem comprar camisas cor de rosa, bote meu nome que eu também quero. Mas não diga que eu to colocando o nome agora não”, até o medo dele se expor.
P/1 – Daqui a pouco muda o uniforme, do verde pro cor de rosa.
R
- É uma coisa também que eu tava lembrando, que a gente aprende muito nessa vida com a questão do... Tem colegas nossos que vêm aqui: “Ah, porque o meu chefe me massacrou, meu chefe me fez isso, me fez aquilo, esse tipo de coisa. Eu sempre fui uma pessoa perseguida.” Eu acho que a gente tem que tirar sempre bons exemplos. Tem que buscar sempre as coisas que façam a gente crescer, que façam a gente ir pra frente. Então eu tenho alguns exemplos aqui. Eu não vou citar nomes de pessoas que já passaram, mas que não cabe esse choro de pessoas que já passaram. Eu acho assim, que a gente aprende muito quando você tem um mentor, quando você tem um chefe, que ele dê as dicas pra você, que ele oriente seu caminho, que você possa se desenvolver com as coisas que ele passar, com bons exemplos. Mas tem uma outra coisa também, tem um outro lado da moeda também, que eu acho que a gente aprende mais ainda. Você aprende muito com um bom chefe, mas você aprende muito mais com o mau chefe, porque se você tiver o discernimento e a capacidade de perceber o que ele tá fazendo errado e não fazer, eu falo: “Puxa vida, o dia que eu tiver no lugar dele eu jamais vou querer tratar uma pessoa como esse colega nosso nos trata aqui.” Então isso aí, eu acho que essas são lições que eu aprendi ao longo desses anos e tudo aqui.
P/1 -
Tanto tempo. E, Jorge, você é sindicalizado?
R – Sou. Eu faço parte do Sindicato dos Engenheiros de Sergipe.
P/1 – E o que você acha da relação do sindicato com a empresa, com a Petrobras?
R – Olha só, na realidade o sindicato ocupa o papel dele. O sindicato, a função do sindicato, a meu ver, é defender o empregado da empresa. O sindicato tem essa função precípua de defender as pessoas e buscar os direitos dos cidadãos, esse tipo de coisas, dos funcionários da empresa, e estar defendendo uma categoria, estar defendendo o núcleo. Eu acho que é essa função, é isso aí. Só que nós estamos hoje, vivemos sob uma nova égide, que nós temos os trabalhadores governando os trabalhadores, como a gente nunca teve nesses 500 anos de descobrimento do Brasil aí, nós nunca tivemos uma condição que está agora. Então eu acho que, hoje em dia, apesar de pessoas acharem que a gente, que não tem que ter um caminho, que a gente tem que modificar, que temos que ter mais coisas, esse tipo de coisa, eu acho
que, eu vejo que hoje a gente tá indo, a empresa nunca teve uma condição como ela tá hoje, de condição de liberdade, de participação do trabalhador, de evolução, de direitos trabalhistas. Mas o fato também é o seguinte, a gente não pode tomar tudo. Então as coisas têm que ser dadas, tem que haver um ponto de equilíbrio nessa história que... E pessoas que estão, nunca vai se conseguir agradar a todos ao mesmo tempo. Todo o tempo todos vão ficar. Então vai ter sempre pessoas que vão discordar do modelo. Então eu acho que, na realidade, o sindicato tá fazendo o papel, tem feito o papel dele. A direção da empresa tem feito o papel dela. Só que, na realidade, hoje a direção da empresa tá permeada de pessoas que vieram do movimento sindical, que fizeram parte da militância petista ao longo desses anos aí. Então o que tá se criando hoje na realidade é uma, porque também se você não tiver uma oposição, não tiver as forças que se contrabalancem, que se equilibrem também, aí ficaria muito fácil. ‘Não, tudo que a gente fizer é o que tá certo’, esse tipo de coisa. Então eu acho que tem que haver um ponto de equilíbrio. Que o sindicato atual, as pessoas que estão ocupando o espaço aí, se é uma linha um pouco mais à esquerda, uma linha de PSTU [Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados], é uma linha um pouco mais, na realidade tem que existir pra gente até buscar um ponto de equilíbrio. Essa é a minha colocação.
P/1 – Legal. O quê que você achou dessa iniciativa da Petrobras, do sindicato, de fazer o Projeto Memória, de ter, de você ter prestado o seu depoimento?
R – Eu gostei. Eu tava muito assustado antes de chegar. Você estava até me acalmando ali. Você tem muita experiência nisso. Você vem me acalmando, conversando comigo e tudo. Porque a gente não tá acostumado. Isso aqui é um ambiente que não é o nosso ambiente. O nosso ambiente, o papel que a gente exerce é outro. Então, eu tava um tanto quanto assustado aqui.
P/1 – Não parece.
R – Eu tive aqui e me senti muito contente de fazer parte desse trabalho aqui. Eu sei que a gente, quando a gente escuta a nossa voz e nós nos vemos de maneira diferente, você diz: “Puxa vida, eu sou muito feio, minha voz é muito estranha”. Mas, não sei, mas eu tô me sentindo feliz de estar aqui, de estar participando aqui. E depois eu queria até descobrir até como é que eu divulgo, que outras pessoas possam assistir, minha família possa assistir, muita gente possa assistir.
P/1 – Isso vai ser divulgado, de fato.
R – Tá certo.
P/1 – E você quer deixar mais alguma coisa registrada?
R – Não, eu quero deixar o registro o seguinte, que na realidade a Petrobras é a empresa mais importante que o Brasil tem hoje, é uma empresa hoje que vai ser a mola mestre da retomada do desenvolvimento nacional. Eu tenho muita esperança que esses dois próximos anos aí, que é 2005, 2006, nós vamos ter um crescimento fantástico. E quem vai alavancar isso aí, sem dúvida nenhuma, vai ser a Petrobras. A Petrobras vai levantar esse país aí, como ela sempre ajudou o país. Então, dessa vez ela vai alavancar o desenvolvimento do Brasil. E o nosso fertilizantezinho, o nosso também vai dar uma puxada grande. Eu acredito que essa geração de empregos, essa questão da alimentação, essa questão de fome zero, isso vai ocorrer em cima da Petrobras. E a Petrobras vai ser a alavanca nesse negócio aí. Ok, meus amigos, eu fico muito feliz de ter dado esse depoimento. Não sou artista. Isso é uma coisa que me assusta muito, essa câmera aí, esse cidadão olhando pra mim aí. Mas, o quê que eu vou fazer? Mas eu fico muito feliz.
P/1 – Tá ótimo. Jorge, muito obrigada. A gente que agradece. Foi ótimo.
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