Casa Confiança

P/1 – Seu José, boa noite

R – Boa noite.

P/1 – Eu gostaria que o senhor começasse dizendo o seu nome.

R – José Elhage.

P/1 – A data de nascimento.

R – 10/06/21.

P / 1 – Seu nascer aonde?

R – Rio de Janeiro, Ditrito Federal, naquela época.

P / 1 – E o nome de seus pais?

R – Amim e Rassibe a esposa, as irmãs: Adélia, Helena, Olinda, Julieta... somos em seis.

P / 1 – Então faltou um.

R – É (Chater?).

P / 1 – O senhor mais um rapaz?

R – É, são dois irmãos e quatro irmãs.

P / 1 – E seus avós o senhor lembra o nome deles?

R – Júlia, por parte de minha mãe e do lado do papai não estou lembrando.

P / 1 – Não tem problema, os seus pais faziam o quê?

R – Eram comerciantes. Ele trabalhava no Rio de Janeiro junto com Nicolau. Hoje, eu trouxe até uma fotografia do início da loja “Confiança”. Nicolau foi sócio dele no Rio de Janeiro, depois ele veio para São José dos Campos e futuramente ele convidou meu pai para vir aqui. Em 27 o Nicolau fundou a casa “Confiança”, em 29 o papai veio do Rio para ficar com ele aqui e a nossa família também ficou em São José dos Campos.

P / 1 – O seu pai imigrou para o Brasil? O Senhor sabe em que data ele chegou aqui no Brasil?

R – Foi em 27, em 29 veio pra cá. Mas já morava no Rio bem antes.

P / 1 –.O senhor veio junto? O senhor tinha seis anos é isso?

R – Exato.

P / 1 – O senhor passou sua infância aqui em Sáo José?

R – Sim toda a infância.

P / 1 – O senhor estudou aqui?

R – Sim estudei.

P / 1 – Em que colégio o senhor estudou?

R – Em (Laberark?)

P / 1 – Fez o primário, o ginásio...

R – Sim, fiz o comércio.

P / 1 – E como era a escola?

R – Fiz o “comércio”, que na ocasião por irregularidade da escola perdemos três anos, mas ficamos lá mesmo.

P / 1 – Era Escola de Comércio?

R – Sim.

P / 1 – O que eles ensinavam na Escola?

R – Tudo. O curso era bem normal mesmo. Era muito eficiente, professores muitos bons. Eu me lembro da Maria Luiza, você já ouviu falar sobre ela? E vários outros, como Joaquim Candelária, Jorge Moreira, que hoje é hoje nome de rua. Tinha professora de categoria, muito bons. E fomos muito felizes no curso.

P / 1 – Bastante gente fez este curso de comércio?

R – Muitos colegas. Era uma turma bem grande mesmo. Tinha Tufi Simão, não sei se você conhece, Nagib Simão, eram dois irmãos que estudaram lá conosco. Antune Boldesau? Também fez o curso lá, naquela época. A maioria dos rapazes estudaram neste colégio. Era o melhor colégio que tinha.

P / 1 – Vinha gente de outras cidades ou era só de São José que estudavam lá?

R – Era mais de São José mesmo. Com o tempo, talvez de Jacareí. Jacareí sempre dependeu de São José dos Campos para estudos. Acredito que vinha sim, de Jacareí, Caçapava provavelmente alguns, Taubaté, não acredito não.

P / 1 – O senhor lembra de como era a sua casa de quando o senhor era criança? Descreva a loja para nós.

R – Morava do lado da loja. Na Praça João Pessoa. Era uma casa relativamente boa, confortável e ficamos ali até 1939, quando papai adquiriu um terreno na rua Vilaça e construimos uma casa onde nós estamos até hoje, nº 131. Minha irmã ainda mora lá até hoje. É uma casa boa, bem construida.

P / 1 – E seus amigos, vocês brincavam, ou o senhor já trabalhava quando era criança?

R – Eu trabalhava sim, desde os doze anos.

P / 1 – Na loja com seu pai?

R – È, mas sempre havia tempo de sair e brincar com os amigos.

P / 1 – Brincava de quê? Jogava Bola?

R – Sim, exatamente de futibol, porque ali na Igreja, no largo da Matriz, havia uma mureta e o espaço em cima dava para fazer um campinho. Depois eles reformaram a praça, ficou muito bonita, como está até hoje.

P / 1 – Nesta época o senhor estudava, trabalhava na loja?

R – Sim eu estudava à noite, justamente para poder colaborar durante o dia na casa “Confiança”.

P / 1 – Senhor José, o senhor tem idéia por que seu pai veio para São José dos Campos?

R – Porque ele com Nicolau ( Letaif?) eram sócios no Rio, Nicolau mudou para São José, o comércio daqui estava bom, convidou meu pai novamente, para trabalha com ele, porque eles gostavam de estar juntos. E papai é tio do Nicolau (Letaf?). E ele fez questão que a gente viesse. Viemos e fomos muito bem sucedidos, até hoje.

P / 1 – Os dois de origem libanesa?

R – Exatamente.

P / 1 – E a colônia libanesa aqui era grande?

R – Sempre foi relativamente boa, não grande, grande....

Sempre foi boa. A sociedade dos libaneses se misturavam muito com os brasileiros, ele não tinham assim uma radicalização de querer ficar convivendo à parte dos brasileiros. Eles se misturavam, os filhos, tudo. Tanto é que nossa amizade é toda de brasileiros. Não só visito uma outra família por ela ser libanesa de jeito nenhum, nunca houve isto. Os libaneses prefere se misturar, ele é fácil de compreender e aceitar a sociedade onde ele está vivendo. Ele tira proveito maior da sociedade. Não tem esse negócio: “quero ser libanês a vida inteira”. Nunca, nós nem lembramos que somos libaneses. É porque vocês perguntam que a gente responde. Meus filhos nem falam árabe, eu fala porque estive fora visitando o Líbano, na ocasião eu aprendi. Por aqui a gente não aprende nada. Meus filhos não sabem falar àrabe.

P / 1 – Mas o senhor falava com seu pai?

R – Falava...pouco também mais era português mesmo. Eles não tem este sitema. Existe famílias de nacionalidades que fazem questão que o filho fale no idioma deles, com os mais velhos. O libanês não tem disso não. Ele dá plena liberdade, toda vida foi assim que eu me lembre. Não são nacionalistas no sentido de querer que o filho continue sendo libanês. Eles preferem que o filho seja do local onde ele é que seria brasileiro. Todos nós não sentimos que somos libaneses, só quando vocês perguntam a gente lembra que é. Não porque a gente fica pensando, preocupando, estudando. Eu nãosei se isso é bom ou mau, mas para o brasileiro é bom. Talvez para o libanês não seja tão especial, mas eles não são muito apegados.

P / 1 – Tinha muitos imigrantes no comércio aque em São José ?

R – Tinha, ema boa parte. Mas não só de libaneses, tinha bastante judeus, como o Cremem, o Diamante e eram todos amigos da gente. Havia uma facilidade de comunicação.

P / 1 – E já existia a Associação Comercial?

R – Já, desde 34 ou 36, e meu pai sempre foi diretor da Associação Comercial. E atualmente eu sou, continuo. A gente tem uma preferência por esta organização. Eles olham pra nossa família com bons olhos e nós colaboramos bastante.

P / 1 – Seu José o senhor passou a sua infância aqui em São José nos anos 30 mais ou menos. Como era São José nesta época?

R – Era uma cidade bem provinciana. Nossa casa fica na Rua Cerqueira Campos, com a Praça João Pessoa e lá tinha somente a calçada e o passeio onde passa os carros era mais areia, que São José é mais arenosa. Não tinha calçamento nenhum. Só bem mais tarde, depois de 40 é que começaram a fazer o calçamento na rua Cerqueira Campos, Rua Quinze de Novembro, Rua Sete também foi em seguida. A Av. São José teve uma evolução muito grande na época do________________________ não me lembro agora o nome, mas quando eles derrubaram todas as casas que davam mais prá banhada e ficou como é hoje, aberta. Antigamente a Rua São José era estreita, tinha casa tanto do lado da direita como da esquerda. Atualmente só tem do lado esquerdo. É uma cidade que desenvolveu muito, São José dos Campos era bem provinciana mesmo.

P / 1 – E naquela época como era, tinha transporte na cidade?

R – Tinha tudo. Só que não era como hoje por exemplo nós temos a Vila Maria, não existia, era tudo terreno, foi crescendo com o tempo, só tiínhamos uma avenida: Rui Barbosa, que comunicava Santana com o centro de São José. O resto era tudo mato. Aqui onde é a esplanada, era uma fazenda, pertencia aos Martins e eles foram se desfazendo, vendendo até formar este ambiente todo que nós temos hoje: bairros bem populosos, bem construidos. A cidade evoluiu bastante.

P / 1 – E o período dos Sanatórios, o senhor lembra?

R – Lembro, o sanatório de São José era Vicentino Aranha, Esdras, o Idória, todos estes sanatórios tratavam dos doentes que ali ficavam isolados, não se misturavam com a população, absolutamente. Tinha muitas pensões também, na rua Vilaça, por exemplo onde nó morávamos naquela ocasião que tinha três ou quatro pensões. Os doentes apenas saiam mas não se misturavam com as pessoas sãs, de jeito nenhum. E aos poucos, com o tratamento com a penicilina que aos poucos foi melhorando, e quando houve essa medicação bem moderna que acabou com a tuberculose, aí tudo ficou bonito em São José dos Campos. Aí cresceu mesmo, a cidade foi cada vez evoluindo mais.

P / 1 – Mas o comércio do centro, neta época dos sanatórios, ele não recebia essas pessoas?

R – Não havia essa separação, os tuberculosos tinham acesso a todos os lugares. Mas não se misturavam. Por exemplo, não havia mistura de alimentação, eles não se alimentavam, iam apenas para compra. Eram ótimos fregueses. Eram pontuais para pagar, tinham crédito, pagavam muito bem aquele parcelamento. Não faltavam com a obrigação de jeito nenhum. Eram sempre pessoas mais ricas mesmo que tinham este tratamento.

P / 1 – E a sua juventude aque em São José dos Campos, como foi?

R – Foi normal, muito boa, eu só tenho boas recordações. Tenho muitas amizades, fazíamos footing. Não sei se é bom falar... a rua Quinze de Novembro onde tem os bancos hoje, ali depois das 7 h da noite havia um footing, da Praça da Matriz até a altura do banco Bradesco. Nosso footing era tudo ali. Era um tal de ir e voltar. Os rapazes ficavam de um lado, as moças de outro, quando havia aquela possibilidade deles poderem se comunicar, naturalmente havia um namoro, tudo normal. Havia muita comunicação entre rapazes e moças. Houve uma ocasião que quando veio o ITA prá São José, quando chegou o pessoal do ITA que eram todos rapazes, começaram a namorar as moças de São José dos Campos, aí foi um “Deus nos acuda”, porque os rapazes eram todos de nível superior e começaram a namorar as moças de São José dos Campos e isso prejudicou um pouco a facilidade que os moços da própria cidade tinham de se comunicar com as moças. Então houve muita briga, muita richa, mas sempre acabaram bem e muitas se casaram com estes rapazes que vieram trazer este progresso para São José dos Campos que foi o ITA.

P / 1 – E o senhor lembra um caso especial de uma briga dessa?....risada

R – Não, não tem como citar porque não lembro. Eu não me preocupava muito porque como eu trabalhava e estudava à noite eu não tinha muito tempo prá certas minúcias. Quando encontrava com meus amigos à noite era só mesmo prá fazer sociabilidade, não para crítica, este que é meu problema.

P / 1 – E tinha bailes também, cinemas ?

R – Muito baile, dançávamos demais. Tinha na Associação, tinha no Esporte, eram dois clubes muito bons e de Sábado para Domingo havia sempre esta reunião dos rapazes e moças era muito alegre.

P / 1 – E no Carnaval?

R – Carnaval então era a coisa mais linda. O pessoal não tinha muita malícia, havia esta comunicação mais amiga. A gente não ia com segundas intenções, iam mesmo prá pular, dançar. Era muito proveitoso. O Carnaval nosso foi muito bom, durante muitos e muitos anos. Depois disso não sei se vai modificando.

P / 1 – E a sua casa, como era a vida na casa de um comerciante de São José dos Campos, nessa época? Como era quando o senhor morava na casa de seu pai ainda?

R – Era normal. Inclusive tínhamos muitos parentes em São Paulo e no Rio também sempre tivemos muitos porque moramos bastante tempo lá, meus primos. Havia reuniões nos domingos, eles faziam questão de vir nos visitar. Vinham primos de São Paulo, Rio, sogra. A família fazia reuniões de almoço nos domingos, quando não a gente ia a São Palo pra retribuir. Havia sempre essa comunicação, na minha família nunca vivemos só, sempre tivemos um relacionamento muito bom entre os familiares tanto de São Paulo como do Rio. Como até hoje continua. Sempre nos visitando.

P / 1 – E como eram essas viagens? Seu José, antes da Dutra ? De São José pro Rio, de São José prá São Paulo?

R – Eram de ônibus mesmo, só que demoravam um pouquinho mais. Em vez de ser em 1 hora, 1.10 h , 1.20 h levava duas horas e meia, mas a gente ia do mesmo jeito. Era, se não me engano, a empresa (Cabrilana?), que fazia esta viagem. Era ,aos de ônibus. De trem quase ninguém ia, ninguém gostava de ir.

P / 1 – Por quê?

R – Porque não tinha nenhum conforto. Uma porque a estação ferroviária ficava longe das casas. A linha era longe. E ninguém ia ter esse trabalho de descer até lá. Não havia muito carro na época. Essa comunicação de carros e tal, e os ônibus estavam no centro, e nós então tínhamos essa facilidade de procurar mais ônibus. É tudo na praça da Matriz, onde tem uma loja, a gente pegava o ônibus na praça da (_________) também tinha, onde é a Câmara Municipal Afonso Pena e sempre foi esse miolo de São José que todo mundo procurava através da rodoviária e não ferroviária.

P / 1 – E como é que era o trajeto até o Rio e até São Paulo? Passava por onde, parava.....

R – Como hoje, mesma coisa. Daqui prá São Paulo não havia parada em cidades, ia direto. Daqui para o Rio tinha bastante pontos de parada, como até hoje existe. Então nãou houve grande modificações, era a mesma coisa que na época de hoje.

P / 1 – E o senhor viajava também para o litoral? Para outras cidades aqui do Vale?

R – Muito pouco, porque como a gente estudava e trabalhava, não tínhamos muito tempo prá dividir com esses passeios. A gente aproveitava nos domingos, nos sábados p’rá se aplicar mais nos estudos. Eu sempre fui assim Nunca repeti de ano, e assim eram os demais colegas também, procuravam ser aplicados mas a gente viajava p’ro litoral, não constante como hoje, eles vão quase toda semana. Aquele tempo quando tinha chance era de um mês, depois de dois meses.

P / 1 – Ia p’ra onde?

R – Caraguatatuba geralmente.

P / 1 – E como que ia p’rá Caraguatatuba?

R – Ia de ônibus. Essas linhas de (Cabrilana?) e outras. Sempre de ônibus. Vinham de São Paulo direto e passavam por aqui e outros que saiam de São José diretamente p’rá lá. E p’ro Rio de Janeiro não tinha ônibus direto daqui não, tinha que pegar de São Paulo. Passava pela estrada e a gente pegava lá. Por isso que p’ro Rio quase que a gente não ia, era mais Caraguatatuba.

P / 1 –Senhor José, o senhor começou a trabalhar com que idade?

R – 12 anos.

P / 1 – E como foi começar a trabalhar com 12 anos. Como era? Onde o senhor trabalhou?

R – Trabalhei só na casa “Confiança”mesmo.

P / 1 – Como é que era a loja?

R – Eu comecei varrendo a loja. Meu pai era o dono mas nem por isso eu tinha outros privilégios. Eu trabalhei fazendo limpeza, arrumando, acertando as portas, colocando mercadorias nos expositores., E me acostumei, até hoje eu faço este trabalho com prazer. E tenho gosto eu sei porque eu estou pondo uma determinada mercadoria, para expor e chamar a atenção do freguês. Esta parte de venda foi muito importante p’ra mim, eu vendi muito no balcão. Eu atendia muito bem, os fregueses gostavam de ser atendidos por mim. Eu tinha muito cuidado para agradar o freguês, procurava agradar o máximo. E as mercadorias que nós trabalhávamos eram de primeira qualidade, muitos importados e alguns eram nacionais, mas a maioria era tudo importado. Nossa casa era preferdida para classe média p’rá alta. Aqueles que vinham, por exemplo, da roça, aos domingos eles compravam conosco aqueles baratos e tínhamos a sardinha de venda e alguma coisa chamava “arranca toco” não sei se a senhora já ouviu falar nisso, é um tecido bem grosseiro mesmo para o pessoal da roça E tem um detalhe importante que não sei se você tem algum desses artigos que eu trouxe para vocês depois se ilustrarem que as noivas, isso é importante talvez, elas vinham sempre nos domingos para a Igreja Matriz para fazer seu casamento; e o importante disso não era o fato do casamento (por semanatinha um ou dois), mas elas vinham andando já vestidas de noiva à pé porque não havia carro naquele tempo e eram pessoas da roça mesmo. A noiva andava na frente e o noivo atrás, era um quadro muito particular, muito específico e todo mundo ficava apreciando, ficava na porta assistindo a passagem. Isso sempre, todo Sábado era mais no Sábado que eles vinham, Faziam o casamento, era muito bonito, muito respeitoso. Não havia assim falta de respeito por que eles vinham a pé não, porque todo mundo andava a pé mesmo.

P / 1 – Então tinha como se fosse duas linhas de produto: uma para o pessoal que vinha do campo e uma para o pessoal da cidade?

R – Sem dúvida, sempre tinha coisas mais simples.

P / 1 – Por exemplo o senhor pode falar ?

R – Sim, fazendeiros vinham compra da gente p’ro pessoal da roça. Mesmo pessoal poderoso assim de nível aquisitivo de muito dinheiro, eles vinham comprar mercadorias baratas p’ro pessoal da fazenda deles: brins, tricolines, até hoje existem né, organdis. Artigos p’ra sociedade mais alta: bordados, langeris, coisas finíssimas que hoje você encontra nesses magazines de São Paulo, nós tínhamos coisas até melhores porque vinham tudo de fora, do estrangeiro.

P / 1 – Como é que o senhor comprava estas mercadorias p’ra vender?

R – O viajante vinha trazer p’ra nós, nós não íamos às casas em São Paulo. Toda firma grande importadora procurava as nossas firmas. Como a nossa casa sempre foi grande, eles faziam questão de vender porque nossa mercadoria aparecia, ela tinha um tratamento especial, o freguês chegava, encontrava e comprava mesmo, nós tínhamos um movimento muito bom, de pessoas da cidade como de vizinhos da cidade.

P / 1 – Como chegava esta mercadoria, senhor José?

R – De transportadora como é hoje, O sistema sempre foi o mesmo, sempre por rodoviária nunca por ferroviária.

P / 1 – Sempre foi rodoviária nunca ferroviária.

R – Depois tem o seguinte: a ferroviária eles talvez não fossem especializados, então demorava mais p’ra chegar em nossas mãos já rodoviária não, eles traziam de São Paulo meum dia, no dia seguinte já estava em nossas mãoes, como é hoje, não houve muita mudança não, apenas critérios e firmas que foram se mudando.

P / 1 – E trabalhava na loja seu pai e quem mais?

R – Meu pai, meu primo Nicolau, a esposa dele Rosa, que tá neste prospecto que eu trouxe até deixeir indicado. Trabalhou minha irmã Adélia, meu pai Amim, meu irmão Chico, que foi também muito especial, o Chico, um dos melhores balconistas que tivemos em São José dos Campos, era muito respeitado. Dele que aprendi bastante coisa também. Que continue trazendo coisas bonitas p’ra todo mundo.

P / 1 – E o quê que tem que saber um balconista?

R – Tem que saber relacionar com as pessoas, respeitar as pessoas, não forçar vendas. Por exemplo receber uma pessoa que quer comprar alguma coisa como se fosse uma pessoa que quer lhe fazer uma visita cordial, então você vem com sorriso nos lábios, nunca fechei minha cara p’ra ninguém. O freguês fazia questão de comprar da gente, eles gostavam mesmo do trabalho, e nem queriam pegar o outro, nosso colega, vinham p’ra gente mesmo. Eles ficavam esperando a gente servir um p’ra depois continuar comprando com a gente. Isto é muito importante, mas todos que estavam trabalhando conosco na firma eram cordiais. Meu irmão Chico era maravilhoso, meu pai, meu primo; Rosa (Letaif?) foi maravilhosa também; Adélia, minha irmã, ela além de saber tratar bem no balcão, era uma criatura assim que tinha funções assim como costureira, era muito prendade, costurava, bordava fazia coisas lindas, era muito respeitada na época.

P / 1 – E o senhor então trabalhava e estudava. Como era sua vida, seu cotidiano?

R – Eu trabalhava o tempo todo, chegava à noite eu ia p’ra escola. Terminava o trabalho, não porque eu fosse o filho do dono que teria regalias, nada, trabalhava muito mais que um empregado, tinha outros empregados, mas eu trabalhava igual aos outros empregados. Entrava às oito, meu almoço era o máximo de meia hora, já os empregados tinham uma hora ou duas, mas eu por ser da família, tinha que mandar meu irmão ir, e não podia demorar muito, então era coisa rápida. Eu trabalhava mais horas que qualquer empregado. Chegava ás 7 horas da noite, depois do jantar, seguia p’ra escola e cursava o curso de propendentico, na época, depois veio o curso de Contador, mais tarde tivemos a sorte de Ter a Faculdade de Direito e eu me inscrevi na faculdade, fiz os exames, continuei estudando também, hoje sou advogado, só que não ministro, porque não dá tempo.

P / 1 – O senhor fez este curso de Contador onde?

R – Na Olavo Bilac mesmo.

P / 1 – E era um curso muito procurado?

R – É, era o melhor que tinha, até hoje ele é ótimo. Eles continuam com esse curso. A melhor escola que tem aqui no Vale é Olavo Bilac, são famílias tradicionais.

P / 1 – E como era feita a contabilidade na loja? Ajudou o senhor Ter feito este curso?

R – Eu nunca trabalhei em contabilidade, sempre no balcão. Contabilidade tinha nosso contador, que tomava conta da contabilidade, nunca nós misturávamos com trabalho de escrituração, era mais de balcão, de compra, venda, todos nós. Sempre tínhamos um contador que se responsabilizava do

P / 1 – E vendia fiado senhor José?

R – Vendia e bem. Pagavam direitinho mias tarde, com o tempo, começamos a fazer duplicatas, que antes não tinha, era mais anotações, tirávamos as notas, e pagavam pelo valor da nota. Depois, para organizar melhor para o contador tivemos que fazer duplicatas. Hoje em dia ninguém mais compra p’ra pagar depois, todo mundo quer pagar à vista. Uma porque o nosso preço hoje é concorrido, nós fazemos um desconto de 20% em toda nossa mercadoria, e quando se faz um descont de 20% não se faz crédito. P’ra Ter o crédito tem que aumentar o preço, e não temos mais este interesse, nem o freguês. Todo mundo quer levar vantagens. Preço baixo todo mundo compra.

P / 1 – E a casa Confiança fazia muita propaganda, fazia anúncio?

R – Fazia, pelo Vale Paraibano, pela rádio (____?_____) na época. Era sempre uma propaganda eficiente, atingia sempre, não só a cidade como o próprio Vale. A propaganda sempre foi a alma do negócio, p’ra todos os fins.

P / 1 – E o senhor sempre teve muita freguesia de fora de São José?

R – Sempre fomos...... Eu me lembro que quando chegava no fim do ano, na época do Natal, começando dia 20 de novembro ate 25 de dezembro o nosso trabalho era tão grande, tão grande que muitas vezes o freguês chegava na loja, a gente atendia um, tinha dois, três esperando a gente, p’ra cada um dos empregados. A gente era cosiderado como empregado mesmo, embora fosse patrão mas era como se fosse empregado. Então nós atendíamos três, quatro fregueses. P’ra senhora ver o fluxo de gente, o interesse que eles tinham por comprar. O povo tinha dinheiro, tinha condição e podia comprar mesmo. Era muito bonito o comércio em São José dos Campos.

P / 1 – E ficava enfeitada a rua no Natal, fazia vitrini?

R – Lógico! Sempre. Depois que veio os supermercados é que diminuiu um pouquinho esta parte de volume de compra. Já o freguês não vem tudo de uma vez só. O freguês é constante, todos os dias, o dia inteiro, antes não, eles vinham em avalanche, porque eram muitos fregueses, tudo para nós. Hoje já tá dividido, entre lojas e supermercados. A evolução do comércio foi essa. E nós não ficamos aborrecidos não porque a gente continua vivendo tão bem, vendendo bem. E os outros também tem suas vantagens, suas ofertas, mas não são melhores os preços que os nossos não. Apesar de serem maiores em volumes, nós hoje continuamos tendo firmeza no trabalho.

P / 1 – E da onde veio esse nome casa “Confiança”?

R – Foi meu primo que quando abriu em 27 ele deu esse nome p’ra casa, em 29 o papai veio do Rio p’ra cá. A razão dele Ter feito “Casa Confiança”deve ser uma inpiraçao, né? Desse casal, desse meu primo com minha prima Rosa. Eles era muito inteligentes, era muito experientes. Tinham trabalhado no Rio, em outras cidades também, não eram pessoas que foram criadas dentro de São José dos Campos, não. Trouxeram o progresso de cidade de Capital. Era muito importante. Eu me sinto feliz de saber que eles iniciaram e nós estamos continuando. Eles deixaram a firma em 57. De 27 até 57 ficaram conosco, como amigos, como sócios. Chegou a época que não podiam mais trabalhar, pela idade, se desligaram; papai também se desligou. Ficou o Chico e depois continuou eu com ele.

P / 1 – O senhor assumiu sozinho a loja quando?

R – Mais ou menos em 74, quando meu irmão faleceu. Aí minha responsabilidade foi grande (risada). Eu tive que assumir tudo. E hoje tem o meu filho Ricardo que tem três filhos consta naquela papeleta, tem os nomes dos três. O Ricardo é que ficou conosco. Ele é hoje o mais importante da firma. Eu estou junto com ele mas ele já está fazendo tudo muito perfeito. É competente na escritura, nas vendas, nas compras, ele assumiu realmente. Eu continuo muito bem também.

P / 1 – E a sua esposa nunca trabalhou na loja?

R – Sempre trabalhou também.

P / 1 – Como é que o senhor conheceu ela?

R – Eu conheci... Ela é minha parente e eu conheci melhor ela, quando vinha no Carnaval p’ra São José dos Campos. É minha prima mesmo, mas nem por isso eu podia Ter conhecido bem. Nos carnavais em São José ela fazia questão de passar em nossa casa. E nós aproveitávamos mesmo. Eu não dançava com ela não, dançava com outras muito bonitas também que vinha de São Paulo, de outras cidades. Vinha muita gente no Carnaval em São José dos Campos. No tênis Club, principalmente. Depois com o tempo começamos a Ter mais simpatia. Inclusive ela ficou noiva de um rapaz em São Paulo, não deu certo. Depois desse noivado, por acaso, fui visitar minha irmã que morava em São Paulo, ela era muito amiga da minha irmã e naquelanoite ela tava lá, ela tinha desmanchado naquela noite, ela ia p’ra uma fazenda de uma prima dela, muito rica, família (Monfarege?). Ela ia lá p’ra passar uns tempos, p’ra esquecer dessa separação, e acabou não indo mais. Depois daquela noite eu comecei a freguentar São Paulo e firmamos o casamento. Depois de algum tempo é lógico, não foi logo em seguida não. Demorou. Assim é nossa vida.

P / 1 – Como o senhor ia p’ra São Paulo nessa época?

R – De ônibus, nem tínhamos carro. A cidade de São José dos Campos tinha poucos carros. Só os tradicionais como os Martins, não lembro mais qual era a outra família os (___?___), os Morales tinham também, nós não tínamos carro naquela ocasião porque não tinha quem guiasse para nõs. Então a gente ia de ônibus e voltava. Mas era muito gostoso! Era uma vida simples, muito boa. A gente quando ia aos bailes, ia à pé, do centro da cidade onde morávamos, até o Tênis Club, à pé. Ninguém ia de ônibus, vínhamos e voltávamos à pé, gazendo farra... foi uma vida muito bonita. Eu tenho boas recordações.

P / 1 – Seu casamento foi aqui mesmo em São José?

R – Foi em São Paulo, porque a moça é de São Paulo. Era p’ra Ter sido um casamento muito lindo, muito chic demais, era uma festa p’ra marcar uma época. Mas justamente uma semana antes meu pai faleceu. E todos: “Vai Ter casamento, não vai Ter casamento? – Vai ter sim quê isso.”. Passou sétimo dia, aí já “tava”marcado o casamento. Quinze dias depois, a festa que ia ser estrondosa teve que ser um pouquinho mais simples. Eu estudava na faculdade e todos os professores foram convidados, familiares deles também eram assim gente muito rica, muito poderosa, todos eles foram convidados; mas no dia do casamento já “tava” distribuído o convite p’raquela festona, ia ser no Fasano, era a coisa mais rica, mais chic, nem sei se eu ia me sentir tão bem, né? Sei lá... Eu sei que afinal fizeram a mesma festa, não tiraram a festa. O casamento foi na Igreja em São Paulo, não me lembro o nome, uma Igreja muito grande, muito bonita. Todo mundo foi na Igreja, na hora, todo mundo certo que ia na festa, todos preparados, mandaram presentes riquíssimos, coisas lindas, eu tenho até hoje guardado, (risada), não perdi nada. Só que tiveram que anunciar que em vista do luto ficou sem efeito a festa. Nem sei como é que avisaram, se foi o padre que deve Ter feito a comunicação, mas a festa foi tão grande na casa dele, porque ele morava numa casa muito grande, enorme, um palacete, mas ficou restrito só a nossa família que era grande também. Do lado deles era grande do nosso lado também. Vinha gente do Rio, daqui, tal. Foi um casamento belíssimo, muito, muito pomposo, só que infelizmente não pode ser no Fasano eles foram obrigados a ... devido ao luto, não sei porque isso. Também não ficaria bem mesmo.

P / 2 – E o senhor viajou na sua lua-de-mel?

R –Viajei p’ro Rio de Janeiro.

P / 2 – P’ro Rio?

R – Passamos mais de 20 dias lá.

P / 2 – Como é que o senhor foi p’ra lá, de São Paulo p’ra lá?

R – Nós fomos de ônibus.

P / 2 – Que ano que o senhor se casou?

R – Em 59. Foi uma lua-de-mel muito bonita, fui muito feliz, a minha esposa é uma criatura fora de série, muito bondosa. A afinidade foi muito grande, a verdade é essa. Ficamos no (Trocadilho Hotel). Era lançamento do hotel, um hotel lindo passamos na praia, visitamos todos os lugares e aproveitamos. No final fomos convidades para irmos a casa de meus parentes que moravam lá também. Eles estavam muito bem de vida. E no dia do... que nós acordamos encheu de parentes. Todo mundo levando___________essas coisas.

P / 2 – No hotel, onde vocês estavam?

R – No hotel, foi todo mundo (risada). Mas nós não fomos à casa de ninguém naquele dia. Ficamos fazendo a nossa lua-de-mel, fazendo nossos passeios no Rio de Janeiro Só depois de quinze dias que fomos dar atenção aos parentes.

P / 2 – Aí o senhor voltou direto do Rio, p’ra São José?

R – P’ra São Paulo, porque a família dela mora lá.

P / 2 – Depois quando é que o senhor veio casado aqui p’ra São José?

R – Fomos p’ra São Paulo, depois de 20 dias, nós, naturalmente fomos recepcionados em São Paulo, no Sábado e Domingo. Chegamos e ficamos na casa da minha sogra, foi um almoço muito gostoso e viemos p’ra cá, mas não tínhamos parada em São José, eu ia duas vezes por semana a São Paulo. Eu tinha morado um pouco lá e gostava demais de São Paulo.E para agradar minha esposa eu: “Vamos lá?” ela: “ôpa”, e íamos os dois. Não tinha muito compromisso. Uma coisa importante que passou logo que nós casamos: naquela ocasião uma sobrinha minha de São Paulo, uma amiga da minha esposa, mais outraos dois casis, formamos um gurpo e todo Sábado e Domingo nós nos reuníamos e íamos fazer no “Ïtália”, toda santa semana, não ficávamos em São José. Eu não casei em São José, eu casei em São Paulo. Só depois de muito tempo, depois de nove ou dez meses, quando ela já estava esperando um nenê é que começamos a ficar um pouquinho em São José dos Campos. Aí a minha vida continua em São José dos Campos, como hoje.

P / 2 – Fora montar sua casa o senhor comprou os móveis aqui em São José?

R – Comprei.

P / 2 – O senhor lembra onde comprou?

R – Comprei na... não me lembro o nome, era aqui de São José, nós não éramos arrogantes não, nem ela também exigia coisas, ela podia exigir porque eles moravam em palacete, móveis finíssimos, mas não nós compramos coisas de acordo com São José dos Campos, a vidinha que nós estávamos levando. Depois de um ano, em ano e pouco, dois anos, tracmos tudo, já éramos mais conscinetes e achamos que não devíamos ficar mais com aquilo e quase que demos de presente, uns queriam comprar, outros... e compramos móveis melhores que estamos até hoje com eles

P / 2 – Mas aí, aqui em São José ou compraram fora?

R – Não, aí tinha que ser em São Paulo, móveis mais finos, na ocasião, aqui não tinha móveis assim de categoria. Móveis finos tinha que ser em São Paulo. Mas também não fui em Itatiba, não fui em lugar nenhum. São Paulo, mesmo. E estamos com eles até hoje. Nossa casa tá mutio bonita. O pessoal que sempre visita a gente, gosta. Tudo na vida tá bom, não é vida de ostentação, de jeito nenhum.

P / 2 – Senhor José, o senhor tinha falado que o seu pai participou da Associação Comercial eu queria que o senhor falasse um pouco sobre isso. Desse movimento da Associação Comercial aqui.

R – Sempre a Associação Comercial esteve na __________, no centro da cidade. Era um salão relativamente bom e foi passando o tempo e se não me engano o presidente na época era o Tufi Simão, ele ficou muitos anos, remido, pessoas que ficam assim, repetindo de ano p’ra ano. Depois do Tufi Simão teve...

P / 2 – Qual era o comércio dele, seu José?

R – Era de carros, Chevrollet. Depois de Tufi Simão teve, este não era comerciante não, esta pessoa ficou bastante tempo, ele ficou oito ou dez anos como Presidetne.

P / 2 – A Associação Comercial reunia todos os ramos, todas as modalidades, como era?

R – Sempre foi, como é hoje. Associação Comercial e Industrial. E atualmente eu faria que está na fotografia que eu trouxe ele é o presidente também (Itaim?), parece que este pessoal quando entra não sai mais (risado), é mania mesmo.

P / 1 – Eles ajudam bastante os comerciantes?

R – Muito, sempre protegem, orientam, organizam de forma que o comerciante seja amparado. Na questão jurídica, contábil. Sempre há uma vantagem nesse sentido. Eles não deixam o comerciante abandonado.

P / 1 – Eles fazem curso de comécio, senhor José?

R – Não, não, é nas reuniãoes mesmo. Sãot todos pessoas que tem cultura, experiência, não há necessidade de cursos. Eu acredito que não, a’te hoje não houve necessidade de cursos. Acho que nem tempo tem p’ra isso, porque o comerciante é muito sacrificado, trabalha de dia e de noite praticamente.

P / 1 – O senhor nunca fez parte do sindicato, da Associação?

R – Sim, do Sindicato, da Associação eu fiz também.

P / 1 – Mas assim de diretoria o senhor faz também, qual é o seu cargo?

R – Lá eu sou deliberativo.

P / 1 – Do Conselho?

R – É porque na minha idade eles já não tem mais interesse, mas sempre estamos nas reuniões. As reuniões são periódicas, de quinze em quinze ou de mês em mês. A gente tá sempre participando e colaborando mesmo, não é só participar não.

P / 1 – E os comerciantes mais jovens procuram o senhor p’ra Ter conselhos, uma orientação?

R – Não, não há disso não. Existe muita união entre eles, mas não existe este problema de comunicação. Sabe por quê? O comércio cada um tem o seu e a própria prática do comércio passa a ser uma lição p’ra cada um. Eles não podem depender de um conselho meu para a firma dele porque na dele tem nuances que na minha não acontece. Então eles não vem nunca procurar e há segredos também que ninguém gosta de contar. Não é verdade? Ninguém gosta que alguém penetr na sua privacidade. É como um casamento, alguém vai dizer “minha família, eu faço isso, eu faço aquilo, me dá um conselho,” nunca. Existe privacidade em tudo e no comércio é a mesma coisa. Agora quem tem mais empregados, menos empregados ele tem que saber como lidar com essa turma. Outra coisa, a particularidade da nossa firma, que os nossos empregados nunca saem, eles entram e ficam.

P / 1 – Qual é seu funcionário mais antigo?

R – Atualmente é a Tereza, mas o Pedro já foi também, o Sebastião foi mais antigo, todos.

P / 1 – Mas fala o tempo que eles ficaram na firma?

R – A maioria foi com 55 anos, Jose Terra outro ficou 45, não saem. Esta Tereza está com 37 e não sai, tá aposentada dentro da firma, não sei. Se eu disser p’ra ela: “Saia”, coitada ela vai pensar que eu não gosto dela. Ela devia descansar, mas não sai. Eles têm muita intimidade, tem assim uma espécie de amor familiar, paternal, não sei, não entendo. E a gente trata bem todo mundo. Nós não temos imposição, a verdade é essa. Eu trato ela como se fosse de casa, só que ninguém se visita. Não sei porque também, podiam visitar a agente e a gente ir na casa deles, mas ela não tem muito tempo p’ra nós e nós muito menos.

P / 1 – E a “Casa Confiança” acabou mudando várias vezes não é? Tipo de mecadoria foi mudando....

R – A mercadoria sempre foi a mesma, só que eliminou certas mercadorias e acrescentou outras no lugar. Iniciamos com artigos finos de bordado, toilette, calçados, precisa ver os calçados que nós vendíamos, fora de série, masculinos, femininos, as melhores marcas do estado de São Paulo e do Rio estava na nossa casa. Com o tempo, há dez, 15 anos atrás, nós achamos que não devia Ter tanta variedade de mercadoria, então a primeira coisa que foi eliminado foi calçado feminino.

P / 1 – Por quê?1

R – Porque deixaram muito. Calçado feminino é o seguinte, você tem que Ter mais uma filial, umas duas, p’ra descarregar. Aquele que não tá vendendo mais na sua e colocar novos aqui, como tem essas firmas, você pode ver, firma de calçado nunca ela tem uma loja só. Firma boa mesmo como ( Oscar?), esse pessoal não tem só uma, ele tem quatro, cinco, fico bobo. Eles devem Ter muito capital p’ra poder enfrentar isso. Qual a razão que eles fazem isso eu não sei, mas eu sei dizer que se a pessoa não tiver umas duas, três filiais p’ra descarregar aquilo que já cansou aqui, noutro lugar vai ser ótimo, então ele tá perdendo dinheiro. Quando nós percebemos que a nossa mercadoria podia ser peso, caiu fora. Mulher primeiro, depois calçado de homem. O que nós mantivemos agora, graças a Deus. E vamos indo bem por isso, se não nós já teríamos caido. Como um monte de gente que quebra, sai fora. Artigos profissionais tem calçado, roupa, tudo profissional. O cara vai lá e encontra: é jaleco, calça, camisa, tudo profissional. Quem quer ir a um casamento, usar uma roupa para casar, ele não precisa procurar na loja “Confiança”, que hoje eu não tenho. O máximo que ele vai encontra é uma camisa profissional mas que dá p’ra adaptar, porque o colarinho é igual. Nós não temos atendimento como tínhamos antigamente, só tínhamos p’ra alta classe, hoje não p’ra média classe. E temos uniformes p’ra colegiais, Olavo Bilac, aquela outra escola das irmãs. Neste sentido de colegial nós temos o melhor e somos preferidos, profissionais também, somos os preferidos. O pessoal compra hoje e daqui a dez meses se precisar volta a comprar de novo, e compra bastante, isso é que mantém a nossa firma. Somos profissionais, colegiais e artigos esportivos, tudo que é coisa relativa a esporte nós temos: chuteira, tênis, joelheira... tudo com variedade, nossa firma se limitou a determinados artigos e graças a Deus é que mantém, se não nós já teríamos caído. Se dependéssemos de artigos misturados não dá, então selecionamos mesmo. Devia Ter outra loja nossa p’ra esses artigos mais finos mas não temos condição p’ra isso. Por enquanto não.

P / 2 – O senhor acha que São José dos Campos deu esse salto de desenvolvimento quando?

R – Acho que na época do Sobral. Quando ele foi prefeito... existe antes de Sobral e depois de Sobral. Falo com muito orgulho e prazer sempre gostei dele. Como amigo, como pessoa, como capacidade. Foi ele que levantou o (INPE?), ele foi uma pessoa extraordinária no meio-ambiente nosso. Não sei se muitos reconhecem isso, mas eu tenho certeza que ele foi um elo aqui em São José. Eu posso dizer: anters do Sobral tudo que eu falei e depois do Sobral este grande progresso que é hoje: supermercados, muitos colégios, sede de nível superior que está sempre acontecendo aqui, estas escolas maravilhosas que estão se formando. Eu não sou muito de guardar nomes, então eu prefiro não falar p’ra não fazer feio diante vocês. Existe antes e depois de Sobral, o que não quer dizer que os outros também foram bons, todos colaboraram, até hoje. O prefeito de hoje é maravilhoso. Quem pode falar contra ele? Quem pode falar contra o anterior nosso prefeito de hoje? A prefeita_____, ela também foi excelente, fez grandes progressos. Mas quem realmente está fazendo o melhor é o atual prefeito. Eu não sei se ele vai ter grandes chances futura, mas que ele está sendo um grande prefeito de São José, está. Ele não faz só por questões políticas não, é o método dele de trabalho. Ele ama São José dos Campos.

P / 2 – E o senhor gosta de Shopping? Vai passear no Shopping?

R – Gosto. Acho muito importante. O Shopping é um elo de progresso numa cidade. Cidade que não tem um Shopping ficou relegada para o passado. Tudo isso é maravilhoso. Pode prejudicar o meu comércio, mas não prejudica meu resultado. Porque meu resultado não depende da mercadoria do Shopping. Não sei se vocês repararam, nós fomos substituindo mercadorias, colocando outras para que o nosso comércio fortalecesse. Toda essa mudnaça nossa p’ra ficarmos fortes e não fracos. E não pode olhar mal p’rum comércio como o Shopping porque eles trazem não só facilidade para o povo nas compra, ele traz aquela variedade de produtos, nas oferta para quem sabe aproveitar e levar vantagem, por que não? Se a senhora tiver chance de ir no Shopping procurar as suas vantagens, a senhora encontra. Não precisa mais ir a São Paulo, Rio, como antigamente para comprar uma coisa melhor. Hoje eles é que vem comprar da gente. Nós temos coisas melhores que eles ainda. Eu acho que Shopping é o maior elo de progresso de uma região. Feliz a cidade que tem.

P / 2 – Quanto a inauguração do Shopping... Quando ele foi inaugurado deu um certo impacto no comércio?

R – Nada, desculpe, não. P’ra quem trabalha honestamente, com critério, não existe esta queda de venda. O Shopping não traz nenhuma queda de venda, como existe ( não sei se vocês acompanham), essas ofertas na rua Quinze de Novembro, dessas firmas grandes: Casas Bahia, Casa (risada) ___________( conheço bem mas não guardo). Nada, nada disso atinge o nosso comércio. Eles fazem grandes ofertas. Eu aproveito quando eu quero, eu vou compra também por que não? Compro p’ro meu uso. Mas não deixo de vender porques eles estão fazendo oferta. Eu também faço as minhas ofertas. A gente tem que saber lidar e saber cuidar bem do cliente, do freguês, respeitá-lo não porque ele está entrando na minha casa que ele tem que comprar o que eu tenho. Absolutamente. Eu devo respeitá-lo porque ele é um elemento importante da cidade. Se ele não gostar da minha mercadoria, vai encontra no meu vizinho. Agora eu tenho certeza que ele volta p’ra mim porque ele vai encontrar, a minha mercadoria é melhor em preço mais baixo. Nós temos um critério de venda mais baixo. O fregês pode entrar uma vez, duas vezes, na terceira ele não vai mais em lugar nenhum, vem direto: “quero isso, quero aquilo”, não dá nem trabalho.

P / 2 – Então dessa forma o senhor tem clientes fiéis?

R – Tenho! Não se trata de fiéis, trata-se de clientes preferidos, que preferem a nossa firma para o critério de trabalho nosso, e nós não forçamos venda. Nós temos empregados antigos poderiam estar viciados nisso ou naquilo, nada! Muitas vezes eu sou o pecador, quando um fregês sei eu pergunto, às vezes só p’ra mexer um pouquinho com a idéia do funcionário, me diga uma coisa:ële gostou, encontrou...”___não, ele vem buscar. Freguês que já deixou separado, ele volta mesmo. Eu infelizmente ou felizmente não sou desses de forçar a venda. Eu sou elemento de argumentar para venda. Então, se a senhora vê uma coisa na minha mão eu digo essa coisa é boa por isso, por aquilo, mas não forçando o freguês. Ele: “obrigado, até logo”_____”Até logo”. E volta a pegar. Por que? Eu expliquei a razão daquela mercadoria. Mas como eu não atendo muito mais freguês. Já foi a minha época, porque elas são muito competentes. Não há necessidade.

P / 2 – Mas ainda tem clientes que querem comprar só com o senhor/

R – Não é que tem eu é que me retiro.

P / 2 – Mas não sobrou ninguém ainda que queira comprar só com o senhor/

R – Não eles compram, gostam. Quando estou atendoendo eles estão muito felizes, porque eu não forço nada. Quando eu quero explicar eu explico p’ra melhorar a venda, se eles querem também. Se não pedirem, nem falo. Se eles estão meio em dúvida, eu: “isso é bom por isso.”às vezes a pessoa entrou p’ra mostrar que a mercadoria é realmente boa, que ela pode vir em confiança, mas não forço nada não. Nosso critério é esse.

P / 2 – O senhor vende com cartão de crédito, com cheque pré-datado, como é que a sua forma de venda?

R – Não, não vendemos com cartão de crédito porque nós não temos. Houve uma ocasião nós começamos com cartão de crédito, houve uma irregularidade no Banco, não foi comigo que aconteceu, e o meu filho Ricardo disse: “Sabe de uma coisa não vamos mais trabalhar com cartão de crédito”, não foi comigo eu não tava nem na loja nesse dia. Os fregueses perguntam:”vocês trabalham com cartão de crédito?”. Todo mundo quer, mas: “infelizmente não, mas pode dar cheque”. Eles dão cheque, cheque à vista, não temos mais crédito.

P / 2 – O cheque pré-datado também o senhor não usa?

R – Não, porque o nossso preço é baixo, não convém mais fazer à crédito. A crédito eu perco.

P / 2 – Tem um segredo p’ra ser mais baixo o preço?

R – O segredo é só dar 20% sobre o preço norma. Não é 5%, esse pessoal tem mania, quer dar 5%, 7%, 9%, não adianta. Ou dá ou não dá. Se a senhora quer dar desconto, dá 20%, pesa no resultado. Mas se começar a dar cinco numa mercadoria, sete na outra, quinze na outra freguês não sabe quando tá comprando bem ou tá comprando mal. Quando o freguês assim: “O senhor não faz mais barato?”eu digo: “Olha mas está com 20% de desconto”. Esse é meu lema. Ele sabe que está mais barato, ele confere. O freguês que chega na nossa loja ele já espicolou em vários lugares, ele sabe que meu preço está mais baixo. É essa a diferença. A gente tem que ser honesto. Comércio é com honestidade. Comércio com malandragem é prejuízo total, fica a fama mesmo.

P / 2 – E tem gente da zona rural que compra na sua loja?

R – Rural não existe mais, acabou. Rural foi até os anos 49, 50, depois São José evoluiu muito, o mundo evoluiu muito. Não existe mais rural. Até aquela época ainda tinha, mais agora não. O mundo virou de uma vez só. Eu não estaria hoje falando consigo se nós estivéssemos naquela época. Eu teria vergonha de mim mesmo. Hoje não tenho. Tenho prazer de estar colaborando com vocês. Eu não sei se tô beneficiando, mas eu gosto de colaborar. Às vezes falo assim: “puxa! A minha esposa, por exemplo, hoje ela está...ela quebrou o fêmur, por azar, e ela esta de cama. Então quando fala assim: “vai Ter uma entrevista. “______”Você já fez tanta entrevista, precisa mais essa?” ____”Por que não?” Muitas vezes a gente leva o conhecimento e a gente desenvolve enquanto isso. Conhece pessoas maravilhosas como vocês aqui, sério mesmo. Fico feliz, porque se a gente não tivesse esse contato, como é que a gente vai Ter certeza que de fato existe alguém que quer conhecer coisas além daquilo que já existe. Tá aí, eu trouxe esses elementos, em mãos, e aquelas fotografias que estão juntas, não dei p’ra ninguém ainda, só p’ra vocês, porque por acaso encontrei (risada) num arquivo qualquer, mandei tirar fotografia hoje p’ra vocês, ela tirou colorida, não sei como saiu colorida. São essas coisas... Eu fico feliz de ser procurado, fico honrado, eu não fico acabrunhado, de jeito nenheum, foi o tempo que eu não sabia nem falar, mas hoje eu tenho vontdade de falar alguma coisa, de me comunicar, de ser útil. Eu acho muito importante. E muita coisa que a gente fala vocês podem eliminar, mas pelo menos eu falei.

P / 2 – O quê mais mudou no comércio, seu José?

R – Muito pouco, eu acho.

P / 2 – O cliente não mudou?

R – Nada, nada. O cliente hoje é mais esperto, mais amigo do que nos tempos antigos. Por quê? Hoje eu digo assim: “minha mercadoria ela custa x, eles procuram várias firmas do mesmo ramo, e encontram; já “tão” sabendo que a minha mercadoria é o preço que eles querem, eles ganham algo aqui, 20 centavos ali, nunca alto, baixo, sempre mais baixo, não interessa quanto. Então cria confiança, eles voltam, eles querem bem a gente, não porque eu esteja fazendo algum presente p’ra eles, não, é porque eu estou solicitando coisas e procurando facilitar para eles a maneira de comprar mais barato. Por acaso você fica descontente se alguém disse que está mais barato? Não. Todo mundo quer, dez centavos já tá bom, se for muito, melhor. É assim a nossa vida. Eu acho tão bonito, o povo de hoje é um povo esclarecido, as mães são mais amigas dos filhos. Não tem ninguém grosseiro hoje p’ra dar um tapa num filho ou proibir fazer isso. Pelo contrário, estão deixando tudo fácil, tanto é que tem acontecido coisas horrorosas de mortes e tudo, justamente porque os pais hoje são mais liberais, muito mais. É nós, nossa vida, nossa cabeça, nós não somos mais fechados. Eu tô aqui hoje falando coisas que se fosse há cinquenta anos não falasse isso, não teria coragem, poderia estar ofendendo alguém. A gente tem que ser claro, positivo, não tem que Ter medo de nada não, desde que não faça coisa errada. Não pisa no calo de ninguém, se não você vai ver! (risada)

P / 2 – O senhor faz compras pro senhor, seu José?

R – Faço.

P / 2 – O que o senhor gosta de comprar?

R – Toda minha roupa, não deixo ninguém comprar.

P / 2 – Nem sua esposa?

R – Não, pelo amor de Deus, nunca! Nunca gostei que alguém comprasse algo p’ra mim. E toda vez que compraram tenho certeza que enfurnei em algum canto. Porque eu tenho minha personalidade, não adianta. Eu tenho prazer de Ter aquele tom, aquela cor, sei lá...eu não sou estravagante, mas não gosto das coisa muito escuras, muito bobas, assim esquesito, né? Eu gosto de usar as coisas que quando eu pegue e ponha no corpo, olho p’ra mim no espelho, é essa. A senhora sabe como é. Eu posso Ter dez peças em casa, três tô usando, sete não. Tenho muita personalidade. Nesta parte de roupa eu tenho, toda vida.

P / 2 – E quando o senhor vai comprar roupa, o senhor não tem preguiça de experimentar?

R – Que nada, eu sou tão simples, tão fácil, eu vou atrás, eu pego, eu faço, achei que não dá eu saio, quando achei que tá bom eu levo. Se eu levei desvantagem eu uso uma vez ou duas porque comprei, depois não uso mais, encosta lá. Fica guardado, um dia eu dou p’ra alguém. Eu dou mesmo, ou porque ficou um pouquinho maior, ou mais apertado, eu dou. Não quero ficar com nada. Mas o que eu gosto não deixo ninguém pegar não, nem meus filhos.

P / 2 – E o senhor faz compra onde? Vai ao Shopping fazer compras?

R – Eu vou ao Shopping, vou a qulaquer lugar, sou muito simples, simples não, eu sou esperto. Falo assim em sentido de facilidade. Me acomodo em todo lugar. Toda vida, desde criança, em qualquer lugar que me puser, eu entendo o lugar, eu faço as coisas. Se eu tô aqui, pode estar certa, se eu não sentir à vontade eu não falo nada. Mas se eu me sentir à vontade é como tá hoje, demais né? Vocês estão interessandos em me ouvir, né? Vou à rua Sete, à rua Quinze, entro, saio vejo, vonverso eu só compro aquilo que me interessa. Não queira me vender coisa que eu nào quero porque não levo. Não levo mesmo. Eu dou um jeitinho, saio eu sempre tive desculpa: “eu volto depois”. Mas quando eu quero ninguém me tira aquilo fora não. Eu quero, eu quero mesmo e já levo antes que alguém pegue, de medo que alguém venha e pegue primeiro. (risada)

P / 2 – E o senhor costuma pagar à vista?

R – Meu filho gosta de pagar a prazo, eu não. Prefiro pagar, não sei porque, eu me sinto bem. Se disser pague em dez vezes. “Pelo amor de Deus pensar todos os meses eu pagar dez aqui, vinte ali, já calculou comprar quatro cinco coisas pagando em dez vezes. Então, naquela relojaria, naquela ótica, naquela loje tem que ir toda vez pagar e tem a data certa. Se passar da data bem... vê pelo acréscimo, mas eu posso pagar. Então tem uma coisa eu guardo, eu não tenho pressa de nada, eu tenho tudo. Desculpe é porque eu tenho tudo, por isso que eu falo assim, pode ser que se eu não tivesse, fizesse essas compras assim. Eu tenho tudo. Tudo que eu tenho dá. Não preciso de nada. Eu tô com essa calça, camisa, sapato confortável, ótimo, eu não preciso de nada; mas se eu gostar de outra coisa eu vou buscar. Vaidade! Aí já é vaidade. Mas eu compro, e como prazer eu gasto e não pechincho.

P / 2 – Não?!

R – Não.

P / 2 – Por que não pechincha?

R – Porque acho que não. Se tem aquele preço porque vou chorar? Se eu tô comprando é porque eu posso, porque eu vou pechinchar. O coitado precisa ganhar, às vezes é comerciante antigo, o cara precisa ganhar eu tô comprando coisa boa eu compro a flor eu não compro________. Agora quando tem uma liquidação, compro, também não tem que pechinchar porque é liquidação. Se eu gostar eu compro também. Eu sou simples neste sentido, eu não vou no mais caro. As vezes eu passo assim, tem disso aqui no número? “Tem”. Entro lá, se encaixar, pronto. Quantas vezes já comprei. Mas chego em casa uso duas vezes, vejo que não serve e encost. Não é porque paga barato é porque não era aquilo que era meu, fui precipitado. Mas quando eu vou comprar uma coisa que realmente eu gostei eu não faço questãode pagar mais caro. Como não faço questão de pagar bem mais barato. Mas eu comprei porque eu gostei. Eu não gosto:”fico com isso, aquilo é melhor”. Eu comprei uma vez, vou contar um caso assim rápido, (estou tomando o tempo de vocês): Fui numa loja de calçados, eu tinha loja de calçados também, mas acontece que eu nào tinha mais daquele calçado. Fui lá, sentei experimentei e o sapato eu não sei, meu pé é um pouco baixo, não é qualquer forma que fica boa. Ele trouxe um sapato ficou meio grandinho, eu queria um raso, mas o raso não fica bom p’ra mim, tem que ser amarrado mesmo, a gente amarra e segura, então eu pus no pé aí o dono lá (são três donos) um deles: “esse tá bom, é o seu número”. Infelizmente eu confiei não olhei o número, ele me deu um número à menos, depois que eu levei p’ra casa eu usei, sujei a sola, depois de muito apertando. Nunca mais voltei lá. Porque não precisei, mas o dia que eu precisar lá, a primeira coisa que eu vou olhar é o número, porque eu sei que ele tapeia. Por isso que a gente tem que ser honesto. Ele me embrulhou (risada).

P / 2 – E o senhor compra presentes p’ros seus filhos, sua esposa?

R – Eu compro, gosto demais.

P / 2 – Gosta de dar presente?

R – Eu gosto, tenho gosto p’ra escolher as coisas. Eu paro nas vitrines e olho, faço questão de agradar e vou contar um fato: meu filho tá namorando uma garota e acontece que a moça, uma senhora tem uma planta muito bonita, fui atrás mas ela já tinha vendido, outro dia ela veio: “eu tenho uma outra, muito bonita”. _____”então traz p’ra mim”. Ela trouxe. Quando chegou p’ra mim, meu filho disse: “minha namorada tá no aniversário”.____”Então fica p’ra ela”. São quatro caixinhas, lindas, estas plantas bonitas: orquídea, mas um tipo comletamente diferente. Ela deixou e não levou o dinheiro, eu tive que ir lá pagar p’ra ela, tive o trabalho de ir lá. Deixou p’ra mim, cheguei em casa disse: “olha Ricardo, aqui tem uma flor muito bonita.”_____”Eu não vou dar flor!”eu disse: “Não precisa você dar flor, nós vamos dar flor p’ra ela”. Hoje ela foi almoçar em casa, minha esposa deu p’ra ela citou: “obrigada plea flor”, eu não sei se alguém contou p’ra ela. Eu gosto de dar presente. Tenho prazer mesmo de agradar. Não é porque vocês são simpática, posso gostar muito de vocês, que eu vou dar presente não. Mas eu posso dar um presente porque eu tenho prazer de dar esse presnte. Por que chegou a data certa, o momento certo. Eu vou buscar, eu me viso.

P / 2 – O senhor procura uma característica para.__________

R – Sei lá, eu encontro uma razão qualquer e trago, uma coisa que sempre agrada. Não trago nada feio. Eu faço questão de gastar mais. Por exemplo uma coisa que possa custar dez, se eu encontra uma de 30 ou 40, eu prefiro gastar quarenta e trazer, não vai fazer falta. Nada faz falta p’ra gente: “Puxa vida eu vou gastar 40, podia gastar 10, com isso eu compro uma pintura, uma sandália...”não penso assim. Eu acho que quando a gente dá, tem que dá com prazer, p’ra pessoa gostá. E às vezes, nem dura tanto tempo, flor não vai dura tanto. Mas é o prazer de dá um negócio que a pessoa ali na hora lembrou (risada) vou parar.

P / 2 – Não. Eu queria saber de alguma coisa que tenha marcado muito o senhor em relação ao comércio. Seja da infância ou da sua vida adulta. Algum fato, ou evento que tenha marcado a sua relação com o comércio.

R – Eu comecei com 12 anos.

P / 2 – Este é o fato que o senhor acha mais importante?

R – É. Eu comecei com 12 anos, quando eu comecei frequentando esta loja. Casa Confiança, que era do meu primo e do meu pai. Quando eu fui trabalhar na loja meu pai já era sócio dele, foi só dois anos de diferença, da entrada dele, de 27 a 29 quando o papai já entrou, eu tinha doze anos, o papai já era sócio, então ele fez questão de me colocar ali p’ra me dar uma ocupação, porque eu queria estudar à noite não queria estudar de dia. Estudei de noite no Olavo Bilac e quanto ao que marcou na minha vida em São José dos Campos, eu sempre fui assim... eu não tenho essa coisa marcada na minha cabeça, mas eu sempre tive bons amigos, bons relacionamentos. Como em 34 foi que eu comecei a trabalhar, comecei a Ter amizade com os rapazes que trabalhavam na firma e o que importante talvez fosse p’ra mim, agora eu posso concatenar um pouco: tinha dois rapazes que trabalhavam conosco e nós andávamos de bicicleta nessa época, cada um tinha a sua, eles tinha a deles eu a minha, a gente fazia trabalho, no Sábado à tarde, não lembro mais se foi Sábado ou Domingo, nós fazíamos os passeios nos lugares distante do centro, era uma região não explorada, e aquilo marcou muito p’ra mim pela amizade que eu fiz com eles. A gente fazia questão de andar pela cidade toda, a gente desbravava aqueles lugares, não tinha casa mas tinha fontes... passeio assim de roça mesmo, cidade onde não tem muito movimento onde tem uma fonte de água que tem uma beira do rio, tem clubes; a gente ia nos clubes também, ficava lá com os amigos, sempre acompanhado. Outra coisa que marcou bastante que eu me lembro foi na beira do rio que eu lhe falei, agora me lembrei, tinha um cocho, não sei se você sabe: é um cercado de madeira, dentro do rio, que a gente pode nadar ali, eu não nadava muito bem na época, eu aprendi a nadar ali e divertia extremamente, além da bicicleta que foi o ponto alto mesmo. Nós íamos sempre passear assim, nós não tínhamos muita malícia não.

P / 2 – Que lição o senhor tirou esse tempo todo que o senhor está atiando no comércio?

R – A maior lição de vida é o comércio mesmo. Sabe porque, esse relacionamento com as pessoas. Eu me lembro, a Dona Luiza, a senhora do Doutor Tertuliano, pouca gente aqui lembra disso, era uma senhora linda, um porte maravilhoso, fina, impressionava muito, fazia questão de comprar da loja. Só compra a coisas finas, que nós tínhamos lá, artigos importados, e ela sempre me impressionaou muito, ela comprava mais com meu irmão Chico, mas de vez em quando passava p’ra meu lado, batia um papo comigo, ela tinha muita simpatia comigo, eu gostava demais quando ela dava aquela atenção, e eu fui aprendendo muita coisa com as pessoas. Por exemplo: Dona Luiza me dava não só prazer de estar conversando com ela mas aquela liberdade que ela dava p’ra gente, pelo nível que ela tinha e nós éramos balconistas. Balconista p’ra pessoa de nível alto tem uma diferença grande e a gente distinguia essa diferença, a gente era jovem, não tinha a cultura da Dona Luiza, então a gente sentia compensado de uma pessoa do nível dela dar aquela atneção. Ela tinha muito carinho p’ro nosso lado e não só como ela, todos os outros fregueses que iam fazendo amizade. Tinha freguês que esperava p’ra comprar da gente, naquela época. Hoje não, porque já deixo p’ra moças trabalhgarem porque se eu não deixo elas trabalharem eu tiro o pão delas. Se eu começar atender você quando chega a vez delas não encontra mais ninguém. Então eu nem apareço. Quando o freguês entra eu deixo, elas sabem fazer o serviço delas, muito bem, melhor que eu. Mas naquele tempo o freguês fazia questão de ser atendido por mim. É aquele caso que você falou: “não tinha alguém que dava preferência...”e davam mesmo. E essa lição de preferência é que vai elevando o nosso nível de conhecimento e de cultura, até que a gente chega a fazer cursos como contador, como direito, como fiz ultimamente. Isso dá um cabedal muito forte, muito grande e a gente cria um caráter superior, com o tempo, a nível de poder conversar até com uma criança e ser feliz em conversar com uma criança. Isso é o comércio.

P / 2 – Seu José, o que o senhor achou de dar essa entrevista?

R – Estou muito feliz, muito compensado, p’ra mim é um prêmio que estou recebendo de vocês. Não sou eu que estou trazendo alguma coisa, eu tô recebendo de vocês, essa beleza, essa compreensão, porque na realidade aqueles papéis que eu lhe entreguei bastariam p’ra você entender, uma porção de cois que está escrito ali, pois três entrevistas e mais aquelas duas fotografias que tirei hoje que ficou d’eu trazer depois ou você pegar lá, mas a verdade é essa: o que a gente capta com vocês aqui são elementos de valorização. Eu me sinto valorizado hoje por vocês. Eu não fiz nada demais eu só contei prosa (risada) vocês me aturarm. A gente desenvolve muito, eu nunca rejeito qualquer convite. Já fizeram várias lá na loja. Eles vão lá, uma vez foi uma moça também, precisar de entrevista eu dou, na loja, no balcão assim, não era p’ra fazer naquele momento, daqui a pouco vem mais uma senhora mais madura, nossa eu fico feliz, me faz falar uma porção de coisa, mas foi rápido também. Aquilo lá me valorizou, eu me senti valorizado. Eu não me sinto mal quando alguém me procura, já estou sendo procurado por mais um senhor: “você me dá uma entrevista?”eu digo: “o senhor me desculpa mas já tô com uma entrevista marcada, mas pode estar certo que eu vou atendê-lo sim”. Eu não tenho acanhamento nenhum. Eu tenho facilidade p’ra conversar. Não sei se tudo isso agradou muito vocês, mas espero que vocês tirem algum proveitinho disso.

P / 2 – Com certeza, obrigada!

R – Eu fico muito feliz de estar com vocês hoje.

P / 2 – E nós também, muito obrigada senhor José.