Plano Anual de Atividades 2013 PRONAC 128976 - WHIRLPOOL
Depoimento de Jerlane Santos Matos Brito
Entrevistada por Eliete Pereira
São Paulo, 10 de Abril de 2014.
Realização Museu da Pessoa.
WHLP_HV004_Jerlane Santos Matos Brito
Transcrito por Iara Gobbo.
P/1 – Lane, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Lane, qual o seu nome completo, o local e data de nascimento?
R – Nome completo é Jerlane Santos Matos Brito, é o nome de casada. Eu nasci em Jequié, Bahia, e nasci na data do dia nove do cinco de 1992.
P/1 – Lane, e o nome dos seus pais.
R – O nome da minha mãe é Maria Jose Santos Matos e o nome do meu pai é Jose Ribeiro de Matos.
P/1 – O que os seus pais faziam, Lane?
R – Meu pai era pedreiro, é até hoje, pedreiro e minha mãe ela trabalhava em casa de família. Trabalhava pra família Queiroz, que era uma família bem conhecida na Bahia.
P/1 – Lá em Jequié?
R – Jequié.
P/1 – Ah, e você passou a infância em Jequié?
R – Sim, eu saí de Jequié com quatro anos, vim pra São Paulo.
P/1 – Você se lembra de Jequié?
R – Me lembro bem assim porque quase todo ano eu volto lá. Em Dezembro a gente passa os final de ano lá, mas que eu me lembrava antes dos quatro anos que eu saí de lá, eu só me lembrava da frente da minha casa, assim, sabe? Tinha lembrança assim de como era a entrada, mas o resto não lembrava de mais nada.
P/1 – E você teve irmãos?
R – Sim.
P/1 – Quantos?
R – Nós somos em cinco e um adotivo. Seis, com o adotivo.
P/1 – Quais os nomes deles, a partir da data de nascimento, assim, quem nasceu primeiro assim?
R – Tá. A mais velha é a Jeane, Jeane de Santos Matos, também trabalha no Consulado com a Nice.
P/1 – Ah, legal.
R – E depois dela vem o Jean Santos Matos, que dos homens é o mais velho. Aí veio eu que sou do meio, aí tinha o Jonathan que faleceu, minha mãe perdeu acho que três meses de nascido. Aí deles dele veio o Joabe, que é o Joabe Santos Matos. Depois do Joabe veio a Mikaeli Santos Matos. Tem o sexto que é o Alan da Silva Rosário, que é o adotivo.
P/1 – Quantos anos que tem o Alan?
R – O Alan tem sete.
P/1 – Sete anos?
R – Sete anos.
P/1 – E você lembra assim, você tava com quatro anos quando você tava em Jequié. Os seus pais tavam... Eles ficaram lá até os quatro anos. Como que você veio pra...? Como você saiu de lá? Você veio pra São Paulo, então?
R – Sim. Meu pai veio na frente, acho que veio trabalhar e minha mãe ficou lá. Aí em seguida, eu não sei quanto tempo ele ficou aqui trabalhando, aí ele voltou, aí buscou eu, minha mãe, a Jeane e o Joabe que já tinha nascido. E a minha mãe tava grávida da Mikaeli. O Jean, como não data pra trazer todo mundo, não tinha condições na época, aí o Jean ficou com a minha avó. A minha avó ficou criando ele, a mãe da minha mãe. Minha avó, o nome dela é... Eu não sei o nome dela não, a gente chama ela de Santa. Acho que é Maria, não sei, a gente chama ela de Dona Santa.
P/1 – Santa?
R – Santinha, é.
P/1 – Que é a avó por parte de mãe?
R – É, é mãe da minha mãe. Aí ela criou meu irmão um bom tempo. Meu irmão ele veio cá pra São Paulo, ele tava com uns 14, 15 anos já. Ele ficou um bom período com ela.
P/1 – Por que ele ficou lá?
R – Porque quando o meu pai veio, eles não tinham condições de sustentar nós aqui, entendeu? Lá eles tinham a casa deles, lá era mais fácil. Não sei se era mais fácil, se era mais difícil, mas como ele veio a trabalho também, aí ele ficou com medo de trazer todo mundo. Aí ela pediu pra deixar ele lá. Ela era mais apegada com ele, ele já tava com... Minha irmã já tava com sete, acho que ele tava com seis anos ou era cinco e minha irmã com seis, aí ele ficou com ela. Aí veio nós, a minha mãe veio grávida da mais nova que é a Mikaeli que hoje tem 18, vai fazer 18 agora em Maio.
P/1 – E como que era assim tá... Você era, no caso, a terceira?
R – A terceira.
P/1 – E você assim com quatro anos, vocês vieram, seus pais já eram lá de Jequié. Sempre foram de Jequié ou não? Ou eles eram da região?
R – Eu acho que era de Jequié sim, que até hoje a família dos dois moram lá, tanto da parte do meu pai, toda a família dele mora lá, e da parte da minha mãe também em Jequié, eles se conheceram lá. Agora eu não sei se eles são de lá.
P/1 – Eles moravam na cidade mesmo, em Jequié, ou...
R – Sim, é na cidade de Jequié.
P/1 – Na cidade mesmo.
R – Sim.
P/1 – E o seu pai veio pra cá pra São Paulo pra...
R – Trabalho.
P/1 – Pra trabalho. E você lembra se ele conta histórias assim de quando ele veio, como que era aqui?
R – Não, ele conta histórias de como era lá.
P/1 – Lá em Jequié?
R – É.
P/1 – E o que que ele fala assim, quais as histórias?
R – Ele jogava capoeira. Agora ele é evangélico, hoje ele é pastor, mas antes ele jogava capoeira. Ele gostava, ele tinha uma academia de capoeira lá e ele era mestre. Ele na verdade ele era professor, aí ele ganhou do mestre. Teve um torneio, aí ajuntaram todos os professores da cidade de Jequié, da Bahia, todos melhores professores ajuntaram. Aí tinha que cada, tipo ia lutando um com outro, pra os que ia ganhando ia ficar pra jogar com o chefe final, que era o chefe de todos. Aí eu me lembro ele contando que ele lutou com o chefe. Aí quando o chefe dele tava perdendo, ele tinha conseguido prender, o chefe dele tava perdendo, aí de raiva o chefe dele mordeu a coxa dele, que ele tem uma cicatriz até hoje da coxa, que ele rancou um pedaço do meu pai, de raiva. Aí saiu no jornal, revista lá da época. Uma história que ele conta pra nós. Aí depois disso aí foi que ele teve minha irmã, a Jeane. Aí quando ele teve ela ele ainda era capoeirista, que ele falou que apresentou ela ainda na capoeira. Aí ele conheceu minha mãe. Não, ele já tinha conhecida minha mãe, aí ele se casou com minha mãe. Aí quando ele se casou, foi que ele começou a ir pra igreja. Minha mãe já ia pra igreja, aí ele começou ir pra igreja, aí depois ele viu que não era isso que ele queria, capoeira, não era isso bem que ele queria, que ele queria servir mais o evangelho. Aí ele pegou e largou a capoeira e veio pra São Paulo.
P/1 – De qual igreja era sua mãe?
R – Minha mãe era da Triangular.
P/1 – E você assim, o seu pai deixou a capoeira então quando a Jeane nasceu?
R – Sim, um pouquinho depois, que quando ela nasceu ele ainda apresentou ela na capoeira ainda. Eu não sei como que é, não cheguei a conhecer, mas ele falou que apresentava as criança quando nascia assim, na capoeira. Aí ele chegou a apresentar ela. Aí depois o meu irmão nasceu, aí ele já não tava mais na capoeira. Aí já não apresentou meu irmão, ele já tava na igreja.
P/1 – Já tava na igreja, então ele veio a São Paulo já tava na igreja então?
R – Sim, já era evangélico.
P/1 – E onde que vocês vieram morar em qual bairro aqui em São Paulo?
R – No Jardim Eliana, depois do Grajaú.
P/1 – Você lembra do Jardim Eliana?
R – Sim, lembro.
P/1 – Sim. E como que era?
R – Era uma casa pequena, tinha três cômodos, morava muita gente. Porque quando nós veio, veio acho que já tinha antes, uns parentes deles, uns amigos. Não sei se é parente, se é amigos. Eu considero como tia. Veio da Bahia um tempo antes. Então eles alugaram a casa, aí eles comunicaram com meu pai, se ele vinha trabalhar, ficar lá com eles. Aí veio meu pai, em seguida veio minha mãe, aí foi ficando todo mundo naquela casa. Tinha meu tio, minha tia, dois filhos, meus dois primos, e a mãe da minha tia, cinco. Aí veio meu pai, minha mãe e mais quatro filhos, só ficou um lá. Aí veio os outros quatro.
P/1 – Então os seus tios estavam lá, mais os filhos...
R – Dois filhos e a mãe da minha tia.
P/1 – Que no caso seria o que? Era...
R – Eu chamo de tio, mas eles não são assim parentes de sangue não.
P/1 – Ah, tá. Seriam amigos então?
R – É, eram amigos dos meus pais. É que como nós crescemos com eles, aí nós considera todos como tios. Tanto que a mãe dela eu chamo de vó também, meus irmãos chamam tudo de vó.
P/1 – E nisso você lembra se vocês brincavam então na rua? Tinha essa coisa de brincar na rua?
R – Sim, tinha. A gente estudava, a minha mãe colocou nós numa creche lá no Jardim Eliana mesmo. Plínio Salgado o nome da escolinha que nós começamos estudar. Ficamos um ano estudando nessa escola, quando nós viemos pra cá pro Capela.
P/1 – Mas lá no Jardim Eliana vocês assim, vocês ficavam mais em casa, iam pra creche? Seus pais trabalhavam, então, seu pai e sua mãe trabalhavam?
R – Sim, minha mãe trabalhava na rádio, ela era locutora de rádio. Eu não lembro o nome da rádio, eu sei que o dono da rádio era Bonfim.
P/1 – Mas essa rádio era rádio evangélica?
R – Sim, era rádio evangélica. Ela era locutora, ela trabalhou muitos anos na rádio. Quando ela veio pra aqui pro Capela, ela ainda trabalhou numa rádio aqui também. E meu pai era pedreiro.
P/1 – E vocês continuaram frequentando a Igreja Triangular, então, sempre ou vocês mudaram?
R – Na Bahia, quando nós viemos pra cá, a gente foi pra Bom Pastor... Foi, Pentecostal Bom Pastor.
P/1 – E você lembra por que vocês mudaram pra cá? Assim, por que vocês mudaram?
R – Pro Capela?
P/1 – Pro Capela.
R – De lá pro Capela?
P/1 – Porque vocês saíram de lá do Jardim Eliana e foram pra cá, ou vocês foram pra outro lugar?
R – Eu não lembro porque... Não, nós viemos direto pra cá, mas eu não lembro por que não. Acho que meu pai tinha comprado... Ah, meu pai tinha comprado um terreno. Quando ele tava trabalhado ele comprou um terreno lá no Jardim Eliana. Aí uma pessoa daqui tinha uma casa e queria fazer negócio com aquele terreno.
P/1 – Queria trocar?
R – Foi, acho que era trocar e meu pai voltava algum dinheiro pra ele, uma coisa assim. E a casa era aqui na Rua Asterol e nós viemos pra cá.
P/1 – Aí vocês vieram também junto com as suas tias?
R – Não, minhas tias estão lá até hoje.
P/1 – Aí vocês vieram já com o imóvel de vocês, assim?
R – Sim.
P/1 – E como que era a casa?
R – Era bem simples, bem humilde.
P/1 – Quantos cômodos?
R – Tinha dois cômodos e um banheiro. Mas eu me lembro que dentro do banheiro tinha um poço, um negócio no chão assim, sabe? Aí meu pai, nós veio pra cá, meu pai alugou uma casa aqui na rua de cima, de três cômodo, aí nós fomos morar na casa e ele derrubou essa casa que ele comprou. Ele e meu irmão Jean. Não, Jean não tava aqui não.
P/2 – O Joabe?
R – Não, meu cunhado Luciano, que namorava com a minha irmã. Ele e esse cunhado foram construindo aquela casa, essa aqui na Rua Asterol Ele derrubou quando nós veio. Ainda moramos nela um tempo, só que tava situação muito feia o banheiro, aí ele alugou uma casa na rua de cima, aí nós ficou um tempo lá, e nisso ele foi reformando a casa. Aí depois ele fez, deixou ela com seis cômodos, bonita,bem diferente de quando nós comprou ela e aí nós foi morar lá dentro.
P/1 – E vocês, aqui, já tava com quantos anos, quando você veio pra cá?
R – Quando eu vim do Eliana pra cá?
P/1 – Isso.
R – Tava com seis.
P/1 – Você lembra dessa época?
R – Sim, lembro. Lembro que a gente veio pra cá e eu estudava lá ainda. Eu e minha irmã estudava lá. Então a gente morava aqui e todo dia a gente acordava cinco horas, pegava o ônibus, a gente entrava às sete horas na escola. A gente todo dia nós pegava, era um ônibus daqui no terminal Santo Amaro. No terminal Santo Amaro nós pegava o Jardim Eliana. Era aquele ônibus que tinha um negócio em cima ainda. Lembra aquele?
P/1 – Elétrico?
R – Isso, daquele tempo ainda, daí a gente ia todo dia pra lá. A gente ficou acho que quase um ano indo daqui até lá, até ela colocar nós na escola aqui próximo.
P/1 – E você com seis e a sua irmã com sete?
R – Eu tava com cinco. Minha irmã tava com oito ou era nove, que ela é três anos mais velha que eu.
P/1 – E vocês assim super jovens já iam sozinhas vocês duas, pegando o ônibus.
R – No começo minha mãe levava nós, aí depois ela começou deixar nós sozinha, mas porque... Ela começou deixar nós sozinha porque em seguida ela começou trabalhar no terminal Santo Amaro, minha mãe. Ela saiu de lá da rádio quando ela veio pra cá e ela começou vender cafezinho. Fazia as bolsa, fazia o café, colocava nas bolsa térmica e fazia pão de queijo, misto quente, pão assim com hambúrguer, essas coisas, aí levava. Nós saía de casa cinco, duas e meia da manhã, aí ia pro terminal. Aí no terminal, como nós trabalhou no terminal de pequeno nós já começou trabalhar no terminal, ela começou confiar em soltar nós assim. Então ela sabia que nós sabia ir e voltar. Aí ela ficava no terminal trabalhando, aí eu e minha irmã ia pra escola e voltava. Aí quando nós voltava, nós ficava no terminal também trabalhando com ela.
P/1 – Vocês ficavam ajudando ela a vender o café, a vender o pão de queijo?
R – Sim. O café acabava cedo. Só quando acabava o café nós entrava com pururuca, pipoca nos ônibus. Era camelô, a gente era vendedor ambulante. A gente ficou muitos anos trabalhando como vendedor ambulante. Eu me lembro que eu, minha irmã, aí meu irmão veio da Bahia também, a gente ganhava dez reais por dia pra ajudar minha mãe. Minha mãe sempre dava dez reais pra nós.
P/1 – E vocês vendiam bem, conseguiam vender?
R – Sim.
P/1 – E vocês ficavam o dia inteiro, então, lá no terminal?
R – O dia inteiro. A gente ia pra escola de manhã, voltava da escola e era bom que nós todos estudava no mesmo horário. Aí nós voltava da escola, a gente ficava lá no terminal e aí cada fila a gente formava três banquinha. Então cada banquinha a gente vendia na média de, antes, no comecinho era 90, cem reais, depois foi aumentando, foi pegando cliente, foi aumentando, vendia duzentos reais.
P/1 – Por dia?
R – Por dia sim, era. Acabava o produto, a gente já ia correndo comprar. Tudo lá perto mesmo de Santo Amaro, que a gente tinha os fornecedores que vendia lá, mais pra marreteiro. Mas antigamente quando as catraca era fechada, dos terminais, era muito cheio de marreteiro ali, porque eles pagavam. Todo ano eles pagavam uma quantia pro rapa, esses negócio do rapa que tomava. Aí não podiam tirar, então nós podia trabalhar lá. Lá era liberado pra nós trabalhar lá, aí nós ficava, que nós fazia uma barraquinha. Aí colocava pururuca, salgados, essas coisas assim, um negocinho com refrigerante. Aí nós ficava.
P/1 – Vocês coloca no isopor, então?
R – Isopor com refrigerante. Aí acabava o refrigerante, aí a gente ia lá e comprava mais, ia enchendo.
P/1 – E o marreteiro o que que era, Lane?
R – Marreteiro é um vendedor ambulante. A gente tinha vez que nós saía com saquinho de pururuca e entrava nos ônibus com caixinha de bala, e ia no ponto e voltava, vendendo dentro dos ônibus.
P/1 – E pururuca é o que?
R – Pururuca é um salgado que até hoje os marreteiro sai bastante, vende bastante. Toda vez quando eu passo no terminal Santo Amaro, aquela pururuca ela não sai. É um salgado. Acho que é assado.
P/1 – Saía bastante então?
R – É, saía. Eu lembro que no começo, quando eu comecei a vender, era 60 centavos a pururuca. Hoje ela tá um real e 20, eu acho, um real e 30.
P/1 – E como era assim, ficar? Você ficou quanto tempo lá no terminal, ajudando sua mãe com seus irmãos vendendo?
R – Eu entrei pro terminal eu tava com sete anos. Tava com sete ou oito anos quando nós começou. A gente começamos no cafezinho, do cafezinho nós fomos vender pururuca, essas coisas. Eu saí de lá eu já tava com 15 anos, quando eu saí do terminal. Mas quando eu saí do terminal, 15 anos, eu já não tava mais como marreteira. Eu já tava dentro do terminal Santo Amaro, só que trabalhando na Cris Bijou. Cris Bijou era uns bosque que vendia bijuteria, essas coisas. Aí a mulher via a gente todo dia lá, pegou confiança em nós. Aí colocou eu pra trabalhar em um, aí chamou a minha irmã pra trabalhar em outro. Ela tem um bosque em cada terminal. Tem um no terminal Santo Amaro, no terminal Bandeira, terminal Capelinha, terminal João Dias, terminal Parque Dom Pedro. Aí ela colocou, eu fui trabalhar em um, a minha irmã foi trabalhar noutro terminal, a minha tia num outro. Até hoje minha tia trabalha com ela. Eu saí, desde os 15 anos eu saí, mas minha tia continua com ela.
P/1 – E você viu assim muita... Quais as imagens que você tem desse período que você trabalhava lá no terminal, lá vendendo os doces assim, vendendo pururuca, assim? Você tem alguma história, alguma situação?
R – Sim.
P/1 – O que você lembra quando você pensa assim, naquela época, você fala: “Nossa, aconteceu aquilo”.
R – Sim, nossa, tem várias histórias, nossa! Teve uma época que depois que abriu as catraca, igual eu falei, antes de abrir, quando as catraca era fechada no terminal, era liberado, nós podia vender porque tinha aquele negócio. Todo ano pagava uma quantia. Então era liberado. Só que depois que abriu, aí a gente não podia, não sei por que, mas não podia mais trabalhar lá dentro. Também mesmo depois que abriu, mesmo nós trabalhando assim sem poder nós trabalhava. Você não podia, mas todo mundo trabalhava. E as vendas caíram bastante. Caíram muito as vendas porque antes o pessoal entrava por trás, então o dinheiro que era pra pagar no ônibus eles gastavam com nós. Depois que eles tinham que passar pela frente, pagar a condução, então já caiu muito, caiu muito mesmo o movimento.
P/1 – Isso foi quando, mais ou menos? Você tinha quantos anos?
R – Nessa época acho que eu já tava com uns 10 pra 11 anos. Aí eu me lembro que um dia a gente tava trabalhando, aí chegou o rapa. O rapa era assim, chegava uma perua, sabe essas perua Kombi? Chegava uma na frente com vários homens dentro, vestido com a blusa da mesma cor. Não sei se a blusa era vermelha, azul, não sei. Acho cada um eles mudava de cor. Chegava aquela blusa tudo da mesma cor, e atrás deles vinha um caminhão, sem nada, aqueles caminhão aberto em cima, sem nada. Aí eles entravam e sempre vinham com a polícia também, ? Aí pegava tudo que você tava vendendo, eles tomava de você e jogava dentro do caminhão. Eles não te prendia, eles não podia te bater, não podia fazer nada, mas eles tinha que tomar os seus produto e levar embora. Aí eu me lembro que era assim. A gente ficava, uma pessoa ficava lá de cima do terminal observando. Quando o rapa vinha ele dava aviso pra todo mundo correr, todo mundo se esconder. Eu me lembro que teve um dia que veio o rapa e chegou, o rapa chegou assim de tudo assim, chegou assim sem ninguém ter prestado atenção. Ninguém viu, aí ninguém avisou. Aí na hora que minha tia viu, minha tia saiu correndo. Aí eu consegui pegar as minhas coisa, minha banquinha, eu me lembro que algum rapaz tava passando e me ajudou, levou o isopor e eu levei só a caixa com os produtos em cima. Aí nós subimo a escada correndo, aí minha tia veio atrás. Só que minha tia ela tava com o isopor e com a caixa, não tava dando conta de correr. Quando ela chegou no meio da escada, um cara do rapa segurou ela. Eu me lembro que ele pegou e conseguiu prender ela. Na hora que ele segurou ela, outro menino que trabalhava com nós, o nome dele era Pagão, ele viu de longe. Ele pegou uma Coca, sabe, um negócio de Coca, aí tacou. Aí foi na cabeça desse cara do rapa. Aí ele saiu rolando a escada, aí minha tia conseguiu fugir. Aí depois nós todo mundo se ajuntou lá e ficou contando essa história e dando risada. Mas foi muito engraçado. Não se machucou ele, só bateu na cabeça, porque foi certinho na cabeça a lata, e ele saiu rolando a escada, caindo. Aí todo mundo conseguiu fugir dele. Nossa, era cada dia era uma fuga diferente, cada dia nós tinha que ficar preparado pra correr. Depois que abriu as catraca, nós não teve mais sossego no terminal.
P/1 – Mas você teve algum dia que você teve a sua mercadoria apreendida?
R – Sim, várias vezes.
P/1 – Várias vezes. E qual era a sensação assim, o que você fazia depois?
R – Ah, a gente ficava com muita raiva na hora, mas no outro dia nós comprava tudo de novo e entrava de novo.
P/1 – E seguia em frente?
R – Sim, no outro dia ou quando a gente tava sem dinheiro assim, aí sempre os que trabalhava com nós, que era muita gente, um sempre ia dando alguma coisa, ajudava assim. Aí montava de novo sua barraquinha. Aí no outro dia eles tiravam, nós montava de novo. Nós sempre voltava.
P/1 – E Lane, assim, a renda que você obtinha vendendo junto com os seus irmãos, era tudo pra casa? Você tinha algum momento que você falava: “Não, acho que eu vou juntar um dinheirinho aqui pra eu comprar um batom”. Depois, , com os 12, 13 anos, ou fazer, não sei, cuidar um pouco de você.
R – Olha, a renda no começo, quando a gente trabalhava no cafezinho com a minha mãe, igual eu falei, era dez reais ela dava pra nós, por dia. Ele falava: ”Ah, vocês podem gastar no que vocês quiser ou vocês guardam”. Aí eu nunca fui de guardar dinheiro não. Falar que eu guardava é mentira. A minha irmã era mais econômica, guardava o dinheirinho dela, mas eu não. Ainda mais que depois eu comecei a estudar, depois dos 15 anos eu comecei estudar à noite, oitava série nós tava fazendo à noite. Então eu tinha que chegar à noite na escola, tinha que chegar com dinheiro pra gastar lá na lanchonete da escola. Nunca podia chegar sem dinheiro. Aí depois que nós começou, no cafezinho era dez, depois que nós foi pro marreteiro, que nós não ficou mais no cafezinho com a minha mãe, nós veio pro cafezinho nós ficou nas vendinha, aí já era 20 por dia. Tinha condução, sempre porque tinha um dono que comprava. Vamos supor, cada ponto do terminal Santo Amaro era comprado e aquele dono que comprava aí contratava nós pra trabalhar pra ele. Aí cada uma pessoa que comprava lá ficava numa banquinha. Tipo, em um ponto tinha três banquinha, aí pra cada pessoa ele dava o almoço, a condução e 20 reais por dia. Aí eu comecei, consegui mais ajuntar depois que foi pra 20 reais eu comecei a juntar mais algumas coisas.
P/1 – Mas quem são essas pessoas que eram donos desses pontos assim, desse pedaço?
R – Era pessoas normais assim como nós mesmo, só que eles...
P/1 – Como que eles conseguiram isso assim? Foi porque eles chegaram antes? Como que foi?
R – Foi. Algumas pessoas chegou primeiro. Aí meu ex-cunhado, eu me lembro que a mãe dele pagou 19 mil em um ponto, que foi aquele ponto do Parelheiros, no terminal Parelheiros. Ela pagou 19 mil, mas também ela tirava por dia, no ponto Parelheiros, ela fazia cinco a seis barraquinha e tinha cinco a seis pessoas trabalhando naquele ponto. E na hora de movimento, que é das cinco horas pra lá, até as nove que é correria mesmo, vendia muito, ela tirava em cada banquinha trezentos reais. Aí ela alugava aquelas banquinha. Ela comprou por 19 mil o ponto.
P/1 – Os pontos seriam o que? Os boxes mesmo, não? O espaço ali que ela poderia ficar com as pessoas vendendo?
R – É. Não tem a fila do Parelheiros? Não tem um ponto de Parelheiros? Aí tem aquela fila. Ela comprou aquela fila, ninguém poderia vender ali, a não ser ela. Aí ela fazia numa fila do Parelheiros, como era muito longa a fila, ela conseguia fazer cinco a seis banquinhas. Aí ela pegava aquelas banquinha e alugava. O aluguel por dia, hoje eu não sei, eu hoje acho que aumentou, mas na época foi trinta reais, por dia, de cada banquinha. Aí tinha umas que era mais cara, que era Grajaú e Varginha, era as mais caras que tinha ali. Tanto o ponto pra comprar foi mais caro, e os alugueis eram mais caro.
P/1 – E ele pagava pra quem esse ponto?
R – Quando ela comprou?
P/1 – É.
R – Eu não sei.
P/1 – Mas vocês que iam trabalhar pra ela no ponto, que seria a fila, vocês levavam os produtos ou ela também oferecia o produto pra vocês?
R – Depende. Se ela me contratou pra trabalhar com ela tipo naquele negócio de pagar 20 por dia, aí os produto era dela. Agora se ela tivesse alugado pra mim, eu que ia pagar 30 reais por dia, os produto era meu. Mas lucrava muito mais em cima porque lá a gente vendia por dia trezentos, naqueles pontos bons era trezentos, 250, trezentos reais. Aí tirava os 30, que era pra pagar de aluguel, que 30 reais era aluguel de todos os dias.
P/1 – Todos os dias, tinha que pagar no final da tarde.
R – Isso, à noite tinha que dar aqueles 30 reais pra ela. Aí lucrava muito mais. Compensava bem mais você alugar dela, do que você trabalhar pra ela por 20 reais.
P/1 – Aí quem trabalhava na época? Era você, a Jeane...
R – Minha mãe alugou três pontos dela. Aí trabalhava eu, Jeane e o meu irmão. Aí veio a minha tia também, num tempo. A minha tia alugou a dela também, só que minha tia alugou no Varginha, no ponto do Varginha que era mais movimento lá, era muito bom.
P/1 – E vocês trabalhavam a semana inteira, se segunda a segunda, ou não?
R – De segunda a segunda. Domingo, sábado, de segunda a segunda.
P/1 – E o lazer?
R – A gente, sábado e domingo como nós sempre fomos pra igreja, então nós saía mais cedo, nós ia pra igreja. E dia de semana também, quando nós começou a estudar, quando nós estudava de manhã. Nós ia pra escola, aí ia pra lá meio dia, uma hora, e saía nove horas da noite, era a hora que fechava. Só que assim, nove horas da noite fechava pra nós, só que era alugado pro turno da noite. Então ela ganhava 30 reais de quem alugava de dia, mais 30 de quem alugava à noite, entendeu? Aí eu saía nove horas, aí entrava outras pessoas que vai pro turno da noite. E quando eu estudava à noite, eu entrava às sete da manhã e saía às cinco da tarde.
P/1 – Mas por que você mudou de turno, da escola? Porque antes você estudava de manhã, depois mudou pra noite?
R – É, antes eu fazia sexta, quinta série, era tudo de manhã. Aí quando eu fui pra oitava série que mudou pra noite.
P/1 – Por que Lane? Você preferiu estudar à noite?
R – Não, é que aqui oitava só tinha à noite.
P/1 – Ah, só tinha à noite.
R – Era, oitava série aqui, sempre estudei aqui, depois que eu vim do Plínio Salgado, que eu estudava no Plínio Salgado, eu vim pra cá pro Samuel Morse. Aí aqui sempre foi assim. Era de primeira série até a oitava era de manhã. Da oitava até o terceiro ano era à noite.
P/1 – Ah, e como era a escola na época? Assim, quando você estava estudando, como era estudar e trabalhar, assim?
R – Eu gostava. Eu acho que eu era menos preguiçosa. Depois que eu parei de estudar eu, nossa, eu dormia muito. Quando eu estudava não, eu acordava cedo, trabalhava. Depois fiquei mais relaxada.
P/1 – E a escola? O que que você lembra assim da escola quando você fez...
R – Ah, sinto muita saudade da escola. Não vejo a hora de voltar a estudar, de fazer alguma faculdade, porque sinto muitas saudades, principalmente das aulas de matemática. Eu amava as aulas de matemática.
P/1 – Você era uma boa aluna, Lane?
R – Eu assim, eu não era encrenqueira, meu Deus, todo mundo fala que eu era muito encrenqueira, que eu brigava muito na escola. Só que não é que eu brigava.
P/1 – Você já brigou na escola?
R – Sim, muitas vezes, sim. Mas não é porque eu era perturbada, era mais as aulas de matemática igual eu falo procê. Porque assim, eu queria prestar atenção no professor explicando, e se eu escutasse alguém conversando perto de mim já era um motivo de eu ficar brava. Eu queria que o professor tirasse aquelas pessoas da sala, entendeu, pra nós poder prestar atenção. Aí isso era motivo de briga. Aí começava a discussão, depois vinha briga, mas era principalmente nas aulas de matemática, ciências, física também.
P/1 – Então você ficava aborrecida se alguém ficasse falando alto.
R – É.
P/1 – E você já chegou a brigar mesmo?
R – Sim, várias vezes, a gente brigava muito, e as pessoas me chamavam de encrenqueira. Até hoje, da minha família, todo mundo acha que eu sou a ovelha negra, a mais encrenqueira. Mas não é que eu sou encrenqueira, é que era não sei, eu acho que eu tinha paciência muito curta, entendeu? Você queria prestar atenção em uma coisa, ficava todo mundo conversando, eu ficava muito brava. Mas tirando isso...
P/1 – E professor, você tem lembrança de professores que te marcaram?
R – Sim, professor Mário, de matemática. Ele era, nossa, uma pessoa maravilhosa ele, sabe? Ah, sei lá, eu sinto muita falta, muita saudade dele. Ele tinha uma calma pra explicar. Se ele explicou uma conta de mais, assim, uma conta de multiplicação muito simples, assim, fácil, e se você não entendeu ele te explica 50 vezes da mesma forma. Ele não se altera, não fica estressado e você pergunta de novo, ele tá lá na calma, de novo. Tinha hora que eu brigava também na sala por causa disso. Falava: “Professor, para com isso, ela já entendeu, ela tá fazendo o senhor de sonso”, ele: “Não, eu to aqui pra explicar, fica calma”. Eu olhava pra cara da menina, olhava pra cara dele, aí eu começava a brigar. Que tipo, ele tava explicando, ela ficava atrás conversando. Os meninos também tava atrás conversando. Aí quando ele acabava de explicar, que era pra você fazer o exercício, aí as menina vinha: “Professor, não entendi”. Aí eu ficava doida.
P/1 – Em que série que foi que ele deu aula pra você?
R – O Mário, ele me deu aula no primeiro, no segundo e no terceiro ano.
P/1 – Já no ensino médio?
R – No ensino médio. Mas foi o que mais marcou.
P/1 – Sempre à noite?
R – Sempre à noite.
P/1 – E como que foi sair do turno da manhã e passar pra noite? Houve uma diferença?
R – Sim, eu gostei mais da noite. De manhã não sei, mas de manhã no Samuel os meninos sei lá, era mais bagunceiro. Quando a gente falava turno da noite, todo mundo já tinha medo, , achava que ia ser pior, mas turno da manhã as pessoas acho que iam pra escola mais pra brincar, pra comer, sei lá, mas menos pra estudar. E já no turno da noite, os pessoal era mais calmo, você não via aquela gritaria de de manhã. Porque de manhã também era tudo junto, primeira série, era aquela correria no intervalo, era tudo misturado. Já no ensino médio não, já era as pessoas mais velha assim, gostei bem mais do ensino médio.
P/1 – Qual o nome da sua escola?
R – Escola Estadual Samuel Morse.
P/1 – E você ali já quando você foi pra oitava série, você tava com quantos anos?
R – Oitava série eu tava com 15.
P/1 – Com 15, você já era adolescente. Você já namorava nessa época?
R – Sim (risos), sim, eu...
P/1 – Quando você começou a namorar?
R – Meu primeiro namorado foi assim, foi adolescência assim, mas escondido também. Tinha medo da minha mãe descobrir. Tinha aquele negócio de religião, não podia namorar cedo, aí foi com 12 pra 13 anos. O nome dele era Vagner, conheci ele no Terminal Santo Amaro também, a mãe dele tinha uma barraquinha. Tinha uma barraquinha de jornal do lado de fora do terminal e dentro ela tinha umas barraquinha de camelô que ela também alugava. Aí eu comecei a namorar com o filho dela. O nome dele era Vagner.
P/1 – Vocês ficaram quantos anos assim, quanto tempo vocês ficaram juntos?
R – Acho que oito meses. Aquela paixão de adolescente, sabe? Mas a minha mãe descobriu. Aí quando minha mãe descobriu, ela fez eu terminar com ele. Aí nossa, eu fiquei com muita raiva da minha mãe na época. Depois disso eu não confiei nunca mais, porque assim, ela falava com nós: “Tem que confiar em mim, tem que contar tudo pra mim”. Aí eu cheguei nela e falei pra ela: “Mãe, quero te contar uma coisa”. Ela pegou e falou: “O que que é?”. No terminal isso, tava dentro do terminal. Eu falei: “Eu tô gostando de uma pessoa e quero que a senhora deixe eu namorar com ele”, ela pegou e falou: “Quem?”, aí eu falei e ela falou que não, que era pra mim terminar com ele. Aí eu comecei a chorar, implorei pra ela não fazer isso, ela falou que sim, que ele não era boa pessoa pra mim, que eu tava muito nova. Aí depois disso também eu perdi a confiança na minha mãe. Sei lá, eu não tive mais aquela confiança de chegar nela e falar que eu tava sentindo, que eu gostasse de alguém, o que tava passando comigo. Depois disso eu nunca mais confiei nela, até hoje não consigo me abrir assim com a minha mãe. Já meu pai, eu já conversava mais, mas minha mãe.
P/1 – E aí você terminou com o Vagner e...
R – Terminei, no mesmo dia que ela falou, eu cheguei nele e terminei. Aí eu me lembro que ele sentou embaixo de uma árvore assim que tinha do lado de fora e ficou o dia inteiro chorando, o dia inteiro. Eu falei pra ele era de manhã, umas onze horas da manhã, e ele ficou até na hora de ir embora do terminal, até cinco horas, chorando. Aí a mãe dele ficou com raiva de mim também, falou que eu só entrei na vida dele pra destruir ele, destruir a família dele. Aí e até hoje, ela não fala muito comigo, a mãe dele.
P/1 – Mas você vê o Vagner, assim sempre?
R – Eu já vi ele depois que eu... Depois agora, que eu me casei, depois que eu me separei, a gente conversamos ainda. Ele trabalha num negócio de turismo, aí ele me convidou pra trabalhar lá. Ainda fui, fiz entrevista, só que não deu certo ficar lá, eu não fiquei.
P/1 – E depois do Vagner?
R – Depois do Vagner? Não tive um namoro assim sério. Conheci alguns menino assim, mas nada sério. Aí eu conheci meu marido, o último marido que eu casei, tava no ensino médio, tava com 15 anos quando eu conheci ele. Um amigo meu que fez um curso comigo, aí me apresentou a ele. Tava saindo da escola, à noite, ele tava na frente da escola, aí me apresentou. Aí eu peguei e desci direto, aí ele veio atrás de mim. Tava descendo eu e mais duas amiga minha, pra casa. Saímos cedo nesse dia. Aí veio esse amigo meu que estudou comigo, veio ele, aí ele trouxe, o pai do meu filho e outro menino, aí veio seguindo nós. Aí quando chegou perto de chegar na minha casa, ele chegou em mim, conversando comigo e falou: “Nossa, nós viemos de lá de cima até aqui conversando. Você não vai ficar comigo, não vai dar um beijo?”, eu falei: “Não”. Aí ele pegou e insistiu, insistiu, eu dei um beijo nele. Aí tá bom, nisso ele foi embora. No outro dia ele voltou de novo, tal, na frente da escola de novo. Aí nós ficamos, nós começamos conversar, só que aquele negócio, escondido também. Falava mais nada pra minha mãe.
P/1 – Mas sua mãe te proibia de namorar?
R – Sim. Não que ela me proibia, só que ela, sabe, ninguém era certo, ninguém tava bom pra mim, ninguém tava certo pra mim. Aí eu não contava nada pra ela. Aí eu peguei... Tá, tava contando dele, ?
P/1 – Isso.
R – Aí nós pegou, se conhecemos, começamos namorar escondido também. Aí um dia a gente terminamos, brigamos. Tava na frente da escola mesmo. Só namorava assim, na hora de ir pra escola, entendeu? Ele ia lá na escola.
P/1 – Ele não era da escola, então, da sua turma?
R – Ele era, só que ele era de manhã, ele estudava no Samuel, só que ele estudava no período da manhã, eu estudava à noite. Aí ele ia à noite lá me buscar. Nós ficava conversando um pouquinho, eu ia pra casa, ele ia embora. Aí um dia a gente acabou discutindo, a gente terminamos. Aí ele pegou e falou bem assim: “Um dia você ainda vai voltar pra mim”, eu falei que não, que eu não ia voltar pra ele nunca. Nisso eu tava com 15 anos. Aí beleza, aí ele foi embora e nunca mais vi ele. Fiquei muito tempo sem ver ele. Só que eu não gostava dele também, não sentia nada por ele. Aí quando foi um tempo depois, eu comecei a trabalhar como babá, cuidava de um menino aqui na rua mesmo. Aí eu tinha que levar ele na creche. Um dia eu tava levando ele na creche, aí do nada assim eu vi ele passando com uma menina, abraçado e levando uma criança pra por na creche também. Aí eu fiquei com muita raiva, só que eu não entendia, porque eu não gostava dele, por que eu senti tanta raiva dele com outra menina? Aí ele entrou, deixou o menino lá dentro, aí saiu. Quando ele saiu, ele olhou bem no meu olho e falou assim: “Tá tudo bem com você?”, eu falei: “Não, você não tá vendo que não tá bem comigo?”. Aí ele começou dar risada e foi embora. Aí só que ele não era evangélico, eu me lembro na época que ele não era cristão. Aí passou outro tempo, não vi mais ele mais depois daquilo. Depois de um tempo, meu cunhado me convidou pra ir numa igreja, aí nós fomos na igreja e eu desde pequena louvo na igreja.
P/1 – Qual igreja?
R – Essa que nós foi?
P/1 – Isso.
R – Foi Palavra Viva. Pentecostal Palavra Viva. Aí nós fomos nessa igreja, aí me deram oportunidade, o pessoal lá sabia que eu cantava, me deram oportunidade. Aí eu tava cantando, lembro que eu tava cantando até uma música da Jamile, é Usei a Fé, aí tava cantando, tava com o olho fechado, aí me lembro quando eu abri o olho ele tava entrando na porta da igreja. Nossa, eu não sabia onde enfiar a cara, não sabia o que fazer, sabe? Eu tava bem apaixonada por ele assim e fazia muito tempo que eu não via ele. Aí beleza, aí depois da vigília nós, ele veio, veio subindo com nós, acompanhando. Veio até minha casa me trazer, aí nós começou conversar de novo, todos os dias nós conversava. Só que aí a minha mãe tinha ido pra igreja também, minha mãe já tava no meio do assunto assim, já tinha percebido que ele tava a fim de mim, que eu tava a fim dele. Aí ele falou: “Quer namorar comigo?”, eu falei: “Quero”, “Vamos namorar sério?”, eu falei: “Vamos”, “Então vou pedir pro seu pai”, eu falei: “Tá bom”. Aí ele foi na minha casa pedir pro meu pai, meu pai aceitou, minha mãe aceitou, aí nós começamos a namorar. Nisso eu já tava com 16 anos, já tinha passado um ano já desde quando não via ele. Aí nós começamos namorar, aí ficamos namorando, e era aquele negócio, ele era da igreja, eu também era. E o meu pai é pastor, minha mãe é missionária. Então a gente tipo, tinha que ser certinho, tinha que ser bem na linha, não podia fazer nada de errado. Aí um dia, depois de seis meses, eu perdi minha virgindade com ele e tipo, a gente escondemos isso do meu pai, da minha mãe, e ele falou: “Mas eu não tô me sentindo bem, a gente tamo na igreja, tomando a santa ceia, tamo fazendo várias coisas erradas, nós tá ficando, isso é errado”. Aí eu falei: “Então vamos contar pra minha irmã mais velha e pro meu cunhado”, que eles eram líder da gente na igreja, “Vamos conversar com eles”, mas a gente conversamo com ele e pedimos pra eles não falar nada, pra guardar esse segredo com nós. Aí eles falou que não podia guardar esse segredo, porque se eles guardasse, eles até leram na bíblia a passagem, se eles guardasse aquele segredo com nós, eles ia tá pecando, eles ia tá errando. Eles não podia guardar aquele segredo porque eles leram pra nós uma passagem na bíblia que falava se eles guardasse, eles estaria errando junto com nós, então eles tinham que contar nem que fosse pra pastora, pro pastor, mas eles tinham que contar pra alguém, pra eles não assumir aquela responsabilidade, aquela culpa. Aí eles chegaram e falou pro meu pai e pra minha mãe. Aí nossa, foi uma guerra dentro de casa. Quando meu pai e minha mãe ficou sabendo disso, porque eu tava com 16 anos, eu era virgem, era da igreja e tal. Era um pecado, sabe, era horrível pra eles. Aí foi a primeira vez que meu pai me bateu. Ele levantou a mão e ele me deu um tapa na cara. Nunca tinha pegado nada assim, um chinelo pra bater, nunca. Aí minha mãe mandou eu embora de casa, ela mandou eu arrumar minhas mala e ir embora, que ela também não queria mais saber de mim. Aí eu não sabia pra onde ir, eu não tinha pra onde ir, não tinha ninguém aqui. Aí ele falou: “Vamo lá pra casa. Minha casa é pequenininha, não cabe quase ninguém, mas é a única saída pra você”, eu falei: “Vamo então”. Aí eu fui pra casa dele, a gente ficamo lá cinco anos. Eu tinha 16 anos quando eu fui, aí minha mãe pegou e nossa, minha mãe ficou com muito ódio dele, muito ódio. Minha mãe e meu pai, aí a gente... Eu não dava muito bem com a mãe dele lá, não me dei muito bem com a irmã dele. Era uma casa muito pequena, morava muita gente, sabe? Aí ele pegou e ele falou, pediu pra casar comigo: “Vamo casar”. Eu era muito apaixonada por ele (choro). Desculpa. Aí ele pediu pra casar comigo. Tava já com 17 anos, aí ele veio, tentou conversar com minha mãe, com meu pai. Minha mãe falou que não, como eu era de menor, pra mim casar tinha que ter assinatura deles.
P/1 – Autorização?
R – Autorização deles e minha mãe não aceitou, falou que não, disse que ela preferia ver eu morta do que casada com ele. Aí falou pro meu pai, meu pai também não aceitou. Aí fiquei lá na casa dele, a gente ficou lá junto, só que assim. Eu cantava na igreja, coisa que eu mais amo até hoje.
P/1 – Você canta ainda?
R – Canto. Tô gravando um CD. Eu não queria ficar participando da igreja, mas tando juntada com ele. Eu sabia que aquilo era errado, entendeu? Então eu queria casar, só que o meu pai e a minha mãe não deixaram, não tinha como eu casar. Aí eu conversei com a pastora da igreja que nós tava. Ela falou pra mim não se preocupar que Deus tava vendo, ele entendia que não era porque nós queria. Aí a gente ficamos naquela igreja, a pastora apoiando nós, sempre junto com nós assim.
P/1 – Era uma igreja diferente da que os seus pais frequentavam?
R – Sim, a gente saiu, logo que aconteceu isso nós saímo de lá. Eu fui morar na casa dele, é em outro bairro, aí eu fiquei numa igreja lá perto, eu e ele. Aí quando eu completei 18 anos, aí nós casamos. Aí ele veio e falou com meu pai, aí conversou e tal, aí a gente começamos a se entender. Aí meu pai, um tempo antes, quando eu ia fazer 18 anos, eles começaram a conversar, ele e meu pai já começou a se entender mais, aí aquele rancor que meu pai tinha por ele já tinha se quebrado. Mais a minha mãe assim, que implicava mais, mas o meu pai já tinha ficado mais calmo. Aí nós casamos. Aí a gente não casou assim, foi aquele festa na igreja não, mas a gente casamos no cartório, fizemos uma festinha lá em casa mesmo. Minha família tava todo mundo, a família dele.
P/1 – A sua mãe foi também?
R – Foi, minha mãe também foi. Aí eu já tava com bebê já. Quando a gente casou meu filho tava com sete pra oito meses. Eu tive meu filho com 18 anos, eu engravidei quando eu tava na casa dele, com 17 anos.
P/1 – Qual o nome do seu filho?
R – Cristian Matos. Aí a gente casamos, aí a gente ficamos morando junto ainda até meus 20 anos, meus 19 anos. A gente nos separamos, não deu certo, a gente separamos, voltei pra casa da minha mãe. Aí fiquei com meu filho, fiquei criando meu filho, meu pai e minha mãe me ajudando sempre. Só que tinha aquela coisa, você saiu da casa do seus pais, você voltou pra casa dos seus pais, e tem aquele negócio que fica jogando na sua cara: “Eu avisei, eu avisei que não era pra você ter ido. Eu te falei, quebrou a cara”. Então por mais que eu tava na casa do meu pai, só que não é meu lugar, entendeu? Ainda não é o meu lugar ainda. Aí minha irmã começou a trabalhar com a Nice do bolo.
P/1 – Ah, a sua irmã, a Jeane, então?
R – A Jeane. Ela trabalha com a Nice já faz bastante tempo já. Hoje ela trabalha no Grupo Ambrosia, mas é a mesma rede. Aí eu fui, eu pedi aí... Nossa, eu tô perdida?
P/1 – Não, agora Lane, voltando, vamos entrar agora no tema do trabalho. Se você ficou lá trabalhando no terminal Santo Amaro, lá ficou até os 18 anos?
R – Não, no terminal eu saí com 15.
P/1 – Com 15?
R – É.
P/1 – E depois, o que você fez assim, de trabalho?
R – De trabalho? Depois que eu saí do terminal, 15 anos eu não trabalhei, aí eu conheci meu marido com 16, quando eu me casei – quando eu me casei não, eu fui morar com ele com 16 anos. Aí eu comecei trabalhar numa loja de roupa, vendendo roupa. Aí eu saí da loja de roupa, fiquei pouco tempo lá na loja de roupa. Eu saí e fui trabalhar na Claro, como atendente de BackOffice. Aí eu fiquei sete, oito meses na Claro. Aí eu saí da Claro e fiquei, depois que eu saí da Claro, eu não trabalhei mais em nenhum. Aí eu me separei, foi depois que eu me separei, aí eu fiquei só em casa cuidando do bebê e eu fazia, vendia perfume assim, sabe, revista de perfume assim? Aí foi quando minha irmã falou da Nice pra mim, pra trabalhar com ela. Aí eu falei pra Nice pra me colocar, aí ela me levou lá. Aí hoje eu trabalho com ela.
P/1 – Você trabalha aonde?
R – Trabalho na Berrini, no espaço ali dela.
P/1 – E lá no espaço, a quanto tempo você tá lá?
R – Há dez meses.
P/1 – E até então você tinha ouvido falar do Consulado da Mulher?
R – Não. Eu escutei falar depois da Nice. Mas antes de trabalhar na Berrini, eu já trabalhava com a Nice já.
P/1 – Ah, você já trabalhava na doceria?
R – Sim. Quando minha irmã entrou com ela, a minha irmã já trabalhava na doceria com ela. Aí minha irmã foi pra outro grupo e ela ficou sem ninguém lá. Aí eu fiquei fazendo eventos, coffee, com ela. Não era na doceria, mas a gente fazia eventos, trabalhava com ela já.
P/1 – E no que você trabalhava, Lane?
R – A gente fazia, montava coffee break. Eu sempre ficava na arrumação das mesa, e ela fazia a montagem dos prato e eu ficava sempre decorando a mesa, ela gostava das minhas decorações. Então todo lugar que nós ia eu decorava, ela ficava montando os prato. Aí a gente trabalhava, fazia evento, quando tinha casamento também ela me levava, festa de aniversário ela me levava. Aí depois que eu fui pra cafeteria lá.
P/1 – Então há quanto tempo então, mais ou menos, você conhece a Nice?
R – A Nice conheço há muito tempo, ela é minha visinha aqui. Desde quando eu vi pro Capela, só que nunca tive aquela intimidade assim, aproximação com ela. Aí depois comecei a trabalhar com ela, tem um ano e pouco já, tenho mais intimidade assim com ela.
P/1 – E você até então você sabia assim a dimensão do que era empreendimento? Ter que trabalhar com outras pessoas em rede, sem ter um patrão, vamos dizer assim? Você tinha essa noção?
R – Não, eu não conhecia nada. Não sabia o que era uma rede, como funcionava o trabalho da rede, não sabia de nada. Depois que eu entrei, até quando eu trabalhava com ela assim, eu não sabia muito o que era rede. Eu conheci a rede depois que eu entrei pra cafeteria, toda sexta tem reunião e nessas reunião de sexta ela foi explicando o que era uma rede, que nós era assessorados pela Cônsul, que não tinha patrão, o dinheiro era dividido em partes iguais, cada um era seu patrão.
P/1 – E a tua rotina de trabalho lá na cafeteria? Você chega que horas, sai que horas? Como que é sua rotina assim?
R – Eu chego sete e meia, mas eu saio daqui faltando dez pras cinco. Aí eu vou de carro com o Geraldo, que é o marido dela. Vou de carro até a estação Socorro, na estação Socorro eu desço, aí a gente leva uma térmica com os produtos dentro. Desço, pego o trem até a Berrini e é em frente lá, em frente a estação Berrini. E aí eu entro às sete e meia e saio às cinco da tarde.
P/1 – E você fica lá vendendo os produtos então? Atendendo?
R – Sim, nós faz de tudo lá.
P/1 – O que você faz?
R – Cuido mais da administração.
P/1 – Descreve um dia seu de trabalho assim.
R – Um dia meu de trabalho?
P/1 – Isso. Você acorda e faz o café pra levar, ou não?
R – Não, o café na verdade é lá, tudo lá, que é aquela máquina expresso, é um café já de lá.
P/1 – Você leva só as térmicas?
R – Isso. As térmicas vai com bolo, de dia, é sempre um bolo, vai levando um bolo de hoje, vai com os pães, brigadeiro, doces, essas coisas que vai servir no dia, nós leva na térmica de manhã. Aí eu acordo, pego a térmica, levo, aí chego lá nós começa a cortar a salada porque ela leva a quantia certa de frutas pra cortar a semana inteira, aí fica tudo armazenada lá. Aí de manhã a primeira coisa que nós chega, sete e meia, é cortar as salada. Nós corta as salada e monta os pratinho de salada pra servir no carrinho. Aí o carrinho sai às nove e meia. Aí nós monta o carrinho, deixa bonitinho, e aí duas pessoas sobe no carrinho. Carrinho é aquele carrinho solidário, ele vai passando de mesa em mesa, nos escritórios. A gente serve quatro andares. O andar 21, que é onde tem a cafeteria, o andar 32 que é a diretoria e o andar 27 que é administração e o andar 28.
P/1 – E que empresa que é?
R – É Whirlpool.
P/1 – É a própria Whirlpool, então?
R – É a própria Whirlpool.
P/1 – E você já conhece os clientes?
R – Sim.
P/1 – Já sabe mais ou menos as preferências?
R – Sim. Quando a gente vai passando o carrinho, quando não tem alguma coisa, vejo e já falo: ”Ó, hoje não tem banana, hoje não tem manga”. Aí eles já sabem…
P/1 – Então vocês levam frutas também?
R – Sim, lá o que mais sai é salada de fruta. O que mais as pessoas gostam lá é salada de fruta. E nós servimos almoço também, depois da meio dia a gente serve almoço lá. A gente desce com carrinho até conseguir passar nos quatro andares, nós desce com o carrinho às 11 e meia, quase dando meio dia.
P/1 – O que seria já um lanche, o lanche da manhã.
R – Isso. Nós desce, quando nós desce, a pessoa que ficou lá embaixo na cafeteria já tá montando a salada pro almoço.
P/1 – Então pro almoço vocês servem só salada, então?
R – Não.
P/1 – Comida, tudo? Uma refeição.
R – Sim, só que comida nós leva de manhã, comida nós leva. Aí só vai cortando a salada na hora, com tomate, alface, acelga, essas coisa aí. E a menina que ficou lá embaixo ela vai cuidando, vai montar a salada. As saladas são montadas no prato, aí a gente tampa com insufilm e coloca no freezer. A pessoa, porque a gente monta a salada e faz desenhos com a salada. A pessoa vem e escolhe a salada que quer pro almoço. Aí tem pessoas que ligam já de manhã no ramal já reservando: “Deixa meu almoço reservado pra uma hora, pra meio dia e meio”.
P/1 – O pessoal já fica lá preparando a salada pro almoço?
R – Sim, aí eles corta a salada, vai montando, eles faz montagem na salada. Aí eles deixa exposto num freezer, coloca dentro do freezer e deixa lá. A pessoa vem e escolhe a salada. Mas nós servimos a salada acompanhamento. Aí nós temos panquecas. Lá o principal é a panqueca, todo mundo chega lá: “Hoje tem panqueca?”, “Tem”. Aí a gente servimos cada dia um prato diferente. Tem purê de abobora, purê de mandioquinha, purê de batata, temos bife a rolê, frango a parmegiana, temos arroz integral, arroz branco, temos feijão preto com carne dentro, só linguiça. Aí cada dia tem um prato diferente assim, novo. As pessoas chegam, ligam e perguntam: “Que prato vai ter pra hoje?”, nós fala. “Hoje tem panqueca?”, “Tem”, a pessoa já reserva: “Eu quero isso com isso”, aí nós deixa reservado.
P/1 – Aí esse alimento, essa refeição já é preparada em outro lugar, vocês só esquentam, é isso?
R – Isso, é preparada aqui na cozinha.
P/1 – Aqui?
R – Isso. Aí nós leva pra lá e lá nós só esquenta na hora.
P/1 – E você fica ali, você vai, acompanha os carrinhos e depois você falou também que fica no administrativo? Assim, um pouco fazendo essa contabilidade, seria?
R – Sim, os fechamento, o caixa, é tudo eu que faço. Todas têm que fazer, só que não é todas que gostam de fazer, não é todas. As meninas têm um pouco de medo de mexer com dinheiro, de fazer alguma conta errada. Aí sempre fica mais pra mim, mas a gente faz de tudo também, tanto que as meninas vive brigando comigo lá, elas fala: “Você é a mais preguiçosa, você gosta de ficar sentada aí só contando aí. Isso é fácil, vem lavar louça”. Mas elas brincam. Hoje mesmo já me ligaram várias vezes: “Meu, quando você não tá aqui isso aqui fica virado, ninguém sabe fazer nada”. Mas também é porque das que tá lá agora, eu sou a mais, a que tá há mais tempo lá. Antes eram outras meninas, era o Paraíso Saudável, da Paraisópolis, era as meninas do Paraisópolis que tomava conta de lá. Aí saiu todas, aí entraram todas meninas novas. Aí antes das meninas de lá sair, eu fui pra lá fazer o treinamento com elas. Eu fiquei um bom tempo com as meninas, aí quando elas saíram foi que vieram as novas. Aí eu tô mais tempo lá, aí é por isso que eu sei mais assim, o que o cliente já quer, entendeu? Eu já sei já, tal hora você tem que servir aquilo ali. Elas tão pegando agora, as manhã, mas as meninas são boas.
P/1 – E tem desafios assim nesse trabalho assim, lá na cafeteria?
R – (Pausa no áudio), comunicar mais, conversar mais, saber o que a pessoa tá tentando dizer, porque tá dizendo tudo errado. Aí depois da última reunião que teve, que nós conversamos sobre a comunicação, sobre ligar mais, conversar mais, aí melhorou, porque antes tava faltando assim. Eu ligo pra você: “Amanhã eu preciso disso, amanhã acabou tal coisa aqui. Amanhã eu preciso de melão, acabou o melão”, aí no outro dia não chegava esse melão. Aí tipo os clientes reclama muito, eles falava: “Gente, mas não tem mamão de novo?”, “Não tem isso?” e aí eu ficava muito brava, eu não gostava de escutar nenhum cliente falar que faltou nada, entendeu? Eu queria que sempre tem lá o que o cliente quer. Aí na última reunião eu falei: “Ó, a gente tem que conversar direito”, falei com a Alessandra, conversar bem ali pra não deixar faltar nada. Aí depois disso melhorou, graças a Deus. Essa semana não faltou nada, semana passada não faltou nada.
P/1 – E Lane desde quando você tá lá trabalhando agora, com o Consulado da Mulher, com uma rede de economia solidária, houve alguma uma diferença? Você cresceu enquanto pessoa? Melhorou tua renda, da tua família?
R – Sim, melhorou. No último emprego que eu trabalhei antes de ir pra lá foi na Claro. Trabalhar na Claro era bom, você trabalhava sentado, era seis horas por dia, você não tinha que fazer esforço, não tinha que fazer nada, era só arrumando problemas técnicos de banda larga, essa coisas, muito simples. Você não tinha reclamação nem nada. Só que em questão de salário não era bom. Teve mês que eu saí da Claro com 460 reais. Eu fiquei revoltada, trabalhei o mês inteiro pra sair com isso? Então lá já é mais puxado, lá na Berrini, já é mais puxado.
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