Existem pessoas que ao conversarmos por alguns minutos, sabemos que essa pessoa tem muitas histórias, vivenciou inúmeras experiências e sem dúvida tem algo de bom para nos passar, para nos ensinar. Minha mãe é uma das pessoas. Cresci ouvindo suas histórias e pensando que seria ótimo algum di...Continuar leitura
Existem pessoas que ao conversarmos por alguns minutos, sabemos que essa pessoa tem muitas histórias, vivenciou inúmeras experiências e sem dúvida tem algo de bom para nos passar, para nos ensinar. Minha mãe é uma das pessoas. Cresci ouvindo suas histórias e pensando que seria ótimo algum dia poder escrever um livro da sua vida. Bom, aqui pretendo contar alguns pontos altos da longa história da Dona Sônia. Minha avó Maria da Conceição, morava no interior com seus cinco filhos e com seu marido, este que maltratava a todos, principalmente minha avó, que era obrigada a pedir alimento e dinheiro a vizinhos e familiares, mas como a história da minha avó é desconhecida a mim, vou pular esta parte. Dona Maria, engravidou pela sexta vez, e passou por todas as dificuldades que devem ser evitadas durante uma gestação, inclusive apanhava do marido que se referia ao bebê como “mais um demônio”. Logo ao dar à luz a minha mãe, minha avó veio a falecer, deixando uma recém nascida aos cuidados da filha mais velha que tinha apenas quinze anos.
Como o marido de minha avó não pretendia cuidar dos filhos decidiu ficar apenas com os mais velhos que já podiam trabalhar e as três mais novas ele vendeu, sim, ele vendeu as próprias filhas para famílias da redondeza. Minha mãe sendo apenas um bebê de seis meses, foi adotada por uma família de muitas posses da região, por coincidência de cinco filhos também, pelo visto o número seis a perseguia. Todos a acolheram, e ela foi criada como uma princesa, enquanto meus tios mais velhos trabalhavam e sofriam as mais diversas agressões que a vida pode causar, mas ainda assim, ela cresceu com o sentimento de que não se encaixava e aos doze anos ela perdeu o pai, com quem mais se identificava. Aos treze anos ela decidiu que ia parar de estudar e como a família era de pessoas leigas e despreocupadas não insistiram para que ela continuasse a estudar.
Aos quatorze anos conheceu um rapaz e logo se apaixonou, namoraram secretamente por algum tempo porque a família dela proibia, a família do rapaz era humilde e minha avó (adotiva) preparara minha mãe para se casar com um dos primos ricos. Mas isso não os impediu ficaram sete anos separados, entre idas e vindas, entre as voltas do mundo, enfrentaram o desgosto da família, as diferenças e quando se reencontraram geraram a mim que vos conta essa história, casaram e hoje tem uma pequena família que vive feliz.
Eu gostaria de dizer “E viveram felizes para sempre...”, mas esta não é uma fábula, é uma história real, de pessoas reais que enfrentaram muitas coisas e estas deixaram marcas, minha mãe sofre por não ter conhecido sua progenitora e sofre mais ainda pelo ódio que sente pelo pai biológico, meus tios sofrem por tudo que enfrentaram da vida, mas no fim, todos buscam a felicidade, mesmo nas pequenas coisas, porque esse é o sentido da vida, buscar o que nos faz felizes tentando ignorar aquilo que nos faz mal.
Hoje aos quarenta anos, minha mãe procura evitar os assuntos que um dia a fizeram infeliz, vive com a família que ela mesma escolheu e gerou, se sente em paz e completamente "ajustada".Recolher