P/1 – Luiz, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Luiz Fortunato Vieira. Nasci em 25 de agosto de 1955.
P/1 – Em que cidade?
R – Cidade do Rio de Janeiro.
P/1 – E onde você cresceu, Luiz?
R – Olha, eu cresci em Vila Isabel, terra de Noel.
P/1 – E do Martinho.
R – E do Martinho da Vila.
P/1 – Como é que foi a sua infância na Vila?
R – A minha infância na Vila foi jogando bola na rua, subindo e descendo morro, eu morava no Morro dos Macacos…
P/1 – Morro dos Macacos.
R – Tá entendendo? Eu fui cria de lá, então vivi muitos anos lá. Hoje, atualmente, eu moro no Boaçu, em São Gonçalo.
P/1 – Do outro lado…
R – É, eu moro do outro lado da baía, perfeito! E acho Vila Isabel uma cidade maravilhosa, um bairro maravilhoso, tá entendendo, apesar dos pesares atuais, mas ainda é uma cidade… um bairro maravilhoso, tá entendendo, e eu adoro. Aconselho qualquer um morar lá, Praça Sete, Barão de Drummond, né, Boulevard, as calçadas, todas elas… você… quem conhece música, né, lê nas calçadas…
P/1 – A pauta, né?
R – Pauta das músicas, tá entendendo, 28 de setembro, uma maravilha! Petisco da Vila, né, um grande reduto do samba, tá entendendo? É por ai.
P/1 – Você ficou lá até quando, na Vila?
R – Olha, eu fiquei na Vila até praticamente 2008.
P/1 – Ah, então é pouco tempo, passou a vida…
R – É, pouco tempo.
P/1 – Lá…
R – É, minha vida inteira em Vila Isabel, tá entendendo? Eu fui criança da Vila, realmente, entrei para escola de samba em mais ou menos 1990, na bateria mirim, depois fiquei na bateria de adulto, muitos anos, 40 e poucos anos de bateria, tá entendendo, adoro a Vila...
Continuar leituraP/1 – Luiz, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Luiz Fortunato Vieira. Nasci em 25 de agosto de 1955.
P/1 – Em que cidade?
R – Cidade do Rio de Janeiro.
P/1 – E onde você cresceu, Luiz?
R – Olha, eu cresci em Vila Isabel, terra de Noel.
P/1 – E do Martinho.
R – E do Martinho da Vila.
P/1 – Como é que foi a sua infância na Vila?
R – A minha infância na Vila foi jogando bola na rua, subindo e descendo morro, eu morava no Morro dos Macacos…
P/1 – Morro dos Macacos.
R – Tá entendendo? Eu fui cria de lá, então vivi muitos anos lá. Hoje, atualmente, eu moro no Boaçu, em São Gonçalo.
P/1 – Do outro lado…
R – É, eu moro do outro lado da baía, perfeito! E acho Vila Isabel uma cidade maravilhosa, um bairro maravilhoso, tá entendendo, apesar dos pesares atuais, mas ainda é uma cidade… um bairro maravilhoso, tá entendendo, e eu adoro. Aconselho qualquer um morar lá, Praça Sete, Barão de Drummond, né, Boulevard, as calçadas, todas elas… você… quem conhece música, né, lê nas calçadas…
P/1 – A pauta, né?
R – Pauta das músicas, tá entendendo, 28 de setembro, uma maravilha! Petisco da Vila, né, um grande reduto do samba, tá entendendo? É por ai.
P/1 – Você ficou lá até quando, na Vila?
R – Olha, eu fiquei na Vila até praticamente 2008.
P/1 – Ah, então é pouco tempo, passou a vida…
R – É, pouco tempo.
P/1 – Lá…
R – É, minha vida inteira em Vila Isabel, tá entendendo? Eu fui criança da Vila, realmente, entrei para escola de samba em mais ou menos 1990, na bateria mirim, depois fiquei na bateria de adulto, muitos anos, 40 e poucos anos de bateria, tá entendendo, adoro a Vila Isabel, como adoro todas as outras escolas, que eu acho que o samba é um conjunto, tá entendendo, de pessoas querendo cada um fazer o melhor, tá entendendo? Então, eu sou Vila Isabel de coração, mas eu gosto de todas como irmã.
P/1 – Hoje, você tem alguma… tá ligado a alguma?
R – Olha só, eu tenho o privilegio de ter ajudado a criar um bloco carnavalesco que se chama Pombo Correio. Não sei se vocês conhecem, Pombo Correio. Foi criado no CDD Vila Isabel. Esse bloco já deve ter uns 16 ou 17 anos já. Hoje, ele carrega duas mil pessoas. Começamos com meia-dúzia de pessoas. E eu me orgulho de ter esse bloco lá, representa os carteiros, representa o nosso CDD, que se chama CDD Vila Isabel, tá entendendo?
P/1 – A gente vai chegar ai nessa parte também, dos carteiros, tá? Como é que você, então, como é que começou a sua profissão, como é que você entrou para os Correios?
R – Olha, eu fui… eu posso dizer as outras profissões que eu já tive?
P/1 – Pode, claro!
R – Olha, eu fui jornaleiro, fui jornaleiro do Globinho, depois de jornaleiro do Globinho, eu trabalhei na COMLURB um ano, tenho o maior orgulho de dizer, fui gari, tá entendendo? De lá, fui cobrador de ônibus e depois, tive a felicidade de entrar numa empresa que eu adoro, que é tudo pra mim, com a graça de Deus, é os Correios, tá entendendo? Os Correios, tô fazendo 35 anos e alguns meses já, me aposentei, continuo nos Correios e só saio daqui mesmo quando Deus quiser, acho que quando chegar a minha hora: “Tá na tua hora”, eu saio e dou a minha vaga para outro que queira trabalhar, mas trabalhar, é aquele ditado: para você trabalhar numa profissão, você tem que fazer o que você gosta, é com amor, o que você gosta. Claro, tem dias que você vem meio… não tá pra trabalho, mas a maior parte das vezes, você vem com amor, com carinho, com vontade de fazer aquilo que você gosta.
P/1 – Luiz, você tinha me dito lá fora, e me disse aqui agora, 35 anos de Correios, você começou a trabalhar com quantos anos, porque você tem ai uma passagem pela COMLURB, né, jornaleiro… qual foi o seu primeiro emprego?
R – Olha, o meu primeiro emprego foi no jornalzinho, só não lembro a data que é tanto…
P/1 – Mas quantos anos você tinha, mais ou menos?
R – Olha, 35 de Correios, eu tô com 58, quer dizer, eu tinha 30… me ajuda ai, que a mente…
P/1 – Pera ai, que eu também sou péssima de…
R – É? Minha mente tá…
P/1 – Cinquenta e oito menos 35, 23
R – Vinte e três… eu devo ter entrado no Globinho… no Globinho, eu tinha uns 16 anos, por ai… uns 16 anos que eu devia ter. Entrei para o Globinho, trabalhei um ano e pouco, depois entrei na COMLURB, acho… a COMLURB acho que foi 1976, se não me falha a memoria, trabalhei na COMLURB, trabalhei um tempinho de cobrador, foi pouco tempo. Depois, em 77 eu entrei para os Correios.
P/1 – Prestou concurso, como é que foi?
R – Eu prestei concurso na Travessa Tinoco, direitinho, bonitinho, passei… inclusive, eu tive um grande privilégio, eu me inscrevi duas vezes para os Correios e fui chamado nas duas vezes (risos).
P/1 – Como é que é essa historia?
R – Essa historia é assim, primeiro eu fiz pra triciclo, né, eu ando de bicicleta, andava de triciclo, então, fiz para triciclo, ai me chamaram para triciclo, ai eu fui lá fazer a… entregar na cidade aqui, os malotes, né? Ai, cheguei em casa, tinha outra carta…
P/1 – Olha!
R – Pra carteiro a pé. Ai eu falei: “Sabe o que acontece? O triciclo é meio perigoso nesse transito, eu vou desistir do triciclo e vou para carteiro a pé”, ai vim para carteiro a pé e tô até hoje, comecei no Leblon, trabalhei no Leblon, do Leblon, vim para Vila Isabel e eu tenho uma coisa a te dizer…
P/1 – Ai você tá aqui, do lado de casa?
R – É, do lado de casa. eu faço parte da força-tarefa dos Correios.
P/1 – O quê que é força-tarefa?
R – A força-tarefa é o seguinte: está precisando de um carteiro em Nova Friburgo, vai lá, como passei o ano passado seis meses em Nova Friburgo, emprestado. Já trabalhei em Maricá, já trabalhei praticamente na região dos lagos toda…
P/1 – Mas isso depois que você se aposentou ou antes, você já fazia isso?
R – Até antes de me aposentar, há vários anos, eu faço parte dessa força-tarefa, porque tem muito carteiro que tem medo de ficar um pouco longe da família e tem medo de chegar num local em que ele não conhece nada e ninguém. Agora, só que Deus me abençoou muito, eu tive muito privilégio, aonde eu chegava, geralmente eu conhecia devido a antiguidade nos Correios, tá entendendo, devido à antiguidade, onde eu chegava, eu encontrava uma pessoa amiga, que me acolhia e outra coisa, eu gosto de desafios nos Correios, eu adoro, porque o carteiro trabalha em todo lugar da mesma forma, só que cada lugar muda o numero, muda a rua, as pessoas, a maneira de você fazer a entrega, tá entendendo? Mas é padronizado, mas cada qual…
P/1 – Me conta como que é o dia a dia de um carteiro? O seu dia.
R – Olha, o dia a dia de um carteiro é o seguinte: você chega, bate seu cartão, vai fazer a primeira triagem, tá entendendo, que você vai triar… separar o logradouro, depois que separa o logradouro, vem uma segunda triagem para separar por ruas, as ruas certinhas. Ai, a terceira que… cada um vai apanhar o seu, quer dizer, no caso, a rua vai de um a cem, mas tem um carteiro, que ele pega de um a 55, o resto é o outro, então tem que separar, o carteiro faz duas ruas, tem carteiro que faz uma rua só, tem carteiro que faz um prédio aqui no edifício central, o setor de entrega de um carteiro é um prédio só, tá entendendo, enquanto você vai para o interior, o carteiro faz dois, três bairros, tá entendendo? Então, essa é a entrega, esse é o dia a dia do carteiro, às vezes, a gente nem almoça, porque você fica tão entretido no trabalho, você nem almoça, faz um lanche, vai, volta pra casa, almoça em casa muitas vezes, que…
P/1 – Mas você tem um horário?
R – Você tem um horário, só que o carteiro, desde o inicio dessa profissão carteiro, nós dificilmente, almoçamos, tiramos hora de almoço, por quê? Com o intuito de ir para casa até mais cedo, significa tarefa, fez sua tarefa, você vai embora. Hoje o Correios determinou um horário pra gente, nós temos nosso horário de almoço, agora, dificilmente há um carteiro que cumpra. É o que eu sempre digo: a única classe nos Correios que não cumpre a hora do almoço é os carteiros, o resto, todo mundo cumpre, mas os carteiros não cumprem porque querendo, às vezes, sair mais cedo, porque ainda acha que é um serviço tarefa, mas hoje não é mais.
P/1 – Mas você não leva nem um lanche, assim?
R – Não, a gente faz um lanche, a gente faz um lanche, às vezes, a gente almoça no refeitório, mas você não tira a sua hora de almoço, tá entendendo, almoça…
P/1 – Mas você tem que comer alguma coisa, porque é um desgaste…
R – Isso, isso! Você come, você se alimenta, porque não dá para você caminhar sem se alimentar, tá entendendo? Mas isso, o Correios, ele dá uma sala de almoço, nunca deixou de dar, ele dá, só que o carteiro, querendo se beneficiar do horário, tá entendendo, bota um sentido tarefa pra poder até ir embora mais cedo. Mas hoje, atualmente, no meu centro de distribuição, o meu setor de distribuição, ele está grande, não dá para fazer as coisas… tô saindo sempre, às vezes, até após o horário, fazendo até hora extra, porque a carga, ela aumentou…
P/1 – Atualmente, qual é o seu centro?
R – Olha, eu sou carteiro da Professor Manoel de Abreu toda, sou carteiro da…
P/1 – Que bairro?
R – Vila Isabel. Professor Manoel de Abreu, Vila Isabel e sou carteiro também da São Francisco Xavier, que eu começo no 278, vou até o mil… 1330, é a estação de São Francisco, quer dizer, eu ando praticamente três estações da Central do Brasil, fora a Manoel de Abreu, que vai da Teodoro da Silva até o Maracanã. Então, é uma jornada árdua e tá grande, por quê? A falta de carteiro e às vezes, a gente… você vê, eu termino lá pra 24 de Maio, ai, às vezes, vou entregar na Almirante Cochrane, que é lá na Tijuca, por quê? Às vezes, o carteiro de lá entrou de ferias, não tem outro pra cobrir.
P/1 – Ai, é a força-tarefa?
R – Não, ai a gente divide no setor, um pedaço para cada carteiro daquele que entrou de férias, mas não pode deixar descoberto, porque o destinatário tem que receber a sua carta, né?
P/1 – Luiz, nesses anos de trabalho, 35 anos, o quê que mudou na sua vida, assim, uniforme, quais foram as melhorias, o que você me conta?
R – Olha, antigamente, nós tínhamos um jaleco, né, era uma camisa branca, calca amarela, um jaleco amarelo comprido, que a gente fechava ele, tinha vários bolsos, e depois, eles mudaram. Antigamente, logo que eu entrei para o Correios, quem mandavam nos Correios eram os militares, que saudades dos militares, nós éramos felizes e não sabíamos.
P/1 – Por quê? Era mais organizado?
R – Era… o carteiro era mais respeitado, tá entendendo? O carteiro, ele tinha uma liberdade maior na rua, precisa ver como o carteiro hoje tá sendo assaltado, várias vezes, eu fui assaltado também, dentro da própria comunidade. E no caso do uniforme, hoje eles botaram, né, uma calca azul, uma camisa amarela com uma parte aqui azul, não tenho o que reclamar do uniforme.
P/1 – Tem capa de chuva?
R – Tem capa de chuva…
P/1 – Chapéu pro sol?
R – Tem que ter um chapéu, que eles inventaram um chapéu agora, com uma aba maior, você pode abrir para se proteger do sol, o Correios também tem… um privilégio, ele nos dá também o protetor solar, o Correios sempre nos dá, não passa quem não quer, que o sol tá ardente, cada ano que se passa, a tendência…
P/1 – Faz mal mesmo.
R – Faz mal.
P/1 – Ficar o dia inteiro embaixo do sol…
R – Isso, isso, então, o uniforme pra mim tá bom, não tem o que dizer, agora…
P/1 – E o tal do sapato que eu li no jornal, o negocio da inovação, como é que é?
R – Olha, o sapato, ele é até gostoso, ele tá sendo macio, eu só tinha uma sugestão, posso falar a sugestão?
P/1 – Claro!
R – Eu queria que o Correios fizessem uma bolsa que fosse nas costas…
P/1 – Uma mochila, né?
R – Isso, nas costas, que você apanhasse a carta por aqui, tá entendendo, porque o que acontece? A bolsa do Correios é aqui, então, a probabilidade de dar um problema de coluna é muito maior, porque você carrega o peso de um lado só, quer dizer, vários dias… mesmo que você troque para o outro lado, mas afeta a tua coluna devido ao peso, apesar que o carteiro não pode sair com mais de dez quilos, tá entendendo?
P/1 – É, mas você tem toda razão…
R – Mas você… através do seu andar, se você andar com um quilo e se andar dez quilômetros, quando chegar lá, não é mais um quilo, então o quê acontece? Eu gostaria que o Correios fizesse um estudo para fazer uma mochila, uma bolsa tipo mochila, que…
P/1 – Com um material mais leve, né?
R – Isso, tá entendendo? Que te mantivesse a tua coluna no local dela, aqui, tranquilo, eu gostaria que o Correios estudasse essa coisa.
P/1 – Me conta uma historia desses 35 anos, deve ter muita historia.
R – Olha, eu vou te contar uma historia do cachorro. Eu fazia a Rua Marã…
P/1 – Rua?
R – Rua Marã, no Maracanã. Então, o que acontecia? Eu… a moça lá não tinha caixinha de correio, então, tinha um hidrômetro, era um muro, atrás do muro, tinha um hidrômetro. Então, eu jogava carta em cima desse hidrômetro. Só que teve um dia, ela pegou o cachorrinho dela, deu banho e botou em cima do hidrômetro. Quando eu fui colocar a carta, o que aconteceu? O cachorro agarrou aqui e quando eu puxei, o cachorro veio junto (risos) e o cachorro, e era um cachorro pequenininho, ele veio junto comigo, aquilo pra mim foi hilário, né? Ele veio junto comigo, com a minha mão aqui, veio junto (risos). São coisas que…
P/1 – E doeu também, né?
R – É, chegou a cortar…
P/1 – Dentinho fino é…
R – Isso, machucou um pouquinho, mas pouca coisa. Eu trabalhei também no Jardim Botânico, tem uma casa lá, que eu sempre entrava dentro da casa, para poder entregar carta para a empregada e tinha dois portões, um do lado, outro do outro e os cachorros ficavam lá dentro. Eu tava acostumado a chegar, entrar, só que num determinado dia, a empregada esqueceu um portão aberto. Quando eu entrei, dei de cara com om pastor alemão, vap! Veio pra me pegar. A minha sorte é que eu joguei a bolsa na boca dele e que eu estava em final de entrega, que se eu to no inicio da entrega, não tinha como eu jogar a bolsa na boca dele, mas ai como já tava no final, eu joguei, ele abocanhou, a menina correu, gritou o nome dele, gritou, mas ele ainda me mordeu ainda, chegou a morder ainda a minha perna. Ai tomei aquelas injeções na barriga lá no Osvaldo Cruz. E já tomei tiro.
P/1 – Tiro?
R – É! Já tomei tiro…
P/1 – Mas tiro, por quê?
R – Na Rua São Francisco Xavier, em frente o Morro da Mangueira.
P/1 – Bala perdida?
R – Bala perdida. Eu tô… a minha sorte… Deus protege o carteiro…
P/1 – Tem o santo dos carteiros?
R – Ai, o amarrado, o tiro pegou no amarrado, tá, furou e passou. Mas, eu também tenho outra historia de tiro. Mas essa, já não foi trabalhando. Foi um final de carnaval em 2006, em Vila Isabel, eu tomei um tiro de fuzil…
P/1 – Uau! Uma bala perdida também?
R – Uma bala perdida. Agora, a minha sorte… eu vinha num bloco, eu vinha num bloco, eu fazia parte da bateria de um bloco, inclusive o bloco lá do morro mesmo, Balanço do Macaco, bloco que tinha lá no morro. Então, vinha… troca de rivais, de vagabundos rivais, um atirando no outro e entraram dentro do bloco…
P/1 – E o bloco no meio.
R – O bloco no meio, só que eu levei até sorte, agradeço muito a Deus, porque a bala que me atingiu foi uma bala desse tamanho, fuzil!
P/1 – Onde?
R – Aqui, entrou aqui. Então, eu vi a bala, ela bateu no poste, pra depois bater no meu pé. Eu fiquei com ela alojada quatro meses…
P/1 – E ai, como é que trabalhou depois?
R – Não, eu fui direto pro hospital!
P/1 – E ficou um tempo no…
R – Eu fiquei um tempo, eu fiquei uns oito meses, de oito a nove meses, só quatro meses eu fiquei com ela no local aqui, parada, pra poder operar. Eu operei, tirei ela…
P/1 – Justamente no pé, seu instrumento para trabalhar…
R – Inclusive, a empresa… a médica lá, tinha até me tirado de carteiro, pra eu trabalhar interno, mas eu não aceitei. Ela: “Não, você vai ter que trabalhar interno”, eu falei: “Eu não vou. Tô acostumado na rua, sempre eu trabalhei na rua, COMLURB na rua, cobrador na rua, Globinho na rua, carteiro na rua. Eu não vou me adaptar trabalhar interno” “Mas você não pode…”, eles cortaram aqui a sola do meu pé para tirar a bala que ficou alojada aqui, eles cortaram: “Nós cortamos a sola do seu pé, o seu ponto de apoio”, eu falei: “Olha, doutora, eu não quero ficar interno” “Eu vou te dar uma semana”, depois que eu retornei, tirei a bala, fiz o registro na delegacia, tudo, direitinho. Ai, voltei a trabalhar e consegui, hoje, jogo até bola, até bola eu jogo.
P/1 – Você não sentia?
R – Não. Quando… quando… a mudança de tempo… é o que dizem, uma realidade, nós… quem nos rege é o tempo, isso hoje eu acredito, porque toda vez que há a mudança no tempo…
P/1 – Você sente!
R – Eu sinto que dói. Quando começa a doer aqui, eu sei que vai chover, é uma coisa incrível, hoje… o dedo tá doendo um pouquinho, tá vendo? É que geralmente, a pessoa diz: nós somos regidos pela lua, né, não tem a mulher quando vai fazer um parto, tem que passar é nove luas, né? Então, somos seres humanos…
P/1 – Luiz, me diz, tem um santo dos carteiros? Os carteiros têm um santo…
R – Protetor?
P/1 – É! Um santo protetor?
R – Especifico, não. Especifico, não…
P/1 – Mas deve ter, né?
R – Mas, tem o nosso papai do céu, né, que ele é o grande protetor de nós todos, eu tenho certeza que protege o carteiro.
P/1 – Pelo menos você, protege, né?
R – A mim e muitos outros carteiros, já teve carteiros baleados, já teve historia de carteiro que mataram o carteiro e enterraram ele com bicicleta e tudo, não sei se você já soube dessa historia.
P/1 – Não, não!
R – É, existiu essa historia, é em Nova Iguaçu.
P/1 – Luiz, me conta uma coisa, você já entregou uma carta, assim, que você viu a reação das pessoas, você costuma ver, de alegria?
R – Já entreguei muita carta de alegria, já entreguei muita carta que a pessoa: “Poxa, apareceu meu parente, graças a Deus!”, agora, eu já entreguei…
PAUSA
P/1 – Vamos tentando ir, senão a gente vai ter que parar um pouquinho.
R – Agora, eu tenho tipos de pacotes que eu já entreguei, eu não sei se eu poderia falar aqui.
P/1 – É só não falar o nome. Dá pra contar sem falar o nome?
R – É porque eu entreguei um pênis (risos), acredita?
P/1 – Mas como é que você sabia?
R – Porque a menina que recebeu abriu na hora!
P/1 – E ela ficou surpresa?
R – Olha, ela ficou… ela jogou até a caixa pra cima e ficou… um pênis de verdade!
P/1 – Não, de verdade?
R – É! De verdade! Numa caixa como presente de aniversario. Uma menina.
P/1 – Mas que historia, Luiz!
R – Olha, aquilo ali pra mim, infelizmente acontece no Correios, nós entregamos cobra em caixa…
P/1 – Cobra parece que é comum, né?
R – Cobra viva!
P/1 – Mas você não sente? Dá para sentir?
R – Não, que quando eles fazem esse tipo de coisa, eles lacram bem.
P/1 – E acomodam pra não ter…
R – É, isso! E acomodam. Lá, nós entregamos todo tipo de coisas, inclusive, o tráfico usa muito o carteiro.
P/1 – Mas não tem o raio-x, agora?
R – Olha, tem, mas é milhões de correspondência, nem todas podem passar por… não dá tempo de todas passar por lá, nesse raio-x, só quando há…
P/1 – Uma suspeita?
R – Uma suspeita, tá entendendo? Você vê, há pouco tempo, o quê que aconteceu? Entrou uma carga, aqui no prédio novo, que era o quê? Fuzil e balas pelos Correios. Só que eles interceptaram.
P/1 – Mas esse eles pegaram?
R – Esse interceptaram, mas era do BOPE, o BOPE que mandou, tava mandando pelo Correios os armamentos e as balas, tanto é que o Correios interceptou e obrigou eles virem apanhar, eles tiveram que vir apanhar. Hoje, por que hoje, o Correios tá sendo muito assaltado? Os Sedex? Porque as pessoas mandam de tudo, mandam joia, eles mandam tudo pelo Correios, por isso, essa ganancia de assaltar, cartão de crédito, né, talão de cheques, tudo isso, o carteiro leva. Quer dizer, dai os ladrões… até caminhões, eles estão olhando, eles sabem que nós entregamos muitas coisas de valor, que eu, no meu ponto de vista, pode ser, uma mensagem pra senhora não tem valor nenhum nem pra senhora e nem pra mim, mas pra pessoa que vai receber…
P/1 – Claro!
R – É uma fortuna pra ele aquela mensagem.
P/1 – Aquela linha, né?
R – Isso, aquela linha. É tudo!
P/1 – Que vai trazer toda a alegria.
R – Uma felicidade, uma alegria.
P/1 – Você gosta da sua… pensa que o seu trabalho, a profissão que você faz promove tudo isso?
R – Olha, eu tenho certeza que eu promovo muita alegria para as pessoas, tá entendendo? Até aquilo: “Eu tenho que pagar a minha conta, graças a Deus, minha conta chegou”, o povo brasileiro, ele adora pagar, é, porque não parece, tem pessoas que cercam o carteiro para pegar a conta para pagar, às vezes,, até antes, bem antes do vencimento: “Carteiro, minha conta, cara!”, tá entendendo? Então, eu acho legal isso, você chegar, trazer, fazer aquela felicidade: “Minha conta, já vou pagar”, trazendo a felicidade, principalmente a conta de celular, a conta de telefone, a conta da Sky, né, para não cortar, isso é importante.
P/1 – Luiz, me conta como é que começou essa sua vida de ator e me conta dessa sua peça que você tá trabalhando aqui na exposição.
R – Olha só, começou com o seguinte: eu, devido a ser ritmista, a sair em escola de samba, eu bato todo tipo de percussão: repique, tarol, caixa, primeira, segunda, tanto é que na fundação do bloco lá, que eu era o diretor de bateria, eu que armava tudo… então, em 2000, eu fui convidado para fazer um ritmo que eles chamam de cozinha, né, você vai na peça, fica lá atrás, fica na cozinha. Então, eu fui para fazer um ritmo, até na peça “Olho de Boi”, na época. Ai fui…
P/1 – Lá para os Correios?
R – Nos Correios mesmo! Nós estávamos ensaiando no prédio ali da Presidente Vargas. Então, fui pra lá, fazendo o ritmo, ai o diretor, que é o Airton Guedes falou assim: “Pô, Fortunato, gostei de você, cara, por que você não fica ai no teatro com a gente?”, falei: “Pô, Guedes, eu tenho muita vergonha, nunca subi num palco, a não ser num numero de bateria, todo mundo batendo na escola de samba, desfilando na avenida, é diferente de você chegar e falar ao publico, só você”, né, mas ele falou: “Não, Fortunato, você é um cara, eu vou tirar isso de você, eu tenho certeza que você vai conseguir”, falei: “Não, tudo bem”, ai uma primeira peça, eles vão fazer: “O papelão e a torta”, era uma peca no circo, encenando no circo, então ele me deu o papel de É a vida, até hoje, eu faço ele, eu tenho ele, o É a vida é um corcunda, que ele salva o circo, que ele contracena com o dono do circo, que é o Pantaleão, um cara fera, cara que castiga, e o É a Vida contracena com ele. Ai, naquela mesma época, tinha um anãozinho, Fabiano, também artista, ele tava no nosso grupo, só que ele teve que se ausentar, ai eu tive que fazer dois papel, primeira vez, eu já sai fazendo dois papel, eu era o segurança também do circo, saía de Éavida, ai entrava como segurança. Ai, o dono do circo me fazia queixa, que tinham apanhado o pastelão dele pra comer e deixou ele com fome, tal, ai dava aquela bronca, botava todo mundo com a cara pra parede, dizia que eia fazer, acontecer, mas depois, um palhaço: “Vem cá cara, você também comeu do pastelão”, ai, eles queriam me pegar também (risos), ai a peça… ai o patrão dizia: “Até você?”, ai saía no final da peça.
P/1 – Mas ai, você pegou gosto?
R – É, eu tomei gosto, é, e fiz a “Fabula das Fabulas”, foi os bichos na floresta, que eu fazia o Rei Leão…
P/1 – Sempre lá nos Correios?
R – É, essa, nos apresentamos no Centro Cultural dos Correios, aqui, o Rei Leão. Depois, apresentamos uma peça de adulto: “Dos Males, o Pior”, foi… botamos ela até em cartaz num teatro em Ipanema, também participei, eu era um instalador de carpetes… ai, tive o privilegio de ser convidado para participar da Brasiliana. Tivemos esse convite, para fazer justamente essa peça que tá aqui, essa que tá aqui: “A Magia do Selo”, quem criou ela, Airton Guedes.
P/1 – Airton?
R – Airton Guedes.
P/1 – Guedes?
R – É, ele que é o diretor do nosso teatro e também funcionário. Até tem uma piada que diz assim: “Aqui não tem ator, aqui só tem trabalhador”, é, mas nós temos o privilegio também de atuar. Aqui não tem só trabalhador, aqui tem ator, aqui tem um grupo de MPB, que tá ai conosco nos ajudando, que tem varias musicas, tem a musica do carteiro…
P/1 – Todos os talentos, né?
R – É, todos os talentos! Tem, tem tocador de violão, tocador de guitarra, tem baixista, tem clarinete, tem várias pessoas e tem o som, além do dia a dia do trabalho dos Correios, e a gente ensaia no prédio uma vez por semana, às terças-feiras, depois do expediente…
P/1 – Então já é fixo assim…
R – É, agora, a gente não…
P/1 – Esse ensaio é sempre ou só quando tem algum evento?
R – Próximo! Quando chega próximo a um evento, a gente… estamos ensaiando tem o quê? Uns três meses mais ou menos que a gente vem ensaiando. Entramos em cartaz aqui desde quarta-feira.
P/1 – E essa peca foi feita pra cá, pra Brasiliana?
R – É, ela foi feita especifica para Brasiliana.
P/1 – Ah, que bacana! E o nome é lindo, né?
R – É, “A Magia do Selo”. Então, ela conta… e ela conta aonde foi criado o primeiro selo postal, tá entendendo, onde foi criado o primeiro selo, o segundo, como foi criado o nosso selo mais importante é o Olho de Boi, o selo privilegiado nosso, conta a historia, conta pras crianças como ela vai fazer uma carta, até hoje, tem muitos adultos que não sabem como se faz para colocar uma carta no Correios. Para escrever uma carta.
P/1 – Já pegou muito envelope assim?
PAUSA
P/1 – Você já pegou muito envelope assim, sem a carta…
R – Olha, eu já entreguei muita carta, o nome da rua e o sobrenome da família, sem o numero, tá entendendo, por saber o sobrenome da família, a gente une uma coisa a outra. Na verdade, às vezes, a gente entrega a carta sem numero, olha, numa tua toda, você saber que é aquela pessoa, devido ao dia a dia do carteiro, porque o Correios uma época ai, ele queria fazer a rotatividade do carteiro, hoje você saía nesse setor… mas não dá certo, um carteiro tem que ficar fixo ali, porque tem carta que você nem olha o numero dela, você já sabe onde ela é, só pela formatura dela, no caso internacional, uma carta que a pessoa sempre recebe, um jornal que os Correios entrega muito jornal, tá entendendo? Você já sabe de quem é, você já joga no buraco certo, 45 buracos, você já joga no buraco certo, devido ao dia a dia.
P/1 – Tem a magia dos carteiros também, né?
R – Isso, com certeza!
P/1 – A magica…
R – É, a mágica dos carteiros. Então, essa peca trouxe o envelope grande, mostrando as crianças, mostrando o remetente, o valor do CEP, o Endereçamento Postal ajuda muito, tá entendendo? É importante o endereço, o CEP é o Código de Endereçamento Postal, ele ajuda muito pra você saber o destino dela, porque… e o Correios se modernizou muito, tem muita máquina, só que o Correios não tem assim, um padrão de envelope, são vários envelopes, você pode colocar um envelope deste tamaninho e um envelope desse tamanho, não tem um padronizado, ai tem muita coisa que vai pra máquina, muitos não vai, tá entendendo? Agora, nós ganhamos um novo trabalho, não sei se você sabe, um tal de Xing Ling, é que você compra na Coreia, no Japão, tá entendendo? E aquilo ali, o que aconteceu?
P/1 – O pacote, né?
R – Isso! Olha, os nossos lojistas estão perdendo muita venda depois desse tal de Xing Ling e os carteiros estamos sofrendo muito com isso, porque não modernizou e o serviço foi lá em cima, por incrível que pareça.
P/1 – Tem uns pacotões, né?
R – Tem. Então, às vezes, o carteiro sai muito cheio, porque os Correios ainda não fez uma infraestrutura, né, depois que entrou o computador na nossa vida, todo mundo pensou assim: ‘Ih rapaz, Correios vai quebrar’, porque ai, celular, e-mail, tudo… imaginava que a carta ia cair, que nada, serviço do Correios aumentou assustadoramente!
P/1 – Que bom, né?
R – Muito bom, é garantia de trabalho e além da carta, você vê que os pacotes, o Sedex 10, Sedex Expresso, vários tipos de Sedex especial, vários tipos de coisas foram criadas e serviço, graças a Deus, não falta!
P/1 – Luiz, infelizmente, a gente vai ter que terminar essa entrevista. Eu queria perguntar só antes disso se você gostaria de deixar mais alguma coisa registrada, alguma… alguma historia sua, alguma outra…
R – Olha, vamos dizer assim, registro pode ser no caso, no teatro ou no Correios?
P/1 – O que você preferir.
R – Eu fui fazer uma apresentação em Maricá, na Pestalozzi, onde tem aquelas crianças excepcionais, ali foi a minha maior emoção no teatro, minha maior emoção, que até agora, eu me emociono. Quando nós chegamos no colégio, lá no… aquelas crianças defeituosas, aquele ar triste, né, ai chegou o teatro, ai começamos a fazer o teatro. Ai depois eu olhei, eu não vi mais aquelas crianças, eu vi outras crianças, aquele sorriso bonito e teve uma, quando a peça acabou, ela correu em cima de mim e disse… e justamente esse Éavida, que é um personagem sofrido, um personagem que conta sofrimento, isso foi a maior emoção, a maior emoção foi essa, Maricá na Pestalozzi.
P/1 – Bonito.
R – Minha maior emoção, como varias outras. Eu fiz também no Correios, uma peça que fala a respeito de drogas, foi do Airton Guedes também, nós falamos da cachaça, da maconha, da cocaína, tá entendendo, do cachimbo e eu fazia o papel de o drogado, o drogado terminal, usava muita droga, tava no fundo do poço. Então, eu me apresentava numa cadeira de rodas, com um médico me acompanhando, um enfermeiro, o soro, todo debilitado mesmo, os esparadrapos… então, outra emoção muito grande, que eu fiz muita gente chorar, foi um personagem que me marcou muito, quando eu entrava… que eu entrava quase no final. A peca começava alegre, todo mundo cantando, mas eram as drogas, gente, e as drogas levam as pessoas para o fundo do poço e sempre onde se apresentava, tinha um que tinha na família um drogado. Que a droga não é só maconha, tá entendendo? Então, esse personagem, eu fiz muita gente chorar, muita gente chorou comigo nas unidades, no prédio, aquele prédio lá tem 19 andares, nós apresentamos ali pra 19 andares, muita gente chorou.
P/1 – Eu quero ir ver a sua aqui também…
R – Tudo bem!
P/1 – Que eu acho que vocês estão fazendo aqui…
R – Olha, uma e trinta começa, tem sábado e domingo, ainda.
P/1 – Amanhã, vamos lá para ver.
R – Mas vai, vai, será um prazer você ver “A Magia do Selo”.
P/1 – Muito bonito, Luiz. Muitíssimo obrigada pela sua contribuição…
R – Tá ok, o que precisar, estou às ordens, ok?
P/1 – Obrigadíssima!
FINAL DA ENTREVISTA
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