P/1- Há quanto tempo o senhor trabalha na secretaria de futebol?
R- Olha, eu, quando garoto, trabalhava numa firma americana como mensageiro naquela época. Isso, vamos dizer, de quarenta e seis para quarenta e sete. Eu era mensageiro nessa firma americana e o Santos estava lançando a campanha do estádio.
P/1- Da construção do estádio?
R- Da construção do estádio. E me convidaram para ajudar, naquela entrega de correspondência da campanha, aqueles memorandos que entregavam para os sócios naquela época, para se integrarem à campanha e tudo. Então foi nessa época que eu comecei a me integrar mais ao clube e as pessoas do Santos.
P/1- Mas o senhor já era Santista?
R- Já, já era. Eu explico... Eu morava aqui perto, na Rua Marques de São Vicente. Logo após a grande guerra eu vim morar aqui na rua Marques de São Vicente. Eu tinha assim... Vinha aqui para a vila, eu era garoto vinha para a vila. Só que eu não entrava no estádio porque eu não tinha condição, muitas vezes, de adquirir ingresso. Então eu, como outros garotos, a gente ficava ai pela rua e tal.
P/1- Quantos anos o senhor tinha na época?
R- Na época... Olha, jeito de dizer... Eu sou de 33, eu devia ter o que naquela época? Uns sete, oito anos, por aí. Mais ou menos uns sete, oito anos.
P/1- Menino.
R- Menino, menino. Então eu vim morar justamente numa casa onde morava um irmão meu, aqui ao lado da estação da Sorocabana dos trens. E garoto eu vim aqui aos cinemas que tinha aqui perto. E aos domingos, quando tinha os jogos do Santos, eu vinha aqui e ficava aí por fora para, às vezes, ver jogador, ver essas delegações que vinham de fora. Sempre era um atrativo para mim, para garotada, e eu ficava aí na porta. Às vezes, antes de terminar o jogo abriam os portões e a gente podia ver o finalzinho.
P/1- E nesta campanha do estádio o senhor começou a se aproximar mais do clube?
R- Aproximar mais do clube. Passado algum tempo tinha um...
Continuar leituraP/1- Há quanto tempo o senhor trabalha na secretaria de futebol?
R- Olha, eu, quando garoto, trabalhava numa firma americana como mensageiro naquela época. Isso, vamos dizer, de quarenta e seis para quarenta e sete. Eu era mensageiro nessa firma americana e o Santos estava lançando a campanha do estádio.
P/1- Da construção do estádio?
R- Da construção do estádio. E me convidaram para ajudar, naquela entrega de correspondência da campanha, aqueles memorandos que entregavam para os sócios naquela época, para se integrarem à campanha e tudo. Então foi nessa época que eu comecei a me integrar mais ao clube e as pessoas do Santos.
P/1- Mas o senhor já era Santista?
R- Já, já era. Eu explico... Eu morava aqui perto, na Rua Marques de São Vicente. Logo após a grande guerra eu vim morar aqui na rua Marques de São Vicente. Eu tinha assim... Vinha aqui para a vila, eu era garoto vinha para a vila. Só que eu não entrava no estádio porque eu não tinha condição, muitas vezes, de adquirir ingresso. Então eu, como outros garotos, a gente ficava ai pela rua e tal.
P/1- Quantos anos o senhor tinha na época?
R- Na época... Olha, jeito de dizer... Eu sou de 33, eu devia ter o que naquela época? Uns sete, oito anos, por aí. Mais ou menos uns sete, oito anos.
P/1- Menino.
R- Menino, menino. Então eu vim morar justamente numa casa onde morava um irmão meu, aqui ao lado da estação da Sorocabana dos trens. E garoto eu vim aqui aos cinemas que tinha aqui perto. E aos domingos, quando tinha os jogos do Santos, eu vinha aqui e ficava aí por fora para, às vezes, ver jogador, ver essas delegações que vinham de fora. Sempre era um atrativo para mim, para garotada, e eu ficava aí na porta. Às vezes, antes de terminar o jogo abriam os portões e a gente podia ver o finalzinho.
P/1- E nesta campanha do estádio o senhor começou a se aproximar mais do clube?
R- Aproximar mais do clube. Passado algum tempo tinha um diretor de basquete que se chama José Neves Teixeira. Ele me convidou, queria ver se eu não queria passar a trabalhar no clube, porque eu poderia até ter uma melhorazinha de salário, alguma coisa. Muito humilde, realmente eu teria que sempre correr atrás para melhorar um pouquinho o ganho, para ajudar em casa tudo direitinho. Foi quando então, em maio de 48, eu comecei a trabalhar no Santos.
P/1- Maio de 48?
R- Em1948 comecei a trabalhar no Santos.
P/1- Cinqüenta anos?
R- É. Eu comecei a trabalhar também com entrega de correspondência, ainda aquela corrida do estádio tudo. Então, as coisas foram se desenvolvendo mais, assim, intimamente eu com o clube. Logicamente, com o pessoal que trabalhava com o clube. Aí começamos a ter um trabalho junto com os jogadores. Eu vinha para o estádio, eu ajudava nos bailes que o clube fazia no antigo coliseu com os demais funcionários. Eu comecei também a chegar perto dos jogadores. Foi quando eu conheci, naquela época, o Toninho Fernandes que já estava no Santos e que foi um grande jogador do Santos, entre outros. Então, a bem dizer, a minha vida eu comecei a voltar assim... Meu coração começou a dar aquela queda. (riso) Já desde garotinho eu já tinha aquela... Eu escutava falar das coisas do Santos, do bloco do Santos que naquela época saía. O carnaval era no centro da cidade e eu tinha uma família muito chegada a minha família que morava no centro da cidade. E essa família morava em frente à antiga sede do Santos, na rua Itororó 27. Desde aquela época, eu via, comecei a ver as luzes do clube, as coisas do clube: os bailes, os jogos, as pessoas, os atletas. Foi quando então meu coração não... “Não, você é Santos mesmo! (riso) Já conheceu, já esta a par, então você vai passar a ser santos!” Parece até que foi uma ordem que recebi, assim, espiritualmente. Realmente eu tenho que dizer para você o seguinte: eu não conheço, daqueles antigos da minha família que eram pessoas mais simples, mais humildes... Não comentavam muito negócio de esportes. Eu que, quando era muito menino, era levado por pessoas conhecidas, vizinhos, para aqueles antigos campos que tinha no bairro do Macuco aqui em Santos, onde jogava o antigo Flor do Norte. Tinha um campinho lá que jogava o Flor do Norte. Naquele campinho jogavam antigos atletas na várzea de Santos, antigos atletas que depois passaram a profissionais inclusive do Jabaquara, Portuguesa. Então, desde a minha tenra idade eu fui notando certas coisas do futebol.
P/1- Esse ambiente esportivo?
R- Esse ambiente esportivo... Fui caindo nesse círculo de conhecimento de coisas do esporte. Foi quando eu realmente... Passou a integrar-se comigo. Passei a ser funcionário, passei a mexer nas coisas do clube, ajudar os demais funcionários que mexiam em livros, mexiam em troféus, mexiam em campo. Tratavam de várias coisas e eu comecei a me integrar.
P/1- E que tipo de atividade o senhor já realizou aqui?
R- Eu comecei como estafeta, entregando carta. E depois...
P/1- Depois com outras coisas.
R- Passei a auxiliar da secretaria, da parte de secretaria administrativa que antigamente era uma coisa só. Era a secretaria administrativa que cuidava da parte social, da parte de esportes, da parte do estado, tudo. Então eu comecei a trabalhar como auxiliar, aí foi indo, foi indo, foi indo e em determinado período eu passei também a lidar com documentos de jogadores, os contratos de jogadores. Fui aprendendo.
P/1- Há quanto tempo o senhor desenvolve esta tarefa?
R- Eu posso dizer para você que eu desenvolvo esta parte há mais ou menos uns 40 anos.
P/1- Nossa!
R- (riso)
P/1- Não demorou muito.
R- É, não demorou muito.
P/1- E como é que foi, por exemplo, eu não poderia me furtar a fazer esta pergunta. Como é que foi o contrato do Pelé, dos grandes jogadores? Algum fato, algum contato com esses jogadores que marcou?
R- Olha, eu vou dizer para você: dentro destes anos todos que a gente está no clube, vários atletas chamaram a atenção, não só pela maneira de ser, pela personalidade de cada um, mas pelo fato de o jogador muitas vezes vir de uma origem, por exemplo, do Palmeiras, do São Paulo, da Bahia, de Minas ou do Rio. Inclusive há muitos anos atrás eu viajava muito com as equipes de amadores, viajei com as delegações do profissional, viajei muito para levar documentos para contratar jogadores inclusive. E fatos assim foram marcando a minha vida. Cada atleta se apresentava comigo como, vamos dizer, uma nova história para o Santos, um novo marco para o Santos, um novo trunfo para o Santos. Então, fatos que também causaram grande expectativa na minha vida, principalmente na parte do futebol. Nós, uma época, tivemos treinando aqui Heleno de Freitas. Foi um dos maiores jogadores de futebol, jogou na seleção Brasileira. Um jogador de extrema habilidade. Tivemos Otavio, que veio do Botafogo e foi excelente jogador. Tivemos Simões, que veio do Fluminense. Uma série de jogadores. Pinhegas! Uma série de jogadores. Aqui em Santos nós tínhamos... Eu era muito fã de Antonio Fernandes, um dos primeiros jogadores que eu vi chutar a bola. Eu era garoto. Foi Antonio Fernandes o Toninho.
P/1- E ele era santista?
R- Era, para mim foi um marco no Santos.
P/1- Antonio Fernandes?
R- Antonio Fernandes me marcou muito. Depois eu vim conhecer ele pessoalmente, sabe? Um cidadão... Trabalhava junto. Viajei com Antonio Fernandes por várias vezes. Depois que ele despediu-se da parte esportiva como jogador, passou a ser treinador. Então, Antonio Fernandes marcou realmente a minha vida. Um marco também que a gente não pode deixar de frisar, é claro, foi a chegada de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, na vila. Eu lembro como um dia de hoje o primeiro dia que ele chegou na vila. Estava eu e um outro funcionário, seu Miguel. Ele ficou na... Aqui estava em construção, ele ficou sentadinho num corredor junto com o Valdemar de Brito esperando para que o nosso administrador, naquela época Ciro Costa, atendesse o Valdemar. Eu me lembro que o Pelé, quando chegou, não trazia nada. Estava com a roupinha do corpo, humilde. Veio pela mão de um jogador que tinha sido uma enormidade no campo esportivo. Foi Valdemar de Brito quem descobriu, todo mundo sabe. Então, começamos até um apelido que me chamou a atenção: Pelé, Pelé, Pelé. Mas a gente não estava dando a denominação do que poderia ser Pelé em termos, assim, de ortografia de palavra portuguesa. Então, a gente via aquele menino humilde, a gente começou a ver ele começar... A família longe e ele aqui. Depois, inclusive, acompanhamos o clube a comprar uma roupinha para ele, um tênis para ele, quer dizer, foi uma estrela que nasceu no Santos entre tantas que nós vimos. Essa também marcou muito a gente.
P/1- E agora só uma curiosidade minha: desde o início foi só colocar o garoto no campo, já percebia-se que ali existia uma...
R- Olha, eu vou dizer uma coisa para você: antigamente em Santos nós tínhamos vários campos de futebol, inúmeros. A cidade era cercada de campos de futebol, era cercada de garotada que jogava futebol. O Santos tinha, naqueles bons tempos, excelentes times de futebol de salão, muitos deles passaram para o futebol amador e alguns para o profissional. O Santos tinha excelentes equipes de basquete na época.
P/1- Isso quando? Na década?
R- É da década de, vamos dizer, 45 para cá, para ser mais preciso. Então estes celeiros todos, estes campos de futebol, não só serviam a Portuguesa, ao Jabaquara de Santos, especialmente o Santos. Então, o Santos Futebol Clube sempre tinha uma grande quantidade de jogadores para vir para testes. E também uma coisa sempre me convenceu: o Santos, no meu modo de entender, sempre foi um clube muito carismático. O Santos nasceu entre muitas estrelas. Se a gente pensar direitinho, uma cidade com toda esta historia que tem Santos, a cidade dos Santos, dos seus personagens José Bonifácio, os irmãos Andradas. Toda esta gama de homens da História que esteve circulando na cidade. Nós sempre notamos que a cidade oferecia muitos valores para os clubes, para arte, para tudo. E o Santos foi um dos que acumulou este espelho destas pessoas, eram jornalistas que prestavam muitos serviços para o Santos. Conhecemos um jornalista que para mim foi uma honra ter conhecido pessoalmente, que foi Adriano Nevra e que ganhou vários prêmios em todo o Brasil, considerado um gênio como jornalista.
P/1- Crônica esportiva.
R- É. Conhecemos outros jornalistas das sucursais dos jornais que tem em Santos que estavam sempre por aqui, que era o caso do Torito, jornalista que era do diário...
P/1- Diário de Santos?
R- De Santos. Era o caso do Hernandes que era das folhas. Este pessoal estava sempre circulando aqui e não só faziam as reportagens das coisas do Santos como eram muito amigos, se enquadravam muito aqui. Estavam sempre em vestiários, estavam sempre trazendo, vamos dizer, reportagens dos outros clubes de São Paulo.
P/1- Sempre uma relação amistosa?
R- Amistosa. O Santos, desde esta tenra idade que eu iniciei e me conheço até agora, eu sempre vi no Santos esta chamada deste pessoal, esse pessoal sempre esteve no Santos. Sempre jogadores que vieram, se destacaram. Como foi o Dalmo, que uma bela tarde apareceu com a sua malinha aí na mão, que veio de Campinas. Depois foi um grande jogador que inclusive deu a marca do bi campeonato pro Santos, chutando aquele pênalti que nós ganhamos de um a zero do Milan. Jogadores que vieram do São Paulo como Mauro Ramos, Gilmar, que veio do Corinthians. Jogadores... Não vou dizer para você que Mauro Ramos ou Gilmar eles estavam... Saíram do Corinthians porque não eram mais jogadores. Não. Eu vi Mauro Ramos, vi Gilmar, jogadores que tinham grandes talentos. Eles, no meu modo de entender, eles chegaram àquela data, àquela idade, porque eles tiveram vontade: “Eu já joguei tanto tempo no São Paulo!” que era o caso do Mauro; “Já joguei tanto tempo no Corinthians” que foi o Caso do Gilmar.
P/1- Vamos para o Santos.
R- É lógico! Ou jogo no Palmeiras ou jogo no Santos. Mas vamos fazer o seguinte: eu estou sendo convidado e vou jogar no Santos. Chegaram aqui, continuaram com seus talentos, foram grandes jogadores. Então, eu sempre vi o Santos como um clube pré-destinado, as coisas vieram acontecendo...
P/1- Como o Pelé veio.
R- Normalmente como o Pelé veio. Então, vamos dizer, se perguntarem para a gente: “Puxa, mas naquela época é difícil para a gente ver na relação dos títulos do Santos... O Santos ganhou um titulo em 1935 e depois ganhou em 55. Vinte anos depois! Mas eu posso dizer para você o seguinte: o clube Santos, a cidade pequena... Claro! Agora tem este desenvolvimento todo, mas funcionava na época com grande destaque do porto. Nossas praias. Como sempre, teve aquela grande atividade forense de arte. Santos sempre teve muito destaque na parte artística, em todos os níveis. Tivemos Benedito Calixto, tivemos poetas como Álvaro Fontes. Grandes, grandes nomes de envergadura, como Schmidt aqui em Cubatão. Morava aqui em Cubatão. Santos sempre bastante satisfeita de filhos pródigos, de artistas de revelação, não só trazida, logicamente, também pelo porto que nós tínhamos. Aqui passavam grandes artistas, que se apresentavam no parque balneário. Porque vinham os presidentes da república para o parque balneário na praia e vinham os grandes artistas de fama em todo mundo, no Coliseu. Então eu acho que o Santos Futebol Clube na parte esportiva foi como... Eu noto com se fosse a cidade uma grande mesa com muitas coisas, nessa mesa caia muitas coisas assim para tudo que era lado e o Santos de lado recebia também todas essas coisas gostosas e boas que estavam nessa mesa.
P/1- E também se favorecia das benesses.
R- Favorecia. Então, eu acompanhei o Santos. Se você acompanhar, pegar os livros históricos do Santos, esportivos, você vê que o clube sempre teve algum destaque não só nos torneios da cidade, mas nos torneios regionais, nos torneios interestaduais. Internacionais, depois teve grandes destaques. Hoje o jovem pega uma lista histórica do Santos, por exemplo, ele vai dizer: “É, mas veja bem... O Santos foi fundado em 1912 e a primeira conquista de marca, vamos dizer, um campeonato paulista, aconteceu em 35!” Mas nós tivemos fatos muito interessantes que caminharam lado a lado com futebol, maiores que aqueles campeões paulistas, aqueles campeões vamos dizer de torneio x que o Santos não teve, na época, condições de ganhar. Mas o Santos tinha marcas, o Santos teve grandes ataques. Houve campeonatos com ataques que fizeram 100 gols em número reduzido de jogos. O Santos teve jogadores que foram para a seleções sul americanas na época. O Santos não era um clube campeão, mas fornecia atletas de grande envergadura, atletas de excelente nível técnico como foi o caso de ________ O próprio Ari, que foi seu irmão que foi para a Suíça. Se não me falha a memória o primeiro jogador brasileiro a jogar no exterior. O Santos teve um capitão de equipe no sul americano. Um dos primeiros ganhos do Brasil nesta História toda do futebol brasileiro o Santos estava com a sua marca, estava com três jogadores naquela época. Tínhamos o quê? O São Paulo... Tinha o Paulistano em São Paulo, o Palestra em São Paulo, o velho Ipiranga em São Paulo, o Corinthians Paulista em São Paulo. Esses clubes de grande envergadura. Só que o Santos também, do lado, contribuía de uma outra forma. E isso no meu modo de entender já deixava o Santos como grande, devido ao carisma do clube. Era um clube carismático. Então essas peças, esses nomes, esses jovens que foram se apresentando, foram cada vez mais desenvolvendo o clube. Se você ver direitinho essa passagem do Santos de 12 para cá, nós temos ano a ano alguma coisa para comemorar e para dizer ao jovem. O jovem de hoje, campeão do mundo várias vezes, nós também temos muita coisa para oferecer, em termos de História para o clube ou para esta turma.
P/1- Agora, no começo da nossa conversa o senhor comentou que a família do senhor não prestava atenção, não era ligada muito a esta questão do esporte e tudo. Depois que o senhor veio trabalhar aqui, estando trabalhando aqui há 50 anos, a família continua alheia a isso?
R- Não, não. Aí o meu próprio entusiasmo também contagiou. Eu tinha um irmão que era um operário na prefeitura de Santos, sempre eu comentava com ele as coisas, ele sempre perguntava: “Escuta, e lá o clube?”; “E o Jogo? E tal jogador?” E tal isso, tal aquilo. Porque eram pessoas muito humildes, então a gente passou a ir comentando, comentando. A própria minha mãe que faleceu com quase 90 anos.
P/1- Sua mãe?
R- É, eu sou de uma família de 90 anos para cima. (riso) Noventa anos para cima.
P/1- Então ainda tem mais uns 40 por aqui.
R- (riso) Então eles comentavam, tudo que eu tinha aqui no Santos que eu ganhava alguma coisa eu levava para casa, ia pendurando as bandeirinhas. Naquele tempo a gente não usava muito essas camisas que hoje tem, só na parte de esportes amadores que você via assim muita alusões de chapéu, de camisa estas coisas. Mas no futebol profissional era bem pouco naquela época. Usava-se muitas bandeiras, pelo que eu me lembro. Muitas bandeiras. Depois de um tempo para cá que o torcedor... As fábricas começaram a fazer camisas, o sujeito começou a colocar camisa. Eu lembro bem que naquela época tinha assim muitas flâmulas, bandeira, né? O sujeito vinha para o estádio empunhava aquelas bandeiras, aquelas coisas. Ele tinha plena satisfação de puxar a carteirinha do bolso: “Aí, sou sócio do Santos!” ou “Sou sócio da Portuguesa”. Ele se identificava, no meu modo de ver. Depois, de um tempo para cá que o sujeito começou a colocar camisa, colocou alguma coisa. Eu acho que o Santos também, com essas suas historias de carnaval, o Santos passou a ser um clube que lançou muitas raízes. Por exemplo, nós tivemos há muitos e muitos anos atrás o bloco da Bola Alvinegra.
P/1- O senhor saberia me dizer mais ou menos quando?
R- Veja bem, o bloco da Bola Alvinegra, se não me falha a memória, acho que é de 1945, por aí. Quarenta e quatro, 45 já tinha uma circulação aí os jovens. A cidade sempre manteve uma tradição de festejos carnavalescos de rua. Nós tivemos, por exemplo, de muitos e muitos anos para cá os festejos “banho da Dorotéia”.
P/1- O que é isso?
R- É um desfile carnavalesco, tipo patuscada. Se vestiam com roupas de papel a cores e tudo e faziam aquelas brincadeiras na praia. O Santos tinha naquela época o bloco da Bola Alvinegra, em que saíam os jogadores, muitos dos jogadores, muitos sócios, e era por exemplo em nível uma grande rapaziada. Eram amadores, atletas amadores, atletas profissionais, diretores que saíam, sócios e tal.
P/1- O senhor, pelo que eu entendi, disse que este tipo de atividade carnavalesca ajudou a difundir, fazer a fama do clube, a criar raízes na cidade.
R- É. Porque o Santos sempre teve nome de destaque na suas equipes, não só amadores como profissionais. Mas amadores nós tivemos garotos que depois formaram-se. Foram médicos, engenheiros, advogados. Tanto na equipe de basquete que o Santos tinha antigamente como na equipe de futebol. Então, se a gente pegar os nomes antigos do Santos eram gente tudo da vida forense, do governo municipal, da política, da parte alta social. Eram sempre pessoas imbuídas com as coisas do clube, empunhavam as coisas do clube em todas as estâncias em que se firmavam. Essa ascensão do Santos também, com os envios de jogadores para seleções desde das primeiras épocas... Foram empunhando bandeiras em vários lugares.
P/1- Foram ajudando a construir o nome do clube.
R- Foram ajudando a construir o nome do clube. Tanto é que, pelo que eu me lembro, nós fizemos uma excursão... Eu não estava trabalhando aqui ainda, mas é pelo que a gente leu do histórico do clube. Nós tivemos uma grande excursão ao norte do país. Foi uma excursão vitoriosa. O Santos naquela época levou flâmulas, distintivos, uma série de coisas, distribui para tudo quanto foi lugar no Brasil, no norte do país. Depois tivemos uma outra grande excursão, a primeira excursão, que eu me lembro, foi em 55.
P/1- O senhor participou?
R- O Santos começou que foi convidado para ir a Argentina, para o México, em 55. Você veja só a concordância da história que caminhava com o clube. Em 55 nós tivemos a primeira excursão. Em 56, praticamente houve a apresentação de Pelé no Santos, que dizer, já deu um pulo enorme mais para as coisas. Pelé sendo convocado para seleção Brasileira. Não era comum, porque antigamente iam para seleção brasileira jogadores mais tradicionais, aqueles jogadores que tinham seus currículos completos, aqueles grandes goleadores, aqueles homens que eram considerados os ases do esporte. Quando o Pelé começou na seleção brasileira, como um garoto, ele tinha o que com ele? A sua origem. Tá na cara que o Santos, quando o Pelé se apresentou, sabia através do Valdemar de Brito que tinha um garotinho em tal lugar que jogava tudo, conhecia tudo do futebol. Então ele veio aqui para a gente ver.(riso) O que o Santos poderia dizer de Pelé naquela época que ele começou? Era um garoto que ficava perto aqui das imediações do Clube, batendo bola o dia todo com a garotada. Aqui era sempre cheio de garoto e ele era desabador! Ficava aí pelas ruas batendo bola o dia todo. Eram garotos que assombravam no futebol amador e decidiam os jogos naquela época. (riso) Ele garotinho decidia aquela coisa toda e, claro, logo após também vieram Edu, Durval, Coutinho. Então veja bem, uma época que... Vamos dizer que você está com vontade de fazer um grande refeição, você chega na sua casa e vê aquele fogão, aquelas panelas cheias de coisas gostosas... Então aconteceu do Santos fazer aquele grande banquete.(riso) Começou a juntar Pelé, Coutinho, Pepe que veio também aqui de São Vicente. Como eu disse para você Santos, São Vicente e a Baixada pelos seus inúmeros campos de futebol...
P/1- Fervilhava.
R- Fervilhavam talentos não só para o Santos, mas para o Jabaquara, Portuguesa. Fervilhavam as coisas. Então, as épocas passaram a se seguir, os times do Santos começaram a se desenhar, a se vislumbrarem grandes montagens. O Santos, diga-se de passagem, sempre teve também pessoas de préstimos muito eficazes na parte técnica. Eu vi Osvaldo Brandão treinar o clube. Foi treinador do Corinthians o Osvaldo Brandão, de grande nome. Eu vi muitos treinadores.
P/1- E como era a parte em que o senhor trabalhava, trabalha até hoje, administrativa técnica? O pessoal também nesse espirito?
R- Nesse espirito. É nesse espirito porque nós tínhamos... Por exemplo, naquela época se você notasse um treinamento de uma equipe, você só via, que eu me lembre, o treinador entrar em campo. Hoje, na época de hoje, entram: preparador de goleiros, físico terapeuta, entra auxiliar técnico, entra o treinador, entra o preparador físico. Antigamente você só via o treinador entrar em campo, entrava com os jogadores e distribuía, dava aquelas informações, acompanhava os treinamentos. E há uns tempos atrás o Santos começou a ter colaboração da faculdade de Educação Física. Pessoas vinham de outras regiões de São Paulo e, depois que começou a faculdade, o Santos começou a ganhar também a colaboração do pessoal da faculdade. Antigamente, nas escolas de Santos, antigamente que eu digo antes da grande guerra, isso em 43,44, os elementos que tinham algum conhecimento de Educação Física eram da força policial, da força militar. Já chamavam força pública naquela época. Não só colaboravam com as escolas na parte de educação física como também de ir nas agremiações. Não era assim, vamos dizer: “O Santos tem preparador físico fulano de tal que é conceituado, que foi contratado.” Não. As pessoas compareciam no Santos através de amizades com os diretores, através de algumas sociedades da cidade. Eles iam no Santos: “Oi, vai vir um senhor aí ajudar na preparação da equipe.”
P/1- E quando que houve uma profissionalização aqui no Santos desses assistentes, destas pessoas que prestam suporte ao técnico ao preparador da equipe? O senhor se lembra?
R- Que eu me lembre essas preparações, essas, vamos dizer, comissões técnicas assim mais organizadas eu acho que começou a nível de Seleção Brasileira. Eu me lembro que naquela época as seleções do Brasil eram formadas... A gente lia muito nas delegações que eles formavam: vai um médico, vai um administrador que vai cuidar disto, vai um diretor da CBF, vai um médico que é especializado em ortopedia, um sábio naquelas coisas. Eu creio que aí, no meu modo de entender, começaram estas evoluções de comissão técnica, de se apurar para uma preparação do atleta.
P/1- E aqui no Santos?
R- No Santos eu acredito...
P/1- Quando o senhor chegou já havia isto ou não?
R- Não, não me lembro. Eu via mais, como te falei, o Osvaldo Brandão treinar, José Piotina. Eu vi o próprio... Eu lembro que as pessoas comentavam muito sobre esse Zezé Moreira, este pessoal antigo que esteve aqui no Santos, que esteve vendo. Então vi muitos treinadores.
P/1- E quando que o senhor viu uma...
R- É da época do Lula para cá, no meu modo de entender, pelo que a gente lembra. Do Lula para cá eu comecei a ver também que as coisas foram mais se apurando. Porque o treinador Lula, eu vou ser franco em dizer, eu acho que ele vivia o Santos “dioturnamente”, porque o Lula, à medida que ele cuidava da equipe profissional, ele acompanhava muito os jovens. Ele era fã de ter aquela felicidade de ver um garoto bom no amador para trazer pro profissional. Ele acompanhava, ele ia para os seus campeonatos varzeanos. Além de ter sido treinador de equipes da várzea, ser muito chegado com este pessoal de várzea antes de vir para o Santos, quando veio para cá ele continuou aquela mesma caminhada na várzea. Então ele também trazia elementos de destaque no futebol amador, na espera, claro, de uma ascensão destes atletas para a equipe profissional. Mas como eu disse para você, sempre notei que o Santos teve muita estrela para estas coisa. Os atletas sempre se apresentaram ao Santos. Se você notar a relação dos jogadores que nós temos até hoje, se a gente analisar nome a nome a origem destes jogadores, você pode ver que muitos, grande quantidade deles se apresentaram ao Santos porque queriam conhecer, porque queriam vir para Santos. Porque tinham alguém que tinha vamos dizer: “Olha, o Santos tem um Odair do Santos, né! Será que dá para gente ver, jogar com o Odair, jogar com o Toninho?” Realmente houve muito destaque do nome do Santos fora, o Santos sempre teve muita publicidade, muito destaque por fora e isto sempre foi um chamariz. Quando começou a época da televisão, aí todo o cenário esportivo ganhou um destaque maior. Você vê que Pelé, de 56 para cá, estava na mídia a toda. Os jogos do Santos eram quase que constantes, as transmissões, as televisões, por vários motivos. Chegava a época de carnaval e Santos tinha uma força fantástica. Eu acho que só comparado com o Rio, aquele carnaval típico de Recife, carnaval típico da Bahia que a gente conhece... Mas sempre se impunha nas coisas de carnaval, sempre aparecia. As televisões, rádios e jornais que vinham não só fazer estas coberturas, muitas vezes sociais, aproveitavam e davam destaque para as coisas do esporte, do futebol.
P/1- Então o senhor atribui à televisão também um maior desenvolvimento do esporte?
R- Do esporte em todo o Brasil. Nós tivemos nomes na radio como Fiori Giglioti.
P/1- Qual é esse primeiro nome?
R- Fiori Giglioti. Ele era da rádio Bandeirantes. E outros nomes que na conversa a gente vai lembrando, que nós viajamos. As delegações viajavam, jornalistas iam praticamente juntos, iam juntos nos ônibus, nos trens que a gente viajava, nos aviões na época. Então eles davam destaque, começaram a dar muito destaque para a entrevista, as origens, para os feitos do futebol em todo mundo. Então eu acho que houve, o esporte em si teve um salto muito grande, e o Brasil sempre foi um celeiro de grandes atletas, de grandes marcas. Se a gente analisar o cenário esportivo do Brasil, sempre nós tivemos épocas de destaque no esporte. O Santos teve atletismo, foi campeão em atletismo, fomos campeões de atletismo em São Paulo com Olegario Ortiz, na época. Os blocos do Santos, antigos, eram conhecidos no Rio de Janeiro, as famílias... O Santos tinha muita gente com a origem do Rio. Também, é lógico, com São Paulo e tudo, mas como era uma cidade pequena, tinha uma grande força de carnaval, tinha um teatro muito conhecido mundialmente, que era o teatro Coliseu, tinha um hotel de alta categoria que era o Parque Balneário. Vinham os presidentes. Tivemos passagem de Santos Dumont por aqui, que foi para o Guarujá. Essa cidade foi caminho de muitas personalidades, não só da nossa cultura, mas da nossa política, da nossa vivência em todos os caminhos da civilização Brasileira. Santos participou dos grandes marcos do país, mas eu acho, estou achando que o Santos sempre caminhou do lado desta mesa de grande fartura. Eu acho que o Santos foi marcado por isso, os homens que participavam de tudo isso tinham sempre qualquer coisinha a ver com o Santos. Sempre, sempre, sempre tinham. Nomes como o do médico Dr. Guilherme Gonçalves, que foi presidente do Santos, foi presidente da federação antes da guerra. O Santos teve, depois desta inauguração do Pacaembú em 1940, tivemos participações assim quase que simultânea em São Paulo. Basta dizer também que depois de 1916, 1919 por aí, o Santos foi um dos clubes que foi convidado pela própria Associação Paulista de Esportes para participar dos campeonatos de grande envergadura em São Paulo. Você vê que o Santos sempre esteve junto com a História.
P/1- Agora uma coisinha, mudando bastante assim de assunto. O senhor esta aqui há quanto tempo, 50 anos?
R- É, eu tive aqui no Santos, eu comecei em 48. Depois em 87 eu parei um pouquinho, me afastei um pouquinho eu fui cuidar de outras coisas, cuidar de uma outra família, descansar um pouquinho. Foi quando, depois de 10 anos... Me aposentei em 77, depois de 10 anos eu parei um pouquinho. Aí então, um ano depois, me convidaram outra vez para eu voltar, para continuar trabalhando, ajudando colaborando na parte de esportes.
P/1- E não pretende parar?
R- É eu pretendo agora, estava pretendendo agora, para o ano que se inicia, parar um pouquinho, porque eu sou integrado a algumas sociedades religiosas aqui em Santos onde tenho muitos amigos tem muita coisa. Eu estava com, assim, não vou dizer me desligar do esporte, porque o esporte durante esses anos todos... Eu comecei aqui praticamente com 12 anos na campanha, estou com 65 anos, então você vê há 53 anos a gente esta nesta lida do esporte. Mas eu gostaria de ter um tempinho para dedicar ao esporte, um tempinho também para dedicar às minhas sociedades. Esse é o meu pensamento. Mas no Santos sempre estarei ligado com a graça de Deus, porque muitas coisas nos marcaram. Seria inumerável, seria até acho cansativo a gente tá elencando as coisas. Mas muita coisa me marcou. A gente conheceu aqui governadores, conheceu altas personalidades, conheceu homens que foram depois praticamente Ministros naquela época, que foi o caso do capitão de mar e guerra José Calvente Aranda, que hoje é almirante. Que dizer, nós conhecemos gente, homens, personalidades.
P/1- O atleta do século....
R- Atletas, essa caminhada de Pelé que nos deslumbrou de uma forma... A gente nem tem palavras para definir certas coisas de Pelé.
P/1- O senhor está falando de uma paixão pelo clube, que a própria trajetória do Pelé mostra porque ele só atuou aqui.
R- É, Pelé teve... Olha, a gente sempre notou o seguinte: ele foi um atleta altamente qualificado, de um talento... Eu não vou dizer que não tenha havido talentos no futebol Brasileiro. Houve muitos talentos, mas ele foi um talento que destacou-se porque nós tivemos, nessa época, um Santos de 67, 68, 69, tivemos três títulos e depois mais um tri campeonato, essas excursões todas. O Santos teve um a equipe de dar inveja, entre aspas. Além destes jogadores de grande talento que o Santos tinha, o time tinha outro grande talento que era Pelé, que jogava com estes ases todos.
P/1- E com essa paixão.
R- Com essa paixão. Porque na minha opinião, nós poderíamos chamar um rei, um reisinho, vamos dizer. A gente pode chamar assim, porque dentro desses ases todos ele sempre foi destaque. Foi um jogador de sorte? Eu acho que foi de extrema sorte que se batia na canela dele... Foi um jogador de excelente qualidade física? Foi. Foi um jogador de origem humilde que o ajudou muito? Foi, teve família, teve um pai, teve uma mãe, teve uma irmã, teve um irmão, coisas que marcam um homem, no meu modo de ver. Foi um filho exemplar? Foi. Era um atleta que chegava atrasado no Santos? Não, era um dos primeiros. Era o primeiro a ir embora? Não, era o ultimo, um dos últimos a sair. Nós acompanhávamos isso. Comentou-se algum problema sobre Pelé que destoava-se da sua vida, da sua carreira? Não, nunca soubemos, nuca vimos. Então ele era um moço, assim: de um a dez, nove virgula nove, porque um pequeninho defeito ele tinha que ter, porque era um ser humano. A carreira de Pelé, se você notar os anos, o estouro desta tecnologia, da mídia...
P/1- O senhor disse que de zero a dez, nove virgula nove arredondaram para dez, colocaram nas costas dele.
R- Exatamente. (riso) Tudo isso viu-se, os fatos importantes aconteceram como, em que jogador? Pelé. Tivemos visitas dos reis no estádio, aconteceu um fato importante: o rei da Suécia foi cumprimentar todos os jogadores e chegou naquele garotinho de 16 e ficou espantado: “Puxa! Um garotinho de 16 anos já aqui?” e foi abraçar e tudo. Fatos concretos aconteceram com ele? Aconteceram. Sorte? Pode ser, mas sorte derivada do qualificativo dele, da personalidade dele. Ele era um excelente garoto, foi um excelente atleta com um grande talento que o acompanhou. Fez tudo para crescer na vida, financeiramente, socialmente, tudo. Em tudo ele correu atrás, batalhou para ser um rei. Então, esse qualificativo “o rei”... Porque a gente fala: “Tem origem porque é filho lá do antigo príncipe, não sei o que, não sei o que.” Não! Ele veio dentro de uma seqüência das coisas, da prática da vida, das coisas acontecendo ao seu lado, ele sempre dentro de um principio correto, que dignifica os seus companheiros, o clube onde ele estava, sabe? Sempre amigo, sempre brincalhão.
P/1- E a relação do senhor com ele?
R- Ah, sempre foi, assim, a mais bonita possível. Porque a gente viu ele chegar aqui no dia, eu e os outros funcionários acompanhamos ele passo a passo. A gente viajava muito, via muitos jogos, estava com ele. Depois, os contratos todos eu fiz para ele. Então foi indo, indo. A História dele, quando começou a ser comentada, narrada a termos de livro, sempre a gente acompanhou. Contato com o irmão dele, com a família dele, com o pai dele que trabalhava aqui em Santos na prefeitura. A gente sempre foi ligado a ele. Fui uma pessoa muita ligada a ele. Claro, Pelé depois de um determinado tempo, depois dos jogos da Seleção Brasileira, ele começou a chegar na vila com 50 pessoas correndo atrás dele, querendo abraça-lo, querendo falar, querendo isso e aquilo. Mas sempre esteve com a gente, sempre dando uma palavrinha com a gente em termos de amizade. Foi uma marca, uma das marcas do Santos que eu tenho muita honra de lembrar foi essa vinda dele.
P/1- Então depois deste bate papo gostoso e muito enriquecedor aqui, a gente vai preencher a ficha cadastro de depoente.
R- Tudo bem, a suas ordens.
P/1- Como é o nome do senhor?
R- Alfredo de Lima.
P/1- O senhor mora aqui em Santos mesmo?
R- Moro em Santos.
P/1- Qual o endereço?
R- Avenida Dr. Bernadirno de Campos, 624 Apto 74.
P/1- Que bairro que é?
R- Bairro Gonzaga, ali é chamado Gonzaga.
P/1- Ah, no Gonzaga.
R- É aqui, no canal perto da praia. Cidade de Santos.
P/1- O senhor tem telefone?
R- Tenho 237-3466.
P/1- Agora a data do nascimento do senhor?
R- Vinte e quatro de maio de 33.
P/1- Aqui de Santos?
R- Natural de Santos, nascido e criado, todos nós de Santos.(riso)
P/1- O nome do seu pai?
R- Eu vou ser franco com você, eu praticamente só conheci minha mãe, Marcilha de Lima, minha mãe.
P/1- Marcilha...
R- Marcilha de Lima é o pai e mãe que eu conheci.(riso)
P/1- Mas também...
R- Nossa, meu Deus! De uma força, de uma estrutura espiritual, tem uma estrutura espiritual ela sozinha formando a família, todos os filhos.
P/1- O senhor é caçula?
R- É eu sou caçula da família.
P/1- De quantos filhos?
R- Minha mãe... Meu irmão... Três, nós éramos quatro filhos.
P/1- O senhor é o caçula?
R- Caçula.
P/1- O senhor lembra da data de nascimento da sua mãe?
R- Minha mãe ela, se não me falha a memória, é de junho de 1896, parece. Eu só lembro o aniversario dela em junho.
P/1- Daqui de Santos também?
R- Todos nós de Santos.
P/1- A família inteira?
|R- Família inteira. Os meus avós eram operários da família do antigo poeta de Santos Vicente de Carvalho. Trabalharam no sitio dele, trabalhadores lá de Vicente de Carvalho. (riso)
P/1- Olha só.
R- É vamos lá.
P/1- A sua mãe, a atividade da mãe?
R- Naquela época chamavam, vamos dizer, ela tinha uma atividade doméstica. Ela era cozinheira, passadeira. Ela trabalhava com famílias e tudo.
P/1- E também na vida inteira a pessoa pode ter várias né?
R- É exatamente.
P/1- O senhor é casado?
R- Casado.
P/1- Qual o nome, fala um pouco sobre sua família o nome?
R- Da minha esposa é Dirce Mafaldo de Lima, ela é de três de agosto de 38.
P/1- Leonina?
R- É leonina e eu sou geminiano. (riso). Tenho um filho, Alfredo de Lima Júnior. Foi ex-atleta aqui do Santos. Jogou aqui no infantil e juvenil. (riso)
P/1- Olha só.
R- Foi, jogou aqui nas manhas esportivas, futebol. Foi vice campeão aqui na manha esportiva, jogou no infantil também. Tenho fotos dele, tenho tudo.
P/1- Estas fotos podem vir a ser importantes para o nosso trabalho.
R- (riso) Tudo bem.
P/1- Um filho só?
R- Tenho mais duas filhas, Rita de Cássia Mafaldo de Lima e Rosana Mafaldo Lima e Silva, porque essa é casada. O meu filho também é casado atualmente, é casado também...
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