Programa Conte Sua História 2017
ENTREVISTA de JOSÉ RENATO DA SILVA (RENATO RIBEIRO)
Entrevistado por Glauber Dias Martins (P2) e Karen Tada (P1)
São Paulo, 19 de junho de 2017.
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P/1 - Bom, Renato, a gente começa, como sempre, perguntando seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Meu nome é José Renato Ribeiro da Silva. Nasci em São Paulo, em 1 de março de 1975.
P/1 - Pode me dizer o nome de seus pais?
R - O nome do meu pai é José Carlos Ribeiro da Silva e da minha mãe é Doraci Durante da Silva.
P/1 - Gostaríamos de saber um pouco de sua infância. Você pode contar um pouco como eram seus pais e a casa onde você vivia com eles?
Meu pai tinha uma condição financeira muito legal na época, e eu morava com meu irmão mais velho, Ricardo, minha mãe, Doraci, e meu pai, José Carlos. A gente tinha um ambiente muito tranquilo, muito gostoso, era uma época muito diferente da de hoje.
P/1 - Como era a sua casa?
R - Eu morei em muitas casas quando era pequeno, mas uma casa que me lembro é a casa da Ouvidor Portugal, que era muito grande e tinha uma edícula atrás. Aquela edícula, meus pais deixaram para a gente colocar os nossos brinquedos. Era uma casa muito grande e era muito legal morar lá, porque tínhamos aquela edícula para brincar, eu e meu irmão. Então era uma casa muito gostosa, ali no bairro do Cambuci.
P/1 - Do que vocês brincavam?
R - A gente brincava muito de playmobil. Na época tinha uma febre de playmobil. A gente esperava o Natal para ganhar um playmobil. A gente sentia o cheiro da caixa, eu lembro do cheiro da caixa. Às vezes a gente ganhava um bonequinho, mas aquele bonequinho era responsável pela felicidade de um ano. Aquele um ano a gente brincava com aquele bonequinho de playmobil.
P/2 - Você falou sobre a condição financeira do seu pai. Você consegue descrever um pouco do trabalho do seu pai?
R - Meu pai era uma pessoa muito regrada, então ele não gastava mais do que tinha. Então ele tinha condição de alugar uma casa muito boa. Na minha visão de criança, aquilo era uma condição muito boa, porque nunca faltou nada para a gente naquela época. Então, condição financeira boa é relacionada a não faltar nada. E a casa era legal. Sabe que eu voltei a essa casa, e ela nem era tão grande como descrevo na minha cabeça, mas a condição boa era de não faltar nada. Meu pai era desenhista projetista, saía de manhã, não entendia direito o trabalho dele, sempre às sete, e voltava sempre às sete da noite. Essa era a rotina dele, todos os dias, menos sábado e domingo.
P/1 - Como você descreveria sua mãe?
R - Minha mãe é uma mulher muito protetora, muito criativa, uma pessoa que quebrava regras, inclusive as que meu pai estabelecia, no sentido de meu pai colocava a gente de castigo e minha mãe tirava. Meu pai criava uma nova regra, minha mãe ia e quebrava essa regra. Muito protetora, muito mãezona, uma pessoa que me ensinou muito.
P/1 - Você sabe a origem de sua família?
R - Minha mãe sempre disse que somos descendentes de espanhóis e egípcios da parte da minha mãe, e da parte do meu pai, de italianos.
P/1 - Algum costume especial na família?
R - Macarrão. Todo domingo era macarrão, e a gente esperava por aquilo.
P/2 - Lembra que tipo de regras seu pai criava e sua mãe quebrava?
R - Meu pai falava assim, olha, vocês vão sair e jogar bola na rua. Naquela época era costume jogar bola ou taco na rua. "Às dez horas, vou chamar vocês: 'Ricardo e Renato, subir'". Ele gritava da janela. Meu pai falava: "Vocês têm um minuto para subir, não quero saber se vão subir correndo, voando, mas têm um minuto para chegar. Se chegarem um minuto depois, vocês não saem no outro dia". E era dito e feito. "Renato! Ricardo!"; e a gente: "Último gol, vai, passa bola!"... passavam cinco minutos. E a gente subia e meu pai falava: "Amanhã, vocês não vão sair". E a gente falava: "Tá bom". No outro dia, falávamos: "Mãe, podemos sair?"; "Mas vocês estão de castigo?"; "Ah , a gente tá de castigo". A gente começava a causar dentro de casa. "Ai, pode descer, então!". Meu pai ficava p. da vida. Minha mãe queria sossego dentro de casa, meu pai queria ordem, mas minha mãe quebrava. "Hoje vocês descem!" A gente sabia que isso ia acontecer, que uma vez ou outra algo podia dar errado, mas a gente acreditava que minha mãe tiraria a gente do castigo.
P/1 - Então vocês brincavam bastante na rua. Como era o bairro do Cambuci, nessa época?
R - Era muito tranquilo. Em uma das casas que moramos, tinha um terreno ao lado, que hoje é um prédio. Brincar em terreno era algo muito natural. Hoje eu jamais deixaria meus filhos brincarem num terreno. Mas naquela época era normal. A gente brincava de futebol, bolinha de gude, champion cross. Sabe o que é? Você fazia uma pista, como de motocross, e ia com a tampinha de refrigerante. Se caía, o outro tinha a vez, e a gente jogava champion cross. E andar de bicicleta era o grande barato, mas minha mãe tinha medo. Então para ganhar bicicleta foi um trabalho, e minha mãe só queria que a gente saísse de sábado e domingo com meu pai, era um terror aquela bicicleta.
P/1 - Você disse que morou em várias casas?
R - A cada um ano ou dois anos mudávamos. Só no Cambuci moramos em uns cinco endereços. Acho que acabava o contrato do aluguel, acho que meu pai tinha mania de mudar de casa. Então morei na Ricardo Jafet, na Ouvidor Portugal.. morei em vários lugares ali no Cambuci.
P/1 - E a cada vez você mudava de escola?
R - Cada vez mudava de escola, mas eu gostava disso. Minha mãe enfiava em nossa cabeça, vocês vão fazer amigos novos cada vez que vocês mudarem de escola. E era muito bom, essa coisa do primeiro dia de aula. O que para muita gente é motivo de pânico, para mim era bom, porque eu queria saber com quem eu ia conversar. E eu era muito esquisito, porque eu usava um óculos fundo de garrafa meio esquisito, e meus apelidos eram desde Mr. Magoo até quatro olhos fundo de garrafa. Na época era lente de vidro, então tinha um óculos muito pesado, eu vivia com o óculos quebrado.
P/1 - Como eram suas brincadeiras e as aulas em tantas escolas?
R - Eu sempre fui muito bem humorado, isso foi um dom que Deus me deu, de ver o problema de um modo diferente, principalmente quando o problema era muito sério. Então, no meu primeiro ano de escola, meu grande desafio era conquistar as pessoas, porque eu não podia afastá-las, eu queria conquistá-las, porque eu era diferente delas, pelo problema visual que eu tinha. Eu tenho estrabismo, então se tiro o óculos, se ele cai no chão, a pessoa me olhava e surgia outro apelido, que era "o vesgo". Era uma questão na minha vida, mas aprendi a tirar isso de letra. Eu via isso como oportunidade de criar algo novo.
P/2 - Você lembra como foi a primeira vez que colocou um óculos?
R - Não lembro. Eu sei que tinha três anos, mas desde que me lembro por gente eu já usava óculos. Teve uma época que usei lente de contatos, e agora voltei para o óculos, que é mais prático.
P/1 - Depois do Cambuci vocês foram para onde?
R - Meu pai foi transferido para o Paraná, para Telêmaco Borba. Ele ficou um ano indo para Telêmaco Borba, até convencer minha mãe a ir para lá. A Klabin, que era a fábrica onde ele trabalhava como desenhista projetista, tinha uma sede em Harmonia, que tinha um bonde que passava por cima do rio, como era o nome do rio...? Mas tinha um bondinho que passava para Telêmaco Borba, que era onde íamos morar. Eu tinha 12, 13 anos e fomos morar em Telêmaco Borba por causa do trabalho do meu pai.
P/1 - Você lembra como era a cidade?
R - A cidade era muito diferente de São Paulo. São Paulo era muito agitada. E de repente a gente se viu numa cidade onde tinha aula de técnicas agrícolas. Aquilo foi incrível para a gente. Porque técnica agrícola... Lembro de uma aula que tinha que plantar morango. E eu nunca imaginei como plantava morango. O trabalho de casa era ter um canteiro em casa, aquilo era o máximo. A gente plantou esse morango e, no dia que ele apareceu, verde, eu e meu irmão comemos todos os morangos, verdes, a gente passava no açúcar, "a gente que criou esse morango". Minha mãe ficou brava: "Como é que vocês comeram o morango verde", nem esperamos ficar vermelho, coisa de moleque paulista. Mas era muito gostoso morar no Paraná.
P/1 - E vocês ficaram quanto tempo lá?
R - Nós ficamos dois anos e meio, mais ou menos, até minha mãe quase enlouquecer porque ela não aguentava mais aquela cidade tranquila, e aí nós voltamos para São Paulo. Aí eu já estava morando em Vila Leopoldina, aqui em São Paulo. Então saímos do Cambuci, fomos para o Paraná, e de lá fomos para Vila Leopoldina. Morávamos num apto quando tinha uns 15 anos.
[TRECHO RETIRADO A PEDIDO DO AUTOR]
P/1 - Nessa época, com 15 anos, você já trabalhava, ia para escola?
R - Não, eu só estudava. Mas nessa época fui numa excursão para o programa do Sérgio Mallandro e participei de um quadro chamado "A Porta dos Desesperados", e eu ganhei brinquedos, ursos, videogame. Nessa época perguntei para o Sérgio Mallandro: "Quero trabalhar aqui", e ele dizia: "Você tem jeito para trabalhar aqui, chama seu pai". E falei pro meu pai, e meu pai me levou lá. A gente chegou na porta do SBT e o cara falou: "Olha, o Sérgio Mallandro não trabalha mais aqui, agora trabalha na Globo". Aí perdi meu contato na televisão. Dois meses depois teve excursão para o programa da Mara, e aí fui e lá pedi uma oportunidade de novo para trabalhar. Trabalhei uma época lá, como Maroto, no programa da Mara, mas conheci alguns palhaços lá. Conheci um palhaço chamado Sabugo, e o Sabugo foi um palhaço que me deu atenção. Ele virou e disse: "Fala, garoto". Eu disse: "Queria trabalhar aqui com vocês, de palhaço, será que posso?" E ele disse: "Olha, você tem que conversar com seu pai para ver se ele autoriza, quantos anos você tem?" Eu falei que tinha 15 ,16 anos na época. E ele disse, "Vai lá no meu escritório para a gente conversar, leva teu pai". Levei meu pai, e falei: "Olha, eu preciso contar uma coisa, decidi uma coisa", com 15 anos, "eu quero ser palhaço". Meu pai falou: "Você quer ser palhaço?"; falei: "Pai, eu quero ser palhaço, acho que é isso que eu sei fazer. É isso que vou fazer bem na vida: ser palhaço". Hoje em dia acho que é mais tranquilo falar isso, mas naquela época falar isso pro meu pai, que era um cara muito conservador, que era um cara que falava: "Você tem que estudar para ser alguém na vida, você tem que estudar para ter um bom emprego". E naquela época eu já não pensava assim. Eu queria ter a liberdade de poder fazer o que eu quisesse, do jeito que eu quisesse. E nessa época eu comecei a trabalhar no programa da Mara, como palhaço.
P/2 - O que seria trabalhar como Maroto?
R - Era como, sabe as Paquitas da Xuxa, eram os Marotos da Mara, eram os caras que ficavam atrás, animando as pessoas, e tinha as coreografias, tinha que dançar, fazer aula de dança. Eu achava aquilo o máximo. Achava aquilo incrível, o ambiente, o cheiro do estúdio, aquilo era minha vida. Amava demais aquele lugar. Foi muito incrível esse momento.
P/1 - Você lembra de algum episódio em especial dessa fase?
R - Teve uma situação de troca de roupa. Porque você gravava cinco programas num dia, então você trocava de roupa cinco vezes. E na época, como criança, você colocava uma roupa de manhã e só tirava à noite para colocar o pijama. Você não trocava tanto de roupa. Então a cada hora me via com uma roupa nova, diferente, aquilo foi o máximo. Eu adorava. Aquela coisa de trocar de roupa, de fazer a maquiagem, de se arrumar, de acender a luz do gravando, para mim aquilo era espetacular.
P/1 - E quanto tempo da semana você ficava nesse trabalho?
R - Era um dia por semana. Ia, gravava o programa da semana inteira, numa terça-feira.
P/1 - Que engraçado.
R - Já era um trabalho diferente, né. Então nessa época eu fazia o programa da Mara, continuava estudando e fazendo show de fim de semana. Foi uma época de muito aprendizado, tanto na escola, quanto nos eventos e nos shows de palhaço que eu fazia de final de semana. Continuava estudando. Até que meu pai mandou parar e falou para eu arrumar um emprego, que era o que eu devia fazer. Aí fui trabalhar de office boy. Foi terrível. Mas foi muito divertido, porque eu aprendi a lidar com aquele momento, que foi quando eu entendi o que era método, que eu precisava ter um método para trabalhar. E aí trabalhando de boy, não sei se todo mundo lembra o que era trabalhar de office boy, mas office boy é aquele cara que vai pagar as contas no banco, que vai buscar documentos, naquela época não tinha motoboy. Tinha pouquíssimos motoboys. Tava começando a coisa do motoboy. E eu fui trabalhar de boy. No Ceagesp, ainda. Então tinha aquele bolo de documentos e tinha que entregar no Ceagesp. E o cara que estava antes de mim no trabalho, demorava tipo 15, 20 dias para entregar todos os impostos, mas aí eu criei um método, utilizando a criatividade que eu sabia que o palhaço tinha. Eu entregava aquilo em dois dias. E o troco, que vinha daquele dinheiro que eu pagava os impostos, dava direitinho para eu tomar um guaraná no final do dia. Era o melhor guaraná do universo. Era o guaraná do final do dia, depois de ter andado o dia inteiro debaixo de sol, no Ceagesp.
P/1 - E com isso você tinha parado com os shows?
R - Tinha parado. Eu fazia um ou outro de fim de semana, mas tinha parado porque não dava mais tempo.
P/2 - Você fala muito do seu pai, da sua ligação com os shows. E sua mãe, como lidava com sua vontade de ser palhaço?
R - A minha mãe era quem mais apoiava. A minha mãe que fez minha primeira roupa de palhaço, do palhaço Pororoca, que foi o palhaço que o Sabugo me ajudou a criar. Minha mãe sempre apoiou. Meu pai também sempre apoiou, mas acho que foi o momento que as coisas estavam, que meu pai via eu trabalhando até tarde, mesmo trabalhando ganhava pouco, às vezes eu ganhava o dinheiro da condução para ir trabalhar. E meu pai falou assim: "Não, você precisa aprender a ganhar o seu próprio dinheiro. Não quero que dê dinheiro dentro de casa, mas quero que você aprenda a ganhar o seu próprio dinheiro". Então ele achou que, se eu tivesse um emprego formal, eu ganharia mais dinheiro. E depois de alguns anos consegui provar para o meu pai: "Pai, tá vendo, se eu trabalho como palhaço, ganho muito mais e tenho muito mais tempo livro do que se eu ficar preso num trabalho das oito às cinco da tarde".
P/1 - Como eram esses shows, que você trabalhava na televisão? E você fazia shows nos finais de semana. Pode falar um pouco dessa parte dos shows?
R - Quando você ficava lá no programa, em pé, atrás do programa da Mara, no final passavam os créditos. Então, o grupo de palhaços do Sabugo, e o telefone. Então as mães e os pais que tinham uma condição financeira boa viam aquilo ali e ligavam para contratar o show de palhaço. Então, o show de palhaço na época, por exemplo, custava cem reais. Eu ganhava dez reais, e o palhaço que me contratava ganhava 90 reais. Só que eu tinha que gastar com condução, então eu chegava em casa às vezes com moedas. E falavam assim: "Mas como assim, você trabalhou o dia inteiro e tá com moeda?" E às vezes eu fazia três, quatro shows por dia. Sábado eu fazia quatro shows, domingo fazia mais quatro shows. Ficava acabado. Dia de semana era um evento ou outro que tinha, até o meu pai cortar isso. E depois de um tempo, que eu comecei a fazer teatro, e mesclar essa coisa do teatro com salário fixo, que era fazer teatro-escola, mais os shows de palhaço, mais os eventos corporativos que tinha de vez em quando, a soma de dinheiro que dava era maior do que se eu trabalhasse preso, ali, entregando impostos no Ceagesp.
P/1 - E sobrava tempo para namorar, sair com os amigos?
R - Eu tinha uma namorada na época, e todo dinheiro que eu tinha, as moedas que eu juntava às vezes.. o dinheiro do guaraná era de lei. Eu tinha que ter o dinheiro do guaraná. Mas o que sobrava do meu dinheiro era para comprar um presente para minha namorada, chamava-se Alessandra. Foi meu grande amor da adolescência. Então a minha vida era trabalhar de office boy, ou quando eu trabalhava de palhaço, para comprar coisas para dar de presente para ela. Era bem interessante.
P/1 - E como era: vocês namoravam no fim de semana?
R - Era sempre assim: sexta-feira tinha pizza na casa dela, e sábado e domingo namorava e domingo até as cinco. Às cinco tinha que ir embora. E eu ia jogar bola. Mas eu era muito namorador nessa época. Eu gostava de namorar, de ficar quieto. Meus amigos iam para a balada, para shows, e como eu não tinha dinheiro, eu ia namorar, que era mais fácil.
P/1 - E a escola, você ia tocando?
R- Ia tocando, mas sempre foi muito terrível para mim. Nunca me adaptei ao sistema de ensino. Sempre tive muita dificuldade de entender por que era desse jeito. A minha sorte, e eu não parei antes de estudar, e graças a Deus não parei, foi pelos excelentes professores que tive. Quando falo de professor eu lembro de uma professora chamada dona Bia, ela está viva até hoje. Foi minha professora de português, que com toda sabedoria, com todo amor, me acolheu, mesmo sabendo que eu tinha esse temperamento de querer desbravar o universo com a minha energia, achando que eu ia conseguir fazer tudo só tendo energia. Ela sempre me acolheu, sempre me amou, sempre tinha uma palavra para falar. Então ela me via no show de palhaço, me via namorando, e via minha energia dentro da classe. Mas sempre soube... mas nem todos os professores eram assim. Mas a dona Bia é alguém que eu tenho no meu coração.
P/1 - Você seguiu com seus estudos?
R - Eu parei no segundo colegial, porque não dava mais tempo. Tive que fazer uma escolha. Foi a grande decisão da minha vida: "Que que vou fazer? Vou eliminar o estudo de uma maneira como o mundo determina ou eu vou criar o meu estudo?" Na época optei por criar o meu estudo. Então, falei: "O que eu preciso estudar para ser um excelente profissional naquilo que faço?" Sempre tive sorte também de ter excelentes professores na área artística. O primeiro diretor de teatro que eu tive foi o Luiz[?], que foi o cara que me ajudou a visualizar a vida de maneira diferente. Eu fazia uma peça chamada "Help, minha namorada está grávida", que era uma peça de alerta para a juventude em relação à gravidez; naquela época não era nem uso de preservativo, era de não ter relação, era de ter cuidado, porque aquele momento poderia transformar toda a sua vida. Então foi o primeiro momento de falar: "Nossa, a arte pode realmente transformar a vida das pessoas". E aí tive vários professores de teatro que me ensinaram a ter e a formar o meu caráter. Um dos professores foi o Isser Korik, que foi o cara que me levou para o teatro profissional. Esse cara fez a minha visão como ser humano abrir e falar: "Olha, você precisa ter muito respeito para pisar num palco, você precisa ter muito respeito para interpretar um personagem". Isso mudou minha história também.
P/2 - Como você conheceu a sua namorada, Alessandra, você lembra?
R - Foi na escola. Não lembro direito como foi, mas me apaixonei por ela. Foi na hora do recreio. A gente conversou e acabou namorando. Histórias...
P/2 - Você lembra em que ano foi?
R - Acho que foi 1995. Eu tinha 15 anos.
P/2 - Você estava cursando...
R - Eu estava na quinta série? Quinta ou sexta série, eu acho.
P/1 - Com 15 anos?
R - Acho que era. Não lembro, faz tempo.
P/1 - E como foi a reação dela e de seus pais quando você decidiu parar com os estudos?
R - Já não estava mais... já era mais para frente. Eu devia ter uns 18, 19 anos, quando decidi parar e disse: "Não vai dar para conciliar esse tempo", mesmo sendo à noite. Aí parei no segundo ano do colegial. Eu estava na sétima série quando estava com 15 anos, se não me engano. O HD já vai ficando mais lerdo.
P/2 - A professora que você citou, a Bia, ela era de que série?
R - Ela era da quinta série. Quando voltei do Paraná, e vim morar em São Paulo, ela era minha professora na quinta, sexta e sétima séries. Aí na oitava série eu tinha mudado de escola e fui fazer supletivo.
P/2 - Ela chegou a acompanhar você com suas atividades fora de classe? Vocês chegaram a ser próximos?
R - Não. Ela sabia que eu fazia, mas ela nunca disse não. Ela sempre apoiou, dizia: "Olha, você precisa falar direito, você precisa se comportar direito, precisa ter caráter, você não pode se comportar dessa maneira", sempre me acolheu, da quinta até a sétima série.
P/1 - E até quando você ficou morando com seus pais, e depois saiu?
R - Eu morava com meus pais, meu pai faleceu, e depois que meu pai faleceu, que eu estava morando com a minha mãe, eu consegui um trabalho no SBT, onde eu ia ter um salário fixo, registrado em carteira e tal, como meu pai sempre quis. Era uma oportunidade de ter a estabilidade que meu pai sempre me ensinou a buscar, mais o meu sonho. Então quando eu tive, falei para minha mãe: "Agora é hora de eu morar sozinho. É hora de eu ter a minha casa, de eu ter o meu lugar". E aí pesquisei tudo, quanto custava máquina de lavar, quanto custava um armário, quanto custava o aluguel, e aí eu desisti de morar sozinho nessa época. E aí eu falei não dá, cara, como que paga tudo isso aqui? Como que uma pessoa se casa? É impossível. Uma amiga minha me ajudou a fazer as contas e eu falei: "Não vou conseguir pagar isso". Mas eu sempre fui ousado. Eu falei: "Vou atrás disso, vou conseguir isso". E aí fui sem geladeira, sem cama, sem armário. Eu só tinha um colchão e uma arara que era da época do teatro, e pendurava as roupas ali. E ali eu comecei. Aí fui morar em Santana. Minha mãe morava na Leopoldina, é longe, na Zona Oeste, e eu fui morar na Zona Norte, porque a maioria dos meus amigos era da Zona Norte. E aí, na Zona Norte, comecei a minha vida sozinho, comecei a morar sozinho.
P/1 - E como veio o casamento?
R - Eu estava num final de ano, com esses meus amigos da Zona Norte, e a gente sempre ia para Balneário Camboriú, então nós fomos para lá, o Denis [?] tinha tirado a carta dele e nós fomos, e o Denis estava dirigindo, ele não deixava ninguém dirigir. Todo mundo já tinha carta, mas o carro era da irmã dele. Então a gente ficava dando volta nas quadras em Balneário Camboriú. E um dia, a gente no carro, ele dirigindo, eu atrás, e vi um carro cheio de meninas. E falei "Oi", e tal, e a gente começou a conversar: "Para aí, para a gente conversar". E o primo dela, o Claude, da Fabiane, estava no carro e disse: "Não, vou virar e vamos fugir desses caras". E ele virou a rua e nós fomos reto. E aí quando a gente deu a volta, que a gente parou na rua da praia, a gente viu que o carro dela estava aqui. "Elas ali, elas ali, pára, não deixa elas passarem na frente", e quando elas saíram com o carro, veio um carro atrás do nosso e pof, bateu no nosso carro. Aí, nós: "Nossa, não acredito, como a gente vai explicar isso para sua irmã". E elas deram a volta com o carro, o primo dela deu a volta com o carro e parou. Quando ele parou o carro, que elas desceram do carro, vi a Fabiane. Quando vi a Fabiane, aí... parece que tudo tinha parado. Eu só tinha olhar para ela. Ela fala para mim que não aconteceu nada disso. Diz que ela nem me viu no dia. Mas eu vi, eu olhava e dizia: "Nossa, mas que linda essa menina", e eu me apaixonei por ela desde o primeiro dia que eu a vi, naquele acidente de carro. No outro dia a gente se encontrou, a gente conversou e tal, e eu me apaixonei por ela e ela também sentiu alguma coisinha. A gente começou a conversar, naquela época, por ICQ, e por telefone. E por carta. Então, você imagina, ela mandava uma carta para mim e demorava cinco dias para chegar, e eu nunca respondi uma carta dela. Ela mandava uma foto dela, mandava uns livros cristãos, eu mandava os livros para minha mãe e pegava aquela foto: "Nossa, como ela está linda", e ia para festa. Eu era muito galinha. Então foram dez anos de problemas com a família dela, de problemas no nosso relacionamento, até que a gente decidiu ficar noivo. E eu falei: "Não, eu preciso tomar jeito. Eu vou mudar a minha vida e vou ficar só com ela". E meus amigos falavam: "Não, Renato, você não vai, cara, não vai conseguir, você é muito galinha, não vai conseguir casar"; "Não, cara, eu vou casar, ela é a mulher da minha vida". E aí, depois de dez anos, a gente casou. Em 7 do 7 de 2007. Uma data cabalística, né.
P/2 - Você chegou a namorar à distância, então?
R - Muito, muito. Namorava um mês, terminava dois, namorava outro, terminava outro, namorava uma semana, terminava na outra semana, e assim ia o nosso relacionamento. Era terrível. Aí eu ia para lá, voltava e ficava um ano sem aparecer, e assim se passaram dez anos. Esse rolo.
P/2 - Ela morava no Paraná?
R - Ela morava no Paraná, lá em Campo Mourão, e eu morava em São Paulo. E aí eu trabalhava em televisão, então a família dela tinha uma imagem diferente. Nossa, foi um rolo. Dez anos de muito rolo.
P/1 - E você lembra do dia do casamento? Como foi?
R - Lembro, aconteceu uma coisa muito marcante no dia do casamento. Que eu não ia ter dinheiro para fazer aquele casamento, porque eu não tinha dinheiro guardado, a única coisa que eu tinha feito para o meu casamento era ter comprado a lua-de-mel. Lua-de-mel em Bariloche. E no dia do meu casamento, em 7 do 7 de 2007, eu apresentava um programa na RedeTV de madrugada. Eu tinha um programa de letras, tal. Não vale a pena nem lembrar. Mas eu apresentava uns programas de madrugada lá, que as pessoas completavam as frases e tal. E aí eles me ligaram, no dia do meu casamento. Falei: "Olha, o pessoal da TV me ligando, acho que para dar os parabéns"; "Renato, então, o programa acabou. E você está despedido". E aí, no meu casamento, quando ela entrou, eu não sabia se chorava porque tinha sido despedido ou porque ela estava entrando. Se você vir as fotos do meu casamento, eu estou assim, sabe, um choro meio duvidoso, eu não sabia se eu chorava porque ela estava entrando e eu tinha que contar para ela que eu estava desempregado. E eu não tinha mais dinheiro. Eu ganhava bem nessa época. E de repente eu me vi sem dinheiro, tirando ela do Paraná e trazendo ela para São Paulo. E aí, aquele momento, de colocar as contas em cima da mesa, de conversar. Ninguém te ensina a casar. Ninguém te ensina que é tão difícil, que é tão diferente, mas que é tão prazeroso casar, é muita honra você encontrar uma pessoa que quer viver como um com você. É uma honra.
P/1 - E como vocês saíram dessa situação?
R - Nós sofremos muitos problemas financeiros no começo do nosso relacionamento, porque tinha muita dívida, tinha que pagar as coisas do casamento, do casamento não, mas uma parte da viagem, as coisas que a gente gastou na viagem, e a gente tinha comprado um apartamento com o dinheiro que era dela. Ela vendeu uma clínica, ela é veterinária, ela vendeu a clínica no Paraná para casar. O que ela vendeu a clínica, nós demos de entrada no apartamento. Mas tínhamos que pagar esse apartamento. E aí nós fizemos um financiamento de 20 anos, se eu não me engano, e nós ficamos seis meses sem pagar esse apartamento. E aí um dia eu fiz um trabalho, uma pegadinha no programa do Silvio Santos, e aí consegui levantar o dinheiro para pagar uma parcela e liguei para o cara: "Ó, vou pagar uma parcela". Ele falou assim: "Não, o seu apartamento já foi para leilão". Eu olhava para a Fabiane: "Como é que eu vou falar isso para ela, que a gente perdeu o apartamento?", e pensei: "Onde vou morar?" E nessa época eu lembrei muito dos meus amigos. E isso fez muita diferença nesse momento da minha vida, que foi aprender a exercitar a fé. Aprender a exercitar algo que eu não tinha muita prática, que era orar, pedir em oração: "Senhor, o que eu faço?" E eu sempre tive um histórico de dinheiro, né, quando fui mandado embora do SBT, eu era solteiro e a minha rescisão eu peguei toda em dinheiro, 7 mil reais, e fui assaltado na porta de casa, e levaram todo o dinheiro. Então eu sempre tive histórias, problema financeiro desse tipo. E aí, quando me vi diante dessa situação falei: "Fabiane, só nos resta orar. A gente vai orar". E ela que tinha me ensinado a orar. Lembra que eu falei que ela mandava os livros para minha mãe? E minha mãe falava para mim: "Olha, faz isso, ora, medita sobre essas palavras, olha o que essa palavra está dizendo". Eu falei: "Olha, Fabiane, a única solução que a gente tem é oração, porque não tem outra coisa para fazer". E aí a gente orou, e esse apartamento que a gente tinha que pagar em 20 anos, nós pagamos em um, por ter orado, por ter confiado, e por ter honrado um ao outro. A gente pagou em um ano, pagamos todas as nossas dívidas e pagamos o apartamento. Saímos da lama. Mas pense na lama. Nós saímos dela. Foi difícil. Mas foi incrível. Foi uma experiência de fé incrível.
P/1 - Nessa época você trabalhava ainda...
R - Eu tinha sido mandado embora, então eu estava vivendo meio que de oportunidades, sabe, tinha um evento, eu apresentava como mestre de cerimônia, tinha uma peça, ou tinha algo para criar para alguma empresa, e eu estava nesse momento de transição. Até que um amigo falou para mim, o dr. Roderik [?] falou para mim: "Renato, você não pode viver de oportunidade, você precisa ter o seu dinheiro, precisa ter o seu futuro". E eu tinha outro amigo também, chamado Alessandro, que é um cara que me ajudou muito. O Alessandro é um cara que me deu um curso chamado Empretec, que existe até hoje, um curso da ONU, viabilizado pelo Sebrae, que fala das características do comportamento empreendedor. E eu ganhei esse curso do Alessandro. O curso abriu a minha mente para o empreendedorismo. Na época, nem existia essa palavra empreendedorismo. Era empresário. É você ter o seu próprio negócio, então não era empreender, e a ONU trouxe essa palavra, empreendedorismo. E isso me picou. E aí eu comecei a empreender. Eu tinha o problema do meu pai doente dentro de casa, na época que eu era solteiro, e nessa época eu trabalhava como palhaço, então eu comecei a desenvolver um trabalho, desde aquela época de solteiro, com pacientes terminais, com pessoas que estavam nesse momento de finitude. Porque as pessoas tinham o mesmo problema que meu pai, a minha família tinha o mesmo problema que as famílias que estavam no hospital, elas não sabiam lidar com esse momento. Eu falei, vou empreender isso. Quando escrevi esse projeto, que saí do Empretec, chama-se PazCientes, que é uma empresa que ajuda as pessoas com gente doente dentro de casa a encarar esses problemas de maneira diferente e encerrar a vida dessa pessoa de maneira extraordinária. Escrevi esse projeto, só que quando escrevi esse projeto fui contratado pelo SBT, naquela época do teatro, e aí o que aconteceu, eu arquivei esse projeto da PazCientes. Quando fui mandado embora, que roubaram todo meu dinheiro, eu falei assim, é isso. Foi como se Deus dissesse assim: "Agora é hora de cuidar disso aqui". E aí montei a PazCientes em 2005. E esse amigo meu, o doutor Roderik, que falou para mim, "Não viva só de oportunidade", eu nem sabia mas ele era diretor de uma grande operadora de saúde em São Paulo. Ele me chamou e falou assim: "Lembra daquela ideia que você me contou, que você trabalharia com pacientes terminais? Você tem um mês para escrever". Chamei uma amiga minha, chamada Monica Policastro [?], nós escrevemos esse projeto em 2005, e ele existe até hoje. Estamos em 2017 e milhares de famílias foram ajudadas a encarar esse momento de morte de uma maneira espetacular dentro de suas casas. Por causa desse momento, desse sofrimento que eu tive lá em 2005, 2006 foi muito difícil, 2007 eu casei, e aí começando com esse trabalho com essa operadora de saúde, a Omint, aqui em São Paulo, aí que as coisas começaram a engrenar. E nós começamos a entender como era empreender. A Fabiane parou com as coisas dela e falou: "Nós vamos remar no mesmo barco". E aí a gente começou a ganhar dinheiro, a gente pagou o apartamento, nós não tivemos nunca mais problema financeiro.
P/2 - Você pode descrever como era essa situação difícil com a possível morte do seu pai, que te marcou tanto?
R - O meu pai sempre foi o cara que sustentou a casa, ele nunca deixou a gente dar dinheiro lá. Quando meu pai morreu, que a gente falou: "E agora?". A minha mãe recebeu um dinheiro do seguro de vida do meu pai. Esse dinheiro se esvaiu em menos de seis meses. Minha mãe comprou uma coisa, deu um pouquinho para o meu irmão, deu um pouquinho para mim, a gente sem saber direito o que fazer, comprou carro, meu irmão comprou carro, de repente o dinheiro acabou. E foi nessa hora que falamos: "E agora?". E a gente devendo aluguel, também, a gente com problema financeiro dentro de casa, eu comecei a trabalhar no SBT. E meu irmão saiu de casa, que meu irmão tinha casado na época, e a gente começou a colocar as contas em ordem, eu, minha mãe e minha irmã. Então eu trabalhava e ajudava em casa. Quando isso se estabilizou dentro de casa, fui morar sozinho. Quando vi que minha mãe conseguia morar sozinha, pagar as contas, eu fui morar sozinho. Fui seguir a minha vida.
P/2 - E como se deu você ver o sofrimento do seu pai e o de outros pacientes?
R - Eu via que não faltava amor, que as pessoas não sabiam lidar com aquele momento de morte, com esse momento em que a pessoa vai embora, de aceitar que ela vai morrer, de aceitar que vai acabar, de aceitar que você não vai mais ver essa pessoa, porque isso aconteceu comigo, com meu pai, porque nunca tinha morrido ninguém que eu tivesse convivido junto, que eu estivesse junto. E quando meu pai morreu, lembro que fui no hospital com uma amiga e a gente chegou na frente do hospital e falei: "Olha, vim visitar o paciente José Carlos". Quando subi, que entrei na UTI: "O senhor é filho do José Carlos?"; "Sim, sou eu"; "Pode me acompanhar, por favor"; e eu olhei a cama que meu pai estava e não tinha ninguém na cama, falei: "Será que meu pai foi para o quarto?". Naquela época não tinha celular para avisar as pessoas, né, "Será que meu pai foi para o quarto?", e aí ele me levou para uma sala e disse: "Seu pai estava só com um pulmão funcionando, o outro pulmão parou de funcionar, e o seu pai morreu". Fiquei sem reação, não tinha para quem ligar, não tinha o que fazer e bem eu tinha recebido a notícia. Era o meu irmão que ajudava meu pai em casa, era a minha irmã que ajudava, minha mãe que ajudava. E quando vi aquela situação, falei: "Não vou mais ver meu pai"; aí que eu entendi o que era a morte. Falei: "A morte é você tirar a pessoa do jogo, é você não ter mais contato com essa pessoa, não conversar mais com ela", e eu falei assim: "Mas eu tenho tanta coisa para falar para o meu pai, preciso falar para ele o quanto eu gosto dele". E quando vi meu pai naquela maca, morto, com aquele pano branco, aquilo foi terrível. Falei assim: "Isso não precisa ser assim". Não precisa ser tão doido assim, porque eu via no hospital que ia acontecer isso com as pessoas, e elas iam passar por aquilo. Falei: "Existe uma maneira de passar por esse momento de maneira diferente. E eu vou criar esse momento, vou inventar esse momento". E foi o que fiz. Inventei uma técnica, um método, que ajuda as pessoas a encarar esse momento de morte, tanto o paciente, como os familiares, como os cuidadores, de maneira diferente, de maneira espetacular. É ressignificar esse momento de morte. Ressignificar essa passagem, independentemente da religião, essa passagem de fechar os olhos para esta vida, e essa pessoa que está morrendo, essa pessoa que morre, dessa transição de parar de viver fora e vir morar dentro. Esse é o meu trabalho. É isso que eu faço hoje.
P/1 - Você pode contar uma situação, dar um exemplo de como essa técnica foi aplicada? Em alguma situação que você passou, quando foi ajudar uma pessoa.
R - Tem muitas. Vou te contar uma. Dona Zulmira, o nome dela, estávamos trabalhando com essa operadora de saúde e nós fomos na casa dela. Chegamos na casa da dona Zulmira, uma senhora com Alzheimer, aquela doença que as pessoas esquecem. E a família nos recebeu e disse: "Olha, vocês vão conversar com a minha mãe, mas ela tem Alzheimer em nível avançado. Ela não olha mais pro médico, ela não olha mais pra gente, ela não tem mais nenhum tipo de contato, ela só resmunga". E eu falei para essa senhora: "Nós não andamos pelo que a gente vê, a gente quer pedir uma oportunidade pra vocês pra conversar com ela, e estar junto com ela em alguns encontros". E nós começamos a visitar essa senhora. A primeira visita, que a gente entrou na casa dela, ela estava bem emburrada, com uma boneca na mão. Ela, com uma boneca na mão, e a gente sem entender direito o que é Alzheimer e o que era essa situação. Mas uma coisa acontecia naquela casa, a família já estava abandonando, porque quando alguém está doente ou em fase terminal, no primeiro momento todo mundo fica junto, mas quando a coisa começa a pegar sai todo mundo. Porque o ser humano não consegue lidar com esse momento de morte, e geralmente sobra pra um familiar, ou pra um cuidador, ou pra um profissional de saúde que a empresa contrata. Então nós chegamos, a dona Zulmira estava naquela situação, com uma cuidadora e com uma boneca na mão, e eu perguntei para a cuidadora: "E essa boneca?"; e ela respondeu: "Ela tem uma coleção de bonecas". E aí, a gente foi pesquisar essa coleção de bonecas, e no meio dessas bonecas tinha uma boneca grande, eu peguei essa boneca, olhei pra ela e disse: "Essa aqui é a minha boneca". A cuidadora disse: "Essa boneca ela tinha como filha". Aí eu peguei a boneca e disse: "Essa boneca é a minha filha". Ela não me deu bola. Então eu disse: "Dona Zulmira, essa boneca aqui é a minha filha, você é a mamãe e eu sou o papai". E ela começou a rir, e nesse momento eu conectei com ela. Quando eu conectei com ela, eu fiquei de frente pra ela, deixei de lado a boneca e falei: "O que vocês acha disso aqui?", e puxei o nariz de palhaço vermelho. Quando eu coloquei esse nariz de palhaço vermelho, ela olhou nos meus olhos e começou a chorar e rir, e ela ria, ria, ria. Eu fiz um vídeo disso, eu tenho um vídeo desse momento. E nós mostramos esse vídeo pra família. Quando mostramos esse vídeo pra família, lembra da história que eu contei, que quando íamos nas festas infantis de palhaço, só a família que podia pagar podia curtir esse momento e podia ter um palhaço numa festa infantil? E a dona Zulmira foi uma criança assim. Ela sempre teve festa de palhaço, as festas de aniversário dela sempre tiveram palhaços. E o que ela mais gostava na vida era uma festa de aniversário, e a partir do momento que descobrimos isso, todas as semanas nós fizemos uma festa de aniversário com ela, junto com a família, dois meses antes dela morrer. Todas essas imagens foram documentadas para a família. Todas as histórias que ela tinha no coração dela com palhaços, no final da vida dela, a família pode desfrutar disso junto. E essas imagens a família tem até hoje, de lembrar da mãe, não como aquela mãe doente, aquela mãe de Alzheimer, mas uma mãe que tava conectada com os filhos através de uma festa de aniversário. Isso mudou a minha maneira de ver a vida. Dona Zulmira me ajudou a ver que era possível fazer algo. Mesmo que a pessoa não falasse mais, mas o contato humano fazia a vida valer a pena. Então quando eu utilizei tudo que tinha vivido, tudo que tinha sofrido, como palhaço, naquele momento pra transformar a vida daquela família, eu percebi que a vida só vale a pena quando a gente tem um viver em prol do outro. E ali a minha história mudou, ali a benção chegou pra mim. Pra mim e pra minha esposa. Então quando eu cheguei pra minha esposa e comentei isso, e falei: "Fabiane, olha o que aconteceu. Vou te mostrar as imagens pra você ver". E quando a gente levou essas imagens para operadora de saúde, a gente sentou com o Omint e mostramos essas imagens, a Omint falou assim: "Vamos assinar um contrato". E a gente tá com a Omint há doze anos, fazendo este trabalho. Nós já ajudamos milhares de pessoas, eu estou te contando um caso, eu tenho vários casos pra contar, de quando você para, e olha pra pessoa, você vai descobrir historias incríveis. E as histórias vão tirar de você o direito de fracassar. Quando você escuta uma história ela tira o direito de fracassar. Então eu vivo histórias, nas duas empresas que eu tenho, na PazCientes e na Love my Job que a empresa que faz dentro do mundo corporativo, a gente ouve histórias e transforma as histórias das pessoas, e transforma em algo tão forte que tira o direito de desistir, que tira o direito das pessoas de dizer não dá, e tira o direito das pessoas de falar, não é pra mim, eu não sou merecedor disso. Você é merecedor e é a tua história, e o dia em que as pessoas valorizam a história delas, valorizam o que elas tem de mais valioso, de olhar para trás, e vai ser o momento de fechar, o que vai ficar são as histórias. Então, como nós vivemos a nossa história, como eu vivo a minha história, como você vive a sua história, como você vive a sua história, e pra quem tá assistindo, como você vive a sua história? A sua história tá te tirando o direito de fracassar, ou a sua história tá fazendo você passar o dia esperando acabar? Eu vivi minha vida muitos anos, olhando pro relógio e pensando assim: "Eu quero que esse dia acabe". Hoje, não! Hoje, pra mim domingo é um dia espetacular, porque tem segunda-feira, e segunda-feira eu vou trabalhar, e sexta é um dia espetacular, pois vai acabar o dia e eu posso passar o fim de semana com a minha família. Essa é a minha história, viver a história intensamente. Não sei se eu consegui, passar...
P/2 - Você disse que a Fabiane largou o emprego dela pra remar junto com você, eu queria que você descrevesse um pouco esse momento.
R - Teve uma vez, eu lembro muito bem, eu estava com a PazCientes começando, e a Fabiane, veterinária, foi fazer um teste hípica. Uma pessoa chamou ela pra fazer um teste na hípica. E ela trabalhou no Paraná como veterinária, ela tinha a clínica dela, estudou, mestre, e veio pra São Paulo, e foi pra hípica. Chegando na hípica ela passou, passou o primeiro dia um cara falou: "Você tá contratada". Ele deu um cavalo gigante com cólica, ela fez um negócio no cavalo, que o cavalo tava pulando. E ele falou: "Você tá contratada, mas tem um detalhe: o seu casamento ou a sua profissão. Em São Paulo funciona assim, é o seu casamento ou a sua profissão". E aí, a Fabiane chegou em casa, foi até mim e perguntou: "O que eu faço?" E eu falei assim: "O que você sente? O que a gente vai fazer?". E a gente voltou ao melhor recurso do ser humano, que é a oração, a gente voltou a orar, pra quem tá assistindo, se você não é uma pessoa religiosa, não é uma questão de ser religioso, é uma questão de meditar, é falar: "Cara, tem algo maior do que eu que controla isso aqui, que vai nos ajudar a decidir". Nós oramos, a família dela também orou, e ela teve paz no coração dela, de falar eu vou largar tudo, tudo que eu estudei até hoje eu não vou mais fazer. Eu vou estudar a parte financeira, pra fazer a financeira da empresa que a gente tem. Na época era só a PazCientes. Então ela tomou a decisão de remar no mesmo barco. Ela até tentou em trabalhar em outros lugares, mas não deu certo, a história dela era pra remar junto no mesmo barco. Hoje ela é o financeiro, ela é o coração do financeiro das empresas que a gente tem.
P/1 - E como foi a chegada dos filhos, no meio disso tudo?
R - Eu trabalhei de palhaço, sempre convivi com criança, sempre gostei de criança, e quando ela engravidou, e rápido, da Ana Laura, a gente estava com a vida um pouquinho equilibrada. A gente já tinha conseguido algumas coisas, a gente já tinha o nosso apartamento, e ela engravidou e chegou a Ana Laura. Pequenininha, uma menina, bem magrinha e bonitinha, e levamos ela pra casa e começamos a cuidar dela. E ninguém ensina a gente a ser pai, e eu errei muito com a Ana Laura, fui muito duro com ela. Esse meu relacionamento com ela mudou agora, de quatro pra cinco anos de idade. Eu era muito duro com ela, muito exigente, eu tinha muito medo dela ser uma menina mal-educada, de responder pra alguém, de não cumprimentar as pessoas. E foi muito difícil a educação da Ana Laura, pra mim e pra Fabiane, foi muito complicado. Mas nunca faltou amor. Então a gente chegou um momento da história da Ana Laura que a gente falou assim: "Acho que ela precisa de uma irmã, de uma irmã ou de um irmão". E eu achava que não precisava, eu pensava assim, um filho já está bom, e a gente já sofre demais, e não dorme, e vomita, e fica doente, e fica bom às seis horas da manhã, parece que vêm com timer. Ela fica doente e fica bom quando você está saindo pra trabalhar. A criança melhora, mas você não dormiu a noite inteira. Aí, a Ana Laura ganhou um irmãozinho. Veio o João Pedro. A Fabiane queria uma menina, mas veio um menino, e o João Pedro veio pra completar a bênção familiar. Pra mim, a bênção é viver familiar, pra mim, tomar a decisão de ter uma família, e de viver essa família, me faz entender o que é amor. Como o amor deve ser aperfeiçoado, como foi com a Ana Laura e tem sido com o João e no meu relacionamento com a minha esposa. Quem tem filho sabe como é difícil, tem gente que é casado e diz: "Ah, estou cansado". Você não tá cansado. Tem um filho e diz: "Tô cansado". Tem um filho? Não, você precisa ter dois. Eu tenho dois, quem tem três eu admiro, eu acho que a pessoa vai ser arrebatada viva. Quatro, cinco, é demais. Mas dois filhos é o que Deus tinha reservado pra mim, dois filhos e uma esposa espetacular, pra ajudar, pra que eu fosse aperfeiçoado no que eu faço, pra me apoiar naquilo que eu faço. Então na minha família a gente tem a Fabiane, que é a minha esposa, e a gente vai fazer 10 anos juntos em 2017, o João Pedro, que tem dois anos, e a Ana Laura, que está com 6 anos, já no primeiro ano, já lendo, já escrevendo. Ela estuda numa escola bilíngue, já fala inglês, e é muito louco a vida. Porque Deus é Deus, ele sabe ser Deus e ele é muito bom nisso. Pra quem acredita, ele é muito bom. Então ele me abençoou, e aos 42 anos de idade eu olho e digo: "Por que eu mereci isso aqui?". Às vezes eu olho e digo: "Por que eu mereci isso aqui?". E eu não sei. Mas eu aceitei, eu mereço.
P/2 - Você fala das suas orações, tem alguma oração especial? Ou método especial, pra você falar com Deus?
R - Uma vez uma pessoa falou pra mim, que, em Matheus, 6;9, tem aquela oração que todo mundo conhece, do Pai Nosso. Todo mundo conhece no mundo cristão, que "Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome". Só essa primeira parte, tem o grande segredo da vida. "Pai nosso, que estais no Céu", cara, quando eu entendo que existe algo maior que eu, mesmo que eu não acredite, que existe algo maior. "Pai nosso, que estais no Céu", é algo que eu não vou ter acesso tão fácil. "Santificado seja o vosso nome", a palavra santo, quer dizer separado. Então qual é o nome que Deus deixou pro homem, aqui onde vivemos na terra? É Jesus. Então "Pai nosso, que estais no Céu", santifica esse nome, que é Jesus, invocar Jesus. Isso é um negócio, não é místico, não é religioso, não denominacional, não é desrespeitoso, mas quando você invoca esse nome, que você entende que tem um pai, que esta no céu, e você invoca esse nome pra dentro de você. "Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino". Então quando eu invoco esse nome, eu trago um reino pra dentro de mim, eu trago um reino que é acima da minha inteligência humana. Se tem alguma coisa especial é simplesmente falar esse nome, Senhor Jesus, é trazer esse nome pra você. Isso mudou a minha história e tem mudado a história de muitas pessoas, que a gente fala, que Jesus fez e tem deixado pra cada um de nós. Mas não no sentido religioso, pois pensa num cara que odiava religião, eu ainda odeio religião. Odiar é uma palavra muito forte, porque a religião ela separa, e separar não é o propósito de Deus, e sim o propósito é que a gente viva em paz, independente do que você pensa, de como você vive, que a gente viva em paz. A maneira especial, que eu aprendi, é chamar esse nome pra dentro de você dizendo simplesmente: "Oh senhor Jesus", isso mudou a minha história.
P/1 - Você disse que tem duas empresas, você pode falar um pouco da segunda empresa? Por que foi criada? O que te levou a criar?
R - A PazCientes é uma empresa que ajuda pacientes, família e cuidadores a entender e ressignificar esse momento da finitude, que é um momento de morte, ou de quando recebe um diagnóstico. Então durante anos eu atendi. Hoje eu tenho uma equipe que atende, eu atendo bem menos do que era antes. Mas a gente vai até a casa da pessoa para ouvir a pessoa, ouvir esse familiar e entender qual é essa história, o que tem no meio dessa história, quem são os personagens dessa história, em que momento essa trama está, como nós podemos ajudar essa história a dar uma reviravolta, em que momento essa história vai mudar o rumo dela, antes dessa pessoa morrer. Nesse trabalho da PazCientes eu exercitei o ouvir, e não fazer as coisas de prateleira, como existe no mundo corporativo: "Ah, um treinamento de liderança. Ah, tá aqui!”; “Ah, o treinamento pra equipe. Ah, tá aqui”. Eu descobri que no mundo corporativo eu poderia usar a mesma técnica da PazCientes, que é ouvir, entender a necessidade do cliente, entender qual é o sentimento por trás, entender a expectativa que essa pessoa tem, e o resultado que ela quer. Eu faço isso estudando as pessoas, criando um padrão, criando um sistema de entrega, de elenco, processo, como vai ser, qual é a data, como vai ser o cenário de entrega disso, pensando na experiência da pessoa. Então, o que eu faço na PazCientes eu faço no mundo corporativo. Que a gente percebeu que a parede que divide, eu aprendi isso com o Wellington, que é o fundador dos Doutores da Alegria, que a parede que divide o hospital e a empresa é muito pequena, ou o cara está internado aqui, ou está internado aqui. E esse é o mercado que eu atuo, ou a pessoa está internada em casa, no hospital, ou numa clínica, ou ela está internada no mundo corporativo. Então eu trato estes dois tipos de pacientes, o paciente que está em fase terminal e recebeu agora o diagnóstico e esse paciente que tá doente e não sabe, que tá desanimado e não sabe. E eu atuo com a Love My Job, que é uma empresa de trilha de aprendizagem do mundo corporativo. É ensinar as pessoas de maneira diferente a viverem a sua história, é ensinar em qual nível tenho que subir pra alcançar as coisas na vida, então em que nível você está, eu vou te levar para um próximo nível, e depois pro próximo nível, próximo nível, pra alcançar aquilo que você quer na vida, não somente relacionado a dinheiro, mas relacionado a caráter, a virtudes, relacionado ao que eu quero como família, ao que eu quero como pessoa, o que eu quero transformar, o que eu quero deixar. É assim, herança é o que deixo pra alguém, legado é o que eu deixo em alguém. Então, no mundo corporativo as pessoas estão pensando em deixar herança para alguém e nós mudamos essa história, mostrando que você tem um legado que você precisa deixar em alguém. Então o trabalho da Love My Job tem esse intuito, os dois têm a mesma alma, o mesmo coração, que é cuidar de pessoas. Ou você vai fechar os seus olhos pra essa vida, ou você precisa abrir os seus olhos pra essa vida, é isso que a gente faz.
P/1 - A sua arte de palhaço também aparece?
R - Sim, é o fundamento do negócio, o palhaço ele tem uma função nesses dois ambientes, uma função invisível que as pessoas não veem. Mas o palhaço, a origem deles vem lá dos reinos, onde o rei pedia para os seus conselheiros buscarem na rua os artistas que tinham na rua pra trazer pra dentro do reino. O olheiro ficava de olho para ver quem se destacava. Então tinha o cara que fazia malabares, o cara que atirava facas, e apareceu um personagem chamado bufão, que usava roupas soltas e imitava as pessoas. Esse olheiro pegou esse personagem e levou pra dentro do reino. Quando esse personagem passou para dentro do reino, ele passou a alertar o rei para algumas coisas utilizando o bom humor. Esse personagem, o bufão, dava um toque na cuca das pessoas, e fazia as pessoas repensarem o seu status quo. Posso falar, como exemplo, um rei que falava: "O que vocês acham, conselheiros, de pintar o castelo de amarelo?". E acontecia uma coisa que acontece até hoje no mundo corporativo, que é o pensamento grupal: ninguém discorda porque ele tem mais poder que você, então todos diziam: "Ah, vai ficar lindo". E esse personagem, bufão, dizia: "Ah, vai ficar lindo, de longe vai parecer uma grande gemada". Então o rei ria daquilo e pensava: "Eu não quero que o meu reino fique parecendo uma grande gemada". Então ele dava um toque na cuca e conservava o pescoço dele. Então esse personagem, com a Revolução Industrial e o término de muitos reinos, esse personagem voltou pra rua. Quando ele voltou pra rua existia um novo movimento chamado circo, e esse circo gestou esse personagem chamado bufão, o transformando em palhaço. Então o palhaço tem o dom de dar um toque na cuca das pessoas, com muito bom humor, conservando o seu pescoço, e transformar esse ambiente, como a carta do coringa, que é o Joker, que é o bobo da corte. Esse é o bobo da corte, aquele que chega, às vezes não pra ganhar o jogo, mas ele chega pra mudar o jogo. Você acha que está com todas as cartas na mão, você não sabia, mas tem essa aqui, entra o palhaço. Então, o que eu faço é deixar o palhaço entrar nesse contexto hospitalar, na medicina, e nesse contexto corporativo, onde você acha que precisa matar um por dia, ou não lidar com essa emoção, não lidar com esse amor. Chegamos com essas cartas nesses dois locais. Eu faço você pensar de outra maneira aqui, e faço você pensar de outra maneira aqui. Esse é o fundamento dessas empresas.
P/1 - Quais os seus sonhos agora?
R - Os meus sonhos? Estava pensando nisso esses dias. O meu sonho é ser um grande pai pros meus filhos e um grande marido pra minha esposa. Essa tem sido a minha maior batalha. No mundo profissional eu não tenho grandes sonhos, quero continuar transformando a vida das pessoas. Mas, em casa, o meu grande sonho, o meu grande desafio, sonho sem meta fica um pouco solto, é me tornar um grande pai pros meus filhos e deixar esse legado neles: é entender o que é caráter, o que é se comportar de maneira ética, o que é ser uma grande pessoa, o que é exercitar o amor, o que é exercitar a piedade, exercitar a compaixão, exercitar a humildade. Esse tem sido o meu maior sonho.
P/2 - Quais foram os seus papéis de palhaço na televisão, ou em outros momentos?
R - Eu trabalhei como palhaço muitos anos em festas infantis, depois fiz muitas peças infanto-juvenil. No teatro infantil eu conheci uma apresentadora de televisão chamada Jackeline Petkovic, que desde que a gente se viu a gente se apaixonou. Ela gostou muito de mim, eu gostei muito dela, nós somos muito amigos. E a Jackeline me disse que iria ter um teste no SBT, e perguntou se eu queria fazer. Eu falei: "Claro!". Eu fui no teste, chegando lá só tinha eu no teste, e o diretor pediu para fazer uma voz de livro, eu fiz uma voz de livro. Ele pediu uma voz de criança, eu fiz uma voz de criança. Ele pediu pra eu fazer a voz de um personagem, que era o Melocoton. A Eliana estava saindo do SBT, a Jackeline estava entrando, e tinha o Melocoton. E o diretor no final falou para mim: "Você está contratado". E eu fiz durante quatro anos o Melocoton. Fiz o Ramon, fiz o Piu e Pia, trabalhei no Disney Cruj, trabalhei no Programa do Ratinho, fiz o Xaropinho, fiz um monte de coisa dentro da televisão. Trabalhei no Programa do Silvio Santos, no Topa Tudo por Dinheiro, no extinto Topa Tudo por Dinheiro, trabalhei muito tempo lá, fazendo essas pegadinhas. Foi incrível, foi uma transformação.
P/2 - Com essa transformação, você tem noção do que você era e pra onde você foi com esses trabalhos?
R - Eu tive a sorte de ter tido excelentes professores por onde eu passei. Quando eu fui palhaço eu tive excelentes professores, quando eu fui do teatro eu tive excelentes professores, quando eu fui pra área da saúde eu tive excelentes professores, quando eu fui pro mundo corporativo eu tive excelentes professores. Então, em cada ciclo da minha vida eu encontrei pessoas que me levaram pra outro nível, exatamente como eu faço hoje com as pessoas, eu ajudo as pessoas a passarem de nível, como eu fui ajudado. O que foi realidade pra mim, eu transformo em realidade para as outras pessoas.
P/1 - Como foi contar a sua história?
R - Foi incrível, vocês fizeram eu relembrar de coisas e tocar em coisas que eu sempre falei, mas hoje foi diferente, de lembrar de algumas coisas, de como a vida passa rápido, e como é importante, isso eu acertei na minha vida, como é importante você ter bons relacionamentos. Eu estou aqui hoje dando essa entrevista por causa de uma pessoa, que é aluno de vocês, que me indicou pra estar aqui. É uma pessoa que eu conheci na época do teatro, chamada Gomer, que é madrinha do meu casamento, uma pessoa que sempre acreditou no meu trabalho, que sempre confiou no meu trabalho, em todas as fases. Em todos os ciclos a gente senta pra conversar: "O que você precisa?"; "E agora, o que eu preciso?". É sempre essa troca. Então eu estou aqui por causa de um bom relacionamento, e agradeço a vocês por essa oportunidade de contar um pouquinho da minha história.
P1: Nós que agradecemos.
R: Muito bom, muito bom!
[FIM DA ENTREVISTA]
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