Quando fui começar a escrever essa história, a pergunta inicial do site era: \"Essa história é sobre você? Ou outra pessoa?\"
Pensei: \"As duas coisas\".
Difícil decidir.
Na verdade, essa história, não é uma história. São várias.
\"In memoriam\".
Diz o ditado que \"depois que a gen...Continuar leitura
Quando fui começar a escrever essa história, a pergunta inicial do site era: \"Essa história é sobre você? Ou outra pessoa?\"
Pensei: \"As duas coisas\".
Difícil decidir.
Na verdade, essa história, não é uma história. São várias.
\"In memoriam\".
Diz o ditado que \"depois que a gente morre, vira santo\".
Na nossa família não.
É quando a gente se reúne para dizer: \"Ele era insuportável\". Kkk
Brincadeiras à parte. Mentira...a gente fala mesmo. Kkk. Não perdoamos.
Nós três juntos, éramos o puro suco do sarcasmo. No final das nossas conversas, sempre um de nós soltava: \"Besta\".
Desde que me conheço por gente, meu irmão vivia em encrenca e nós, eu e minha outra irmã, tínhamos que livrar a cara dele.
Lembrando que essa mesma irmã, foi alguém que ele colocou fogo. Isso mesmo, colocou fogo. Nela e nele mesmo. Ele 8, ela 6. Eu estava fora disso, porque tinha acabado de nascer e meus pais estavam no hospital.
Ele era mais velho que nós duas, mas mais perigoso.
Eu é que não queria ser a mãe dessa criança. Kkk
Cresceu abaixo de surra.
Fugiu de casa quando nosso pai faleceu, aos 10 anos de idade e carregou ela junto, com 8 anos. Que dupla.
A verdade é que foi difícil perder o pai.
E ele encontrou um jeito de compensar isso aprontando muito e deixando a gente de cabelo em pé. Se meteu em várias frias. A vida toda. Mas, sabia que se desse errado, era: \"Chama as gurias\".
Na adolescência vivia caçando coisas no mato. Chegava em casa e ia para cozinha, limpar e fritar.
E nos fazia de cobaia. Quando perguntávamos o que era \"aquilo\" que estávamos comendo, a resposta sempre nos fazia vomitar.
Terrorista nato.
Ia para os campeonatos de futebol, sem permissão. Quando voltava para casa, nossa mãe estava sempre esperando para ter \"aquela conversa\".
Fugiu da Escola aos 12 anos e disse que nunca mais voltaria. Estava na 6° série.
Ficou fora por 6 anos.
Odiava a Escola. Mas, tinha uma inteligência que ninguém entendia. Criava e executava projetos que até hoje guardamos os rascunhos.
Trabalhava pra caramba.
Nos dias de folga, estava sempre no telhado da casa, inventando moda.
Até cair de lá de cima.
Um fato curioso que não temos resposta até hoje... Certa feita, ele sentado no meio fio da calçada, com a perna esticada, comendo mosca, deixou um ônibus passar por cima do pé.
Pé estraçalhado, uma surra a menos.
Por quanto tempo isso duraria?
Não sabemos se foi de propósito. O fato é que fez nossa mãe correr feito louca com ele. Conseguiu chamar a atenção.
O pé arrebentado não impediu que fosse caçar passarinho, colher butiá, pescar e acampar.
Vivia fora de casa.
Mas, chegou a hora de crescer. Ter uma família.
Esse é outro capítulo da vida dele, que não está na nossa jurisdição. Kkk
Só o que podemos compartilhar é que ele ficou dias acampado no hospital, quando o filho de 6 anos teve uma pneumonia. Não arredou o pé.
Nos últimos 4 anos, tivemos a oportunidade de lembrar juntos, essas histórias.
Antes de falecer, nosso irmão bagunceiro virou avô.
O primeiro de nós.
O tempo voa. E ele é limitado.
Mas, ele cumpriu o seu, de todas as formas possíveis. Cumpriu e foi feliz.
Ainda conseguimos ouvir sua voz perguntando: \"Tem docinho?\"
E agora, guri infernal?
Tu está em paz?
Nós também.
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