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Personagem: Cristino Wapichana
Por: Museu da Pessoa, 24 de abril de 2019

A História é dona de si

Esta história contém:

A História é dona de si

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Eu sabia que era Wapichana, no entanto, não assumia, pela violência como a gente era tratado e sempre falava assim do civilizado: “Olha o civilizado”, como se o civilizado fosse a melhor coisa, e no fundo, é só gente. Gente que maltrata gente.

Eu lembro quando eu trabalhei em borracharia quando era adolescente, o cara me chamava de índio e eu tinha a maior raiva disso. Eu o xingava, até, na cabeça, mas eu achava isso porque quando falava de índio era aquele ser atrasado, sujo, preguiçoso, era tudo de ruim, então eu estava, embora na cidade, sendo tratado com toda essa carga suja que a sociedade aprendeu, que o colonizador colocou e vem ensinando que indígena é isso. Nunca que ele é gente, que ele é igual ao outro, que tem a mesma potencialidade. Mas essa carga permanece até hoje e aí eu ficava pensando: “Poxa vida, que desgraçado!” Mas eu terminei, lá pelos 20, 25, mais e falei: ‘Não. Eu sou. Nada do que eu fizer, falar, vai mudar. Eu sou isso. Eu tenho que assumir isso. Eu sou wapichana, agora eu vou atrás”.

Mamãe contou muita história pra gente, é a que mais contava história. Vovó contava uma ou outra história. Lá tem um igarapé, na comunidade, que tem locais que há muitas pedras redondas, como se fosse uma sobreposta à outra. Por dentro dá pra você nadar, água bem fria, é um lugar quente pra caramba... E a vovó falava, uma tia também contava uma história assim, que ela viu uma sereia lá, uma tia viu, casada com meu tio. E ela conta, assim, com uma força, e que ela teve febre por três dias quando ela viu essa sereia.

A sereia olhou pra ela, depois que olhou pra ela, que ela desceu, ela era menina, correu pra casa e teve febre por três dias. Bom, o lugar está lá e embora eu tenha 47 anos, eu vou lá e o que me vem? A memória daquela sereia. A mamãe contava a história de umas pedras que andavam à noite. Elas mudavam de lugar. Deixava marca. Eu ando no lugar e, quando eu estou...

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Dados de acervo

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ENTREVISTA DE CRISTINO WAPICHANA

ENTREVISTADO POR JONAS SAMAÚMA

GRAVADO POR JORGE RAINHA

PROJETO “Histórias Indígenas”

ENTREVISTA NÚMERO DOIS

MEMÓRIA INDÍGENA

PROJETO CONTE SUA HISTÓRIA

MUSEU DA PESSOA

TRANSCRITO POR SELMA PAIVA

Revisado por: Jonas Samaúma

P/1 – Muita gratidão por você estar abrindo seu espaço! Queria, primeiro, saber, assim, o lugar que você nasceu e o ano.

R – Eu nasci em Boa Vista, a capital de Roraima, embora meus pais morassem no interior, ela foi pra cidade, onde eu pudesse nascer na maternidade. Nasci e voltei pro lugar de origem.

P/1 – E era uma aldeia?

R – Era uma fazenda do meu pai, afastado da aldeia. Havia aldeias próximas, mas é afastada.

P/1 – Antes de contar como você veio ao mundo, eu queria primeiro que você contasse o que você sabe, um pouco, da história dos seus pais e avós.

R – Minha vó é Wapichana, meu avô Karapiá, que também sai de uma linhagem Wapichana. Minha vó é de 1910, morreu aos 105 anos, em 2015. Meu avô não sei quando ele nasceu, também não lembro quando ele morreu, mas tem bastante tempo que ele morreu. Uns 20 anos, talvez. 15, 20 anos que ele morreu. Uns 20 anos, acredito. E nasceram no Araçá da Serra, na região do Cotingo, hoje é Reserva Raposa Serra do Sol, onde a maior parte dos meus parentes ainda moram. Minha mãe nasceu nessa comunidade, Araçá da Serra e, aos 12, 13 foi pra cidade, porque era comum as pessoas que tinham um pouco de posse pegar indígenas pra ajudar nos afazeres de casa. Então ela foi, nessa começou a ter filho muito cedo, aos 13, 14 anos e meu pai já foi de um segundo encontro e com ele foram 12 filhos. Sete homens, cinco mulheres. Dois homens partiram, aí ficamos cinco casais. Todos tiveram filhos. E meu pai teve mais um casal fora, no Piauí, que ele é piauiense.

P/1 – Você sabe como seu pai foi pra lá?

R – Meu pai foi fugido da fome, da violência dos homens donos de fazenda, né, dos coronéis. E ele saiu -...

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