P/1 – Olá Santo. Obrigada pela sua presença. O Museu da Pessoa tem prazer em recebê-lo aqui. Para gente começar, por favor, seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Santo Donizeti Rodrigues Lazari. Nascido em União Paulista no estado de São Paulo, 3 de novembro de 1955.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Salvador Rodrigues Gomes e Juliana Lazari Rodrigues.
P/1 – E conta um pouquinho da história dos seus pais para gente. Como eles se conheceram?
R – Meus pais se conheceram... o meu pai era descendente de espanhol e minha mãe de italiano. Se conheceram e rapidamente se casaram e foram morar em propriedade, em sítio. Em fazenda. E é isso. Somos uma família de sete irmãos. Cinco homens e duas mulheres.
P/1 – União Paulista mesmo?
R – União Paulista.
P/1 – Seu pai e sua mãe são de União Paulista?
R – Minha mãe é do interior de São Paulo. Meu pai também, no interior de São Paulo.
P/1 – Uhum. E cresceram cada um na sua cidade? Você sabe um pouquinho dessa história? Onde eles passaram a infância?
R – Não sei.
P/1 – Eles já chegaram em União Paulista e se conheceram lá?
R – Eu não sei muito.
P/1 – Conta um pouquinho da sua infância então Santo.
R – Eu nasci como te falei, em 13 de novembro de 1955. Com quatro, eu ia fazer cinco anos, eu perdi o meu pai em um acidente. E ficou assim um pouco difícil para a minha família. Então foi bastante difícil para mim perder o meu pai logo assim. Pai era uma referência que eu tinha. E, apesar da minha mãe ser uma pessoa muito presente na minha vida e eu ser o mais novo da família, eu senti bastante dificuldade. Mas na medida do possível, eu morava na fazenda, mas tudo correu assim bem até a gente chegar à adolescência. Foi tudo tranquilo.
P/1 – A diferença entre você e seu irmão mais velho é de quanto tempo?
R – Eu tenho um irmão... hoje eu...
Continuar leituraP/1 – Olá Santo. Obrigada pela sua presença. O Museu da Pessoa tem prazer em recebê-lo aqui. Para gente começar, por favor, seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Santo Donizeti Rodrigues Lazari. Nascido em União Paulista no estado de São Paulo, 3 de novembro de 1955.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Salvador Rodrigues Gomes e Juliana Lazari Rodrigues.
P/1 – E conta um pouquinho da história dos seus pais para gente. Como eles se conheceram?
R – Meus pais se conheceram... o meu pai era descendente de espanhol e minha mãe de italiano. Se conheceram e rapidamente se casaram e foram morar em propriedade, em sítio. Em fazenda. E é isso. Somos uma família de sete irmãos. Cinco homens e duas mulheres.
P/1 – União Paulista mesmo?
R – União Paulista.
P/1 – Seu pai e sua mãe são de União Paulista?
R – Minha mãe é do interior de São Paulo. Meu pai também, no interior de São Paulo.
P/1 – Uhum. E cresceram cada um na sua cidade? Você sabe um pouquinho dessa história? Onde eles passaram a infância?
R – Não sei.
P/1 – Eles já chegaram em União Paulista e se conheceram lá?
R – Eu não sei muito.
P/1 – Conta um pouquinho da sua infância então Santo.
R – Eu nasci como te falei, em 13 de novembro de 1955. Com quatro, eu ia fazer cinco anos, eu perdi o meu pai em um acidente. E ficou assim um pouco difícil para a minha família. Então foi bastante difícil para mim perder o meu pai logo assim. Pai era uma referência que eu tinha. E, apesar da minha mãe ser uma pessoa muito presente na minha vida e eu ser o mais novo da família, eu senti bastante dificuldade. Mas na medida do possível, eu morava na fazenda, mas tudo correu assim bem até a gente chegar à adolescência. Foi tudo tranquilo.
P/1 – A diferença entre você e seu irmão mais velho é de quanto tempo?
R – Eu tenho um irmão... hoje eu estou com cinquenta e cinco anos e tenho irmão de setenta e quatro, e outros com menos. O mais velho tem setenta e quatro, e eu com cinquenta e cinco e ele com setenta e quatro, o máximo e o mínimo. E tem duas irmãs também.
P/1 – Então, quando você era pequeno que o seu pai faleceu, o seu irmão já ajudava em casa também?
R – É, a gente morava em fazenda e a gente trabalhava. Eu fui trabalhar muito cedo, porque a gente tinha que trabalhar. Trabalhar desde os seis anos, eu comecei a trabalhar. Porque família pobre, filhos, as coisas difíceis e já começamos a trabalhar logo desde... E aí foi passando o tempo. Eu queria estudar, os mais velhos não cooperavam porque nenhum deles estudou, só tiveram o quarto ano e eu queria estudar mais um pouco e eles não concordavam com isso. Então foi meio difícil para mim, uma passagem, transição, difícil. Fiquei até os dezoito anos em casa, depois dos dezoito anos eu fui cuidar da minha vida. Saí de casa e fui cuidar da minha vida.
P/1 – Então até os dezoito você não estudou?
R – Tentei. Fui até o quarto ano. Mas depois tentei fazer para o Ginásio, naquele tempo ainda era Ginásio. Mas não consegui por vários obstáculos que impediu. Eu não consegui. Depois que eu saí aí sim, eu consegui até o Segundo Grau.
P/1 – E a escola que você conseguiu ir era perto da fazenda também?
R – Era na cidade próxima, três quilômetros da fazenda.
P/1 – E como você ia para lá?
R – Ah... ia de animal, cavalo. Ia assim, não tinha transporte não.
P/1 – E tinha um tempinho que você brincava com os irmãos? Quando não estava estudando ou trabalhando?
R – Nem tanto. Eu era o mais novo e eles todos eram bem mais velhos, então não tinha tanto assim não. Era mais o fazer da escola, a escola e a aula e trabalhar as coisas para o dia seguinte.
P/1 – Com o que você trabalhava?
R – Trabalhava assim; na lavoura. Ajudava, cuidava de criação. Porco, galinha e gado. Desde pequeninho trabalhando com isso porque a gente tinha que fazer.
P/1 – E a terra era de vocês mesmo?
R – Era uma pequena propriedade, mas era da gente mesmo.
P/1 – Hum... Vocês plantavam alguma coisa?
R – Plantava.
P/1 – O quê?
R – Só café e um pouco de gado também. Mas um pouco de gado. O gado era pouco, mais era café mesmo. Aí, com os dezoito anos, eu resolvi deixar e procurar um outro. Aí eu conheci uma pessoa, minha esposa, na época também. E assim que eu saí também eu logo me casei com ela também e vim morar em Ribeirão Preto, onde eu estou até hoje.
P/1 – E como é que foi sair de casa? Por que aí, com dezoito anos, você saiu e foi morar em outra cidade?
R – Isso. União Paulista, cidadezinha pequenininha, bem pequena. Fui morar na cidade maior, bem maior. Interior também, mas bem maior. Encontrei muita dificuldade também, porque logo que eu vim a minha esposa já veio comigo também, a gente se casou. Encontrei muita dificuldade, não foi fácil não. O começo foi muito difícil até engajar tudo, conseguir emprego. A gente não tem qualificação, não tinha. Então foi muito difícil. No começo foi bastante difícil. Mas aos pouquinhos a gente foi se ajeitando, foi dando certo e foi conduzido da maneira melhor possível.
P/1 – O que te oferecia essa cidade naquele momento, que você mudou? O que ela podia te oferecer, a procurar emprego?
R – Eu, chegando em Ribeirão Preto, eu não tinha qualificação. Porque eu vinha do interior e trabalhava na lavoura. Eu não tinha qualificação. Então eu comecei a procurar... o que eu conseguisse encontrar estava bom. Eu peguei uma fase que vim para Ribeirão Preto, no final de 1974 para 75 e era uma época que estava bastante difícil conseguir qualquer tipo de emprego, mesmo não fazendo referência a que tipo de emprego. A gente, qualquer coisa que aparecesse para gente trabalhar estaria bom. Foi bastante difícil, passei um, dois meses que eu não conseguia nada. Então foi difícil. Mas consegui um emprego numa empresa de ligas para laje. Trabalhei um tempo lá e o tempo foi passando, não fiquei muito tempo lá. Estava indo bem e tal, mas eu fiquei sabendo que uma transportadora precisava de uma pessoa para trabalhar. Aí fui procurar essa transportadora e essa transportadora falou: “Realmente eu estou precisando de um funcionário para trabalhar sim”. Mas como era como eu sou hoje, com um metro e oitenta e dois, mas eu pesava só sessenta e dois quilos, e era um trabalho pesado o proprietário da transportadora falou: “Realmente, eu preciso de um funcionário, mas acho que você não atende as minhas necessidades porque o trabalho aqui é pesado”. Ele não me conhecia, não sabia quem eu era e que eu sabia trabalhar com coisas pesadas, apesar de ser muito franzino. Aí eu falei se ele me dava oportunidade de eu experimentar o serviço. Ele disse: “Pode vir, mas eu não vou te registrar”. “Não tem problema.” Aí eu vim. Trabalhei com ele uma semana, no final da semana eu perguntei para ele e ele: “Pode trazer a carteira que eu já vou te registrar”. E eu já vim, registrei. Aí com pouco tempo que eu trabalhei com ele, outras transportadoras que faziam o cruzamento no mesmo local, também se interessaram pelo meu serviço. Eu estava acostumado a fazer serviço pesado e trabalhar o dia todo. Já começou, outras transportadoras que carregavam no mesmo local queriam que eu fosse trabalhar com eles. Daquilo que eu não tinha o caminho aberto para eu começar, de repente começou a surgir, outro e outro. De repente já tinha três, quatro querendo que eu fosse trabalhar para eles. Até teve uma época que eu pedi para ele: “Vou parar de trabalhar contigo porque eu tenho uma oferta melhor”. “Quanto que é?” Eu falei e ele cobriu a oferta e eu acabei ficando. Fiquei mais um tempo com ele, mas não foi muito tempo também. Nisso, um gerente da White Martins, que eu trabalhava com transportadora que prestava serviço para White Martins. E ele me vendo trabalhar lá, um dia ele... eu vi que ele parou o carro, encostou subiu, ficou olhando o meu trabalho, mas não me falou nada. Aí mandou me chamar. Me chamou lá, que era num outro local. Ele me chamou lá e perguntou o que eu precisava. Eu até fiquei preocupado: “Será que eu tô fazendo alguma coisa que não é do agrado dele ou da empresa?”. Aí ele me chamou: “Você viu que eu estava te olhando lá?”. “Sim, o que aconteceu?” Ele falou: “Não aconteceu nada. Eu quero ver se você quer trabalhar na empresa, na White Martins”. Até então eu estava prestando um serviço, como terceiro, para a White Martins, mas não conhecia bem o que era a White Martins ainda. O que era a White Martins. Aí falei com ele e tudo, aí ele me fez a proposta, eu pensei um pouco. Vim para White Martins no momento para ganhar até um pouco menos do que eu ganhava na transportadora, mas ele disse: “Vem, que, no dia de amanhã, você não se arrepende”. E foi por aí.
P/1 – Nessa transportadora, você trabalhava com o que exatamente?
R – Era com entrega de produtos da White Martins.
P/1 – Cilindros?
R – Cilindros.
P/1 – Então você carregava e descarregava…
R – Isso. Abastecia na usina. Fazia hospitais e indústrias, entregando gases para…
P/1 – Mas você ficava onde?
R – Eu ia de manhã pegar o caminhão. Carregava e saía com as entregas todas. À tarde eu voltava para a fábrica da White Martins. Descarregava o caminhão e, se desse tempo, eu ainda carregava no mesmo dia, para no outro dia eu sair fazendo entregas.
P/1 – E isso em Ribeirão Preto?
R – Ribeirão Preto.
P/1 – E tinha fábrica da White em Ribeirão mesmo?
R – É. Tinha uma White Martins lá em Ribeirão Preto, que é essa que eu trabalho hoje, em Sertãozinho. Ela saiu de Ribeirão Preto e foi para Sertãozinho. Por problemas necessários de fabricação de produtos, ela se deslocou de Ribeirão Preto para Sertãozinho que é próximo, trinta quilômetros.
P/1 – Ahan. E você dirigia o caminhão também?
R – Dirigia. Trabalhava. Tinha o proprietário que trabalhava e dirigia o caminhão também.
P/1 – Você ficou sabendo da White quando você entrou nessa transportadora?
R – Nessa transportadora. Alguém, não lembro a pessoa, que me informou que essa transportadora estava precisando de um funcionário e eu fui lá atrás e acabei indo trabalhar na White.
P/1 – Até então você nunca tinha escutado falar?
R – Não. Eu já tinha ouvido falar porque eu estava prestando serviço terceirizado de entrega. Mas até antes eu não conhecia a White, eu nem sabia que ela existia.
P/1 – Você falou que foi para Ribeirão já casado, como é que vocês se conheceram?
R – Já. Minha esposa?
P/1 – Sua esposa.
R – Minha esposa é o seguinte. Eu morava em União Paulista, num sítio próximo a União Paulista e minha esposa, ela veio de outro lugar, Floreal, próximo lá. E ela veio estudar no colégio em que eu estudava. A gente estava cursando o segundo ano, bem novos e a gente se conheceu. E dali fomos conversando. Namoramos por seis anos. Casamos muito novos, casamos com dezoito para dezenove anos, os dois com a mesma idade. E estamos juntos, graças a Deus, até hoje.
P/1 – Vocês se casaram em união Paulista?
R – Em União Paulista.
P/1 – Teve festa?
R – Teve.
P/1 – Quer contar para gente?
R – Não, tem muito para contar não. A gente casou e tal. E foi uma fase difícil porque foi quando eu falei que ia sair de lá. Porque eu tinha alguns problemas familiares. Mas eu precisava sair de lá, ir para uma cidade maior. Pensei Rio Preto, Campinas, São Paulo e Ribeirão. Mas eu já tinha algum conhecimento na cidade de Ribeirão Preto, conhecia um pouco. Então resolvi ir para Ribeirão. E, quando eu falei que viria para Ribeirão, ela preferiu casar e vir comigo já, não deixar para depois. E como eu te falei, foi difícil no começo, a gente não tinha emprego. Mas foi tudo com muita luta.
P/1 – E ela ficou sem emprego também?
R – Não, ela sempre trabalhou muito. Ela mexe com costuras. Mexe com roupas. Mas ela sempre trabalhou para ela mesma.
P/1 – Uhum. Daí então você entrou na White Martins. Você se lembra como é que foi? Você chegou lá e fez entrevista com alguém?
R – Isso fiz uma entrevista com eles lá. Fizeram várias perguntas e tal. Eu não fui assim tão questionado porque eu já vinha prestando um serviço que todo dia eu estava dentro da empresa. Cedo, às vezes, pelo meio dia e à tarde. A gente sem perceber, eles estavam…
P/1 – De olho…
R – Verificando que eles estavam precisando de funcionário. Então não foi assim tão difícil, foi mais a formalização só. Assinatura de contrato.
P/1 – E aí o senhor saiu da transportadora, que fornecia para a White.
R – Que prestava serviço.
P/1 – Isso, que prestava serviço para a White.
P/1 – E aí o senhor foi fazer o que lá na White?
R – Eu fui trabalhar com produção. Hoje eu trabalho com produção. Eu fui trabalhar, encher cilindro. Chamava assim: Produção de Gases. Eu fui trabalhar no enchimento de cilindros. Depois daí, isso foi em 1975, que eu entrei. Dia 25 de julho de 1975. Aí eu fiquei quase três anos trabalhando lá, com três anos que eu trabalhava lá – a gente tinha outros funcionários que trabalhavam com a gente lá; um saiu, outros foram transferidos para o almoxarifado, funcionários mais velhos, e na época não se encontrava funcionário que encarava tudo aquilo que a gente teria que fazer. Teria não, tinha que fazer no momento. Caminhões, encher vários cilindros. Então, por exemplo, precisava de dois funcionários, eu estava trabalhando sozinho no período. Aí com dois, três anos eu cheguei no mesmo gerente, ele ainda estava lá, e pedi que ele me mandasse embora. Ele falou: “Mas por que você quer ser mandado embora?”. “Porque o correto nosso é trabalhar dois de manhã e dois à tarde. Eu consigo tocar sozinho. Mas é que está muito. Entra um não para, entra outro e não para.” “Eu não vou deixar você ir embora não, continua que eu vou resolver o seu problema.” Aí ele perguntou para mim se eu tinha interesse em viajar, falei: “Tenho, não tenho problema não”. “Então continua lá mais um mês que eu vou resolver o seu problema, eu não quero que você saia.” E depois de um mês, antes de um mês, ele me chamou e me fez uma proposta para eu trabalhar com instalações de gases em hospitais, indústria. Aí eu fui trabalhar com outro profissional da área que tinha um bom conhecimento. Tinha dez anos de empresa e de conhecimento. E logo que eu fui trabalhar com esse funcionário, em menos de dois meses esse funcionário saiu da empresa. Ele pediu para sair da empresa. E aí eu acabei ficando sozinho e assumindo o meu posto e o dele. Acabei ficando sozinho e assumindo o posto. E aí eu trabalhei nove anos em instalações de gases. Parte técnica em instalações de gases em hospitais, indústrias. Quando foi em, acho que 1988 – eu fiquei nove anos –, eu acho que foi em 1988. Eles me forçaram até que eu fui trabalhar com equipamentos elétricos. Trabalhei seis anos com equipamentos elétricos, montando e fazendo demonstrações dos equipamentos elétricos. Máquinas para solda e corte. Fazendo demonstração para o cliente, levando o produto até o cliente e também fazendo manutenções. Quando foi dali seis anos eu fui, teve uma época também que foi para a área de vendas de produtos. Trabalhei com venda de máquinas, trabalhei com venda de produtos. Maçaricos, reguladores, bicos de corte, área de Produtos. Me afastei um pouco da área de Gases, fui para outra área. Eu estava muito bem em vendas, graças a Deus, e, quando foi em 1997, o gerente nosso foi promovido, ele era supervisor e foi promovido, e eles me chamaram para tomar conta, ser encarregado lá de Produção. Eu pensei bastante porque eu estava acostumado a trabalhar viajando, viajei muito. E pensei e resolvi aceitar, isso em 1997. De 1997, eu estou lá até hoje, em Produção. Voltei onde eu entrei.
P/1 – Tem alguns pontos que eu vou querer voltar, porque para gente que não entende de toda essa cadeia do gás, de toda a estrutura da empresa, para gente é importante saber de alguns detalhes. Tá certo? Você falou que trabalhou com enchimento…
R – Isso.
P/1 – Como é que era isso no dia a dia? A gente não teve ainda nenhum depoimento que contasse isso para gente. Como é que? Como é que era?
R – O enchimento?
P/1 – É.
R – Você, nós temos as usinas da White Martins que fazem a captação de gases do ar e depois ele é transformado em líquido para poder ter uma facilidade maior e, com uma carreta só, você transportar uma quantidade maior. Ele é transformado em líquido, vai abaixando a temperatura dele e transforma em líquido. Aí aquelas carretas da White Martins, ela leva até onde você tem o setor de enchimento da White Martins. Vamos supor, aqui em Americana nós temos uma produção de uma usina de líquido de gases do ar. Aí eu levo até a usina que produz, que faz o engarrafamento. Chegando lá, a carreta abastece os nossos tanques. Depois de abastecido os tanques, você trabalha. Coloca os cilindros na bateria, faz todas as inspeções necessárias do cilindro. Antes de encher vê válvula... todas as inspeções do cilindro que tem que ocorrer. Depois que o cilindro está ok, limpo, e se não tem problema nenhum. Depois você faz um vácuo nele. Uma aspiração interna para tirar qualquer resíduo que ele tenha dentro dele. Aí você começa a bombear. Você liga uma bomba e começa a puxar o gás líquido. Aí você passa dentro de um vaporizador, transforma de líquido para gás e faz o engarrafamento. Estando cheio, chegando à pressão necessária, você desliga a bomba, faz o fechamento de todos cilindros. Aí você vai lacrar, colocar adesivo, capacete e liberar para que seja... digitar a produção para que possa sair a nota fiscal e liberar para o caminhão fazer a entrega.
P/1 – E, nessa estrutura toda, o seu trabalho exatamente era qual?
R – Quando eu comecei?
P/1 – É. Quando você trabalhou com enchimento.
R – O meu trabalho era pegar esses cilindros que chegavam dos caminhões, inspecionar um a um. Montar as baterias e interligar o chicote. E, depois de tudo isso inspecionado, fazer vácuo e fazer o enchimento. Depois do enchimento era lacrar, colocar os adesivos, verificar tudo isso. E liberar para os caminhões carregarem. Era esse o meu trabalho quando eu comecei.
P/1 – E que probleminhas poderiam ter nesse meio tempo aí? Você pegava e tem que resolver esse problema.
R – Esses problemas aí você precisa acompanhar. A temperatura do cilindro, vazamento, um chicote que tá. Você tem uma bateria com um chicote alimentando sessenta cilindros, se tem um chicote que começa a vazar, você tem que desligar todos os cilindros, tem que soltar refazer a conexão. Ver se tem alguma coisa ou não, se é um simples reaberto. Você não pode encher os cilindros vazando. Pode dar um rompimento da alta pressão. E aí você volta, abre tudo de novo e bota para encher de novo. Eram essas coisas que aconteciam.
P/1 – Você teve algum treinamento, alguém te passou essas informações logo que você entrou?
R – Logo que eu entrei.
P/1 – E daí você foi para as instalações?
R – Instalações.
P/1 – Conta um pouquinho para gente. Como é que era? Vocês chegavam nos hospitais, estava tudo preparado? Chegavam com o equipamento? Como é que era isso?
R – As instalações nos hospitais, a gente, na época em que eu trabalhava – pois hoje eu estou fora deste setor há muito tempo –, a gente tinha um setor aqui em São Paulo que ele, o pessoal de vendas, ia lá negociar uma instalação com o cliente, vamos supor um hospital, aí ele vai colocar o centro cirúrgico, a UTI, os quartos e os apartamentos, ele vai colocar tantos pontos de tais gases. Oxigênio, gás medicinal ou gás anestésico. Aí você faz a venda, vem para o pessoal de Projeto, eles fazem um projeto e aí levanta todo o material que há necessidade para montar esta instalação e é mandado para o hospital, quando isso chega lá – hoje é e-mail, naquele tempo não era e-mail –, para que a gente vá no hospital e comece a fazer o trabalho. Você vai lá, pega o desenho, traça todo o roteiro para que você não tenha cilindro dentro dos quartos, UTIs e centros cirúrgicos. Então é tudo canalizado. Depois é rebocado, revestido e pintado. Você não vê nada. Só vê a tomadinha lá, saindo gás. Eu fiz muito dessas montagens de instalação.
P/1 – Que é completamente diferente de trabalhar com enchimento de cilindro.
R – Ah, completamente diferente. Você desenha a montagem, tubulação, você tem que traçar. Os pedreiros que estão na obra, você tem que pedir para que eles cortem, façam todos os encaixes certinhos para que você possa moldar, soldar e, depois de pronto, colocar os acabamentos. Depois do prédio pronto, você precisa colocar todos os acabamentos e liberar para que tudo esteja funcionando.
P/1 – E como que era a sua equipe? Quantos funcionários trabalhavam com você?
R – Como eu trabalhava na região de Ribeirão Preto, na época, a gente tinha uma equipe grande aqui em São Paulo, eu ficava mais sozinho e depois trabalhei um bom tempo com outro funcionário. Era só eu e mais um que fazia a região de Ribeirão Preto.
P/1 – Bastante trabalho só para dois também…
R – Ah... a gente rodava bastante. Ficava praticamente a semana toda fora de casa. Saía na segunda e voltava só na sexta ou no sábado.
P/1 – Vocês faziam daí... foi aí que começaram as suas viagens?
R – Foi aí que começou as minhas viagens. Trabalhar fora. Porque a gente fazia: Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Bauru, São José do Rio Preto. A minha região era essa daí. Eu não atingia para cá. Minha região era de Pirassununga para trás. Para cá, já era o pessoal de São Paulo.
P/1 – E aí passava a semana inteira fora?
R – A semana inteira.
P/1 – Só no final de semana para casa?
R – Só no final de semana.
P/1 – E a esposa?
R – Era difícil, muito difícil. As filhas cresceram... quando pequenas cresceram assim meio longe de casa. Mas era sábado e domingo e só. Foi bastante difícil.
P/1 – Mas de qualquer forma, você gostava de viajar? Você lembra das viagens?
R – Eu gostava de viajar. O começo sempre foi bom, mas depois você vai cansando de ficar fora de casa. Você sai na segunda, até a terça vai bem. Mas da terça em diante você não quer mais ficar fora de casa, você quer voltar para casa. Porque quem casa, quer casa. Mesmo trabalhando assim, eu tive outras oportunidades, outros convites para voltar a viajar, mas eu não quis não.
P/1 – E você disse que eram equipamentos em hospitais e indústrias. Como é que era esse trabalho, essa diferença aí?
R – A diferença é que você trabalha com instalação, nos hospitais você trabalha com uma tubulação específica. Cobre ou inox, dependendo do gás. E, nas indústrias, você trabalha com uma tubulação de ferro, ferro preto. É uma coisa mais rústica e grosseira. E as válvulas são diferentes. No hospital, você trabalha com as conexões todas cromadinhas, todas certinhas e, já na indústria, são válvulas maiores, com reguladores maiores que deem vazão para você trabalhar com maçarico de solda e corte de chapa. Então são duas coisas bem diferentes.
P/1– E na indústria era instalação também?
R – Instalação também.
P/1 – Você pegava os produtos e ia lá e instalava?
R – E montava. Fazia instalação também.
P/1 – Ah... conta um caso assim para gente. Vocês pegavam esses equipamentos da onde e levavam para onde?
R – Como assim, bem?
P/1 – Um caso. Você saiu um dia do trabalho. Eu vou em tal fábrica. Onde eles eram produzidos? Chegava em outro lugar e instalava? Como é que era?
R – Vamos supor. A parte de produto... vamos supor, se for medicinal era tubulação na parte de cobre. Então quem fazia o projeto já dimensionava. Tinha a equipe de compras que te direcionava já para o local. Já, os equipamentos na época em que trabalhava, vinham da nossa fábrica que a White Martins tinha no Rio de Janeiro. Lá no Rio tinha uma fábrica que produzia todos os equipamentos. Então, quando você ia para lá, tinha vez que até a gente levantava o projeto no cliente. Você ia lá fazer todo o levantamento, o croqui, mandava para o setor de projeto para poder... mas, quando você ia, esses materiais já eram encaminhados antecipadamente. Quando faltava alguma coisa, você fazia contato e eles nos enviavam. Mais ou menos assim.
P/1 – Daí você falou que depois de muito custo conseguiram levar você para equipamentos elétricos, é isso?
R – É, equipamentos elétricos. Não, porque eu gostava de trabalhar com aquilo que eu fazia. Hospitais e indústria. Embora seja muito difícil trabalhar dentro de hospitais. Que a gente saía de um e ia para outro. Às vezes eu não gostava de trabalhar em local que tinha muita criança. Às vezes você ia trabalhar num hospital e encontrava muitas crianças internadas, às vezes amarradas, tendo que tomar o remédio. Onde a mãe não está junto e, quando a mãe ia visitar e ia embora, aquelas crianças ficavam chorando, era terrível. Às vezes com o hospital funcionando, você tinha que fazer manutenção. Então essas coisas são um pouco difíceis. Mas faz parte. Aí eles me pediram para que eu fosse trabalhar com equipamentos elétricos. Então são áreas diferentes. Eu parei de trabalhar com a área de gases e fui trabalhar na área de Produtos, fui trabalhar com máquinas. Trabalhei, acho que por seis anos e aí voltei para gases de novo.
P/1 – O que você fazia exatamente?
R – Na parte de produtos. Eu falei, acho que eu falei meio rápido. Eu trabalhava com máquinas, com máquinas elétricas.
P/1 – Para solda?
R – Para soldas. A gente trabalhava desde retificadores até transformadores, tudo para solda. Máquina que solda a carroceria de veículos, de soldar equipamentos agrícolas. Máquina para tubulação, principalmente para tubulação de inox. Eu trabalhava com todo esse tipo de soldagem e também trabalhava com máquinas de corte. Máquinas que você coloca um desenho na mesa, ela lê o desenho e, conforme ela lê o desenho na sua mesa, ela vai cortando o desenho na chapa que você pediu para ela cortar. Você colocava na chapa o desenho que pedia para ela cortar. E fazia manutenção nesses equipamentos.
P/1 – Ah tá, então você tinha contato com os clientes que compravam esses equipamentos?
R – Nesses clientes. Eu viajava direto. Todo dia. Trezentos quilômetros para cá, cem quilômetros para lá, todo dia eu estava nos clientes.
P/1 – Quem eram esses clientes, você lembra?
R – Ah não lembro. São tantos que... são muitos clientes.
P/1 – E você conseguiu ver uma evolução, desenvolvimento nesses equipamentos? Como era quando você entrou? Houve alguma mudança da White neste sentido, dos equipamentos?
R – No corte são mais equipamentos que você vai utilizar para cortar uma chapa ou soldar. O maçarico para você soldar uma chapa, soldar um tubo. Agora, a parte elétrica é mais soldagem mesmo elétrica. Soldagem de tubo ou inox ou aço carbono. Eu acho que a White Martins sempre trabalhou com bons produtos, evolução, sempre a tecnologia vai melhorando, vai trazendo novos equipamentos. Hoje eu já não posso falar muito porque já faz quinze anos que eu estou fora e a gente não acompanha tanto a evolução hoje. Mas a White sempre trabalhou com bons equipamentos.
P – Santo, então depois que você saiu desses equipamentos que trabalhavam com solda, que é uma grande área da White. Um grande mercado mesmo.
R – Isso, um grande mercado.
P/1 – E foi para vendas?
R – Isso, fui para vendas.
P/1 – O que você vendia?
R – Trabalhando com o mesmo produto. Fui para vendas trabalhando com o mesmo produto. Para mim se tornou até fácil porque vários clientes já eram conhecidos. Já conhecia muito bem, então para mim foi fácil trabalhar em vendas. Fácil assim... No começo sempre é difícil, o cliente tem que ser muito bem trabalhado, bem visitado e atendido. Atenção ao cliente sempre é muito importante. Então essa parte foi uma parte curta, foram quatro, cinco anos por aí. Mas foi muito bom trabalhar em vendas, aprendi muito trabalhando em vendas. Gostaria até de voltar a trabalhar em vendas. (risos)
P/1 – Quais eram os seus desafios assim? Trabalhar com o convencimento do produto? Tinham concorrentes da White que…
R – Tinha e como tinham concorrentes. Vários concorrentes. Você tinha que mostrar a qualidade do produto. Tudo entra. Qualidade do produto, atendimento, prazo de entrega, atendimento depois que você coloca o produto no cliente, dar uma retaguarda para o cliente se ele tiver um problema com o produto. Ou fazer uma troca, ou se é um equipamento que precisa dar uma manutenção. Fazer a manutenção o mais rápido possível, que atenda para que o cliente não fique com esse equipamento parado. Isso aí.
P/1 – E você que fazia o mapeamento dos clientes ou os clientes vinham até a White?
R – Não, na parte de vendas eu visitava os clientes. Trabalhava, viajava e visitava os clientes. Vamos supor, saía de Ribeirão Preto na época, ia até Uberaba, Uberlândia, Araguari, São José do Rio Preto. Aquela região toda. Estou te falando da região mais longe, mas a gente pegava um alinhamento, uma rodovia e você ia visitando todos os clientes. Pelo menos uma vez por mês fazia uma visita para eles. E quando você não estava viajando, eles iam te passando o pedido e você ia mandando o produto para eles.
P/1 – E os novos clientes?
R – Os novos clientes você vai levantando. Você vai trabalhando, você vai encontrando novos clientes. Um barracão que está se levantando novo. Uma construção nova. Você tem que estar ligado em tudo. Tudo o que vai aparecendo de novo. Se você vê que tem perspectiva que vai vender um equipamento lá. Você pode passar uma, duas, três, quatro vezes, o cliente não te compra nada. Mas, na hora que ele precisar, ele vai lembrar que você vende aquele equipamento e vai acabar comprando.
P/1 – Uhum.
R – Bem visitado e bem atendido, alguma coisa um dia ele te compra.
P/1 – E qual era o diferencial da White em relação aos concorrentes? Por que ela conquistava e não os outros?
R – Os outros também conquistavam, não era só a White que conquistava. Mas a White era assim, os produtos dela eram bons, muito bom. O segmento da White Martins trabalha com o segmento de soldagem, oxicorte, gases para você usar nos equipamentos que você vai montar e usar. Você está instalando uma máquina TIG, vamos supor que você tenha a máquina para colocar lá, o argônio, o gás para atender, o regulador para colocar. Hoje eu estou fora, mas na minha época era assim. Você tem o fornecimento da máquina, fornecimento da tocha para usar, fornecimento do regulador para regular o gás, você tem o cilindro de gás para colocar lá e fornecer para o cliente. Você tinha um pacote completo para entregar para o cliente. Ele não precisava comprar uma parte aqui, sair correndo para comprar outra parte em outro lugar. Essa era uma das coisas que a White oferecia de diferencial. Eu não posso falar muito das coisas de hoje porque eu estou fora, eu falo das coisas que eu trabalhei.
P/1 – Desde que você entrou, a White já fazia todos os equipamentos? Você vendia o kit todo?
R – Não, não vendia o kit todo. Vamos supor, o cara quer comprar um equipamento para fazer tal coisa. Ele estava trabalhando e danificava só uma parte, a gente tinha para repor também. Reposição de uma peça, de uma tocha, de um regulador que danificou. Fazia manutenção de um regulador para gás dele. Então tinha um segmento.
P/1 – E daí você voltou para Produção?
R – Aí eu voltei a trabalhar em Produção. Já é uma coisa assim, bem diferente. Você não depende só de você, você tem um pessoal para trabalhar com você. É aquilo que eu te falei, você faz, chega os gases, é colocado no tanque, depois você bombeia, transforma para gás de novo, faz o enchimento. Aí você tem bastante gente para trabalhar com você. Aí você tem que olhar isso, olhar aquilo. Daí é bastante coisa para ver. Manutenção da fábrica, tudo. Bastante coisa para estar vendo. Não sou sozinho, eu tenho pessoas acima de mim que trabalham comigo, eu sou um simples encarregado. Eu tenho um engenheiro que trabalha comigo, uma pessoa boa, tenho um gerente. Então tenho que direcionar o pessoal que está trabalhando de dia, pessoal que está trabalhando mais à noite. Então você tem que estar sempre ligado.
P/1 – Mas, você que quis sair da área de Vendas e ir para Produção? Como é que se deu essa transição?
R – Não. Eu fui... me chamaram para tomar conta, ser Encarregado de Produção. Como eu estava te falando. Eu estava viajando há muito tempo e aí eles me convidaram. Até um dia eu estava preparando as minhas coisas para viajar e me chamaram. Dois gerentes me chamaram, gostariam que eu fosse assumir a Produção. Aí eu pedi: “Eu tô indo viajar hoje, vocês me dão um tempo até segunda-feira que vem, que eu retorno para gente conversar”. Aí eles disseram: “A gente não tem tempo, o nosso tempo é até amanhã de manhã”. E aí me deram o dia. “Você não vai viajar não. Vai para casa, pensa e amanhã você volta aqui e resolve se você vai aceitar ou não.” Não forçaram não. Não é que forçaram, o meu serviço eu poderia estar na área de vendas. Mas para não ficar viajando muito, porque eu viajava bastante, eu acabei aceitando. E é um trabalho bom, é legal, mas é totalmente diferente. Não depende só de mim, depende de outras pessoas que trabalham com a gente. É um trabalho diferente, a equipe…
P/1 – Mas a sua responsabilidade é observar o que está dando errado, ou o que está dando certo?
R – A gente tem que, vamos supor, durante o dia você tem que carregar, é uma comparação. De dia você tem que carregar cinco caminhões, às vezes, à noite, são sete. Às vezes de manhã são seis, dez. Pintura estão em ordem. Se não está faltando líquido dos tanques que são mandados da usina. Produtos que são enviados de lá. Produto que vai. Dois caminhões vão inteiros com todos aqueles cilindros para carregar todas as cargas completas. Se não vai faltar nada para ninguém. Se não vai ficar cliente sem ser atendido. É bastante coisa.
P/1 – Tem que pensar lá na ponta até o cliente.
R – Até o cliente. Porque não sou eu que vejo quem, o que vai precisar. Temos um setor de Distribuição. Ele pega, vai recebendo e faz um pacote. Aí quando está entrando a noite, vamos supor, à noitinha eles pegam quantos caminhões vão carregar, quem vai carregar e para onde vai, porque a gente fornece. Nós estamos em Sertãozinho, mas, hoje, a gente fornece gases até em Porto Velho, a três mil quilômetros de Sertãozinho, certo? Então a gente fornece gases para lugares longes. A Produção faz um levantamento e vai precisar disso, disso e disso, aí você tem que estar sempre atento. Se todos os gases vão ter, se vai dar para atender... se precisa fazer alguma modificação para que todos os caminhões saiam atendidos. Não fica ninguém sem carregar. Se tal ICR, que é da White Martins que tem em São José do Rio Preto, em Franca, em Barretos, Jaboticabal, Catanduva. Todas as IRC são representações da White que entregam e, de lá, eles distribuem. Para que nenhuma delas fique sem o produto para colocar no cliente e nenhum cliente venha a reclamar. Então, além disso, você tem que estar com a produção tudo correndo bem, não faltando produto, cilindro. Tem que estar ligado.
P/1 – E os prazos?
R – Prazos?
P/1 – Que vocês têm que cumprir. Deve ter um prazo. Tem que chegar em tal dia. Esses cilindros até o cliente, vocês têm que estar de olho nisso? Tem um período que você.....
R – Não. A minha parte, se tiver cilindros, cilindros cheios e no ponto para carregar e carregado, porque tem uma equipe de carga também, daí para frente, do transporte vai para outra área que é a área de Distribuição de gases. Aí já é comigo é com o meu chefe.
P/1 – E o que pode acontecer nesse meio tempo? De problemas que você costuma resolver?
R – Ah... Às vezes chega tarde. Na boca da noite para carregar. Vamos carregar sete cilindros e falta um cilindro de um produto, você tem que arrumar esse cilindro. Fazer uma manutenção, resolver o problema. Fazer com que aquilo carregue, não fique sem carregar. Às vezes você tem que ficar um pouco a mais, passar do horário. Segurar um funcionário com você um pouco a mais para resolver o problema, para que tudo saia certo. Porque, se não sair certo, no outro dia a coisa pega.
P/1 – Você falou muito de manhã, tarde e noite. Tem um horário, mas pode ser que fique até mais tarde. É costumeiro vocês trabalharem à noite?
R – À noite nós trabalhamos. Toda noite. Tem o pessoal que entra às cinco horas e vai até às duas da manhã. Pessoal que entra às dezenove e vai até às quatro da manhã, vai até esse horário. Aí encerra o ciclo e logo reinicia às oito da manhã de novo.
P/1 – E tem outro encarregado de Produção ou é só você que fica?
R – Encarregado de Produção sou eu. Tem um engenheiro e supervisor. Tem engenheiro supervisor.
P/1 – E você divide com esse engenheiro e esse supervisor, quando você não está, eles que estão?
R – Eles que estão.
P/1 – E essa equipe, são quantas pessoas que trabalham com você?
R – Tem uns trinta e poucos funcionários.
P/1 – É você que faz o treinamento com eles? Que passa algumas informações? É você que faz essa capacitação?
R – Às vezes... como o tempo é muito corrido, às vezes é o Engenheiro de Produção que faz.
P/1 – Você está há quanto tempo?
R – Agora em dezembro faz quinze anos.
P/1 – Que você está como Encarregado de Produção?
R – Como Encarregado de Produção.
P/1 – E como é o seu dia a dia? Você já falou um pouquinho, mas... Amanhã, por exemplo, o que você vai fazer?
R – O dia a dia é corrido. Quando você chega lá, às vezes, o pessoal tem coisas. Tem uma coisa ou outra. Às vezes, você está chegando e já vem umas duas pessoas te procurar. Às vezes, precisa de um produto. Então é difícil falar, mas é bastante corrido. Bastante corrido o meu dia a dia.
P/1 – Você falou que estavam em Ribeirão e agora estão em Sertãozinho. Você pegou essa transição?
R – Não. Quando fez essa transição, foi em 1981, que foi de Ribeirão Preto para Sertãozinho. Nessa época, eu não estava mexendo com gases, eu estava trabalhando com instalações de gases. Então eu fui trabalhar mais no campo. Eu não ficava ligado à usina de produção. Eu ficava ligado mais a outra loja que nós tínhamos em Ribeirão Preto, por exemplo, que hoje não existe mais. Hoje está tudo junto em Sertãozinho. Naquela época estava fora, estava em outro setor.
P/1 – E você mora onde?
R – Eu moro em Ribeirão Preto.
P/1 – E trabalha em Sertãozinho?
R – Trabalho em Sertãozinho.
P/1 – Todo dia tem que…
R – Todo dia. Todo dia você vai e volta.
P/1 – Quanto tempo de viagem?
R – Ida e volta? Uns quarenta minutos. Trinta e cinco, quarenta minutos.
P/1 – Como é que você vai?
R – De moto. Da minha casa até lá são trinta e cinco quilômetros. Eu pego praticamente só pista. Avenida e pista, pista é fácil para ir e voltar.
P/2 – A região de Sertãozinho tem muitas indústrias? Como é a demanda da região?
R – Sertãozinho é uma cidade pequena, mas tem uma demanda boa. Tem muitas caldeirarias. Lá se produz muitos equipamentos, fazem reformas para equipamentos. Se fazem muitos equipamentos para usina de açúcar. Eu acho que uma das cidades assim para produção para usina de açúcar é Sertãozinho hoje. Reformas de moendas para moer a cana. São vários fornecedores ali que trabalham com isso. Fabricam os equipamentos para a usina de açúcar, fazem reformas. Essa época, agora as usinas param de produzir, de moer e entram em manutenção. Vai arrancando as moendas, desmontando, colocando nos caminhões e trazem para Sertãozinho para recuperar. Aí elas são limpas, refeitas. Depois fazem toda a montagem da moenda novamente. Depois ela é toda torneada para poder voltar e aguenta rodar mais seis, oito meses na usina. Isso já não tem nada haver com a White, isso é usina de açúcar.
P/2 – Mas a White atende as montadoras…
R – A White atende esse período de entressafra, ela tem uma produção bem maior na nossa região, não vou falar de outra região. Nesse período agora, que começa a parar as usinas e a fazer reforma. As usinas de açúcar e álcool começam a parar e fazer reforma que ela vai fazer. Ela vai precisar de mais oxigênio e acetileno para arrancar a moenda que são difíceis, se você não fizer um aquecimento grande, você não retira. O consumo de oxigênio e acetileno aumenta muito. É um consumo bem maior. É uma época que a gente entra, como nós estamos agora em outubro, novembro dá um aumento, dezembro, como normalmente eles dão férias coletivas. Quando é janeiro, passou o dia cinco, dia dez, aí a coisa pega. O consumo nosso com eles, a entrega para eles aumenta em torno de trinta, quarenta por cento. É um consumo bem maior.
P/2 – Mas aí dá para vocês irem planejando…
R – Ah... sim, já temos que estar planejando sim. Principalmente férias do pessoal, a gente tem que se planejar para chegar essa época estar com a equipe pronta para atender. A demanda de enchimento do pessoal.
P/1 – Então a gente está finalizando, conta para gente dos seus momentos de lazer, férias?
R – Gosto de praia. Não tenho ido muito porque não tenho tido muito tempo, a gente tem trabalhado bastante. Mas gosto de uma praia, gosto de sítio, de pescar, é isso aí.
P/1 – Tem filhos?
R – Sim, tenho dois filhos. Um com trinta e quatro e um com vinte e oito que moram comigo em Ribeirão. Um é vendedor e o outro montou uma escolinha de Inglês e Espanhol em Ribeirão.
P/1 – Não tem netos ainda?
R – Tenho um netinho já. Com quatro para cinco anos.
P/1 – Você consegue fazer assim um balanço de quando você entrou na White, que já tem um tempo, trinta e seis anos que o senhor falou para gente. O que você aprendeu? O que foi um diferencial para a sua vida? O que White pôde te passar?
R – O que eu posso te falar, que a White Martins, para mim é uma pena que o tempo passa muito rápido, sabe? O tempo passa muito rápido, você nem consegue o ver passar. Por exemplo, o Tomé, esse rapaz que está comigo aí e ele tem quarenta e dois anos de White. Mas o tempo passa muito rápido. Mas a White é uma escola, ela exige muito. Ela exige muito do funcionário. Às vezes você deixa, como vocês me perguntaram na época em que eu viajava. Eu, apesar de não ter muita coisa, mas, o pouquinho que eu tenho, eu devo à White Martins pelo meu trabalho e por aquilo que ela me ajudou também. Minha esposa que me ajudou muito também. Porque, se você não tem um braço direito, eu digo que é a muleta, um braço direito que te ajuda e apoia, porque às vezes você tem que estar o tempo todo. Estar um sábado e domingo seguido, às vezes você chegar ficar três finais de semana trabalhando e, se você não tiver uma pessoa que te apoia, fica difícil. Não me lembro a pergunta que você fez, se eu respondi.
P/1 – É mais ou menos isso, esse aprendizado e os desafios…
R – A White Martins para mim foi uma escola. Quando eu fui trabalhar na White, eu não sabia o que era a White, nem sabia que ela existia, não sabia como que era o funcionamento da White. Então, para mim foi uma escola, foi assim, muito bom. É uma pena porque você aprende muita coisa, o tempo passa muito rápido e você, agora para frente, você não está mais com tanto gás para... Mas é uma bela escola, você aprende muito. Não só dentro da White. Para mim ela é uma ótima firma, uma empresa muito boa, muito leal naquilo que ela se compromete com a gente, só que ela exige da gente, mas cumpre a parte dela. Eu acho que é uma empresa muito boa. Daquilo que eu era daquilo que eu conhecia, não só dentro da White, mas como eu convivi vinte e um anos fora, tendo contato com revendas, outros fabricantes e fornecedores. Você aprende muita coisa. Você acaba sabendo de coisas que, se você ficar fechado, você não sabe. Aí você não consegue, você fica fechado. Como hoje eu estou numa fábrica, você fica fechado lá. Mas quando eu viajei e trabalhei com essa clientela toda, você aprende muita coisa no dia a dia. É uma escola, eu acho que é só isso.
P/1 – Você lembra de uma exigência, um desafio que foi marcante na sua carreira?
R – Teve vários desafios. Eu fui chamado para vários setores e de repente eu fiquei sozinho rapidamente e chegaram em mim e falaram: “Você toca?” “Toco.” E fomos em frente e graças a Deus deu. Então é difícil, é? Mas a gente não pode, a gente tem que falar que vai dar certo e ter coragem de ir e enfrentar.
P/1 – O que você achou da White e do Museu da Pessoa, essa parceria para contar o desenvolvimento do Brasil e a história da White, através de um programa de memória, que o colaborador vem aqui e conversa com a gente?
R – Eu acho muito importante, não por aquilo que eu falei aqui não. Mas eu acho que tem muita coisa aí que muita pessoa, tudo aquilo que passou das pessoas que já passaram por esses cem anos de White Martins, muita coisa está escondida. Muita gente não sabe. Muita gente não consegue ver. Porque aquela pessoa fez separadamente de outro. E é um meio de outras pessoas saberem do desenvolvimento. Eu acho que isso já deveria ser feito há mais tempo. Com quarenta, cinquenta ou sessenta anos de White Martins. A divulgação é muito importante.
P/1 – O que você achou de ter participado, dado esta entrevista?
R – No momento em que você entrou em contato comigo. Foi você? Eu fiz “não vou não”, não por nada. Mas foi bom. Foi ótimo. Às vezes a gente não sabe o que é e aí fica assim meio... mas tranquilo, foi bom, foi muito bom.
P/1 – Então, Obrigada.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Parabéns pela sua história.
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