P/1 - Débora Querido
P/2 - Monique Lordelo
R - Flaviana Leila Lopes
P/1 – Primeiramente, Flaviana, seja bem vinda.
R – Obrigada.
P/1 – Obrigada por ter vindo, por ter se disposto a dar esse depoimento.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Flaviana, para começar, você pode dizer o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Flaviana Leila Lopes, Belo Horizonte, 25 de agosto de 1977.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Flaviano de Oliveira Lopes e Kátia Leila dos Santos Lopes.
P/1 – E os seus avós, você sabe?
R – Bem, o nome todo não. Mas, o paterno sei o nome: Damásio e Vicentina. O, e materno é Lúcia e Nelson.
P/1 – E você chegou a conhecer os seus avôs?
R – Conheci todos eles.
P/1 – E o que eles fazem?
R – Meu pai trabalhava na Açominas, em Ouro Branco. Agora ele é aposentado. Na verdade, ele trabalhou primeiro na Usimec, em Ipatinga. Eu nasci em Caetés - durante um ano, ficamos lá. Depois fui para Ipatinga, com meus pais. E depois de Ipatinga, em Belo Horizonte, quando eu tinha quatro anos, ele foi trabalhar na Açominas, em Ouro Branco. Morei lá dos 4 aos 17 anos. Então, meu pai trabalhou esse tempo todo na Açominas. Minha mãe é psicóloga, ela tem um consultório até hoje lá em Ouro Branco. Meu pai já é aposentado. Eu tinha mais contato com meus avós por parte de mãe, tanto é que eu morei um tempo com minha avó, ela ajudou a me criar - que a minha mãe estudava ainda. Meus avós por parte de pai, eu raramente via. Eu visitava às vezes. O que eles faziam, eu não sei. (risos)
P/1 – Você tem irmãos, Flaviana?
R – Tenho uma irmã. Ela é quatro anos mais nova, chama Marcela. Meu irmão chama Daniel, é um ano mais novo que ela.
P/1 – Você é a irmã mais velha?
R – Eu sou a mais velha, sim.
P/1 – Como você lembra o convívio com seus irmãos, das brincadeiras?
R – Era ótimo....
Continuar leituraP/1 - Débora Querido
P/2 - Monique Lordelo
R - Flaviana Leila Lopes
P/1 – Primeiramente, Flaviana, seja bem vinda.
R – Obrigada.
P/1 – Obrigada por ter vindo, por ter se disposto a dar esse depoimento.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Flaviana, para começar, você pode dizer o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Flaviana Leila Lopes, Belo Horizonte, 25 de agosto de 1977.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Flaviano de Oliveira Lopes e Kátia Leila dos Santos Lopes.
P/1 – E os seus avós, você sabe?
R – Bem, o nome todo não. Mas, o paterno sei o nome: Damásio e Vicentina. O, e materno é Lúcia e Nelson.
P/1 – E você chegou a conhecer os seus avôs?
R – Conheci todos eles.
P/1 – E o que eles fazem?
R – Meu pai trabalhava na Açominas, em Ouro Branco. Agora ele é aposentado. Na verdade, ele trabalhou primeiro na Usimec, em Ipatinga. Eu nasci em Caetés - durante um ano, ficamos lá. Depois fui para Ipatinga, com meus pais. E depois de Ipatinga, em Belo Horizonte, quando eu tinha quatro anos, ele foi trabalhar na Açominas, em Ouro Branco. Morei lá dos 4 aos 17 anos. Então, meu pai trabalhou esse tempo todo na Açominas. Minha mãe é psicóloga, ela tem um consultório até hoje lá em Ouro Branco. Meu pai já é aposentado. Eu tinha mais contato com meus avós por parte de mãe, tanto é que eu morei um tempo com minha avó, ela ajudou a me criar - que a minha mãe estudava ainda. Meus avós por parte de pai, eu raramente via. Eu visitava às vezes. O que eles faziam, eu não sei. (risos)
P/1 – Você tem irmãos, Flaviana?
R – Tenho uma irmã. Ela é quatro anos mais nova, chama Marcela. Meu irmão chama Daniel, é um ano mais novo que ela.
P/1 – Você é a irmã mais velha?
R – Eu sou a mais velha, sim.
P/1 – Como você lembra o convívio com seus irmãos, das brincadeiras?
R – Era ótimo. Eu, como irmã mais velha, fazia diversas brincadeiras, principalmente nas férias. A gente morava numa casa, então era mais fácil fazer brincadeiras. Eu inventava diversas brincadeiras para curtirmos juntos, não é? Então foi muito bom, foi uma infância muito boa, sabe, em Ouro Branco, onde passei a maior parte da infância. Eles nasceram, a gente já estava morando em Ouro Branco. Fui para Ouro Branco com quatro anos. Então foi bom. A gente brincava de tudo e quando chovia, então, era uma tristeza... Não podia sair de casa, não é? Mas a gente curtiu muito, a gente é muito unido por conta da infância que a gente teve.
P/1 – Como era Ouro Branco, você lembra?
R – Ah, no início, tinha muito pouca coisa. Porque a gente chegou lá bem no início da Açominas mesmo. Depois é que a Açominas, que hoje é a Gerdau, foi para Ouro Branco. Aí que começou o desenvolvimento mesmo. Então, era tudo rua de terra, tinham poucas casas. Se você for lá agora, é completamente diferente: tem diversos bairros, muitas construções, muita gente de fora. Então era bem assim, bem pouca gente. Foi interessante ver esse desenvolvimento, sabe?
P/1 – Vocês ficaram lá até que idade?
R – A gente estudou no colégio Batista, que era o melhor colégio na época. Fiquei lá até o terceiro ano, eu tinha 17 anos. Me formei e fui prestar vestibular na UFMG, em Belo Horizonte. Como passei em Engenharia Química, fui morar em Belo Horizonte. Passei, então, minha infância e toda adolescência em Ouro Branco.
P/1 – Mas antes de entrar na faculdade, vamos voltar um pouquinho. Conta como era a tua casa, as festas de família, os encontros. Você falou que morava também com a sua avó, como era esse convívio?
R – Na verdade, com a minha avó eu morei em Belo Horizonte. Quando fomos para Ouro Branco, não morava mais com ela; era meu pai, minha mãe e meus irmãos. Ah, era ótimo lá. Em Ouro Branco, tem a festa da batata uma vez por ano, em outubro. Tinha um festival lá e vinham os primos para poder ficar em casa. Tinha show, todo mundo reunia, era muito bom. Nos aniversários, a gente sempre fazia festa e os familiares iam lá pra casa, era muito legal. A gente tinha um cachorro também, ela chamava Dada Leila Lopes. (risos) Coloquei meu sobrenome nela. Então, a gente saia pra passear com ela, fazia piquenique. Porque lá tem uma serra que é muito bonita - a gente mora de frente para serra. Meus pais moram lá até hoje. Tinha trilhas e a gente conseguia chegar no alto da serra, a gente passeava. Era muito bom. Havia uma liberdade muito boa, sabe, assim, coisa de interior mesmo. Andávamos de bicicleta, jogávamos queimada. Poder brincar na rua até tarde com os vizinhos era muito gostoso. Tinha a turminha da rua, a turminha da rua de trás, todo mundo se conhecia. Eu lembro muito disso, de ir para serra, fazer essas caminhadas, andar de bicicleta, passear com o cachorro. Todo mundo muito unido, meus pais, meus irmãos, a gente sempre passeou muito. E claro, a gente ia para cidade grande também, a gente ia para Belo Horizonte passar o fim de semana, comer no McDonald’s. Em Ouro Branco, não tem, e na época a gente adorava. Então era uma infância muito boa, brincar de elástico - não sei nem se vocês já ouviram falar. A gente curtiu muito.
P/1 – Você falou da sua família, eles também são todos de Minas Gerais?
R – Minhas tias todas moram em Belo Horizonte, menos uma, que foi para Ouro Branco também, depois que os meus pais foram para lá. Por parte de pai está espalhado, ele tinha alguns irmãos em Caeté, que também é uma cidade do interior, a gente ia para lá visitá-los, mas era mais raro porque era um pouco mais longe que Belo Horizonte. É muita gente, são 14 do lado do meu pai.Por parte de mãe, são seis na família dela, os irmãos todos. Tínhamos mais contato com a família da minha mãe mesmo, os primos... Só de primo de primeiro grau da família do meu pai, eu tenho... Bom, agora eu já não sei mais quanto, são uns 100 primos! (risos) Então, realmente, eu não conheci todos, que era muita gente. Dois irmãos do meu pai têm dez filhos cada um, é muita coisa. Acho que o meu pai foi o que teve menos filhos, três só. Agora, a família da minha mãe é menor, a gente conseguia encontrar mais. Minhas tias moravam em Belo Horizonte e sempre iam para Ouro Branco, reunia lá ou ia para Belo Horizonte para encontrá-los. Minha avó e meu avô moravam em Belo Horizonte. Teve uma época da vida deles que eles foram para Ouro Branco para morar lá. Foi na época que meu avô estava, assim, mais pro final da vida dele. Ficava mais fácil cuidar. Depois que meu avô faleceu, minha avó quis voltar para Belo Horizonte. Então, atualmente, ela mora lá com uma tia.
P/1 – Ainda nessa infância em Ouro Branco, foi lá que você começou a ir para escola, em Ouro Branco?
R – Sim, foi lá que eu comecei a ir para escola. Eu acho que tinha quatro anos. Diz a minha mãe que eu dei o maior trabalho, não queria ir para escola de jeito nenhum. Chorava. Dei um trabalho doido para conseguir ir, sabe? Me acostumei. Eu era muito responsável, estudiosa. Minha irmã também era uma pessoa muito estudiosa. Já meu irmão, não gostava de estudar. Agora que ele ficou mais velho, fez fisioterapia e está fazendo medicina, minha mãe disse: “Existe jeito para todo mundo no mundo”. Porque quando era pequeno, ele não gostava de estudar. Teve uma vez que a professora disse: “Daniel, vai ter uma prova amanhã. Você estuda, é prova de Matemática”. Ele disse à minha mãe: “Vou estudar que eu tenho prova amanhã”, e ele estudou Português! Chegou para a prova de matemática prontinho, todo entendido... “Gente, não tem jeito mesmo”, disse a professora. “Ele já não estudava direito, agora que estudou, veio para a prova errada!”. Eu era muito estudiosa, minha irmã também; ele não gostava muito. Mas, deu jeito na vida e agora está estudioso, mais do que eu e a minha irmã. Eu gostava muito de fazer esporte, participava do time de vôlei da escola, de handebol. Tinha gincana entre as escolas, eu corria, fazia de tudo. Era muito ativa, sabe? Lembro que na época de prestar o vestibular, estava no auge do vôlei. Com essa altura toda que eu tenho, não é? Era atacante de ponta, sabe, não sei como conseguia, estava jogando muito, não queria saber de vestibular, mas há males que vem para o bem. Quase quebrei meu pé, tive que ficar de molho durante os três últimos meses antes do vestibular. Foi quando comecei a estudar direito - não tinha mais o que fazer - e consegui passar. Acho que foi por conta disso. Porque se dependesse de antes, quando eu não estudava nada, não ia conseguir passar.
P/1 – Quais matérias você gostava mais?
R – Ah, eu gostava muito de Química. Eu adorava a minha professora de Química, ela se chamava Valéria. A partir do primeiro ano, comecei a ter Química. “Gosto demais disso”, eu falei. Da Matemática, eu não gostava muito. Apesar de escolher Engenharia Química, da Matemática eu não gostava muito não, sabe? Química, eu adorava. Português, eu gostava também. Biologia, não gostava muito. Era mais a Química mesmo.
P/1 – E você estudou no mesmo colégio?
R – A vida inteira, no mesmo colégio.
P/1 – Tinha alguma festa no colégio, uniforme...
R – Tinha uniforme. Quando a gente era menor, tinha um uniforme de “sainha” assim, toda pregada com tipo um suspensório (risos) e a blusa do colégio por baixo. Depois que a gente ia ficando mais velha, podia ir de calça moletom. E tinha o uniforme do colégio, que era obrigatório. Eu lembro que o tênis só podia ser preto. Depois que eu saí do colégio, eu não quis mais saber de tênis preto. Eu queria tênis branco ou de outras cores, porque não podia usar outras cores no colégio, o tênis lá era preto. Isso eu estou me lembrando agora. Engraçado, não é, essa questão do uniforme. (risos) No colégio, tinha essas gincanas também, mais entre os colégios. Tinha aula de ensino religioso também, éramos obrigadas a participar. Toda semana tinha aula de ensino religioso porque era colégio Batista. Tínhamos que participar. Do colégio, lembro mais mesmo dessa fase do esporte. Sabe que eu participei muito? Jogava vôlei, era muito bom, era muito interessante. E as amizades... Não é? Praticamente, todos que entraram comigo, saíram no terceiro ano também. Às vezes alguém saía no primeiro ano para estudar em Belo Horizonte, para se preparar melhor pro vestibular, não é? Então, as amizades que foram construídas, eram muito fortes. Tanto é que quando passei no vestibular, pensei: “Gente, como é que eu vou fazer?”, porque sempre estudei no mesmo lugar a vida inteira, eu não conheço pessoas diferentes. “Será que vou conseguir me adaptar?” Veio aquele medo de uma coisa diferente que nunca tinha acontecido, mas não teve problema nenhum. Os familiares dessas minhas amigas moram ainda em Ouro Branco, então a gente tem esse vínculo; e as meninas moram em Belo Horizonte. É bom, porque quando a gente volta, sempre encontra gente que conhece. É isso.
P/1 – Você falou que foi para Ouro Branco por conta da Açominas, que seu pai foi transferido. Como era a relação dessa indústria, da Açominas, com a comunidade? A maioria das pessoas que estavam lá também eram funcionários da Açominas?
R – Na verdade, Ouro Branco tem um centro histórico que é mais antigo. Depois da vinda da Açominas é que se construíram todos os outros bairros da cidade. A Açominas alavancou a cidade. O primeiro bairro a ser construído foi o Pioneiros, depois teve o Siderurgia, o Inconfidentes, o Primeiro de Maio - que fica próximo à usina. Foi a Açominas que levou as pessoas a morarem lá. Para trabalhar na usina, não é? Era todo mundo funcionário da usina. Só o pessoal da roça, que tem uma grande plantação de batata lá, e os que moravam no centro histórico, não trabalhavam na usina. Era o pessoal mais antigo. O restante, trabalhava na usina. Hoje em dia, isso já está mais diversificado. Tem uns 90% de funcionários e seus familiares. Porque tem outras empresas ao redor também: em Congonhas, Lafaiete, outras empresas. Mas, no início, era todo mundo funcionário da Açominas. Então, por exemplo, quando havia crise na Açominas, era crise para Ouro Branco inteiro. Havia aquelas demissões, mandavam um monte de gente embora. A cidade vivia em função da Açominas. Até hoje é a que mais poder tem lá. Os funcionários são de Ouro Branco, tem muita gente que trabalha na Açominas que mora em Ouro Branco ainda.
P/1 – E nessa cidade, como vocês se divertiam na adolescência? O que vocês faziam?
R – Pois é, na adolescência, quase não tinha muita coisa para fazer, fora esses eventos de festa da batata, que movimentava todo mundo. Lembro mais essa questão do esporte, eu praticava muito esporte e não tinha muita coisa para fazer não. (risos) Lá não tem cinema, raramente ia alguém fazer um teatro, sabe? Quando eu queria sair, assim, conhecer coisa diferente, eu tinha que passar um fim de semana em Belo Horizonte, para ir a algum barzinho, uma boate, uma coisa assim. O que havia lá eram as discotecas, porque a Associação dos Empregados da Açominas tem diversos clubes lá e um deles, que é a sede social, tinha as discotecas. Todo domingo à tardinha e à noite tinha discoteca. Tinha hora de começar e hora de acabar. Às vezes, tinha no sábado também, mas era para os mais velhos - a gente não podia ir. (risos) Os pais não deixavam a gente sair sozinho. Apesar de ser uma cidade pequena, meu pai me levava e me buscava. Marcava hora para vir, sabe, não tinha moleza não. (risos)
P/1 – Você ia com as suas amigas, com seus irmãos?
R – Ia com as amigas. Com meus irmãos não, a gente tem diferença de quatro anos, então, nessa época. Assim, quando a minha irmã começou a sair, eu já estava indo para Belo Horizonte. Não peguei muito essa época junto com eles, eu ia mais com as amigas mesmo.
P/1 – Nessa época, você pensava em seguir alguma profissão, gostava muito de esportes, pensava em alguma coisa?
R – Pois é, eu fiquei na dúvida com relação a fazer Educação Física. Eu gostava muito de esportes, falei: “Vou fazer Educação Física. Vou fazer alguma coisa relacionada a Química”, e eu optei pela Química, Engenharia Química. “Eu não vou fazer Química pura, porque eu acho que Engenharia Química tem um área maior pra poder trabalhar”. Eu fiquei bem na dúvida na época do que eu ia fazer, mas aí eu falei assim: “Vou fazer Engenharia Química”, que, realmente, a Química me... Ficava encantada com a Química, eu gostava muito.
P/1 – Seu pai te ajudou a escolher, ele deu algum conselho?
R – Não, a minha mãe é psicóloga e ele é administrador. Não influenciaram, não. Me deixaram, assim, bem livre para poder escolher. E o engraçado é que, dos filhos, cada um foi para uma área. Eu fiz Engenharia Química, minha irmã fez Filosofia e Pedagogia e meu irmão fez Fisioterapia e agora está fazendo Medicina. Engraçado cada um ir para uma área. Realmente, eles não influenciaram nessa escolha não. Cada um pôde escolher da melhor maneira possível. Eles sempre deram subsídio para gente poder estudar, falavam que estudar é a coisa mais importante, isso era o que eles exigiam, que a gente fosse estudar, mas o que fazer, nós é que escolhíamos.
P/1 – Aí você acabou o terceiro colegial, prestou...
R – Foi em 1994 que eu acabei. Prestei vestibular para entrar em 95. Passei para segunda chamada, para começar em agosto de 95. Quando eu entrei, eu tinha 17 anos. Muito novinha para poder entrar na faculdade, saber o que queria da vida. Muito nova para poder escolher, não é, a carreira para o resto da vida. Quando eu entrei, fui morar com a minha avó e meu avô - eles moravam em Belo Horizonte. Fiquei morando com eles nos três primeiros anos. Depois eles voltaram para Ouro Branco, eu morei um ano com a minha tia e morei um ano numa república. Minha irmã, nesse último ano de república, já veio para Belo Horizonte também, que ela tinha passado no vestibular, e a gente morou junto nessa república. Foi ótimo também, morar com a irmã em Belo Horizonte; aquela liberdade: não tem pai e nem mãe perto para controlar. Foi muito legal, muito interessante.
P/1 – Como foi essa transição, sair de Ouro Branco, uma cidade pequena, e ir para Belo Horizonte?
R – Pois é. É complicado, principalmente porque meus pais e meus irmãos ficaram em Ouro Branco. Eu voltava todo o final de semana. Estudava durante a semana, dava uma brechinha, voltava para Ouro Branco [e] ficava os finais de semana com eles. Foi bem complicado esse início, sabe? Eu lembro que sofri muito.Eu queria desistir, queria voltar, mas voltar para fazer o quê? Em Ouro Branco, não tinha jeito, não é? Hoje em dia tem faculdade lá de Engenharia Química, da Universidade de São João Del Rei. Tem um campus lá em Ouro Branco. Então, hoje em dia até daria, mas na época não tinha jeito. Foi bem difícil no início. Até acostumar, até fazer as amizades em Belo Horizonte, foi complicado. Eu lembro que às vezes eu tinha aula na sexta até dez horas chegava desesperada na rodoviária para pegar o ônibus meio dia para voltar a Ouro Branco e no domingo era aquela tristeza ter que voltar para Belo Horizonte de novo. Mas aí tudo vai encaminhando, a gente vai acostumando e vai fazendo as amizades; amizades, inclusive, que tenho até hoje, [com] o pessoal da Engenharia. Com o tempo você vai ficando mais em Belo Horizonte, vai curtindo as coisas. E, hoje em dia, por exemplo, eu quase não vou para Ouro Branco, meus pais é que vão me ver [e] a minha filha lá em Belo Horizonte. Fica complicado ir todo mundo para Ouro Branco.
P/1 – E na faculdade, as festas?
R – Pois é, início, sei lá, até os dois primeiros anos, eu não participava muito das festas da faculdade não. Mas depois que eu fui interagindo mais com o pessoal, foi ótimo. Tinha as festas, tinha a calourada, o churrasco da Engenharia Química que acontecia uma vez a cada semestre, era o evento. Todo mundo se preparava e participava. A gente chamava de “Chueq” esse churrasco da Engenharia Química. Até hoje tem, eles continuaram com essa. E o meu marido, ele faz Engenharia Química também. Vou ao “Chueq” hoje por conta dele. Eu ia antes por minha conta e agora eu tenho ido por causa dele - é engraçado como as coisas são. Então tinha essas festas, era ótimo. Ia para casa de amigo, de amiga e ficava a noite inteira, saia de lá de manhã. Era uma curtição realmente. E tinha que conciliar, porque Engenharia Química é muito puxado, o curso é complicado.
P/1 – É integral?
R – É integral e as matérias são muitos difíceis, tinha que estudar também.
P/1 – Eu ia perguntar como que eram as provas.
R – Nossa, era difícil. Ainda mais eu que não gostava muito de Matemática, tinha dificuldade. Passei raspando. Cálculo era um horror. Cálculo tinha três provas de 33 pontos cada uma; se você fosse mal numa delas, pronto. Sobrava. O exame especial, a gente chamava de “vexame especial”, que era a prova do semestre inteiro que teria de ser feita pra ver se conseguia passar - valia 100 pontos. Se você não conseguisse passar nessas três provas, era o “vexame especial”. Graças a Deus, nunca tive que fazer nenhum “vexame especial”. Era muito difícil. Passei apertado com os cálculos, físico-química, assim, as matérias mais pesadas, eu andei passando apertado, viu? O que acontecia? Estudava, sei lá, na véspera, dois dias antes, ficava estudando o dia inteiro, virava o dia estudando. Tinha uma matéria também que a gente fez no nono período, essa matéria também era muito puxada. A gente reunia o grupo, ficava sábado, domingo, o dia inteiro fazendo os testes. Era o projeto de final de curso, não existia monografia. Então foi puxado, viu? E, na verdade, assim, graças a Deus, não tinha que trabalhar porque meus pais me sustentaram lá, então consegui me dedicar em tempo integral ao estudo. Depois, claro, eu consegui fazer estágios, mais porque queria me desenvolver, mas necessidade de trabalhar, não tinha. Então isso ajudou muito.
P/1 – Tinha alguma área em Engenharia Química que você mais gostava?
R – Eu gostava muito da Química Orgânica, achava muito legal a Química Orgânica. Na verdade, em Engenharia Química tem pouco da Química Orgânica só mesmo no ciclo básico - depois não tem. Eu gostava dessa área. Apesar de não ter seguido, era muito interessante.
P/1 – Você pensava já em alguma carreira para seguir dentro da Engenharia Química? Te passava pela cabeça de repente trabalhar com gases?
R – Não, o que me passava pela cabeça era que eu não ia querer dar aula. E [a] princípio, não ia querer fazer pesquisa também. Fiz iniciação científica, então eu vi que não era aquilo que eu queria. Queria ir para a indústria, mas não necessariamente um segmento específico - isso ainda não passava pela minha cabeça.
P/1 – Aí você foi fazer estágio?
R – É, eu fiz estágio no Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, trabalhava na área de... Verificava as indústrias de plástico em Minas. Era especificamente um projeto para a indústria de plástico, sabe? Trabalhei lá acho que uns seis meses, logo antes de me formar. Formei em julho de 2000 e entrei na White em novembro de 2000. Participava de diversos processos seletivos; um deles, inclusive, na Açominas. Estava já na etapa final do processo da Açominas quando eu recebi a resposta da White que eu tinha entrado. Fiquei meio assim, nossa, na dúvida: “Entro na White? [Ou] volto para Ouro Branco?”. Nessa época, eu já não estava mais querendo tanto voltar para Ouro Branco. Vi que ali não dava muito futuro. Já gostava de ficar em Belo Horizonte, tinha outras coisas para fazer, a vida cultural muito maior. Aí eu resolvi: “Não, vou ficar na White”.
P/1 – Foi o seu primeiro emprego, então?
R – Foi o meu primeiro e único emprego até hoje.
P/1 – Você entrou em que cargo?
R – É, passei pelo processo de seleção e entrei como engenheira de produção de quatro unidades: a usina de Barreiro, que fica em Belo Horizonte; a de Betim, que fica em Betim mesmo; a de Divinópolis, em Divinópolis; e a usina Hidrolândia, que fica perto de Goiânia, em Goiás. Entrei como engenheira de produção nessas quatro unidades, mas eu ficava na usina de Barreiro, que era em Belo Horizonte. Sempre quando havia alguma coisa nessas outras usinas, eu tinha que ir ajudar. Nessa área de produção, mexi com qualidade, segurança, no que precisasse. A gente ia aprendendo. Você quer mexer com tudo mesmo, pra conhecer todas as áreas da empresa, não é? Mas foi muito bom; primeiro emprego, eu fiquei toda feliz. Nossa, foi muito legal. Lembro que acordava cedinho, pegava dois ônibus para chegar à usina que era meio longe, mas não importava. Eu estava trabalhando! Quando tinha que viajar também, eu não me importava. Viajar para Divinópolis, Betim, Hidrolândia, não me importava ter que viajar. Então eu mexia mais com essa área mesmo da produção, verificar como é que estava a produção e segurança também, principalmente segurança de trabalho, segurança de processo. Mexi muito nessa área, qualidade. Era isso. Assim comecei a fazer, a princípio.
P/1 – Ainda no começo na White, você lembra como foi o primeiro dia? Teve algum treinamento?
R – O primeiro dia? Eu lembro que tinha um treinamento, tinha treinamento de segurança. Ah, tinha toda essa burocracia de conseguir email. Então o primeiro dia foi meio, mais o treinamento... Eu me lembro de uma coisa que passou pela minha cabeça agora. A Marcilânia, ela trabalha lá no Barreiro, ela é assistente administrativa lá. Eu lembro que teve um dia que ela me distraiu, eu deixei minha bolsa perto da mesa dela, ela colocou um grampeador enorme dentro da minha bolsa e eu não vi. Ela começou a rir de mim e tal, me deu tchau, eu falei: “Gente, porque ela está rindo de mim?”. Foi bem no início, eu ia pra Ouro Branco [com] a bolsa pesada, carregando aquilo. Quando abri, tinha um grampeador dentro, falei: “Gente, então era por isso que ela estava rindo. Passou uma pegadinha em mim”, (risos) me fez carregar um chumbo, não é? Lembro que ela pregou essa peça em mim. Mas assim, foi mais integração, conversar com as pessoas. No início, vai meio devagar até você poder se inteirar do serviço, do que tem ser feito, conhecer as pessoas, começar a ter contato. Porque no mundo corporativo você depende muito das pessoas, tem diversas áreas que você precisa interagir para obter o conhecimento das pessoas, conseguir que as coisas andem, não é?
P/1 – Nesse ambiente, a maioria era homem: como era entrar nesse ambiente?
R – Ah, sim. Com certeza, a maioria era homem. Acho que todo mundo era homem, (risos) só tinha a assistente administrativa e eu lá de mulher. Na área de administração também tinha mulher; o resto, tudo homem. Não tive muito problema não, as pessoas sempre respeitaram muito. Claro, devia passar pela cabeça deles: “O que essa menina está querendo fazer aqui? Vir aqui e achar que vai fazer alguma coisa diferente”. Não sei, mas eles sempre respeitaram muito, eu nunca tive problema com relação a isso. Na White Martins, realmente, a maioria é homem. Mas sempre tive muita colaboração de todos os colaboradores, do pessoal da supervisão, da gerência. Nunca tive problema nenhum. Claro que você tem saber se comportar, você não pode chegar brincando. Tem que ter uma postura mais profissional para você conseguir seu espaço dentro da empresa, não é? Para todo mundo começar a te respeitar, ver que você está ali porque você tem algo a acrescentar mesmo, não é?
P/1 – No começo, você viajava para essas quatro plantas, como eram?
R – Viajava raramente para essa de Hidrolândia, que era lá em Goiás - era a mais longe. Para a usina de Divinópolis, viajava muito. Eu ajudava o gerente de cada usina. Na verdade, tinha um gerente, que era o gerente dessas usinas e tinha os supervisores das usinas. Eu estava ligada direto ao gerente dessas quatro usinas, ajudava os supervisores dessas usinas, viajava e era ótimo. Eu adorava ir a Divinópolis, porque lá tinha um restaurante que o almoço era tão bom, e o supervisor de lá, na época, chamado Teotônio, ele é muito alto, sabe? Eu ficava com vergonha porque eu comia muito mais do que ele, meu prato pesava muito mais do que o dele. Tenho essa fama meio assim de comilona lá na White, sabe? Quem conviveu comigo nessa época... Eu viajava muito, eu tenho essa fama de comilona, que eu tinha muita fome. Dava meio dia, ele olhava para mim: “Flaviana, você já está com fome?”, “Estou começando...” “Então vamos, porque senão você vai ficar brava”. A gente ia almoçar, sabe, então ele falava: “Não pode deixar a Flaviana com fome, porque senão ela vai ficar muito brava”, e realmente é isso. Se eu ficar com fome, fico muito nervosa. Esse fato eu estou me lembrando agora, comia mais do que ele. (risos)
P/1 – Em Divinópolis, nas outras plantas, você acompanhava algum projeto?
R – Dependendo do que tinha na época, sim.
P/1 – Você lembra algum que te marcou mais? Talvez, [o] mais difícil. Alguma primeira conquista?
R – Ah, sim. Quando tinha auditorias programadas de segurança, a gente ajudava a usina a se adequar com relação à alguma auditoria que fosse necessária, mas não tinha nenhum específico não, sabe? Assim, era mais sob demanda mesmo: o que precisava, eu fazia. (risos)
P/1 – Quanto tempo você ficou cuidando dessas quatro plantas?
R – Ah, eu acho que foi uns dois anos.
P/1 – Viajando.
R – É, porque depois eu mudei de gerente, e esse meu gerente já era regional, pegava todas as plantas de Minas, mais [a de] Volta Redonda. Então viajei mais ainda. (risos) Acho que nessa primeira etapa, dessas quatro unidades, foram dois anos. Depois eu fui para essa gerência. Continuei em Barreiro, mas ligada ao gerente regional, que era “região centro” que a gente chamava.
P/1 - As suas responsabilidades mudaram?
R – Na verdade, eu continuei fazendo as mesmas coisas só que para diversas outras usinas também. A usina de Ouro Branco, que tem uma White Martins dentro da Açominas, que agora é a Gerdau: Divinópolis, Betim, Barreiro, Hidrolândia, Ipatinga, Monlevade, Santa Bárbara, Barão, Volta Redonda, Juiz de Fora. (risos) Comecei a viajar muito mais. Eu adorava quando tinha que viajar para Ouro Branco, não é, porque eu ficava na casa do meu pai e da minha mãe - era muito bom. Então, eram as mesmas atividades, só que agora mais, assim, com outras unidades, um foco maior.
P/1 – Você conseguiria traçar, diferenças entre essas plantas? Em Ouro Branco, era uma planta “on-site”; tinha mais alguma “on-site”? Você percebia a diferença?
R – Pois é, percebia. Na verdade, o que acontece: as que são gases do ar estão sempre ligadas a um cliente maior que são essas “on-site”. As únicas que eram diferentes, não eram as de gases do ar e sim CO2, que é a produção de dióxido de carbono; ficavam em Betim e Hidrolândia, diferenciavam um pouco das outras. As outras eram todas parecidas, excetuando, é claro, o tamanho de cada uma. Volta Redonda é um monstro de unidade, é muito grande. Usiminas também. A que fica em Ipatinga, dentro da Usiminas, também é enorme. As demandas eram maiores, mas sempre com o mesmo foco. O cliente ligado diretamente ao gasoduto. Não pode acabar produto, a planta tem que estar operando. Tinha essa demanda: foco no cliente. A gente fazia de tudo, porque se a planta parasse, nossa senhora, era um Deus nos acuda. Tinha que dar um jeito de continuar atendendo o cliente.
P/1 – Ela chegou a parar algum dia?
R – Pode acontecer das plantas pararem, aí existe um “backup”, que você vaporiza o líquido e vai para o gasoduto. Isso não consegue atender por muito tempo. Por essa razão, a planta tem que retornar logo. Senão não há fôlego suficiente para ficar atendendo o cliente um dia, dois. Não tem líquido suficiente pra vaporizar. Já aconteceram alguns stresses. Na Usiminas, já aconteceu, por conta, não só da White. Tem queda de energia, às vezes, ou, por exemplo, a quebra de um compressor. Existe esse estresse, realmente. O foco na White é atender o cliente. Por isso estamos sempre focados para que isso não aconteça nessas que são “on-site” - as que estão diretamente ligadas ao cliente. No meu caso é diferente, recebo da Petrobrás, na planta de CO2, e disponibilizo via líquido - é diferente dessas “on-site”.
P/1 – Flaviana, então você estava contando suas funções logo que você se formou, e entrou na White Martins. Conta um pouquinho ainda desse início da carreira, como que era a situação do Brasil nessa época, o crescimento...
R – O Brasil estava em crescimento. Na época em que eu me formei, havia muitas oportunidades. Principalmente na área da Engenharia Química. Com isso, como a White Martins está vinculada a grandes empresas, tipo a Usiminas, a Gerdau, principalmente na questão dos gases do ar, havia uma demanda grande por engenheiros, não é? O cenário estava muito bom na época, sabe, o mercado bem aquecido.
P/1 – Mais alguém da sua turma entrou na White Martins?
R – Ah, entrou. Na verdade, tinha uma menina da minha turma, chamada Anita, ela atualmente é gerente do Barreiro. Entrou como estagiária e foi efetivada.
Ela entrou antes de mim. A Anita, na época, trabalhava lá no Barreiro, depois foi para a usina de Betim, ser gerente de Betim. Engraçado, eu fui seguindo os passos dela, porque hoje eu sou gerente de Betim. Ela foi estagiária e trabalhou no Barreiro. Antes de mim, a Bethânia trabalhou junto comigo, e depois, entrou para trabalhar em Contagem já na área de negócios, não na área de produção. Um tempo mais tarde, a Renata Gorete foi trabalhar também na usina de Vitória. A Bethânia e a Renata Gorete não estão na White mais. Então, assim, éramos nove amigos de turma da Engenharia e quatro trabalhavam na White. No amigo oculto, a gente brincava que não valia falar: “Ah, meu amigo oculto trabalha na White”, porque era 50% da turminha.
P/1 – Os outros foram para que ramo? Qual era a demanda?
R – Cimento. Teve uma que foi para área ambiental. Mas, a White pegou grande parte da turminha - a que se reunia mais frequentemente, sabe? Era muito engraçado, porque a gente é amiga, fora e dentro da White, trabalhando juntas.
P/1 – E quando você já estava na gerência, visitando as plantas, você as encontrava?
R – A Anita eu encontrava mais porque antes dela ir para Betim, ela ficava no Barreiro junto comigo. Quando eu ia pra Contagem, não encontrava muito. A Renatinha eu já não encontrava muito porque trabalhava em Vitória. Já não era a minha área de atuação. Mas sempre a gente conversava se tinha alguma novidade na usina, alguma coisa que: “Ah, tem que fazer isso agora”, cada uma falava com a outra para poder se adequar às usinas que trabalhava. Então tinha essa troca de informação, era bem interessante. Às vezes tinha um treinamento, a gente se encontrava. A Anita e eu viajamos muito para fazer esses treinamentos, era muito bom. É engraçado. Assim, são poucas mulheres na White, e da minha turma tinha um monte de mulher. Foi interessante.
P/1 – E aí você estava contando que mudou a gerência, aumentaram as plantas da sua responsabilidade.
R – Aumentaram as plantas e comecei a viajar mais ainda. Eu lembro que teve uma época que fiquei quatro meses direto em Volta Redonda, ajudando na usina lá. Adorava. E o negócio da comida de novo... Tinha um restaurante, (risos) acho que tem lá ainda, chamado Toca da Traíra. Nossa, era muito gostoso! Tinha um pintado com catupiry que eu adorava. Ia todo dia comer o pintado com catupiry. Todo dia eu ia jantar lá. Podia ir sozinha, não precisava ter ninguém comigo. Eu ia sozinha. Os garçons já me conheciam. Inclusive, eu engordei uns quatro quilos nesse período. (risos) Era bom quando a turminha ia, a gente tinha essa confraternização também. Depois do dia de trabalho, todo mundo que estava lá, principalmente os de fora, saíam pra jantar. Era muito interessante. Surgiram grandes amizades com isso, não é? Hoje em dia, não viajo tanto, mas se precisar, consigo falar com as pessoas de diversas usinas - que desse convívio que a gente teve, isso fica. Tenho esse contato, essa liberdade se precisar falar com os outros gerentes, outras pessoas das usinas.
P/1 – E quando você ficou quatro meses em Volta Redonda, foi algum projeto específico?
R – Ia ter uma auditoria grande lá, sabe? Então eles estavam precisando de um apoio na área de processos, segurança de trabalho. Foi por conta disso que fiquei lá. Essas auditorias... Tem auditoria tipo A, que é o pessoal da Praxair que vem fazer. A auditoria tipo B é o pessoal da matriz mesmo, do Rio, que vem fazer. Então, essa era tipo A. O pessoal vem para ver um monte de coisa. A usina era muito grande, são diversas exigências que, às vezes, a gente não sabia que havia. “Ah, vai ter auditoria, existe um protocolo, passem o protocolo pra gente”. E a gente: “Nossa, tem esse e esse tipo de exigência que a gente não sabia que tinha que ter. Vamos adequar”. Coisas que a gente não tinha conhecimento, na época. Foi um projeto interessante. Foi ótimo, graças a Deus; na auditoria, deu tudo certo. Eu ia e voltava todo o final de semana para Belo Horizonte. Às vezes eu ficava o final de semana também, mas normalmente eu voltava pra Belo Horizonte. Fiquei esses quatro meses indo e vindo. Até me matriculei numa academia lá porque era quase uma cidadã de Volta Redonda. (risos) Lembro que nessa academia eu fazia aula de aero... Sei lá o que era. Lembro que o professor falou assim: “Olha, vai ter uma apresentação aqui no sábado. Você não quer se apresentar com a gente?”. Falei: “Nossa, não! É demais! (risos) Já sou realmente uma cidadã, vou me apresentar com o grupo da academia!”. (risos) Mas, foi um período bom. Essas viagens são legais.
P/1 – Com qual frequência acontecem essas auditorias?
R – Acontece muito. A questão da segurança, não é? Por ano deve ter, sei lá, umas cinco, dez auditorias, não sei. Tem uma frequência muito grande. Agora estamos mais acostumados. A gente, por exemplo, já sabe que existe o protocolo, já consegue verificar as coisas antes, já anda dentro dos conformes, entendeu? Temos mais conhecimento de todas as exigências. Claro que cada vez surgem exigências maiores e a gente está sempre adequando. Se surge um problema numa unidade, eles reportam para todas as unidades para fazer a modificação. Quando tem auditoria, verificam se a modificação foi feita, não é? A White e a Praxair são muito exigentes nessa área de segurança, sabe? As auditorias verificam se as usinas estão dentro dos conformes.
P/1 – E o aporte tecnológico para essas auditorias, mudou ao longo dos anos? Como era o processo em que elas são feitas?
R – Eu entendo, assim, que o que mudou realmente foi o conhecimento da gente, porque antes a gente era meio no escuro. O auditor vinha: “Não pode isso, não pode aquilo” E a gente não sabia. Agora a gente tem mais conhecimento, tem essa troca de informações com o pessoal da Praxair. A gente consegue saber quais são as novidades, e as adequações são feitas antes de o problema acontecer. Ou mesmo antes da visita da auditoria. A questão do conhecimento, das informações está chegando mais para gente.
P/1 – Por que vocês não tinham esse conhecimento? Era difícil chegar?
R – É, na época sim. Não sei, não tinha acesso a banco de dados direito para você poder acessar um banco de dados contendo as normas internacionais. Tinha que ter uma liberação de acesso. Não era todo mundo... Hoje em dia, já é mais disseminado isso, entendeu? Mais pessoas têm esse conhecimento e conseguem passar para as unidades, entendeu? Porque é muito importante que o operador saiba porque ele está fazendo tal coisa. Para o controle, na planta dele, ele não pode só saber: “Eu tenho que fazer isso [e] isso, porque me mandaram”, não pode deixar chegar nesse nível. Então, nessa época das auditorias, a gente começou esse trabalho com os operadores, de conversar com eles, dar treinamento, o porquê das coisas. Então, começaram a chegar as informações. A gente conseguiu ter acesso aos bancos de dados, melhorou essa interação entre a White e a Praxair,.
P/1 – Você pode datar para gente, mais ou menos, a época?
R – Bom, essa auditoria de Volta Redonda, acho que foi em 2002... 2004? Nossa, o tempo passa tão rápido! Houve diversas auditorias sempre com esse foco de realmente treinar os operadores para que vissem a importância do trabalho deles, para que as operações ocorram de modo seguro. Eles é que estão no dia a dia da operação, não é? Para que consigamos fornecer para o cliente um produto de qualidade. Na quantidade suficiente, dentro das normas de segurança. Com segurança pros trabalhadores e para a comunidade, para o meio ambiente, em geral. Porque se acontecer alguma coisa de grande porte, tem a comunidade do lado das usinas da White.
P/1 – Você participa desses treinamentos para os operadores?
R – Ah, sim. Na época, eu participava.
P/1 – Como era?
R – Punha na sala aquele monte de operador e eu ia explicando as coisas de processo. Era interessante e tinha essa interação. Se tivessem dúvida, perguntavam, sabe? Engraçado, eu sempre fui muito bem recepcionada em todas as unidades, não tive problema nenhum. Ninguém fazia gracinha, brincadeirinha, tipo: “Ela não sabe do que está falando”, “Menina nova” [e] “Eu que trabalho aqui há tantos anos...”; não, eles sempre foram muito abertos para toda a informação nova. Os treinamentos que eu fazia, sabe, participavam e gostavam muito. Viam que era uma oportunidade de aprenderem mais. Havia um operador com 20 anos de White sentado lá e interagindo, gostando do treinamento, sabe? Então teve muito isso.
P/1 – E o foco era na segurança?
R – Na segurança, principalmente de processo. Como eu era engenheira de produção, eu trabalhava mais a segurança de processo.
P/1 – Nessa questão do processo, quais eram as indicações principais?
R – Nessas usinas de gás do ar existem algumas coisas que são definidas, são parâmetros críticos de operação. Esses parâmetros críticos são os limites que você não pode ultrapassar. Mostrávamos a eles quais eram todos os parâmetros críticos da planta. Nesses, eles tinham que ter cuidado. Normalmente, a planta tem uma parada automática. Se passar do parâmetro, vai parar. Nem se o operador quisesse, conseguiria continuar. Mas ele tinha que entender o porquê, não é?
P/1 – Eram usados equipamentos especiais, nessas plantas?
R – O que tem nas plantas é igual para todas: são os compressores. O que a máquina dá conta, o que não dá, e os controles na coluna de destilação.
P/1 – Eu digo equipamentos de segurança.
R – De segurança? Tem o que a gente chama de EPI, equipamento de proteção individual. Precisa usar capacete, óculos. Isso tudo eles usam. A gente orientava, por exemplo: “Você acha que não usando o protetor auricular um dia, dois, acha que isso não está te afetando? Depois de muitos dias, vai afetar a sua audição. Só depois você vai perceber”, então a gente dava esses toques desses equipamentos de proteção. Mas todo mundo sempre usou bem, sabe? Com relação a isso, não tinha problema, não.
P/1 – Nessa área, você ficou por quanto tempo?
R – Bom, eu entrei na White em 2000. Fiquei dois anos com as quatro usinas, e fiquei mais três anos com essas outras usinas.
P/1 – Sete anos?
R – Não, cinco anos de 2000 a 2005 - isso.
P/1 – E aí você passou a gerência?
R – Passei para gerência da planta de produção de CO2, em 2005. Nessa usina, eu sou a dona da casa. A gente tem até um certificado de dona da casa. Então, olho a produção, o custo, a qualidade, o meio ambiente, a segurança. Se tem algum problema na manutenção, tenho que chamar o pessoal da manutenção. Então eu tenho que dar conta de tudo da usina, não é?
P/1 – Isso é ser dona da casa?
R – Isso é ser dona da casa. E essa usina é diferente das outras. Recebo o dióxido de carbono bruto da Petrobrás (CO2), purifico e liquefaço na minha produção. Depois estoco em tanques para ser transportado através do caminhão tanque. Nas outras usinas, é o inverso: capta para mandar para o cliente via gás. Eu não, pego o gás do fornecedor [e] faço virar líquido. Só depois vai para o cliente via carro tanque. Não tenho um gasoduto ligado a mim, são caminhões que saem. Aí manda para a Coca Cola, por exemplo, que é um cliente da White Martins. Dependo do meu fornecedor para produzir, então, se a REGAP fala: “Parei por algum problema, não tenho gás para você”, eu paro de produzir também. É complicado nas usinas de CO2, a gente depende muito da fonte.
P/1 – Se quem parar, você falou?
R – A Petrobrás, a REGAP. Eu fico do lado da rodovia Gabriel Passos, que eu chamo de REGAP. É a Petrobrás. Então, se ele para de me fornecer o gás, eu não consigo produzir.
P/1 – E ela foi construída justamente pra...
R – Sim, a usina de CO2 foi construída do lado da Petrobrás justamente para que eu possa receber esse gás, purificar, liquefazer, estocar e distribuir para os meus clientes.
P/1 – Mas essa usina só entrega para vocês?
R – Só para mim. Essa parte de CO2 é só para mim, não existe outra que produza CO2 perto, não. Tem a de Betim, a de Duque de Caxias. A de Cubatão não é a Petrobrás. Em Cubatão, tem duas: a de Mauá e a de Araucária. Tem em Laranjeiras e Camaçari também. Essas são as usinas de CO2 que existem no Brasil. São poucas, não é muito.
P/1 – E essas não são da Petrobrás?
R – Não. Acho que Petrobrás só eu [e] no Rio de Janeiro. Se não me engano, Laranjeiras? Não, Laranjeiras é Fafen. Não sei. Em Camaçari, que é da Petrobrás. Mas todas essas outras têm outro fornecedor. Se não é a Petrobrás, é outro fornecedor que fornece o gás. Então, todo mundo está no mesmo barco. Se o fornecedor fala que não tem, a gente para de produzir.
P/1 – E não tem uma reserva, como é o plano B?
R – Aí é que está: enquanto eu estou produzindo, vou estocando nos tanques, fica lá estocado o CO2 líquido. Vai tirando para os clientes. Mas, por exemplo, em Minas, a demanda é maior do que a produção. Qual é o plano B? Trazer de Cubatão para colocar no meu tanque e de lá mandar para os clientes. Então se, por exemplo, a parada da Petrobrás é muito grande, pronto! Não dá tempo de trazer de Cubatão. A gente fica apertado para atender os clientes.
P/1 – Só pra esclarecer, o que seria uma parada grande, quanto tempo? Qual é a referência?
R – Ah, se eles pararem uma semana, já é uma parada grande. Porque, normalmente, eles têm a parada programada: “Ah, no mês tal, no ano tal, eu vou parar durante um mês”. Nesse caso, conseguimos nos programar. Mas se parou porque furou um trocador de calor, algum problema, assim, que não se esperava e ficou mais de uma semana parado, pronto! Meu estoque vai lá para baixo e a distribuição não consegue trazer de Cubatão. Porque é muito caminhão que tem que vir e eles não têm também tanto caminhão assim. Então a gente fica nesse sufoco. (risos)
P/1 – Como são essas estocagens, questão de segurança, como elas são feitas?
R – Por exemplo, lá eu tenho dois tanques. Está chegando até um terceiro tanque para mim. Um dos tanques tem capacidade de 300 toneladas de CO2 líquido. Outro, de 275 toneladas. O ideal é conseguir encher o tanque, deixar nos clientes para que eles possam retirar aos poucos. Mas, isso quase nunca acontece, porque sempre que eu estou enchendo está saindo um. Agora, por exemplo, estou com aumento na capacidade de estocagem, para conseguir produzir melhor, estocar mais. Para não ter problema; e quando vir de Cubatão, poder guardar no meu tanque quando precisar. Cubatão é uma fábrica que produz muito. Estão com novos tanques também, para aumentar a capacidade de estocagem deles. A maior fábrica do Brasil de CO2 é Cubatão. Então é isso, a gente estoca, faz análise de qualidade - somos bem focados na questão da qualidade. Principalmente porque o CO2 vai para indústria de alimentos, não é? Temos que trabalhar com uma pureza muito alta.
P/1 – E você falou que lá você tem muitos clientes, quais são os principais?
R – Assim, o principal cliente é a Coca Cola. Tem outras indústrias de alimentos, a Mate Couro... Tem também Vale, tem mineração. Diversos tipos de cliente, mas o foco do CO2 é a Coca Cola.
P/1 – Você destacou a questão dos alimentos: poderia exemplificar um pouco os usos do CO2, além da Coca?
R – Sim, a Coca é a principal. Você precisa gaseificar porque Coca Cola sem gás, não é? Ninguém merece! (risos) O CO2 é uma parte muito importante do refrigerante. Além da carbonatação de bebidas, o que temos? A fabricação do colchão de espuma usa CO2. A pasta de dente também usa CO2. Na fabricação de gelo seco também. O gelo seco, na verdade, é o CO2 na forma sólida, não vira água; ele sublima - da fase sólida, vai para o ar. É utilizado, por exemplo, para a limpeza de equipamento por jateamento. Para a retirada de óleo, ou outro produto. Não fica resíduo. Como se fosse um jateamento de areia. Se fizer com areia, ficará o resíduo de areia lá. Com gelo seco não, limpa e some. É usado também nas empresas de avião, para conservar o alimento. Em festinhas, aquela fumacinha que sai é o gelo seco que faz. A animação dessas festas, essa névoa, esses efeitos: tudo gelo seco. Tanto o CO2 líquido quanto o gelo seco são os produtos produzidos na usina. Mas o foco mesmo é o CO2 líquido, principalmente o da carbonatação.
P/1 – Como funciona esse processo, vocês só entregam o gás e aí...
R – Na verdade, como gerente da usina, minha responsabilidade é colocar no meu tanque, o CO2. A distribuição é que sabe qual cliente eles têm que mandar. Retiram o produto do meu tanque e vão direto para o cliente. Chegando ao cliente, coloca no tanque dele. Daí o cliente faz o processo dele, entendeu?
P/1 – Essas misturas podem ser tanto para o último cliente como para indústria?
R – Normalmente, deixa no tanque do cliente - que já é o cliente final. A distribuição deixa no tanque do cliente. Eles têm o controle da necessidade do cliente. Isso não sou eu, eu tenho que disponibilizar CO2 para eles no tanque, com a qualidade boa, para poder atender os clientes alimentícios.
P/1 – Você poderia contar sobre os “princípios do três Rs” - reduzir, reutilizar e reciclar - dentro dessa cadeia do CO2?
R – Dentro da cadeia do CO2? Dentro do processo, não tem muito como fazer isso, mas na administração vejo muito essa coisa do reduzir, reutilizar. Temos a questão da geração de papel. Tentamos sempre reduzir ao máximo: fazemos a coleta seletiva, reciclamos papel, plástico. A gente tem bem essa consciência ambiental dentro dessa área mais administrativa, que é o que dá para mexer muito, não é? Dentro da cadeia do CO2, é meio difícil. O que a gente pode fazer, por exemplo? Numa das etapas do processo, existe um vaso de carvão ativado. Então a gente analisa para ver se o carvão está bom ainda para fazer a purificação do CO2. Não jogamos fora o carvão, ele é devolvido para o fabricante. Mando reativar para poder usar de novo.
P/1 – É possível isso, no carvão?
R – É possível isso no carvão ativado. O que tenho que verificar no carvão ativado? O índice de iodo. Se o índice de iodo estiver abaixo de “x”, eu já não posso usar. Deve ser reativado. Aí aumenta de novo e eu posso usar. Tem outra etapa do processo também que a gente usa alumínio ativado. Esse já é reutilizado no processo. A gente passa o CO2 no alumínio ativado. Quando satura de umidade, aqueço para jogar essa umidade fora. Então, está pronto para usar de novo. Nessa etapa, não tenho muita geração de coisa jogada fora, entendeu? Tentamos sempre utilizar ao máximo nossos recursos para não ter que ficar descartando.
P/1 – E na cadeia do CO2, se utiliza muita energia também?
R – Sim, porque a gente tem o compressor. Para poder fazer o CO2 tem a parte da compressão, então utiliza muita energia. A energia gera um custo muito alto na unidade, é um dos maiores custos que a gente tem. O compressor é o principal, o que realmente gasta mais energia, principalmente porque opera 24 horas por dia, sete dias por semana. Então, quando não tem parada, não é, é o maior custo da gente em termos de energia elétrica.
P/1 – E as paradas são programadas?
R – Sim, as paradas são programadas. Ao menos que seja assim: “Ah, quebrou alguma válvula”. Nesse caso, é uma corretiva, não é programada. A gente tem que tentar fazer o mais rápido possível, mas normalmente a gente tem paradas programadas para poder evitar isso: “Ah, deixa ver como que está o compressor”. A tantas mil horas. É tudo programado. Eu paro para ver como está para não acontecer essas que não são programadas.
P/1 – Conta um pouquinho o que são as ilhas de utilidade?
R – Ilhas de utilidade? Entendo que seria mais o pessoal que ajuda a gente a gerir o nosso processo, mexem com energia, estão envolvidos no processo com a gente.
P/1 – Se falta energia, o que pode acontecer? Às vezes falta?
R – Falta, às vezes falta. Se faltar para o processo inteiro, para tudo até que volte a energia. E acontece, acontece muito. Aí tem que esperar a energia voltar. Fazer o que, não é? Não dá nem para carregar a carreta. Mesmo tendo o produto no tanque, sem energia eu não consigo carregar as carretas, porque não dá para operar a bomba. Não posso analisar o produto. Então, para tudo, é complicado.
P/1 – Imagino. Acho que na produção de gás como um todo, a energia é o principal.
R – É essencial. No CO2, então, além da energia, tem a disponibilização do gás bruto. São as duas coisas essenciais. Sem isso não consigo fazer nada. Outra coisa com relação ao CO2: agora existe a gerência de todas as unidades de CO2, no Brasil e na América do Sul. Como mudei de gerência, às vezes temos que fazer algum trabalho fora também. Cheguei a viajar para o exterior para ajudar com o processo, inclusive, do CO2. Viajei para Argentina, para o Peru, Bolívia, Colômbia. É interessante viajar assim, conhecer outras culturas. É muito interessante.
P/1 – E como é a diferença desses países com o processo, ou é padrão? Você percebe diferença de estrutura?
R – Eu percebo que aqui a gente tem mais conhecimento, sabe? Tanto é que quando vou falar de processo nas visitas, treinar os operadores, vejo que estão um passo atrás da gente. Não só dentro da Praxair, mas no todo. Na estrutura da cidade, nos fornecedores que eles têm. Se precisarem fazer algum serviço diferente, sabe, não tem muita... É diferente demais. Para você ter noção, na Bolívia, o banco do passageiro do táxi lá era uma cadeira de praia amarrada! (risos) Então, tem muita coisa que você não imagina ver: “Nossa, como assim você ver uma coisa dessas?”. Eles têm muito que andar ainda, sabe, em termos de estrutura, têm muito que aprender.
P/1 – Teve alguma planta desses países que você acompanhou por um período maior, que você acompanhou mais profundamente?
R – Eu acompanhei mais a da Colômbia, estive lá três vezes. Sabe, deu para ver a diferença. No início, a gente dava as dicas, as orientações... Agora, da última vez que fui, nossa, mudou muito! A mentalidade dos operadores, a planta em si. Ficou muito mais segura em termos de processo. O pessoal sente necessidade, estão carentes dessas informações. Tudo que a gente fala, eles devoram e atuam para poder melhorar. É bem interessante isso, não é?
P/1 - De todo esse tempo que você está atuando nas plantas, dos outros gases, do CO2, você percebe algumas diferenças, avanços, mesmo na Colômbia?
R – Ah, teve muito avanço na questão, principalmente da segurança. A gente trabalha de maneira muito mais segura. Com as informações que a gente tem, eu acho que o maior avanço foi na área de segurança. Na segurança do processo em si. Na segurança do trabalho, já existia o uso dos programas EPI. Isso já existia e continua existindo. Na segurança de processo, eu acho que melhorou muito, foi um desenvolvimento muito grande. Aqui, no Brasil, muito mais do que fora. [Lá] fora ainda está em desenvolvimento, nesses outros países que eu citei. Mas aqui no Brasil, nossa, aumentou muito a questão da segurança de processo. O foco é grande, sabe?
P/1 – E hoje, qual que você consideraria o maior desafio nessa parte de processo com CO2?
R – O maior desafio seria conseguir novas fontes para poder produzir mais CO2. Estão instalando uma fábrica nova de CO2 em Iguatama. Esse é o maior desafio, a White Martins aumentar a capacidade de produção de CO2. Porque o mercado está em expansão e a gente às vezes não tem tanto CO2 para fornecer.
P/1 – Você falou que o seu fornecedor é a Petrobrás, quais são os outros? Existe a possibilidade de se reutilizar o CO2 da indústria, você tem conhecimento?
R – Pois é. Tem que desenvolver ainda. Por que, o que acontece? Nesse processo de purificação, preciso de um CO2 com uma pureza muito alta. Tem que atingir no mínimo 97% de pureza. Eu posso elevar a 99,99%. Mas em outras usinas que disponibilizam para gente, às vezes ele vem com muita impureza, a gente não consegue tirar essas impurezas e deixar ele puro o quanto a gente precisa. Então, é uma área que poderia ser desenvolvida, uma nova tecnologia, uma chance, uma oportunidade.
P/1 – No teu caso, você não pode pegar esse CO2, mas tem outros casos que eles utilizam?
R – No meu caso, não. Existem outras plantas, por exemplo, a de Hidrolândia é de combustão. Eles queimam o gás, então o gás já vem com uma pureza bem menor. O processo lá é completamente diferente. Com outra tecnologia, existe essa possibilidade. Em Iguatama, vai ser diferente também, porque eles estão pegando gás _______ do carbureto, então já tem uma pureza diferente da minha também. A tecnologia também é diferente, então é um campo que dá para explorar.
P/1 – O futuro está por aí?
R – Está por aí sim.
P/1 - Qual que é o tamanho da planta de Betim?
R – Sim, a planta de Betim tem uma capacidade para produzir 80 toneladas de CO2 líquido por dia. Como dependo do que a Petrobrás manda, eu não produzo isso tudo. Normalmente, a gente produz 50 a 60 toneladas por dia. O ideal seria 80 toneladas. Produzindo 40 ou 80, eu tenho que rodar o meu compressor - e o compressor é o que mais consome energia. Então o custo de produção meu fica muito maior quando produzo menos, não é? Se eu estiver produzindo muito, o custo de produção cai, entendeu?
P/1 – E a dimensão de recursos humanos, quantos funcionários?
R – A planta opera 24 horas por dia, durante sete dias na semana. Lá temos um operador por turno. Os turnos são de seis horas. Da meia noite às seis, de seis ao meio dia, do meio dia às 18h, das 18h à meia-noite. Um operador por turno para tomar conta da planta e tomar conta dos carregamentos de carreta. O que acontece? Temos que analisar o tanque de todas as carretas. Pela questão da qualidade, é o que deixa a gente super preocupado. A gente faz a análise do tanque, faz análise da carreta antes dela chegar. Depois que eu ponho o produto na carreta, faz a análise para poder levar o certificado para o cliente. É o operador do turno que faz isso tudo. Mexe com a produção e mexe com o carregamento das carretas. Eu tenho também um operador que mexe com a prensa de gelo seco, produz o gelo. O cliente de gelo seco vai à usina. A gente tira o gelo de “geladeironas”. Porque a gente estoca o gelo em geladeiras grandes. Tem também um assistente administrativo e eu. Só. (risos)
P/1 – E você gerencia?
R – Gerencio o pessoal. Atualmente, a gente está com um técnico de segurança que fica lotado na usina. O pessoal de manutenção, por exemplo, vêm dar suporte. Não ficam na minha unidade, dão suporte quando preciso. A equipe é bem enxuta. Tem dia que fico só eu lá no administrativo, tomando conta. Mais ninguém. (risos)
P/1 – No meio de todas essas funções, cuidar de tudo isso, como é na tua vida particular?
R – Pois é. Me casei em julho de 2009 e tive uma filha em agosto de 2010. Antes disso, eu ficava até mais tarde na usina se precisasse. Mesmo se não precisasse, eu ficava até mais tarde, levava serviço para casa. Conseguia trabalhar em casa. Conseguia fazer muito mais coisa. Agora, eu já não consigo mais, não é? Tenho minhas outras atividades. Consigo trabalhar em casa depois, só depois das dez da noite, quando minha filha, Ana Clara, está dormindo. Ficou mais difícil conciliar, mas nada é impossível, não é? Tanto é que continuo fazendo tudo o que eu faço. Mas na questão de viajar, por exemplo, sofro um pouco mais quando tenho que viajar para poder deixá-la. Mas dá para conciliar. Claro que no mercado de trabalho, para a mulher é mais complicado. Bem complicado. Vejo que assim, a White Martins é muito corajosa, porque realmente tem todo esse lado pessoal que, às vezes, pode ter interferência. Outro dia, a babá me ligou: “A Ana Clara caiu, bateu a cabeça no chão”. Saí da usina correndo para levá-la ao hospital. Tem esse lado que às vezes o homem não atua muito, é mais a mulher mesmo que toma conta, não é? Que fica mais preocupada e tal. Mas estou conseguindo. A Ana Clara tem um ano e um mês. Desde então, estou conseguindo levar numa boa, tanto ela quanto a usina. Estamos indo bem. (risos)
P/1 – E o seu marido? Você falou que estuda também...
R – Ele faz Engenharia Química.
P/1 – Como vocês se conheceram?
R – O pai dele trabalhava na manutenção da White. Conheci num churrasco. Teve um aniversário de um amigo da White, ele foi com o pai dele e o conheci.
P/1 – Família White Martins.
R – Atualmente, o pai dele não trabalha mais na White, mas teve uma época que foi família White Martins. Foi assim que eu o conheci. E, atualmente, ele faz Engenharia Química, eu falei: “Nossa, mais um engenheiro doido na família!”. Espero que a Ana Clara não faça Engenharia Química. (risos)
P/1 – E o que vocês gostam de fazer, assim, para se divertir em final de semana?
R – A gente vai muito ao parquinho, porque a vida mudou completamente depois da Ana Clara, não é? Agora são as atividades com ela. Parquinho que ela gosta, muita festa de criança. (risos) Então é mais isso mesmo. Assim, barzinho, essas coisas, já não dá muito para ir porque ela está muito novinha. Mas um almoço, um restaurante, uma coisa assim, a gente vai. Visita os avós, é isso que a gente tem feito, para se divertir. Muda o foco completamente, é muito gostoso.
P/1 – Todo esse tempo na White Martins, quais foram os aprendizados que você tirou ao longo dessa carreira? Você está há quanto tempo?
R - Dia 13 de novembro, faço 11 anos. A White é uma escola. Tem muita oportunidade se você quiser se desenvolver. Me ensinou a correr atrás das coisas, sabe, relacionamento interpessoal, ter jogo de cintura. Nossa, a White, tanto na parte técnica quanto nessa área humana de relacionamento, realmente... Devido ao fato da gente ter que se relacionar com diversas áreas da empresa, manutenção, distribuição, troca de informação. Essa parte de relacionamento interpessoal foi muito importante. E a parte técnica também, a disponibilidade de normas. O aprendizado é muito grande. Se você quiser, não é? Se correr atrás, você consegue se desenvolver muito bem na White.
P/1 – Pensando na White, qual você considera o maior legado dela?
R – Cem anos é muita coisa, uma história enorme, não é? A White é muito focada nos clientes, sabe essa responsabilidade. Mexe com vidas, produz oxigênio, tanto os medicinais quanto o industrial também. A White está vinculada diretamente às usinas de grande porte, às siderúrgicas de grande porte do Brasil. Está no contexto do desenvolvimento do Brasil. Sem a White, o Brasil também não tem como desenvolver. Imagina parar um alto forno de uma Usiminas! A White fornece produto para o alto forno, anda junto com o desenvolvimento do Brasil. Então, eu vejo que é muito importante, são cem anos de uma história de muito sucesso. Essa questão também de segurança, sabe, como a White trata os funcionários, foca muito a segurança. Um dos princípios que a gente tem é a obrigação de parar uma atividade caso não possa ser executada de forma segura. Esse é um dos princípios que a gente tem. O funcionário tem total liberdade para atuar com segurança. A gente é muito preocupada com a integridade do funcionário, eu vejo isso.
P/1 – Estamos caminhando agora para o final. Tem alguma coisa, alguma passagem, história que você acha que valha a pena contar?
R – Ah, o que eu queria focar mais, assim, é a questão dos operadores lá da unidade que eu fico. A White comprou a Liquid Carbonic, eles vieram de lá. Então, tem operadores que são mais velhos e tem os operadores novos. E todo mundo, assim, me aceitou de maneira tão bem, sabe? Eu vejo que a gente, lá na usina, trabalha de uma forma tão em equipe! Eu acho importante citar a importância de cada um no todo. Se não tenho o operador, o assistente administrativo, não tem como produzir o CO2, não é? Cada um tem uma importância tão essencial nessa parte da produção.
P/1 – A planta de Betim era da Liquid?
R – Era da Liquid.
P/1 – Você sabe, mais ou menos, quando houve essa transição?
R – Foi antes de mim. Não sei se foi em 98 que se oficializou a transição.
P/1 – Quando você entrou, já tava nos padrões da White Martins?
R – Estava como White Martins.
P/1 – Não pegou a transição.
R – Não peguei.
P/1 – E os funcionários, continuaram?
R – Sim.
P/1 – A gente estava comentando da Liquid e da White Martins. Em Minas, tem mais alguma que era da Liquid?
R – Não, em Minas, essa é a única de CO2.
P/1 – Quer contar da sua participação na White, o que você achou desse projeto da White Martins?
R – Ah, eu achei muito interessante e gratificante, por exemplo, ter sido convidada para vir falar um pouco da história. Fiquei muito emocionada, muito satisfeita quando recebi o convite, sabe? Acho que foi uma ótima ideia registrar as histórias das pessoas que fazem a White Martins ser do jeito que é. Fiquei muito satisfeita.
P/1 – Então, obrigada.
R - Obrigada.
[Fim do depoimento]
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