P/1 – Bete P/2 – Charles R – José Barros da Silva P/1 – Boa tarde... R – Boa tarde. P/1 – Seu Barros. Gostaria de iniciar a nossa entrevista o senhor falando o seu nome, data e local de nascimento. R – O meu nome é José Barros da Silva, nascido em São Paulo, em 01/06/1951. P/1 – E seu Barros, os seus pais eram de São Paulo? R – Não, os meus pais são de Pernambuco, Garanhuns. P/1 – Os dois? R – Os dois, tanto pai quanto mãe. P/1 – E eles vieram para São Paulo quando? R – Por volta de 1946. Estive olhando essa data ontem, 1946. P/1 – E eles vieram para São Paulo e foram morar aonde? R – Isso. Na própria Freguesia do Ó. Até hoje estão lá. P/1 – E eles vieram de Garanhuns para São Paulo, o senhor sabe por que, qual motivo? R – Eles casaram, eles casaram lá em Pernambuco, já casaram já em Recife. Casaram em Recife e vieram morar para cá, tentar a vida melhor aqui. P/1 – E eles trabalhavam com o quê? R – Na roça. P/1 – Na roça? R – Na roça. P/1 – E aqui em São Paulo? R – Aqui em São Paulo, a minha mãe nunca trabalhou. Ela sempre foi do lar. O meu pai sempre trabalhou em hotel. O ramo dele era hotel, inclusive o próprio prédio que, hoje eu estou instalado, o meu pai começou trabalhando lá, no Hotel Esplanada, na época do Hotel Esplanada. E essa história foi conhecida após eu estando lá dentro, trabalhando, eu resgatei essa história do meu pai e eu descobri que ele trabalhava lá. Foi um dos primeiros empregos lá no Hotel Esplanada. P/1 – Olha, que interessante. E o senhor tem irmãos? R – Tenho nove irmãos comigo. São mais oito irmãos, comigo nove. P/1 – E todos moram em São Paulo? R – Todos moram em... Não, são oito em São Paulo e um em Santos. Mas tudo no estado de São Paulo, né? Na capital são oito e o outro em Santos. P/1 –...
Continuar leituraP/1 – Bete P/2 – Charles R – José Barros da Silva P/1 – Boa tarde... R – Boa tarde. P/1 – Seu Barros. Gostaria de iniciar a nossa entrevista o senhor falando o seu nome, data e local de nascimento. R – O meu nome é José Barros da Silva, nascido em São Paulo, em 01/06/1951. P/1 – E seu Barros, os seus pais eram de São Paulo? R – Não, os meus pais são de Pernambuco, Garanhuns. P/1 – Os dois? R – Os dois, tanto pai quanto mãe. P/1 – E eles vieram para São Paulo quando? R – Por volta de 1946. Estive olhando essa data ontem, 1946. P/1 – E eles vieram para São Paulo e foram morar aonde? R – Isso. Na própria Freguesia do Ó. Até hoje estão lá. P/1 – E eles vieram de Garanhuns para São Paulo, o senhor sabe por que, qual motivo? R – Eles casaram, eles casaram lá em Pernambuco, já casaram já em Recife. Casaram em Recife e vieram morar para cá, tentar a vida melhor aqui. P/1 – E eles trabalhavam com o quê? R – Na roça. P/1 – Na roça? R – Na roça. P/1 – E aqui em São Paulo? R – Aqui em São Paulo, a minha mãe nunca trabalhou. Ela sempre foi do lar. O meu pai sempre trabalhou em hotel. O ramo dele era hotel, inclusive o próprio prédio que, hoje eu estou instalado, o meu pai começou trabalhando lá, no Hotel Esplanada, na época do Hotel Esplanada. E essa história foi conhecida após eu estando lá dentro, trabalhando, eu resgatei essa história do meu pai e eu descobri que ele trabalhava lá. Foi um dos primeiros empregos lá no Hotel Esplanada. P/1 – Olha, que interessante. E o senhor tem irmãos? R – Tenho nove irmãos comigo. São mais oito irmãos, comigo nove. P/1 – E todos moram em São Paulo? R – Todos moram em... Não, são oito em São Paulo e um em Santos. Mas tudo no estado de São Paulo, né? Na capital são oito e o outro em Santos. P/1 – E o senhor tem filhos? R – Um menino de nove anos. P/1 – E a sua esposa é de São Paulo? R – São Paulo, inclusive, coincidentemente ela é ex-funcionária do Grupo Votorantin. Ela trabalhou lá por dez anos. Assim que nós casamos, ela se afastou porque as empresas saíram do prédio, foram para a Rua Amaury. Ela ficou... Ela não quis ficar mais e ela foi afastada. Hoje, daí para frente, ela ficou só no lar e eu continuei na empresa. P/1 – O senhor mora na Freguesia do Ó desde que o senhor nasceu? R – Desde que eu nasci, graças a Deus. P/1 – Como que é isso, assim, morar tantos anos no mesmo bairro, ver a transformação, o bairro crescendo? R – É gratificante. Você não imagina como, quanto eu gosto de lá. É fantástico. P/1 – Quais as coisas que o senhor pode dizer para gente, assim, que foi mudando? R – Que foi mudando? O tempo que eu me conheci mesmo era o tempo da boiada ainda. Passava boiada, a gente corria atrás dos bois. Era engraçadíssimo. E foi, com o tempo foi evoluindo. Veio o asfalto. Então iluminação, então é fantástico. P/1 – Então, quer dizer, que no carnaval o senhor torce para a Rosas de Ouro? R – Não, não curto muito carnaval não. Eu não curto muito. Eu, realmente, eu vejo, tal. Se tiver que torcer, torço para a Rosa, mas não curto muito carnaval não. Gosto mais é de futebol mesmo. Gosto de futebol. P/2 – Senhor Barros, como iniciou os seus estudos? R – Meus estudos eu iniciei... É complicado datas, né? Na realidade, o meu primário foi aos sete anos de idade. P/2 – E assim, que memória o senhor tem desse período escolar? R – Ah, muito bom, muito bom. Eu gosto bem, lembro dos meus professores. P/2 – Tem um que vem mais forte a sua mente? R – Tem uma, a professora Abadia, o nome dela. Inclusive, me gravou muito isso porque ela com lápis furou a minha cabeça. Então, isso gravou na mente, eu tenho isso até hoje. Eu pego um lápis, eu lembro dela. P/2 – E ela furou a sua cabeça por que? R – É, eu sempre fui traquinas, né? (risos) Nunca... Hoje eu sou uma pessoa mais consciente, mas antigamente eu fui terrível na minha infância. Graças a Deus, hoje, os tempos são outros. Naquele tempo eram outros tempos, senão hoje não saberia o que eu seria de tão ruim que eu era na época, né? Dei muito trabalho em casa. P/1 – Era um menino travesso? R – Demais, demais, demais. Consegui mandar a minha mãe duas vezes para o Pronto Socorro, de tanto nervoso que ela passou. Então eu apanhava todos os dias. Apanhava porque batia na rua e apanhava porque apanhava na rua também. Então eu apanhava todos os dias, não tinha jeito. P/2 – Senhor Barros, no seu período de estudos, quais eram as suas expectativas em termos da sua carreira profissional? R – Não, não tinha muito não viu? Era uma pessoa que não tinha muita informação. Os meus pais não me deram muita informação. Eu fui adquirindo informação com o tempo de vida, tanto é que eu comecei, praticamente, na Metalúrgica, depois passei para escritório, aí voltei para malharia. Fiquei sem registro. Então, quer dizer, eu vim me achar mesmo na área profissional, profissionalmente, em 1975, que eu tive uma direção de vida. O nome dessa empresa, a do Brasil. P/1 – O senhor começou a trabalhar com quantos anos? R – 14 anos de idade. Na verdade, com 11 anos. Eu conto como... Época de serviço, tempo de serviço aos 14, que era registrado. Mas desde os 11 anos eu já trabalhava para ajudar um pouco em casa, né? P/1 – O senhor é o mais velho? R – Não, eu tenho três mais velhos do que eu. Tenho um irmão e duas irmãs. Aí vem... Depois vem a minha pessoa. P/2 – Qual foi o primeiro trabalho do senhor aos 14 anos? R - É a Metalúrgica , trabalhava numa metalúrgica. Eu era torneiro. P/2 – E aos 11 anos o senhor fazia? R – Trabalhava numa casa de móveis para ajudar em casa, aos 11 anos. P/2 – Como é que foi esse primeiro dia de trabalho nessa metalúrgica? R – Não, na realidade, não lembro. Eu não lembro, assim, exatamente. Me lembro que tive problemas nessa empresa, que eu peguei uma infecção porque mexia com óleo nos tornos. Eu peguei uma infecção na perna. Isso aí eu me lembro bem dessa empresa. O que me gravou bem nessa empresa foi isso daí. Assim, nos primeiros dias eu não me lembro. P/2 – E teve algum lugar que o senhor trabalhou, que impulsionou mais a sua carreira, o senhor tinha falado? R – Foi na do Brasil, em 1975, quando comecei. P/2 – Como é que foi esse trabalho? R – Muito bom, foi muito bom. Eu comecei, realmente, como auxiliar de escritório. Eu aprendi muita coisa lá, muita coisa que eu sei hoje. Aprendi desenho, aprendi ser um chefe, um supervisor, foi nessa empresa. Eles me deram muita chance, gostavam muito de mim. P/2 – E como é que o senhor ficou sabendo deste trabalho? Como o senhor entrou na Austin? R – Na Austin agência? Eu estava saindo da malharia e eu queria sair, queria melhorar que eu não tinha registro, nem carteira. Eu queria ir para uma coisa melhor. Aí eu fui até essa agência, na Xavier de Toledo, e eles me indicaram essa Austin do Brasil e deu tudo certo, que eu fiquei lá por nove anos. P/1 – Como era o trabalho do senhor na Austin? R – Na Austin, eu comecei como... Fazer reprodução de xerox, mapas de construção, que era uma área de empresa de construção. Depois eu passei para área de desenho, mas não me dei bem não. Minha área mesmo era serviços gerais, mexer com obras, com limpeza, essas atividades, porque desenho mesmo eu nunca gostei. P/1 – É uma área mais dinâmica? R – Mais dinâmica, isso. Eu tenho que estar na atividade todos os dias, senão eu não me sinto bem. Eu ficar parado não me sinto bem. (risos) P/2 – Seu Barros, quando o senhor começou a trabalhar na Votorantim? R – Na Votorantim, comecei em 1988, já como supervisor administrativo. Estou até hoje como supervisor administrativo. P/2 – Qual unidade? R – Oi? P/2 – Em qual unidade o senhor começou? R – Na administração mesmo, na própria administração. Na época que eu comecei era Indústrias Votorantim. Depois teve aquela dispersão, eles foram para a Rua Amaury, foi para Sorocaba e a CBA ficou no edifício administrando o prédio. E eu continuei, passei para CBA. P/2 – O senhor sempre trabalhou no prédio da Praça Ramos? R – Sempre, sempre, sempre. Nunca saí de lá. P/1 – E como o senhor chegou a trabalhar lá na Votorantim? Como foi essa... R – Através de agências também. Eu saí da , passei para fui trabalhar na Prológica e a Prológica me demitiu. E eu fui a procura serviço e eu fui ver algum serviço em Itapevi e lá ele falou: “Você é muito bom, a gente queria uma pessoa que... Não dá para você ficar aqui, que já tem uma pessoa que vai ficar. Mas a gente vai indicar você para alguma empresa”, que eles tinham aqueles contatos com outras empresas e foi através disso aí. Eles me indicaram uma empresa de armas de Itapevi, me indicou para a Votorantin. E através deles que eu fui chamado em casa. Fiz as entrevistas, passei e estou lá até hoje. P/2 – Qual foi a primeira impressão que o senhor teve da Votorantim? R – Ah, fantástica, fantástica. Aí eu vi um futuro, entendeu? Vi um futuro promissor porque é uma empresa de grande porte. Então isso aí foi gratificante. P/2 – O senhor se lembra do primeiro dia de trabalho no prédio da Votorantin, da CBA? R – É, lembro. Inclusive, eu lembro que quando eu ia começar a trabalhar, justamente estava tão ansioso para ir, que eu fui justamente num dia que estava fechada a empresa, que era um feriado prolongado. Era na quinta-feira Santa, eles fecharam e eu fui justamente para lá na quinta-feira Santa, né? Aí fui começar na segunda-feira, já nessa área de limpeza. Fui conhecer o prédio, não conhecia nada. Fiquei meio assustado no começo, mas fui me adaptando, graças a Deus, com muita amizade, muita ajuda. P/1 – E o senhor conheceu a sua esposa lá? R – Lá, trabalhando lá. Ela trabalhava na área de informática. Trabalhava na área de informática, era bibliotecária lá e eu conheci lá. Fomos tendo um relacionamento, fomos se conhecendo, conhecemos lá. P/1 – Foi logo que o senhor começou a trabalhar ou no mesmo ano? R – Não, não. Eu comecei em 1988, eu já a conhecia lá dentro. Nós fomos ter contato mais afinado em 1990. Começamos namorar em 1990. Namoramos até 1992, casamos em 1992, os dois trabalhando lá. Continuamos os dois trabalhando, casados. Aí em 1994, foi quando teve essa separação das empresas, ela saiu e eu continuei. Aí ela não trabalhou mais. Ficou no lar, só no lar. P/2 – Como foi o desenvolvimento da carreira do senhor na Votorantim? R – Fantastico, fantástico. Aprendi muito, aprendi muito com a ajuda de todos os diretores, inclusive doutor Antônio, uma pessoa muito dinâmica. Ele conversa com a gente, ele chama, ele dá conselho, ele dá bronca na hora que tem que dar bronca. Ele elogia na hora que tem que elogiar. Então, para mim foi gratificante. Estou encerrando a minha carreira no ano que vem. Vou me aposentar, mas devo muito a eles. Tudo que eu tenho eu devo ao Grupo Votorantin; casa, carro, família, filhos, eu devo tudo a eles, graças a Deus. P/1 – O senhor está há quantos anos da Votorantim? R – Vai completar... Estou com 15 anos. Completei 15 anos agora em abril. Estou lá. P/2 – E conta para gente um pouquinho dessa trajetória dentro da Votorantim? O senhor entrou em 1987... R – Em 1988. P/2 – Em 1988? R – Em 1988. P/2 – E como o senhor foi ascendendo dentro da empresa? R – Então, é com... Eu sou uma pessoa que gosta muito de ajudar as pessoas e gosto de prestar serviços. Então eu fui prestando serviço para todos, mostrando boa vontade, executando serviços, mesmo contra alguns gerentes que tinha na época, da Votorantin. Então, a gente ia passando por cima disso, ia ajudando as pessoas. Então as pessoas passaram a me ajudar também. Então foi um negócio muito gratificante. Foi uma troca de favores, de energia. Então nós fomos subindo, graças a Deus. P/1 – Como foi essa mudança da Votorantin, quando foi para a Rua Amaury? Assim, o que muda no prédio? R – Ficou um vazio. Ficou um vazio porque nós tínhamos no prédio, na época que eu entrei, aproximadamente 2 mil funcionários. Então caiu para 500, para 400. Foi um negócio, assim, horrível, que ficou um vazio muito grande. Então, depois, foi todo mundo... Foi ampliando as empresas. A CBA foi crescendo, aí voltou outras empresas, Votorantin Metais, Votorantin Energia Santa Cruz. Aí voltou a ativa outra vez. Ainda tem alguns pontos vazios, mas não é tanto quanto ficou vazio na época. P/2 – E quais empresas existiam nessa época... R – Lá? P/2 – Antes dessa... R – Dessa difusão, antes dessa separação? Existia as Indústrias Votorantin, a Companhia Brasileira de Alumínio, a CMM, Companhia Mineira de Metais, também estava lá nessa época. O que eu me lembro são essas três na época. P/2 – Aí elas se separam? R – Elas foram... Uma parte... A saiu, foi para o Ibirapuera e continuamos a Votorantin. Aí Votorantin se separou, foi para Sorocaba uma parte, uma parte ficou na rua Amaury que está lá até hoje. Aí a Santa Cruz estava lá na Praça da Sé, aproximadamente por ali, veio para o prédio. Está no prédio até hoje. A CMM continua incorporada na VMM, né? P/2 – Sim. Senhor Barros, na Votorantim, o senhor está vinculado a qual empresa? R – A CBA, Companhia Brasileira de Alumínio. P/2 – O senhor sempre trabalhou na CBA? R – Não. Exatamente, da Votorantin, eu fiquei na Votorantim de 1988 a 1994. E de 1994 até os dias de hoje estou na CBA. P/1 – Voltando um pouquinho, o senhor chegou a comentar no começo, o senhor falou, que o senhor soube que o seu pai trabalhou naquele prédio, que era um hotel. R – Isso, isso, trabalhou no hotel. P/1 – O senhor ficou sabendo como? R – Através da minha mãe. A gente conversando em casa com os meus irmãos. Inclusive, ontem, eu conversei com o meu irmão, ele falou: “Não, está lá sim.” E eu tenho, eu tinha uma foto dele na porta do prédio. Isso eu me lembro, me recordo e eu disse: “Não acho essa foto.” Procurei em tudo para provar, para deixar naquelas fotos do auditório. Não acho, não encontro essa foto. Encontrei ele no outro hotel, no Lord Hotel, no Hotel Brasil. Essas duas fotos eu tenho. Tinha essa foto do Hotel Esplanada lá na porta, na mesma entrada que é hoje lá. Isso eu gravei bem, mas eu não consegui encontrar essa foto ainda. E a foto, vou procurar com uma irmã que está em Santos, talvez esteja com ela. P/1 – O prédio, é um prédio muito antigo. R – Antigo. P/1 – E belíssimo. R – E belíssimo também. P/1 – Existe a preocupação de conservar, de fazer poucas mudanças? R – Existe. Não, poucas mudanças não há não. Há muita mudança por sinal, a gente até estranha. Há muitas mudanças, mas umas mudanças bem feitas, bem estruturadas, sem problema nenhum. Nada para danificar a estrutura do prédio. Ela é mantida, tanto é que ela é tombada, o prédio é tombado. Tem um tombamento, então externamente não se mexe. Só se mexe internamente, que existe, isso é normal em todas as empresas essas mexidas, né? Muda um setor para cá, passa outro para lá. Então, essas mudanças são constantes e faz parte da minha atividade diária fazer essas mudanças. P/2 – Senhor Barros, como que é o cotidiano... O seu cotidiano de trabalho naquele prédio? Como que o senhor vê isso? R – A minha atividade, não paro, não paro, não paro. Dificilmente vocês vão ligar lá, vocês vão me encontrar na minha mesa porque eu já chego às 7:00, eu já subo, abro todas as salas, a presidência para limpeza, manutenção, Desço prédio, vou olhando sala por sala, acendendo a luz ou apagando luzes. Verificando, então, é o dia inteiro assim. Dia e noite, praticamente, trabalhando até às 20:00... 22:00 lá, nessa parte de manutenção e limpeza. É uma atividade constante, e é o dia inteiro as pessoas ligando para arrumar telefone, arrumar mesa, quebrou um aparelho, tem um vazamento, a gente já sai correndo, já tem as equipes certas para esses locais. Então é um serviço gratificante para mim. P/2 – Bom, o senhor conhece aquele prédio, acho que mais do que qualquer outra coisa? R – Ah, sim. Eu conheço cada cano de água que passa ali, cada instalação, que tudo fomos nós que fizemos. Praticamente está tudo novo, né? O Corpo de Bombeiro, condenou o nosso forro que era de madeira, então nós estamos trocando aos poucos para forro e para gesso. Então por isso a gente já passa a conhecer mais. Já quando você faz uma manutenção dessa, uma retirada de um forro de madeira, você já tira tudo. Tira fiação, tira os cabos, faz tudo novo. Então tem andar que está novinho em folha, não há problema. Risco de incêndio existe, algumas reformas tem que fazer ainda, estão sendo executadas aos poucos. P/2 – E qual o lugar daquele prédio que o senhor mais gosta, que o senhor mais se identifica? R – O primeiro andar, que é o auditório. Que o auditório é onde vocês estão lá agora, fazendo esse trabalho importante. Essa divulgação da empresa. É ali que eu gosto muito por causa do auditório. Ali no auditório a gente viaja porque tem histórias aquele auditório, né? Doutor Antônio, há uns anos atrás, ele permitiu que uns senhores da terceira idade fossem visitar o prédio, que participaram do baile naquele... No hotel, no auditório no hotel. Então nós acompanhamos, é fantástico. Aqueles senhores, aquelas senhoras choravam, olhando os locais onde eles dançaram: “Ai, conheci o meu marido aqui. Hoje não existe mais. Eu dancei nesse cantinho, ele passava aqui.” Olha, foi fantástico. Um negócio assim que me deixa muito emocionado mesmo. Aquele local. P/2 – Assim, o senhor é, vamos dizer, o senhor é uma espécie de mestre- sala daquele prédio. R – Isso, seria o administrador. P/2 – Isso. Quais são as atividades que o senhor vê que a Votorantim... Atividades sociais que a Votorantim desenvolve? R – Ah, fantástico. Nossa, a gente vê muito o doutor Antônio mesmo, que ele faz muito essa parte social. Então a gente acompanha, ele dá ordem para gente, a gente vai nas empresas, nas entidades, saber se realmente precisa disso. A gente recebe cartas todos os dias, doutor Antônio despacha para a gente verificar, tanto eu quanto seu Affonso, que mexe com essa parte, a gente vai verificar. E é muito bom o trabalho que ele exerce na parte social. Fantástico. P/1 – Como que é essas visitas? Eu queria que o senhor explicasse melhor assim, para a gente que não sabe direito, quais algumas entidades que o senhor poderia estar falando, como é essa visita? R – Isso. Uma entidade que me marcou muito foi a entidades Souza Novais em Amparo. Inclusive, foi através da Irene Ravache, ela entrou em contato com o doutor Antônio, que eles precisavam reconstruir uma fazenda em Amparo, que umas casas velhas tinha que reconstruir para recuperação de drogados. Foi essa que eu acompanhei de perto. Doutor Antônio pediu que nós fôssemos lá. Fui lá, eu fui até lá. Eu verifiquei as necessidades da entidade, passei um relatório para ele, dizendo o que precisava. Ele concordou e mandou a gente... Ele não deu dinheiro. Ele mandou a gente reformar. Então eu fui, acompanhei por um ano essa reforma dessa entidade. Deixei todas as casas novas lá. P/1 – E o senhor ia toda semana... R – Toda semana eu ia verificar a obra. Uma vez por semana, eu estava lá verificando a obra. Eles ligavam para mim, precisava de material, a gente corria, comprava e acompanhava até o final. Aí eu entreguei a obra. Está novo, hoje a fazenda está nova. P/1 – Isso tem quanto tempo? R – Isso, foi, mais ou menos, em 1998, 1999, por aí, aproximadamente. P/1 – E teve mais algum caso parecido com esse? R – Não, esse foi o mais vultoso. Teve pequenos casos de doações de cimento, de dinheiro mesmo. Uma coisa que marcou muito, inclusive, é no Morro Grande, na região da Freguesia do Ó. Uma senhora encontrou com ele e falou que precisava de algum coisa, de um dinheiro tal, que estava doente. Ele mandou eu ir até a casa dela. Eu fui até a casa dela num dia à noite saber o que ela precisava. Ela estava com o marido de cama e ela precisava de um remédio, de uns remédios para comprar, um dinheiro para comprar os remédios. Eu fui lá, era coisa simples assim, 500 reais, 600 reais, hoje, entendeu? E ele deu em dinheiro para comprar esses remédios. Foi uma pequena coisa que marcou muito, que eu cheguei na casa daquela senhora, ela ficou toda assustada. “Doutor Antônio mandou vir aqui.” Então foi um negócio... P/1 – E ele encontrou essa senhora onde? R – Na rua. Ele encontra essas pessoas que pedem doações para ele. Então ele manda procurar o prédio. P/1 – Ele anda no centro da cidade? R – Anda. Sozinho não, que há segurança. Tem toda segurança. Todo mundo gosta dele, cumprimenta, ele pára, conversa com todos. Olha jogo, aquelas pessoas que ficam jogando, ele olha, vai nas lojas. Então ele sai, de vez em quando ele sai. Ele quer andar um pouquinho, ele sai. Não quer ninguém atrás. Não quer. E nunca ouvimos nunca que alguém atacou ele ou assaltou, nunca teve esse tipo de problema. P/1 – Ele é uma pessoa corajosa. Ele não tem medo se seqüestro? R – Muito corajosa. Nossa, não tem medo de seqüestro, é muito corajoso. Eu acho que Deus guarda, porque nunca mexeram com ele, porque todo mundo conhece ele no centro também: “Ah, o doutor está andando.” Aí vira aquele, pede isso, pede aquilo. Então, coitado. E às vezes, ele para sair dessas pessoas, ele fala: “Procura o prédio. Procura seu Barros no prédio, a dona Valéria, o seu Affonso, que eles resolvem lá.” Aí o pessoal vem procurar a gente, a gente não sabe de nada, né? A gente liga para ele, mas ele lembra, ele manda ajudar. Outras não, “Não sei.” Então a gente manda ligar, conversar com a dona Valéria para marcar se ele aceita ou não, né? P/1 – Então tem sempre gente lá? R – Ah, sempre. Hoje mesmo seu Afonso atendeu uma pessoa lá que queria porque queria falar come ele, queria subir. Não é assim. A gente não pode deixar subir. Então tem que marcar hora, tem que ser tudo ajeitado. P/1 – Ele recebe as pessoas? R – Recebe, recebe, ele conversa. Ele lembra daquilo que ele prometeu, que ele falou. Então, é uma coisa muito gostosa. P/2 – Senhor Barros, nesses anos de trabalho na Votorantim, acompanhando várias coisas, qual foi, vamos dizer, a obra que o senhor teve que realizar dentro da sua área de atuação, que o senhor achou mais complicada, que tenha exigido do senhor um esforço... R – Maior. P/2 – Maior. R – É nossa garagem que nós fizemos agora. Nossa garagem agora foi muito complicada. Nós tentamos fazer nós mesmos, um trabalho de amador e chegou na hora que nós tiramos... Tudo pronto internamente, tiramos as paredes para fazer a garagem nova, dentro das paredes, as paredes são largas, tinha colunas. Aí foi um desespero. Aí, meu Deus do céu. Você imagina o que eles falaram para gente, que... A gente é amador, não somos engenheiros para ver isso, né? Então foi até estudado tirar essa coluna para os carros entrarem, que a garagem estava pronta. Então, não teve jeito. Então ele chamaram a engenharia. Tinha que mudar essa coluna de lugar. Ia ser um transtorno muito grande. Aí fomos quebrando a parede devagarzinho, aí achamos um espaço um pouco maior que os carros passam e estão passando até hoje. Essa foi a maior dificuldade que eu tive. (risos) O resto, tudo normal; tirar forro, fazer parede, isso é comum. Foi a obra mais complicada. P/2 – E esse trabalho que o senhor realiza de assessorar o doutor Antônio nessa questão da... R – Parte social? P/2 – Da parte social? Como o senhor se sente? R – Ah, muito bem, gratificante. É gostoso ajudar as pessoas. Eu ainda penso, quando eu me aposentar o ano que vem, eu quero fazer essa parte social também. Eu quero trabalhar para uma igreja, para uma entidade, prestar serviço, entendeu? Não quero parar. Eu quero parar, assim, de cumprir horários de alguém mandando, você mandando, porque eu também mando também. Eu mando os meus funcionários, eu sei que eu tenho o mesmo problema. Eles mandam em mim, eu mando neles. Então, eu tenho esse tipo de problema. Eu quero parar com isso. Eu quero, quando eu me aposentar, eu me preparei, estou me preparando para me aposentar. Eu me preparei, minha esposa se preparou. Hoje ela é aposentada, eu vou me aposentar e graças a Deus eu guardei. Eu tenho a minha casa, tenho um dinheiro guardado. Vou me aposentar bem, graças a Deus. E quero fazer essa parte social. Ajudar uma creche, ajudar uma igreja, entendeu? Isso é gostoso, que eu aprendi muito com o doutor Antônio. Isso ele vê muito essa parte. Doações lá é mil que ele faz. Então eu aprendi muito isso com ele e vou nessas entidades. Já fui em igreja fazer obras em igreja para ele. Então você vê as necessidades. E ele faz as obras, ele compra e dá. Ele não dá dinheiro. Dificilmente ele dá dinheiro porque realmente existe isso. O dinheiro é extraviado a maioria das vezes. Todas as vezes, a maioria das vezes, a gente vê que o dinheiro é extraviado. Então, ele realmente não dá. Ele dá cimento, ele dá material, ele dá mão-de-obra, faz a gente acompanhar, mas dinheiro dificilmente ele dá. Ele faz a parte dele, mas pensando. P/2 – E qual o trabalho mais gratificante que o senhor realizou nesses anos dentro do Grupo Votorantin? R – É essa obra social que eu fiz lá em Amparo. Essa daqui que me marcou muito. Até hoje, os coordenadores dessa entidade me ligam, agradecendo, mandam cartas para mim. Todo ano eles mandam carta agradecendo. Então você vê que foi gratificante. Foi um negócio marcante. Foi muito bom. P/1 – O senhor, o contato maior que o senhor tem com pessoas da família é com o doutor Antônio? R – Com doutor Antônio. Tem também os contatos com os filhos, mas com o doutor Antônio a gente tem porque vive o dia-a-dia lá. Ele chama, conversa, ele liga para mim, eu vou na sala dele, ele discute, eu despacho. Ele é o ponto maior. Tem os filhos também, mas os filhos hoje estão mais na Amaury, né? Hoje, tá? Mas ele continua aí. P/1 – Ele vai todos os dias? R – Todos os dias. Às 8:00 ele está lá, ele sai 18:00, 19:00, 20:00. Sai para almoço, volta para trabalhar. Isso aí é... Sábado até 13:00 da tarde, todos os dias. Às vezes aos domingos, ele vai trabalhar. Quer dizer, não pára. Dificulta um pouco a gente também na parte de obras, mas a gente tenta coincidir isso. A ausência dele, ele chega e a gente pára a obra, deixa ele trabalhar. Depois ele vai embora, a gente continua. Então por isso tem esses horários excessivos que eu falei. A gente passa do horário por causa disso, preservando a presença dele. Porque é uma pessoa que tem muita atividade, tem que estar pensando mesmo. Você não pode estar batendo nas paredes do lado onde ele está trabalhando. Então a gente já sabe disso, preserva muito isso. P/2 – Senhor Barros, o senhor só presta serviços a CBA ou senhor trabalha com todas as outras empresas? R – Todas as outras empresas eu atendo também. Por igual. Eu não tenho distinção que essa é menor ou melhor. Não, o serviço que eu presto para a CBA, eu presto para as outras empresas dentro do prédio, quanto fora também. Eu atendo muito a casa dele em Bertioga e a gente faz manutenção lá, é que eu comando lá também. Por igual em todas as empresas. P/1 – Então o senhor trabalha com a Votorantin e com a família? R – E com a família. Isso, isso. P/1 – E como é essa relação com a família? R – Muito boa, nossa. Todos me conhecem, gostam de mim. Eles me pedem uns trabalhos de manutenção, manutenção dos carros, segurança para as casas deles, as festas deles a gente que acerta a segurança. Tudo isso é com a gente, tanto eu como o seu Afonso. Tanto é que eu falei para o seu Afonso vir, ele não quis muito não. (risos) P/1 – Do jeito que o senhor fala, a gente percebe o quanto o senhor gosta do seu trabalho. R – Ah, adoro, nossa senhora. Não sei fazer outra coisa. É isso que eu sei fazer, é isso que eu gosto de fazer. Então eu estou naquela transição hoje, que eles estão tirando um pouco de mim, porque eu vou me aposentar. Então já estão tirando, preparando outra pessoa e eu já estou sentindo. Já estou sentindo um pouco para... Eu estou consciente que eu tenho que ir. Não vou me desesperar não. Não quero morrer lá dentro não. Eu quero ter essa lembrança que eu prestei um serviço para a Votorantin e eles me ajudaram muito. Eu quero gravar e guardar isso para mim. P/1 – O senhor acha que vai sentir muita falta? R – Vou, demais, demais. Eles sabem disso. Eles já estão sentindo. Eles já pensam... Já estão vendo que eu já sou uma pessoa triste. Já fique triste de um certo tempo para cá, pensando nisso. Eu estou sem rumo no momento. Me perdi um pouco. Eu estou tentando achar o meu rumo, mas eu acho que com o apoio da família eu vou conseguir. Eu tenho que me afastar porque eu vejo alguns funcionários, praticamente, morrendo aí dentro. Eu não quero isso não. Eu quero conhecer o meu filho, passear com o meu filho, entendeu? Ver o estudo dele, acompanhar isso. Eu não estou vendo isso. Eu trabalho, praticamente, 24 horas. Às vezes, a gente está em casa, liga de madrugada, “Barros, pelo amor de Deus, estourou um cano de água aqui, onde que eu desligo isso? Se der um curto aqui, aonde é que eu faço isso?” Por telefone, você consegue, às vezes você não consegue, você tem que ir lá. Então eu quero parar com isso e me dedicar um pouco à família, à parte social, eu quero me distanciar um pouco. Sei que vou sentir muito, mas eu acho que me acostumo. (risos) P/1 – E nesse prédio da Praça Ramos tem muitos eventos ou não? R – Você diz dentro do prédio? Tem internamente. O auditório é muito usado para alguns eventos, mas externo mesmo não. Só reuniões, algumas festas que tem lá, algum concerto quando o doutor Antônio promove é feito no auditório. Mas não é muito não. P/1 – Esses concertos, ele faz uma vez por ano? R – Mais ou menos. Esse ano já fizemos dois, viu? Esse ano dois, o Bacarelli. Baccarelli foi ver... Fez dois eventos esse ano lá, tá? E eles acham que vão fazer mais esse ano aí, que esse ano aí mais, mas normalmente não. É uma vez por ano realmente. P/1 – E o senhor, nesses anos que o senhor foi vendo as pessoas que foram passando, pessoas que ainda estão lá, o que marcou mais o senhor? Quais pessoas... R – Que me marcou mais? Realmente, doutor Antônio me marcou muito, que eu aprendi muito com ele e uma pessoa que é um ex-gerente meu, que ele era muito ruim para mim, mas sendo ruim para mim, eu aprendi com ele. Ele sendo ruim, eu aprendi muita coisa, mesmo a lembrança meio ruim que eu tenho dele, mas eu lembro dele porque eu aprendi muito com ele. E tem seu Afonso. Seu Afonso é um pessoa muito querida, que eu gosto muito, que eu trabalho com ele diretamente, a gente se dá muito bem. Nós viemos organizar mesmo a administração depois que ele assumiu a parte de segurança. Uma pessoa fantástica. Nossa, ele perdeu o filho dele no Japão. Nossa, foi um choque muito grande para ele. Então a gente vê que ele é uma pessoa triste, mas é uma pessoa fantástica. P/1 – Ele trabalha muito tempo também lá? R – Trabalha. Ele está com mais de 20 anos lá no prédio, mais de 20 anos. P/2 – Senhor Barros, acontece alguma, assim... Bom, o senhor está ali naquele prédio e trabalhando junto com essas empresas há 15 anos. Então, assim, existe alguma história engraçada que envolva uma situação que o senhor se lembre? R – Existe, existe, existe. Bom, têm duas que me gravam muito. Uma, eu percebi há questão de 15 dias atrás. Me falavam muito disso, eu nunca percebi. Mas aconteceu comigo, não sei. Disseram que sempre aparecem vultos aqui à noite. Eu nunca acreditei nisso, né? Não acredito. Disse que tem uma loira que vai atacar os guardas à noite e a gente até brinca, né? Ela só ataca vocês, não ataca a gente, né? Então a gente brinca com essas histórias, né? Vê vulto, vê o elevador subindo, eles vêem isso, né, os guardas. E essa semana, 15 dias atrás, engraçado, eu estava fechando a última porta, inclusive, de uma reforma que eu fiz, estava fechando a última porta, eu escutei nitidamente: “Barros, não sei o que, não sei o que.” Eu não entendi o que era. Eu falei: Já vou já. Estou fechando a última porta, já vou.” Até hoje não sei quem é que falou comigo. (risos) Agora, não sei se era alguém no outro andar, alguém fora... Eu levo por esse lado, que eu acho que é isso. P/1 –Por que vai aparecer depois de 15 anos? R – De 15 anos, justo agora e uma voz de homem ainda. É engraçado, né? (risos) P/1 – Não é nem a loira, né? R – Não é nem a loira. E tem uma coisa que marcou muito, que isso eu vou gravar e eu vou levar sempre comigo. Doutor Antônio me chamou na sala dele, falou: “Barros, faz esse serviço para mim, não sei o que, assim, assim, assim.” Falei: “Tá sim, doutor.” Eu não tinha tempo para fazer. Eu não tive tempo de fazer. Aí eu mandei um funcionário meu fazer. E funcionário, sabe como que é? (risos) Serviços gerais, acomodado, ele foi e não resolveu o problema. E eu levei o problema não resolvido para ele. Falei: “Doutor Antônio, não consegui resolver. O Souza foi lá...” Ele falou: “O quê? Quem foi lá?” Falei: “Foi o Souza.” “Falou: “Barros, aprenda uma coisa” e isso eu gravei bem e eu levo como uma lição de vida para todos: “Quer um serviço bem feito, faça você. Se você for lá e falar para mim que você não resolveu, eu vou acreditar, mas você mandou um terceiro. Não, vai e tente fazer. Aí você volta.” Aquilo foi fantástico. Aí eu fui e resolvi. Eu fui e resolvi levei para ele. Ele falou: “Barros, está aí. Você resolveu, está vendo? Nunca passe o problema para os outros. Resolva primeiro. Se a pessoa não resolver, tente ir lá resolver para depois você trazer para mim.” E é verdade. Eu levo isso como lição. Eu agora só levo tudo resolvido para ele porque a lição é uma só, a gente não pode tomar duas dessa, né? Só essas duas que eu gravei bem assim. P/1 – Partindo dessa que o senhor contou, do “faça você mesmo”, o senhor acha que o senhor aprendeu nesses 15 anos muita coisa com a Votorantin, com o Grupo profissional e pessoal? R – Muito, muito, muito. Eu não tinha, assim, ensinamento. Eu não era uma pessoa que gostava de ler. Eu entrando lá, eu passei a ler, eu passei... Eu falava tudo errado, entendeu? Hoje eu falo... Às vezes eu erro ainda. Eu volto, falo: “Eu errei aqui. Eu vou falar direito.” Eu mesmo me corrijo na hora que não é para errar mais. Então isso foi o quê? Lendo, aprendendo, convivendo com eles. Livros que eles tem lá, a gente procura ler, jornal todos os dias a gente lê, troca as informações, as chefias trocam as informações: “Olha, tem uma manchete aqui, que interessa para todos.” A gente grifa e manda para os departamentos e vice-versa. Porque cada setor lê um jornal. Eu gosto muito do Diário de São Paulo, então quando sai um documentário Votorantim, a gente grifa e manda para os departamentos e vice-versa. A gente troca as idéias assim. Então a gente aprende muito com isso. P/2 – Senhor Barros, só uma curiosidade; na Votorantim, no prédio da Praça Ramos tem a biblioteca do doutor Antônio e tem uma biblioteca para os funcionários? R – Não, ainda não. Tem a dele, exclusivamente dele, pessoal dele, mas ele está tentando criar, não uma biblioteca, uma sala de leituras. Ele está, inclusive, projetando uma agora. Nessa última reforma que nós fizemos no andar dele, ele já está separando alguns livros e vai criar uma sala de leitura para os funcionários. Mas não tem uma biblioteca para os funcionários não. Não tem. Já se pensou muito em criar isso, mas não tinha espaço na época, tal. Agora o doutor Antônio, ele, pessoalmente, está vendo isso. P/2 – E como é que surgiu... Como o senhor foi incentivado a começar a ler? Através... R – Através do conhecimento dele. Eu achava a necessidade de ler porque senão não ia acompanhar. P/2 – E ele chegava a indicar? R – Pedir? Não, não, não, nunca indicou. Eu mesmo fui lendo, fui tentando aprender. Realmente nunca gostei de estudar, até hoje não gosto de estudar. Escola, se mandar eu estudar agora, eu não vou. Mas ler eu estou lendo. O que eu aprendi, eu aprendi exercendo. Correndo atrás, indo atrás, brigando, tal. Assim que eu aprendi tudo. O que eu tenho hoje foi assim. Não foi estudando não, nunca gostei de estudar. Só que eu não levo isso para o meu filho não, viu? Meu filho, não falou nada disso daí. (risos) Ele vai ter que estudar. P/2 – E tem algum livro que tenha marcado o senhor assim? R – Não, especialmente, não. Na realidade, eu leio mais jornal, jornal. Um livro ou outro, tal. Um livro que eu li foi os livros do teatro do doutor Antônio, que ele deu para gente, eu li também esses livros. Foi mais esses livros. P/2 – Você foi assistir as peças? R – Fui em todas as peças, todas elas eu assisti. Muito boas, gostei. P/1 – Quando tem as peças, há um incentivo dele... R – Nossa senhora! P/1 – Existe desconto para funcionário? R – Não, não paga nada. Ele dá os ingressos para os funcionários. Ele seleciona, vai em tal setor, “Quem é, Barros? Dos seus funcionários, quem quer ir?” Aí eu dou a relação para ele, ele manda os ingressos para mim e as pessoas vão. Isso é o prédio todo. P/1 – O prédio todo? R – Todo. Não tem distinção. Isso é todos os funcionários, ele manda o ingresso para assistir as peças. Inclusive a do Roberto Carlos, que teve no teatro, foi patrocínio da Votorantim, ele deu para a gente também os ingressos. Compra, dá, paga no teatro, ele dá. P/1 – Ele sempre investiu em cultura? R – Sempre, sempre, sempre. Ele adora, adora demais. P/1 – E há incentivo para os funcionários/ R – Ah, da parte dele, da parte dele há incentivo. Livros ele manda fazer os livros, ele dá para os funcionários. Bíblias, ele teve uma coleção de bíblias que ele passou para os funcionários. Então ele pensa no geral. Ele não pensa num só. Ele pensa em todos. Final de ano ele gratifica os funcionários que ajudam ele, trabalham com ele no final do ano, ele gratifica. Ajuda no Hospital Beneficência Portuguesa os funcionários também. P/1 – Esses funcionários de final de ano, que ele gratifica são os mais próximos? R – Mais próximos, que são Serviços Gerais; manutenção, serviços gerais, limpeza, copa, essas pessoas que ficam, inclusive eu, seu Afonso, a gente trabalha direto com ele. P/1 – E essa gratificação é em quê? R – Em dinheiro. P/1 – Em dinheiro. R – Em dinheiro. Isso, isso. Uma gratificação para passar o final de ano melhor, que ele dá, né? Nada assim, exatamente você é x, você é x. Não, ele chega no final de ano, ele faz uma lista, ele doa quanto ele quer, ele faz uma listinha. P/2 – Senhor Barros, agora eu acho que é uma questão de avaliação do senhor, qual a importância da Votorantim na sua vida? R – Total. Nossa senhora! Sem ela não sei o que seria. Eu aprendi muito com ela e não tenho nem condição para falar porque com ela aprendi tudo que eu tenho, que eu consegui, que eu conquistei, inclusive família. Eu conquistei família foi dentro do Grupo. Então, eu não posso jamais falar alguma coisa que me fez mal no Grupo. O Grupo só me fez bem, só me fez bem. P/2 – E o senhor acha que a Votorantin, ela investe no funcionário? R – Investe, investe no funcionário. Tenta investir mais, entendeu? Está tendo projetos melhores aí agora para o futuro. Foi criado um RH na CBA justamente pensando nisso, porque faltava. Foi criado agora, pensando nos funcionários. Vai ter cursos para funcionários, avaliação. Então é um investimento muito bom, gratificante. P/1 – O senhor acha que da forma que o doutor Antônio trabalha, que os funcionários vêem, ele transmite essa responsabilidade... R – Com certeza. Você vê ele trabalhando, na idade que ele está trabalhando, nessa idade que ele tem hoje, ainda trabalha praticamente dia e noite, sai do escritório, vai dar entrevista. Isso daí te anima você a fazer. Pôxa, por que o patrão está fazendo, a gente não vai fazer também? Faz também, com certeza. Dá muita força para gente fazer esse trabalho. P/1 – E quais pessoas, assim, que estão no prédio que você conhece, que são as mais antigas assim? R – Mais antigas? É Teixeira que não quis ir, por enquanto. eu não sabia que ele tinha 60 anos de empresa. Ele falou aí que ele tem 60 anos. Tem o seu Arlindo Barretos, que trabalha na recepção no sétimo andar, que é o atendente direto do doutor Antônio. Ele fica na recepção, ele tem 45 anos. Tem o Luís Carlos Passadore, que é o chefe do DP. Ele tem 40 anos de empresa. Tem seu Ademar Marra também, que deve ter por volta de 40 anos. Seu Ademar já veio aqui, não veio? P/1 – Já. R – Já veio. Então, ele tem muito tempo também que eu conheço e tem uns que tem 20, 30. Te um que foi afastado agora, ele tinha 35 anos, que ele ficou doente. Ele foi afastado agora no final do ano. P/1 – E o que o senhor conhece da história da Votorantin? Assim, que o senhor ouviu falar? R – Eu conheço o que eu aprendi lá dentro só. Antes eu nem sabia que existia. Eu vim conhecer lá. Vim conhecer o prédio ali. Ali sabia. Aí que eu comecei aprender que era sede do Grupo Votorantin ali, que eu aprendi da Votorantin só ali mesmo, trabalhando ali que eu fui conhecer o Grupo, o tamanho do Grupo, extensão. P/2 – E o senhor já chegou a conhecer as outras empresas? R – Não, fora não. Só ali mesmo. P/2 – Só ali? R – Único local que eu fui fora de empresa foi na própria fábrica da CBA, que é em Alumínio, mas o restante eu conheci só ali mesmo, que ali é o escritório central, tudo concentrado ali. Ali tem as unidades, mas nas unidades eu não fui. P/2 – Qual seria o principal incentivo que o senhor recebeu do Grupo Votorantim para permanecer no Grupo durante 15 anos? R – Pôxa vida. Qual o incentivo? O meu futuro. O incentivo que eu achei ali, que ali tinha um futuro. Eu tinha um futuro para conquistar tudo que eu queria, né? Vida, família, educação, respeito e fornecia respeito também. Isso que eu senti mais, foi o incentivo deles para comigo. Perante os outros eu não sei. Digo por mim, o incentivo foi esse, que ali eu achei as portas abertas para mim tentar alguma coisa e conquistei, graças a Deus. Conquistei tudo ali. Não tinha nada quando eu comecei, nada lá. Eu ainda morava com a minha mãe. Então ali eu conquistei casa, conquistei família, casa, carro, tudo que eu tenho hoje devo graças a ele e ao trabalho deles. P/1 – Pelo que a gente percebe um pouco ouvindo as pessoas falando, é o quanto é forte a família. A família é muito forte. Isso é passado para os funcionários? R – É passado. No jantar, no jantar de final de ano, ele fala, os filhos estão junto com ele. Então, você vê a força dos filhos. Os filhos trabalham com ele. Então você vê a força dos filhos e você vê que ele passa isso para a gente a força dele. Então a gente adquire um pouco de força. P/1 – E ele... Percebe-se que na Votorantim, todos os funcionários são tratados com muito respeito. R – Total, total, principalmente por parte do doutor Antônio. Ele cumprimenta todos, não tem idade limite, faixa de funcionário não. Serviços Gerais ele trata como ele trata um gerente. Ele vai dar bronca em você, ele vai dar bronca em você, num gerente, num diretor ou num serviços gerais. Ele, pessoalmente, dá bronca. Não há problema nenhum. Então existe o respeito e se falta algum respeito se vê com alguns diretores. Não, com ele não. Ele é diferente. Ele trata todo mundo por igual. é tudo igual para ele. Então o tratamento é com todos é igual. Respeitoso principalmente. P/1 – Têm festas de final de ano, que a Votorantim faz para os funcionários? R – Tem, jantar. Jantares, faz o jantar da CBA aqui no Centro e uma semana depois ele faz na fábrica para todos os funcionários. Na fábrica é para gerentes, diretores e chefias. Aqui em São Paulo é para todos, todos os funcionários. P/1 – Todos os funcionários. R – Se reúnem e vão jantar numa churrascaria no Centro. P/1 – Ah, ele faz numa churrascaria? R – Numa churrascaria fora. Lá não, é fora. E as outras empresas, cada uma faz o seu. Então eu respondo pela CBA, que eu sei que nós vamos fazer um pela CBA. Aí faz brindes, tem sorteios de brindes, televisão, bicicletas, rádios, tudo isso aí, ele faz um jantar. P/1 – E quando ocorre esses jantares de final de ano, o senhor acaba fazendo alguma coisa, o senhor colabora na... R – Não, não, não. Quem faz é a parte do RH. A gente só vai mesmo participar. É a hora que a gente tem um pouco de lazer, tanto esse daqui de São Paulo, quanto da fábrica. A gente só vai para participar, não colabora em nada não. P/2 – E o senhor já foi sorteado? R – Nunca. (risos) Estive perto já, mas nunca ganhei nada lá, no sorteio de final de ano não. Nunca cheguei lá. P/2 – Senhor Barros, a gente pode dizer que na Votorantim existe uma cultura de valores na Votorantin? Valores como respeito, honestidade... R – Ah, sim. P/2 – Tudo aquilo que o senhor vinculava a idéia de valores? R – Ah, sim, com certeza. E partindo dele. Então você vê que partindo dele, da família dele, nossa senhora! Você vê, você adquire isso, esse respeito de valor, tanto ele como os filhos. Os irmãos dele, o que faleceu, o cunhado dele que faleceu, doutor Clóvis, né? Todos eles são iguais. P/2 – E o senhor conheceu os irmãos? R – Todos, todos. Conheci o irmão, doutor José, conheci o doutor Clóvis, já falecidos os dois. Conheci, conheci a irmã dele também, dona Maria Helena. Maria Regina, esposa dele, conheço e conheço todos os filhos dele. P/1 – O senhor não só trabalha na CBA, como o senhor acaba trabalhando um pouco na família? R – Trabalho, trabalho. A casa dele, a manutenção da casa dele, pessoal dele, a gente faz alguma coisa. Em Bertioga, a gente coordena toda essa parte de Bertioga, final de ano que eles vão para lá passar férias, então a gente prepara toda a casa antes. P/1 – Se o senhor tivesse que falar da família, o que o senhor falaria? R – Pôxa vida! É uma família que igual, é difícil conhecer, viu? A força que eles dão, a união que eles têm, o respeito que eles têm pelo pai. Pelo pai, pela mãe. Então eles têm um respeito. Então a gente admira muito isso, não só eu como todos os funcionários admiram muito o respeito dos filhos para com ele e dos funcionários para com ele e vice-versa, o respeito dele, o respeito deles também. Então eles vêm pedir uma coisa para gente, eles pedem “por favor”, vê se a gente pode fazer. Então não dá... Você vê a diferença de, talvez, de um diretor, um gerente que impõe. Ele não. Ele: “Você tem tempo para vir aqui, Barros? Dá uma passadinha na minha sala que eu preciso falar com você.” Então, isso é bom, é respeito, tanto da parte dele, quanto da parte dos filhos, que são iguais. P/1 – O senhor conhece outras pessoas, outros funcionários de outras empresas do Grupo? Assim, que trabalhe na Energia, que trabalhe na Cimento? R – Só lá mesmo, as pessoas que estão no prédio. A parte de Cimentos, quando a Votorantin estava lá, sim, a gente conhecia. Mas agora eles estão fora. A gente não sabe. P/1 – Mesmo as pessoas que não fazem parte da CBA, mas dá energia e mesmo quando tinha Cimentos, a visão do que é o Grupo Votorantim é sempre a mesma para todo mundo? R – Sempre a mesma, sempre a mesma. A parte de Energia que é a Santa Cruz que está lá é a mesma coisa, é a mesma visão que a gente tem, eles têm também. P/2 – Senhor Barros, como o senhor compreende e avalia ao mesmo tempo a atuação da Votorantim na área social? R – Ah, muito grande, nossa senhora! Que eu participo dela. Então eu vejo isso, então eu acho que é importantíssima. Sem ela, sem a parte da Votorantim, muitas coisas, muitas entidades não existiriam. Nossa, ela faz muita doação para as entidades. Então é fantástico. P/2 - E como o senhor avalia a importância econômica do Grupo Votorantim para o Brasil? R – Ah, muito grande. (risos) Para você ver, é uma das principais. Então, realmente, é muito grande sim, a parte econômica. Ajuda muito sim. P/1 – Eu estava aqui pensando, o senhor estava falando dos filhos, tal. O senhor acha que eles vão dar continuidade a esse trabalho? R – Eu acredito que sim porque o doutor Antônio mesmo, dizem que a terceira geração é sempre a que acaba com toda fortuna, com tudo que foi conquistado. Então ele sempre diz isso, que ele preparou os filhos para que a terceira geração não acabe com tudo. Porque isso é uma tradição, os Matarazzo, e muitas das terceiras gerações é que acabaram com tudo. Ele fala que não, que ele preparou os filhos para que isso não aconteça e a gente acha, crê e pelo que a gente conhece dos filhos, a gente sabe que eles vão continuar. A empresa vai continuar. P/1 – E voltando um pouquinho, quando nós falamos das pessoas mais antigas que estão lá, que o senhor lembra, por que o senhor acha que essas pessoas continuam lá, depois de 60 anos, 50 anos? R – (risos) Talvez é isso o que eu estou sentindo hoje. Eu tenho que sair e não quero, entender? Devem ter esse mesmo problema. Sei lá. Se encaixou com o perfil da empresa, fica lá e a gente vê que são pessoas que não precisam de valores não. É porque gostam mesmo, gostam de estar naquela atividade. Tem gente que a gente vê que sai de lá e desaparece, morrem até, entendeu? Talvez eles tenham medo disso. Então eu não quero chegar nesse ponto não. Vou parar antes. P/1 – Porque tem pessoas que estão lá já com 80 anos. R – Tem, tem, que ele já entrevistou. Ele tem, mais ou menos, essa idade. Tem a dona Karen, que tem a idade do doutor Antônio. Dona Karen é a copeira do sétimo andar, que atende... Ela vai se afastar agora, no final do ano. Ela está sentindo muito, a gente vê. Então acostuma, entendeu? Você se acostuma ao dia-a-dia com eles ali. Então a gente sente... P/1 – A dona Karen está há quantos anos na Votorantim? R –Ela está na base de 25 aos 28 anos. P/1 – Nossa! R – Ela que cuida dele, dá o cafezinho dele, dá a comida dele, cuida dele. Então ela está sentindo muito que ela vai se afastar agora. P/1 – A Votorantin, tem um programa de incentivo aos funcionários de curso, de aperfeiçoamento? R – Não, não, não tem. Suponhamos assim, que eu queira fazer um curso, eu vou atrás e levo para eles, eles me fornecem o curso. Eles não têm, assim, um programa: “Olha, quem quiser fazer o curso, venham fazer, que a gente...” Não, se o funcionário se propõe a fazer, eles fazem a parte deles. Agora, com a instalação do RH, agora eu acredito que vai ter isso aí. Tem uma psicóloga lá dentro, é muito boa e eu acho que vai ter esse programa. Mas as dificuldades que as pessoas sentem mesmo, que cobram da gente, é que a Votorantin pagasse faculdade. Muita gente quer fazer faculdade, mas não tem condições. E não tem esse problema não. Não tem... alguma coisa pessoal, o doutor Antônio faz, paga faculdade para alguém, mas é bem esporádico que a gente sabe, né? Mas não tem um incentivo da empresa. “Faz faculdade que a gente paga metade”, sei lá, alguma coisa assim. Não tem não. P/1 – Sim. Em termos de saúde, essas coisas, eles sempre cuidaram? R – Sempre cuidaram, Tem um convênio. Se o convênio não cobre, ele manda para a Beneficência Portuguesa, que ele ajuda, entra pelo SUS. Ou ele faz doação pessoal para que as pessoas se tratem. Mas essa parte é totalmente coberta. P/1 – E o que o senhor acha da Votorantim está querendo contar a sua história, 85 anos que ela está aqui, e que os seus funcionários contém um pedacinho dessa história? O que o senhor achou disso? R – Ah, muito bom! Gosto. A gente expõe um problema talvez, que a gente guarda para gente, a gente não fala. Então você falar abertamente é gostoso, não só eu como todos que vierem aqui vão se emocionar, vão gostar de participar dessa atividade. É muito gostoso. Nossa! Espero estar o meu nominho lá no livro... P/1 – Lógico. R – Tipo, quero ler também. (risos) Vai sair logo o livro, eu saio só o ano que vem. Vou tentar me afastar o ano que vem, eu acho que vou ver esse livro ainda, se Deus quiser. P/1 – E senhor Barros, na verdade a gente acaba perguntando as coisas e, às vezes, eu tenho a impressão, ficou faltando alguma coisa. Alguma coisa que nós não perguntamos, que o senhor lembre que o senhor gostaria de falar? Alguma história que aconteceu? R – A história daquelas senhoras eu já contei, que foram no auditório... Assim, não me recordo. Pode até ser que a gente lembre, né? “Pôxa vida, eu podia ter falado isso.” Quando eu saí de lá hoje, o segurança: “Barros, não esquece de falar o meu nome lá, pelo amor de Deus. Talvez eu não participe dessa entrevista, mas fale o meu nome lá”, que é a parte de segurança. Deixa ver alguma coisa assim... P/2 – Qual é o nome do segurança? R – (risos) Geraldo e Francisco. Eles ficam na parte da tarde. Eles falaram: “Não esquece. Não vai falar que é o meu apelido não. Fala o meu nome.” Eu saí de lá dando risada, né? Pôxa vida, deixa ver alguma história. Não... Aconteceu um caso que invadiram lá e mataram um segurança, mas isso foi antes de eu entrar. Então eu não participei, a gente sabe da história. Porque nunca teve segurança no prédio. Depois dessa história, mataram um dos porteiros para roubar e aí depois puseram segurança, né? Mas eu não participei. Detalhe, detalhe, não lembro nada assim. P/1 – E quando tem esses eventos, os concertos que ocorrem no prédio, é horário de trabalho? R – Horário de trabalho. Isso, isso. De segunda a sexta, então vai uma parte num horário, outra parte num outro horário, um andar. P/1 – Ah, ele faz uma semana inteira? R – Isso, isso, praticamente... Ou então se faz um dia ou dois dias, às 14:00 é uma turma, às 15:00 é outra, às 16:00 é outra e às 17:00 é outra turma. Então todos participam. Uma coisa muito, que marca muito, todos os anos, vem um senhor de Campinas que é cliente dele e vem tocar para ele. Fica na rua, fica na Praça tocando para ele. Enquanto ele não sai na janela e dá um tchau para o moço, o moço não vai embora. Um senhor vem de Campinas. É um cliente dele. Não é nem funcionário, é uma pessoa que é um cliente dele, compra alumínio dele e admira ele. Inclusive em dezembro que ele vem, Natal ou no Ano Novo. E quando faleceu o irmão dele, ele foi tocar a Marcha Fúnebre lá. Nossa! O prédio sai, né? Vai todo mundo na janela dar uma olhadinha, né? De vez em quando o doutor manda chamar, manda subir, conversa um pouquinho com ele. O senhor passa nos andares tocando e vai embora. Então a gente já guardou isso, espera. Todo ano a gente espera... P/1 – Todos os anos. R – “Ah, não veio ainda, não veio ainda. Vai vir. Ah, chegou!” Vai todo mundo ver, vai lá cumprimentar ele. Ele gosta disso. Um dia, uma chuva, uma chuva brava: “Hoje ele não vem.” Ele estava lá de guarda-chuva tocando. Aquela chuva de dezembro, sabe? Pegou uma chuva daquela, ele não... Põe no carrinho dele lá. Até a polícia já conhece, os guardas conhecem o carrinho dele, deixa no canto lá. Ele tocou de guarda-chuva. P/2 – Que instrumento que ele toca? R – Trombone, né? P/1 – Trompete deve ser? R – Trompete deve ser. Um que fica tocando nos dedos assim. Muito bonito. P/1 – E é um senhor já? R – Um senhor, um senhor forte, já de idade. Deve ter por volta de 50, 60 anos com certeza. P/1 – E ele não deixa de vir não? R – Todos os anos, todos os anos. P/1 – Olha, que coisa interessante. R – Interessante. É muito bonito e a gente já espera, entendeu? “Ah, não veio, não veio.” Daqui a pouco: “Ah, chegou.” Aí vai todo mundo correndo para dar uma olhadinha, tal. P/1 – Parecido com isso, não tem mais nenhum? R – Que eu lembre assim não. P/2 – Eu tenho uma curiosidade, a gente está chegando ao fim da nossa entrevista, qual é a sensação para o senhor de trabalhar naquele prédio, na Praça Ramos, tendo o Teatro Municipal na sua frente, tendo o Vale do Anhangabaú embaixo? Como que é isso? R – A gente pensa muito hoje na segurança no Centro. A gente fica muito preocupado, tudo, mas dá força para gente ir para lá, sabe? É você estar com o teatro ali, você está dentro do prédio, saber que o seu pai trabalhou ali dentro, entendeu? Você tem um pouquinho de você ali dentro já antes de você nascer, você já estava ali. Então é um negócio incrível. Aquilo dá uma força incrível. Aí o meu menino comenta comigo: “Pai, será que eu vou trabalhar?” Eu falo: “A gente não sabe, né? Quem sabe, né?” Pelo menos, se ele for, ele vai ter uma história, porque o meu pai era... não falava muito. Eu era pequeno também. Hoje não. O meu menino já é mais evoluído, a gente conversa muito, ele vai muito no escritório. Então pode ser que se ele for trabalhar ali, ele vai lembrar disso. P/1 – E ele gosta de ir lá visitar? R – Gosta, gosta, gosta. É que nem aquela propaganda: “Não tem preço o lugar que o seu pai...” P/1 – Ah, é verdade, tem... R – Ele até brinca comigo agora isso: “Pai, quando é que eu vou lá de novo ver essa propaganda?” Ele vê a propaganda, ele fala isso. Ele gosta muito de teatro. Ele me cobra muito para ir no Teatro Municipal. Eu não consegui levar ele ainda, para conhecer. Não para assistir. Ele vai muito ao teatro com a mãe, mas para conhecer o teatro, ele quer conhecer. É isso. Então, isso dá muita força para gente. A gente fica muito assustado de ir no Centro hoje, mas nosso convívio tem muito contato com o Teatro Municipal, a praça... A praça, ele que mantém, o doutor Antônio. P/1 – Ah, aquela praça. R – Praça Ramos, ele mantêm os guardas e a manutenção da praça. Por isso ela está bonita hoje, que você tem dois guardas o dia inteiro lá, não deixa ninguém fazer bagunça, fazer sujeira, aqueles mendigos que sujava, não deixa porque têm dois seguranças e tem um jardineiro um dia inteiro lá. Fica cuidando do jardim, troca planta, leva planta, traz. Então quando vai ter algum evento no Anhangabaú, a gente entra com contato com a prefeitura para não danificar a praça. Eles cercam, eles fazem alguma coisa para que não danifique, que ele olha lá de cima. Ele fica olhando a praça dele. Não, ele admira a praça. Fica olhando, é muito bonito realmente. P/1 – Ele gosta da natureza. R – Demais, demais, demais. P/1 – O senhor acha que as pessoas que estão entrando agora para trabalhar na Votorantin, como que o senhor vê que essas pessoas vão ficar como o senhor? Assim, vão ficar anos trabalhando? O senhor acha que eles vêem com essa idéia? R – Vêm pela potência da empresa, que eu acho. Não pelo amor talvez. Talvez adquira, talvez adquira com os trabalhos que vai ter lá dentro. Ele vai pegar aquele amor, mas hoje as pessoas vêem isso como uma empresa de porte grande. Então ele já vê um futuro grande, não por amor como eu adquiri o amor lá dentro, seu Afonso também, esses, seu Ademar Marra, essas pessoas. Pode ser que adquiram isso, porque mudaram muito as pessoas hoje, né? A juventude hoje mudou muito. Tenho os meus sobrinhos, eu vejo a diferença. Mas vai, mas vai. Eu acho que com o tempo você vai pegando uma formação. Você vai adquirindo experiência na vida. Pode ser. Pode ser que eles gostem. P/1 – E como que o senhor se sente em estar dando esse depoimento, essa contribuição? R – Ah, gratificante, muito gostoso, nossa! Saber que eu participei um pouco dessa história, que vai estar no livro. Isso daí eu posso mostrar para o meu filho. Isso vai ser muito bom: “Olha filho, o livro aqui. Está o meu nome e talvez esteja o nome dele, eu não sei.” Então vai ser muito gostoso ele ver isso. Minha esposa disse quando eu saí de casa, hoje pela manhã: “Não esquece de falar que eu trabalhava lá e na parte de sistemas, era bibliotecária.” Não, tanto é que vocês já perguntaram. P/1 – Ela não sentiu falta? R – Demais. Ela chora até hoje. Nossa senhora! Ela chora, ela quer voltar, mas vê a dificuldade do menino. A criação dele, você tem que ver, é totalmente diferente de uma criação de creche. Hoje, o menino se criou com a mãe. Se criou com a mãe, então é outra educação. Um menino super educado, respeitador. E você outras crianças que estão em creche, tal, é totalmente diferente. Vai passear num zoológico, algum museu, seriam aquelas excursões, as crianças com a escola, você tem que ver o tratamento dessas professoras. Nossa, choca muito. Tanto é que eu pago escola para ele. E a gente vai... Ele tem uma excursão, tem que ir e não adianta. Tem que ir, tem que aprender a viver sozinho. A gente fica preocupado com o tratamentos do professores, mas você tem que deixar ele se virar, aprender, saber se defender. Então, é gostoso. Muito bom saber que eu participo um pouco de tudo isso. P/1 – O senhor acha que a Votorantin, ela é importante para o Brasil? R –Ah, demais, demais, demais. Sem ela não sei o que seria, né? Ela é muito forte. A turma tem um parâmetro Votorantim, é um nome muito forte. P/1 – E o senhor gostaria de deixar algum recado para a Votorantin? R – O recado é agradecer. Agradecer todos esses anos que eu participei lá, estou no final de carreira, né? Isso já é formal com os diretores. Talvez o doutor Antônio não saiba, eu não sei. Mas a diretoria já está informada de que eu vou me afastar mesmo. Eu pretendo me afastar, quando eu me aposentar, não quero continuar. E agradecer realmente tudo que eles proporcionaram para mim, para a família, para os meus amigos. Nas minhas orações vão entrar todas as noites, eu oro por todos, eu oro pelos meus amigos. Eu sei que a Votorantim fez parte de todo esse projeto, desse trabalho que eu tive. Essa é a mensagem. P/1 – Então, seu Barro, muito obrigada. O Museu agradece o seu depoimento. A Votorantim pelo senhor ter vindo aqui e ter dado um belíssimo depoimento. R – Nossa, muito gostoso.
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