Homossexual (estigmatizado por ser Pessoa
Vivendo com HIV/AIDS). Filho de mãe solo
(em uma sociedade que repudia mulheres
com esse e outros status por um pseudo
cristianismo preconceituoso e machista dentro do
país onde resido).
Morador de bairro de periferia (com intensa
presença de tráfico de drogas e uma imensa
dificuldade de locomoção aos centros acadêmicos
da cidade em decorrência da distância e transporte
público escasso no bairro), latino-americano,
brasileiro (discriminado e ou proibido em
decorrência de ser Pessoa Vivendo com HIV/AIDS
se tentar entrar em: Belize, Cuba, Paraguai e
República Dominicana nas Américas. Bielorrússia e
Lituânia na Europa, Ilhas Maurício e Sudão na
África, todos os países do Oriente Médio com
exceção da Turquia e Irã. Brunei, Coreia do Norte,
Malásia, Rússia, Singapura, Taiwan e
Turcomenistão na Ásia. Ilhas Salomão, Nova
Zelândia e Papua Nova Guiné, entre outros países e
territórios insulares na região da Oceania segundo
dados da Unaids até 2021).
Nordestino, cearense, fortalezense, solteiro,
sangue fator RH O negativo. Pesquisador em
performance arte, arte educador, graduado em
licenciatura em história, graduado em licenciatura
em teatro, passaporte válido até 2031, consumidor
ou usuário de ansiolíticos (por ser diagnosticado
pela medicina moderna com síndrome do pânico)
usuário de antirretrovirais, HIV indetectável (Carga
viral do HIV abaixo de 0,40, ou seja, não podendo
ser lido pela máquina que detecta o vírus e com
baixíssima probabilidade de transmitir HIV a outro
ser humano via sêmen, sangue dentre outros fluídos
do meu corpo). Encenador, diretor de teatro.
Sobrinho, primo, afilhado, dramaturgo, ator de teatro
e cinema, pesquisador em biodrama, cliente de
banco, usuário do SUS (Sistema Único de Saúde)
leitor, amante de gatos e cachorros, traído pelo
homem que mais amei na minha vida quando ele
não aceitou meu status sorológico,...
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Homossexual (estigmatizado por ser Pessoa
Vivendo com HIV/AIDS). Filho de mãe solo
(em uma sociedade que repudia mulheres
com esse e outros status por um pseudo
cristianismo preconceituoso e machista dentro do
país onde resido).
Morador de bairro de periferia (com intensa
presença de tráfico de drogas e uma imensa
dificuldade de locomoção aos centros acadêmicos
da cidade em decorrência da distância e transporte
público escasso no bairro), latino-americano,
brasileiro (discriminado e ou proibido em
decorrência de ser Pessoa Vivendo com HIV/AIDS
se tentar entrar em: Belize, Cuba, Paraguai e
República Dominicana nas Américas. Bielorrússia e
Lituânia na Europa, Ilhas Maurício e Sudão na
África, todos os países do Oriente Médio com
exceção da Turquia e Irã. Brunei, Coreia do Norte,
Malásia, Rússia, Singapura, Taiwan e
Turcomenistão na Ásia. Ilhas Salomão, Nova
Zelândia e Papua Nova Guiné, entre outros países e
territórios insulares na região da Oceania segundo
dados da Unaids até 2021).
Nordestino, cearense, fortalezense, solteiro,
sangue fator RH O negativo. Pesquisador em
performance arte, arte educador, graduado em
licenciatura em história, graduado em licenciatura
em teatro, passaporte válido até 2031, consumidor
ou usuário de ansiolíticos (por ser diagnosticado
pela medicina moderna com síndrome do pânico)
usuário de antirretrovirais, HIV indetectável (Carga
viral do HIV abaixo de 0,40, ou seja, não podendo
ser lido pela máquina que detecta o vírus e com
baixíssima probabilidade de transmitir HIV a outro
ser humano via sêmen, sangue dentre outros fluídos
do meu corpo). Encenador, diretor de teatro.
Sobrinho, primo, afilhado, dramaturgo, ator de teatro
e cinema, pesquisador em biodrama, cliente de
banco, usuário do SUS (Sistema Único de Saúde)
leitor, amante de gatos e cachorros, traído pelo
homem que mais amei na minha vida quando ele
não aceitou meu status sorológico, homenageado
pela Câmara Municipal de Fortaleza, frequentador
de sauna gay e cinema pornô. Vencedor de
processo judicial no ministério público pela inclusão
do sobrenome do meu pai que me reconheceu em
cartório contra sua própria vontade onde eu paguei
pela minha nova certidão de nascimento o valor de
R$ 29,85. Vacinado contra varíola, rubéola, hepatite B, vírus H1N1,
imunizado em porcentagens com a vacina da Pfizer
contra o vírus SARS CoV 2 causador da Covid 19,
vacinado contra tétano, paralisia infantil, sarampo,
catapora, caxumba, pneumonia, portador de cifose
na coluna vertebral, espiritualista, usuário de
transporte coletivo e particular, consumidor de
açúcares, gorduras saturadas, gorduras trans e
sódio. Carnívoro, sedentário, signo de áries,
abstêmio de álcool, não fumante, usuário de redes
sociais como Facebook, Instagram, Whatsapp,
Youtube e site Google. Neto de avô materno mestre
de obras da construção de Brasília com
comprovação na carteira de trabalho no governo de
Juscelino Kubitschek e avó materna agricultora.
Nascido na maternidade César Cals no centro da
cidade às dez e meia da manhã do dia dez de abril
de mil novecentos e oitenta e sete, humano. Os
primeiros parágrafos desta história são uma coletânea
de agrupamentos humanos, nomenclaturas e ou
classificações aos quais eu pertenço ou fui rotulado
por demonstrar determinados comportamentos e
atitudes no mundo em que vivo junto a outros seres
humanos. Mas nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À
parte isso, tenho em mim todos os sonhos do
mundo``. Desta forma, posso gozar de todos os
direitos que a sociedade me oferece cumprindo com
todas as regras que a mesma me exige.
Enquanto indivíduo vivente do mundo inicio
este livro descrevendo como se dará a escrita do
mesmo ressaltando que este trabalho é um ato
político engajado na luta contra o HIV/AIDS, contra
o preconceito e em defesa do meu fortalecimento
enquanto artista e Pessoa Vivendo com HIV/AIDS.
Na arte encontro meu espaço de fala, podendo
expor uma condição que chegou a ser um tabu tão
grande que foi necessário descentrá-lo da realidade
cotidiana e colocá-lo em um espaço de diálogo com
a comunidade de Fortaleza a partir de dezembro de
2017 em diversas esferas do conhecimento tais
como teatro onde elaboro quatro espetáculos
abordando a temática. ONG ́s onde ministro
palestras sobre a minha vivência com o vírus,
plataformas virtuais de centros culturais onde
ministro cursos livres e a universidade, onde
materializo uma escrita monográfica e um projeto de
pesquisa em mestrado sobre Pessoas Vivendo Com
HIV/AIDS e suas respectivas narrativas. A pesquisa
deste livro tem por objetivo geral remontar os
processos de ressignificação da minha existência
por meio da arte. Opto por realizar pequenos relatos
autobiográficos junto a questionamentos que
contemplam a coletividade.
Meu propósito é desenhar em letras garrafais
aquilo que o poder público infelizmente ainda não
tem a iniciativa de dispor para a população de forma
eficaz com políticas púbicas efetivas de
esclarecimento para a sociedade, principalmente
para os jovens, do que seja a realidade de uma
Pessoa Vivendo Com HIV/AIDS e quais as
implicações que a falta deste conhecimento podem
acarretar. Estudar os grandes acontecimentos da
humanidade tem sido de fundamental relevância
para que o ser humano seja plural na sua visão de
mundo. A antropologia, a filosofia e a sociologia nos
trazem exemplos muito eficazes para a defesa deste
argumento. Quando falamos dos grandes autores
da Aids como Herbet Daniel e Herbert de Sousa
(Betinho), por exemplo, não estamos apenas
citando a AIDS, mas sim todo um contexto em que o
Brasil passa fome na década de 1990 e mesmo com
a agenda cheia de compromissos em prol do HIV o
que Betinho faz nessa época é distribuir alimentos
para a população brasileira com a campanha
́ ́Quem tem fome tem pressa``.
Em um Brasil onde a inflação está no seu
auge não muito diferente dos dias atuais onde
temos vinte milhões de pessoas passando fome
nesta nação e dezenove milhões de
desempregados em um período pandêmico mundial.
Na filosofia temos Michel Foucault falando de todo o
abandono que um ser humano possa passar em sua
existência por causa das privações que as
instituições impõem com seus flagelos castigando o
corpo e a mente daqueles que eles consideram fugir
a norma. Na antropologia temos no centro de tudo o
homem como ser biológico, social e cultural.
Tanto a AIDS como a arte são experiências
que levantam esses três campos que nos levam a
uma busca etnográfica do ser. Convivendo com a
AIDS e o teatro entendo que para se construir uma
sociedade mais justa e igualitária é necessário o
acesso a todos os tipos de conhecimentos de que
se possa dispor para lutar por uma conscientização
nos palcos, nas salas de aula, nos assembleias, nos
setores da política, da saúde, da cultura, da
cidadania como um todo. São 1350 novos casos de
HIV e 245 óbitos por complicações decorrentes da
AIDS no Ceará em 2021 segundo dados do boletim
epidemiológico no 02 emitido pela Secretaria da
Saúde do Estado. Escrever estas linhas em primeira
pessoa é uma constatação de que todos os
processos de violência pelos quais passei não foram
suficientes para silenciar a minha voz. Continuo com
o direito inalienável de viver sem que ninguém
conteste o meu discurso e a minha existência. Mas
o que aconteceu com essas 245 vidas perdidas?
Como eram suas existências? Quais eram suas
chances de permanecerem vivas como eu? Eu, que
continuo vivo. Continuo Artista/Soropositivo, I=I.
Se realizo esta mescla poética e biomédica é
porque certamente este momento pede para que a
história nos conte os aspectos humanitários aos
quais estamos necessitando acessar para progredir
tanto no campo das artes como na educação, na
saúde dentre tantas outras áreas de atuação que
constroem comunidades mais diversas, plurais onde
cada agente possa se reconhecer enquanto sujeito
histórico que é. Essa é a localização dos corpos
soropositivos que quero acessar com esta escrita
por meio de uma arte de documentar. Onde um
número de CPF não signifique apenas um número,
mas sim a representação nos palcos e na vida de
uma constituição corpórea, poética, transversal,
transdisciplinar. Falar sobre AIDS no campo das
artes se faz urgente assim como tantos outros
temas que são diariamente negligenciados. Por tudo
isso e muito mais acredito que vivemos em uma
época de apagamentos históricos e não podemos
deixar que isto aconteça de forma tão violenta.
Lembremo-nos de nossas memórias. É a nossa
história que fica para as futuras gerações.
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