No início de 2020, diante da pandemia de COVID-19, motivados pela sensação de um futuro distante e incerto e marcados por angústias - tanto nossas como naquilo que ouvimos em nossos consultórios, nas ruas, no espaço virtual e em meio aos pares - iniciamos a pesquisa Inventário de Sonhos.
A guinada ao fascismo, o negacionismo, o descaso com as instituições de pesquisa e grupos minoritários, a incerteza sobre o futuro de nossa democracia e, para arrematar, uma pandemia assola o mundo e o Brasil, num combo altamente violento e destruidor, que traz o medo iminente da morte e da perda de pessoas queridas.
Os sonhos dirão que há ainda urgência.
Nesse projeto nos propusemos a recolher sonhos de maneira anônima, perguntando apenas alguns dados demográficos, gênero e possíveis associações entre o sonho e o contexto em que estamos. O material foi tratado por uma equipe de pesquisadores. Nosso objetivo não é interpretá-los, mas sim mais uma vez perturbá-los, produzir fluxos, buscar o que emerge, o que se dá a ver a partir da escuta igualmente singular dessas narrativas. A noção de corte, de fenda, permanece então também em nosso método, na medida em que há limites para a análise.
Quando o peso da própria realidade torna-se insuportável, a verdade se liberta nas formas de resistência do sonhar, antecipando, em alguns momentos, o pesadelo da realidade que está por vir.
Autores:
André Oliveira Costa, Caroline Mortagua, Denise Mamede, Edson Luiz André de Sousa, Joana Horst, Luciano Bregalanti, Paulo Cesar Endo