Entrevista de Meg Guimarães
Entrevistada por Luiz Egypto
30/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV012
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
00:00
P/1 - Bom dia! Muito obrigado por ter aceitado nosso convite.
R - Bom dia, Luiz! Bom dia a todo o pessoal do Museu da Pessoa. A gente tá aqui hoje para responder aquilo que for perguntado aqui para gente né.
00:22
P/1 - Eu queria que você começasse dizendo seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome mesmo é Magneti Barbosa Guimarães, é o meu nome de registro, mas eu gosto de ser chamada pelo meu apelido carinhoso, que eu apelido com qual eu sou conhecida no meio sindical, político, que é Meg Guimarães. Eu sou piauiense, do Sul do Piauí, nasci em Redenção do Gurguéia, Piauí, em um lugar chamado Lourenço, Fazenda Lourenço, no município de Redenção do Gurguéia, Piauí, em 26 de junho de 1966.
01:18
P/1 - A sua atividade atual, qual é Meg?
R - Bem, eu sou orientadora educacional da Secretaria de Educação, ainda não me aposentei, neste momento estou liberada para o mandato sindical, aguardando aposentadoria ser publicada, ou seja, minha aposentadoria já está tramitando, eu já completei todos os critérios para me aposentar, e neste momento não estou atuando em escolas, estou apenas no sindicato, no mandato sindical, como diretora do SINPRO, no quarto mandato, atuando na Secretaria de Política de Formação Sindical, Secretaria de Formação Sindical do SINPRO DF, e também estou vice-presidenta da CUT-DF, no segundo mandato também.
02:08
P/1 – O nome dos seus pais Meg, por favor.
R - Minha mãe é Ermosina Barbosa Pereira e Osíris Guimarães Pereira, o meu pai.
02:22
P/1 - Qual era a atividade do seu pai?
R - Meu pai era agricultor familiar, daquela região do Sul do Piauí. Foi vaqueiro, foi alfaiate e depois, mesmo continuando na roça, se embrenhou no mundo da política, foi vereador por dois mandatos lá na minha cidade. Era um homem muito altruísta, muito comprometido com as causas sociais, com o povo, com o sofrimento do povo, e eu creio que herdei dele um pouco esse lado de interesse pela política, pelos assuntos relacionados à luta da classe trabalhadora, à luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Eu tenho certeza que essa minha vocação veio principalmente dele, ele me influenciou muito.
03:20
P/1 - Você conheceu os seus avós?
R - Sim, conheci. Conheci meus avós, tanto maternos, Dona Cândida e seu Tibúrcio, os pais da minha mãe, e também conheci meus avós paternos. Aliás, com os avós paternos eu convivi mais tempo, porque a gente morava, desde que eu nasci, próximo deles, nesse interior que eu te falei chamado Lourenço, que é um lugar, um lugarejo, uma localidade que faz parte do município de Redenção do Gurguéia lá no Piauí. Então meus avós eram Bela Guerra Guimarães e Isaltino Pereira da Silva, são os meus avós paternos. Inclusive, a minha avó, ela era professora leiga, ela teve a honra e o prazer de praticamente alfabetizar todos os filhos e parte dos netos. Porque ela recebeu a carta de professora, embora não fosse concursada, não tivesse formação acadêmica, mas ela era professora no município, nessa escola que hoje inclusive, tem o nome do meu bisavô paterno, que é a Escola Municipal Pedro Pereira da Silva, que era o pai do meu avô, o pai do meu avô, portanto meu bisavô, meu bisavô paterno. Então foi nessa escola onde eu fui alfabetizada, eu, meus irmãos, minhas irmãs, tios, tias, primos né, e a maioria pela minha avó, que já não está mais entre nós já há vários anos, já faleceu.
05:12
P/1 - Quantos irmãos são?
R - Nós somos seis irmãos no total, eu sendo a mais velha e mais três irmãs, duas inclusive são da Secretaria de Educação, professoras, uma já se aposentou, a outra ainda continua, e tenho dois irmãos... Uma irmã que é da área da saúde, que trabalha na Secretaria de Educação aqui no Hospital de Sobradinho-DF e dois irmãos que moram no Nordeste, um é engenheiro agrônomo da Prefeitura de Buritirama, da Bahia, grande profissional, uma pessoa muito inteligente, muito dedicada nessa área, e o outro irmão que é um que continua morando lá no Lourenço, sendo professor municipal da Secretaria Municipal de Educação, atuando nessa escola rural que eu te falei que tem o nome do nosso bisavô, que é o professor Gildésio, formado em Biologia, meu segundo irmão.
06:15
P/1 - Meg, como é que era a Lourenço da sua infância, como é que era esse lugar?
R - Ha Luiz, Lourenço era e continua sendo tudo para mim. Foi no Lourenço que eu aprendi a gostar da natureza, foi no Lourenço onde eu ajudava os meus pais na lida da roça, a cuidar dos animais. Eu me lembro, com 5 anos de idade meu pai plantando feijão, plantando milho, plantando arroz, numa espécie de maquininha que abria assim, colocava no chão e abria, e eu ia atrás fechando com o pé as covas, ou então ele abria com a enxada e mostrava para a gente, e a gente tinha que colocar a quantidade certa de grãos. E a gente ajudava no plantio, ajudava na colheita, a arrancar os matos para não tomar conta da plantação. Eu cresci fazendo isso. Só depois, com 11, 12 anos de idade, é que eu fui para cidade para continuar os meus estudos, porque na minha escola eu só fui alfabetizada, nessa escola lá da zona rural. E aí eu tive que ir morar com parentes em Redenção do Gurguéia, que é a cidade, deixando os meus pais lá no interior. Foi uma separação muito dolorosa, embora em todos os finais de semana eu estava lá, mas enfim, eu sofri muito essa ruptura que foi sair da roça, do interior, para ir para cidade. Não era uma cidade tão grande, mas me causou um grande impacto nos primeiros anos e depois eu fui me acostumando, fui fazendo amigos, depois meus pais mudaram para cidade, meu pai entrou na política, se elegeu vereador uma vez, duas, e aí só sai de lá quando foi para vir para Brasília já os 15, quase 16 anos para iniciar o ensino médio. Em dezembro de 1982 foi quando eu peguei o ônibus para vir para Brasília, e aí em fevereiro, março do ano de 1983 eu comecei o ensino médio aqui em Brasília, na escola pública no Gama,
do Gama.
08:49
P/1 - Vamos voltar um pouquinho lá atrás, como é que era sua casa, como é que se dividia a sua casa, como é que era o dia a dia de onde você morava com a sua família?
R – Olha, era uma casa simples, mas com muito amor, muito aconchego. Eu me lembro. Até hoje a nossa casa existe lá, já foi feita uma reforma, mas eu tenho na minha memória visual a imagem da nossa casa até hoje. Tinha um terreiro muito grande, uma estrada que dava para pista, que hoje é uma rodovia, e aí de lá da rodovia a gente já enxergava a casa lá né, casa cheia de área, cercada de áreas, com uma cozinha nos fundos, uma cozinha muito simples, muito rústica, bancas de potes, a gente dormia em redes, eu me lembro que só minha mãe tinha cama, era uma cama de reio, onde ela dizia para a gente: “Olha, foi aqui que todos vocês nasceram”. Porque na verdade a minha mãe engravidou 10 vezes, ela teve 10 partos, apenas seis nasceram vivos, era sempre assim, nasceu à primeira morta, depois eu viva, um morto, um vivo. Por quê? Porque a época não tinha pré-natal, não existia esse acompanhamento médico para as mulheres grávidas, e muitas mulheres perdiam seus bebês já de nove meses, durante o parto, em função da ausência de médicos, da ausência de um pré-natal e de um atendimento adequado. Então vi minha mãe sofrer muitas vezes e não ter o filho nos braços, o filho nascer morto e ser sepultado logo em seguida. Então eu me lembro exatamente como era o quarto dela, onde ela tinha os filhos, onde ela passava o resguardo, os nossos espaços, a banca de pote com aqueles copos de alumínio brilhando, nunca vou esquecer. Desculpa, é muito forte para mim, a gente era feliz, a gente era muito feliz, uma família que se amava muito. Trabalhávamos desde cedo, meu pai acordava às 5 horas da manhã para tirar o leite, e uma das memórias mais bonitas que eu tenho, é quando ele ia tirar o leite e às vezes ele me chamava: “Minha filha, Magneti”. Ele me chama de Magneti, não me chama de Meg, Meg é um apelido novo, recente. “Magneti, você quer ir tomar leite, você quer ir no curral comigo? Tem que acordar cedo”. Aí eu já me preparava, acordava cedo. Aí eu sentava no mourão, porque o curral era feito assim, com dois mourões, onde tinha um espaço assim para a gente sentar, uns mourões resistentes, grandes, a gente sentava. E aí tinha o copo de alumínio, mas podia também ser uma cumbuca de cuia. E aí eles pediam para mim para escolher a vaca que eu queria o leite, me lembro dele levar um balde, lavava o peito, ele sempre fazia isso para tirar o leite todas as vacas, e aí lavava o peito, arriava o bezerro e abaixava e tirava o leite, eu lembro até hoje o movimento, ele tirava me dava aquele leite morninho, sabe, isso eu nunca vou esquecer, nunca. Saudade do meu pai que não está mais entre nós também. Que foi embora de uma forma muito trágica, no dia 10 de dezembro de 1995, ele partiu em um acidente, em função de um acidente de moto, aos 53 anos de idade, ele era mais novo que eu quando faleceu de acidente.
12:48
P/1 - Vocês crianças, os filhos sempre ajudando os pais na lida e tudo mais, como é que essa criançada se divertia, quais eram as brincadeiras que vocês faziam?
R – Ah! A gente fazia várias brincadeiras, a gente brincava de roda, de noite a lua cheia sempre. O Nordeste é assim, tem aquele céu estrelado, parece que a gente vai tocar o céu e as estrelas assim com a mão, e a lua né. A gente brincava muito de roda, cantiga de roda, de dia, quando a gente não estava ajudando ou não estava na escola, nós brincávamos de casinha. Eu me lembro que meu irmão, esse meu irmão que é agrônomo hoje, ele fazia, a gente tem lá o brejo né, um brejo de buriti que a gente chama de... Ah, eu esqueci o nome, aqui no Goiás tem outro nome, onde tem nascente, que tem aqueles pés de buriti. O buriti ele é bem maleável, uma madeira bem flexível, e eu lembro que meu irmão fazia uma boiada inteira de boizinho, de vaquinhas, fazia até os peitos das vacas que estavam com o ubre cheio amamentando, o curral, fazia tudo. Hoje, ele não é fazendeiro, mas pelo menos ele trabalha um pouco nessa área. E a gente fazia também, bonecas de pano, eu lembro que a minha mãe nos ensinou a fazer, até hoje eu sei fazer boneca de pano, a gente cortava as bonecas, costurava, enchia de algodão, por último fazia a cabeça da boneca, colocava o cabelo, e fazia as roupinhas da boneca, minha mãe sempre mexeu com costura, meu pai também, a gente tinha máquina de costura, e ela ajudava a gente nessa parte fazer as roupinhas, mas a gente costurava a mão também, e muitas vezes também, a gente ia para a roça e não tinha boneca, a gente tirava as bonecas de milho, fazia, arrumava os cabelos do milho, o milho novinho, e arrumava, enfeitava, ali era nossa boneca. Eu brinquei muito com boneca de milho, eu brinquei muito de gangorra, gangorra todo mundo sabe, é uma espécie de varão que a gente coloca sobre um suporte, e aí fica uma pessoa de um lado e a outra do outro e ficam assim. Balanço, balanço a gente nem fazia balanço porque lá tinha muito cipó e às vezes a gente achava uma baixada, eu me lembro que lá tinha uma grota, que para baixo era um abismo, e aí tinha um cipó, a gente pegava aquele cipó e ficava tipo Tarzan né, balançava assim longe, nem tinha medo, subia em árvores. Eu tenho um evento muito interessante, de eu ter subido numa árvore, em um pé de jatobá para tirar jatobá, eu estava com uma amiga e nós éramos muito pequenas, eu fui subindo, subindo, e ela embaixo pegando jatobás, só que depois eu não consegui mais descer, e aí a gente ficou lá até anoitecer, até nossos pais nos procurarem, ela chorando embaixo e eu chorava em cima, mas ninguém conseguia fazer nada, até que nossos pais apareceram e nos resgataram desse pé de Jatobá. Uma história também muito interessante que eu tenho na minha memória, tem a ver com as brincadeiras também, né.
16:02
P/1 - Crianças arteiras.
R - Brincadeiras arteiras, a gente se arriscava, mas a gente nem tinha a dimensão, nem noção de que estávamos correndo risco, de que estávamos fazendo alguma coisa errada, para a gente, a gente queria era ser feliz, era explorar natureza, era explorar o ambiente, era aprender, era descobrir né, e essa era a vida, a vida das crianças, das nossas crianças lá no interior na minha época, quando eu era criança também.
16:30
P/1 - E a sua primeira escola Meg?
R – Então, a minha primeira escola foi na zona rural, eu fui alfabetizada pela minha avó. A minha avó tinha um livro de histórias que ela lia para mim e para os meus irmãos mais velhos, esse livro não tinha, eu me lembro exatamente desse livro, era um livro pequeno, ele não tinha muitas gravuras, tinha um poucas gravuras, mas a gente viajava com aquelas histórias que nossa avó contava, ela ia contando e a gente imaginando. O meu processo de alfabetização começou aí, foi ali com a minha avó que eu passei a desenvolver um gosto, assim, enorme pela leitura, depois eu vim a ser uma grande leitora, aos 14, 15 anos eu já tinha lido todas as obras de Machado de Assis, José de Alencar, e esse desejo né pela leitura, essa paixão pela leitura, eu consegui, foi a minha avó que me desenvolveu essa paixão, como professora leiga que foi a minha alfabetizadora. Depois eu fui para o interior, e lá eu tenho uma memória do 1° ano, na 1°série, onde a gente aprofunda o processo de alfabetização, eu me lembro de uma professora que ela pediu para eu ler, isso foi no 1° ano, foi uma coisa traumática para mim, que eu nunca vou esquecer, ela pediu para eu ler um texto onde tinha a palavra estômago, e aí eu li estomago, sem o acento, eu li “estomago”, e aí todo mundo da sala riu, e ela falou assim para mim, bem sério, levantou bem pertinho de mim e falou assim: Você é burra! Olhou bem nos meus olhos. Você é burra, só pode mesmo ter vindo da roça! O nome dela era Dália, eu não queria falar o nome dela aqui não, mas depois vocês podem cortar, eu posso repetir, a Dália né, e naquele dia ela me causou um trauma enorme, por que a partir daquele dia, naquele ano reprovei, no 1° ano, foi o único ano que eu reprovei na minha vida, e a partir daquele momento, eu desenvolvi uma grande ansiedade no sentido de tentar provar para os outros que eu não era burra, de tentar provar para mim mesma, para os meus colegas, para minha família, para os meus professores, que eu não era burra, e aí nisso eu desenvolvi uma ansiedade muito grande, talvez, eu sofro de transtorno de ansiedade generalizada, e eu creio que um dos motivos, que uma das coisas que desencadeou essa ansiedade começou, pode ter começado ir aí. Eu comecei a querer se a primeira da classe, aí nos anos seguintes ninguém me barrava, ninguém barrava a Meg, a Magnéti, chamada de Magnéti, eu sempre estava entre as primeiras, passava em primeiro lugar, sempre fui destaque na escola a partir desse momento, inclusive aqui em Brasília, eu era aluna destaque no ensino médio, na Universidade, eu estudei na Católica, inclusive fui à orientadora número um, passei em 1° lugar no DF quando fiz o concurso para orientadora, que a minha profissão hoje aqui no Distrito Federal. Eu guardo até hoje o Diário Oficial, primeiro lugar no concurso para Orientador Educacional e onde eram 500 vagas, eram 500 vagas eu fui a primeira colocada. Por um lado a professora ter me chamado de burra meio que me impulsionou, mas por outro lado, assim, é uma marca que eu nunca vou esquecer, uma marca negativa, esse lado de te sido chamada de burra e de desenvolver em mim essa necessidade de ficar provando o tempo todo, para todo mundo, que eu não sou burra, provando quem eu sou, do que eu sou capaz, isso não é muito legal. Isso é um dos grandes traumas da minha vida.
20:26
P/1 - Afora esse episódio de assédio da sua professora, que outros problemas você teve na mudança para a cidade? Porque você disse que saiu do teu lugar de origem e foi para cidade, e foi uma coisa meio complicada a adaptação.
R - Foi complicado, foi complicado primeiro porque eu não morava com meus pais, fui morar com uma família que era conhecida dos meus pais, amigos dos meus pais, e eu lá eu era meio que assim, eu trabalhei muito, eles exageravam na dose, me exploravam mesmo. E aí depois, eu fui morar com uma tia, que se casou, a irmã da minha mãe, aí a coisa aliviou mais um pouco, eles eram mais carinhosos comigo, davam mais atenção, mas aí também enfrentei uns outros problemas que eu não gostaria de falar aqui, dentro de casa. Eu acho que dá para vocês imaginarem, mais ou menos, mas eu não quero falar. Mas enfim, depois de um certo tempo, acho que foi uns três anos, meus pais resolveram mudar para cidade, compraram uma casinha lá em Redenção do Gurguéia, na cidade, e aí as coisas melhorarem. Aí todos os meus irmãos foram para lá, os que ainda estudavam no interior, foi o período assim, um período em que a gente ficou muito próximo, voltamos um pouco ao que era lá no interior, mas não era a mesma coisa, o interior te garanto que foi o lugar onde eu fui mais feliz, nós fomos muito mais felizes quando a gente morava na roça. Mas assim, no geral, as experiências daí para frente, a partir desse episódio de assédio da professora, as experiências foram bastante positivas né, eu comecei a desenvolver minhas habilidades, eu comecei a ter mais amigos, eu ampliei o meu círculo de amizades a partir da escola, a gente fazia teatro, até hoje eu me lembro, eu mantenho contato até hoje com as minhas colegas do ginásio né, que a gente chamava ginásio, ginasial, a SENEC, onde nós tínhamos uma professora de português, Lucirene, que ela até foi candidato a prefeito agora, lá na minha cidade né pelo nosso partido aí, não ganhou, mas enfim eu apoiei ela, exatamente porque ela foi uma das professoras que mais incentivou a cultura, para além da questão do conteúdo escolar né, do português, da matemática, da instrução em si, ela nos despertou para esse lado cultural, e a gente organiza apresentações, a gente fazia apresentações até em outras cidades, a gente criou, foi criado, um grupo de teatro da escola, do ginásio, e lá a gente apresentava peças, performances com poemas do Castro Alves, poemas do Machado de Assis, obras do Machado de Assis né, e a gente conseguiu se desenvolver muito a partir desse incentivo dessa professora de português que incentivou, não só literatura, o aprofundamento na literatura brasileira, foi aí que eu comecei a ler as obras da literatura brasileira, Machado de Assis, José de Alencar e outros né, Cecília Meireles, até hoje eu sei de cor poemas da Cecília Meireles, do Castro Alves, entendeu, foi tudo nessa época.
24:00
P/1 - O que motivou a transferência da família, a sua transferência para Brasília? Como é que se deu esse processo?
R – Enquanto a minha transferência do interior para a cidade foi motivada principalmente pela necessidade de meus irmãos continuarem os estudos, e meus pais fizeram esse sacrifício, mas eles não abandonaram a roça por inteiro, a gente continuou tendo sítio lá, até hoje a gente tem, até hoje é herança de família, pretendo voltar para lá logo-logo, logo que me aposentar, mas assim, ao contrário, a vinda aqui para Brasília foi solitária né, foi sem os meus pais e meus irmãos, no primeiro momento, eu vim morar com tios, com o irmão do meu pai, irmã, eram dois irmãos, três irmãos do meu pai na verdade né, eu fiquei um tempo com um, depois com o outro, enfim. E eu precisei fazer isso porque na minha escola, na minha cidade, pasmem, não existia ensino médio em 1982-83, início dos anos 1980 ainda não tínhamos escolas de ensino médio na cidade de Redenção do Gurguéia, muito triste lembrar disso, e aí quem concluiu ginásio, que era chamada 8° série ginasial, tinha que, se quisesse continuar os estudos, tinha que se deslocar para outra cidade. A maioria dos jovens da minha cidade, ou vinham para Brasília, quando tinha parente ou algum conhecido, ou iam para Teresina que é a capital. Eu não fui para Teresina, aliás, eu nunca fui à Teresina, nem conheço Teresina, porque desde o primeiro momento, como meus tios moravam aqui, meu pai e minha mãe resolveram me mandar para Brasília para continuar meus estudos, e aqui eu iniciei o ensino médio em março de 1983 numa escola pública, no CEI 3 do Gama, essa escola existe até hoje, o CEI 3 do Gama, e foi aqui que eu concluí o meu ensino médio, porque lá não tinha, eu creio que depois de meados, eu acho que 85, 86, eu não me lembro exatamente quando, mas o ensino médio só foi chegar depois de 1985 lá da minha cidade. Então foi muito difícil para mim, foi muito difícil, meus tios moravam aqui, mas eles não tinham condição financeira confortável, eram assalariados, trabalhavam no comércio, no serviço, enfim, eu passei muitas dificuldades, muitas privações, inclusive de carinho, de atenção do meu pai, embora meu pai sempre viesse, principalmente meu pai, vinha uma vez no ano, duas vezes no ano, ou então eu ia de férias, pelo menos uma vez no ano eu ia de férias para lá, ele pagava passagem para eu ficar 1 mês, 15 dias, 20 dias lá com eles. Mas foi barra, foi difícil, eu me lembro de meu pai mandar caixas e caixas pela Trans Piauí, que era empresa de transporte, que fazia o transporte das pessoas para cá, mandar caixas e caixas de comida, carne, arroz, feijão, ele matava uma vaca e mandava bastante carne, matava uma ovelha, um bode, umas galinhas, minha mãe tratava as galinhas e mandava, enfim. Eu não passei fome, mas eu passei por muitas privações, e aí quando a coisa ficava difícil, meus pais geralmente mandavam, o meu pai vinha e trazia essas caixas de alimentos para ajudar, entendeu. Foi muito, muito difícil essa experiência. Imagina você romper com a sua família, com o seu pai, com sua mãe, as pessoas que você mais ama, seus irmãos que ainda precisavam de você, com quem você tinha uma relação próxima, de carinho, de afeto, seus amigos, suas amigas, seu primeiro amor, eu tive que deixar para trás meu primeiro amor, eu sofri muito, para poder continuar meus estudos aqui em Brasília.
28:25
P/1 - E como é que se deu essa trajetória educacional? Você, depois do CEI-03, foi aprovada e quais foram os desdobramentos?
R – Eu terminei o ensino médio, fiz o curso técnico de contabilidade, na época tinha opção de fazer o magistério, mas eu optei, se eu pudesse voltar atrás eu teria já optado pelo magistério, porque lá na frente eu tive que fazer o curso de magistério, fiz a faculdade de pedagogia, me especializei em Orientação Educacional na [Universidade] Católica [de Brasília], mas eu terminei tendo que fazer esse curso técnico. Esse curso técnico, ele foi importante para mim, porque ele me proporcionou uma profissão técnica, que foi o que garantiu o meu ganha-pão por um bom tempo. Então depois que eu terminei o ensino médio eu entrei na faculdade, mas eu já trabalhava, trabalhava na área de contabilidade, como técnica de contabilidade, foram sete anos trabalhando nessa área, quase sete anos, seis anos e meio, mais ou menos. Só saí da área de contabilidade quando eu passei no concurso da Secretaria [de Educação], e entrei na secretaria num outro concurso, ainda não foi nesse de orientação educacional, o primeiro concurso em 1994, foi quando eu entrei na secretaria em julho de 1994, na carreira de assistência à educação. Depois que eu estava há um ano na carreira de assistência à educação, foi que eu fiz o concurso para professora, que eu já tinha terminado o curso de magistério, que eu tive que fazer por fora, e já tinha também terminado a faculdade de Pedagogia e Orientação Educacional na Católica. E aí eu fiz, eu passei no concurso, fui chamada, era para uma função que não era ainda, eu já era pedagoga, mas eu tive que assumir, eu tive não, eu optei por sair do comércio, onde eu era explorada, onde o salário era muito baixo, eu trabalhava até final de semana, até no sábado. E aí eu assumi como merendeira na Secretaria de Educação, era um cargo de merendeira, merendeira não, era para ser copeira, mas aí terminou que eu fui assumir como merendeira, porque estava tendo carência nessa época, e o pessoal falou assim, é pegar ou largar, então vocês aceitam ou não aceitam. E aí eu fiquei, ainda dois anos, trabalhando como merendeira na escola pública lá de Santa Maria, inclusive no turno da fome, a gente tinha que fazer merenda, o lanche três vezes, eram três lanches por dia na escola, porque tinha turno da fome. Mas assim, quando eu já estava há um ano nesse cargo, eu passei para professora. Aí eu fiz o concurso para professora e passei, só que eu só fui chamada quando já tinha completado dois anos que eu estava como merendeira. E aí depois que eu fui chamada, eu saí dessa escola, já convidada para trabalhar na Regional de Ensino lá de Santa Maria, já assumindo uma coordenação lá, trabalhando na Coordenadoria de Ensino, era chamada coordenadoria de ensino, e lá eu continuei estudando, fazendo concurso, e fiz concurso para orientadora, porque era o meu objetivo, eu queria ser Orientadora Educacional, Pedagoga Orientadora Educacional. E aí, quando eu estava atuando na regional de ensino de Santa Maria havia 1 ano e 3 meses, mais ou menos, eu fui chamada, eu fui chamada na verdade, para assumir a vaga de Orientadora Educacional, foi esse concurso que eu passei em primeiro lugar no DF, na Secretaria de Educação. E aí estou aqui até hoje, como orientadora, aguardando já minha aposentadoria, considerando que eu já tinha mais de seis anos e meio de contribuição, de tempo de contribuição, eu já completei, desde julho do ano passado, os critérios básicos para me aposentar, ou seja, idade mínima, tempo de contribuição, tempo de serviço público, enfim, é isso. Aí estou aqui aguardando a aposentadoria.
32:47
P/1 - De onde nasceu essa vocação para Orientação Educacional? Como é que surgiu esse sua vocação, você tem ideia?
R - Olha, eu disse para você que eu fiz um curso técnico em contabilidade e que eu me arrependi, porque à época, eu tive a chance de ingressar no curso de magistério, aquele curso de ensino básico, ensino médio, professora secundarista , e eu não fiz, e aí lá na frente, quando eu descobri que era isso que eu queria, que eu queria ajudar as crianças que tivessem dificuldades para aprender, me preocupava em ver muitas crianças, colegas meus inclusive, que tinham dificuldade. Acho que tem a ver com essa experiência traumática que eu passei no Piauí, de alguém me chamar de burra, só porque eu tive dificuldade em ler, eu tinha um pouco de dificuldade em leitura. E aí eu comecei a entender que eu tinha vocação para essa área né, para área da pedagogia, para compreender os processos de ensino, para compreender como se dá o processo ensino-aprendizagem e seus entraves, e por isso mesmo, depois eu fiz especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional na Universidade de Brasília, foi uma forma de complementar o curso de pedagogia, a especialização, habilitação na área de Orientação Educacional. Foi aí quando eu percebi que foi um erro eu não ter feito magistério, e concomitantemente, ou seja, enquanto eu fazia pedagogia na Católica, enquanto eu concluía meu curso lá, eu fiz um curso de magistério à parte, um curso pago, uma espécie de complementação, para poder, inclusive, concluir o meu curso, para pegar o certificado eu teria que ter o curso de magistério, se não, eu não teria pegado o certificado como pedagoga, e não teria habilitação para o magistério nas séries iniciais, como eu tenho. Então foi isso, eu descobri ao longo do tempo que eu o meu negócio não era os números, eu achava que era, e aí pendi para o lado da pedagogia, me aprofundei, me especializando em Psicopedagogia Clínica Institucional e realmente descobri que era essa minha área, ajudar as crianças, atuei muito tempo como Orientadora Educacional, inclusive, trazendo os conhecimentos da psicopedagogia para ajudar dezenas e dezenas de crianças ao longo desses meus anos de secretaria de educação como Pedagoga Orientadora Educacional.
35:40
P/1 – Meg, como é que se deram as suas primeiras aproximações com o movimento social?
R – As minhas primeiras aproximações se deram a universidade, na Católica eu já comecei a me embrenhar pelo movimento estudantil, eu fazia parte do CA de Pedagogia, fui eleita em uma chapa à época, era 1987, 88, 89, esse período aí, que eu fiquei na Católica né, foram quase quatro anos, foram três anos e meio, meu curso durou três anos e meio, e nesse período eu comecei a me envolver com movimento estudantil na Católica, fazendo parte do CA de pedagogia da Católica aqui de Taguatinga, e ali eu comecei a despertar para essas lutas sociais, para a luta, não só do movimento estudantil, a luta pela assistência estudantil, a luta por melhores condições na universidade, e daí quando eu entrei na Secretaria de Educação, como professora, já a partir de 97, porque como eu disse eu fiquei de 94 a 97, início de 1997, na carreira de assistência, atuando como merendeira, fazendo lanche para as crianças, mas eu já era pedagoga viu, todo mundo dizia, “mas olha, como que você tem coragem?” E eu falava, qual o problema? Todas as profissões, todas as funções e cargos na escola, na educação, são importantes. E ali eu aprendi muito, aprendi bastante. E aí quando eu entrei como professora mesmo, em 1997, foi no final de 1996. Fiquei um ano e três meses depois como orientadora e em 1998 foi que eu comecei a participar mais das assembleias, me filiei ao SINPRO, comecei a participar das assembleias da categoria, das greves, e ali eu comecei a ter um olhar diferente, falei assim, gente isso é muito interessante, a gente pode lutar para melhorar nossas condições de vida, de trabalho, para melhorar nossa carreira, aquilo ali me encheu os olhos de esperança , e aí através de um companheiro, o companheiro Bosco, João Bosco Monteiro Lobato, o então diretor do sindicato dos professores, fazia parte da direção, me convidou para militar organicamente em uma organização da qual ele fazia parte, que é a corrente “O Trabalho”, a seção brasileira da Quarta Internacional, onde eu milito até hoje. É uma organização política, que tinha intervenção direta na luta de classe, que tinha intervenção concreta nos sindicatos, na CUT, inclusive no sindicato dos professores, e foi ali que eu iniciei a minha militância organizada, já, acho que em 2000, eu ingressei nessa organização, e já comecei a compreender melhor o funcionamento do sindicato, comecei a entender a diferença do que era um partido e do que era um sindicato, a importância da luta política geral, a importância da luta econômica, que é a luta sindical né, e a luta mais umbilical, por melhores condições de vida e trabalho, e dali eu fui me interessando. Aí já em 2000 eu fui eleita pela primeira vez, Delegada Sindical de uma escola no Gama, porque eu fiquei na Santa Maria até 1999, quando foi em 2000 eu fiz uma remoção para o Gama, porque eu sempre morei no Gama e tinha que todo dia pegar condução, ônibus, van, carona, para ir para Santa Maria. Então eu consegui a remoção para Escola Classe 12 do Gama, onde atuei 8 anos como orientadora, e naquela escola eu fui eleita como delegada sindical, eu fiquei lá 8 anos como delegada sindical, porque ninguém queria ser delegado: Não, tem que ser a Mag. Aí todo ano quando tinha a renovação da ata, da eleição e o Zé Antônio, que era o diretor do SINPRO que acompanhava a nossa escola, ia lá: Não, a gente quer que a Meg continue. E aí eu continuei participando dos comandos de greve, fui eleita três vezes para ajudar a comandar greve, quando eu era a Delegada Sindical dessa escola lá no Gama. E daí chegou o momento, de depois, eu entrar no sindicato, quando foi constituída chapa CUTista de 2010 eu fui convidada a participar, a compor a chapa, em primeiro momento, como suplente. Então, na verdade, essa chapa, esse grupo assumiu em 2010, e eu só fui assumir em 2011, seis meses depois, e de lá para cá eu estou na direção do sindicato. Então, aí depois eu concorri mais uma vez, mas outra vez, e essa última vez que é esse último mandato, que eu estou concluindo agora, que a gente conclui o ano que vem em meados de julho, praticamente, a gente já está próximo das novas eleições sindicais. Então eu vim para o SINPRO, compor a diretoria do SINPRO, a partir de uma construção na base, eu não vim assim, de repente, “agora eu você ser diretora sindical, você ser Vice-Presidenta da CUT”, não, eu fui preparada, fui construída, forjada né, a gente pode dizer que um militante, um dirigente sindical, ele é forjado, é forjado na luta, na luta concreta, nas greves, nas manifestações, nas passeatas, nas carreatas, enfim, e na organização do local de trabalho, e foi isso que me preparou mais, eu como delegada sindical na chamada OLT, Organização do Local de Trabalho, que é a figura do delegado sindical, foi aí que eu comecei a me apropriar da nossa pauta, das nossas dificuldades, dos nossos problemas, das questões que são importantes para a categoria, das questões que unificam a categoria, que é o que forma a famosa pauta de reivindicações da categoria, são as demandas que vão surgindo, os problemas, as necessidades, as queixas, e ali eu fui me envolvendo cada vez mais e fui parar na direção do sindicato e na direção da CUT, da CUT-DF.
42:46
P/1 - Meg, o SINPRO tem uma característica muito própria de ter uma proximidade intensa com as bases, isto é, está sempre lá no local de trabalho, existe uma relação muito próxima, e o delegado sindical aí joga um papel muito importante. Eu queria que você explorasse um pouco mais isso e exemplificasse com algumas das grandes mobilizações, das quais você participou.
R – Sim, a organização no local de trabalho ela é fundamental para a sustentação da luta sindical, e nós, como nós somos cutistas, nós somos o sindicato cutista, nós temos a tradição, a velha tradição de sindicato classista de luta, de base, que tem uma relação muito próxima da sua base, da base que representa. É nesse sentido que eu quero aqui destacar a importância do delegado e da delegada sindical, do representante por escola, que é ele, é a pessoa, o delegado sindical, aquela pessoa que vai fazer aquela ponte entre os professores e orientadores da escola, entre os filiados, a categoria, e a entidade sindical. Ele é uma espécie de braço que está ali ó, levando os informes do sindicato, levando as questões, ajudando a mobilizar, a organizar a partir da base. Por isso, que a cada ano o sindicato costuma relança campanhas de eleição de delegados sindicais, incentivando que os professores, professoras, orientadores e orientadoras da base do sindicato possam se colocar, possam se dispor, se disponibilizaram para se tornarem delegados sindicais. E aí a gente, inclusive, tem uma formação sindical, uma formação que é oferecida pela Secretaria de Formação Sindical do SINPRO, da qual eu faço parte, inclusive, que é de preparar esses Delegados Sindicais, esses representantes, para que eles possam ter uma intervenção mais consciente no seu local de trabalho, enquanto representante do sindicato, uma intervenção mais consciente na luta de classe, porque de nada adianta a pessoa só ter a vontade e a disposição, ela tem que ser preparada, ela tem que ser formada, ela tem que compreender, por exemplo, como é que se analisa uma conjuntura, como é que se avalia uma conjuntura, como é que se faz uma análise de conjuntura, a fazer a leitura da realidade, a leitura daquele ambiente, entendeu. E o delegado sindical, é com certeza esta figura imprescindível para o funcionamento de um sindicato como o SINPRO, que é um sindicato que faz a luta pela base, um sindicato classista e de base.
45:50
P/1 - Como é que se dá essa formação? Via cursos, via seminários? Como é que é o instrumento principal dessa formação?
R - Nós temos uma Secretaria de Formação, que em parceria com a ECO CUT, que no caso de Brasília aqui nós temos várias escolas da CUT, mas a nossa parceria principal é com a ECO CUT, que é a Escola Centro-Oeste Apolônio de Carvalho, da CUT, dessa região centro-oeste, também temos parceria com a CNTE, que é a nossa confederação, a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação, então nós temos módulos, por exemplos, os módulos de formação política, nós temos o curso básico e avançado, o básico são três módulos e o avançados cinco módulos...
46:49
P/1 - Meg, esse esquema de formação sindical, esse processo de formação sindical, como é que ele se dá? Via cursos, seminários, como é que se operacionaliza isso?
R - Bem, primeiro nós temos uma Secretaria Formação Sindical que organiza esse percurso formativo, ele se dá no nível básico e no nível avançado, em parceria com a CUT, com as escolas da CUT, especialmente com a ECO CUT que é a Escola Centro-Oeste da CUT, a escola Apolônio de Carvalho, da nossa região centro-oeste, e também com a CNTE que é a nossa Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação, então, nós temos módulos que são trabalhados por etapas onde os professores e orientadores, os filiados que participar desses cursos, dessa formação, eles são imersos nos estudos, a gente geralmente isola esses profissionais, a gente escolhe uma chácara ou um local mais isolado, e aí eles ficam vários finais de semana, não seguidos, geralmente é um encontro por mês, sendo que o curso básico são três encontros e o curso avançado cinco encontros, e nesses encontros os estudos acontecem, a troca de experiências, os debates, os professores e orientadores eles produzem material, eles escrevem, eles elaboram, e também, a gente oferece essa formação através de seminários, de debates para o conjunto da categoria, reuniões de Delegados Sindicais, não só através dessa formação específica, mas também através de debates, seminários, oficinas, são várias estratégias que o SINPRO utiliza, através da sua Secretaria de Formação Sindical, para formar a sua categoria. E aí a gente prioriza, obviamente, aqueles e aquelas que se dispõe a se colocarem como um representante do sindicato nas suas escolas, que são os delegados e delegadas sindicais, mas também, não só para eles, os cursos geralmente são abertos para toda a categoria, para todos os filiados e filiadas. É uma etapa muito importante da luta sindical, a formação, porque sem a formação a gente não vai conseguir avançar na questão das estratégias para melhorar, aperfeiçoar as nossas estratégias de luta, e para compreenderem inclusive a conjuntura, aprender a ler a conjuntura, fazer análise de conjuntura é uma das coisas que nós aprendemos nesses cursos de formação, para que nós possamos compreender melhor como intervir, por onde começar, quais serão as táticas e estratégias mais adequadas para a gente conseguir intervir de uma maneira positiva na luta de classes, no movimento sindical, é isso.
50:06
P/1 – Meg, quais você considera os desafios mais prementes colocados diante do SINPRO hoje?
R – Olha, eu creio que hoje diante dessa conjuntura que está aí, uma conjuntura agravada pela crise pandêmica, a gente costuma dizer, a gente costuma repetir que não foi a pandemia que criou a crise do capitalismo, mas com certeza nós temos clareza de que com a pandemia a crise capitalista, que é mundial, ela se agravou. Onde os governos capitalistas, a exemplo do que está acontecendo aqui no Brasil, governo comprometidos com os interesses do capital financeiro, governos que não tem compromisso de classe, utilizam-se da pandemia para aprofundar os ataques, e retirar os direitos dos trabalhadores. Que é o que a gente está vendo aqui no Brasil, o governo Bolsonaro aproveitando a pandemia, não só para aprofundar os ataques nos trabalhadores através das contra reformas, como foi a reforma da Previdência, como foi a PEC emergencial, como está sendo agora a PEC 32 da reforma administrativa, que já está em debate, que são graves ameaças, não só o serviço público, mas ao conjunto dos servidores, ao conjunto de trabalhadores e a população de maneira geral. Porque quando se ataca o serviço público, está se atacando a população. E aí nesse sentido, hoje, eu diria que o grande desafio do SINPRO, não só do SINPRO, mas o movimento sindical como um todo, da CUT, dos movimentos sociais organizados, os movimentos populares que organiza o povo, que organiza a classe trabalhadora, é exatamente fazer frente, ou seja, enfrentar esse governo que aí está, enfrentar essa política genocida, criminosa, contra a classe, contra o povo, e para isso é preciso organização. Então, hoje, o grande desafio do Sindicato dos Professores e do movimento sindical como um todo, na minha avaliação, é o que fazer? Como organizar e mobilizar a sua base, a sua categoria, no caso, a nossa categoria formada de professores, por professores e orientadores educacionais, para esse enfrentamento? E aí é onde a gente precisa se debruçar. De nossa parte eu penso que nós infelizmente, apesar da pandemia, teremos que retomar e iniciar as atividades de rua, a gente tem feito inúmeras atividades virtuais, inúmeros debates, inúmeros seminários, inúmeros atos, mas só nas redes sociais, na minha avaliação, a gente não vai conseguir pôr um fim a esse governo e a sua política, não tem como a gente resolver só assim. E no mundo inteiro, trabalhadores de várias categorias estão se organizando, se mobilizando, a gente está vendo, em vários países do mundo, levantes populares acontecendo como forma de barrar políticas criminosas, genocidas, políticas imperialistas que estão atacando as nações e os seus trabalhadores, então aqui no Brasil não vai ser diferente. Se as organizações que representam tradicionalmente a classe trabalhadora, que aqui, no caso, são os sindicatos, as centrais sindicais, as federações, as confederações. No caso do movimento estudantil a UNE, o MST com relação à questão do movimento agrário, da reforma agrária, e outros movimentos. Se esses movimentos não tomarem a cabeça, eles não assumirem o protagonismo, estarem na linha de frente para organizar e mobilizar os trabalhadores, eu temo que no Brasil possa acontecer uma explosão das massas, por fora dessas organizações, ou seja, essas organizações elas poderão ser tratoradas. Não é isso que eu desejo, é o que tá posto. Porque se a gente continuar com esta postura que, infelizmente, está sendo adotado pela maioria das organizações da classe, de um certo imobilismo, muito na linha do só “fica em casa”, “fica em casa”, de lockdown, de lockdown, sem que a gente possa exigir, ir para as ruas para exigir dos governos, que sejam dadas as condições para que a gente retome, inclusive, as atividades sindicais de rua, para que a gente retome as escolas presencialmente, para que a gente retome as lutas, que são várias as lutas que a gente precisa fazer na rua, a gente não vai conseguir avançar, a gente não vai conseguir avançar. E aí o risco de uma explosão social, por fora das organizações, é muito grande, é muito grande, e isso com certeza é uma das coisas que mais me preocupa hoje, diante desse cenário político, econômico e pandêmico que a gente está vivendo no Brasil. Qual o papel das organizações, o que fazer? Para mim não dá mais para ficar no imobilismo, e achar que a gente vai resolver só virtualmente essas questões, por que não vamos. Desculpa, essa é a minha opinião política pessoal.
56:08
P/1 - Está certo, você está aqui para isso mesmo. Eu queria que você imaginasse a seguinte situação, você está diante de um jovem, de um garoto, de um rapaz ou de uma moça, que decidiram ser professores, o que você diria para eles?
R – Olha, eu diria para eles, para eles não desistirem, e que essa com certeza é a profissão mais importante do mundo, eu não estou dizendo aqui que as outras profissões não são importantes, mas sem o professor, sem a professora, sem o profissional do ensino, não existem, não existirão outros profissionais, todos e todas passam pelos professores, pelas professoras, pelo acolhimento dos orientadores, das orientadoras, porque não se faz escola também só com a figura do professor, é preciso ir nós tenhamos, também, outros profissionais para subsidiar esse processo tão importante que é o processo ensino-aprendizagem. E aí eu diria para esse jovem, para essa jovem, não desista, o Brasil precisa de mais educadores, o Brasil precisa de mais profissionais de ensino comprometidos com a escola pública, com a defesa da escola pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada.
57:42
P/1 - Meg, sem lhe pedir nem uma bola de cristal, como é que você enxerga o futuro da educação no Brasil?
R – Sinceramente, se a gente não conseguir mudar o cenário, não conseguir através da luta política, mudar a correlação de forças, mudar os rumos da política desse país, o sistema político desse país, eu temo muito pelo que vai acontecer com educação brasileira. Porque hoje a gente está vendo a educação caminhar para a privatização, o que eu vejo com muita preocupação, são essas políticas que hoje vem sendo implementadas pelos governos, políticas que estão articuladas com a política de organismos internacionais, como é o caso do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, e outros organismos, de risco de privatização, ou seja, de se retirar o caráter, de destruiu o caráter público e gratuito do ensino e da educação brasileira. Então, é política como as parcerias público-privadas chamadas PPPs, as OSs chamadas de “organizações sociais”, o projeto da “homeschooling” que já está, Inclusive, tramitando aqui na Câmara Legislativa do DF, mas que é um projeto do Governo Federal, desse governo que a está, desgoverno, de “homescooling”, ou seja, educação em casa, enfim. E a questão dos investimentos, da forma como o Brasil está tratando a educação, especialmente nestes últimos anos, especialmente após o golpe de 2016, é preocupante, aprovação da emenda constitucional 95 é com certeza uma das questões, das medidas mais graves e contrárias, não só a educação brasileira, mas contrárias ao serviço público, à saúde pública, à segurança pública, ou seja, ao público né, que a gente infelizmente não conseguiu barrar. Então, a Emenda Constitucional 95, ela contingenciou, ou seja, ela bloqueou milhões e milhões de reais que poderiam ter sidos investidos, na educação pública, na universidade pública, ao longo desses anos, especialmente nesses anos aí após o golpe de 2016 para cá. E outras medidas que vêm sendo aprovada, como por exemplo, a contra-reforma do ensino, a nova Base Nacional Curricular Comum, que é completamente golpista, que destrói a matriz curricular, que retira a possibilidade de a maioria dos estudantes de terem acesso à educação pública e de qualidade, que que impõe a EAD na educação básica, por exemplo, pela nova BNCC o ensino médio no Brasil, 40% do currículo do ensino médio no Brasil, poderá ser por EAD, aí eu me pergunto, eu pergunto para vocês, que qualidade terá essa educação? Que alunos, que estudantes, nós estaremos formando na escola pública, com essa perspectiva dessa nova BNCC? Que destrói a matriz curricular e coloca na mão do capital privado, do setor privado, dos grandes conglomerados, das plataformas virtuais como é o caso da Amazon, da Microsoft, e outras né, a educação pública. Qual é o compromisso de classe que existe por parte dessas plataformas, que vão oferecer ensino à distância? Qual o compromisso de classes que existe com essas crianças e adolescentes, com esses jovens? Então me preocupa muito, e nesse sentido, é mais um motivo para que nós possamos estar unidos, organizados, para que nós possamos defender com unhas e dentes as nossas organizações, os nossos sindicatos, as nossas centrais sindicais, porque só através das nossas organizações de classe é que nós poderemos fazer esse enfrentamento, para organizar os trabalhadores, não só da educação né, mas os trabalhadores e trabalhadoras de todos os setores, porque quando a gente fala em defesa da escola pública a gente não está falando que só quem é servidor público, quem é da educação pública, quem atua na educação pública que tem que defender escola pública, não, a defesa da escola pública, gratuita e de qualidade tem que ser toda população, tem que ser de todas e todos os trabalhadores.
1:02:57
P/1 - Sem dúvidas os desafios são imensos. Eu queria voltar um pouquinho para o lado pessoal, Você é casada tem filhos?
R - Eu tenho duas filhas, eu não sou casada oficialmente, mas tem uma relação estável, vivo numa relação estável já há 17 anos, e tenho duas filhas que não são dessa relação, uma filha mais velha, de 33 anos, que já tem um filhinho de 11 meses, vai fazer um ano agora no dia 13 de abril, meu netinho, e tenho uma filha de 25 anos, outra filha de 25 anos que também já me deu Netinho, que tem 2 anos e 4 meses, ou seja, eu tenho duas filhas e dois netinhos, o Luiz Gabriel de 2 anos e 4 meses e o Leonardo que já vai fazer um ano agora.
1:03:52
P/1 - Qual é o nome das meninas?
R - A mais velha é Caroline, ela é da polícia militar é da GETOP, aqui do Distrito Federal, e a Mariana, que a minha filha mais nova, que é formada em gastronomia, mas nesse momento não está trabalhando, mas é apaixonada pela área de gastronomia, ela teve a oportunidade de estudar, mas ainda não conseguiu trabalhar na área, são duas filhas, ambas casadas, vivem com os companheiros, cada uma vivendo na sua casa, no seu canto, enfim, seguindo né a vida delas
1:04:33
P/1 - Isso ai Meg. Eu acho que eu já estou satisfeito. Tem alguma coisa que você gostaria de ter dito e eu não te estimulei a dizer?
R - Olha, tem uma informação que eu considero que é importante e que eu terminei não falando, você até perguntou, eu poderia ter falado no momento que você perguntou, não diretamente, mas perguntou. Que seria lembrar, que ao longo desses meus anos de luta sindical como dirigente e como sindicalista, atuando a partir da base, porque o sindicalista não é só aquele que atua nas direções sindicais, o sindicalista é aquele que atua na base, no local de trabalho como eu te expliquei, a exemplo do delegado e delegada sindical. eu tive também, a honra e a experiência de participar, como delegada sindical de oito congressos da CUT, não são seis... Corta tudo! Eu me embananei! Corta tudo! Pode começar de novo! O que você perguntou?
1:06:18
P/1 - Eu perguntei se tinha alguma coisa que você gostaria de ter dito e não disse, porque eu não lhe perguntei ou não te estimulei a isso?
R - Sim, eu gostaria só de relembrar, de trazer aqui uma informação que eu considero importante para minha trajetória como sindicalista, como dirigente sindical, que é o fato de eu ter participado, como delegada, de vários congressos nacionais da CUT, desde 8º
8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º, acho que já parou aí,
nós realizamos até o 13º
E esses congressos foram, assim, grandes aulas vivas para mim, de luta de classes, grandes aulas de luta sindical, conheci muita gente, ampliei os meus conhecimentos sobre a luta sindical, o fato de a gente num congresso deste conviver com pessoas de vários ramos, não só da educação, de várias áreas, de vários setores do mundo do trabalho, para mim, eu digo que foi uma das coisas mais importantes que eu fiz na minha vida, e que eu pretendo continuar fazendo né, não morri ainda, que é continuar participando dos congressos da CUT, como delegada sindical. Também me honra muito poder estar hoje né como vice-presidenta da CUT-DF, da CUT Brasília, já no meu segundo mandato. Então, para mim, ocupar um cargo de tamanha importância na nossa Central Sindical aqui no Distrito Federal é motivo de muito orgulho, e de muita honra. Viva a CUT! O SINPRO somos nós, nossa força nossa voz, somos fortes, somos CUT, somos fortes, somos CUT.
1:08:33
P/1 – Meg, o que você achou, como é que você se sentiu participando dessa entrevista?
R - Olha, vocês mexeram profundamente com tudo aqui dentro de mim viu, eu fiquei completamente... Assim vocês me fizeram voltar no passado, principalmente na minha infância, eu chorei, até peço desculpas, eu não consegui me segurar, eu sou muito emotiva, às vezes eu não consigo fingir aquilo que eu estou sentindo, assim, não nem fingir é é não demonstrar, e eu terminei chorando, em alguns momentos me emocionei muito, eu quero agradecer, dizer que vocês me fizeram relembrar de tantas coisas, tantas coisas, só tem uma coisa que eu não gostaria de relembrar, que eu queria que fosse a última coisa falar aqui, inclusive, porque ontem eu tive uma notícia que me deixou muito triste, que tem a ver com esse acontecimento de 2015, na luta sindical, que eu gostaria que fosse a última coisa que eu tivesse a oportunidade de falar, porque terminou que eu esqueci. Mas aí você fazendo essa pergunta você me fez relembrar, porque certa forma, as perguntas, tudo foi mexendo comigo, foi abrindo algumas feridas, foi lembrando inclusive de algumas coisas boas, mas também abrindo algumas feridas que eu tinha, que eu carrego, como todos nós carregamos na nossa vida, nós temos as nossas feridas, nossos traumas, enfim. Eu queria contar para vocês, ontem eu recebi uma ligação do nosso advogado, Dr. Lucas, o nosso chefe do escritório trabalhista, para me dar uma notícia que me deixou muito triste, eu chorei muito ontem, mas já estou bem, que foi a informação de que ação, minha ação que eu tinha entrado com o apoio do SINPRO, contra o que eu sofri na greve de 2015, naquela ação do eixo Sul, quando no dia 28 de outubro de 2015, professores e professoras em greve, orientadores e orientadoras em greve, foram massacrados a mando da Polícia Militar, do governador Rollemberg, que eu perdi essa ação, e o governo do DF recorreu à instância superior, não sei se é o ao STF ou ao Superior Tribunal de Justiça, eu terminei não gravando isso, mas um desses daí, ou STF ou STJ né, e que nós perdemos a causa, ou seja, eu fui presa, algemada, machucada, exposta, exposta inclusive, para milhões e milhões de pessoas não só no Brasil, inclusive, no mundo, porque teve repercussão à época em vários países, principalmente aqui da América Latina. A minha imagem presa, algemada, com os braços para trás, e alguns momentos aqui, inclusive os policiais tendo que me dar água na boca, porque eu estava com algema para trás, e tudo isso para eles não foi nada, nós perdemos ação e o SINPRO ainda vai ter que pagar honorários de sucumbência, ou seja, que é quando perde ação na justiça. Então ontem eu me senti, pela segunda vez, humilhada, desrespeitada e agredida enquanto Sindicalista, enquanto orientadora educacional, enquanto mulher, que estava ali naquela ação do eixo, no dia 28 de outubro de 2015, quando a greve completava 15 dias, nós resolvemos ir para as ruas e fazer uma ação contundente para chamar atenção da população e dizer que o governador de então, que o Governador Rollemberg não abria um canal de negociação com a categoria, que já estava a 15 dias em greve, e que naquele momento a gente fez aquela ação de fechar, por alguns minutos, o eixo monumental sul, um grupo de professores, era um grupo grande, acho quer era mais ou menos uns 700, 500 a 700 professores. A gente se dividiu, uns foram para o eixo norte e outros ficaram no eixo sul, e naquele dia nós já tínhamos, inclusive, negociado a nossa retirada, já estávamos nos retirando dá pista, retirando os nossos carros, adentrando nossos carros, enrolando as nossas bandeiras, fomos covardemente atacados pela polícia de choque a mando do governador do Distrito Federal, que era então o Governador Rollemberg. Então, bombas de gás, balas de borracha, professores sendo jogados no chão, as cenas estão aí, existem vídeos que comprovam isso, e todos esses vídeos foram levados para a justiça do
foram duas audiências das quais eu participei com a presença do meu advogado, depois o advogado continuou, e o governo recorreu e simplesmente tudo isso, toda essa violência, toda essa agressão que eu sofri, e na verdade não foi só a Meg que sofreu, foi a minha categoria que foi, naquele momento, agredida, ofendida e humilhada por estar lutando por seus direitos. Então me senti mais uma vez, ontem, eu quero aqui desabafar e dizer, que tudo bem a gente não tem mais o que fazer, porque eu já fui para ultima instância, mas o recado que eu tenho para dizer para os meus companheiros de categoria, para os professores e orientadores, especialmente para aqueles que vivenciaram comigo, que vivenciaram aquele momento tão difícil, tão humilhante que nós passamos naquela greve, que não desista da luta, a gente perdeu na justiça, mas a gente não vai perder jamais a nossa capacidade de lutar, a gente não vai perder jamais o nosso amor próprio, o amor pela nossa profissão, e a vontade de lutar por uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos. Como eu sempre repito aqui, e não vamos desistir jamais da luta, porque é a luta que nos constroem, é a luta que nos faz ser quem nós somos, não é um STF da vida, um TJDFT, um STJ que vai aplacar nossa vontade de lutar e a nossa capacidade de luta, sigamos em luta.
1:15:40
P/1 - Perfeito Mag. Eu queria encerrar te pedindo uma última coisa, eu queria fechar nossa conversa perguntando, quais são os seus sonhos?
R - Ah! Meus sonhos são muitos, uma parte deles eu já até realizei que é o sonho de ser avó, é claro que eu quero que venham mais netinhos, mas hoje uma das coisas que me traz mais alegrias são os meus dois netinhos, o Luiz Gabriel e o Leonardo, eles são hoje, com certeza, parte principal da alegria da minha vida, eles me dão esperança, me dão um ânimo para continuar lutando e me provam que a vida, a vida continua, apesar inclusive da morte. A gente está vivendo uma situação em que várias pessoas estão perdendo suas famílias, seus entes queridos, são mais de 300 000 mortes de covid no Brasil, acho que já chegou a 315 000, e a gente ter o prazer de ver novas vidas nascendo, crescendo, como é o caso em que eu estou vendo os meus netos cresceram, inteligente, saudáveis, felizes para mim isso é motivo de muita alegria, de muita felicidade, só tenho agradecer aos céus e ao universo por eles, por eles existirem. Eu quero aproveitar aqui para deixar o meu abraço caloroso, fraterno, a todas as famílias que perderam algum ente querido, ou que perderão, porque ainda, infelizmente, a gente não tem a vacina para todo mundo, porque nós temos um governo genocida que não tá nem aí para as vidas né das pessoas. Então, que sinta meu abraço, o meu afeto, a minha força, nesse momento de dor, nesse momento tão difícil que é um momento em que muitos estão perdendo seus entes queridos, já perderam e ainda vão perder infelizmente. E aí eu quero dizer que, dentre os meus sonhos, eu até apontei numa fala interior, não aprofundei mais aprontei, está o sonho de retornar para as minhas origens e voltar para o sítio onde eu nasci, onde eu passei a melhor fase, a melhor parte da minha infância e da minha vida, que é a fazenda Lourenço, o sítio no Lourenço lá no município de Redenção do Gurguéia. Então eu pretendo retomar o torrão que os meus pais, que já se foram, deixaram para mim e para os meus outros cinco irmãos de herança, nós queremos honrar essa dádiva, essa herança e quem sabe voltarmos a ter um Lourenço alegre, cheio de vida, como foi na nossa infância. Então, eu quero retomar o trabalho rural, a vida na roça e continuar, obviamente, lutando, por que a luta não acaba, eu me aposentando pretendo sair Brasília, exatamente porque eu tenho esse sonho de investir nesse pedaço de chão que me foi dado, através dessa benção que é a herança, a herança termina sendo uma benção que as pessoas precisam, valorizar, continuar, eu quero dizer que esse é meu grande sonho nesse momento, me aposentar e retornar para o interior, para a vida no campo, estou até me preparando, fazendo alguns cursos, sobre a questão ambiental, agro-florestas, permacultura, porque eu quero investir nesse pedaço de chão, eu quero me reconectar com meu passado, com os meus ancestrais, com os meus entes queridos que, inclusive, estão enterrados no cemitério lá no interior, na nossa propriedade, na nossa terra lá. Então é esse o meu grande sonho nesse momento, espero que eu tenha saúde, força e energia para conseguir realizar esse sonho, completar e seguir essa nova etapa da minha vida após aposentadoria. Eu pretendo ainda viver muito, fazer muitas coisas boas e continuar lutando, porque eu nunca vou deixar de lutar, onde eu estiver eu estarei participando das lutas de alguma forma, eu me refiro a luta política e a luta por uma sociedade mais justa, mais democrática e mais igualitária, e a luta pelo socialismo, que é a luta pela qual e o luto há vários anos, como militante, como militante orgânica de uma organização marxista-leninista-trotskista que é a Quarta Internacional, aqui no Brasil a corrente “O Trabalho” do PT, seleção brasileira da Quarta Internacional, organização política da qual eu tenho muita honra em participar, é isso. Viva a Quarta Internacional!
1:21:06
P/1 - Perfeito Meg. A gente agradece bastante o seu tempo, as histórias que você contou, foi muito bom ouvir você e ter registrado isso, a sua história é muito bonita e muito valorosa, isso é muito importante para nós. Muito obrigado.
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