Depoimento de In Sung Cho
Entrevistado por Roney Cytrynowicz e Marina D'Andrea
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 05 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Senhor Cho, o senhor poderia começar dizendo o seu nome, onde o senhor nasceu e em que data?
R - É meu nome é, como é que diz, em português?
P - Em português, em coreano, como o senhor quiser, os dois.
R - Meu nome em coreano chama, lá chama Cho In Sung, só que aqui, invés de sobrenome para trás, né? Lá chama o sobrenome primeiro e depois chama nome, e aqui chama nome primeiro e depois sobrenome.
P - Então inverteu?
R - Isso, aqui chama In Sung Cho e eu nasci em Seul, Coréia do Sul. E a data? É 28 de fevereiro de 56, quase que meu aniversário cai no vinte e nove, fazia aniversário a cada quatro anos. (risos)
P - E senhor Cho, qual o nome de seus pais e o que é que eles faziam lá na Coréia?
R - É, nome do meu pai é Miung Ro Cho e ele tinha um empresa de exportação e importação e veio pra cá.
P - E que tipo de coisa importava e exportava?
R - É manufaturado, por que naquela época a Coréia ainda não estava tão desenvolvida que nem está agora, então é produto que exportava mais é manufaturado.
P - E a importação?
R - Importação é nome que diria, importação, exportação, mas também naquela época a Coréia também estava tão fechada quanto o Brasil, quase, importava quase nada e mais exportava. O governo incentivava mais exportar do que importar.
P - Esse manufaturado, o senhor poderia dizer um pouquinho mais sobre o que era?
R - É especificamente ele abastecia um tipo de restaurante, com artigos de palito de dente, com decoração e aonde, no Frango Assado, não sei se a senhora chegou a ver, no pé do frango vai um tipo de sapatinho pra não pegar com a mão. Essas, o guardanapo, o tipo, quando tem pé de coquetel, vai um guarda-chuva em cima. Essas coisas de manufaturado. Essa é uma parte...
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Entrevistado por Roney Cytrynowicz e Marina D'Andrea
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 05 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Senhor Cho, o senhor poderia começar dizendo o seu nome, onde o senhor nasceu e em que data?
R - É meu nome é, como é que diz, em português?
P - Em português, em coreano, como o senhor quiser, os dois.
R - Meu nome em coreano chama, lá chama Cho In Sung, só que aqui, invés de sobrenome para trás, né? Lá chama o sobrenome primeiro e depois chama nome, e aqui chama nome primeiro e depois sobrenome.
P - Então inverteu?
R - Isso, aqui chama In Sung Cho e eu nasci em Seul, Coréia do Sul. E a data? É 28 de fevereiro de 56, quase que meu aniversário cai no vinte e nove, fazia aniversário a cada quatro anos. (risos)
P - E senhor Cho, qual o nome de seus pais e o que é que eles faziam lá na Coréia?
R - É, nome do meu pai é Miung Ro Cho e ele tinha um empresa de exportação e importação e veio pra cá.
P - E que tipo de coisa importava e exportava?
R - É manufaturado, por que naquela época a Coréia ainda não estava tão desenvolvida que nem está agora, então é produto que exportava mais é manufaturado.
P - E a importação?
R - Importação é nome que diria, importação, exportação, mas também naquela época a Coréia também estava tão fechada quanto o Brasil, quase, importava quase nada e mais exportava. O governo incentivava mais exportar do que importar.
P - Esse manufaturado, o senhor poderia dizer um pouquinho mais sobre o que era?
R - É especificamente ele abastecia um tipo de restaurante, com artigos de palito de dente, com decoração e aonde, no Frango Assado, não sei se a senhora chegou a ver, no pé do frango vai um tipo de sapatinho pra não pegar com a mão. Essas, o guardanapo, o tipo, quando tem pé de coquetel, vai um guarda-chuva em cima. Essas coisas de manufaturado. Essa é uma parte que ele exportava.
P - Em que ano que o senhor veio para o Brasil?
R - É, 1974.
P - Agora, antes de chegar ao Brasil, o senhor poderia contar um pouquinho como é que era sua vida na Coréia?
R - Eu era estudante, estava terminando o terceiro colegial, vida de estudante, né, mais estudava e algumas ginástica, não tinha muita variedade que tem hoje, jogos eletrônicos, variação de atividade era restrita.
P - E o senhor nasceu em Seul e sempre viveu lá?
R - Isso.
P - E como era a infância quando o senhor era pequeno?
R - Infância acho que não, não tinha muito contar por que estudo lá é rígido, porque lá pra entrar na universidade, todo estudante o objetivo é entrar na universidade, então estudo, estudo, de manhã levanta às seis horas e até oito, nove da noite era estudo.
P - Desde criança?
R - Porque senão não consegue.
P - E não tinha folga, brincadeiras, esporte?
R - Não, é, folga era praticamente domingo. Domingo faz lição atrasada. (risos) E realmente estudante lá sofre, às vezes, é, vê pelo noticiário do Japão que há suicida por que não acompanha estudo que deveria, então...
P - É esse mesmo sistema lá também?
R - É sistema rígido.
P - Então criança não tem infância, não brinca, não...
R - Eles pode ter até no, até entrar no primeiro grau. Ali é, é quase livre, mas no meu tempo era, agora completou terceiro ano já começou a aprender inglês, natação, criança de hoje também não tem sossego.
R - E como era a vida na sua casa, os costumes na Coréia?
R - Meu pai trabalhava, minha mãe era do lar e meus irmãos, é, era tudo estudante, né, e às vezes ia no zoológico, parquinho, essa era única diversão que tinha.
P - E senhor Cho, quando que sua família decidiu vir para o Brasil?
R - Em 76 o amigo do meu pai emigra, emigrou para o Brasil e ele em 74 não tinha a inflação que tinha, que tem hoje e ele achou que aqui era um paraíso, tinha frutas tropicais, o café tomava à vontade e a pessoa não, não está como hoje, pessoa mais aberta, não tinha tanto assalto na rua, então o pessoal andava na rua tranqüilo e ele achou que, ele teve uma visão de paraíso, aí combinou com meu pai: "Vamos lá pro Brasil, lá tem futuro." Aí meu pai concordou, o conselho do amigo e veio pra cá.
P - O senhor lembra do seu pai contando em casa que a família ia emigrar para o Brasil, como é que foi isso pro senhor pessoalmente?
R - É, eu não tinha a cabeça que tenho hoje, ou quando tinha 18 anos é para mim, pra ir pegar um avião e ir para outro país, é, era um sonho, uma parte de cinema, então eu não me preocupei tanto: que eu vou em chegar lá, que é que eu vou fazer, como é que vou, eu só tinha assim de esperança, eu vou entrar num avião, vou ver em cima das nuvens, então a viagem em si, não o destino. Vou comer, vou comer banana à vontade, abacaxi, essas coisas. Eu não estava pensando: vou chegar lá, vou ter dificuldades de expressar, eu uma, um costume totalmente diferente, um pessoal que via, que via no cinema, só no cinema, eu vou ver realmente, vou ter contato e essas coisas.
P - O senhor tinha visto o Brasil no cinema, algum filme brasileiro?
R - Só na aula de geografia é eles, esse problema de Brasília, que capital era Rio de Janeiro e mudou para Brasília e sentia, pegou empréstimo, sentido economicamente e Rio de Janeiro.
P - Dava na aula de geografia isso?
R - Hum hum.
P - Mas o senhor... para imigrar para cá, os negócios deles não iam bem lá? Haviam dificuldades?
R - Não, não é que ele economicamente estava mal, mas ele pensou mais nos filhos, então, a Coréia naquele tempo ainda não estava tão economicamente bem do jeito que está hoje. Ele pensou em emigrar pensando nos filhos.
P - Senhor Cho, o senhor estava contando, é, da chegada ao país, que seu pai... pensando no futuro dos filhos. O senhor lembra qual, qual foi a primeira impressão ao chegar em São Paulo?
R - Minha primeira impressão é que não sentia muito estranho, em São Paulo, na cidade de São Paulo, dentro das ruas, eu me sentia mais numa, num cidade do meu país, eu não sentia muita diferença, eu não sei porque, mas imaginava muito daqueles hotéis grandes, na praia do cinema, do 007, dessas coisas, então, eu passava em frente ao Mercado Central, via monte de sujeira, e a casca de laranja, então essas coisas não me expulsava, fazia chegar mais perto das, né, eu me sentia muito aqui é outro país.
P - Existia alguma semelhança de cidades?
R - Não, semelhança não tem, mas eu imaginava muitas imagens de limpeza, cidade grande tipo Nova York, essas coisas, mas aqui é diferente, né? Então eu não tinha muita diferença de sentir, eu não sentia que aqui é outro país.
P - Tinha algum hábito, alguma, algum costume em especial que o senhor estranhou aqui?
R - É, fazia tudo contrário, quando vai no barbeiro, na Coréia, o cortar cabelo, depois lava, (risos), pra não ficar o cabelo e aqui lava primeiro e depois corta.
P - Que mais seria?
R - E quando chama a pessoa, ou lá faz o gesto de vir pra cá assim, mas aqui fazia assim. (risos) Tem muitas coisas que assim, faz o contrário, é, uns dizem que lá é o (certo?) aqui é, lá não é, aqui é e lá não é.
P - E em termos de tamanho de cidade, comparando as duas.
R - Tamanho é completamente diferente, né? A Coréia em si cabe dentro do estado de Pernambuco.
P - Sim, mas eu digo assim, a amplitude das cidades, quer dizer, Seul é uma cidade considerada grande com as características da nossa, não em termos de tamanho ou não, tipo industrial, comércio.
R - A primeira impressão que senti é que quando atravessava a rua eu tinha muita dificuldade, muita pessoa não respeitava sinal, e eu tinha até medo de velocidade dos carros, e o farol que abria, não tinha muita travessia que tem hoje também, então ficava perdido: Por onde atravesso? Será que o carro vai me pegar? A única dificuldade era isso e tomar ônibus errado também.
P - Senhor Cho...
P - Como que era, como foi que você foi aprendendo a língua?
R - A língua eu, lá na Coréia eu tive aula de três meses de básicas assim, "bom dia", tinha palavra que tinha sexo: "o", "a" , isso aí é muito, até hoje eu tenho dificuldade de separar o masculino e feminino, às vezes eu fico, eu troco tipo: o foto, na verdade é a fotografia, mas já pensando foto termina com "o" então deve ser masculino.
P - Mas o senhor continuou estudando aqui, o senhor falou no colegial?
R - Sim, perto da onde eu morei tinha uma colégio de freiras e ali eu pedi pra diretora: eu cheguei, eu recém-chegado, queria estudar mas como eu já tinha 18 anos eu não podia entrar no primário, esses problemas, aí ela entendeu minha situação: "Então você pode assistir aula, como ouvinte." E como era colégio de freiras, era tudo uniformizado, era tudo, era o único que não usava uniforme, os estudantes me olhava estranho e depois eu fiz o Curso Anglo para estudar a universidade, mas no meio eu parei.
P - Por que é que o senhor parou?
R - É questão economicamente e teve conversa com amigos que cursava universidade e eles falaram assim, que se realmente entra no ramo pode até estudar, se quiser fazer a carreira de advogado pode formar no Direito, essas coisas, mas como eu, não era o meu desejo, eu escolhi uma, um caminho diferente, aí ele falou que o que vou gastar durante quatro anos de faculdade e mais depois o custo que vou ter, depois não ia ter retornar, não ia ganhar o que ia ter em quatro anos. Então já que o negócio é comércio, eu vou partir pra comércio. Pra vender roupa não precisa ser engenheiro.
P - E, mas na sua terra esse retorno existe?
R - Lá é, lá existe, e lá o pessoal faz mais o carreira, e entrar em grande firma para subir até chegar no topo. Mas aqui é diferente, aqui imigrante é, pelo dificuldade de língua, essas coisas, parte mais pra comércio e tem mais facilidade de estabilizar economicamente no comércio do que fazer carreira.
P - Senhor Cho, o senhor quando chegou aqui em São Paulo tinha muitos imigrantes coreanos em São Paulo?
R - Tinha, na época tinha uns dez mil.
P - Ah, havia dez mil?
R - Agora está falando em 40, 50.
P - E existe algum mecanismo da comunidade de ajudar os que chegam depois, algum...
R - Tem, tem um tipo reunião que eles faz, é reunião de pessoal quando chega aqui, e economicamente já estável eles vão ajudar o recém-chegado até eles estabilizar.
P - Mas eles emprestam capital, por exemplo?
R - É tipo consórcio, que forma, é bem parecido com consórcio de carros, né, e que em vez de carros é dinheiro.
P - Como, como que funciona?
R - É que nem consórcio de carro, recebe um x e paga por parcela por mês sem juros, sem nada.
P - O suficiente pra abrir um negócio próprio?
R - Depende do negócio, mas é suficiente.
P - E isso é uma lei? Todo mundo recebe esse tipo de ajuda?
R - Não seria lei, mas tendo conhecido, é fácil de entrar, né, a maioria começa assim.
P - Como é que é essa, é uma associação? Um clube?
R - Não, não, seria tipo um clube, né?
P - E como que é o nome?
R - Nome não tem não, é um grupo. Tem, sempre tem um líder que é chamado por ele, é ele que forma grupos para ajudar pessoas.
P - E aí o pessoal que chega procura, este, esta pessoa?
R - Através do conhecidos chega até nesse clube, ele é apresentado, ele recebe e...
P - E vai pagando?
R - Isso, recebe esse benefício.
P - Mas, acontece também de um imigrante que acabou de chegar, ser um funcionário de um imigrante que já chegou antes, se ele não tem esses conhecimentos?
R - É, se não tiver conhecimento é difícil, aí é por não conhecer, ou por não concordar, tem pessoa que não entra, não todo mundo que chega aqui e entra nesses clubes.
P - Mas o senhor já, você já sabia de lá, seu pai já sabia a pessoa a quem procurar aqui?
R - Não, esse amigo que falou pra meu pai que é paraíso, ele morava aqui e estava nos esperando no aeroporto.
P - E qual foi o primeiro negócio que seu pai abriu aqui?
R - Como ele tinha dificuldade de língua, ele ficou uns seis meses procurando qual o negócio mais fácil para ele, ele sondou até posto de gasolina essas coisas, mas no fim acaba comprando um supermercado.
P - Aonde?
R - No Imirim, bairro Imirim.
P - E o senhor começou a trabalhar junto com ele?
R - Isso, eu gerenciei loja, ele também trabalhou, mas como eu tinha mais facilidade de atender pessoa, eu fico, acaba ficando como gerente.
P - E se você nunca tinha trabalhado, era estudante na Coréia, como foi esse primeiro contato com trabalho num cargo assim, é, chave?
R - É tinha, no começo tinha muita dificuldade de num lembrar nomes, o pessoal, o freguês, o freguês chegava e pergunta: "Tem tal produto?" Eu não conhecia, aí já procurava, indicar o funcionário, tem esse produto, e começar decorando pouco a pouco. E tinha mais dificuldade de mandar funcionários, que às vezes, minha ordem não chegava até ele, né, como eu não tinha esse contato de mandar pessoa, era dificuldade e pouco a pouco vai superando.
P - E o supermercado o senhor ficou até que ano?
R - Comecei 77. Até 80.
P - E em 1980?
R - É, em 1980 eu casei com minha esposa aí parti pra confecção, por que família, família dela tinha confecção.
P - Como foi que o senhor conheceu sua esposa?
R - É uma história que o pessoal vai achar: "Que loucura" (risos) É, fui apresentado por uma amiga da minha mãe e assim, questão de, questão de seis meses já estava casado, é foi numa fevereiro, conheci ela num jantar aí vi, eu saí duas vezes com ela, conversei depois, aí isso também deve muito à cultura, que aqui é mais livre, namorava, noivava quantas pessoa quiser, é aqui troca namorado como se troca-se um carro, mas lá não tem essa liberdade e se conhece uma pessoa vai até o fim. Tem caso que não dá certo, mas maioria muito compreensível, bom já que assume, tem que levar até o fim e aí meu pai me aconselhou: "Você não pode ficar andando com moça pra lá e pra cá e mostrando pra todo mundo e você simplesmente não gostou e largar." Aí me aconselhou noivar com ela. Bom, depois que noivou, já estava meio amarrado quase, fiquei preso.
P - E a família dela, ela trabalhava com confecção junto com a família?
R - Isso é, aí vi que no ramo de supermercado tinha muita, lucro era muito pouco, muitas coisas tinha tabelado e 80 começou ter inflação e começou faltar mercadoria e bastante problemático aí. Aí parti pra confecção que era mais fácil.
P - Que é que o senhor começou a fazer exatamente?
R - É, comecei a fazer as malhas e comprava linha, fazia o tecido e confeccionava.
P - Era uma loja?
R - É loja e o fábrica no fundo da loja.
P - Já no Bom Retiro?
R - Não, no Brás.
P - Ah, no Brás.
P - E como é que foi desenvolvendo o negócio?
R - Na frente da loja fazia vendas, né, e no fundo confeccionava e assim pegando o conhecimento do confecção e até que confecção tem essa muito alta e baixas, tem temporada que vende, temporada que não vende, essa alta e baixas, deixou meio preocupado, que às vezes fazia um, guardava um pouco de dinheiro e no, seria entressafra e gastava tudo e ficava sem nada. Então eu queria ter uma estabilidade de, começou a crescer filho, entrou na escola também, então queria estabilidade, então eu comecei a procurar uma atividade que seria paralela ou mantendo confecção e como confecção eu tinha alta e baixa eu queria ter uma estabilidade de economicamente, então procurei várias coisas mas no e cheguei num ponto, a comida, o pessoal tendo ou não tendo dinheiro, o pessoal tem de comer. Então voltando naquele tempo de supermercado, como tinha experiência, então eu falei: "Vou arrumar uma atividade de comidas, né, comestíveis." Aí procurei revistas, eu cheguei numa franquia de Pão e Companhia, em Belo Horizonte, aí liguei pra ele, fiz contato eles tinha seminário num sábado. Aí tive que ir até Belo Horizonte ouvir seminário deles. De início achei um bom negócio, é pouco capital investido, eles tinha linha de financiamento e voltei com o peito cheio: "Ah É esse ramo que eu vou, agora vou ser o primeiro coreano padeiro" (risos) Aí eu procurando lojas ou local pra instalar, tinha dificuldade de, umas ponto que tem, eles exigia luva alta, essas coisa e calculando no fim das, o fim do contrato não recuperaria o dinheiro que tinha investido. Essa tempo, passou uns seis meses, aí eu fiquei um pouco desesperado: "Pô, o dinheiro que tem acabando e eu no fim não vou arrumar nada." Aí apareceu um ponto no Perdizes, aí eu, era uma casa simples, aí derrubei ele e fiz uma loja, também não tinha experiência, gastei, bom aqui vai sair uma mina de ouro, eu investi dinheiro, né? Fiz uma loja de conveniência com padaria deve ser o primeira do gênero, e como tempo, eu teve três anos nesse ramo, que cheguei a ter até 30 funcionário, era uma dor de cabeça, um atrás do outro, e eu percebi que esse ramo era pra português não pra coreano (risos), cada macaco no ramo, no galho, por que conhecimento do colônia também pesa muito eu vi que ninguém entrou, ninguém da colônia coreana ia entrar no ramo de padaria e eu queria ser um diferente mas acaba não dando certo. Mesma coisa que hoje eu monto uma pizzaria e ninguém vem comer na minha... (risos)
P - E o que é que o senhor achou que faltava pra dar certo?
R - É, de início era, faltou apoio da família porque eles já trabalhava com confecção e não, não podia me ajudar e costume de confecção trabalhar, abre loja sete horas, seis hora fecha e vai pra casa tranqüilo mas aqui, o loja de conveniência trabalha 24 horas sem feriado, sem domingo sem nada e eles ali não, e ficar tocando direto, sozinho cansa. Então de início tinha muitas idéias: "A minha loja vai ser assim e atendimento vai ser tal e vai ser primeira loja do Brasil vai ser assim, assado" E passando o tempo, o mente cansa, o corpo fica cansado, e a idéia que tem não desenvolve, então acho que é um negócio que, já no família português vem pai, mãe, filho, filha, genro, nora vem todo mundo fazendo rodízios de pessoa. Isso que é, acho que é ponto-chave.
P - Quer dizer que o senhor achou que não deu certo por causa de ser um regime de 24 horas e não por causa do pão ou da loja de conveniência em si?
R -Não, acho que faltou suporte e não é questão de 24 horas, é faltou um apoio de parte família e ou, eu não achei um pessoa certa pra gerenciar eles, que eu que mesmo participei, até venda, faxina, cobrança, banco, tudo. Então acho que faltou mais um braço pra me apoiar.
P - E aí então o senhor voltou pra confecção?
R - É pra confecção.
P - E como é que foi essa volta?
R - Quando, quando estava, quando estava no loja de conveniência eu, todo dia , uma vez por dia eu falava: "Eu era feliz e não sabia." (risos)
P - Mas a loja de confecção continuava? Com sua esposa?
R - Continuava com confecção, minha esposa e do outro, meu pai também e agora eu estou de volta também.
P - Ah, quando o senhor voltou junto com sua esposa e...
R - Isso.
P - Mas não era ainda no Fashion Center?
R - Não, era Fashion Center.
P - Ah já era no Fashion Center. Em que ano que foi aberto o Fashion Center?
R - De 90.
P - E foi o primeiro do gênero?
R - Ah, o Fashion Center Luz foi aberto em 88.
P - O senhor se referia à loja primeira de sua esposa, né?
R - Isso.
P - Ainda estamos no Fashion Center.
R - Não, 1990 ela abriu uma loja no Fashion Center Luz, mas o Fashion em si inaugurou em 88.
P - Ele foi o primeiro Fashion assim de atacado?
R - Sim, de atacado foi o primeiro. Era a rodoviária, eles reformaram e a idéia do idealizador é que a loja da rua, eles recebem muito da luva, muito, a luva era muito cara, ele é renovado três anos e depois pra não cair lei da luva, não fazia mais recontrato, né, e sofre e ficava verbalmente cada três anos tem que pagar "x" de luvas. Para evitar esse problema eles fizeram a loja lá e cada um comprava o ponto e ficava, o resto da vida é dele, não depende mais de luva, não depende mais aluguéis, só pagava condomínio e fazia uma loja, a idéia era essa. E muitos shopping agora, Shopping D, Market Center que está explorando o ponto-chave de não ter luxo, não ter custo grande e o preço é baixo, isso aí nós já temos aí desde 88. Não tem, as lojas não tem ar condicionado, não tem é elevador de panorâmico, essas coisa, luxo, em benefício tem preço baixo.
P - Quem são os clientes do shopping?
R - Cliente é diria lojista do interior, São Paulo e do país inteiro, é Norte, Sul, Nordeste, essas loja de confecção que vem abastecer no Fashion Center Luz.
P - Agora lá o senhor disse que é síndico, né, do...
R - É, dor de cabeça certa.
P - Como é ser síndico, onde ali a maioria são coreanos, né, ou são poucos?
R - São 90% do lojistas são coreanos.
P - E os outros 10%?
R - É são brasileiros e chineses.
P - E como é gerenciar esse, esse Fashion Center?
R - Tem uma característica diferente dos outros shopping, que é outro shopping a administração tem todo poder, porque administração aluga e qualquer desobediência, lavra multa e até expulsão, né? Como o Fashion Center Luz é formado proprietários, a administração não tem muito poder, por que não está mandando pra inquilino, está mandando pra proprietário, então, é, às vezes, o proprietário: "Quem é você pra me mandar". Então tem essa dificuldade e a idéia de não pagar luva na rua era boa, até benefício para próprio proprietário e cliente, mas para administração, isso, esse ponto não é bom. Porque não tem poder, todo poder de gerenciar que às vezes é um assunto para resolver e tem muitas pessoas que não concorda e não direciona.
P- O senhor poderia dar um exemplo de tipo de problema que surge em cima dessa?
R - O Fashion Center Luz, por não ter clube dos lojistas, é deficiente em propagandas, o problema que o clube dos lojistas tem de resolver a administração está fazendo junto. Então às vezes, vamos fazer tal promoção durante "x" tempo, tem pessoa que concorda: "Ótimo", tem pessoa que não: "Na minha loja não participo."
P- Ë grande a concorrência entre os shopping de atacado senhor Cho?
R - Porque como é shopping de maioria é roupas é confecção, são 80% de lojas formadas em confecção, então concorrência é muito grande.
P - E entre os shopping, entre esse e outros shopping de atacado?
R - O nosso Fashion Center Luz leva vantagem de fabricante também de ser shopping de fabricantes, e tem localizado no centro da cidade, em volta todos hotéis, pessoal que lembra antiga rodoviária, lembra todo mundo e shoppings de agora é típico shopping D ele é, eles fala que também que é shopping de atacados, é shopping de fabricante, mas chega lá, não vai encontrar quantidade suficiente de mercadorias e de clientes.
P - Quando o senhor fala fabricante, as fábricas dessas lojas do Fashion Luz são lá dentro ou em outro lugar?
R - Não, pelo convenção não, não pode fabricar lá dentro, mas é muitos proprietário de lá tem fábrica paralela tipo José Paulino, em volta tem fabricação própria e tem loja no shopping.
P - O senhor mesmo tem?
R - Não, eu não tenho.
P - Senhor Cho, os imigrantes coreanos trouxeram algum tipo de inovação na confecção que já existia no Bom Retiro? Algum produto novo, alguma forma nova de vender?
R - Forma de vender, acho que não inovou nada é dar mercadoria e recebe dinheiro, isso vem desde idade da pedra, mas a confecção em si é, desenvolveu muito. Quando eu cheguei aqui o tipo da roupa era muito atrasado das moda da Europa e até própria Coréia e a... quem confeccionava era no fundo do quintal que fabricava e entregava e até um tipo de manga que era o contrário, um botão que não abotoava, vendia roupa sendo que isso aqui era uma roupa e vendia. Mas agora o brasileiro, não vai comprar acho que esse desenvolvimento de modas, acho que os coreanos é que trouxeram pra cá, a concorrência fez crescer muito o tipo de corte, os detalhes, essas coisas.
P - E a inspiração dessa moda que veio introduzindo, é existe uma introdução de moda esteticamente ou só em termos de qualidade?
R - Os dois, né, qualidade e a tendência da moda, muitas pessoa viaja duas vezes, três vezes pela Europa pegando moda direto de lá e até na Coréia eles vão buscar modelo novos. Porque se atrasar modelo aqui já é um fracasso.
P - Lá no shopping, no Fashion, vendem, algumas lojas vendem à varejo?
R - A idéia era vender só atacado, mas de 88 para cá tivemos bastante crise de vendas então o pessoal começou a abrir a porta para varejo também, tipo sábado vender à varejo até mesmo...
P - A mesma mercadoria?
R - É, a mesma mercadoria.
P - Senhor Cho, o senhor voltou alguma vez para a Coréia?
R - Eu fui uma vez em 87 pelo competição que teve lá. Todo ano, na Coréia, tem competição entre coreanos, aí eu tenho o direito de participar como imigrante para o Brasil, é como se fosse um estado Brasil, é estado do Japão, Estados Unidos, Canadá, é imigrante pode participar.
P - Competição de quê?
R - De tiro ao alvo.
P - E o senhor falou que tem medalhas, títulos?
R - Lá, lá não ganhei nenhuma medalha porque houve problema de transporte de arma, essas coisa e lá é controle de arma é rígido, então eu cheguei lá e a arma não tinha chegado, houve esse problema. Eu até participei na competição, mas que não era minha arma, eu tive que emprestar é arma de tiro ao alvo é muito precisão então emprestada do outro não mostra capacidade. Aqui no Brasil eu treino duas vezes por semana, terça e quinta, e eu participo competições no domingos. Eu fui campeão paulista de 89 e 90.
P - Em que modalidade?
R - Modalidade pistola livre e pistola de ar.
P - Aonde que é que o senhor treina e aonde que compete?
R - Eu treino no Clube Hebraica eu não sou judeu mas treino no Clube Hebraica, competições tem várias, é, locais aonde tem stands de tiro o Tietê, Hebraica, Paulistano.
P - Que é que mais atrai o senhor nesse esporte?
R - Eu não sei, quando em 87 fiz um curso de defesa, pela Federação Paulista de Tiro ao Alvo, aí quem tem interesse e fazia competição entre ex-alunos, é tipo de defesa, tem um alvo para atirar em dez, em 15 metros, é, agora essa modalidade é proibido internacionalmente, tipo um perfil da gente e acertando no coração. E aí essa modalidade de defesa eu fui até revelação do ano no Clube Tietê e pessoal viu que eu tenho capacidade e eles me convenceram a entrar no tiro esportivo, é modalidade olímpica e eu não, eu não tinha que fazer muito esforço, eu num, né? E aquela sensação de acertar no centro, essas coisa que me atrai continuar no tiro.
P - O senhor chegou a participar de uma pré seleção pra olimpíada?
R - É uma vez no Rio de Janeiro, mas como eu tenho comércio e eu já com idade também, eu não, não posso é dedicar apenas pra tiro então, eu sei que capacidade eu tenho, mas é, sabe, problema de dia-a-dia, comércio, eu pratico mais como hobby do que pra mim como esportista. Eu gostaria de participar olimpíadas, mas o dia que der pra mim participar, eu participo.
P - Senhor Cho, a imigração coreana chegou num bairro que já era um bairro de imigração italiana, depois judeus, como que o senhor acha que foi o encontro desses grupos? Por exemplo, coreanos e judeus e que trabalham na mesma atividade?
R - Os coreanos chegaram primeiro na Liberdade, Liberdade e de início eles não tinha tanto atividade de confecção que tem agora, mas eles desenvolveram um sistema de costura, bordados, começou uma parte da confecção. Aí o pessoal que já praticava confecção na Coréia e vieram para cá, viu que tinha facilidade e eles começou. E começou juntando pessoa por que uma participa do bordados outro pregava botão, né, essas coisas então começou crescer o grupo que fazia confecção e pessoa que chega de lá viu que colônia está dedicando na confecção, ele certamente entra no confecção. É, tem pessoa que como eu parte para outro, para outras atividades, posto de gasolina, tem série de outras atividades, mas é, eu diria que o que deu certo mais é no confecção.
P - Falando em confecção, o senhor tem várias lojas, né, no Fashion Luz?
R - Cento e quarenta e sete lojas.
P - Não, isso é do... as suas, as suas.
R - Ah sim. A minha é só uma.
P - É só uma. Tem uma numeração que vai de 29 a tal?
R - Não, isso aqui é endereço do...
P - Sim, mas não é, seria uma loja maior que as demais ou não, do que os outros box, que as outras lojas?
R - Não, tem tamanho variado lá dentro, não é exatamente um padrão de lojas é tem, tem loja que mede 300, tem loja que mede 500 metros quadrados.
P - E a sua? A sua é um tamanho...
R - Tamanho padrão.
P - Senhor Cho, quando o senhor voltou para a Coréia pra essa competição o senhor notou alguma diferença entre o comércio de confecção de São Paulo e de Seul?
R - Fazia quinze anos e a Coréia desenvolveu muito, é, mais do que imaginava. É eu fui visitar a cidade que, um cidade próxima de Seul, é lá era uma estação de trem era simples, uma estação de interior, ainda pode ver os filmes. Mas quando eu visitei eu até assustei virou uma cidade, era estação, mas tudo parafernália de eletrônica, e venda automática tipo que vejo aqui coke machine, põe moeda e sai coca, café, chá, suco de laranja, tudo a facilidade de bebida a vida teve muito, assim facilidade da vida, né?
P - O senhor tem vontade de voltar para a Coréia?
R - Vontade até tinha mas aí já, imigração o contrário, né, meu filho sentia o mesmo dificuldade que eu sentia, essas coisas então...
P - Uma pergunta difícil de fazer, mas o senhor comparativamente acha que lá o país prosperou de uma forma melhor do que aqui nesse tempo? Quer dizer, quem terá ficado lá se deu melhor do quem veio?
R - Isso depende da pessoa mas o...
P - Em termos de país mesmo, lá se desenvolveu mais?
R - Isso, em termos de país.
P - Vocês aprendem inglês na escola, na Coréia, desde pequenos?
R - Desde ginásio até colégio é obrigatório, segunda língua. Então para mim não teve dificuldade de escrever, escrever não tinha dificuldade nenhuma porque já escrevia inglês, mas falar é completamente diferente do inglês, né? Então eu tive dificuldades de aprender um pouco.
P - Seus filhos falam coreano?
R - Eu tento ensinar mas eles acha mais fácil falar português do que coreano.
P - Mas fala inglês?
R - Não, inglês ainda não, eles vai no cursinho até escola tem aula de inglês, mas assim de conversação ainda não.
P - E, senhor Cho, os seus filhos, por exemplo, o senhor gostaria que trabalhassem no comércio também ou que eles façam faculdade?
R - Eu acho também, como eu caminhei nesse sentido, no mínimo necessário até terminar o colegial que é eu acho que universidade é um profissionalizante. Então terminando colegial eu vou conversar com eles: "Você quer seguir carreira ou quer seguir comércio?" A vontade dele, não adianta eu forçar ele: "Você vai ser médico", se ele não gostar ele vai ser fracasso no...
P - Mas eles já se interessam, eles ajudam você na loja?
R - Não, é diferente, se eu tivesse essa idade e fosse lá na Coréia eu ajudaria muito meu pai, minha mãe e essas coisas, eles já acha que tem direito de criança, criança tem de brincar, ter... (risos)
P - E o que é que o senhor acha?
R - É sinal dos tempos, né? Eu não vivi assim, mas meu filho. Eu não posso brigar: "Você é meu filho tem que seguir esse, assim é a vida." Tem que, (risos) tem que satisfazer os dois lados.
P - O senhor disse que sua, a sua religião é protestante?
R - Isso, é cristão.
P - É, mas a maioria na Coréia é de que religião?
R - Até eu sair de lá, a budista era mais maioria do religião, mas agora inverteu, é cristão, é maioria do que budismo. É eu analisando, eu não sou expert em religião budismo mas o budismo, o templo do budismo fica dentro do montanha isolado da cidade, então pessoal com atual tendência de trabalho, essas coisas, não vai procurar a religião dele lá no meio da montanha e a igreja é formada no centro da cidade, junto com população, então tem mais facilidade de pegar adeptos.
P - Que é que o senhor tem assim de planejamento de futuro, para seu futuro? Em termos de comércio?
R - Bom, se eu fosse seguindo uma carreira teria assim um futuro no topo da carreira mas sendo comércio, acho que num... ganhar bastante dinheiro e viver feliz.
P - Você tem algum sonho além do comércio senhor Cho, algum projeto de vida?
R - É eu tinha. Na verdade eu não me adapto bem em comércio por que sou, eu sou um pouco tímido, eu não tenho assim é dom de comerciário, sabe, comerciante, aquele assim, assim rápido: "Se eu vender isso aqui e comprar isso "x" vender "y" vai sobrar tanto, eu vou aplicar eu não tenho essa dom sabe? A minha esposa tem e eu seria mais, gostaria mais é assim projetista, meu, o que eu me adapto bem é mexer com projetos, é com desenhos, sabe, se fosse arquiteto, seria assim bem, mas agora que já está no comércio não posso correr e começar tudo de novo agora.
P - Senhor Cho...
P - O que é que o senhor achou desse depoimento que vai ficar aí gravado, inserido na história do comércio em São Paulo?
R - Eu, isso ajudaria muitas pessoas de quem quer, no parte de estudo ou parte de curiosidade também, não só eu, tem muitas, o pessoal que também está dando esse depoimento isso ajuda bastante pessoa, por exemplo, eu quando eu montei a loja de conveniência, eu tinha dificuldade de pegar informações, qual é vantagem, qual é desvantagem. Se muita gente me aconselhasse que não abrir 24 horas, eu certamente não abria, mas abri. É 24 horas tem lado bom mas é, foge do controle, eu não posso ficar lá 24 horas controlando. Então essas informação que está juntando vai, vai ser muito útil pra próximo que está procurando.
P - O senhor quer falar mais alguma coisa?
R - Acho que falei demais.
P - Tá bom, muito obrigado, a gente quer agradecer senhor Cho.
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