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Personagem: Carlos Papá
Por: Museu da Pessoa, 18 de abril de 2019

Um mergulho no mistério Guarani

Esta história contém:

Um mergulho no mistério Guarani

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Meu nome é Carlos Papá eu sou do povo Guarani Mbya e uma coisa que me marcou muito, até hoje eu me lembro, foi quando alguns guerreiros me levaram em um lugar para se compreender e para ser guerreiro, na época, pra sobreviver, um teste de sobrevivência na selva. Eles vendaram o meu olho, me levaram em um lugar na selva e falaram pra mim que eu só poderia tirar a venda depois de bastante tempo. Então, eles colocaram uma água no bambu cortado, na taquara, fizeram um furinho, essa água começou a pingar: tu, tu, tu, deixaram eu sentar e essa água começou a pingar no meu joelho... Então, eu tinha direito de limpar, mas a água tinha sempre que pingar. Eu só tiraria a venda do meu olho depois de parar de pingar. Depois que parou tudo de pingar, eu tirei e cadê o pessoal? Foi embora. Eu também não sabia de onde tinha vindo, fiquei desesperado e eu comecei a chorar e gritar para todo mundo se alguém estava me ouvindo, mas ninguém, né? Eu percebi que estava entardecendo, aí eu ouvi a cigarra cantando, pássaro e aí comecei a gritar, gritar, gritar, gritar, gritar e, de repente, eu vejo uma onça caminhando, assim, para cima. Eu falei: “Nossa, agora eu vou ter que parar de gritar”. Aí eu fiquei quieto, né? Eu fiquei ali e eu não tinha nada na minha mão. Nada... Então, eu comecei a ouvir o barulho de água: chuuuuuuuuu, pensei comigo: “Bom, eu vou pra água, né? Eu não vou ficar aqui”. Comecei a descer devagarzinho com a água, morrendo de medo, falei: “Nossa, e agora? Vou ser comido aqui”. Aí comecei a pensar: “Nossa, eu achava que minha mãe, meu pai, minha família, gostavam de mim. Eles me odeiam, então. Vão me deixar aqui pra quê? A onça me comer?”.

Eu comecei a pensar mil coisas: “Nossa, eles me odeiam, então, mas eu vou sobreviver”. Comecei a descer e cheguei no rio, tinha uma pedra, falei assim: “Bom, eu vou ficar por aqui, porque aqui dá pra ver se a onça...

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Entrevista de Carlos Papá

Entrevistado por Jonas Samauma

São paulo, 18 de abril de 2019

Projeto afinadores de ouvido

Entrevista número cinco

Integra também o projeto ___________ [00:20] memória indígena

Entrevista número pcsh 751

Transcrito por selma paiva

P/1 – Papa, bem-vindo ao Museu! Eu gostaria, primeiro, que você falasse, assim, o seu nome, o local que você nasceu e a sua etnia.

R – Bom dia! Meu nome é Carlos Papa, eu nasci em Boiçucanga, numa aldeia Boiçucanga, que hoje não existe mais a aldeia, é somente cidade hoje, sou de 70. Eu nasci 13 de agosto de 1970.

P/1 – E você poderia contar um pouco a história dos seus avós e dos seus pais?

R – Eu vou contar quando eu conheci meus avós, né? Quando eu comecei a andar, conhecer o mundo, o lugar, assim, eu conheci meus avós e meus pais, minha mãe, através de um encontro, de uma reunião grande, né, somente o sábio espiritual, líder espiritual, que estavam se reunindo para fazer o primeiro encontro. Na época estavam pensando montar uma organização que chamava-se, na época, Aguaí. Parece que, se não me engano, era Ação Guarani, é uma ONG que eles estavam montando e então, na época, meu avô, meus pais, minha mãe não sabiam ler e escrever e então estavam pensando em montar e não sabiam como montar, então eles se reuniram no local que era, na época, se reuniram na Água do Bento, numa aldeia e lá que conheci os meus avós, porque meus avós moravam, na época, ali na Serrinha, uma aldeia. Só que hoje não é mais Serrinha, hoje chama-se Juquehy, essa aldeia. Praia de Juquehy. Lá que eu conheci pela primeira vez meus avós. Então foi muito interessante porque, na época, se reunia só os mais velhos e as mais velhas, pra poder discutir de forma política, né? Porque Aguaí é uma entidade que ia abranger todo o estado de São Paulo, pra discutir e defender o interesse Guarani Mbya. Eu sou do povo Guarani Mbya. E então, a primeira...

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