Projeto BNDES 50 anos
Depoimento de Luiz Antônio Dantas
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2002.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número BND_TM014
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Fernanda Regina
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Começar a nossa entrevista, pedindo para o senhor falar o nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Luiz Antônio Eraldo Dantas, nasci no Rio de Janeiro em 9 de junho de 1955.
P/1 – Qual o nome e atividade que seus pais exerciam?
R – Bom, o meu pai é Antônio de Brito Dantas. Ele era comerciante e a minha mãe, Amélia Lopes Dantas, doméstica.
P/1 – Qual o curso e faculdade que o senhor fez e quando concluiu?
R – Eu fiz o curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro e concluí em 1978.
P/1 – Quais foram os fatores que contribuíram para a escolha do curso de engenharia?
R – Olha, na época, era lago que atraía muito, principalmente a mecânica de automóveis, que foi a minha especialização. Eu gostava muito e acabei me identificando um pouco com isso, ainda quando criança e cursei, levei avante. Algo que eu tinha certeza que eu não queria ser... Fazer era área biomédica. Então, foi um pouco aí por eliminação.
P/1 – E como é que... Quando se deu ingresso no BNDES? BNDES foi o primeiro emprego?
R – Eu tive uma passagem rápida pela Petrobrás porque o curso de Engenharia Mecânica nos dava oportunidade de fazer, na época, na UFRJ uma prova para Petrobrás. Eu passei, mas acabei não ficando porque eu fui designado para trabalhar na Copene e na época não me... Realmente não me agradou. E fiquei na Petrobrás uns três ou quatro meses apenas e saí, ainda sem deslumbrar um outro emprego. Eu saí e fui procurar alguma coisa na época. E aí o coordenador da faculdade, da UFRJ, que já vinha conversando comigo até para... Verificando o meu interesse em dar algum curso dentro da cadeira lá de Engenharia Mecânica, ele me...
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Depoimento de Luiz Antônio Dantas
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2002.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número BND_TM014
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Fernanda Regina
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Começar a nossa entrevista, pedindo para o senhor falar o nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Luiz Antônio Eraldo Dantas, nasci no Rio de Janeiro em 9 de junho de 1955.
P/1 – Qual o nome e atividade que seus pais exerciam?
R – Bom, o meu pai é Antônio de Brito Dantas. Ele era comerciante e a minha mãe, Amélia Lopes Dantas, doméstica.
P/1 – Qual o curso e faculdade que o senhor fez e quando concluiu?
R – Eu fiz o curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro e concluí em 1978.
P/1 – Quais foram os fatores que contribuíram para a escolha do curso de engenharia?
R – Olha, na época, era lago que atraía muito, principalmente a mecânica de automóveis, que foi a minha especialização. Eu gostava muito e acabei me identificando um pouco com isso, ainda quando criança e cursei, levei avante. Algo que eu tinha certeza que eu não queria ser... Fazer era área biomédica. Então, foi um pouco aí por eliminação.
P/1 – E como é que... Quando se deu ingresso no BNDES? BNDES foi o primeiro emprego?
R – Eu tive uma passagem rápida pela Petrobrás porque o curso de Engenharia Mecânica nos dava oportunidade de fazer, na época, na UFRJ uma prova para Petrobrás. Eu passei, mas acabei não ficando porque eu fui designado para trabalhar na Copene e na época não me... Realmente não me agradou. E fiquei na Petrobrás uns três ou quatro meses apenas e saí, ainda sem deslumbrar um outro emprego. Eu saí e fui procurar alguma coisa na época. E aí o coordenador da faculdade, da UFRJ, que já vinha conversando comigo até para... Verificando o meu interesse em dar algum curso dentro da cadeira lá de Engenharia Mecânica, ele me sugeriu que fizesse uma entrevista na Finame, que era uma subsidiária na época do BNDES. Eu vim, fiz a entrevista. Eu fiz uma... Eu fiz, acho que umas três entrevistas, fiz uma provinha. Eu sei que concorri com mais alguns candidatos e acabei sendo contratado. Isso já em 14 de maio de 1979, foi quando eu efetivamente ingressei na Finame, na Agência Especial de Financiamento Industrial. E a Finame tinha como objetivo o financiamento, a comercialização ou a produção de máquinas e equipamentos isoladamente. Então, na época, precisava de engenheiros mecânicos. Eu vim atender exatamente essa necessidade. Entrei no departamento de operações especiais, que chamava na época, né? Que fazia exatamente avaliação do credenciamento das máquinas e equipamentos e análise de projetos no que se referia ao financiamento de máquinas também. Permaneci nessa área, se eu não me engano, até 1983, quatro anos, né? Na época, a gente tinha o cargo de assessor técnico. A gente era chamado de assessor técnico. Era um grupo de engenheiros responsável por essas avaliações, por essas análises. Em 1983, eu fui convidado pela diretora... Pela diretora, pela chefe de departamento da área de operações da Finame ao cargo de gerente de processamento de operações. Isso em 1983. Se eu não me engano em maio de 1983. Fiquei nessa função até 1987. Em 1987, eu passei a chefe de departamento. Aí nesse departamento de operações, a gente passou por várias... Várias transformações ao longo do tempo, em função de algumas restruturações do Banco, em função de até novos produtos que foram agregados pelo BNDES, via Finame, para financiamento principalmente da micro, pequena e média empresa. Nós passamos por várias transformações e agora em 2001, eu fui guindado ao cargo de superintendente da área de produtos automáticos do Banco.
P/1 – Bom, pulou duas perguntas que era justamente sobre a trajetória dentro do Banco. Então, eu gostaria de saber se o senhor poderia falar um pouco da criação da Finame, né? O que que mudou no Banco com a criação da Finame?
R – A Finame foi criada porque o Banco, na época, sentiu a necessidade de ter um instrumento de financiamento rápido e ágil para máquinas e equipamentos. A gente estava numa fase de instalação do parque industrial de bens de capital do Brasil. Várias empresas estavam começando a ser criadas. A gente estava começando, estava iniciando o plano de siderúrgico. Estava começando a criar essas empresas dentro do país, a instalar empresas fabricantes de bens de capital dentro do país. E o Banco, como sempre, seguindo a tendência de Governo e as prioridades do Governo, o Banco optou por criar, na época, um fundo que viabilizasse esse financiamento de forma rápida e ágil. Assim surgiu a Finame. Surgiu como Fundo, depois foi transformado em autarquia, depois foi transformado em 1966 na Agência Especial de Financiamento Industrial. Nessa época, a gente ficou Finame e Agência Especial de Financiamento Industrial, que não tinha nada a ver com Finame. Mas é que Finame já era uma marca do BNDES, né? Era Fundo para Investimento e Financiamento de Máquinas e Equipamentos. E quando a gente transformou em agência mantivemos o nome Finame. A gente já tinha, inclusive, nessa época, o verbo finamizar, que era aquele equipamento que era passível de financiamento pelo BNDES, através da Finame.
P/1 – E em relação a pequena e média empresa é dentro da Fipeme, você pode me explicar um pouquinho isso? A Fipeme, ela se dedica ao que?
R – Não, não. O que aconteceu foi o seguinte; a Finame, por financiar máquinas e equipamentos isoladamente, a gente começou a trabalhar com qualquer nicho de empresa, não só as grandes empresas que estavam instalando suas partes siderúrgicas, também as pequenas empresas. Aquela empresa que estava procurando uma modernização ou uma expansão do seu parque industrial ou mesmo a implantação do seu parque industrial. Então, nós começamos a bancar todas as... Todos os nichos de empresa, todos os parques de empresa, desde a da microempresa até as grandes empresas do parque siderúrgico. Quer dizer, siderúrgico, petroquímico, mineração. Enfim, o BNDES nessa época começou realmente o seu apoio maciço a implantação de diversos setores prioritários para a economia do país.
P/1 – E o que que mudou na atuação do Banco ao longo desses anos, em relação as pequenas e médias empresas?
R – Olha, a micro, pequena e média empresa, ela sempre foi um nicho de mercado da Finame, nesse produto Finame, né? E o Banco vem ao longo de todos esses anos tendo como desafio muito grande o apoio a essas empresas. São, eu acho que 90% das empresas hoje instaladas no país são micro, pequenas e médias empresas, né? Essas empresas respondem muito provavelmente com mais de 60% do PIB. Respondem também por uma geração significativa de empregos e o BNDES em função disso vem cada vez mais tentando alavancar o apoio a essas empresas. O apoio a micro, pequena e média empresa é um problema que não é só no Brasil. É um problema mundial, né? A grande dificuldade é o acesso ao crédito que essas empresas têm porque existe um índice de mortalidade bastante elevado também dessas empresas e também há o gerenciamento inadequado dessas empresas. Quer dizer, então, o que o BNDES vem tentando fazer; primeiro é permitir melhor acesso ao crédito e depois, através com convênios com Sebrae e outros organismos, tentar profissionalizar mais o gerenciamento dessas empresas, de tal sorte que elas possam, de fato, suportar pagamento e ter acesso ao crédito. Em função disso, a gente vem tomando aí, uma série de medidas, principalmente após o planejamento estratégico, né? Então, algo mais recente, né? A gente já vinha adotando até o planejamento estratégico algumas medidas. Mas depois planejamento estratégico, nós tomamos algumas outras medidas bastante eficazes. Eu posso até enumerar algumas, do tipo; criamos um fundo de aval. Esse fundo de aval, o FGPC, o Fundo de Garantia para Promoção da Competitividade, ele permite ao BNDES através de recursos do tesouro, partilhar o risco das operações com as micro, pequenas e médias empresas, com os agentes financeiros. Então, o BNDES entra em parceria com agente financeiro, garantindo parte do risco daquela operação. Isso viabiliza em muitos casos a operação daquele micro, pequeno ou média empresa que não tem garantias suficientes para dar. Tem capacidade de pagamento, mas não tem garantia suficiente para dar no nível que os agentes financeiros solicitam. Então, esse instrumento tem sido bastante utilizado. É um sucesso e viabilizou muitas operações. A gente teve um aumento significativo não só no número de operações com as micro, pequenas e médias empresas, mas também na utilização deste instrumento. Criamos também um programa de milhagem, que na realidade, é um programa voltado para o agente financeiro. Esse programa busca a incentivar ao agente financeiro na atuação com a micro, pequena e média empresa. Isso é, na medida em que ele atua com a micro, pequena e média empresa, ele vai fazendo, o que a gente chama de milhagem, ele vai constituindo um fundo, ele depois pode aplicar livremente e pode implicar, inclusive, como capital de giro. Então, esse também tem sido um instrumento que vem sendo utilizado pelos agentes financeiros com bastante frequência. Outra coisa também que nos preocupava na época era a divulgação das linhas do BNDES para o microempresário. Que como é que a Finame atua? Deixa agora eu voltar aqui um pouquinho atrás da forma de atuação da Finame. A Finame está aqui, no BNDES... Aliás, o que era Finame hoje, a Finame não existe. Ela foi incorporada ao BNDES e o BNDES está tendo o produto chamado Finame. Então, como é que a gente atua referente as micro, pequenas e médias empresas? Nós temos uma rede de agentes financeiros, que é a forma que o BNDES tem de chegar lá na ponta, lá no microempresário. Essa rede de agente financeiros conta aí com cerca de 150 bancos credenciados no BNDES. São mais de 13 mil pontos de venda espalhados por todo país. Então, qualquer agência que você entrar, de um agente financeiro credenciado por nós, que praticamente todos são, você vai ter lá disponibilidade do produto Finame, do produto BNDES automático, do produto Leasing. Enfim, você tem a linha disponível do BNDES. Então, nós chegamos a um determinado momento em que só essa, só essa rede de agente de financeiros não era o suficiente para divulgar as linhas de crédito do BNDES, divulgar a disponibilidade dessas linhas para o microempreendedor. Então, nós através de convênios... Isso a partir já de 1999, a parte através de convênios com as federações de indústrias e entidades representativas de classe de cada Estado, de cada município, a gente vem treinando o pessoal dessas federações ou dessas instituições representativas de classe para que eles divulguem essas linhas do BNDES. Então, nós já temos vários convênios firmados pelo Brasil inteiro. Esses convênios permitem ao pessoal da própria federação dar o atendimento adequado. Eles têm acesso direto ao nosso pessoal para qualquer tipo de informação e qualquer dúvida no encaminhamento de projetos, eles podem nos consultar. Além do que todas as políticas, de todas as novas normas do BNDES são divulgadas para esse pessoal e eles recebem treinamento periódico para divulgação das linhas do Banco. Isso também veio a contribuir com a alavancagem das operações do Banco e micro, pequenas e médias empresas. Além disso, já decorrente do planejamento estratégico, nós mudamos a nossa forma de atuação com os agentes financeiros. Isso é, nós passamos a premiar aqueles bancos que operam mais com as micro, pequenas e médias empresas. Então, nós mudamos totalmente a nossa forma de atuação. Como é que era no passado? No passado, a gente estabelecia um limite para o agente financeiro opera, em função de dados financeiros desse agente financeiro, esse Banco. Ele operava naquilo que ele queria, dentro das linhas disponíveis do BNDES, dando os diversos produtos que o BNDES tem. A partir do ano passado para cá, nós mudamos esse procedimento. Agente financeiro recebe uma parte desse limite e ele só fará jus ao limite total, se ele operar com as micro, pequenas e médias empresas. Então, na medida que ele opera e com esse nicho de empresas, ele vai agregando mais valor ao nicho dele e aí abre margem para ele operar também com as grandes empresas. Os bancos, obviamente, têm uma tendência de operar com as empresas de maior porte, que oferecem, significam menor risco para eles, né? Então, essa foi uma outra medida que também deu bastante resultado e que vem se apresentando aí como um instrumento extremamente eficiente na alavancagem das operações com as micro, pequenas e médias empresas.
P/1 – Em que período houve um aumento no apoio das pequenas, médias... Micro, pequenas e médias empresas?
R – Olha, ela vem crescendo ano a ano, né? Porque o BNDES vem cada vez mais abrindo o seu leque de atuação frente a esse nicho de empresas. Só para você ter idéia, em 1990, nós abrimos uma linha para a área agrícola, para o segmento agrícola. Começamos a atuar dentro desse segmento com mais eficácia, com uma linha específica. Anteriormente, nós apoiávamos o segmento agrícola, mas em operações esporádicas dentro das linhas normais do BNDES. E a partir daí nós começamos a operar com esse segmento agrícola que deu um impulso muito grande no nosso volume de operações porque começamos a apoiar o micro agricultor, o pequeno agricultor ou até mesmo o médio agricultor na compra de seus tratores, colheitadeiras, implementos. Enfim, isso foi algo que surtiu um resultado muito bom. Criamos também um programa chamado Finame Leasing, para apoiar também através do arrendamento mercantil o micro, pequeno ou médio empresário. Quer dizer, ao invés dele obter e fazer a compra de equipamento, ele faz o arrendamento desse equipamento. Isso já foi algo que nós abrimos em 1996, criamos em 1996 e que veio surtir maiores resultados já nos anos de 1998, 1999 para cá, que nós tivemos que fazer algumas alterações, alguns aprimoramentos nessa linha Finame Leasing para adequá-la ao que o mercado pedia efetivamente. Então, a gente vem, ao longo do tempo, cada vez mais incrementando essas linhas. E nos últimos três anos é que nós tivemos aí, vamos dizer assim, um salto muito grande, principalmente em função de linhas agrícolas, linhas estas todas negociadas entre o BNDES e o Governo Federal. Tivemos aí o programa Moderfrota dentro da linha agrícola que deu uma alavancagem muito grande no nosso volume de operações dentro desse segmento, porque é um programa que trabalha com taxa fixa para segmento agrícola, né? Isso permitiu ao agricultor montar uma planilha e saber exatamente quanto ele vai pagar, que valor ele vai pagar nos próximos cinco, seis anos. Então, isso deu uma segurança muito grande dentro desse segmento e é um programa de absoluto sucesso, né? Além disso, com esses instrumentos que nós criamos, FGTC é o Fundo de Aval, Programa de Milhagem, o critério de atuação dos bancos. Enfim, tudo isso vem contribuindo para que haja cada vez mais uma alavancagem das operações dentro do espectro de micro, pequenas e médias empresas. O próprio Governo também vem tendo ações muito eficazes no amparo aos micro, pequenos empresários. O Programa Brasil Empreendedor é um exemplo disso. O BNDES se insere dentro desse programa. É um programa que busca concentrar esforços. Ele não cria novas linhas, mas ele busca concentrar os esforços, principalmente do bancos públicos federais no apoio a micro, pequena e média empresa. Com isso há uma ação efetiva do Governo dentro desse objetivo comum que é apoiar a pequena empresa. E só para se ter idéia, o ano passado, nós aprovamos 5,3 bi de reais para esse nicho de empresas. O objetivo nosso para 2005 era 5,5 bi. Quer dizer, praticamente, alcançamos no ano passado a meta que seria para 2005 e esse ano a nossa idéia que a gente cresça um pouco mais aí, que venha apoiar um pouco mais de 6 bi, para micro, pequena e média empresa. Para isso aí, a gente está fazendo todos os esforços. (risos)
P/1 – Me diga uma coisa, quando é que surge essa categoria microempresa? O que que diferencia micro, pequena da média? Explica isso um pouco.
R – A classificação do BNDES e a diferenciação estabelecida pelo BNDES para micro, pequena, média e grande empresa é em função do faturamento anual dessa empresa, né? Então, para a micro, pequena empresa, faturamento vai até R$ 6.875.00,00 por ano. Então, uma empresa que fatura até R$ 6.875.000, 00 a gente pode classificar como pequena empresa. A que fatura entre R$ 6.875.000,00 e R$ 45.000.00,00, nós classificamos como média empresa. E a que fatura acima de R$ 45.000.000,00 é uma grande empresa, consideramos uma grande empresa. Isso é uma classificação do BNDES que utiliza critério Mercosul. No mercado, se você for verificar com os bancos, os bancos consideram grande empresas aquelas que faturam mais de R$ 100.000.000,00 por ano, né? Mas essa é uma classificação do BNDES. E a função realmente do porte do faturamento ou o faturamento dela individualmente, ou faturamento do grupo econômico, quando ela se insere num grupo econômico de empresas.
P/1 – E o que tornou os recursos do BNDES, assim, especiais para o pequeno empresário ou o médio empresário? (risos)
R – Na realidade, os recursos do BNDES não foram tornados especiais para o pequeno empresário. Na realidade, eles sempre foram especiais, né? São recursos baratos, de longo prazo. Hoje, no mercado brasileiro, você não tem outra instituição oferecendo financiamento de longo prazo, na medida que o BNDES oferece financiamento de três, cinco anos, seis anos de prazo, você não tem nada parecido. E com taxas extremamente atrativas. Taxas essas que viabilizam o empreendimento. Esse recurso sempre foi barato. Na realidade, não se tornou barato agora. Ele sempre foi ao longo do tempo. Agora, o que acontecia é que não havia um esforço concentrado no apoio a micro, pequena e média empresa. Quer dizer, esse esforço veio se formando agora, de alguns anos para cá. E o maior afluxo dessas empresas às linhas do BNDES é decorrente da maior divulgação do BNDES, ou através dos seus agentes financeiros ou através das federações, ou através das instituições representativas de classe, né? E também da própria necessidade do microempresário de recursos para os seus investimentos. Quando... Em 1990, quando nós começamos abrir a economia, o empresário, seja ele de qualquer porte, aí vai inclusive o empresário de grande porte, ele sentiu a necessidade de investir para que se mantivesse competitivo, para que mantivesse a sua produtividade, se mantivesse competitivo frente aí a um novo mercado globalizado. E isso vem ocorrendo. Quer dizer, ele vem investindo sempre na expansão, modernização do seu parque industrial e isso requer recursos e recursos de longo prazo, em função de recursos de curto prazo a um custo competitivo. E isso o BNDES vem oferecendo. Hoje, o BNDES vem sendo o principal instrumento de política... Principal instrumento do Governo na execução de uma política de desenvolvimento, até porque você tem linhas de longo prazo com custos competitivos.,
P/1 – O que é exatamente a modernização dessas empresas?
R – Olha, modernização pode significar muita coisa (risos). Mas quando você fala em modernização, você está sempre procurando uma tecnologia mais moderna com ganho de produtividade. Quer dizer, você produzir algo de melhor qualidade com custo cada vez mais baixo, para que você tenha competitividade no mercado. Para que você consiga colocar esse produto no mercado com competitividade, principalmente no mercado que nós temos hoje. É um mercado globalizado. Só para você ter idéia, dentro do BNDES, nós temos aí um carinho especial, né? Temos um apoio especial, vamos dizer assim, ao setor de bens de capital, que é o setor básico da economia do país. E em função disso, nós temos o credenciamento de fabricantes do BNDES. Quando eu falo aqui, que nós financiamos máquinas e equipamentos, nós financiamos máquinas e equipamentos previamente cadastrados dentro da linha de atuação do BNDES, dentro de determinados procedimentos, dentro de determinadas normas. E esse credenciamento tem enfoque setorial. Dependendo do setor em que a empresa fabricante está atuando, nós temos um conceito para credenciamento. E esse credenciamento do BNDES vem permitindo a instalação de muitas empresas no Brasil. Empresas essas que tem um enfoque de exportação. Quer dizer, são empresas que estão se instalando no país, mas visando o mercado externo. Elas têm que ter escala, tem que produzir em escala. Produzir em escala, ela tem que colocar o produto dela, não só internamente, como também no exterior. Então, tivemos aí, recentemente, o setor de telecomunicações foi um exemplo disso. Tivemos diversas empresas se instalando no país. Aí, o enfoque era, principalmente, interno, mas também exportação. E agora estão tendo aí um novo movimento de empresas do setor, principalmente agropecuário, que estão trazendo equipamentos que eram produzidos aí em diversas fábricas do mundo, estão trazendo a produção desse equipamento para Brasil para produzir aqui, desenvolvendo fornecedores locais, com competitividade para exportação. Quer dizer, esse é o papel importante do BNDES. Não só foi um papel importante na época da criação da Finame para instalação do parque de bens de capital do Brasil, como agora também na modernização desse parque e da manutenção desse parque. Esse é um papel importante que o BNDES tem.
P/1 – O senhor pode citar alguma empresa que tenha crescido com apoio do Banco? Assim, casos que o senhor tenha acompanhado, assim? Enfim, exemplos mesmo de...
R – Ah, tem n exemplos. (risos)
P/1- Então, vamos lá.
R – Temos muitos.
P/1 – Que você considere, assim, emblemático...
R – Eu vou dar um exemplo bem simples de uma empresa dentro ainda da área agrícola, já que a gente está falando aqui, um pouquinho, de área agrícola, que foi uma empresa de irrigação que se instalou no país chamada Metafin. Ela se instalou tem uns dois ou três anos. Essa empresa importava equipamentos de irrigação. É uma empresa israelense, importava equipamentos de irrigação com uma tecnologia bastante moderna, que é uma tecnologia de irrigação localizada, né? E vendia esses equipamentos no país e na América do Sul de um modo geral, trazendo de Israel ou de alguma fábrica que tivesse pelo mundo. Em função do BNDES, da necessidade que ela viu de ter os seus produtos financiados pelo BNDES, que o BNDES financiava outros produtos de fabricação nacional, ela viu a necessidade de instalar uma fábrica aqui, para que ela pudesse credenciar no BNDES e passar a vender seus produtos com a linha do BNDES. Ela instalou a fábrica dela aqui no país, São Paulo. E depois de um ano e meio, mais ou menos, ter instalada essa fábrica, o diretor da empresa esteve aqui conosco num final de ano, agradecendo ao BNDES que, praticamente, tê-lo obrigado a instalar uma fábrica aqui, mas ele estava contando: “Olha, eu dupliquei a minha produção, dupliquei as minhas vendas, vendendo para toda América Latina, desenvolver alguns fornecedores locais e eu cresci 100% em um ano.” Quer dizer, foi um crescimento extraordinário, graças ao apoio do BNDES, não só o financiamento dos equipamentos vendidos aqui, internamente, mas também exportação. Então, quer dizer, são exemplos de sucesso que a gente tem, fora diversos outros. Essa é uma empresa, vamos dizer assim, de médio porte. Por isso que eu estou dando. A gente tem empresas aí de grande porte. Nem precisa falar de papel e celulose, siderurgia. Enfim, todas apoiadas pelo BNDES. E temos muitas e muitas empresas de pequeno porte apoiadas pelo BNDES que estão aí, com sucesso absoluto e que quando precisam, inclusive, modernizar seu parque industrial, recorrem ainda ao BNDES para troca de uma máquina. Enfim, ou aumento da sua capacidade de produção, duplicação da fábrica. A gente tem aí n exemplos disso. É o dia-a-dia. A gente recebe, só para você ter uma idéia, dentro das linhas automáticas, a gente recebe cerca de 200 operações por dia. Então, a gente está falando aqui de números... (risos) Para você ver o que é dar exemplo disso, né? Ano passado foram 130 mil operações de financiamento. É muita coisa. Quando eu entrei no BNDES, nós fazíamos cerca de 10, 20 mil operações automáticas, vamos dizer assim. Automáticas que eu digo, via agente financeiro, atendendo ao micro, pequeno, médio, grande empresário. Em 1986 nós tivemos um “boom”, em função do Plano Cruzado. Fizemos 45 mil operações. Depois de 1986, 1987, 1988, na década de 90 mais ou menos, nós voltamos aí a faixa de 20 mil operações/ano, 30 mil operações/ano. E a partir de 1997, 1998, nós viemos crescendo esse número de operações, em função, inclusive, das novas linhas criadas pelo Banco, né? Em função do esforço do BNDES no apoio ao micro, pequeno e média empresa e nós já estamos na faixa de 130 mil operações/ano.
P/1 – Mas, assim, entre essas micro e pequenas, tem alguma que... Assim, alguma empresa que você considere... Ah, que tenha crescido porque enfim...
R – É difícil te dar um exemplo desse. É muito difícil porque...
P/1 – Ou um setor que tenha...
R – É difícil. A gente financia desde a padaria que vai ser instalada, entendeu? (risos). Até uma fábrica de calçados, né? Enfim, tem até uma siderúrgica. Quer dizer, então, é o nicho de empresas apoiadas pelo BNDES é muito grande. E são muitas empresas. E, principalmente, no apoio a micro, pequeno e média empresa, ele é sempre dado através da instituição financeira. Sempre dado de forma indireta, através de um agente financeiro, através de um banco, né? Então, nós acompanhamos até esse projeto. Nós temos uma área de acompanhamento dentro do Banco, que faz o acompanhamento. Ele vai verificar se o projeto foi feito por amostragem obviamente, né? Impossível a gente verificar 150 mil operações, mas por amostragem a gente vai verificar esses projetos. Aí que tem um contato mais de perto com essas empresas. Aí que você sabe o que está acontecendo. E o retorno é muito bom. É muito bom a gente saber que você está contribuindo para o crescimento dessas empresas e, por conseguinte, para o crescimento da economia do país. Isso é muito bom. A gente sempre acompanha, né? Até o noticiário a gente acompanha nos jornais toda notícia do BNDES e atuação do BNDES está sempre muito vinculada com as prioridades do Governo. Quando o Governo fala: “Precisamos exportar mais”. Outra vez, o instrumento BNDES é fundamental nessa atitude do Governo, na execução desse procedimento de exportação. Quer dizer, então, quando o Governo fala: “Temos que apoiar a micro, pequena, media empresa”, o BNDES está presente, está participando, sempre está contribuindo de alguma forma. Quer dizer, isso é motivo sempre de orgulho para gente, né? Está sempre presente nas atividades e nas prioridades mais importantes do Governo.
P/1 – E especificamente para a área de micro, pequena e média empresa, quais são as metas 2000-2005?
R – Olha, a meta que nós tínhamos para 2005, ela foi quase que alcançada já no ano de 2001, né? Esse ano, nós pretendemos fazer algo acima de 6 bilhões e a idéia é que a gente venha a crescer cada vez mais. Eu ainda não tenho... A gente não tem ainda uma previsão do que seria 2005, né? Mas se a gente puder dobrar essa meta será ótima (risos). Não sei se a gente consegue, mas certamente a gente vai ter um alcance muito maior do que o previsto.
P/1 – Já que também você tocou um pouquinho aí na questão, o BNDES está fazendo 50 anos e como é que você vê, como é que você define a atuação do Banco para o processo histórico brasileiro nesses 50 anos? Enfim...
R – Olha, eu acho que essa história do BNDES confunde um pouco com a história do país, né? O BNDES sempre teve muito presente em todas as grandes linhas de atuação do Governo, né? Se você for verificar todas os grandes movimentos do Governo, o BNDES estava presente. O BNDES sempre procurou se adequar ao mercado, sempre procurou deslumbrar em estar na frente. Quer dizer, estar na frente do que vinha acontecendo. Sempre procurou se antecipar aos acontecimentos e com isso eu acho que, hoje, o BNDES vem sendo instrumento importante para o Governo na sua ... Para execução da sua política de desenvolvimento e creio que isso será ainda por muitos e muitos anos.
P/1 – E o papel, assim, dessas micro, pequenas e médias empresas desse processo maior de desenvolvimento, qual o peso que elas têm dentro...
R – Como eu coloquei antes, essas empresas significam cerca de 90% ou mais de 90% do número de empresas do país, né? São... Elas respondem com mais de 60% do PIB. São empresas que geram emprego. Esse nicho de empresa gera emprego. As grandes empresas, se a gente considerar nos últimos anos, o balanço líquido delas é até negativo, né? Eu acho que elas enxugaram muito mais do que admitiram. Então, onde a gente tem o foco? Nas micro, pequenas e médias empresas. Elas é que estão empregando. Essas empresas precisam ser melhor preparadas, precisam ter um gerenciamento adequado, precisam ter mais acesso ao crédito para que a gente consiga, de fato, produzir produtos com melhor qualidade, com maior competitividade, principalmente numa economia globalizada como a gente está vivendo. Então, o apoio a micro, pequena e média empresa não precisa nem dizer muito, foi considerado pelo planejamento estratégico do Banco como uma das prioridades fundamentais, né? Mas o apoio a micro, pequena e média empresa eu acho que é fundamental para o crescimento do país nos próximos anos.
P/1 – E para você, em particular, o que que representa o BNDES?
R – Bom... (risos). É difícil até falar porque o BNDES, hoje, para mim, é mais ou menos, se confunde um pouco com a minha vida, né? A minha carreira profissional foi toda feita aqui dentro. O que eu aprendi, o que eu sei, o que eu sou, eu devo ao BNDES. Adoro essa casa, não precisa nem dizer (risos). A gente veste a camisa. O BNDES, eu acho que dentro da política de Governo é uma instituição fundamental, né? É um ambiente saudável para se trabalhar, aprende-se todo dia. Todo dia nós temos... Estamos aprendendo alguma coisa nova aqui dentro. É um Banco que investe no funcionário, investe no nosso aprendizado e eu tenho orgulho de trabalhar aqui dentro, sinceramente (risos). Eu tenho orgulho de trabalhar no BNDES. Enfim, é... Na época eu tomei uma decisão até um pouco... Podia ser até... Eu tenho até um fato curioso, eu saí da Petrobrás, não foi nada absolutamente contra. Tinha... Eu tinha ideais, né? Como todo jovem que se forma, né? Eu tinha ideais de trabalhar e tal. E quando fui designado para trabalhar na Bahia, “Eu acho que não vou ficar por aqui, tal”, e saí sem ter deslumbramento de nenhum trabalho. E vim cair dentro da Finame, né? E obviamente dentro do BNDES, Finame subsidiária do BNDES. Eu me recordo quando eu comecei a trabalhar na Finame, eu falei: “Poxa, mas isso aqui é um negócio muito papel, de burocracia. Eu não vou ficar aqui muito tempo. Sinceramente eu não vou aguentar isso aqui”. Aí eu comecei a ver o que que era... O que que era a Finame, o que que era o BNDES, a importância que tinha o BNDES dentro do cenário nacional, né? E em pouquíssimo tempo, eu já estava totalmente identificado com a Finame, com o BNDES, né? Com os objetivos do Banco. Eu comecei a me inteirar, procurei ler, procurei saber exatamente o que era o BNDES. Enfim, eu tinha uma vaga idéia do que era o BNDES, né? E eu me identifiquei. Quer dizer, me identifiquei, vesti a camisa, visto até hoje (risos). Não consigo me ver fora daqui. Quer dizer, e... O BNDES, eu acho que é como eu falei, né? Ele se confunde com a minha vida, né? É o lugar que eu gosto de trabalhar, gosto de estar aqui. O pessoal até brinca: “Pô, mas você fica até tarde. Chega cedo, sai tarde”. Mas eu me sinto bem trabalhando no Banco. Não sei sair do trabalho, sem... Sabendo que tem alguma coisa pendente, né? Eu acho que nós temos que atender bem o nosso cliente, tem que dar um retorno. Enfim, eu não vou ficar falando muitas essas coisas aqui, mas... (risos) Mas eu tenho uma identificação muito grande com essa casa. Gosto, gosto dos companheiros. O nível profissional do pessoal, dos funcionários é excelente. Realmente, não há o que se falar. O ambiente é muito bom. Isso aqui é uma família. O pessoal se conhece há muito tempo. Você vai entrevistando o funcionário, você vai ver que, dificilmente, você vai pegar alguém com menos de 15, 20 anos, né? Você vê que... Agora, obviamente, está entrando uma turma nova, que está sendo treinada. Enfim, que vão nos suceder. Mas o pessoal trabalha aqui dentro há muito tempo e a união é muito grande. Quer dizer, há um ambiente de trabalho muito bom. Há divergências, são todas divergências saudáveis. Ainda bem que existem divergências (risos). Mas o trabalho é muito bom e a gente vê isso nos resultados. É gratificante para gente, quando a gente vê anunciando um projeto que foi apoiado pelo Banco. Quando a gente vê na mídia um projeto que está dando certo que foi apoiado pelo Banco. É importante a gente ver a mídia anunciando, por exemplo, que o programa agrícola está tendo maior sucesso, que a gente está renovando a frota de tratores colheitadeiras, que a gente está aumentando a produtividade e a gente sabe que, por trás disso, tem o dedo do BNDES, que o BNDES está apoiando, está dando apoio, né? Quer dizer, isso é muito bom. Isso faz muito bem para gente, faz com que a gente se dedique cada vez mais a esse trabalho. Acho que eu fale muito, né?
P/1 – Não, está ótimo. Muito obrigada.
R – Acabou?
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