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Personagem: Hilda Martinha Vieira
Por: Museu da Pessoa,

Benzedeira de tudo

Esta história contém:

Com 12 anos, eu já estava fazendo renda, eu mais a minha irmã. A gente também trabalhava muito pra ajudar o meu pai, que era pescador, mas naquele tempo peixe não tinha valor. O meu pai era o único pescador de tainha. Tainha foi tanto, o peixe foi tanto. Não tinha caminhão, não tinha estrada, não tinha nada, era tudo de barco. Aí nós fazíamos a renda, nós éramos rendeiras. E nós fazíamos a renda. Nós íamos lá no Saco do Limão vender a renda pra comprarmos o açúcar, a farinha, o fumozinho do meu pai. Pegava lá na vendinha. Quando o homem não estava em casa, nós voltávamos. Só tem fome.

Quando ia comprar lá na venda, a gente saía de casa três horas da madrugada. Vinha pra cá, morta de fome. Uma fome, uma fome! Quando chegava numa reta que tinha melancia, nós íamos roubar. Aí roubava melancia pra comer escondido. Era eu, a Maria e mais um rapazinho também. Depois, aí vinha uma outra viagem pra vender renda. Um sol muito quente. Está no verão, um sol muito quente. Muitas vezes vendia a renda. Nós vínhamos com sono também, sem dinheiro, sem nada pela estrada a fora, de pé.

A nossa vida era essa. Eu virei benzedeira! Minha mãe sabia benzer de tudo quanto era forma, mas ela nunca me ensinou. Mas eu, quando via ela benzendo, aprendi. Aprendi quatro benzeduras, só quatro. Quanta gente já bateu aqui, gente de fora não falta! Até um cachorro eu já cheguei a benzer!

Dados de acervo

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P – Vamos começar então?

R – Vamos.

P – Eu queria que a senhora dissesse primeiro o nome completo, pra gravar.

R – Como é?

P – O nome completo da senhora.

R – O meu nome completo, como eu disse dia hoje?

P – O nome da senhora, qual o seu nome?

R – O meu nome é Hilda Martinha Vieira.

P – A senhora nasceu...

R – Eu nasci no dia 23 de dezembro, antes da véspera de Natal, dia 23.

P – E qual era o nome dos seus pais?

R – O nome do meu pai era José (Virgulino Filho ?) e o nome da minha mãe, Martinha (Rosarinha?) de Oliveira.

P – O quê que eles faziam?

R – O meu pai era pescador, o meu pai era muito pescador, patrão de lancha, tudo. E a minha mãe era lavadeira. Minha mãe lavava muito pra fora. Todos os dois ______.

P – Conta um pouco pra mim da sua infância, como que era.

R – Ah, a nossa infância. Nós, até 12 anos, quando era mais pequeno eu via, quando eu me lembro, a minha mãe, nós éramos muito pobres, nós passávamos muita necessidade. Meu pai pescava, tudo, mas naquele tempo peixe não tinha valor. Não tinha caminhão, não tinha estrada, não tinha nada, era tudo de barco. Aí nós fazíamos a renda, nós éramos rendeiras. Com 12 anos, 13 anos, já estava fazendo renda, eu mais a minha irmã. Eu tinha uma irmã também, de lá também, já morreu. Também trabalhava muito pra ajudar o meu pai. E nós fazíamos a renda. Nós íamos lá no Saco do Limão vender a renda pra nós comprarmos, chegar em casa, pra nós comprarmos o açúcar, a farinha, o fumozinho do meu pai, que o meu pai fumava. Pegava lá na vendinha. Quando o homem não estava em casa, nós voltávamos. Só tem fome. Nós saíamos três horas da madrugada. Tinha um polícia aqui, um soldado que estava destacado na praia tomando conta do navio. A minha mãe lavava pra ele. Era muito longe: “Não, deixa, Dona Martinha”. Quando ia comprar lá, nós saíamos três horas da madrugada pra nós irmos pra lá vender, lá na vendinha....

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