Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé: Ouvir o outro – Compartilhando valores
Pronac 128976
Depoimento de Tatiana Donato Trevisan
Entrevistada por Vanuza Ramos
Barueri, 14 de julho de 2014.
NCV_HV038_ Tatiana Donato Trevisan
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Para começar, queria que você falasse seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Tatiana Donato Trevisan, eu nasci em São Paulo no dia 13 de setembro de 1979.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Antônio Domingos Trevisan e Elizabeth Donato Trevisan.
P/1 – Eles fazem o que, Tatiana?
R – Minha mãe é dona de casa, e cuida muito bem agora dos netos, cuidou muito bem da gente, e agora dos netos. O meu pai ele é industrial, ele tem uma pequena indústria de plástico injetável.
P/1 – E o nome dos seus avós, maternos e paternos?
R – O nome dos meus avós maternos é Alberto Donato e Gioconda Cossimo Donato. O dos meus avós paternos eu não sei, porque eles abandonaram meu pai quando ele tinha 9 anos de idade. Então na verdade eu até sei, é Milan, e a mãe dele acho que é Leonor, mas eu não faço nem muita questão de saber.
P/1 – Tem alguma característica dos seus pais que te faz lembrar deles de um jeito diferente, tem uma coisa assim marcante? Quando você pensa neles, qual é a primeira característica que te vem à cabeça, da sua mãe e do seu pai?
R – Minha mãe, acho que é o cuidar mesmo. Minha mãe sempre cuidou muito de todo mundo, das filhas, somos três, né? E hoje ela cuida muito dos netos, sempre cuidou muito do meu pai, então acho que é carinho mesmo. Uma mulher muito forte. E do meu pai um homem muito forte, batalhador, que passou coisas muito difíceis na vida e conseguiu superar. Então do meu pai é muita força mesmo, e superação.
P/1 – Você sabe qual é a origem da sua família?
R – De países?
P/1 – Se é italiana, assim, ou de outros lugares.
R – Olha, a família da minha mãe... Essa...
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Projeto Nestlé: Ouvir o outro – Compartilhando valores
Pronac 128976
Depoimento de Tatiana Donato Trevisan
Entrevistada por Vanuza Ramos
Barueri, 14 de julho de 2014.
NCV_HV038_ Tatiana Donato Trevisan
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Para começar, queria que você falasse seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Tatiana Donato Trevisan, eu nasci em São Paulo no dia 13 de setembro de 1979.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Antônio Domingos Trevisan e Elizabeth Donato Trevisan.
P/1 – Eles fazem o que, Tatiana?
R – Minha mãe é dona de casa, e cuida muito bem agora dos netos, cuidou muito bem da gente, e agora dos netos. O meu pai ele é industrial, ele tem uma pequena indústria de plástico injetável.
P/1 – E o nome dos seus avós, maternos e paternos?
R – O nome dos meus avós maternos é Alberto Donato e Gioconda Cossimo Donato. O dos meus avós paternos eu não sei, porque eles abandonaram meu pai quando ele tinha 9 anos de idade. Então na verdade eu até sei, é Milan, e a mãe dele acho que é Leonor, mas eu não faço nem muita questão de saber.
P/1 – Tem alguma característica dos seus pais que te faz lembrar deles de um jeito diferente, tem uma coisa assim marcante? Quando você pensa neles, qual é a primeira característica que te vem à cabeça, da sua mãe e do seu pai?
R – Minha mãe, acho que é o cuidar mesmo. Minha mãe sempre cuidou muito de todo mundo, das filhas, somos três, né? E hoje ela cuida muito dos netos, sempre cuidou muito do meu pai, então acho que é carinho mesmo. Uma mulher muito forte. E do meu pai um homem muito forte, batalhador, que passou coisas muito difíceis na vida e conseguiu superar. Então do meu pai é muita força mesmo, e superação.
P/1 – Você sabe qual é a origem da sua família?
R – De países?
P/1 – Se é italiana, assim, ou de outros lugares.
R – Olha, a família da minha mãe... Essa história é engraçada porque é da Itália, mas a minha bisavó que eu conheci ela era do norte da Itália, era bem branquinha, e aí eles contam, que eu não conheci, que o meu bisavô era do sul da Itália, então ele era bem moreno, dos mouros. E o pai dessa minha bisavó ele tinha mina, não lembro do quê, na Itália, e a mina desabou, eles tiveram que sair fugidos da Itália, e essa minha bisavó já nasceu aqui. Mas eu sei que ela casou com meu bisavô, que era do sul da Itália, e os pais dela não aceitaram, porque como ele era muito moreno e ela era do norte, sangue azul... E eu sou morena assim, eu conto essa história porque eu sou bem morena por conta dele, né, que era do sul da Itália, bem dos mouros. Então eu tenho essa descendência italiana. E da parte do meu pai eu sei que tem espanhol também. Ele tinha... Eu conheci a minha bisavó por parte do meu pai, a gente chamava de “voelita”, então ela fala espanhol, era bem da Espanha, sangue mais quente (riso).
P/1 – E você sabe por que seus avós maternos vieram fugidos? Você disse que eles casaram aqui.
R – Os bisos.
P/1 – E do seu pai, você sabe por que eles vieram pra cá?
R – Não sei. Eu sei bem pouco da história da família do meu pai.
P/1 – E a família é muito grande?
R – Depende o que é grande. A gente é uma família muito unida. A família... Minha mãe tem dois irmãos e o meu pai tem uma irmã. Então essa família é muito unida, com todos os primos, acho que nós somos nuns 12 primos no total, e nós crescemos juntos numa casa de interior em Atibaia, muito amigos, assim, somos muito amigos até hoje. Então a casa estava sempre cheia. Então pra mim a família era grande o suficiente, mas é que tem gente que tem dez irmãos, né? Não, eu não tenho tudo isso.
P/1 – E você tem quantos irmãos?
R – Tenho três irmãs. Não. Duas irmãs. Somos em três.
P/1 – Como é o nome delas?
R – Priscila, a mais velha, e Fabiola, a do meio, eu sou a mais nova.
P/1 – E elas fazem o quê?
R – A minha irmã mais velha trabalha já há muitos anos com educação da Austrália, então ela já representou a parte do governo australiano em educação no Brasil, e hoje ela representa as maiores universidades australianas aqui no Brasil. E a minha irmã do meio trabalha com meu pai já há muitos anos, ela cuida da parte administrativa e financeira da fábrica.
P/1 – E você passou sua infância em Atibaia?
R – Bastante, é. Meus avós, por parte da minha mãe, né, eles compraram uma casa em Atibaia, que é bem pertinho, não dá nem uma hora de São Paulo. E era uma casa com muitos quartos, tinha quarto para cada um dos filhos do meu avô, da minha avó, meus tios. E a gente ia pra lá todo fim de semana, passava os meses de férias todos. Então realmente a minha infância eu passei toda lá. A casa tem acho que desde que eu tinha, dois, três anos.
P/1 – Ainda existe a casa?
R – Não. Tinha, na verdade. A casa foi vendida acho que deve fazer uns nove anos e foi bem triste quando vendeu mesmo.
P/1 – Mas você então cresceu em São Paulo? Que foi onde você nasceu.
R – Isso.
P/1 – E você morava em que bairro na infância?
R – Na Aclimação.
P/1 – Na Aclimação?
R – É. Eu morei na Aclimação, depois eu fui um pouco pra Vila Mariana na adolescência, depois quando eu casei eu voltei pra Aclimação.
P/1 – Como era o bairro quando você era criança? O bairro da Aclimação.
R – Então eu nunca andei muito na rua, minha mãe, acho, que sempre teve muito medo, e ela como não trabalhava, então ela conseguia levar e buscar a gente pra tudo que era canto. Eu tive muito pouca vivência de rua mesmo. A vivência que eu tive de rua era no interior.
P/1 – Nem no parque do bairro?
R – No parque eu ia. No parque eu ia, ia dar comida, é verdade, ia dar comida aos patinhos. Minha irmã uma vez caiu no lago lá, que você conhece, né? E a gente ia mesmo. Minha vó levava a gente bastante no Parque da Aclimação, meu tio também, a gente ia, ficava dando pão pras pombas, quem diria, né? Hoje eu luto contra as pombas, mas na época a gente ia dar migalhas pras pombas e pros peixinhos, pros patos. Eu ia bastante. E agora, hoje, eu ainda vou também.
P/1 – E você morava em casa ou em apartamento?
R – Apartamento.
P/1 – Como era esse apartamento? Era de que tamanho?
R – Ah, era um tamanho bom, mas a gente dormia no mesmo quarto, eu e minhas irmãs. Então tinha dois quartos e um escritório também. Um escritório bonitinho com os três lugares assim, bem coisa de menina, né? E o quarto tinha as três camas e eu lembro que a gente brigava muito, porque era um tamanho bom, mas a hora que começa, três irmãs no mesmo quarto. E daí tinha a sala, meu pai sempre gostou muito de música, então tinha a sala com os aparelhos dele de som, só que a gente não podia mexer, só quando ele estava. E uma cozinha boa. Era um tamanho bom o apartamento, mas a gente ficava tudo bem juntinho ali. Ah, e a sala de TV. Sala de TV também era bom pra manter todo mundo junto.
P/1 – E como era a alimentação da família?
R – Nossa, família com descendência italiana, a gente sempre comeu muito, e comeu muita porcaria, pra falar a verdade. Nossa! Hoje eu crio meu filho de outro jeito. Mas eu lembro que tinha um armário na casa da minha mãe, que era o armário das guloseimas, era lotado de salgadinho, chocolate, bolacha, aquele armário era uma perdição. A gente sempre comeu muita fruta, isso eu devo a minha mãe, assim, as pessoas até estranham, eu não gosto muito de comer sobremesa doce, eu gosto de fruta. Tem um primo meu que até brincava, que a gente ia viajar, fazer viagem de turma, e eu sempre levava as frutas, porque eu não vivo sem fruta. Então a gente sempre comeu muita fruta, sempre comeu bem almoço, tudo, mas sempre também comeu muita porcaria, assim, sabe? Sempre tinha doce, na minha família se come muito bem. E nessa casa de Atibaia então, era um horror, era pra comer até morrer (riso)!
P/1 – Quem preparava as refeições tanto na casa de São Paulo quanto nessa casa de férias, de passeio?
R – Em São Paulo, minha mãe, desde que eu lembro, ela sempre teve empregada, mas minha mãe cozinha muito bem, então minha mãe sempre ensinou a gente a cozinhar. Mas a gente tinha uma empregada que chamava Renilda, que cuidou da gente a infância toda e ela cozinhava superbem, bem parecido já com a minha mãe, então ela que cozinhava. E na casa de férias em Atibaia, na verdade minha mãe e as duas tias e minha avó, e uma empregada que ajudava. Mas eram tantas pessoas na casa, assim, chegava vez de ter 40 pessoas na casa, tinha que fazer almoço pra toda essa gente, então elas ficavam todas na cozinha, a cozinha tinha travessa de bife à milanesa pra fritar, assim, era uma loucura. Então, mas a minha mãe cozinha muito bem. Eu até brinco com ela que ela não passou isso pra gente, nenhuma das filhas cozinha bem. Mas minha mãe cozinha superbem.
P/1 – Tinha algum prato predileto?
R – O meu é nhoque com molho vermelho.
P/1 – Quem preparava esse prato?
R – Minha avó, muito bem. E minha mãe também até hoje prepara muito bem.
P/1 – Me conta um pouquinho mais da infância, tanto na Aclimação quanto em Atibaia. Quais eram, assim, as brincadeiras? Você fala que você tem duas irmãs, então como era o convívio em casa, a divisão dos brinquedos, o que é que vocês faziam?
R – Olha, quando você me pergunta infância eu lembro mesmo é de Atibaia, porque não me lembro de brigar por causa de brinquedo, essas coisas não lembro não, mas em Atibaia a gente ficava muito solto, então a gente jogava muita bola, brincava muito de esconde-esconde à noite na pracinha, pega-pega. E eu e a minha prima – minha prima é um ano mais nova que eu, nós éramos as mais novas da ‘primaiada’ toda – e a gente estava sempre tentando ficar atrás dos mais velhos, e os mais velhos não queriam a gente atrás. A gente andou muito de bicicleta, carrinho de rolimã, até espingardinha de chumbo teve lá, tinha tudo, então foi bem na rua mesmo. Depois a gente ganhou mobilete. Então eu lembro eu comecei a dirigir mobilete supercedo, com 8 anos, eu nem alcançava, eu tinha que pular naquele... Sabe? Tem o negócio mais fundo... Eu tinha que pular, então subia correndo, depois no banco, quando acelerava... Um perigo, né? Mas a minha infância foi muito boa. Eu sempre... Às vezes até falo, hoje eu luto muito pra ir de final de semana pra praia pra tentar dar um pouco pro meu filho, porque a minha visão de São Paulo sempre foi muito presa, eu não ficava na rua em São Paulo. Então, aqui, de brincadeira mesmo não me lembro. O que eu me lembro é de Atibaia. Lembro de muito ir em matinê, lá o carnaval era muito bom, né? Então na matinê de carnaval, que tinha bloquinho, a gente saía, é verdade, a gente tinha uma turma muito boa em Atibaia de vizinho, todo mundo se fantasiava, a gente fazia um bloco enorme de criança. Então foi, puxa, muito gostoso! A gente teve muita sorte de poder ir pra lá. Jogava biribol na piscina. Nossa, brincamos de tudo.
P/1 – E você estudou onde, Tatiana?
R – Eu estudei num colégio pequeno até a 8ª série que chama Júlio Pereira Lopes, que minha tia dava aula.
P/1 – Fica onde?
R – Fica na... Ali é rua Inglês de Souza, ali não é Ipiranga. Cambuci... É ali, ali da Aclimação, subindo ali um pouco Coronel Diogo, aqueles lados, fica ali. Eu não sei que bairro... Vila Monumento, acho que é.
P/1 – Escola pública ou privada?
R – Não, é privada.
P/1 – Você estudou lá até a 8ª série?
R – Até a oitava.
P/1 – Desde a educação infantil?
R – Foi.
P/1 – O que você lembra, assim, dessa escola? Como era?
R – Eu gostava da escola, era uma escola pequena, mas eu lembro que tiveram coisas superimportantes pra mim, eu tenho um primo com Síndrome de Down que tem acho que ele tem 4 anos a mais que eu, o Caio, e ele estudou uma época na minha sala. Então esse foi um momento superimportante pra mim, porque ele era superdesenvolvido e superinteligente, e essa fase, esse ano que ele estudou comigo foi um ano superimportante. Essa escola tinha uma... como ela era pequena, então minha mãe, minha tia e as mães dos nossos amigos, elas acabavam fazendo muita coisa na escola, então isso era muito legal. Viagem de formatura, eu lembro que era uma escola... não era de pessoas que tinham muito dinheiro, então eu lembro que eu tinha uns amigos que não iam conseguir fazer a viagem de formatura e a gente se mobilizou, um comprou roupa pra eles poderem ir, dividir a viagem. Então, assim, tinham coisas que a gente podia fazer pela escola ser pequena, que tornava as pessoas muito próximas. E o esporte, a gente jogava muito vôlei pela escola, o esporte da escola era demais, assim. Eu dou muito valor pra esporte também, e a gente podia jogar muitos campeonatos, minha mãe sempre torcia muito. Então eu lembro muito disso assim. De ensino eu acho que deixou um pouco a desejar, sabe? Mas também nada que não tenha me dado uma base pra depois ir embora. Mas era uma escola bem pequena, o pátio da escola era uma quadra de cimento bem destruída, era uma escola bem pequena mesmo. Mas tinham professores bons também. Mas eu acho que, assim, o que mais ficou pra mim acho que o esporte, a família, as amizades. Mas daí chegou uma hora que eu achava realmente a escola bem pequena, eu tinha bastante amigo no interior, e eu sentia que mesmo minhas amigas de lá não estavam assim, a gente talvez não gostasse mais das mesmas coisas, eu sentia que eu precisava sair e conhecer mais gente. Daí que eu quis saí no meu primeiro colegial.
P/1 – Foi você quem quis sair?
R – Foi.
P/1 – E aí você foi estudar onde?
R – Daí eu fui estudar no Colégio São Luís no primeiro colegial e daí quando eu estava no final do primeiro colegial... Pra falar a verdade no Colégio São Luís eu também nunca me senti muito em casa, não. E quando eu estava no final do primeiro colegial, eles anunciaram que a gente ia ter aula todos os sábados a partir do segundo colegial, e pra minha família final de semana sempre foi sagrado. Acho que só hoje eu faço, né, mais depois. Estudar eu não estudava de final de semana, trabalhar hoje eu trabalho, mas estudar eu não estudava (riso). E daí eu acabei indo pra FAAP, que minha irmã fazia faculdade na FAAP, dois primos meus, três primos meus também faziam faculdade lá, daí minha irmã podia me dar carona, então não tinha muita seleção em outras escolas, eu acabei fazendo o segundo e o terceiro colegial na FAAP.
P/1 – E as suas irmãs também estudavam nessa outra escola que você estudou até a oitava?
R – No Júlio Pereira Lopes, “Jupeló”. Estudavam.
P/1 – Todo mundo estudava lá. E vocês iam como pra escola?
R – Meu pai levava, a gente acordava cedinho, estudava de manhã, e eu sempre fui ruim de acordar, sou até hoje. E daí meu pai passava e acordava a gente. Eu lembro até hoje, assim, da última pisada dele no quarto, que já era quando minhas irmãs já estavam prontas e eu ainda não, não tinha nem saído da cama, e eu lembro da pisada forte dele que eu pulava da cama porque tinha dois minutos pra estar na porta. Então meu pai levava antes de trabalhar e depois minha mãe buscava a gente.
P/1 – Vocês iam de carro e voltavam de carro?
R – A gente ia e voltava de carro.
P/1 – Depois no São Luís você fazia como pra ir?
R – No São Luís minha irmã me deixava quando ela estava indo pra faculdade, daí dependia, às vezes eu voltava de metrô, às vezes minha mãe me buscava, dependia.
P/1 – E teve algum professor tanto da primeira escola quanto do ensino médio que tenha te marcado, que você lembra de forma especial?
R – Sabe que eu acho que não? Eu estou pensando um pouco, tá? Eu acho que não. Na verdade teve um professor, que foi o professor de educação física, que ele é uma das pessoas mais queridas que eu já vi. Ele era aquele professor que rolava com todo mundo pra dar cambalhota, bem professor de educação física de colégio, sabe? Ele era realmente muito querido e muito especial. E eu lembro muito também de um professor de física, quando eu estudei no São Luís, no primeiro colegial, eu tinha bastante medo dele, e eu tive que estudar muito física, porque eu perdi umas aulas logo que eu entrei na escola, aí diziam que ele tinha uma mão mecânica, que quando chovia mexia sozinha (riso). Era engraçado. Ele era superbravo. Eu estudei muito e eu fui superbem na matéria dele. Mas assim de falar “ah, tal professor foi superimportante pra eu decidir alguma coisa” acho que não teve, não.
P/1 – E você nessa época já pensava, assim, o que você ia fazer de profissão, que curso você ia prestar no vestibular?
R – Eu pensei por muito tempo que ia fazer Medicina, bastante tempo mesmo. Não sei se pela minha mãe queria muito ter sido médica, mas eu falava que eu queria fazer Medicina porque eu queria ajudar as pessoas. Daí fui morar, quando eu acabei o colegial eu morei seis meses na Austrália. E quando eu estava na Austrália eu falava que ainda ia fazer Medicina e tudo, e quando eu voltei pra fazer cursinho, eu comecei a pensar que eu não conseguia, não dava bem com corte, com ponto, eu tomei muito ponto, né, e todas as vezes que eu tomei ponto eu dava um escândalo. Eu falei: “Gente, não, eu acho que eu posso ajudar as pessoas de outra forma, não é Medicina que é meu campo”. Sabe? E eu estava lá na sala A de biológicas, do cursinho, ralando. E daí eu decidi que não, que eu queria fazer Biologia, aí já foi uma época, assim, que eu me identifiquei muito com praia mesmo, até hoje eu vou pra praia quase todo final de semana, eu gosto muito. E eu pensei que na verdade eu queria estudar o meio ambiente, porque eu queria de alguma forma trazer um bem pra sociedade mesmo, e que eu ia trazer de outra forma, e daí eu decidi que ia fazer Biologia.
P/1 – Você falou que já levou muito ponto, por quê?
R – Por causa de Atibaia, porque a gente era bem moleque em Atibaia, era moto, mobilete, bicicleta, muita criança juntas, e eu sempre fui meio estabanada, então era garrafa de vidro que escorregava, porque na época era garrafa de vidro, que é bom ser retornável, mas tem seus riscos. Eu já tomei ponto porque tirei racha de mobilete, essas coisas... Meu filho que nunca me ouça!
P/1 – Teve algum acontecimento, assim, que seus pais ficaram muito bravos, dessas traquinagens?
R – Sabe que meus pais, acho que eles eram bem tranquilos, eles não ligavam que a gente aproveitasse e se machucasse, ficavam preocupados, mas... Nossa, eu não me lembro nem da minha mãe me dar uma superbronca. Essa vez que eu abri o joelho e que realmente eu estava tirando racha de mobilete, eu morria de medo de tomar ponto, e eu lembro, eu no bidê do banheiro – porque o banheiro também tinha bidê naquela época – e eu com a minha prima, e eu jogando água, porque eu falava: “Por favor, precisa parar de sangrar, precisa parar de sangrar”, e não parava. E minha mãe quando ela percebeu o movimento ela veio, não é que ela me deu bronca, ela falou: “Filha, você não me mostra, precisa...”. Teve uma vez, que essa vez a gente tomou muita bronca, mas realmente, assim... Lá em Atibaia, tinha a Pedra Grande, a Pedra Grande é uma montanha, que nem uma montanha, e a gente à noite fugia, fingia que estava dormindo pra subir a Pedra Grande, e eles sabiam. Hoje a gente sabe que eles sabiam, mas a gente achava que estava fazendo escondido, a gente sabe que eles fingiam que eles não sabiam. Então, assim, no fundo eles controlavam a gente dentro do possível. Mas aí teve uma vez que a gente tinha um quartinho, era como se fosse um quartinho, a gente chamava de salãozinho de jogos, mas era como se fosse um quartinho com brinquedo, esse era dentro da casa, porque tinha a parte de fora da casa, mas esse era dentro da casa. E a gente começou a brincar com fogo, eu sei que começou a pegar fogo, papelão, uma baita labareda, essa vez a gente tomou uma bela bronca. Mas as broncas mesmo a gente tomava quando brigava um com o outro, sabe, isso eles não aceitavam, que era muito bom, que é assim, qualquer um dava bronca no filho do outro e todo mundo tomava junto. Mas acho que era isso que eles ficavam bravos, de resto eu não lembro não. Hoje minha mãe fez 40 anos de casada, o ano passado. E a gente fez uma festinha surpresa e tudo, e daí a gente falou pra eles, assim, que na verdade nossos pais, nossos tios, eles foram incríveis, porque eles faziam comida, eles cuidavam da casa pra tudo aquilo de criança, porque a gente nunca teve que pensar em levar amigo, eles nunca disseram não, a gente podia levar quem fosse na casa. E a gente nem percebia o quanto aquilo dava de trabalho, sabe? Eles faziam com uma superboa vontade, com o maior coração, se privavam de várias coisas porque eles estavam lá fazendo. Mais as mulheres, pra falar bem a verdade, porque os homens estavam jogando sinuca e tomando cerveja. E a gente hoje percebe porque a gente ficou mais velho, mas, nossa, elas se desdobraram pra fazer da nossa infância muito boa mesmo.
P/1 – Quando você foi ficando adolescente, você continuou indo pra Atibaia?
R – Continuei, menos, mas continuei. Daí adolescente começa a ter mais programa em São Paulo, né? Mas a gente foi bastante ainda. Ah, fomos! A gente não ia mais todo final de semana, mas a gente passava uns dias ou a gente combinava de ir um final de semana, um feriado. A gente ainda foi bastante.
P/1 – E quando foi que você passou, assim, com que idade você passou a sair sozinha ou você com suas irmãs, sem seus pais ou sem um adulto?
R – Eu acabei saindo cedo, porque como eu sou a irmã mais nova, então eu saía com as minhas irmãs. Eu lembro, assim, com 14 anos... Com 14 anos eu já saía em São Paulo.
P/1 – Vocês iam pra onde?
R – Ah, ia lá pra Franz Schubert, pras boates, ia dançar. Na verdade antes disso teve a Open Down, mas daí era matinê, que aí era com uns 12 anos, daí tinha a Open Down, que eu fui menos porque eu estava sempre em Atibaia, então eu fui pouco em matinê. Daí eu comecei a sair mais quando era noite de dia de semana, eu lembro que eu fui muito na Limelight. Onde mais?
P/1 – Era uma boate?
R – Era. Ah é, você não é daqui, né? Era uma boate. Tinha uma rua que chamava Franz Schubert, que tinha muitas boates.
P/1 – E ficavam onde essas boates? Em que parte da cidade?
R – É perto da Ponte Cidade Jardim. Como eu não dirigia também, e eu sou perdida até hoje, então eu não vou saber muito me localizar, mas é... Daí eu saía muito, tinha uma minha vizinha, que é madrinha do meu filho, a gente é amiga até hoje, a gente saía bastante. Eu saía muito com as minhas irmãs. Ah, com as minhas irmãs e com as minhas primas, a gente ia muito num bar que chamava Little Darling, era um bar dos anos 60, rockabilly, estilo Grease, nos Tempos da Brilhantina. E a gente ia muito lá, ia bastante. Em Atibaia a gente saiu bastante, tinha uma boate que chamava Atlanta, e lá a gente saía bastante também, ia bastante nessa boate. Mas gostar mesmo, eu gostei quando eu já estava no cursinho que aí eu fui muito no forró.
P/1 – Você fazia cursinho onde?
R – Fiz no Anglo da Tamandaré.
P/1 – E esses forrós eram onde?
R – Em Pinheiros, esses eu lembro porque eu já dirigia, em Pinheiros. E foi bem o começo do forró mesmo. Antes de ter o Forró Universitário. E eu estava muito no cursinho, mas eu lembro que era assim, era onde eu descansava. Tinha eu e uma amiga minha, a Catarina, uma carioca, e a gente não deixava de ir, uma vez na semana, uma vez no final de semana. O Daniel, um amigão meu, que hoje mora na Califórnia, também. E eu ia muito mesmo, adorava, dançava até às quatro da manhã e chegava em casa e podia continuar dançando também.
P/1 – E mudou alguma coisa dessa fase da infância? Das saídas pra brincadeira pras saídas, né, de já quando você era adolescente, ficando mais jovem? Os amigos eram os mesmos? O seu gosto mudou? Como foi essa mudança, assim, de idade? O que veio junto com isso?
R – Eu mantive pouco meus amigos da infância. Mudou bastante. Eu acho que eu mantive essa, que é a tia, que é madrinha do meu filho, que é minha amiga de Atibaia desde os dois anos e meus primos. Da escola eu não mantive ninguém, então mudou bastante. Eu não sei se foram meus gostos, mas realmente, assim, eu sentia... Eu fui me encontrar mesmo, de pessoas que gostavam das mesmas coisas que eu gostava, quando eu estudei na FAAP. E aí, que é o que eu falei, aí que eu realmente encontrei, assim... E na minha faculdade, que eu encontrei o que eu gosto, que eu gosto de buscar a natureza e resgatar minha essência, minha energia, eu precisa estar lá, eu gosto de comer bem, de qualidade de vida, é... Pra mim a vida pode ser simples, não precisa de muito. Então eu acho que isso eu fui encontrar já mais na minha adolescência mesmo, que eu fui me descobrindo, e aí a adolescência mesmo já perto dos 19 anos, né? Então eu não sei se... Eu fui me constituindo, né? Minhas amigas ainda brincam que teve uma fase que eu era mais arrumadinha, depois eu fiquei mais pé sujo, mas hoje, assim, se você for olhar a minha essência é mesmo bem tranquila, eu não ligo pra muita coisa, não.
P/1 – Você entrou na faculdade em que ano?
R – Eu entrei na faculdade em 1999.
P/1 – Você prestou o quê e onde você cursou?
R – Eu prestei Ciências Biológicas na USP, em Santa Catarina e na Unicamp, e eu passei primeiro na USP e depois eu passei em Santa Catarina. Era meu sonho morar em Florianópolis! Eu quase fui, mas na época eu tinha um namorado em São Paulo, eu já estava na USP, minha amiga disse que a faculdade era melhor, e aí, sendo bem honesta, tenho certeza que eu fiquei por causa do namorado. E acabei fazendo em São Paulo a faculdade.
P/1 – E você começou a trabalhar quando?
R – Eu comecei a trabalhar? Bom, está tudo bem? Antes de eu contar quando eu comecei a trabalhar eu preciso contar quando eu engravidei do meu filho. Eu engravidei do meu filho no segundo ano da faculdade, que era quando eu estava procurando estágio pra trabalhar com comportamento animal. Eu queria muito trabalhar com comportamento de tubarão no Recife. Mas em São Paulo não dava e tudo o que eu conseguia pra trabalhar com tubarão em São Paulo era com víscera de tubarão, pedaço do tubarão. Eu falava que eu não queria trabalhar com tubarão morto, então fui trabalhar onde eu poderia trabalhar com comportamento animal. E eu comecei a ver que tinha um trabalho com comportamento animal da faculdade de Psicologia da USP, com macaco prego. Daí quando eu estava procurando o estágio eu descobri que eu estava grávida do meu filho, eu namorava há três meses, na época, e daí a gente decidiu que a gente teria o nosso querido Lucas. Então acabou que eu fiquei esse tempo... Porque eu sempre fiz faculdade à noite porque eu queria fazer estágio desde cedo. Então daí segurou um pouco. Eu continuei cursando a faculdade, eu tranquei no semestre em que ele nasceu, em abril. Então eu tranquei esse semestre e eu voltei já no outro semestre. Minha mãe me ajudou muito, por isso que eu falo que ela cuida, né? Minha mãe me ajudou muito a voltar pra faculdade. E logo, no outro ano eu já comecei a procurar trabalho porque o pai do meu filho não trabalhava na época e tinha largado a faculdade, e eu estava procurando estágio na faculdade. E depois disso tudo a gente queria ir morar junto. Então ele conseguiu um emprego e eu já comecei a procurar trabalho. E aí não ia ser comportamento de tubarão, com nada, eu tinha que procurar um trabalho que eu ganhasse dinheiro, né? Então por isso que eu falo que eu tenho que contar toda essa relação. Eu acabei indo trabalhar num laboratório de biologia molecular, que eu sempre soube que não era a minha praia, mas eu sabia que eu tinha que dar uma chance já que aquele estágio estava lá, eu nem sabia que eu tinha que dar uma chance já que aquele estágio estava lá, eu nem entendia como conseguir estágio na faculdade. Depois eu fui perceber que eu podia ter ido buscar estágio em vários laboratórios, mas naquela época, nossa, eu estava precisando tanto e apareceu aquela oportunidade, e eu fui. E eu tenho uma coisa que é assim, onde quer que eu trabalhe, o que quer que eu faça, eu sempre tiro as melhores coisas do que quer o que eu faça. Daí eu trabalhei acho que foi mais de um ano nesse laboratório de biologia molecular e eu ainda casei nesse tempo. Eu lembro que eu estava nesse laboratório, que foi todo mundo no meu casamento. E daí depois disso eu lembro que eu... Se eu tiver falando demais você me fala.
P/1 – Não, fique à vontade.
R – É que eu acho importante eu contar até eu me achar na minha linha profissional. E daí o que aconteceu: quando eu comecei a entender que eu poderia procurar estágio que fosse na linha do que eu gostava, eu tinha encontrado um laboratório que trabalhava com ecologia da paisagem, é um pesquisador incrível ainda nessa linha. Eu fui conversar com ele, e tudo, e eu ia mudar para o laboratório dele, e aí apareceu uma oportunidade de estágio numa multinacional, que na época, menina, ia pagar superbem pra ser estágio, e tinha plano de saúde e tudo. E eu lembro que foi tão engraçado, porque eu falei: “Ah, vou participar da entrevista”. A gente vivia supercontadinho eu e meu ex-marido. Então eu lembro que eu fui fazer a entrevista e o dia que eu passei eu chorava com ele à noite na cama, eu falava: “Eu não queria ter passado”. E ele falava: “Tatiana, você é a primeira pessoa que fica chorando porque passou numa vaga”. E eu falava: “Mas é porque eu não queria e agora eu vou ter que ir”.
P/1 – E você ia trabalhar com que nessa multinacional?
R – Era com biologia molecular também. É uma empresa que vendia sequenciador. Sabe quando fala que sequenciou o genoma de não sei o quê? Então, esses equipamentos que fazem sequenciamento, uma empresa superboa. E foi ótimo ter ido pra lá, no fim aprendi pra caramba. E eles vendiam equipamentos então tinha toda a equipe que faziam os treinamentos, eram principalmente biólogos. Foi superbom ter ido pra lá, aprendi muita coisa, nossa! E acabou que eu fiquei lá, fiquei um ano e meio, acho que foi também, até que... Mas eu sabia que, assim, que não era o que eu gostava. Então eu não tinha vontade de ler tanto quanto eu precisava, essas coisas todas. Eu sempre soube pelo quê eu era apaixonada. Eu lembro que eu fui fazer a rematrícula na faculdade e daí tinha um papel lá, que era: “Estágio na Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo”. Eu falei: “Puxa, né, quem sabe?”. Daí eu liguei, agendei a entrevista e meu filho foi internado, que ele teve uma, chama infecção generalizada, mas como era muito perto da meninge teve que internar pra ficar tomando antibiótico na veia. E nessa confusão toda de trabalho, filho internado, eu fui fazer a entrevista, esqueci de levar currículo. E eu sei que cheguei lá e foi uma moça que fez minha entrevista, a Renata, e depois me ligou um cara, o Claudio. Ele fez assim: “Você quer mesmo trabalhar?”. Eu falei: “Claro que eu quero”, “Então, não são mais seis horas, são oito, viu?”. Eu falei: “Tudo bem, não tem problema”, “Então tá bom, então você começa não sei quando”. E o Claudinho, hoje eu adoro ele, a gente ficou muito amigo, mas depois ele me contou que ele falava pra Renata: “Eu não vou pegar, nova, com filho, desculpe, ela não vai fazer nada, Renata”. E a Renata: “Ela vai porque ela tem um filho, nova, ela vai ter muito responsabilidade. Claudio eu quero ela, você vai pegá-la”. E daí até outro dia eu estava até contando pro meu filho, eu falo que a Renata foi a primeira mulher que fez muita diferença na minha vida e que tudo que sempre falam que o filho pode atrapalhar a carreira, eu falo que eu acho que no meu caso fez muita diferença, porque eu tenho certeza que um dos motivos que eu consegui aquele estágio, que pra mim foi tão importante mudar de área de trabalho foi porque eu tinha ele. E eu sempre acabei indo mais rápido até do que as pessoas que eu conhecia atrás das coisas por precisar já me sustentar e tudo. Então foi essa a minha... Até eu conseguir começar a trilhar no caminho que eu queria mesmo.
P/1 – Então vamos voltar um pouquinho. Como foi que você conheceu o pai do seu filho? Conta essa história, que você estava estudando, empolgada com a faculdade e de repente, mãe.
R – É. Eu tinha minhas amigas do cursinho. Eu gostava muito de samba. E a gente ia muito num samba de um grupo que chamava Sabor do Pagode. E elas resolveram montar um grupo de samba de mulher, e eu não tocava nada, mas eu era muito amiga... Tinham as amigas do cursinho e as meninas do samba, e juntaram duas turmas. E acabou que uma das minhas amigas jogou um pepino literalmente na minha mão, que era um chocalho, e falou: “Tatiana, você não vai ficar vindo em ensaio sem fazer nada, toca alguma coisa”. E eu comecei a tocar o raio do pepino, do chocalho. E aí a gente montou um grupo de samba e a mulher que tocava cavaquinho é a minha ex-cunhada, é a mulher do pai do meu filho. E eu, na verdade, quando eu ia tocar, eu achava ele lindo. Eu falava: “Nossa senhora!”. E foi assim. Só que daí... Não, isso foi antes. Depois eu comecei a namorar, e aí eu namorava quando a gente se começou a tocar, eu e as meninas. Depois eu terminei o namoro. E eu ainda estava naquela fazendo, sabe, ‘ficando bem’ de término de namoro. E ele acho que também tinha acabado de terminar um namoro. E aí a Maria, que é a irmã dele que falou. Falou: “Olha, acho que o Pedro está interessando em você”. Eu falei: “Imagina, Maria”. E aí foi assim, a gente acabou ficando junto num samba e logo a gente estava namorando, e juntaram as turmas, eram as mesmas turmas, e logo eu estava grávida, e a gente resolveu ter o Luquinhas aí, que é a melhor benção. Inclusive eu tatuei o nome dele aqui esse final de semana.
P/1 – Vocês se separaram depois? Você falou que é seu ex-marido.
R – A gente se separou. Sete anos depois. Sete anos e meio depois. Então a gente ficou bem junto a fase toda em que o Luca era pequeno. Nossos amigos foram incríveis, porque não é fácil você ter filho mais novo. A minha mãe com a minha idade também já estava tendo filho, mas no nosso círculo de amizade ninguém tinha filho e a gente não estava preparado, então a gente se ajudou muito. Hoje eu estou vendo todas as minhas amigas tendo filhos e eu estou vendo que todas passam pelas mesmas coisas, os mesmos medos, as mesmas ansiedades, mas na época como eu era muito pequena, muito nova.
P/1 – Você tinha quando anos?
R – Eu tinha vinte quando eu engravidei. Imatura e ninguém tinha me contado, então eu achava que aquilo eu passava porque eu era mais nova e não porque era um processo natural. E hoje eu vejo que não. Mas o Pedro realmente foi um parceirão, a gente dividia as aflições, os medos. E os nossos amigos foram incríveis, a gente levou o Lucas pro todos os lugares, a gente fez viagens com o Lucas pequenininho, pra praia, pro Sul, e as pessoas cuidavam e brincavam com ele. Realmente, assim, pra mim sempre foi incrível ter tido o meu filho. Eu não posso falar. Ele é uma criança muito especial mesmo. E daí depois a gente separou, depois de sete anos. E daí depois de uns seis meses eu conheci o Eduardo, o Dado, e agora estou casada de novo.
P/1 – Você teve outros filhos?
R – Não. Fiquei só com o Luquinhas.
P/1 – E você está casada com o Dado há quanto tempo?
R – Olha, a gente está junto há quase 7 anos também. Mas a gente casou agora esse ano, em fevereiro.
P/1 – E depois que você foi pra Secretaria do Meio Ambiente trabalhar, o que resultou disso?
R – Olha, na Secretaria tive alguns aprendizados. Eu amava trabalhar lá. Adorava. Trabalhava com licenciamento ambiental, então eu falava pras pessoas o que elas podiam ou não construir, aonde elas tinham que deixar preservado. E na verdade, lá eu comecei aprender, porque quando eu fui pra Secretaria do Meio Ambiente eu falei: “Nossa, vou só plantar árvore, né?”. E não, eu fui cair no departamento que autorizava o corte de árvore. E, pra mim, foram assim, os primeiros aprendizados superimportantes, eu tinha um chefe, o Alexandre, que me ensinou muito, muito bom ele. E que é isso, e que eu comecei a entender que a gente precisa fazer as coisas da melhor forma possível. Então o nosso grande desafio é esse: é entender como as pessoas podem ter qualidade de vida, estrutura, um mínimo, mas que a gente faça de uma forma com sustentabilidade, né? Eu acho que lá foram meus primeiros aprendizados. E eu sempre buscava mais, assim. Então eu comecei a buscar, tentar fazer projeto que identificasse espacialmente quais eram as melhores áreas pra se cortar, as piores, imagina, eu era, né, estagiária e já queria fazer mil coisas. E eu continuei lá, porque quando eu me formei, porque daí eu atrasei minha faculdade, o meu TCC, um ano pra poder ficar mais um ano lá. Era um time muito bom lá, a gente trabalhava com muita vontade mesmo. E quando eu me formei eu acabei trabalhando de autônoma na Secretaria de Meio Ambiente, eles conseguiram me contratar, então eu fazia vistoria em terreno... E essa fase também foi engraçada, comprei... Porque o que é que são as vistorias: então você quer construir em algum lugar, então vai lá alguém faz um laudo e depois tem que ir algum técnico validar, pra ver o quê pode, o que não pode, e eu era essa pessoa que ia lá. E na Grande São Paulo pegava a região ali de Embu das Artes, mas às vezes você ia em favela, em terreno bem baldio mesmo. Tinha o André que era já autônomo há muito tempo que falou que uma época ele comprou até uma arma, porque ele já teve que sair correndo de terreno que ele foi. Às vezes os caras estão bravos porque eles querem construir e não pode. E daí eu lembro que eu comprei uma ‘peixeirona’, uma facona, assim, que eu falei: “Pelo menos vou levar uma faca”. E depois quando eu consegui um amigo da faculdade que estava meio perdido, era namorado de uma amiga minha, ele falou: “Me leva junto, Tati, pelo menos eu começo a aprender um pouco”. Eu falei: “Vamos embora, pelo menos você também me faz companhia, eu não passo tanto medo, né?”. Quando ele viu minha faca ele falou: “Tatiana, só se você fosse dar como martelo na cabeça, porque ela não está nem afiada”, a faca, né? E daí, puxa, essa fase foi superlegal. Minhas amigas me ligavam, eu estava no meio do mato, eu falava: “Peraí. Espera que eu estou vendo um saguizinho”. E eu tinha que ver a espécie do sagui, então era muito legal. E daí quando abriu uma vaga na secretaria eles me chamaram, então fiquei um tempo trabalhando de assessora da diretoria lá na Secretaria do Meio Ambiente, trabalhando bastante com fauna mesmo, com bicho, e era muito legal. E até que teve um processo na Secretaria do Meio Ambiente que só ia poder ter pessoas... Porque esse concurso que eu entrei não era esses concursos públicos, era um outro tipo de concurso que fazia na época, e eles decidiram que não teriam mais esses outros tipos de concurso e seriam todos concursos públicos, né? Daí eu fui remanejada pra outra área da Secretaria e era uma área que trabalhava bastante com avaliação de estudo de impacto ambiental, eles são bem grandes, eles são superinteressantes, mas foi bem a época que eu tinha me separado e eu não conseguia ficar muito tempo lendo nada, sabe, eu sou mais dinâmica, aquela época então. E aí eu acabei saindo de lá e indo trabalhar nas obras do trecho sul do Rodoanel, do Mário Covas, da Dersa. Foi uma época que eu cresci muito profissionalmente, porque aí eu tive que coordenar implementação de programas ambientais enormes, assim, plantio de três milhões de árvores. Eram oito parques municipais, parques urbanos, que a gente fala, foi superlegal, foi uma experiência superinteressante de coordenação de projeto mesmo. E daí eu comecei a querer trabalhar com mais do que só a parte ambiental, fui me especializar, fiz pós na GV (Fundação Getulio Vargas) em Sustentabilidade, em Gestão de Sustentabilidade, né? E comecei a entrar na área de sustentabilidade no mundo corporativo, eu trabalhei no Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que foi outro aprendizado maravilhoso também, tive um chefe incrível, o Caio Magri. E depois acabei vindo parar aqui no Walmart, que me convidou quando eu estava lá no Ethos, a gente tinha alguns trabalhos juntos, e daí vim parar aqui.
P/1 – Entendi. Foi uma linha mesmo, né?
R – Foi uma costura.
P/1 – Você ficou quanto tempo trabalhando na Secretaria do Meio Ambiente?
R – Eu acho que ao todo eu fiquei uns 3 anos e meio. Deixa eu pensar: um ano e meio de estágio... É, eu acho que deve ter sido uns 3 anos e meio.
P/1 – Tem quanto tempo que você está aqui no Walmart?
R – Um ano e pouco. Eu entrei em abril do ano passado.
P/1 – Você trabalha em que setor?
R – Sou Gerente de Sustentabilidade, estou na área de Sustentabilidade mesmo.
P/1 – E essa área de Sustentabilidade fica dentro de que outra área dentro da instituição, da empresa?
R – Fica na vice-presidência de Assuntos Corporativos. Então a vice-presidência de Assuntos Corporativos tem Comunicação Interna e Externa, Relações Governamentais, o Instituto Walmart, Sustentabilidade e a parte de Atendimento ao Cliente.
P/1 – Me conta um pouco, Tatiana, dentro dessa sua visão de funcionária da Sustentabilidade do Walmart, qual é o caminho que os produtos comercializados pelo Walmart fazem? Da onde ele vem? Por onde ele passa? Como é esse processo até ele estar lá na gôndola do mercado?
R – Olha, depende muito de cada produto. E esse é nosso maior desafio. Se tem uma coisa que me fez vir trabalhar no Walmart era a possibilidade de trabalhar com setores tão diversos, né, porque a gente trabalha com toda gama de produtos. Então depende muito, se a gente fala do setor de alimentos e dos produtos da agricultura, aí você tem todos os impactos dos produtos ali no campo, as questões de desmatamento, e eles vêm direto e são comercializados nas lojas. E a gente pensa muito aqui em ciclo de vida, então é do berço ao túmulo, que a gente fala, então é desde a hora da extração ali ou do plantio, até depois no pós-consumo, né, o que é que acontece com ali. Então mesmo quando são alimentos... Depois você tem a questão do desperdício muito grande de hoje, né, o grande problema de fome no mundo e ao mesmo tempo um desperdício enorme de alimento. Então alimento é uma coisa. Daí se você fala de produtos eletrônicos é outra coisa, tem extração de petróleo, extração de minério, aí eles passam por todo um processo de industrialização e o pior: o que você faz com tudo isso no pós-consumo, né? Como é que você faz com a reciclagem desses materiais. Então tudo depende muito do produto de que produto a gente está trabalhando. Eu acho que a magia de trabalhar no varejo e numa empresa como o Walmart é justamente você poder olhar todas as cadeias, ir tomando as decisões e poder influenciar da melhor maneira ou da maneira que a gente acredita ser o certo, né?
P/1 – Daí a Sustentabilidade cuida disso?
R – É, a Sustentabilidade aqui no Walmart, e é como na verdade eu acho que cada vez mais deve ser nas empresas, ela só funciona se ela estiver mesmo cada vez mais intrínseca à operação de todas as outras áreas. Então a nossa área de Sustentabilidade, ela funciona como uma área de apoio, uma área de suporte. Então a gente acaba dando apoio pras outras áreas pra que a sustentabilidade esteja dentro dos processos. Então, por exemplo, na operação da loja, a gente dá todo um apoio e orientação pra que consuma menos energia, pra que os gases, refrigerantes, que menos impactam, que menos emitem gases pro efeito estufa, pra ter um melhor controle do uso de água. A gente tem uma campanha muito forte, por exemplo, de redução do uso de sacolas plásticas, porque a gente acredita que a sacola plástica é um elemento descartável, ela é um símbolo do consumo inconsciente, vai, vamos dizer assim, porque quando a gente pega a sacola plástica no supermercado geralmente você faz um uso ou ela dá uma rasgadinha, ou você põe uma vez no lixo e já joga fora, então ela tem o uso descartável, e a gente deveria ir contra coisas que tenham uso descartável, né? Ou, por exemplo, outros trabalhos, que a gente faz com os fornecedores é pra tentar ter cada vez mais nas lojas produtos mais sustentáveis, porque mais sustentáveis? Porque sustentável nunca nada vai ser, a gente só diz que está impactando, né. Mas então como que a gente diminui o impacto de tudo o que a gente consome hoje? Então a gente trabalha muito com nossos fornecedores pra tentar diminuir o impacto dos produtos. Então a Sustentabilidade trabalha assim: a gente tem três pilares globais, que é clima e energia, resíduos e produtos mais sustentáveis, então a gente trabalha em cima desses três pilares. E a gente acaba desdobrando pra plataformas internas, que a gente chama. Tem as plataformas de foco interno que são todas essas ligadas à operação das lojas, e as de foco externo que são todos os trabalhos que a gente faz com a nossa cadeia de suprimentos, com os fornecedores. E é dessa forma que a gente vem trabalhando.
P/1 – No caso, a parte com a Nestlé, que é um fornecedor, essa cadeia é externa.
R – Isso.
P/1 – Conta um pouco pra gente como foi que isso começou?
R – Olha, eu estou no Walmart há um ano e meio, mas certamente a Nestlé já é parceira do Walmart há muitos anos, globalmente, né? Mas em 2009 o Walmart assinou com seus maiores fornecedores, e um deles a Nestlé, o Pacto pela Sustentabilidade. E o Pacto pela Sustentabilidade foram empresas, como a Nestlé, decidiram assumir compromissos pra contribuir com uma proteção mais sustentável e responsável. Então tinham compromissos nesse pacto, na época, com o desmatamento na Amazônia. Na época, em 2009, tinha um cenário já com muitos dados e que mostrava a relação de três cadeias, principalmente, que era a soja, a madeira e a pecuária com o desmatamento da Amazônia, e a gente não podia mais fazer vistas cegas pra tudo aquilo, né? Então tinham compromissos nesse sentido de trabalhar pra que todos esses produtos não contribuíssem ali na sua origem com o desmatamento da Amazônia. Tinham produtos por compras mais responsáveis, e aí tinha uma questão de fosfato em produtos de limpeza, uma questão de orgânicos, de trabalhar por produtos, por ciclo de vida fechado, que a gente fala, ou seja, imagina se você consegue utilizar ali o resíduo do pós-consumo, se ele volta pra cadeia e com isso você consegue fazer um outro produto de novo, né? Então uma série de compromissos nesse sentido e tinha também compromissos pra redução de embalagem, na época se percebeu que embalagem era um dos impactos muito grandes no meio ambiente dos produtos, tanto no campo dos produtos que você extrai da natureza e produz a embalagem quanto depois com o que você faz com isso. E a Nestlé assinou e a Nestlé já tinha também, acredito eu, políticas de sustentabilidade e vem trabalhando muito nesse sentido. E aí o nosso programa mais importante pra trabalhar produtos mais sustentáveis foi um programa que chama Sustentabilidade Ponta a Ponta, e a Nestlé participou das três de duas edições, da primeira e da terceira.
P/1 – Quando foi a primeira? Em que ano?
P/1 – E por que tem essas edições? Por que ele é dividido dessa maneira?
R – Ah, não, na verdade teve a primeira edição do programa e deu tão certo que daí resolveu-se fazer a segunda e depois a terceira. Então não era nada pensado. Fez-se a primeira edição e a Nestlé já topou participar com a água, e água é um produto que, puxa vida, a gente consegue uma escala de impacto muito grande quando você trabalha com a água. O interessante é que o produto que se escolhe são produtos líderes de categoria, ou seja, aqueles mais vendidos da empresa, né? Dentro da sua categoria, os principais. E com isso a escala de venda é tão grande que a escala de resultado ganha muito mais amplitude, então se você diminui isso da escala de venda de enorme, isso vai acabar se amplificando muito. E a ideia desse programa é pegar o ciclo de vida todo do produto e você ter redução de impacto ambiental em pelo menos três fases diferentes do ciclo de vida. Então pode ser na extração, no processo produtivo, no pós-consumo, mas tem que ser em três fases distintas. E a empresa levanta essas informações e depois todos esses dados quantitativos mesmo, de emissão de gás carbônico, de água, de consumo de energia, eles são validados por uma organização independente que chama Cetea, o Centro de Tecnologia de Embalagem, então esses números eles são publicados oficialmente como de redução daquele produto. E na terceira edição, a Nestlé acabou participando com o Nescafé solúvel e foi superinteressante, pelo menos pra mim, eu sou superligada em alimentação, porque eles foram trabalhar na ponta com os agricultores mesmo, e questão de certificação. Então foi superlegal, porque conseguiu trazer ainda uma série de benefícios sociais pra aquela comunidade, inclusive programas depois de educação ambiental e de programas de educação alimentar ali pras comunidades.
P/1 – E como funciona a escolhas dos produtos? Quem escolhe o fornecedor é o Walmart? Como é feito isso?
R – É o fornecedor em parceria com a área comercial do Walmart. Então realmente são produtos líderes de venda comercial, o que é superinteressante porque a gente linka sustentabilidade com o negócio. Então você pega tem que ser produtos que sejam importantes para as áreas comerciais e pra área de sustentabilidade.
P/1 – E quais foram as primeiras ações quando o programa começou? Digamos, que contato, que tipo de ação de conscientização, de treinamento? Qual foi o pontapé do programa para vocês começarem essa relação de perpetuar, de aumentar esse conceito da sustentabilidade?
R – Esse programa?
P/1 – Isso.
R – É. Esse programa, naquele momento que a gente assinou uma série de compromissos com nossos fornecedores, tinha uma angústia. Na verdade eu não estava aqui, mas eu já ouvi muitas pessoas falarem, de que nós precisaríamos trabalhar realmente por produtos mais sustentáveis, e como ter certeza disso? Como que nós faríamos isso? Pro Walmart é muito difícil hoje, assim como pra qualquer varejista, você chancelar um produto dizendo que ele é mais sustentável, porque às vezes você troca matéria-prima no processo produtivo e isso vai fazer com que ele consuma muito mais energia no processo de produção, ou seja, você aumentou um impacto aqui, diminuiu um ali, o quê que é melhor? Então é muito difícil pra gente arriscar dizer se um produto é mais ou menos sustentável e por isso é tão importante a gente ter essa organização independente já muito reconhecida com trabalho de análise de ciclo de vida que é o Cetea. E com isso tudo, com aquele movimento que uma série de fornecedores chegava com produtos e falavam: “Ah, o meu é”, “O meu também”, percebeu-se que a gente precisaria ter um trabalho mais aprofundado de estímulo aos fornecedores também, e foi aí que surgiu a ideia do programa, tanto no sentido da gente entender melhor o ciclo de vida, o que era mais sustentável e o que não era, quanto pra estimular. E uma coisa que a gente já ouviu de muitos fornecedores, esse programa realmente ele é um programa de muito orgulho, assim, porque os fornecedores trazem pra gente que acaba sendo tão importante o engajamento de diversas áreas da empresa e que muitas vezes eles acabam levando os aprendizados pra outros produtos. Então o ganho acaba sendo muito maior. Então, por exemplo, se você acaba mudando algum processo dentro de uma fábrica e aquela fábrica faz mais do que só aquele produto, os ganhos acabam sendo pra vários os produtos daquela linha. Ou se você acaba engajando outras áreas e as outras áreas percebem a importância daquele processo, elas vão acabar levando isso pra outros processos também. Então os ganhos que reportam pra gente são sempre muito além dos que a gente esperava, então é um processo muito rico mesmo participar do programa como um todo.
P/1 – E no programa esses fornecedores têm momentos de troca?
R – Entre eles?
P/1 – Entre eles.
R – Só no evento. A gente faz um evento de lançamento dos produtos, e no último cada fornecedor contou um pouquinho da sua experiência e do que foi participar. Eu acho que a troca é muito mais interna na empresa, sabia? Porque às vezes a sustentabilidade ainda tem muito pra acontecer, né, e tem muito pra estar linkada mesmo ao cerne do negócio e às estratégias das empresas. E muitas vezes quando você acaba engajando várias áreas que não estão acostumadas a lidar com aquilo no dia a dia e que vem resultado, porque tem uma premissa desse programa: o produto final não pode ter um custo maior do que o produto inicial, ou seja, porque a gente quer mostrar que sustentabilidade não custa mais caro. E praticamente em todas as vezes as empresas perceberam que a hora que você tinha ganho mesmo no processo produtivo isso reduzia custos do seu produto. Então quando você consegue engajar outras áreas com esse tipo de resultado, o resultado de engajamento é incrível, assim, porque é na prática mesmo. E aí é importante ter um varejista que puxe isso, né?
P/1 – E o que acontece com esse produto ao final do programa? Ele continua? Ele recebe um selo?
R – Não, ele passa por uma divulgação, um lançamento, né, não é um produto novo, é um produto que já existe, mas está com menor impacto. Ele passa por uma divulgação em relação à redução de quantidade de impacto, né? Mas depois ele é comercializado em todos os varejistas do país, não é uma exclusividade, nada disso.
P/1 – Então é processo mais de preocupação interna mesmo de vocês, porque esse produto ele tem esse processo de revalorização, mas ele não recebe um selo que a sociedade fique sabendo.
R – Por um tempinho depois só, não um selo, né? A gente teve uma comunicação diferenciada nas lojas desses produtos. E num tabloide também. Sabe o que é tabloide? Aquele jornalzinho que fica nas lojas? E daí foi só por um tempo depois do lançamento, depois isso passa. Mas é interessante isso que você está falando porque um dos maiores desafios que a gente vê hoje... Selo realmente o Walmart não quer criar. Por isso tudo, porque a gente não acredita que seja o papel de um varejista chancelar sustentabilidade, né? E daí eu já te conto uma outra coisinha. Mas é interessante isso que você falou porque um dos maiores desafios hoje é justamente engajar a área de marketing com sustentabilidade. Por quê? E não pra você ter uma divulgação de marketing de algum projeto de sustentabilidade mas, por exemplo, vários dos produtos que hoje tem um menor impacto, eles não tem nada na embalagem que diga isso. Por que não é interessante você colocar essa informação na embalagem do seu produto? Então, assim, a gente sabe que isso ainda é um grande desafio. Mas isso de comunicar e de selo, tem um consórcio de sustentabilidade que chama Sustainability Consortium, que fica nos Estados Unidos, até foi um projeto que começou por uma idealização do Walmart, pro Walmart perceber que não era seu papel chancelar produtos sustentáveis. Hoje isso é um consórcio de universidades, de organizações do terceiro setor, empresas, inclusive concorrentes, que estão construindo critérios de sustentabilidade em diversas categorias de produto, que a ideia final é se chegar a um índice de sustentabilidade dos produtos, onde você consiga comparar os produtos pelo seu grau de sustentabilidade. Eu falo que esse é meu sonho de consumo conseguir disponibilizar isso pra todos os nossos clientes um dia nas lojas, você poder fazer a escolha por isso.
P/1 – E o que, por exemplo, pensando em dois produtos da Nestlé, né, a água... Era água de garrafinha, de 500 ml?
R – Isso. Tinha várias.
P/1 – Tatiana, sobre esses produtos, por exemplo, no caso da Nestlé, a linha de águas e o café solúvel e das outras empresas também, passado o programa Sustentabilidade Ponta a Ponta, as empresas continuam preservando esse modo de produção?
R – Sim. Isso se mantém. Isso é um legado que fica, né? Então na verdade é uma transformação de processo produtivo que fica perene. Até porque muitas vezes pra eles é mais vantajoso também. Então no caso da água da Nestlé, que eles conseguiram fazer uma embalagem com menos matéria-prima, sai mais barato fazer uma embalagem com menos matéria-prima, e depois você ainda tem facilidade de reciclar. Então na verdade a gente acaba dando um empurrãozinho pras coisas acontecerem mais rápido, né? Eu acho que esses grandes fornecedores todos, como a Nestlé, por exemplo, eles já têm buscado inovar muito e buscado sustentabilidade, eu acho que o que a gente faz é dar o empurrãozinho, talvez, pra que isso aconteça mais rápido, sabe?
P/1 – E vocês, como compradores, vocês percebem uma mudança de atitude desses fornecedores? Além do produto que entra no programa mesmo, existe uma mudança de atitude?
R – De passar pelo programa?
P/1 – Sim.
R – Sim. Eu acho que, era o que eu estava falando, assim, tem empresas que vivem tanto esse processo e que contam pra gente a mudança da atitude e a mudança de enxergar as coisas que acabam acontecendo em algumas equipes dentro da empresa. Tem um dos fornecedores que fala que a gente não pode parar com o programa nunca, porque ele sabe... Tem um caso de uma empresa que desenvolveu uma metodologia de reciclagem de aerossol, por exemplo, que não existia e que a legislação mostrava que não dava, e o Cetea foi impulsionando: “Vamos que dá, vamos que dá”. E no fim se chegou a uma nova tecnologia de reciclagem de aerossol que até então não existia. Então o que eles passam pra gente é: “Sempre dá, resta saber o quanto a gente está sendo desafiado pra conseguir”. Então eu acho que esse é um papel muito importante nosso: pressionar e desafiar sempre pra trazer produtos cada vez mais inovadores. E porque no fim é nossa responsabilidade por tudo que a gente comercializa lá. Eu acho que, além disso, eu tenho filho, Nestlé a gente sempre pensa em criança, né, em bebê, eu acho que na parte de alimentação a gente tem muita coisa pra fazer ainda, tem muito cuidado pra tomar com o que a gente hoje come, então é nosso papel mesmo, e sinceramente é minha missão inclusive que a gente nunca deixe de olhar pra isso, e nunca esteja satisfeito, porque a gente ainda tem um caminho bem grande, assim, pela frente.
P/1 – Vocês têm avaliações que apontem mudanças na atitude das pessoas que fazem parte dessa cadeia produtiva dos alimentos? Por exemplo, pra focar um pouco os alimentos que entram no programa, existe algum dado que mostre isso, a equipe, o produtor rural, o industriário, que está lá no dia a dia, no processamento daquele produto? Você tem algum dado assim?
R – Um dado que mostre...?
P/1 – Esse envolvimento das pessoas, mudança de atitude.
R – Não.
P/1 – E do consumidor?
R – Então, do consumidor, existem pesquisas que não são nossas, que mostram uma mudança de atitude que vem ocorrendo no consumidor que vem olhar principalmente as questões de ‘saudabilidade’. A gente tem uma pesquisa que não é muito animadora, quando a gente perguntou pros nossos consumidores o que era sustentabilidade, se fazia diferença na hora de escolha o produto, a gente percebeu que ainda há muita confusão sobre o que é sustentabilidade, que na maioria das vezes o consumidor atrela a sustentabilidade no varejo à reciclagem, por causa das estações de reciclagem, muito a resíduos, tem também a questão de informação no produto e isso está bem alinhado com o que a gente pensa, que é um dia chegar a ter mais informação no produto. Mas está muito ligado a reciclagem mesmo... Tem mais alguma coisa que eu esqueci agora. Então isso seria um pouco desanimador, porque quando você pergunta sustentabilidade não é um fator de decisão na escolha do produto, ainda é o preço. Mas aí se você pega outras pesquisas elas começam a mostrar que principalmente as questões de produção local, de produtos mais saudáveis, tem feito bastante diferença na escolha do consumidor. E também tem outras pesquisas, principalmente do Akatu, que mostram que o consumidor está sim cada dia mais consciente. A gente ainda precisa avançar muito. Mas pra que chegue a ser um poder efetivo de decisão, eu sempre me coloco, isso é bem uma opinião minha, é assim: se o consumidor não tem isso como uma das coisas que influencia a decisão, porque não existe a informação... Pra mim mesma, se eu vou em qualquer supermercado, no Walmart, e eu quero lá, entre todos os desodorantes que tem, saber qual daqueles tem menos impacto, eu não sei, não tem essa informação no produto. Então eu acho que hoje ainda pra gente é muito difícil saber se o consumidor não escolhe porque ele não tem essa informação ou se realmente ele não está ligando pra isso. Eu realmente tendo mesmo a acreditar que é por falta de informação, e que a gente tem que trabalhar muito pra cada vez ter mais essa informação ali no produto. Então a gente tem acompanhado sim, todas essas pesquisas, claro, né? Mas eu realmente acredito e acho que o mercado acredita, que é o único caminho mesmo, que isso vai cada vez mesmo ser um fator de decisão mais forte para os clientes escolherem os produtos, né?
P/1 – Tatiana, nessa última versão, que é a terceira versão do Sustentabilidade Ponta a Ponta, a Nestlé entrou com o café solúvel, né, o Nescafé.
R – Isso.
P/1 – Você sabe que tipos de mudanças efetivamente ocorreram na cadeia de produção do Nescafé, que transformação ele sofreu pra alcançar esse conceito da sustentabilidade que vocês buscam?
R – Olha, eles trabalharam a questão da certificação no campo, do processo produtivo de produção de uma forma mais sustentável, com base na certificação 4C, e eles também trabalharam bastante pra reduzir a espessura da embalagem, então eles incorporaram uma tecnologia diferenciada que reduzia a espessura da embalagem e com isso diminuía a quantidade de matéria-prima necessária. Certamente tem outras coisas que eu não sei de cor, mas eu posso consultar também.
P/1 – Mas daí houve essa transformação do produto, ele alcançou esses resultados?
R – Houve. Quer ver? Além da redução na espessura da embalagem, né, do cappuccino, eles também retiraram um copo plástico que tinha, fazendo com que tivesse menos matéria-prima, principalmente de combustível fóssil, que está tão vinculado à emissão de gás carbônico, com isso eles conseguiram bastante reduzir bastante a emissão de gases de efeito estufa também. Então acho que principalmente a questão de redução de embalagem a questão de trabalhar as comunidades, produção mais sustentável com a certificação.
P/1 – E como que você se sente? Você, Tatiana, no meio dessa cadeia toda, participando desse programa, qual você acha que é a sua contribuição pessoal?
R – Olha, é um desafio, assim, eu sou muito criteriosa e, como eu posso dizer, eu desejo bastante, sabe? Pra mim, eu acho que foi um presente participar do programa, de verdade. A contribuição de verdade foi das empresas, a minha foi mais de mostrar, e de dar valor, e de parabenizar pelos resultados, porque eu não estava desde o começo do processo, e pra mim, assim, foi muito gratificante mesmo porque chegar aos resultados, ver toda a medição. Mas, assim, de verdade, eu fico muito feliz de alguma forma estar trabalhando pra melhorar os processos produtivos, tanto dentro do Sustentabilidade Ponta a Ponta quanto dentro de tantos outros programas que a gente faz. É muito gratificante quando você vê o reconhecimento de uma empresa, de um fornecedor, de um funcionário dentro de uma empresa que se esforçou muito pra que aquilo acontecesse, né? E às vezes quando você olha ali no fim parece que foi tão fácil, mas a gente não sabe o quanto de trabalho precisa chegar praquele resultado. Então eu fico muito feliz de perceber que aos pouquinhos a gente consegue fazer muita diferença. A gente tem um trabalho... Eu gosto muito quando a gente tem trabalhos que chegam lá no campo, que vão ali até a ponta. A gente tem trabalhado muito com pecuária bovina e eu fui até São Felix do Xingu, onde tem um projeto que a gente trabalha pra uma produção mais sustentável, que nem a Nestlé acabou fazendo aqui pra produção do café, a gente está tentando uma forma de produção mais sustentável de boi em São Felix do Xingu, que garanta produtividade pros produtores, que muitas vezes não tem uma lucratividade boa e que ao mesmo tempo preserve os recursos naturais. E assim, foi muito emocionante pra mim naquele momento ver, assim, não é nem a felicidade, mas a expectativa mesmo, dos fornecedores de enxergar que existe alguém olhando pra isso, pra quem faz diferente. Porque muitas vezes quem tenta fazer da forma certa ou da forma mais sustentável, não é valorizado. Então eu acho que ao mesmo tempo em que é uma gratificação muito grande todas as vezes que isso acontece também me vem uma responsabilidade muito grande de que eu não posso deixar, que não pode deixar acontecer, sabe, eu não posso deixar que as coisas parem. Então eu sinto muito feliz por eu poder estar aqui, eu acho que são poucas as oportunidades pra se poder fazer tanto. Mas ao mesmo tempo eu penso dia e noite em como que eu posso trabalhar mais pra realmente conseguir os resultados que a gente precisa e de mudança que a gente precisa, porque não são poucos e nem fáceis, né?
P/1 – Teve alguma transformação, alguma mudança sua de atitude, dentro da sua perspectiva de trabalho, mas que resvalou na sua vida pessoal? Tipo consumir um produto X ou outro, ou mesmo em contato com esses fornecedores que você passou a conhecer da Nestlé e de outros?
R – Olha, eu tenho tido com o passar dos anos uma série de mudanças nos meus comportamentos de consumo, acho que desde a faculdade, aí eu acho que pelo programa a questão foi muito a questão consumo de concentrado. O primeiro produto concentrado saiu como resultado no Programa Ponta a Ponta, porque ele consome menos água no processo produtivo, você tem as embalagens muito menores, com isso você otimiza logística, então essa questão de concentrado, pra mim, ficou superforte, veio do programa. Mas eu acho que hoje eu tenho, quando eu chego pra escolher um produto eu tenho parado muito mais pra pensar em o que está por trás daquele processo produtivo, sabe? Mas de verdade eu tenho focado muito em alimentação, e aí eu não sei o quanto eu trago pra cá ou quanto o trabalho aqui que leva pra mim, eu acho que talvez seja uma mistura dos dois. Eu acho que a gente tem que fazer muito ainda pela melhoria dos alimentos que a gente consome mesmo. Então eu tenho buscado muita informação nesse sentido e eu espero poder influenciar muito ainda nesse sentido.
P/1 – Na sua trajetória, Tatiana, teve alguma situação, assim, muito difícil que você enfrentou? Como você superou isso?
R – Em trajetória de vida?
P/1 – Pessoal, profissional. O que foi mais difícil pra você?
R – Eu acho que um momento que foi muito difícil pra mim, na minha trajetória de vida pessoal foi minha separação, eu realmente levei muito tempo pra me recuperar e consegui superar pelo meu filho maravilhoso que estava ali do meu lado o tempo todo, pelo meu marido, um homem incrível que eu conheci, eu acho que também pelo meu trabalho, porque eu gosto tanto do que eu faço que eu nunca deixei de ter alguma coisa que eu gostasse no dia a dia. E pra superar eu acho que foi dar tempo ao tempo, paciência, maturidade e buscar cada vez mais aquilo que eu acredito, a minha essência, eu acho que isso é uma coisa que linka muito, a minha essência com o que eu faço no trabalho estão muito alinhadas, assim, eu acho que isso sempre me fortaleceu. Então acho que foi esse, na minha vida pessoal, foi um dos momentos mais difíceis mesmo. E... Acho que foi... (pausa).
P/1 – Você falou, né, que você lá na sua época de faculdade, que você queria trabalhar com psicologia animal, depois queria trabalhar com natureza, depois você foi pra Secretaria de Meio Ambiente. Hoje você trabalha com sustentabilidade em uma instituição de comercialização de produtos alimentícios e outros. Você compara, assim, o que você queria fazer antes com o que você queria fazer agora, qual seu grau de satisfação com seu trabalho? O que você sente hoje com relação ao seu trabalho atual?
R – Não, eu sou muito feliz, mesmo, com o que eu faço. Tem dia, acho, que eu falo, meu filho, graças a Deus que ele apareceu na minha vida pra me fazer ir buscar mesmo as coisas mais rápido, porque eu fui construindo o caminho e eu acho que eu tive muita sorte mesmo, porque eu sempre consegui construir o caminho que eu queria, então hoje eu sou muito feliz com o que eu faço, tem dia até que a minha equipe fala, a Natália fala bastante pra mim, ela fala: “Tati, você está sempre animada quando a gente traz algum projeto”. É porque eu gosto mesmo, porque eu não faço por obrigação, eu sou encantada com a possibilidade de trazer qualquer benefício pra sociedade, sabe, mesmo que pequeno, e eu fico desesperada quando eu acho que isso não está acontecendo. Então eu sou muito feliz com o que eu faço. Já parei pra pensar muitas vezes se eu ainda queria ter ido estudar tubarão no Recife. E eu acho que hoje eu nem conseguiria ficar parada pesquisando, sabe? E a minha ida pra praia aos finais de semana dá conta de matar minha vontade, mas eu sou uma pessoa muito ativa, eu gosto de conversar, eu gosto de botar pessoas de diferentes lugares pra trabalhar junto e encontrar solução. E no fim, na área em que eu trabalho a gente acaba fazendo muito isso, porque em sustentabilidade você não consegue nada sozinho, né? E eu não sou uma pessoa que conseguiria ficar todo dia ali fazendo a mesma coisa. Então eu acho que eu posso dizer assim: que eu me encontrei, tanto de forma de trabalho... E eu também não sei o quanto, eu acho que a possibilidade de trabalhar com empresas diferentes, com setores diferentes, que é o que o varejo me dá, é muito dinâmico, e eu gosto desse dinamismo. Então eu estou muito feliz mesmo com o que eu faço hoje. Estou feliz de trabalhar aqui no Walmart, acho que tem uma cultura de sustentabilidade muito grande, e que já me permite trabalhar na ação e não no convencimento na maioria das vezes, que às vezes também é muito duro você ter que perder muito tempo no convencimento, te sobra pouco tempo pra ação. Então eu acho que a parte do convencimento foi já. Então eu estou realmente muito feliz com onde eu cheguei.
P/1 – Tá bom. Quais são as coisas mais importantes pra você hoje?
R – Mais importantes? Meu filho, meu marido, minha família, meus pais, minhas irmãs. Eu acho que, realmente, pra mim, nada paga família. E qualidade de vida, que eu também acredito que não adianta nada o que a gente fizer se não tiver com qualidade de vida, paz de espírito, bem com você mesmo, então eu prezo muito isso, qualidade de vida e bem-estar. E que eu continue conseguindo trabalhar com sustentabilidade da forma que eu acredito mesmo.
P/1 – E um sonho ou sonhos, pra realizar?
R – Um sonho pra realizar? Eu tenho um sonho de morar fora ainda, com a minha família, a gente tem um pouco esse sonho de um dia morar fora um tempo, fazer essa experiência.
P/1 – Tem ideia de algum país?
R – Tem que ser perto da praia. Não sei. Estados Unidos, talvez. Califórnia. Acho que esse é um sonho.
P/1 – E, Tatiana, tem alguma coisa que a gente não tenha falado aqui, que você gostaria de acrescentar? Alguma coisa da sua trajetória mesmo ou do seu trabalho.
R – Eu acho que da minha trajetória, acho que talvez... Não sei se da minha trajetória, de trabalho, de tudo, mas eu acho é a questão de amor, sabe? Eu sinto muito hoje que foi o amor pelo meu filho que me fez conseguir muita coisa, depois o amor pelo meu marido que me fez superar muita coisa, eu acho que as pessoas hoje, elas têm muito pouco amor, sabe, nas relações, mesmo nas relações de trabalho, eu acho que isso um pouco também a sustentabilidade, todas as discussões que tem tido, tem tentado resgatar isso, né, eu acho que a gente precisa olhar muito mais pro outro, ter uma consideração muito maior com o outro, aprender com o outro, acho que é isso que vocês trazem também, eu aprendo muito sempre, muitas coisas, eu aprendo sempre com meu filho, meu filho veio pra me ensinar muita coisa. Então eu acho que isso é uma das coisas que é das mais importantes pra mim: o quanto a gente precisa prestar atenção e ouvir mais as pessoas, sabe, ter as relações mais baseadas em amor. Acho que não, acho que eu falei tudo, contei bastante da minha vida.
P/1 – Você gostou de contar sua história?
R – Gostei.
P/1 – Sentiu o quê, assim?
R – Ai, nossa, vem tanta coisa, né, a gente fala, fala e vem coisa pra falar, você fala tanto e quando você vê ainda dava pra falar tão mais. Mas eu senti um pouco uma sensação de realização, sabe? Às vezes a gente não para pra pensar quanta coisa a gente já fez, né? E meu filho, sabe, assim, ter tido ele nova me balançou, fiquei muito tempo insegura sem saber se ia conseguir, se não ia, aí depois quando eu estava bem, me separei, balancei de novo. Então acho que hoje ver mesmo, sabe, tudo que eu construí, que eu já fiz, tem muita coisa, então deu até uma sensação de até, como eu posso dizer, de paz de espírito, né (risos)?
P/1 – Sim, elaborar, né, e daí a gente vê o que foi.
R – Pois é. Nossa!
P/1 – Ah, Tati, muito obrigada por disponibilizar um pouco do seu tempo pra dar essa entrevista.
R – Obrigada vocês, gente!
P/1 – Tanto o Museu da Pessoa, quanto a Nestlé, estou aqui agradecendo em nome deles.
R – Ah, espero ter contribuído bastante. Obrigada, gente!
P/1 – Com certeza! De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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