Depoimento de José Misorelli
Entrevistado por Cláudia Leonor e Bárbara Tavernard
São Paulo 19 de fevereiro de 2005
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Entrevista MA_HV109
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Fernanda Regina
P/1 - Senhor José, eu vou pedir para o senhor começar de novo falando o seu nome completo o local e a data de nascimento?
R – José Misorelli, 28 de março de 1924, nascido em São Paulo.
P/1 – E qual o nome dos seus pais senhor José?
R – Pedro Misorelli e Rosa Assunção Misorelli.
P/1 – E senhor José, o senhor estava falando que o senhor Pedro trabalhava como garçom internacional?
R – É, garçom internacional.
P/1 – Como que era ser garçom internacional?
R – Era um garçom especializado em mais de uma língua, para atendimento ao público estrangeiro e também para viagens.
P/1 – E onde que ele trabalhava?
R – Ah, em muitos restaurantes, muitos restaurantes.
P/1 – Aqui em São Paulo?
R – Aqui em São Paulo.
P/1 – E senhor José, me fala uma coisa, a família do senhor é de origem italiana?
R – É, meu pai era brasileiro, nasceu em Itu e o pai dele, meu avô era italiano.
P/1 – E o que o senhor se recorda assim do seu avô?
R – Do meu avô nada.
P/1 – Nada?
R – Nada, nada.
P/1 – E o senhor cresceu em São Paulo?
R – Cresci em São Paulo.
P/1 – Que bairro?
R – Bom, eu nasci em São Paulo, bom, eu nasci na Bela Vista, no Bexiga e morei sempre no Jardim América, no Jardim Paulistano, na Rua Grécia.
P/1 – É? Passou a infância ali no Jardim Paulistano?
R – Tudo no Jardim Paulistano.
P/1 – Descreve para a gente como era o Jardim Paulistano quando o senhor era criança?
R – O Jardim Paulistano?
P/1 – É.
R – Bom, eu morava exatamente a quinhentos metros da Faria Lima, hoje é Faria Lima, antigamente era Iguatemi. Tinha o Iguatemi e logo adiante já era brejo, era brejo e o rio era mais para cá. Era mais próximo da Faria...
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Entrevistado por Cláudia Leonor e Bárbara Tavernard
São Paulo 19 de fevereiro de 2005
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Entrevista MA_HV109
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Fernanda Regina
P/1 - Senhor José, eu vou pedir para o senhor começar de novo falando o seu nome completo o local e a data de nascimento?
R – José Misorelli, 28 de março de 1924, nascido em São Paulo.
P/1 – E qual o nome dos seus pais senhor José?
R – Pedro Misorelli e Rosa Assunção Misorelli.
P/1 – E senhor José, o senhor estava falando que o senhor Pedro trabalhava como garçom internacional?
R – É, garçom internacional.
P/1 – Como que era ser garçom internacional?
R – Era um garçom especializado em mais de uma língua, para atendimento ao público estrangeiro e também para viagens.
P/1 – E onde que ele trabalhava?
R – Ah, em muitos restaurantes, muitos restaurantes.
P/1 – Aqui em São Paulo?
R – Aqui em São Paulo.
P/1 – E senhor José, me fala uma coisa, a família do senhor é de origem italiana?
R – É, meu pai era brasileiro, nasceu em Itu e o pai dele, meu avô era italiano.
P/1 – E o que o senhor se recorda assim do seu avô?
R – Do meu avô nada.
P/1 – Nada?
R – Nada, nada.
P/1 – E o senhor cresceu em São Paulo?
R – Cresci em São Paulo.
P/1 – Que bairro?
R – Bom, eu nasci em São Paulo, bom, eu nasci na Bela Vista, no Bexiga e morei sempre no Jardim América, no Jardim Paulistano, na Rua Grécia.
P/1 – É? Passou a infância ali no Jardim Paulistano?
R – Tudo no Jardim Paulistano.
P/1 – Descreve para a gente como era o Jardim Paulistano quando o senhor era criança?
R – O Jardim Paulistano?
P/1 – É.
R – Bom, eu morava exatamente a quinhentos metros da Faria Lima, hoje é Faria Lima, antigamente era Iguatemi. Tinha o Iguatemi e logo adiante já era brejo, era brejo e o rio era mais para cá. Era mais próximo da Faria Lima atual e era o Rio Pinheiros, se pescava muito no Rio Pinheiros.
P/1 – Nadava?
R – Nadava, por exemplo, quando eu pegava bola no Pinheiro, no Germânia a gente ia ao rio nadar, pulava daquelas árvores enormes que tinha ao lado do rio e mergulhava no rio, era um interior.
P/1 – E a Rua Iguatemi, ela era asfaltada?
R – Não, não era asfaltada, só passava aquelas charretes, uma beleza eram as charretes que ia para Pinheiros e que ligava o Itaim a Pinheiros.
P/2 – E era puxada por cavalos?
R – Cavalos. Uma maravilha e aos domingos tinha passeios de charrete e cada um tinha uma charrete, então cada um empombava mais, enfeitava mais a charrete, o cavalo e para passear no trote fazia o trote.
P/1 – E onde passeava?
R – Na Rua Iguatemi que agora é a Faria Lima.
P/1 – E a Rebouças já existia a Avenida Rebouças?
R – A Rebouças foi feita um pouco depois, mas foi logo em seguida.
P/2 – Que idade a senhora tinha nessa época?
R – Bom, aí é... A Rebouças foi feita, mais ou menos, em 1933, 34 por aí a Rebouças foi quando abriram o buraco lá para passar as tubulações de encanamento que, aliás, até a gente vinha... Eu estudava no Grupo Escolar Alfredo Bresser em Pinheiros, de Pinheiros eu pegava a Rua Iguatemi e ia até em casa e atravessava a Avenida Rebouças. Na Avenida Rebouças com aquele buraco no meio para passar os encanamentos, tinha um colega nosso que o pai era... Tinha uma banca de jogo de bicho, então eles tinham aqueles bloquinhos e aquele que pulasse de um lado ao outro do buraco ganharia um bloquinho, a gente pulava para ganhar o bloquinho (risos).
P/1 – E senhor José, descreve assim como é que era a casa do senhor?
R – Era exatamente igual ao que está agora.
P/2 – Ah é? E como é que ela era?
R – Era um sobradinho de dois pavimentos e não tem nada de especial não, um terreno pequeno, cinco metros de frente por quarenta de fundo.
P/1 – Quarenta de fundo? É um quintal?
R – É um quintal, cinco por quarenta, no lado era um terreno vazio que nós jogávamos tênis, com raquetes de madeira e por coincidência até ainda ontem saiu na televisão aquele antigo jogador, o Armando Vieira, que era o que jogava conosco ali que também era meu colega, era colega de pegador de bola também. Ele foi homenageado agora num campeonato de tênis que está tendo agora, então ele estava lá.
P/1 – E quem era a turma do senhor nessa época que o senhor era criança? Quem eram os meninos que andavam com o senhor?
R – Os meninos?
P/1 – É.
R – Os nomes?
P/1 – É dos amigos?
R – É tinha esse Armando Vieira, tinha o Luis Vieira que era o irmão dele, ah tinha muitos aí, muitos amigos.
P/1 – E assim além de jogar tênis quais eram as outras brincadeiras que vocês tinham?
R – Nessa época de oito anos, nove anos assim?
P/1 – É.
R – Era bater bola de tênis, futebol assim na brincadeira, era jogar taco, jogo de taco também tinha, era brincadeira de molecada mesmo.
P/1 – E me fala uma coisa tinha rádio na casa do senhor? Ouvia-se rádio?
R – Tinha a rádio Galena.
P/1 – O que era a rádio Galena? Explica para a gente?
R – Eu não sei bem explicar, era uma rádio que era movida a Galena e tinha dois ouvidos, então eu e meus irmãos - eu tinha um irmão mais velho que era o Osvaldo, - a gente disputava quem ia ouvir e cada um ficava com um no ouvido.
P/1 – E que programa o senhor gostava de ouvir?
R – Ah, tinha desde Nhô Totico para trás, né?
P/1 – Senhor José, eu queria que o senhor falasse um pouco da escola que o senhor estudava?
R – Escola?
P/1 – É.
R – Bom, eu estudava... Eu fiz o primário no Alfredo Bresser que é aqui na Rua Fernão Dias, em Pinheiros e depois me formei, entrei para o curso de comercial, Contabilidade Comercial aqui na Associação Cristã dos Moços e ali fui até, mais ou menos, o terceiro ano. Quando o colégio deu uma mancada muito grande e acabou parando o curso, fechando a escola, ficando só com ginástica e basquete, vôlei só esporte.
P/1 – ACM? Lá tinha escola também?
R – Tinha na Rua Santo Antônio e então felizmente eu consegui logo uma vaga na Álvares Penteado que era o melhor colégio de Contabilidade.
P/1 – Mas aí era lá no centro?
R – É no centro, sempre no centro.
P/1 – E como o senhor fazia para ir até lá?
R – Eu pegava o bonde Jardim Paulistano na Rua Juquiá, a Rua Juquiá fica na... Era Dona Hipólita agora é Gabriel Monteiro da Silva, aí subia até a Rua Juquiá onde tinha o colégio dos Ingleses e ali pegava o bonde e ia para cidade. A ACM era na Rua Santo Antônio que ainda existe antes da Praça Patriarca.
P/1 – Era Bexiga também?
R – É, era Bexiga, o Álvares Penteado era no Largo São Francisco está lá até hoje lá e lá me formei Contador.
P/2 – O Colégio dos Ingleses que o senhor falou, era o Mackenzie?
R – Não, não era o Mackenzie não, era o Colégio dos Ingleses que ficava na Rua Juquiá.
P/1 – E aí como que o senhor arrumou esse emprego de pegador de bolinhas com oito anos de idade? Como é que...
R – Eu morava ali perto, então a gente ia passar por lá e ficava... Toda a molecada sabia que... Então a gente pegava bolinha, o jogador jogava lá e a gente pegava a bolinha, como fazem ainda hoje.
P/1 – E o que o senhor ganhava?
R – Era remunerado.
P/1 – E o que o senhor fazia com o dinheiro?
R – Para minha mãe.
P/1 – E senhor José, quais eram as festas que tinham, tinha festa de famílias? Tinha procissão?
R - Tinha muita... Procissão era o que mais tinha, né, procissão e carnaval tinha bastante, tem a Igreja São José que fica na Rua Dinamarca e então lá tinha sempre as procissões e minha mãe era muito religiosa, então não faltava uma.
P/1 – E o senhor tinha que ir? As crianças tinham que ir?
R – Tinha que ir.
P/1 – E acompanhava? Era longo o percurso, descreve para gente como é uma procissão, porque a gente quase não vê hoje, né?
R – Procissão era... Ia à frente o estandarte com a imagem e andava-se atrás cada um... Se era noite tinha uma vela e assim...
P/1 – E tinha quermesse depois da procissão?
R – Tinha, tinha quermesse e a quermesse era atrás da Igreja.
P/1 – E o que tinha nas barraquinhas?
R – Ah, o que tem hoje ainda.
P/1 – É?
R – Não mudou nada.
P/1 – E me fala uma coisa, quando o senhor ficou mais moço assim, onde o senhor começou a ir com seus amigos? Tinha bailinho?
R – É, com 14 anos eu comecei a trabalhar na Álvares Penteado, não na Western telegráfico.
P/1 – O que era Western?
R – Era um telégrafo.
P/1 – Ah é? Onde que ficava?
R – Na Rua Quinze de Novembro, o prédio está lá bonito até hoje, na Rua Quinze de Novembro.
P/1 – E o que o senhor fazia lá?
R – Primeiro eu entrei como estafeta, estafeta era entregador de telegrama e apanhador de telegrama.
P/2 – O senhor tinha uniforme, como é que era?
R – Tinha uniforme de estafeta, era igual de militar hoje com quepe e tudo.
P/2 – E aí o senhor ia a pé entregando os telegramas?
R – Entregava os telegramas a pé ou de bonde dependia de onde que era, né? Por exemplo, tem uma passagem interessante o Matarazzo, por exemplo, que era indústria fantástica...
P/2 – O Conde Matarazzo?
R – É, o Conde Matarazzo. Quando ele fez aquele prédio que hoje é prefeitura, atrás é a Rua Falcão Filho, tinha até uma casa de flores, vendia flores na Rua Falcão Filho, como ele tinha muitos telegramas e telegramas sempre muito importantes e ele era um cliente muito bom da Western. Eu ficava como plantonista lá, ficava lá, tinha um telegrama, me chamavam eu corria lá em cima, pegava o telegrama e ia levar para a Western para passar para outro lugar, onde ele queria mandar.
P/2 – E o senhor se lembra como que era o Conde assim? O senhor chegou a vê-lo?
R – Chegava a ver sim.
P/2 – Descreve para gente como que ele era?
R – Não, não era um velho comum qualquer sem...
P/2 – Mas ele era simpático?
R – Era, era sim, bom... O homem para dominar, controlar todas as indústrias que tinha, ele não podia se muito sorridente, sempre tinha aquele problema de cima, mas foi um cara que o Brasil deve muito a ele.
P/2 – É?
R – O que ele fez aqui os politiquinhos não vão fazer.
P/2 – Conta para gente o que o senhor acha que ele fez de importante? Para gente que é mais novo e que só leu nos livros?
R – As grandes indústrias, a metalúrgicas, as fiações. A Mooca era tudo Indústrias Matarazzo. Cereais, maravilha, ele era um espetáculo de homem, quer dizer, eu o conhecia, era ele lá em cima e eu aqui em baixo é bem devido, não tinha...
P/2 – Mas eram ambos de origem italiana?
R – Aliás, ele era italiano mesmo e eu descendente.
P/1 – Senhor José, eu gostaria que o senhor falasse um pouco, o senhor foi escoteiro também?
R – Fui, fui escoteiro.
P/1 – Conta para gente como que eram as atividades dos escoteiros porque hoje mudou muito, né?
R – Não, escoteiro, o escotismo que eu fazia era aqui em Pinheiros também e então no domingo saía à noite tinha aquelas pequenas reuniões com os chefes e no domingo a gente saía para a mata, então, por exemplo, eu me lembro bem de uma passagem até foi interessante porque tinha... Foi uma filmadora, foi filmar cinema mesmo, filmar e coube a mim subir numa árvore, essa árvore não tinha mais de um metro e meio, eu subia na árvore e quebrava um galhinho que para mim era um palito, foi filmado só que no cinema, quando passou no cinema que era o Cine Pinheiros na Rua Teodoro Sampaio apareceu eles fazendo aquele sistema de filmagem parecia que eu estava lá em cima, quebrando um bruto de um galhão e era um metro e meio, dois metros de altura e era um galhinho pequenino que eu estava quebrando lá, então foi minha mãe, foi todo o povo lá do Jardim Paulistano foram todos assistirem o filme e ver lá.
P/1 – O grande escoteiro?
R – É o grande escoteiro.
P/1 – E senhor José, quais eram as atividades dos escoteiros? Acampar?
R - Acampava, tinha barraca.
P/1 – E onde vocês acampavam?
R – Tinha diversos lugares, Sacomã, tinha diversos lugares aqui pelo interior perto do Pico de Jaraguá era muito, não tinha muitos lugares.
P/1 – Tudo perto de São Paulo?
R – É, tudo perto de São Paulo.
P/1 – E me fala uma coisa, aprendia a fazer nós? Como é que é isso?
R – Sim.
P/1 – Conta para nós?
R – Tinha a clave do ar, tinha o laço que se fazia o laço e tinha a clave do ar, aquele distintivo do escoteiro.
P/1 – E me fala uma coisa qual era o lema do escoteiro?
R – Alerta sempre alerta, escoteiro pro Brasil é alerta...
P/1 – E tem o gesto que fazia?
R – Tem, tem o gesto.
P/1 – Qual que é?
R – É continência mesmo.
P/1 – E me descreve uma coisa, como que era o uniforme do senhor de escoteiro?
R – Era verdinho, verde meio apagado.
P/1 – Então o senhor passava a semana inteira de uniforme como estafeta e como escoteiro?
R – Não, isso foi antes, o escotismo foi antes da Western.
P/1 – Que bacana. E depois o senhor também trabalhou no Citibank?
R – Trabalhei no Citibank.
P/1 – O que o senhor fazia no Citibank?
R – No Citibank eu entrei lá como funcionário normal e depois passei para chefe das contas elementar e suplementar, era uma conta, sistema conta popular que era na Praça Antônio Prado, né, o Citibank, então tinha conta elementar e suplementar e eu era encarregado desse setor aí.
P/1 – Aí o senhor já usava o conhecimento do Curso de Contabilidade?
R – Já, eu já fazia o curso de Contabilidade foi... Em 1950 se eu me lembro essa data porque foi a data que eu casei e a data que eu mudei de emprego também, saí do Citibank e passei para o curtume.
P/1 – E por que essa mudança radical assim sair e ir para o curtume?
R – Porque tinha um diretor do... O diretor presidente do Curtume ele era cliente do Citibank, ele sempre quis me levar para o Curtume, vendo alguma coisa que ele imaginava que eu era, ele falou que queria me levar de qualquer maneira, acabou um dia me convencendo e eu fui graças ao Julio (Jortimam?) que era o diretor do Curtume.
P/1 – E o que mudou na atividade profissional do senhor?
R – Bom maior salário, já deu bem para arcar com o casamento.
P/1 – Ah, por isso que movimentou o casamento?
R – Ah, melhorou tudo, melhorou tudo (risos).
P/1 – E me fala como o senhor conheceu a Dona Graciela?
R – Ela trabalhava nas Lojas Americanas e a Loja Americana tinha conta no Citibank, então a Graciela que ia fazer os depósitos e retirada para as Lojas Americanas e lá o contato, eu dava recadinho, ela dava recadinho, mandava recadinho, por exemplo, por uma colega dela, então até que ela concordou em namorar comigo, está bom.
P/1 – E senhor José, como é que era o namoro daquela época? Aonde vocês iam? Podia ir à casa dela? O pai dela era muito bravo?
R – Não, ela era órfã de pai, mas a gente saía... Ela morava na Casa Verde então a gente se encontrava no Largo do Paissandu, pegava o bonde e ia para Casa Verde.
P/1 – E vocês iam ao cinema?
R – Sim, íamos ao cinema, cinema era a única coisa que a gente fazia.
P/1 – O que o senhor gostava de cinema assim? Que cinemas que o senhor frequentava?
R – Eu frequentava um muito bom, tinha o Cine Avenida que eram os caubóis e tinha o Largo do Paissandu que era o cinema de filmes melhores ali da Metro.
P/1 – O senhor lembra de algum filme de caubói que o senhor gostou muito?
R – Eu assisti muitos, não me lembro, mas todos eram bons.
P/1 – John Wayne?
R – É, Tom Mix e cavalo Rex e o Rintintin, era uma maravilha, Shirley Templo, Mike Runner que era maravilha, filme maravilhoso, era o menino de ouro.
P/1 – E aqueles filmes de Fred Astaire, assim mais de dança o senhor gostava?
R – Não, não nunca fui muito disso não, sempre fui muito bruto.
P/2 – Aonde era o cinema na Teodoro Sampaio, em Pinheiros?
R – Subindo a Rua Teodoro Sampaio vindo para a Faria Lima, entra na Teodoro é logo na primeira travessa.
P/2 – Na própria Rua Teodoro?
R – É, na própria Rua Teodoro, o Cine Pinheiros.
P/2 – O senhor ia até lá também?
R – Ia até lá, saía do Jardim Paulistano e íamos até lá.
P/2 – A Hípica era aqui também? Tinha uma hípica aqui em Pinheiros?
R – Não, a Hípica que existia era a Hípica que existe ainda hoje que fica justamente perto da Guaraiúva no Brooklin e a Hípica da Cidade Jardim e essa permanece.
P/2 – Essa tem até hoje, né? Que é o Jockey hoje.
R – É exatamente é o Jockey Club e a Hípica fica na Rua Guaraiúva.
P/1 – Senhor José, deixa eu te perguntar uma coisa, o senhor se lembra quando o Rio Pinheiros foi retificado? O senhor lembra dessas obras?
R – Sim, lembro.
P/1 – Conta para gente como foi isso? Como que o senhor viu essa mudança na cidade?
R – Eles tinham que empurrar o rio. Então abriram um novo rio mais para dentro da Faria Lima e aterraram aquele outro, foi um trabalho assim... Mudança do Rio Pinheiros foi uma obra... O Rio Pinheiros naquela época dava, por incrível que pareça, até camarão.
P/2 – E aí depois que eles aterraram não deu mais nada, deu?
R – Nada, nada mais e pelo contrário. Hoje não, há muitos anos já, não só o Rio Pinheiros como todos os rios de São Paulo, até o Rio Sorocaba, são todos poluídos.
P/2 – Não, eu sei, mas o que eu estou tentando entender é o seguinte: antes o Rio Pinheiros dava camarão aí eles fizeram um aterro, mudaram o rio de lugar e quando ficou pronto vocês conseguiram ir nadar? Voltou...
R – Não, não aí parou mesmo o rio, acabou tudo, ficou muito lodo, muita sujeira, muita coisa, depois também mexeram muito com canalizações, esgoto e acabou poluindo tudo, né? Então ninguém mais... Eu nunca mais fui ver onde ficou o rio não.
P/1 – E senhor José, aí o senhor trabalhou no Curtume? Primeiro qual era o nome do primeiro Curtume?
R – Era Franco Brasileiro.
P/1 – Era Franco Brasileiro? Que era de propriedade desse senhor...
R – Júlio (Jortiman?), dos franceses.
P/1 – Dos franceses? E depois o senhor trabalhou no Curtume Campineira?
R – Campineira.
P/1 – Mas era aqui em São Paulo?
R – Em Campinas.
P/1 – Mas o senhor mudou para Campinas?
R – Não, eu representava em são Paulo.
P/1 – E qual era a atividade do senhor?
R – Era venda.
P/1 – E o que o senhor fazia?
R – No Franco Brasileiro eu era diretor de vendas, então eu corria o Brasil todo, agora na Campineira eu era apenas o representante de São Paulo.
P/1 – E para quem os Curtumes vendiam?
R – Para os fabricantes de sapato, para as casas de couro.
P/1 – Foi dai que veio a ideia de montar loja?
R – É daí que veio a ideia de montar as lojas, exatamente, já estava visitando as fábricas e daí leva uns pares de sapatos, começa assim e começou.
P/1 – Então conta para gente como é que foi montar loja? Qual o nome da loja? Onde ela foi montada?
R – A loja foi montada na minha própria residência, na Rua Guaraiúva, a Graciela que tomava conta, eu trabalhava na rua e ela ficava na loja, então eu trazia sapatos ela vendia lá, começou assim até que ficamos depois com quatro lojas e fechamos todas.
P/1 – E onde eram as outras lojas?
R – Essa Guariúva era a matriz, tinha a no Shopping Tamboré, um prédio ali no Alphaville e o Shopping Butantã.
P/1 – Como é que chamava a loja? O nome da loja?
R – Criação Roselide.
P/1 – Roselide? E de onde veio o nome?
R – O nome da minha filha.
P/1 – E me fala uma coisa, o senhor casou, e vocês tiveram lua de mel? Como foi isso?
R – Sim, tivemos lua de mel normal em Campos de Jordão. Eu tenho até notas fiscais lá em casa até hoje guardado.
P/1 – É mesmo? Que beleza. E onde vocês passearam? Em Campos onde vocês foram?
R – Ah, em Campos, lá em Campos naquela época tinha muito pouco, tinha a Abernéssia que tinha os hospitais dos tuberculosos e tinha a Abernéssia. Era uma cidade pequena, era uma coisa pequena, mas era para o ar era... Então um passeio muito bom, agradável.
P/2 – E não tinha aquelas casas em formato suíço lá em Campos?
R – Não tinha não, a única coisa que tinha lá que se comentava era uma casa que o Governador Adhemar de Barros construiu lá, que era o... Dizem que era uma casa monumental, eu não me lembro bem dela, era uma... Que ele construiu lá o Adhemar de Barros, era o cartão de visita de Campos de Jordão.
P/2 – E quantos filhos o senhor teve?
R – Três filhos.
P/1 – Qual é o nome deles?
R – José Carlos, José Luís que é o pai da Carol e a Roselide que é a minha filha.
P/1 – Que deu origem ao nome...
R – Deu origem ao nome da loja, Roselide.
P/1 – E me fala uma coisa... Eu queria que o senhor falasse um pouco mais de esportes que o senhor conheceu bastante, porque o senhor estava vendo a foto de Éder Jofre e eu queria que o senhor falasse mais sobre essa questão?
R – A gente pode... Eu fiz de tudo um pouco e nunca fui campeão de nada, mas fiz de tudo um pouco, então se me perguntarem desde o jogo de tênis, qualquer jogo infantil até o boxe eu fiz.
P/1 – O senhor fez boxe também? Aonde que o senhor fez?
R – Fiz no Atlas Clube que era o que... O Éder Jofre, por exemplo, o pai dele o Kid Jofre era o técnico do São Paulo, tinha uma academia na Rua Senador Feijó, na Rua Santa Efigênia, então ele disputava pelo São Paulo e eu disputava pelo Atlas e na... Quando teve a TV Tupi fez lá uma rodada de boxe onde lutou Éder Jofre e o... Ali tinha Kaled Curi, tinha Ralph Zumbano.
P/1 – Zumbano era da família de Éder Jofre também, não é?
R – É da família do Eder Jofre, exatamente, é sim que a família Zumbano que também trouxe a luta livre, como é que diz a marmelada para o Brasil (risos).
P/1 – Por que marmelada?
R – Porque era luta combinada e fugia do boxe e o boxe na ocasião era uma coisa sagrada tanto é que no Brasil nós tínhamos poucos lutadores, o único lutador que tinha aqui era um português, o Antônio Soares. Uma vez ou outra aparecia um argentino para lutar com o Soares e como não havia luta e o Soares precisava de luta para ganhar inclusive, para receber alguma coisa, foi feita uma luta boxe contra jiu-jitsu. Então lutou o Antônio Soares contra o Ono que era do jiu-jitsu, bom não precisa nem falar antes do Antônio Soares subir no ringue o japonês já tinha dado pulo lá e já tinha acabado a luta (risos).
P/1 – E futebol, o senhor também jogou futebol?
R – Disputei futebol muito desde a várzea, só várzea, nada de profissional, nada, só várzea.
P/1 – O que é futebol de várzea? Define para gente?
R – Várzea é de bairro, do Jardim Paulistano, por exemplo, tinha o Jardim Paulistano, o Jardim Europa, tinha na Faria Lima onde é o Morumbi, tinha o Ítalo Lusitano, aqui nesse bairro tinha o Treze de Maio, tinha o Operário, tinha o Butantã na Cidade Jardim também.
P/1 – E o senhor pertencia a qual time?
R – Eu era do Jardim Europa.
P/1 – E nessa época já tinha o futebol profissional?
R – Tinha, tanto é que no Jardim Europa tinha lá diversas pessoas, inclusive um lá chamado Afonsinho que o Palestra Itália os diretores foram lá para contratar ele e ele se escondeu em baixo da cama para não ir.
P/1 – Por quê?
R – O profissionalismo antigo não era o de hoje, hoje espera até na porta para pegar, né, antigamente ele se escondia debaixo da cama para o pai não convencer ele a ir jogar no profissional.
P/1 – E o senhor torcia para o Palestra Itália?
R – Não, eu fui sempre Corinthians.
P/1 – Corinthians? Mas por que O Corinthians?
R – Não sei. Por quê? Não há explicação, eu acho que é temperamento, não tem nada a ver, porque o Palestra Itália era de italianos, então eu também deveria ser de italianos, mas acontece que o Corinthians também foi fundado por italianos também.
P/1 – Ah é?
R – Era no Bom Retiro tinha os italianos, né, então aí esse como todo italiano gosta de uma briguinha e teve a briguinha e eles separaram, então um grupo foi e montou o Corinthians e outro ficou com o Palestra Itália.
P/1 – Olha, só que ótimo, e aí o senhor ficou do lado do Corinthians?
R – Fiquei do lado do Corinthians.
P/1 – E o senhor torce até hoje?
R – Até hoje.
P/1 – E o que o senhor acha, como é que está o time hoje?
R – Estão contratando um monte de medalhões aí que eu não sei o que vai dar no final (risos) estou vendo que tem muito dinheiro rodando (risos).
P /1 – Agora me diz, o senhor jogou também pingue-pongue?
R – Mas isso só como recreação, no escotismo mesmo e no Citibank a gente fazia aqueles piquenique e nos piqueniques montavam aquelas bancas de ping pong e jogava-se, mas só como recreação.
P/2 – E onde vocês faziam piquenique do Citibank?
R – Citibank? Era nos bairros, tudo era nos bairros não tinha... Sacomã era mato, Ipiranga e não sei o que lá era tudo mato Cidade Jardim...
P/2 – Mas aí levava comida? Iam os moços? As moças?
R – Levava comida, levava lanche.
P/1 – Uma bola para pingue-pongue.
R – Ah, isso não faltava, pingue-pongue tinha sempre também.
P/1 – E as moças o que elas ficavam fazendo?
R – Também jogando pingue-pongue ou assistindo os jogos, por exemplo, no Citibank a gente fazia também jogos de futebol na Liberdade, ali na Rua da Liberdade onde é a Nove de Julho hoje, então tem fotografias até hoje da gente jogando bola e as moças lá assistiam, então deitavam no gramado lá para assistir os jogos.
P/1 – Ah, que ótimo. Muito bom.
R – Tudo de graça, nada para se pagar.
P/1 – E o senhor lutou na TV Tupi?
R – É ali... Não na TV Tupi...
P/1 – Quem que foi?
R - Na TV Tupi lutou José Nolasco Lopes contra o Pedro Galasso. Porque o Pedro Galasso é um lutador que acho que ainda vive lá na Bela Vista, no Bixiga e o José Nolasco Lopes era o técnico do Atlas, ele era técnico e lutador. Então nesse dia como ele ia lutar eu tive que subir como segundo como técnico dele no ringue e foi filmado, foi tudo na TV Tupi. Depois a Tupi acabou e as fitas devem estar enfurnadas em algum canto.
P/1 – Ah, e o senhor fez Tiro de Guerra também.
R – Tiro de Guerra, fiz.
P/1 – Como que era o tiro de guerra?
R – Tiro de Guerra era o acampamento, marchava-se toda noite na Avenida Nove de Julho porque o meu Tiro de Guerra era na Rua Santo Antônio. Na Nove de Julho era mato também, então o Sargento que gostava de aparecer para as meninas que moravam lá perto mandava a gente rastejar na Nove de Julho, corrida e fazia aqueles... Nos domingos tinha os acampamentos e domingo a gente saía, por exemplo, para fazer treinamento de tiro era no Imirim, lá no Santana e a gente se reunia seis horas da manhã num bar lá na Rua Alfredo Pujol no Imirim e ia a pé em marcha até o Imirim onde tinha o estande de Tiro de Guerra para treinamento de tiro e em outras ocasiões a gente ia ao Sacomã mesmo para rastejar lá no meio do mato e até hoje ainda tem marca aqui de botar a mão assim e aranha paft.
P/2 – É mesmo?
R – É, uma aranha me pegou e me levaram lá para farmácia que tinha na Praça da Sé.
P/2 – Inflamou? Ficou tudo inchado?
R – Inflamou.
P/1 – E senhor José, a época que o senhor fez o Tiro, que época que era mais ou menos? 40?
R – É, acho que era 40 sim 39, 40 por aí, é isso mesmo.
P/1 – E tinha-se a possibilidade do senhor ir lutar na guerra, na Segunda Guerra Mundial?
R – Não, ali não, porque a guerra mundial foi em 41, o Brasil entrou mesmo em 41, então não fui nem convocado nem nada, eu tinha ali de 24 para 41 dá 17 anos, 17 anos não era chamado. Depois o pelotão do Brasil que foi para lá já foram mais soldados mesmo, os que já estavam incorporados no Exército mesmo foram para lá, mas nem sei o que foram fazer lá. Subiram lá pegaram o como é que chama? Na Itália lá...
P/1 – Era. E senhor José, o senhor lembra da cidade dessa época da Guerra? Mudou os hábitos das pessoas aqui?
R – Da Guerra? Não, tinha mais cavalaria aquele tumulto que ainda se vê hoje quando tem uma passeata qualquer, mas não tinha nada de especial não.
P/1 – O senhor era criança quando teve a Revolução de 32?
R – Sim, eu tinha oito anos.
P/1 – O senhor se recorda de alguma coisa da Revolução?
R – Não, só me lembro que me falam que a minha mãe me carregava para ir lá para a Igreja lá para se refugiar que também tinha... O regime aqui era meio bravo, tinha o tempo de Getúlio Vargas ainda na ditadura, né? Então tinha a cavalaria e você não podia andar muito pela rua não.
P/1 – Era proibido?
R – Não proibido, não, a cavalaria não respeitava ninguém, né?
P/1 – Passava por cima.
R – É, passava por cima.
P/1 – Aqui está falando que o senhor nunca... Recebeu um convite? Essa é a razão do dia para quem não tinha só vinte e quatro horas? O que o senhor escreveu aqui?
R – Sei lá, eu não sei só peguei um rascunho que tinha lá...
P/1 – É o que está em vermelho aqui, eu queria que o senhor falasse um pouquinho disso?
R – Bom, o dia tem vinte e quatro horas para eu fazer, trabalhar, estudar, etc. Tiro de Guerra ou escoteiro e praticar todos os esportes num dia de vinte e quatro horas é meio difícil, mas é que eu nunca recusei um convite. Tem um jogo lá eu ia lá, eu ia num vapt vupt, porque, além disso, aí no tempo de Citibank mesmo eu trabalhava... Eu trabalhava no Citibank, estudava a noite e depois das dez horas da noite eu ainda saía e ia ao Clube Harmonia trabalhar.
P/1 – Trabalhar de quê?
R – Como garçom, como ajudante lá para pegar um dinheirinho.
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