Projeto Minha História, Sua História, Nossa História
Depoimento de Maria Rosenaide Oliveira Araújo
Entrevistada por Marcia Trezza e Tereza Farias
Rio Branco, 27/04/2018
Realização Museu da Pessoa
HTC_HV16_Maria Rosenaide Oliveira Araújo
Transcrito por Mariana Wolff
Revisado e editado por Paulo Rodrigues Ferreira
P/1 – Rose, querida, onde você nasceu? Fale o seu nome completo e a data.
R – Eu nasci em Cruzeiro do Sul, Acre. Meu nome completo é Maria Rosenaide Oliveira Araújo e…
P/1 – Em que dia você nasceu?
R – Eu nasci no dia 13 de junho de 1998.
P/1 – Você morou muito tempo lá ou depois você mudou para cá, já?
R – Não, lá eu morei até os meus dois anos e depois eu mudei para cá.
P/1 – Você lembra de alguma coisa de quando você era bem pequenininha, lá?
R – Assim... Eu só lembro de que quando eu tive que vir para Rio Branco... Daí a gente morava numa casinha que para passar... Na rua tinha um corregozinho e como era muito pequeno, daí só dava para passar um por um. Aí eu escorreguei, cai bem na hora de ir para o aeroporto para vir para Rio Branco e a minha mãe ficou muito chateada com isso.
P/1 – Aí teve que trocar a roupa…
R – Tive que trocar a roupa às pressas.
P/1 – Tudo na mala, já…
R – Era (risos).
P/1 – Quantos irmãos você tem?
R – Três.
P/1 – Três?
R – Só da minha mãe são três (risos).
P/1 – Qual o nome da sua mãe? O nome todo dela?
R – Maria Aparecida Oliveira.
P/1 – E do seu pai?
R – Meu pai é Rosenato da Silva Araújo.
P/1 – E seu pai lá em Cruzeiro do Sul, você sabe com que ele trabalhava?
R – Não.
P/1 – E depois, quando ele veio para Rio Branco?
R – Eu não sei porque eu não tenho mais muito contato com ele, porque os meus pais são separados.
P/1 – Sei, sei. E quando você veio para cá, você veio com irmãos ou vocês vieram só?
R – Vim com irmãos.
P/1 – Todos já?
R – Não, viemos eu e a minha irmã, aí depois a minha mãe teve os outros dois.
P/1 – E quando você chegou aqui em Rio Branco, você tem alguma lembrança, assim, da chegada aqui?
R – Tenho, que a gente foi para a casa da minha tia. Então assim... Tenho do meu primo, a gente jogando videogame, brincando.
P/1 – Vocês, quando estavam na casa dessa sua tia, você disse que lembra de você brincando com o seu primo. Assim... De qual brincadeira você mais gostava quando você era pequena?
R – Eu sempre gostei muito de correr, de jogar bola, de jogar videogame. Hoje em dia eu não sei muito não, mas… (risos)
P/1 – Nessa época, você era boa de videogame?
R – Era.
P/1 – Você lembra de algum jogo, assim, que você curtia bastante?
R – Do videogame?
P/1 – É.
R – Eu gostava muito de jogar Super Mário (risos).
P/1 – E você era boa? Ganhava de todo mundo? Não, não era tão boa?
R – Não era tão boa, não.
P/1 – E depois, vocês ficaram morando sempre com a sua tia ou vocês mudaram?
R – Não, a gente mudou. A gente mudou várias vezes. Às vezes eu até brinco que a gente morou Rio Branco inteiro (risos), mas hoje em dia eu continuo morando com a minha tia, minha mãe mora com os meus irmãos.
P/1 – Sei. E quando vocês foram mudando assim, tem uma casa de que você gostou mais?
R – Tem. Tem uma casa, que foi a penúltima casa em que a gente morou, que a gente morou nela duas vezes, porque a gente sempre morava alugado. Hoje já é própria, mas eu sempre fiz amizade com todo mundo, sempre fui de fazer amizade e aí eu tinha bastante amigos na rua, então a gente gostava de jogar taque ball, brincar de bola, então essa foi… Digamos que foi a melhor, não é?
P/1 – A melhor… A casa de que você gostou mais?
R – Isso, foi a casa de que eu gostei mais.
P/1 – E Rose, você disse que brincava bastante na rua. Assim... Tem alguma história de quando você era… Nessa época, assim, que aconteceu, que até hoje você lembra?
R – Eu lembro que a gente gostava muito de brincar de se esconder e tinha uma casa que todo mundo… Era uma casa abandonada e todo mundo dizia que tinha fantasma e essas coisas. E eu nunca fui de ter muito medo, e aí a gente gostava muito de se esconder lá dentro e todo mundo ficava com medo, a gente saía correndo, os meninos faziam umas ciladas que era para a gente ter medo, não é? E saía todo mundo correndo.
P/1 – Muito bom. E quando você foi crescendo assim, ficando adolescente, o que vocês faziam? Você e os seus amigos?
R – A gente gostava… Assim... Eu sempre gostei muito de brincar, não é? Até antes do momento de saber, realmente, como eram os estudos, a vida. Então, eu gostava muito de jogar vôlei com os meus amigos, contar histórias, tipo, cada um contando um pouco de quando era criança, de algumas coisas que tinham acontecido na vida…
P/1 – Vocês ficavam conversando assim, entre vocês?
R – Isso.
P/1 – E você falou que depois descobriu o que era escola, estudo. Você lembra do primeiro dia assim, numa escola, quando você chegou na escola, assim?
R – Foi quando eu fui para o ensino médio, não é? Porque quando a gente saiu do ensino fundamental, que é mais brincadeira e tal, os professores, eles relevam mais, então, quando eu cheguei no ensino médio foi aquele baque, tipo: “Nossa, caramba, eu já estou aqui, já estou chegando na reta final”. Então assim... Agora tem que focar, saber qual é a profissão que eu vou querer exercer, como que vai ser daqui para a frente, essas coisas.
P/1 – Rose, e vamos falar um pouquinho ainda da escola, do ensino fundamental que você falou que os professores relevavam mais, assim. Que lembranças você tem de quando você era bem pequena, na escola? Como era essa escola?
R – Era uma escola bem legal.
P/1 – Como era o seu dia a dia na escola?
R – A gente chegava… Eu gostava mais da parte de Educação Física, sempre gostei mais da parte de esportes. Então, a gente ia para a aula, aí a gente estudava as matérias que tinham no dia; no intervalo, a gente gostava muito de conversar, de saber como foi o dia de cada um, e quando não tinha professor a gente ia jogar bola, brincar.
P/1 – Rose, e teve uma professora na escola, ainda no ensino fundamental, que marcou bastante você? Que foi uma pessoa de quem você lembra?
R – Tem, foi o professor Moacir.
P/1 – Por que ele te marcou?
R – Porque ele era o professor de Português, ele era daqueles professores, digamos, um pouco rígido. Então, quando os professores são assim eles marcam mais a nossa vida porque eles querem que a gente faça o certo, porque eles já passaram por aquilo e eles sabem como vai ser mais na frente, não é? Então ele sempre fazia tudo, digamos, ao pé da letra.
P/1 – E você ficava assim… Ele era rígido, mas isso para você... Como você se sentia?
R – Assim... Quando a gente é pequeno, a gente não entende muito o porquê de eles serem assim. E hoje em dia eu já entendo. Porque ele queria sempre o nosso melhor, queria estar ensinando a gente para um caminho melhor, não é? Como seria mais à frente em questão... Depois, quando a gente fosse para o ensino fundamental, mercado de trabalho, tudo mais.
P/1 – E tinha uma matéria de que você mais gostava?
R – Sempre gostei mais de Educação Física e de Artes.
P/1 – E Artes, você lembra do que fazia nas aulas de Artes?
R – A gente desenhava muito, a gente fazia teatro, a gente cantava.
P/1 – Teve alguma peça que você lembra de ter feito? Uma apresentação de teatro…? Isso ainda lá no ensino fundamental.
R – Assim... Lá do ensino fundamental, em relação à Arte, eu lembro de um desfile que a gente teve (risos). A gente teve um desfile onde participou toda a escola, não é? Aí foi bem legal.
P/1 – Desfile assim dentro da escola? Cada classe desfilava?
R – Isso.
P/1 – E você desfilou como? De quê?
R – Eram escolhidos vários alunos para desfilar, não é? Se eu não me engano, eu desfilei de índia (risos).
P/1 – Bacana. Deve ter ficado linda essa índia. E você disse que conversava bastante entre amigos. Você tem amigos daquela época? Você lembra?
R – Tenho, porque a gente sempre… Não só eu, como outras meninas, a gente gostava de jogar muito. Então hoje em dia a gente continua se falando, mas não como a gente se falava antes. A amizade continua, mas não com o mesmo vínculo.
P/1 – Você jogava vôlei que você falou?
R – Jogava futebol.
P/1 – Futebol?
R – É.
P/1 – Que bacana! Como é que era? Sempre na escola ou fora da escola?
R – É, a gente sempre jogava na Educação Física e, às vezes, a gente treinava para jogar contra outras escolas do estado do Acre.
P/1 – Teve um jogo assim que foi inesquecível?
R – Teve. Que a gente jogou contra a maioria das escolas, a gente foi para a final. Só que, na final, a gente perdeu (risos).
P/1 – Teve algum gol que você marcou? Ou você ficava na defesa?
R – Eu era mais zagueira, ficava na defesa.
P/1 – Mas mesmo assim marcou algum gol?
R – Às vezes marcava, não é? Era muito difícil porque quando a gente está lá na linha, a gente não pode passar para frente.
P/1 – É, não pode ficar no ataque, não é?
R – Isso.
P/1 – Rose, e teve um jogo, assim, muito disputado que vocês…
R – Foi esse que a gente perdeu na final (risos).
P/1 – Mas ficaram em segundo lugar no campeonato?
R – Isso, ficamos em segundo lugar.
P/1 – E você disse que quando entrou no ensino médio foi aquele… Como é que você falou?
R – Baque (risos), impacto.
P/1 – Foi aquele baque, não é? Você disse agora: “O que eu vou ser? O que eu vou fazer?” Mas conta um pouco mais da sua sensação, o que você pensava na época do professor, fale um pouco desse momento de mudança.
R – Assim... Antes eu pensava: “Vai ser um pouco difícil, mas não vai ser tanto, vai ser mais ou menos a mesma coisa de quando era no ensino fundamental”. E aí, quando eu cheguei lá eu vi que as coisas eram bem diferentes porque tinha novas matérias, a gente tinha que aprender outras metodologias, outros modos de ensino. Cada professor tinha o seu jeito de trabalhar, não é?
P/1 – E você mudou de escola também ou foi só mudança de…?
R – Isso, eu mudei. Eu estudei no regular e aí, quando eu mudei para outra escola foi quando eu estudei no Telecurso.
P/1 – Mas no ensino médio você ainda estava na mesma escola do ensino fundamental?
R – Não.
P/1 – Também mudou de escola?
R – Isso, porque onde eu estudava era só ensino fundamental. E aí, para ir para o ensino médio, tinha que trocar de escola, que foi quando eu estudei no CERB, que eu fiz o meu regular e depois fui fazer o Telecurso na Escola Glória Perez.
P/1 – Sim, e ainda no… Vou falar um pouquinho ainda do ensino médio, ainda na escola que não era o Telecurso. Você disse que cada professor ensinava uma matéria, não é?
R – Isso.
P/1 – E qual era a dificuldade maior que você sentia nesse momento ainda?
R – Porque eram várias matérias juntas, ao mesmo tempo, então era... Se eu não me engano, a gente tinha quarenta e cinco minutos para cada matéria e aí, tinha que fazer as atividades. No outro dia tinha que entregar muitos trabalhos, então, era um pouco mais puxado.
P/1 – Muitos trabalhos, trabalhos de todas essas matérias?
R – Isso.
P/1 – E teve uma matéria que teve uma maior dificuldade?
R – Eu sempre tive mais dificuldade na questão da Matemática. Matemática, Química, Física, sempre tive mais dificuldade nessas matérias.
P/1 – Mas você consegue dizer para a gente, Rose, o que naquele momento das aulas de Matemática, Física, assim... Por que era tão difícil?
R – Porque, em relação a números - somar, dividir e tal - eu sempre tive muita dificuldade com isso. Então, para mim, era bem mais difícil aprender cada regra, não é?
P/1 – Cada regra do quê?
R – Cada regra da Matemática, da Física... Quando entendia uma, eu não entendia a outra (risos).
P/1 – E com os colegas, como era a convivência nessa época?
R – Eu sempre fui muito de conviver bem com todos os colegas, sempre fui de fazer muitas amizades, sempre gostei muito de conversar com todo mundo, nunca fui de não conversar, de não gostar. Sempre gostei de conversar com todos.
P/1 – E depois que você disse que foi para o Telecurso?
R – Isso.
P/1 – Por que você mudou para o Telecurso? Como foi essa mudança?
R – Foi porque, como para mim foi um pouco mais difícil... Eu repeti o ano, e aí eu tive que… Minha mãe queria me trocar de escola porque eu estudava no centro e aí a escola de bairro era mais perto da minha casa. E para vir para o centro, eu tinha que pagar ônibus e tudo. E minha mãe foi procurar vaga para mim perto de casa, sendo que quando a gente chegou lá, a diretora falou que tinha aberto o Telecurso na escola e explicou como seria. Que seria em pouco tempo, que eu iria terminar... Até por causa da minha idade, porque eu tinha repetido um ano... E aí, a minha mãe achou que seria melhor para mim, e foi melhor (risos).
P/1 – Você repetiu o primeiro ano?
R – Isso.
P/1 – Uma vez? Você repetiu uma vez só?
R – Isso, só uma vez.
P/1 – E aí, vamos começar a pintada do Telecurso. Você lembra de quando você chegou na sala, como foram os primeiros dias? Descreva para a gente.
R – Para mim foi um pouco diferente porque eu fiquei numa sala onde eu conhecia, digamos, a metade dos alunos. Como é escola de bairro, então a gente conhece quase todo mundo, não é? E aí, eu já tinha um vínculo com a maioria dos alunos e fiquei, tipo… Foi diferente, porque é diferente como eles trabalham, que é por módulos. E cada dia é uma matéria, então é bem melhor de se estudar.
P/1 – Não vamos ter pressa, porque eu quero saber os detalhes (risos). Quando você chegou você disse que já conhecia bastante alunos, que eram seus amigos do bairro, não é? Você lembra da primeira semana? O que o professor fazia? Como era esse momento?
R – Primeira semana eles começaram se apresentando, apresentando o projeto, falando como era o Telecurso, como seria trabalhado. E aí a gente foi pegando aos poucos.
P/1 – Teve alguma atividade do começo de que você gostou muito?
R – Sim, teve o Memorial, de que eu gostei muito. A questão de dividir quem ia ficar com o quê em relação a trazer dinâmicas, trazer mensagens para colocar no Memorial.
P/1 – Fale um pouquinho como é esse Memorial.
R – O Memorial, a gente vai se expressar nele, falar tudo que aprendeu durante a aula, falar se teve algum questionamento sobre o professor, sobre a aula, o que você gostou, o que não gostou, como está sendo para você, digamos, uma palavra chave que fale como foi o seu dia.
P/1 – Você escrevia sempre no Memorial?
R – Sempre. Eu gostava muito de escrever.
P/1 – Ele foi, assim, por um período, ou ele foi o tempo todo do curso?
R – Foi o tempo todo do curso.
P/1 – Conte um pouco de um momento. Você lembra de um momento em que você pegou aquele Memorial e: “Vou escrever isso aqui”. Você lembra?
R – Ah, eu lembro. Toda vez que eu tinha vontade de expressar alguma coisa e não queria dizer para alguém, eu gostava de escrever. Porque os professores, eles sempre viam os Memoriais, então eles liam cada coisa, davam visto. Se a gente estivesse passando por algum problema, que a gente escrevesse, eles iriam tentar ajudar a gente.
P/1 – Então você o usou…
R – Isso. Eu o usei para me expressar, para falar sobre as aulas, falar de de cada professor, dar argumentos.
P/1 – E se expressar, não é? Como você falou?
R – Isso.
P/1 – Além de você se expressar e colocar tudo isso que você sentia, e tudo. Ele durou todo o período do curso, não é?
R – Isso.
P/1 – Você volta... Você ainda tem ele?
R – Eu tenho, mas não trouxe.
P/1 – Não, mas você… De vez em quando você ainda lê? Você volta a ele? Ou ele está guardadinho lá?
R – Ah, ele está guardadinho porque o meu tio… Antes eu lia, eu gostava de ler para saber tudo que a gente fez, algumas… Digamos que algumas frases que a gente gosta sempre de postar nas redes sociais, não é? Então... Eu ia lá, pegava e postava. Só que aí a gente teve umas mudanças no quarto, meu tio resolveu guardar todos os materiais.
P/1 – Você falou que quando vocês chegaram, tinha o que cada um ia fazer. Explica para a gente o que era isso. Eram grupos? Como era isso?
R – Era. Era dividido por grupos, então tinha a parte de atividades, eu esqueci…
P/1 – Cada grupo fazia uma coisa?
R – Isso, cada grupo tinha um trabalho a fazer.
P/1 – Ah, tá. E você ficou em qual grupo, no começo?
R – Eu sempre fiquei... Se eu não me engano, era a parte de… Eu não lembro bem…
P/1 – Socialização, não é?
R – Isso. Socialização.
P/1 – Você ficou bastante, não é? Por que você queria ficar?
R – É, eu sempre gostei de ficar nesse... Porque ajudava todos os colegas, levava dinâmicas…
P/1 – Vocês organizavam? Vocês que levavam? Conte para a gente, assim, uma vez que aconteceu. Que dinâmica vocês levaram?
R –
A professora sempre pedia para a gente levar, que era para a gente interagir com todo mundo. Então eu lembro que a gente levou uma dinâmica que era todo mundo dar as mãos, e aí a gente espalhava todo mundo pela sala. Então, tinha que dar as mãos para aquela pessoa que você deu no começo e daí ficava tudo de um lado e tinha que voltar o círculo como estava antes. Então era bem… A gente trabalhava bem a parte de…
P/1 – Interação?
R – Isso, de interação.
P/1 – Integração, não é?
R – Isso.
P/1 – Você falou que, no ensino médio, a maior dificuldade foi ter tido muitas matérias, não é?
R – Isso.
P/1 – E como foi no Telecurso depois? Foi diferente ou foi igual?
R – Não, foi bem diferente, foi melhor. Porque a gente tinha um certo tempo para trabalhar cada matéria, então a gente aprendia melhor, tipo, a gente tinha um certo período para trabalhar aquela matéria. E ali a gente tirava todas as dúvidas, ali a gente tinha um tempo a mais para estudar, para adquirir mais conhecimentos.
P/1 – Você pode explicar melhor como era? Cada tempo uma matéria?
R – Porque a gente fazia por módulos, então cada módulo tinha as suas matérias, não é? Então, digamos que a gente tivesse umas duas semanas para cada matéria. A gente estudava tudo aquilo que o professor passava, tinha mais tempo para estudar, para adquirir os conhecimentos da matéria. Digamos que a gente tivesse mais tempo do que quando estava no ensino médio regular.
P/1 – Tinha um professor só para tudo?
R – Isso. Um professor para cada matéria.
P/1 – Sei. E aí você disse que tinha os módulos… Você lembra que módulos eram? Tinham nomes esses módulos?
R – Tinha, só que eu não lembro (risos).
P/1 – Tudo bem, mas já deu para entender agora como era. E você falou dessas equipes. Elas lhe ajudaram em alguma coisa? Para você fazer esse trabalho de socialização, por exemplo, isso ajudou você ou não fez muita diferença?
R – Não, me ajudou bastante porque a gente trabalhava com todo tipo de pessoas, então isso para mim foi bem… Como que eu posso dizer? Foi muito bom, porque a gente trabalhava com todo mundo, no começo a gente não conhecia muito bem cada pessoa. Conhecia assim, mas não conhecia muito bem cada pessoa. Então, a gente foi conhecendo todo mundo, trabalho em equipe. E esse trabalho em equipe foi fundamental em todas as áreas, não é? Porque hoje em dia, como eu faço Técnico de Enfermagem, então para mim foi a principal… Digamos que foi a chave de tudo o trabalho em equipe, porque lá a gente conseguiu trabalhar com todos, interagir com todos e é o que a gente leva para o nosso mercado de trabalho, não é? Porque a gente vai encontrar várias pessoas, então a gente já vai saber lidar com cada pessoa.
P/1 – Você concluiu o curso, o Telecurso?
R – Isso, eu concluí. Concluí no ano de 2016.
P/1 – Você assim... Se você pudesse dizer o que mais… Ainda nesse trabalho em equipe, que foi tão importante para você, teve uma outra coisa de que você gostou muito, que foi marcante nesses tempos em que você ficou lá?
R – Sim, o que me marcou muito também foi a questão de cada matéria para a gente trabalhar, para a gente estudar. E eu gostava muito também das áreas de quando a gente fazia danças, a gente cantava, tinha apresentações na escola.
P/1 – Conta de uma que aconteceu que foi bem bacana, que você gostou muito.
R – Ah, que eu gostei mais, que eu gostei muito... Teve várias, não é? Mas a que eu gostei mais foi quando a gente fez a dança no dia da Consciência Negra, para mim foi a melhor.
P/1 – Você participou?
R – Sim, eu participei. A gente fez uma dança junto com a professora, a gente montou coreografia e tudo. A escola inteira participou, mas ali foi... Digamos que foi o nosso momento.
P/1 – Vocês prepararam? Fale um pouquinho como foi, depois, na hora da apresentação, como que foi. Conte um pouco.
R – A gente se preparou muito. Havia as nossas aulas e aí, quando acabava a aula, a gente ensaiava todo mundo, a professora tinha tempo de ficar com a gente, ou então ela tirava um tempo da aula, acabava um pouco a aula mais cedo para a gente poder ensaiar. A gente que customizou as nossas roupas. No dia da apresentação, a gente estava lá mais cedo para ensaiar um pouco mais, para ajeitar um detalhe na roupa que a gente tinha feito, para ajeitar todo mundo. Foi bem interessante.
P/1 – E o grande momento, assim, como foi?
R – Ah, no grande momento a gente ficou muito nervosa, não é? Dá aquele nervoso, mas aí a gente: “Não, a gente tem que ir, vamos lá, vamos apresentar, é o nosso momento, digamos, é o nosso momento de brilhar”.
P/1 – E foi legal?
R – Foi, foi muito legal. Assim... Toda a escola vendo, foi na quadra da escola, então lá tem a quadra no meio e, ao redor, tem as arquibancadas, não é? E aí, todo mundo olhando para a gente, a gente chegou lá, assim: “Nossa, está todo mundo olhando”. Todo mundo com vergonha, mas aí a gente foi lá e apresentou.
P/1 – E muitos aplausos?
R – Muitos (risos). Depois saiu todo mundo com vergonha, mas tinha conseguido, não é?
P/1 – Muito bom. E você terminou e entrou no técnico? Fale em que curso que você está?
R – Isso, eu terminei em 2016 e em 2017 iniciei o curso de Técnico de Enfermagem.
P/1 – Você escolheu essa profissão? Como foi essa escolha?
R – Na verdade, eu ainda saí do Telecurso sem saber realmente o que eu queria fazer. Então, tive a oportunidade de fazer o Técnico de Enfermagem, apareceu a oportunidade, eu falei: “Vou tentar, vai que eu goste”. E hoje o que eu mais amo é fazer, é trabalhar na área da saúde, é cuidar das pessoas.
P/1 – Como você se vê... Você disse que o trabalho em equipe, na Socialização, lhe ajudou muito, não é? Fale um pouco disso. Como que você vê agora=
R – Para mim foi fundamental, porque o trabalho em equipe hoje... Hoje eu aprendi… Hoje eu já sei que o trabalho em equipe, onde eu estudo, é essencial. Porque a gente trabalha com pessoas, então vai aparecer gente de todo jeito para a gente trabalhar com elas, não é? Então assim... Eu aprendi que a gente tem que ter calma, que a gente tem que ter paciência, porque nem todos os dias as pessoas vão estar de bom humor, então a gente tem sempre que ir lá ajudar, acalmar a pessoa, ou então a gente conversar em grupo, o que a gente tem para proporcionar àquele paciente para ele ficar bem acomodado. Sabemos que o hospital não é o melhor lugar de se estar, mas já que ele está ali, vamos oferecer o melhor para ele.
P/1 – Olha, você me lembrou uma coisa que você falou antes: tinha muito isso no Telecurso, essa parte de grupos? Porque você falou das equipes, da Socialização, mas essa coisa do coletivo... Fale um pouco.
R – Sim, sempre teve. Cada equipe tinha o seu grupo, não é? O seu grupo. Tinha uns que eram mais amigos, outros não, mas quando era em questão de trabalho, de apresentação, todo mundo se juntava, todo mundo… Era uma família. Então, a gente se reunia: “Está precisando disso, a gente vai fazer”. Teve até uma vez, nessa aula, que teve um colega que estava precisando de alimentos, estava precisando de materiais higiênicos, então a sala inteira se reuniu e a gente fez uma cesta para ele e deu. Então, foi um trabalho em equipe, mesmo, toda a sala, foi uma família. Ali a gente parou: não é cada um por si, aqui nós somos uma família, então vamos nos reunir e ajudar. Isso aconteceu várias vezes. Então, quando a gente entrava na sala de aula, era a nossa família ali, onde a gente passava a nossa tarde inteira, todo mundo se ajudava, era todo mundo unido.
P/1 – E aí, agora, no seu trabalho?
R – Continua a mesma coisa. Para mim não foi um choque trabalhar em equipe. Para mim como eu já tinha… Já vim, digamos, de uma área que já trabalhava em equipe, então para mim foi bem melhor, porque ali eu aprendi a trabalhar com mais pessoas, com pessoas de todos os gêneros, não é? Então foi bem melhor, foi muito bom e é uma coisa que eu gosto muito, trabalho em equipe.
PAUSA
P/1 – Rose, a gente está assim vendo, falta um tantinho para a gente terminar a nossa conversa, o que a gente ainda quer lhe perguntar. Então eu vou voltar um pouco. Você falou que no ensino médio tradicional - vou chamar assim - a Matemática, Física, essa parte dos números era muito difícil. Como foi essa parte no Telecurso?
R – No Telecurso foi bem melhor porque a professora ia lá, ela ensinava, tinha paciência, a gente tinha um tempo a mais para aprender tudo aquilo. Porque no ensino regular eram apenas quarenta e cinco minutos, e já no Telecurso a gente tinha a tarde inteira para aprender. Então, era bem melhor.
P/1 – Agora, como era ensinada a Matemática? Vamos pegar a Matemática. Você disse que era difícil para você as regras, essas coisas. Como era ensinada a Matemática? Era diferente ou era igual?
R – Digamos que ela era igual, só que o modo como a professora trabalhava era diferente, então a gente conseguia aprender mais.
P/1 – No que era diferente? Você consegue dizer para a gente?
R – Era diferente porque ela tinha tempo de ir em cada carteira e explicar como se fazia, qual era a regra, onde colocava cada número, como tinha que somar, diminuir, dividir.
P/1 – E assim... Para começar o assunto da Matemática, você aprendeu alguma coisa lá, algum conteúdo no ensino médio e no Telecurso? Qual a diferença? Para começar o assunto, por exemplo, daquela aula. Era igual?
R – Não, porque... Assim... Digamos que no ensino regular o professor chegava, explicava apenas uma vez e a gente tinha que fazer, tinha que se virar, e já no Telecurso não, o professor ensinava e explicava quantas vezes a gente quisesse.
P/1 – Entendi. E para começar o assunto ele fazia como?
R – Ele começava… A gente assistia teleaula, não é? E aí eu, particularmente, quando ela passava teleaula, eu não entendia quase nada. Então ela passava a teleaula, depois que acabava ela ia lá, explicava como fazia, qual era o modo que preparava cada conta e aí, se a gente não entendesse, ela passava sempre…
P/1 – A própria teleaula, ela passava?
R – Isso.
P/1 – De novo?
R – Isso.
P/1 – Entendi. Muito bom. Se você pudesse expressar, escrever no seu Memorial a sensação de como era no ensino médio regular e no Telecurso, como você diria para a gente?
R – Assim... A sensação que eu tive do ensino regular é que era bom, mas não era tanto; e o Telecurso seria algo sensacional, sem explicações. Porque a gente… O modo como eles trabalhavam com a gente era o melhor possível, digamos. A pessoa se dava, se doava da melhor forma que ele tinha para ensinar para a gente. Então, o Telecurso era, digamos, foi a melhor, a chave.
P/1 – Chave?
R – É, digamos que a chave para tudo.
P/1 – Bonito. Então, se você fosse escrever: “Telecurso era a chave…”, fale um pouco disso para a gente.
R – O Telecurso era a chave que, digamos, abriu todas as portas de entendimento onde eu pude me expressar, onde eu pude aprender, onde eu pude ter mais conhecimentos.
P/1 – Você ia escrever assim?
R – Ia.
P/1 – Você ia fechar o seu Memorial com essa frase?
R – Isso (risos).
P/1 – Eu fico imaginando essas portas, não é? Fale um pouco mais. Que portas são essas aí, hoje?
R – Hoje em dia são as portas do mercado de trabalho, as portas de amizades, as portas de tudo, digamos que todas as portas abertas, porque eles ensinaram cada coisa em seu tempo. Então, desde a Matemática ao Português, ali a gente foi aprendendo cada coisa e
juntando cada coisa para hoje saber. Digamos que eu não saiba tudo, mas tudo que eu sei, eu sou grata a eles por isso, porque como eu falei sobre a questão do trabalho em equipe, que foi o que mais me cativou porque ali o trabalho em equipe, a gente trabalhando todo mundo junto e, digamos, eu sabia de uma coisa e você não sabia, eu ia lá e lhe ajudava. Da mesma forma, os professores. Quando tinha a questão da gente se juntar para fazer sacolões, cestas básicas, todo mundo se juntava - os professores, coordenador - então, era uma coisa… Os professores eram os nossos próprios amigos também, nosso coordenador também era o nosso próprio amigo, era para quem a gente podia contar alguma coisa que tivesse acontecido na nossa casa. Então, foi a melhor experiência que eu já tive.
P/1 – Muito bom. E quais são os seus sonhos agora, Rose?
R – O meu sonho agora é terminar o meu curso de Técnico de Enfermagem e me aprimorar mais, talvez fazer… Ou fazer Enfermagem, ou fazer Medicina. Recentemente eu fiz o curso de APH e trauma, em Porto Velho, e hoje eu já tenho a minha carteira de socorrista. Então, foi uma coisa bem interessante porque lá a gente trabalhou muito em equipe, era cada um... Tinha… O chefe de turma é da sua equipe, então o chefe dava aquela ordem, se você entendeu, ia lá e se ajudava, se você não entendeu, a gente ajudava até você entender cada coisa.
P/1 – Nesse curso de socorrista que você fez?
R – Isso, isso.
P/1 – E você, então, tem esse sonho de continuar nessa área da Enfermagem?
R – Isso. Eu tenho o sonho de continuar na área da saúde, não é? De trabalhar com as pessoas, de ajudar as pessoas, assim como um dia eu fui ajudada, que foi onde… Foi no Telecurso, onde a gente se ajudou, com os professores, coordenadores, amigos de sala. Então, assim como eu e outras pessoas fomos ajudadas, a gente… Hoje eu quero ajudar as pessoas que precisam.
P/1 – Muito bem. Você quer falar mais alguma coisa que eu não lhe perguntei, que você gostaria de contar? Porque a gente está gravando a sua história, não é? Não só do Telecurso. De tudo. Que eu não lhe perguntei. Que você queria me falar.
R – Eu acho que não tenho, não, para falar…
P/1 – Já falou o que você gostaria?
R – É. Até porque, tipo, eu estou um pouco nervosa ainda, mas…
P/1 – Está certo. Porque eu fico: “E isso? E aquilo? E aquilo outro?”
R – Só que é bem melhor responder do que a gente mesmo falar.
P/1 – Você acha?
R – Ah, eu acho.
P/1 – Ah, então aproveita e fala: o que você achou desse momento?
R – Esse momento foi uma experiência muito boa para mim que nunca tinha feito isso. Então... Das pessoas saberem como é, porque muitas vezes, digamos, o Telecurso, ele é um pouco... Um pouco julgado por ser… como que eu posso dizer a palavrinha? Tipo, como se fosse o Poronga e tal, então é um pouco julgado por quem faz o regular que é como se tivesse um racismo quem faz, não é? E, tipo, você não está lá fazendo, então você não sabe como é, acha que são aquelas pessoas que não sabem de nada, são burras e tal, por isso que estão aí. Não é assim, é porque a gente tem uma…
P/1 – Não tem pressa. A gente vai esperar você achar as palavras, porque é muito importante isso que você está falando. Vou pegar o fio da meada e tem tempo. Você disse que as pessoas vêem vocês como se vocês estivessem ali, que vocês burras, mas…
R – Que a gente não sabe de nada. Só que não é isso, é como se a gente tivesse uma oportunidade e até mesmo para aquelas pessoas que pararam de estudar e hoje querem recomeçar eu digo que as pessoas não teriam que fazer isso porque aí a pessoa vai dizer: “Não sou capaz de fazer, eu não posso fazer”. E não, a gente vai lá fazer, independente de ser regular ou não, porque quando a pessoa quer estudar… Estudo, na nossa vida, é uma coisa que ninguém vai tirar, não é? Nossos sonhos e nossos estudos são coisas que ninguém pode tirar. Então, quando tem esse racismo - eu digo por mim, porque muitas pessoas falaram que eu não ia conseguir, que esse método que eles trabalhavam... “Vocês só assistem essas teleaulas que não ensinam nada e não sei o quê…”. E não, elas ensinam. E outra, que a metodologia dos professores é bem melhor. Eu tiro por mim, não é? É bem melhor como os professores ensinam. E eu acho que é só.
P/1 – Você disse que tinha um preconceito, não é?
R – Isso. As pessoas têm muito preconceito em relação a quem faz o Telecurso. É porque não faz regular, não fez a sequência de primeiro, segundo e terceiro anos. Então assim... Digamos que se tivesse uma campanha para ir lá e protestar contra isso eu seria a primeira a estar lá (risos). Principalmente pelo fato de eu ter feito Telecurso, porque eu sei como foi, eu sei como aprendi. E outra: porque eu estudei tanto no regular quanto no Telecurso, então eu sei como são os dois, não é? Como é a metodologia dos dois, digamos, de cada professor, não é? Tanto do professor do Telecurso quanto do professor do regular.
P/1 – Eu vou explorar um pouquinho você para sintetizar, no fim. Você conheceu os dois, o regular e o Telecurso. Aí você falou que iria lá para protestar a favor, não é?
R – Isso, a favor do Telecurso.
P/1 – Se você tivesse que falar sobre a diferença principal, você conseguiria? Numa manifestação, qual seria a diferença?
R – Numa manifestação, eu acho que a diferença principal que eu iria falar seria da metodologia dos trabalhos, de como cada professor apresenta a sua aula, como cada professor ensinava, porque os professores do regular, eles ensinam, digamos, que acham que ensinam aquilo que todos os alunos entendem, mas nem todos os alunos entendem. E do Telecurso não, ele vai lá, tira o tempo dele de sair da cadeira para ir na sua carteira e de ensinar cada aluno. Digamos que ele só sai dali quando ele tem, realmente, a certeza de que o aluno aprendeu. Então, para mim, essa é a chave de tudo, do ensinamento, não é?
P/1 – Muito bom. Está ótimo, querida, parabéns, viu!
R – Obrigada.
FINAL DA ENTREVISTA
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