O CACHORRO QUENTE MOTIVADOR E O HOSPITAL GERAL DE MACAPÁ
Muito antes de aparecerem por aqui os hambúrgueres da Mcdonald ou as disputadas temakerias com seus sushis e sashimis, existia nas décadas de 1970/80 em Macapá, no Amapá (Ilustração 1), o carro de cachorro quentes do “Seu Chagas”. Ele ficava em frente ao Hospital Geral, na Av. Fab, no centro da cidade (Ilustração 1). Seu lanche mais apreciado por mim, minha mãe (Dona Rosa) e meus irmão (Raimundo e João) (Ilustração 2) era feito com pão de massa fina, recheado com carne de boi moída, temperada com sal, pimenta, cominho, cebolinha e coentro, ou cheiro verde como é chamando por essas bandas de cá.
Retrato: Minha Mãe Rosa Bittencourt, eu José Bittencourt no centro e meus irmãos Raimundo à direita e João à esquerda
Fonte: Arquivo pessoal
Esse sanduíche do “Seu Chagas” marcou indelevelmente a minha infância. Ele era uma das principais fontes de convencimento e motivação para que eu fosse anualmente ao Hospital Geral de Macapá fazer exames de rotina, situação nada agradável para mim, principalmente porque eu seria submetido ao tão temido exame de sangue. Minha mãe sempre dizia ao final de sua fala de convencimento que eu não me preocupasse, porque tudo seria muito rápido e que depois nós iríamos comer o cachorro quente do “Seu Chagas”.
A preparação para irmos ao Hospital começava um dia antes. Eu naturalmente não conseguia dormir em paz à noite que antecedia ao “grande evento”. Pensava sem parar nas seringas e agulhas, no cheiro de éter que exalava no ar e me deixava aturdido, no tilintar dos utensílios médicos, que para mim se configurava na sonoridade do terror. Enfim, eu imaginava de maneira aterrorizante toda aquela ambiência peculiar aos espaços hospitalares. Eram só alguns minutos, mas para mim durava uma eternidade.
Perguntei certa vez a minha mãe ...
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O CACHORRO QUENTE MOTIVADOR E O HOSPITAL GERAL DE MACAPÁ
Muito antes de aparecerem por aqui os hambúrgueres da Mcdonald ou as disputadas temakerias com seus sushis e sashimis, existia nas décadas de 1970/80 em Macapá, no Amapá (Ilustração 1), o carro de cachorro quentes do “Seu Chagas”. Ele ficava em frente ao Hospital Geral, na Av. Fab, no centro da cidade (Ilustração 1). Seu lanche mais apreciado por mim, minha mãe (Dona Rosa) e meus irmão (Raimundo e João) (Ilustração 2) era feito com pão de massa fina, recheado com carne de boi moída, temperada com sal, pimenta, cominho, cebolinha e coentro, ou cheiro verde como é chamando por essas bandas de cá.
Retrato: Minha Mãe Rosa Bittencourt, eu José Bittencourt no centro e meus irmãos Raimundo à direita e João à esquerda
Fonte: Arquivo pessoal
Esse sanduíche do “Seu Chagas” marcou indelevelmente a minha infância. Ele era uma das principais fontes de convencimento e motivação para que eu fosse anualmente ao Hospital Geral de Macapá fazer exames de rotina, situação nada agradável para mim, principalmente porque eu seria submetido ao tão temido exame de sangue. Minha mãe sempre dizia ao final de sua fala de convencimento que eu não me preocupasse, porque tudo seria muito rápido e que depois nós iríamos comer o cachorro quente do “Seu Chagas”.
A preparação para irmos ao Hospital começava um dia antes. Eu naturalmente não conseguia dormir em paz à noite que antecedia ao “grande evento”. Pensava sem parar nas seringas e agulhas, no cheiro de éter que exalava no ar e me deixava aturdido, no tilintar dos utensílios médicos, que para mim se configurava na sonoridade do terror. Enfim, eu imaginava de maneira aterrorizante toda aquela ambiência peculiar aos espaços hospitalares. Eram só alguns minutos, mas para mim durava uma eternidade.
Perguntei certa vez a minha mãe até quando eu teria que fazer exames de sangue. Ela me respondeu o seguinte: “meu filho, o seu avô até hoje faz exame de sangue”. Essas palavras foram para mim um choque de realidade. A partir de então comecei a construir uma nova visão sobre o dia do exame, e isso me ajudou psicologicamente a encarar essa situação com mais tranquilidade. Ao invés de pesar na ambiência hospitalar, eu comecei a pesar no momento subsequente.
Minha mãe estava repleta de razão. Eu poderia sofrer rapidamente no momento do exame, mas iria me refestelar comendo o saboroso cachorro quente do “Seu Chagas”, afinal era uma exigência médica chegar ao Hospital sem ter comido absolutamente nada pela manhã. Foi assim que resolvi minha angústia pré-exame de sangue no Hospital Geral de Macapá, e amenizei a sensação incomoda no instante da agulhada no meu braço esquerdo, este sempre escolhido como o melhor lado para a realização do exame.
Por isso, deixo aqui meus sinceros agradecimentos ao Senhor Chagas e seus maravilhosos cachorros quentes vendidos em frente ao Hospital Geral de Macapá.
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