Pergunta: O que a senhora sabe sobre a origem da sua família? Resposta: Muita coisa, querido. Porque a minha família começou em Teodoro Sampaio, no município de Santo Amaro. Naquela época, uns 50 ou 60 anos atrás, ainda tinha muito trem. Para ir pra lá, eu que estudei em Salvador. (...) Porque lá era difícil chegar transporte via terrestre. Então, Teodoro Sampaio, no município de Santo Amaro, é um lugar, assim, tinha muita plantação de sabe de quê? De fumo. Tinha muito armazém de fumo. Então, minha família, meu pai também trabalhava com essa coisa e também tinha lojas de tecido mas trabalhava com armazém de fumo também. E o pessoal em volta ia muito em Santo Amaro. Minha avó que era da família Pitombo aqui de Feira, cujo era tia de Divaldo Pitombo. E vocês sabem que o professor Divaldo Pitombo foi diretor da UEFS, foi diretor do Gastão Guimarães. E hoje o museu, o centro do museu. O museu de arte de Feira. Não é, o museu regional, aquele que tem, como é o nome? Museu de? Tem o nome dele, dr. Divaldo da Silva Pitombo. Como é o nome? (Alguém fala: Parque do Saber). É o Parque do Saber, que é uma das obras mais interessantes, né? Que tem aquele observatório maravilhoso que dizem que é um dos primeiros da América Latina. E se leva o nome do dr. Divaldo eu fico muito feliz porque ele era meu primo. E minha avó era também ligada a arte. Minha avó tocava muito violão. E nós fomos criados assim. Numa cidade pequena onde tinha uma igreja com um padre alemão. Uma igreja, uma escola paroquial. E minha avó trabalhava com esse padre direto porque ela tocava armonio na igreja, tocava piano em casa e violão. Minha avó estudou música. Ela queria se formar em Música mas meu avô queria que ela fosse professora. Ela disse que odiava matemática, então... Pergunta: Então como foi a sua infância? Resposta: Foi feliz. Muito feliz. Até que aos 10 anos meu pai faleceu então tudo mudou. Eu fiquei muito triste, muito triste...
Continuar leituraPergunta: O que a senhora sabe sobre a origem da sua família? Resposta: Muita coisa, querido. Porque a minha família começou em Teodoro Sampaio, no município de Santo Amaro. Naquela época, uns 50 ou 60 anos atrás, ainda tinha muito trem. Para ir pra lá, eu que estudei em Salvador. (...) Porque lá era difícil chegar transporte via terrestre. Então, Teodoro Sampaio, no município de Santo Amaro, é um lugar, assim, tinha muita plantação de sabe de quê? De fumo. Tinha muito armazém de fumo. Então, minha família, meu pai também trabalhava com essa coisa e também tinha lojas de tecido mas trabalhava com armazém de fumo também. E o pessoal em volta ia muito em Santo Amaro. Minha avó que era da família Pitombo aqui de Feira, cujo era tia de Divaldo Pitombo. E vocês sabem que o professor Divaldo Pitombo foi diretor da UEFS, foi diretor do Gastão Guimarães. E hoje o museu, o centro do museu. O museu de arte de Feira. Não é, o museu regional, aquele que tem, como é o nome? Museu de? Tem o nome dele, dr. Divaldo da Silva Pitombo. Como é o nome? (Alguém fala: Parque do Saber). É o Parque do Saber, que é uma das obras mais interessantes, né? Que tem aquele observatório maravilhoso que dizem que é um dos primeiros da América Latina. E se leva o nome do dr. Divaldo eu fico muito feliz porque ele era meu primo. E minha avó era também ligada a arte. Minha avó tocava muito violão. E nós fomos criados assim. Numa cidade pequena onde tinha uma igreja com um padre alemão. Uma igreja, uma escola paroquial. E minha avó trabalhava com esse padre direto porque ela tocava armonio na igreja, tocava piano em casa e violão. Minha avó estudou música. Ela queria se formar em Música mas meu avô queria que ela fosse professora. Ela disse que odiava matemática, então... Pergunta: Então como foi a sua infância? Resposta: Foi feliz. Muito feliz. Até que aos 10 anos meu pai faleceu então tudo mudou. Eu fiquei muito triste, muito triste mesmo. Porque ele foi um grande homem. Morreu aos 33 anos com uma pneumonia. Ele fumava. Naquela época todo mundo fumava. Ele era muito trabalhador. Ele tinha loja de tecido, ele trabalhava no armazém de fumo. Quando era tempo de inverno ele fazia, naquele tempo era aqueles caixões enormes, aquelas malas diferentes que hoje não tem mais. Chamava baú. Ele fazia até caixão de defunto. Meu pai era um homem trabalhador. Ele era assim, um homem que tudo que dava pra fazer pra ganhar alguma coisa, ele era um investidor. Pergunta: Que lembranças significativas a senhora guarda da convivência com seus pais? Resposta: De meu pai as melhores possíveis. Uma saudade imensa. Eu me transformei numa menina mais feliz do mundo tendo a avó como eu tinha. Que fazia tudo. Eu me sentia assim, grande, em Teodoro Sampaio. Tudo era com a minha família, com a família da minha avó. Era a mulher mais bonita de Santo Amaro. Era um triz até pra fazer as roupinhas. “Mulher tem que andar bonita”. Ela era assim, viu? Cheirosa. “Minha filha, mulher é igual chita. Quando um não gosta dez acha bonita”. A velha era cheio de ditadinho, sabe? E dizia que a gente tinha que andar sempre arrumado e tudo. E íamos para Santo Amaro fazer lá, me dava muito com a família Veloso, Caetano Veloso ia muito lá na casa. Olhe, Caetano Veloso, Bethânia, muito amigo nossos, entendeu? Era uma coisa assim, que a família Bastos também que hoje tem a empresa Santana de transportes era muito amiga nossa também. Então Teodoro Sampaio teve grandes famílias, assim, que conviviam juntas. E foi mais quando meu pai morreu, então tudo virou. Eu tinha dez anos então logo, logo eu tinha um salvador, que era o meu padrinho, irmão do meu pai, me requisitou para Salvador. “Lígia vai estudar comigo. É minha afilhada”. Vai eu e Gildo, meu irmão. Único irmão homem. E o resto, as quatro irmãs mulheres ficaram em Teodoro Sampaio com minha mãe. E eu fiquei feliz lá em Salvador estudando. Fiz o ginásio todo lá. Ele era muito legal. Eu me lembro da minha primeira boneca. Era muito gozado, eu tinha muita boneca de pano que naquele tempo usava. Mas a boneca linda que meu tio me deu lá em Salvador eu me lembro até hoje. Porque além da boneca ele gostava de fazer sabe o quê? Ele não tinha filhos. Ele disse: “Vamos fazer o aniversário dessa boneca? Então vocês vão fazer”. Eu e Béssia, a mãe de Cristina Gazzá. É minha prima. Estudávamos juntos, eu e Béssia, Gildo e Nilton. Eram quatro primos lá em Salvador. Então ele fazia assim, o batizado da boneca. Já pensou? “Vamos fazer o batizado da boneca? Vocês vão fazer tudo que vocês quiserem. Docinho, isso e aquilo...” Ele era um homem assim, animado, gostava de fazer coisas como se fosse uma cozinha experimental. Pergunta: Que fatos marcantes da sua vida a senhora destacaria? Resposta: De bom? Marcante, né? Bem, eu me formar aqui. Não. Minha mãe, quando meu pai faleceu aos 33 anos dessa pneumonia, ele sabia que ia morrer porque ele foi desenganado. Naquela época não existia nem penicilina, nem antibiótico nenhum. Quem tinha uma doença assim de pulmão, uma pneumonia, uma coisa, era fulminante. E ele fumava. Logo, logo, o médico disse: “Olha, tá muito difícil”. Ele aí fez uma carta ao INSS e à minha mãe pedindo que ela saísse de Teodoro Sampaio urgente e trouxesse as filhas dele pra ser educada numa cidade grande. Ele queria que todos os filhos dele fossem educados numa cidade grande. E que fossem. Presta atenção no que um homem num leito de morte... Que fossem gente por si, por si mesmos. E não esperasse que... E minha mãe fez isso uma coisa assim, parecendo uma lavagem cerebral na gente, que todo dia minha mãe dizia assim: “Olhe, seu pai antes de morrer pediu que vocês estudassem, que queria todo mundo formado. Porque casamento não é profissão, nem homem é tábua de sustentação pra mulher nenhuma”. Entendeu? “Todas as mulheres devem ser independentes porque elas assim tem uma auto estima muito mais elevada dentro do próprio casamento”. Viu? “Ela pode ser assim, como o homem, partilhada dentro do casamento. Os dois juntos, dividir despesas e tudo, querem viajar, se ela ganha o dinheiro dela. Mas se ela não ganha vai ser somente deixar o pobre do marido se acabar sozinho?”. Então isso foi desde cedo colocado na minha cabeça e na das minhas irmãs. E eu queria que meus pais estivessem vivos hoje pra ver que família linda, mesmo sem meu pai que me deixou a mais velha com 10 anos, minha irmã caçula que hoje é médica estava lá no útero da minha mãe. Minha mãe ficou viúva com 29 anos com um neném na barriga por 6 meses. Maria Inês não conheceu meu pai, porque quando ela nasceu meu pai já tinha morrido. Coisa triste, não é? Pergunta: Que diferenças e semelhanças a senhora identifica entre a sociedade de hoje e a da sua infância? Resposta: Olha, eu falei que um fato marcante foi a minha formatura. Foi a gente ter se preparado, tanto em Salvador quanto em Feira de Santana. Porque quando minha mãe mudou-se pra cá, seguindo o conselho de meu pai: “Não fique em Teodoro Sampaio. Vá para uma cidade grande educar as minhas filhas”, ela mudou-se para Feira de Santana. Porque aqui ela tinha parentes. A família Pitombo toda aqui era por parte dela e Salvador da parte do meu pai. No que ela veio para Feira de Santana o que foi que ela fez? Mandou me buscar de Salvador. Que eu era a filha mais velha e que disse que eu já tinha uma autonomia. Ela disse assim pra mim, brigou com meu padrinho e minha madrinha lá em casa. “Lygia não volta porque ela tem o jeitinho do pai dela. Ela manda. Ela dá ordem aos irmãos e eu duvido que eles não façam”. E era mesmo. Eu tinha um jeito assim, desde nova. Uma coisa assim que parece que a gente nasce com aquele jeito, pra dizer as coisas. E aí vocês falaram de fatos marcantes, foi isso. A minha formatura, quando eu tinha 22 anos aqui. 21 anos eu me formei professora já. A primeira a ser formada. E fui logo para Teodoro Sampaio trabalhar porque as minhas irmãs queriam estudar em Salvador e o dinheiro era curto naquela época pra minha mãe. Não tinha, sei lá, o nosso negócio. E não era igual ao meu pai não. Era bem diferente. (...) E eu senti que como a mais velha eu tinha que trabalhar o dia todo. E mandava um salário pra minha mãe porque todas as minhas irmãs foram estudar em Salvador. Fizeram universidade em Salvador. Tem uma médica, uma socióloga, uma dentista, meritane (?), todo mundo está muito bem de vida. E a única educadora que ficou aqui em Feira de Santana fui eu. Pergunta: Como a senhora escolheu sua profissão? Resposta: Ah, eu disse assim eu me formei professora em Teodoro Sampaio porque lá eu achei duas vagas para trabalhar. O prefeito de lá era o pai de Cristina Gazar, essa atriz aí. Jaime. E ele como era meu amigo e da família, e tudo, disse: “Lygia, enquanto você procura aí uma cadeira, um lugar onde ensinar. (...) Pedi lá ao governador da Bahia pra você conseguir uma locação. Então era por meritocracia, não era por concurso não. Então quando eu voltei aqui pra Feira eu já sabia que meu destino estava traçado. Que eu queria educar. Então me casei com José Sarkis, que ele era da família Sarkis. Ele era da área de comércio. (...) O pai tinha loja de tecidos. A família Sarkis era toda negociante de tecidos. Marivaldo Sarkis era um dos homens bem ricos aqui de Salvador. Tinha mais de 20 lojas de tecidos espalhadas pela Bahia toda. Ele morreu no mesmo ano de meu marido. Então eu comecei a ensinar, não quis mais largar a profissão. Por que não quis? Porque ensinando no estado, não em Teodoro Sampaio, porque eu tinha poucos alunos, e no interior era muito legal, 20 alunos, a casa da minha avó, e eu já chegava toda cansada. Ah, avó tocava violão. A vó tinha sempre uma coisa gostosa pra mim, doce, mingauzinho do que eu gostava. Era muito gratificante Teodoro Sampaio. Mas quando eu me casei e me mudei pra Feira de Santana, fui lá pra o Jão Barbosa de Carvalho ensinar um curso que chamava “recuperação”. E olhe o que aconteceu com a pró Lygia. Ninguém queria essa classe e eu não sabia o porquê. Eu cheguei com 23 anos, recém casada, toda jovem. Naquele tempo o povo me achava bonita, bem arrumada. Eu sempre fui vaidosa. Meu marido tinha posse, me levava de carro pra eu não descer uma ladeira. (...) E aí lá não tinha ninguém que queria dar aula na alfabetização. Mas por quê? Angélica, a diretora disse, mas todo ano é um absurdo, Lygia. E eu: por que, Angélica? “Porque é pra alfabetizar crianças desde 7 até 14, 15 anos. (...) Porque é uma classe dificílima. Aí tomo mundo foi embora e eu disse: Angélica, eu vou ficar. Eu alfabetizava em Teodoro Sampaio, por que não vou alfabetizar aqui? Mas eu não sabia onde eu ia, que desafio grande, difícil que foi. Eu não sabia o que é que era essa classe de recuperação. Quando eu começo, chego lá, 40 alunos. Desde sete aninhos, da idade de vocês, que eu chegava assim arrumadinha e os meninos assoviavam assim: fiu fiu. E eu ficava assim, Angélica, e os alunos assoviam pra mim. Que coisa né? Aí eu tinha aluno adolescente, que era de 7 até 14, 15 anos. Mas eu enfrentei. Foram 3 anos, eu segurei aquela classe. Mas eu consegui, não alfabetizar todos, eu consegui a metade. Olhe como sacrifício. Mas nasceu em mim um social tão grande. Primeiro lá em Teodoro Sampaio, segundo nessa escola do estado. Eu acho que pra ser diretora a pessoa precisa primeiro ser professor de estado, lidar com a pobreza, lidar com as pessoas carentes que precisam de educação. E eu lidei com esse pessoal. E tive tanto dó, tanto assim, compaixão de ver a falta de interesse, a falta de recursos dos mesmos governamentares, do país, do prefeito, do secretário de educação. Fui conversar com ele, que teve em Feira, fui ao Tênis Clube. A senhora “Lygia você vai falar sobre o seu trabalho?” eu disse “Vou!”. Porque eu precisava de uma pessoa pra me ajudar. 40 alunos e eu não conseguia alfabetizar. Mas eu conseguia dizer pra eles coisas maravilhosas. Eles nasceram pra crescer e que eles iam... “Não tá vendo que o primeiro Sputnik foi à lua? Vocês também vão subir. Não se preocupem não que vocês vão aprender a ler”. O tempo todo eu dava essa injeção neles e digo “vocês nasceram pra crescer. Alfabetizar não é isso? Todos vão aprender a ler ao seu modo”. E eu comprei um mimeografo porque só tinha um mimeografo no colégio. Aí meu marido disse: “Vai ficar fazendo três deveres aqui a noite toda, é? Compre logo um mimeografo! ”. É caro! Ele aí deu entrada na rua em um mimeografo lá. “Eu já paguei a entrada e você paga as prestações com seu dinheiro lá”. E aí eu comecei a fazer o meu trabalho em casa. Não é como hoje não. Os professores hoje não sabem o que é, o trabalho que dá ensinar 40 alunos de vez. Você chorava de dó e piedade daquelas crianças. E foi por isso que eu tive vontade de abrir a Montessoriana. Pergunta: O que foi que motivou a senhora a fundar uma escola montessoriana? Resposta: Foi isso. Foi de ver tanta maldade, tanta falta de interesse dos governantes. Que alfabetizar não era aquele sofrimento? Eu queria provar pra mim mesmo e a sociedade e toda comunidade de feira que a alfabetização devia ser uma coisa prazerosa, gratificante, tanto para o professor que alfabetiza quanto para uma criança que aprende. E não era prazeroso nem pra mim. Meus alunos, uns gostavam porque a professora era alegre. Como vocês diziam, a professora é legal, comunicativa. Entendeu? Eu dizia a eles que eles iam aprender, que iam subir na vida. E muitos subiram mesmo, de qualquer maneira. Mas foi isso, eu queria provar a mim mesma que alfabetizar era bem diferente, porque quem sabe ler e interpretar sabe tudo. Começa a pensar sobre o bem e o mal, começa a discernir as coisas, a separar as coisas. Entendeu? Tudo isso. Pergunta: Quais são os maiores desafios para dirigir uma escola Montessoriana? Resposta: Antes de falar isso eu gostaria, já que você falou porque eu abri a escola, eu gostaria de ler um versinho, posso? (Entrevistador fala: “Pode”) Então quando eu falei do social da pró Lygia, não foi? Que eu adquiri lá. E lidando com a pobreza. Então esses versinhos estão aí. O social da pró Lygia está marcado aqui. Em 2006 eu escrevi para a Fábrica de Santana, porque todo dia e todo mês eu tinha que pagar, toda festa eu tinha que pagar quinhentos reais para esse jornal. Quinhentos reais, que sendo da paróquia de Santana, de Nossa Senhora Santana, como eu era educadora. Aí eu escrevi, olhe: “Salve Santana honesta. Nesta data gloriosa. (inteligível) Para o nosso país doente, para o seu povo carente de humanidade, de respeito e de justiça social. Desanimados e sem esperança e sem saber a quem apelar. Ó Santana avó e mestra, onde estão que não os vemos, os governantes desta nação, ou porque eles não se preocupam em adquirir melhor visão para enxergar uma eficaz educação, a solução viável para salvar o nosso grande povão, do analfabetismo e da ignorância que geram misérias, violência e corrupção, cartão postal desse nosso grandioso sertão (?)”. É ou não é? Você não acha que as crianças da rua sem aprender a ler, eles não têm amor a nada. Eles nem tem amor a si. Não tem amor a vida sua. Se você tiver com um brinco de orelha, eles vão puxar. Se você estiver com um celular é capaz de puxar o celular e dar um tiro ainda. Porque eles não têm amor nem a si, quem dirás a nós. Prestem atenção que estou falando coisa séria. Pergunta: O quê o método Montessori representa para a senhora? Resposta: Eu acho que o método Montessori representa tudo o que eu sonhei na vida em educação. Educar para a paz, educar para os alunos como a luz. Tem as bases firmadas em filosofia. Na filosofia porque faz com que o ser humano alfabetizado, alfabetizando pela fonética ele aprende muito rápido, a começar a pensar. Os princípios filosóficos de Montessori é o trabalho, um deles. O trabalho para o bem comum. Então o aluno que sabe mais na sala de aula começa a ensinar ao que não sabe. A sala de aula que não tem ainda o material, mas o professor sabe que pode fazer com vocês, uma construção de acidentes geográficos. O professor Rafael que está aqui sabe. Os acidentes geográficos em contrastes, como a ilha e o lago. A ilha controla o lago. Em contraste. Pode ser construído por vocês, naquelas bandejas grandes, construída por um professor e etapas por vocês. Água, para não molhar tudo, a gente bota gelatina azul, que fica linda. E tudo isso vai ficar na escola como um material de desenvolvimento de Montessori. E não uma maquete com aquele isopor horrível que não é degradável, que polui o ambiente. Então, eu sou contra a maquete de isopor. Por favor, vamos trabalhar, viu professor? Fazer materiais. Você não viu o trabalho da professora lá? Ficou, assim, fascinado? Fazer aquelas histórias todas. Eu tenho algumas, vou até pedir (inteligível). Eu vim com a ideia de mostrar coisas também a vocês que nós podemos fazer. Porque Montessori é isso. É teoria e prática. E a prática é ligada ao trabalho, à mão. Pergunta: Para a senhora qual a importância da educação montessoriana na formação do homem? Resposta: É isso aí. A educação Montessori por ser, trabalhar um código de valores éticos e morais, ela faz assim. “Sou Montessoriana, pratico o bem”. Eu vi numa camisa. Quase que eu vesti. “Sou Montessoriana, pratico o bem”. O bem comum a todos. Não ao nosso só. Porque ao nosso bem. Lógico, quando a gente está fazendo o bem ao outro a gente também está fazendo a nós. Todo mundo cresce em volta de você. Aí você fica feliz, nesse mundo. O cosmo é isso. É uma integração enorme, de coisas boas. E quando a gente sabe que na sala de aula, com (inteligível). E que você pode trabalhar e fazer. A gente sabe que Montessori que trabalhar é sempre grupo de quatro. Não mais do que cinco. E pra que os saberes possam ser divididos. Um passe pro outro. Se não aprender com o professor vai aprender com o colega. O colega que sabe mais pode dizer assim: “Vocês querem que eu venha aqui visitar, ensinar vocês? Eu aprendi”. Isso é uma maravilha. Eu tinha um aluno que todo dia ele fazia isso. Rafael. Hoje ele disse que quer ser embaixador, vai fazer um curso grande, Direitos Internacional. E volta e meia estava aqui dando aula aos colegas. Então o método Montessori faz o ser humano pensar. Pensar no bem comum. É um método pacífico. Um método que estuda a alma, trabalha a alma humana. Não é só você informar. Informar porque você tem que saber tudo pra passar no vestibular. Não. Ela quer formar o cidadão. Formar o cidadão para o hoje, para o agora. A gente não sabe o que será da gente amanhã, não é? Então hoje, vamos ser bom agora. Aprender a lição com o professor. Com a pró Lygia hoje, agora. Porque amanhã a gente nem sabe. Filho, como tá a vida aí, eu ia mandar gente para o Rio. Não mando mais. Para um congresso, não mando não. Porque depois tem uma bala perdida lá e mata uma pró. Olhe eu com minha responsabilidade aí. Eu que mandei. A escola que vai responder. A gente anda com medo agora de passar na rua. Pergunta: Como foi a vida escolar da senhora na infância? Teve alguma influência na vontade da senhora ser professora? Resposta: Olhe, teve uma que eu me lembro, já na quarta série em Teodoro Sampaio. Já no final. A professora Líbia. Era mais durona mas era assim, mais atenciosa, conversava com os outros. Ensinava bem. E as outras eu guardo péssimas recordações, outras professoras não me lembro, não gosto nem de falar. Não acrescentou nada. Agora a professora Líbia, como eu pai botou, quis que eu estudasse o dia todo. Eu só ficava chateada porque naquele tempo usava régua. Tinha uma história de sabatina e eu não gostava de Matemática, porque eu sempre fui ligada em ler e escrever e gostava muito de História e Geografia. E eu era da área de Língua Portuguesa, História e Geografia, Sociologia, tudo. A metodologia que fosse. Biologia era meu... (ininteligível) Agora repare. Sabe o que era sabatina dos colegas? E eu tinha um colega que paquerava. E ele fazia questão de me dar a reguada, viu professor? Preste atenção a essa. Tinha uma professora que dava a régua aos colegas pra bater na gente. E ele fazia questão de dar uma reguada por de trás de mim. Ao invés de dar um bolo na mão, ele dava nas minhas pernas pra subir minha saia. Aí ele começou a dizer aos colegas que dava reguada nas minhas pernas pra não machucar minha mão. Mentira. Era pra ver minhas perninhas que era bonitinha. Mas Linda ficava com uma raiva. Quando eu soube. A gente sabe, né? Na quarta série já tinha essas coisas. Mas eu tomei muita reguada lá pra aprender matemática. E eu não me esqueço disso. Era difícil lá porque o professor tinha autoridade tamanha. Isso não é bom. Acho que usar régua também acabou, ninguém vai fazer maldade. Mas a pessoa precisa entender. “Não pode usar celular. Não é admissível”. Vocês veem que é pouco tempo, são quatro horas de aula. Aula! E nada mais. Celular não. Vão usar em casa. Porque tem gente viciada em celular. Então a idade de hoje, tem coisas também que está comprometendo ler e escrever. Se hoje eles querem ir pra frente, terem uma formação, como meu pai tinha. Vocês tem, viu Ludmila? Você tem que ler e escrever. Pensar nessa bonitinha, vir pra aqui toda pintadinha com a boca toda de menininha, que eu também não acho isso muito legal na idade de vocês, viu? Vocês ainda estão na idade de preparar a vida. Não pra preparar só rosto. Você já é linda, você nasceu bonita, como Deus lhe deu. Pra quê esta boca pintada? Mas não é a primeira não, viu? Porque até as minhas meninas lá de oito anos, de cinco, pró eu tô bonitinha? Eu digo: Não senhora. Com esse batom não. Use sabe o quê? O hidratante labial da Nivea. Tuti-fruti. Pergunta: Para encerrar a entrevista nós gostaríamos que a senhora se auto definisse em 3 palavras. Resposta: Três palavras? (risos) Bem, eu nasci mesmo com essa. Eu acho que já nasci pra educar. Eu gosto disso. Porque por ser a mais velha da família e das mulheres, já que meu pai tinha morrido (inteligível). Parece que eu assumi a sina da irmã mais velha. Assumi assim, que eu ia trabalhar pra ajudar a minha família, as minhas irmãs. Isso é muito bom. Ajudei com exemplo. Eu sempre fui muito certinha, me casei na época certa. Toda direitinha. Virgem. Naquele tempo, viu? Estou falando pra vocês... Coisas importantíssimas. Hoje as meninas não estão, assim, como eu tô falando não das minhas alunas mas de uma forma geral. Hoje sexo está muito aberto. Começa a namorar, daqui a pouco começa a ter negócio de ficar. Isso tudo é muito errado. Eu acho que tem época pra tudo. Época pra estudar, época pra namorar. É tão lindo um namoro de olhar. Dizer “Como você está bonita? Como seus olhos brilham. E pegar na mão”. Meu Deus que mostre o quê? Pra pegar na mão. Hoje em dia querem pegar em outros cantos. Pelo amor de Deus! Não deixem! Não permitam! Entendeu? Porque o mundo mudou, mudou mas vocês continuam aquelas meninas que Deus mandou e tenham cuidado com o que vocês tem de mais importante. Com seu ser que não é só o corpo físico, mas também o espiritual. Mas quando abusam do corpo físico a mente fica doente. Vocês vão se arrepender depois. Porque gerar um filho com dezesseis, dezessete anos é muito difícil. Vocês não tem maturidade nenhuma pra criar e quem vai criar são os vovós, as vovós. E então tem muita adolescente. Pelo menos aluno meu nenhum ainda. É ou não é? Eu ia me definir assim. Que eu gosto de educar, eu gosto do ser humano. Todo ele. Eu gosto também dos velhos. Viu? Eu fiz aqui uma coisa tão linda com os velhos. E eu gostaria de terminar falando de uma coisa que eu escrevi. Olhe, eu também escrevi para Nossa Senhora Santana em 2011. Para 2017 tem quantos anos? (Entrevistador responde: 6 anos). Seis anos, né? Então eu escrevi aqui, olhe. “Vinte e seis de julho, feriado municipal. Nossa cidade festejou a padroeira e também as avós que representa a classe hierárquica da árvore genealógica. Eu acho que você falou da árvore genealógica minha, familiar. Então um dia a escola estendeu uma homenagem às avós e aos alunos. (innteligível) De manhã e de tarde. Que eles merecem isso. Essa é uma edição que eles fazem questão de manter, porque a infância e a velhice são fases da vida. São os extremos da vida. A infância e a velhice, né? Uma iniciando e a outra finalizando. Merecem respeito, afeto, carinho. E muito assim, cuidado. Porém para a encenação e a criança, tudo. Para os velhos, nada. Quase nada. É por isso que eu fiz o meu protesto. E disse assim: que na igreja, que aqui todo mundo foi acolhedor. Na festa de manhã e de tarde. Mas na igreja eu cheguei lá para assistir a missa em pé. A igreja muito apertada, muito incenso, muita coisa. E uma falta de consideração à faixa etária. (acabou o áudio e o vídeo)
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