Nossos sentidos estavam todos em alerta com a proximidade do óleo em litorais vizinhos. Acompanhávamos com um medo crescente aos relatos e já sofríamos por antecedência. Algo crescia dentro de nós além da indignação e tristeza. Era a necessidade de arregaçar as mangas e se organizar. Era...Continuar leitura
Nossos sentidos estavam todos em alerta com a proximidade do óleo em litorais vizinhos. Acompanhávamos com um medo crescente aos relatos e já sofríamos por antecedência.
Algo crescia dentro de nós além da indignação e tristeza.
Era a necessidade de arregaçar as mangas e se organizar. Eram muitas as demandas, mas uma pesava bastante: voluntários.
Como mobilizar as pessoas para algo que ainda não havia acontecido, como pedir alguém que entrasse em contato com algo desconhecido,
perigoso, como dizer que não havia dinheiro,
EPI, ajuda governamental, como pedir para procurarem algo que não queríamos encontrar, como pedir tempo, paciência e empenho a pessoas com vidas, necessidades e essência tão diferentes. A mágica aconteceu e os voluntários apareceram aos poucos, um após o outro fomos nós unindo em um lindo movimento: Cumuru livre do óleo.
Não somos muitos,
nem de longe o número que precisamos, mas somos guerreiros e cientes de que ser voluntário é pertenter, é fazer diferença. Chegaram os primeiros fragmentos e depois deles um mar de óleo que invadiu nossos dias, nossas noites em claro, nossas roupas e nossas lágrimas.
Nosso paraíso Cumuruxatiba estava dividida e conflitos nasceram do cansaço, do pânico,
da urgência.
Como que por encanto os voluntários foram fazendo, cada um a seu modo um lindo trabalho de limpeza das praias,
limpeza da alma.
A praia parecia um campo de guerra com tantos materias, tantas frentes de trabalho,
tantas pessoas solidárias em sua busca e unidas pelo ideal de uma Cumuru
livre do óleo.
Ser voluntário é da alma, é do crer, é do sentir a dor e a necessidade do outro como a sua, é saber que somos e podemos mais, que cada gota de óleo recolhida conta.
Trabalho desgastante física e emocionalmente,
mas que traz força a cada novo despertar. A todos que organizaram, criaram técnicas,
alimentaram, hidrataram, conseguiram doações,
doaram, se doaram, carregaram, identificaram e sofreram junto, o agradecimento de uma Vila que não será a mesma após o óleo,
pois agora podemos chamar os voluntários de irmãos.Recolher